quinta-feira, agosto 05, 2010

CARLOS ALBERTO SARDENBERG

Uma lição que não vamos tirar

Carlos Alberto Sardenberg
O Globo - 05/08/2010

Todo esse zum-zum-zum em torno da última decisão do Banco Central se foi tomada por motivos técnicos ou eleitorais simplesmente não existiria se o BC fosse uma instituição independente por força de lei.
Conclusão: a melhor lição que o momento sugere, formalizar a independência do BC, não será tirada.
Há um BC com autonomia legal bem aqui ao lado, no Chile. A Constituição define as funções do banco, garantir a estabilidade monetária, e assegura sua autonomia técnica. A diretoria é formada por cinco membros, cada um com mandato de dez anos. Os diretores são designados pelo presidente da República, com aprovação do Senado. Detalhe crucial: os mandatos dos diretores não coincidem. Vence um a cada dois anos. Como o mandato de presidente da República é de quatro anos, sem reeleição, este nomeia apenas dois diretores do BC.
Os diretores podem ser demitidos? Podem, mas apenas mediante acusação e consequente processo na Corte de Apelações de Santiago, com motivos determinados.
O BC do Chile é dos mais eficientes do mundo. Na última reunião, julho, elevou a taxa básica de juros para 1,5% ao ano, com a inflação correndo no ritmo anual de 1,2%. A meta é de 3%.
No Brasil, o BC trabalha no regime de metas desde 1999, fixa as taxas de juros nas reuniões de seu Comitê de Política Monetária, mas não é independente na letra da lei. Tem uma autonomia concedida pelo presidente da República, prática que se iniciou com Fernando Henrique Cardoso e foi mantida com Lula. Mas a gente sabe: autonomia concedida pode ser retirada a qualquer momento, assim como os diretores, a começar pelo presidente do banco, podem ser demitidos a qualquer momento pelo presidente da República, que não precisa apresentar motivo para isso.
Ao longo desses quase oito anos em que está na presidência do BC, Henrique Meirelles construiu um poderoso capital de confiança e responsabilidade, aqui e lá fora. Pelas suas atitudes, pelas suas decisões e pelo retrospecto trouxe a taxa real de juros de 15% para 6%, com a inflação (pelo IPCA) caindo de mais de 12% para as redondezas dos 4,5%, sempre anuais a praça sempre acreditou que o BC de Meirelles decidia estritamente conforme os rigorosos padrões da ciência econômica.
Ainda assim, especialistas nesse ramo de política monetária costumavam dizer que a independência legal do BC brasileiro derrubaria alguns pontos da taxa básica de juros. A lógica: tendo de provar a todo instante que é independente na prática, o BC tende a ser mais conservador do que o necessário, ou seja, mantém juros acima do que seria o necessário para colocar a inflação na meta.
E, apesar de todo o retrospecto positivo, quando o BC, às vésperas da última reunião (de 21 de julho), começou a abandonar o ponto de vista de que havia um superaquecimento na economia brasileira, para adotar o entendimento de que a desaceleração já estava em curso e era muito forte, a praça foi tomada pela boataria e pela desconfiança. O BC estaria mudando só para abreviar e encerrar logo o ciclo de alta de juros, de modo a ajudar a candidatura de Dilma Roussef.
A desconfiança não é absurda: José Serra colocou o BC e os juros, os mais altos do mundo, no palanque eleitoral. Disse que o BC de Meirelles fez muita besteira, que a política monetária atrasava o Brasil e condenou qualquer autonomia, legal ou não. Informou que, como presidente, cuidaria pessoalmente da taxa de juros e impediria que o BC fizesse erros escandalosos.
Dilma se defendeu corretamente.
Mostrou como a inflação tem sido controlada, na meta, lembrou que os juros têm uma tendência de queda e defendeu Meirelles e o modo como o BC atuou.
Claro, não poderia fazer outra coisa.
Mas é evidente que, se o BC não elevar mais os juros nas vésperas da eleição, isso tira do palanque um tema desconfortável para ela. A militância política de Meirelles, que quase saiu candidato a vice de Dilma, ajudou na tese da politização.
De sua parte, porém, e em consequência desse clima, o BC desenvolveu e desenvolve um intenso trabalho de proselitismo para demonstrar que sua mudança de posição foi determinada por fatos econômicos estritos.
Confusões desnecessárias. Se o BC tivesse a independência na lei, a oposição saberia que a taxa de juros não poderia ser manipulada para prejudicála. Nem a de câmbio, aliás. Para a candidata do governo, isso tudo não seria um tema de campanha. Para o país, aliás, não seria tema, como não tem sido no Chile, por exemplo.
E, entretanto, nem Dilma nem Serra implementarão essa autonomia legal. Para parte da turma de Dilma, isso é neoliberalismo, um pecado.
Foi o pessoal que não deixou andar o projeto de independência, que dorme no Congresso. Para Serra, é bobagem, ele sempre saberá mais que o BC.
A experiência mundial mostra que BCs autônomos colocam a inflação na meta (sempre menor que a nossa), com menos juros e mais tranquilidade no processo.
Eis a lição que não vamos tirar, mais uma.

DEMÉTRIO MAGNOLI

Ministério da utopia
Demétrio Magnoli 
O Estado de S.Paulo - 05/08/10 

Intelectuais tendem à utopia, pois ela precisa de uma descrição e eles são seus autores. Isaiah Berlin não está entre os filósofos mais célebres precisamente porque é um pensador antiutópico. "As utopias têm o seu valor - nada amplia de forma tão assombrosa os horizontes imaginativos das potencialidades humanas -, mas como guias da conduta elas podem se revelar literalmente fatais", anotou Berlin. As utopias almejam a completa realização de um conjunto de premissas, com a exclusão de todas as outras. É um caminho muito perigoso, "pois, se realmente acreditamos que tal solução é possível, então com certeza nenhum preço será alto demais para obtê-la".

A democracia constitui um sistema político avesso à utopia porque, por definição, rejeita atribuir estatuto de verdade incontestável a qualquer conjunto de premissas ideológicas. Os intelectuais utópicos têm um lugar na democracia - o de instigadores do debate público. Mas o sistema democrático de convivência de ideias contraditórias se estiola quando eles são alçados à posição de sábios oficiais e suas utopias são convertidas em verdades estatais.

Samuel Pinheiro Guimarães, até outro dia secretário-geral do Itamaraty, foi guindado à Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE). No novo cargo, elaborou um documento intitulado O Mundo em 2022, ainda em versão preliminar, que circula no governo e no Itamaraty. Trata-se de um delineamento das tendências do sistema internacional, com propostas de políticas estratégicas do Brasil. Dito de modo direto, é a plataforma de uma utopia ultranacionalista, a ser aplicada num hipotético governo de Dilma Rousseff, que colide com os valores e as tradições da democracia brasileira.

Num texto escrito em português claudicante, o intelectual utópico expõe uma doutrina antiamericana que solicita uma curiosa articulação estratégica entre Brasil, Rússia, Índia e China "para reformar o sistema internacional e torná-lo menos arbitrário". Os Brics, acrônimo cunhado no interior de um banco de investimentos, constituem um "bloco" apenas na acepção restrita de que seus integrantes passaram a influenciar a governança econômica global. Eles, porém, não compartilham interesses geopolíticos relevantes - uma evidência clamorosa que escapa por completo à percepção de Guimarães, moldada por um obsessivo antiamericanismo.

Os equívocos teóricos pouco significam, perto das prescrições políticas. Nostálgico do "Brasil-potência" dos tempos de Ernesto Geisel, Guimarães atribui ao Estado os papéis de "estimular o fortalecimento de megaempresas brasileiras (...) para que possam atuar no cenário mundial globalizado" e de conduzir um programa de investimentos em pesquisa e desenvolvimento de amplas implicações militares. Os significados desta última proposição podem ser entrevistos na passagem em que o autor define o Tratado de Não-Proliferação Nuclear como o "centro" de um processo ameaçador de "concentração de poder militar". A leitura do documento oferece indícios sugestivos para a compreensão da lógica subjacente à aproximação entre Brasil e Irã e à operação diplomática brasileira de cobertura do programa nuclear iraniano.

No programa ultranacionalista, ausências falam tanto quanto presenças. Ao longo de 54 itens, não há nenhuma menção aos direitos humanos. Não é surpreendente: um livro de Samuel Pinheiro Guimarães, publicado em 2006, qualificou a defesa dos "direitos humanos ocidentais" como uma forma de dissimular "com sua linguagem humanitária e altruísta as ações táticas das Grandes Potências em defesa de seus próprios interesses estratégicos". A militância do governo Lula contra a política internacional de direitos humanos - expressa na ONU, em Cuba, no Irã, no Sudão, na China e em tantos outros lugares - não é um fenômeno episódico, mas reflete uma visão de mundo bem sedimentada. Lastimavelmente, as ONGs brasileiras de direitos humanos financiadas pela Fundação Ford trocaram a denúncia de tal militância pela aliança com o governo na difusão da doutrina dos "direitos raciais".

A utopia regressiva de Samuel Pinheiro Guimarães colide com a Constituição, que veta a busca de armas nucleares e situa a promoção dos direitos humanos no alto das prioridades de política externa do Brasil. Se a sua plataforma política aparecesse na forma de artigo, isso não seria um problema - e, talvez, nem mesmo uma fonte de debates interessantes. As coisas mudam de figura quando ela emerge como documento de Estado, produzido num Ministério encarregado de formular as diretrizes estratégicas do País.

O governo Lula exibe, sistematicamente, inclinação a partidarizar o Estado. A contaminação ideológica da política externa é uma dimensão notória dessa inclinação. Há, contudo, um antídoto contra a doença, que é a supervisão parlamentar das diretrizes estratégicas de política externa. Nos EUA, uma nação presidencialista como a nossa, as prioridades e os orçamentos do Departamento de Estado são submetidos ao crivo do poderoso Comitê de Relações Exteriores do Senado, expressão do controle social, bipartidário, sobre uma política de Estado. O Senado brasileiro tem uma Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional. Entretanto, sua gritante ineficácia, que exprime uma carência quase absoluta de poder real, proporciona ao governo as condições para a continuidade da folia ideológica em curso.

A SAE foi concebida como uma jaula dourada para acomodar (e ridicularizar) Roberto Mangabeira Unger, quando ele aderia ao governo que definira como "o mais corrupto da história". Agora, sob Guimarães, a jaula transforma-se em linha de montagem de uma utopia ultranacionalista que funcionaria como a régua e o compasso da inserção internacional do Brasil. A Nação tem o direito inalienável de se proteger contra o Ministério da Utopia, sujeitando a política externa ao escrutínio democrático dos parlamentares.


SOCIÓLOGO, É DOUTOR EM GEOGRAFIA HUMANA PELA USP.

GOSTOSA

PAINEL DA FOLHA

Enviados especiais
RENATA LO PRETE

FOLHA DE SÃO PAULO - 05/08/10 

Na tentativa de debelar casos de "corpo mole" entre aliados, o PSDB despachou nesta semana uma integrante da equipe de comunicação da campanha para a Bahia e o Rio Grande do Norte com a missão de coordenar a distribuição do material de propaganda de José Serra e alinhar a campanha nacional do tucano com a de seus candidatos aos governos dos Estados. 
Representantes de Serra percorrerão os demais Estados do Nordeste com o mesmo objetivo, na tentativa de acertar o passo com os aliados regionais. O tucano, que tem melhor desempenho no Sul e no Sudeste, age para conter o crescimento de Dilma Rousseff (PT) no Nordeste. Amanha, ele estará na Bahia. 


Para ontem O comitê "Serra presidente", a ser inaugurado no Amazonas, um dos Estados mais difíceis para o tucano, será coordenado pelo prefeito de Parintins, Bi Garcia, cunhado do senador Arthur Virgílio. 

Regra do jogo Serra foi sorteado para iniciar dois dos três blocos de perguntas entre os candidatos no debate da Band. Se quiser, poderá questionar apenas Dilma Rousseff. Já a petista, pelo sorteio, terá apenas uma oportunidade garantida de fazer pergunta ao tucano. 

Figurino Serra vestirá um terno Ricardo Almeida no debate desta noite. 

O estilo... Candidato lulista ao governo de Minas, Hélio Costa (PMDB) resiste ao apelo de aliados para se vestir de maneira mais informal. Só usa terno e alterna suas três gravatas preferidas. 

...é o homem Costa também se nega a reduzir a cabeleira. Nesse ponto, os aliados se dividem: uns acham que o corte viria a calhar; outros opinam que o visual "platino-aveludado" lhe cai bem. 

Armistício Depois de muito estica-e-puxa, Marta Suplicy (PT) e Netinho (PC do B) fecharam um acordo sobre o tempo de cada um na propaganda para o Senado em São Paulo: ela terá 2 min e 10 seg, ele, 1 min e 10 seg. 

Resguardo 1 O presidente do STF, Cezar Peluso, telefonou a Joaquim Barbosa para alertá-lo de que, se a soma de seus períodos de licença superar 180 dias em dois anos, será obrigatória a realização de perícia médica para apuração de eventual invalidez, de acordo com a Lei Orgânica da Magistratura. 

Resguardo 2 Barbosa, que acabara de tirar mais 60 dias para se tratar de problema de coluna, optou por interromper o afastamento na próxima semana. Deve retomar a licença mais adiante. 

Veja bem Do ministro José Antonio Toffoli, sobre Barbosa: "Sou solidário a ele e o incentivei a cuidar da saúde. Isso acontece com qualquer trabalhador". 

Rombo A crise nos Correios causou prejuízo de R$ 5,97 mi aos cofres públicos neste ano. Trata-se do valor devolvido a consumidores pelo atraso no envio de correspondências. No primeiro semestre de 2009, o ressarcimento somou R$ 2,4 mi. 

Fiat lux 1 As cidades que entregaram à iniciativa privada a manutenção da infraestrutura de iluminação pública terão de voltar atrás. O governo federal prepara regras que obrigam as prefeituras a cuidar de postes, cabos e transformadores. 

Fiat lux 2 A Aneel alega ser necessário padronizar o serviço. Alguns municípios criaram estatais; outros repassaram a tarefa a terceiros. Alguns cobram imposto para isso; outros não. As empresas de energia prometem reagir na Justiça. Alegam que pagaram pelos ativos nos leilões -e que a conservação faz parte da concessão. 
com LETÍCIA SANDER e ANDREZA MATAIS 

tiroteio 

Se o PT pudesse fazer da Dilma uma bela adormecida que só acordasse em outubro com um beijo do Lula, ela até teria chance. O problema é que ela vai ter de falar por si. 
DO DEPUTADO JUTAHY JÚNIOR (PSDB-BA), criticando o desempenho individual da candidata do governo, que hoje participa do debate da Band. 

contraponto 

Muito prazer 

Em visita ao hospital Sarah Kubitschek, Dilma Rousseff e Marisa Letícia se aproximaram de uma adolescente deitada numa maca. Para puxar papo, a primeira-dama apontou a candidata e perguntou à garota: 
-Você sabe quem é esta mulher? 
- Sei sim. É a Dilma. 
Animada, Marisa prosseguiu: 
-E você sabe quem eu sou? 
-Sei não... 
-Eu sou a mulher do Lula. 
-Ah....- limitou-se a comentar a garota. 

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

Com foco em SP, Eztec tem lucro recorde no trimestre 
Maria Cristina Frias

Folha de S.Paulo - 05/08/2010

A Eztec registrou lucro líquido de R$ 56,4 milhões no segundo trimestre deste ano, um aumento de 47,2% em relação ao registrado no mesmo período de 2009.
A companhia do setor de construção e incorporação vai anunciar hoje seus resultados financeiros referentes ao trimestre passado.
"Tivemos recordes de vendas, lançamentos e lucros", afirma Flávio Zarzur, diretor-presidente da empresa, que está na Bolsa.
O forte da companhia está em empreendimentos para a classe média.
A receita líquida no segundo trimestre atingiu R$ 160 milhões, o que representa um crescimento de 21,2%, ante igual trimestre de 2009.
O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização, na sigla em inglês) aumentou 38,6% ante o mesmo período do ano passado, ao atingir R$ 53,2 milhões, com margem de 33,2%, superior à de 2009.
"Mantivemos nossa solidez financeira no trimestre e encerramos o período com caixa de disponível de R$ 114,6 milhões", diz ele.
A Eztec não faz permutas com donos de terrenos. A empresa afirma comprar terrenos com capital próprio e só ter dívidas provenientes de financiamento do SFH.
"Temos caixa líquido de R$ 41 milhões, além de R$ 158,6 milhões em recebíveis de empreendimentos imobiliários performados", diz ele.
"Eles são passíveis de securitização e remunerados a IGP-M mais 12% ao ano", conta Zarzur.

MAUS PAGADORES

As ações de cobrança por inadimplência em condomínios subiram 48% em julho em relação ao mês anterior. Foram distribuídas 1.227 ações do tipo no Fórum de São Paulo no mês passado.
Nos últimos 12 meses, o índice subiu 14,2%. O levantamento, realizado pelo Grupo Hubert, abrange 14 bairros da capital paulista. A região central liderou o ranking, com 526 registros, seguida de Santo Amaro, com 174.
O resultado contraria a tendência de baixa gerada pela lei nº 13.160, de julho de 2008, que faculta o protesto via boleto, segundo o grupo.
A nova legislação também favorece a baixa ao reduzir a multa de 20% para 2% nos boletos em atraso, permitindo a quitação de dívidas.
"A alta surpreende. Acredito que seja resposta à greve do Judiciário, iniciada em abril, que trouxe a ideia de impunidade para muitos devedores", afirma Hubert Gebara, diretor da empresa.

BOM PARA CACHORRO

A Poli-Nutri, empresa de nutrição animal, vai inaugurar uma fábrica em Santa Catarina. O objetivo da companhia é suprir a demanda crescente na região e no mercado brasileiro em geral, que passa por um processo de consolidação, de acordo com José Leandro Bruzeguez, diretor da empresa.
Com investimentos de R$ 15 milhões, a inauguração ocorrerá em dezembro.
"Atualmente, o mercado no Brasil passa por grande concentração. Uma empresa nacional como esta tem de crescer para não ser engolida", afirma Bruzeguez, que confirma que nos últimos dois anos as propostas de aquisição recebidas pela empresa se intensificaram.
No plano de expansão da companhia também está previsto um aumento da capacidade de uma unidade fabril em Fortaleza. A empresa já inaugurou neste ano um centro de distribuição, em Pernambuco, e ampliou um laboratório na unidade de Maringá (PR).
A Poli-Nutri atua nos mercados de nutrição para aves, suínos, bovinos, peixes, camarões, cavalos e cães.

Garantido A Agência de Fomento Paulista passa a oferecer a empresários de São Paulo, com faturamento anual de até R$ 90 milhões, acesso ao FGI (Fundo Garantidor de Investimentos) para linhas do BNDES. O FGI poderá ser usado para garantias até o montante de R$ 40 milhões em operações para compra de máquinas e equipamentos e projetos de investimento.

Nova... Com plano de investir R$ 55 milhões em aquisições e associações nos próximos cinco anos, a gaúcha Artmed Editora passará a se chamar Grupo A, marca que engloba as editoras Artmed, Bookman, Artes Médicas, McGraw-Hill Education e novo selo Penso.

...identidade A empresa investiu US$ 100 mil em e-books para 2010, que serão seu novo foco, e prevê faturamento de R$ 64 milhões neste ano, com 20% do mercado científico e técnico nacional.

Correspondente... A rede de correspondentes do Banco do Brasil alcançou 16,4 milhões de transações processadas em julho, alta de 36,5% ante o mesmo período de 2009 e de 7,4% ante junho. Foram contratados no mês passado R$ 156,9 milhões em operações de crédito consignado, maior marca mensal do canal.

...bancário No ano, a rede do BB atingiu R$ 887,6 milhões em crédito consignado contratado e 104,2 milhões de transações processadas.

Metas A Coca-Cola Brasil lança na próxima terça-feira seu relatório de sustentabilidade com metas para os próximos dez anos. Com projetos ambientais, que tiveram investimento de R$ 10,5 milhões no ano passado, a empresa pretende até 2020 reciclar todas as embalagens utilizadas.

Contrato A Wärtsilä, finlandesa de motores de geração de energia e propulsão marítima, fechou contrato de ? 4,4 milhões para manutenção de 30 navios da Transpetro durante dois anos. O acordo também prevê o fornecimento de 5 milhões em peças de reposição.

GOSTOSA

ROBERTO MACEDO

Manada de elefantes brancos
Roberto Macedo 
O Estado de S.Paulo - 05/08/10

Elefantes brancos costumam também designar alguma coisa de valor, da qual seu proprietário não pode dispor e cujo custo, inclusive de manutenção, é muito alto relativamente à sua utilidade. Segundo a Wikipédia, a expressão veio de animais desse tipo mantidos no passado por monarcas de países como Laos e Camboja, no Sudeste da Ásia. Ganhar um deles de um rei era uma bênção e uma maldição. Bênção porque sagrado e sinal de prestígio perante o monarca, maldição porque tinha de ser guardado e cuidado, sem utilidade que compensasse o custo de mantê-lo.

Uma pequena manada fixou raízes no Rio de Janeiro, com os Jogos Pan-Americanos de 2007, e tudo indica que virão duas maiores, uma com a Copa de 2014 e outra na Olimpíada de 2016. O Brasil vai recebê-las dos sagrados reinos da Fifa e do Comitê Olímpico Internacional. Vamo-nos limitar à de 2014.

O assunto recebeu ampla matéria de Marta Salomon neste jornal, no domingo. O texto abre com a afirmação de que as obras dos estádios já "reúnem indícios de superfaturamento, desperdício de recursos e negócios arriscados para os cofres públicos". Ou seja, já começou mal no criatório.

O custo das obras nos locais pré-selecionados alcança hoje um total de R$ 5,1 bilhões, e é importante datar esses custos, pois sua tendência é para o alto. Desse total, R$ 3,3 bilhões seriam financiados pelo BNDES. Uma de suas exigências é a demonstração da viabilidade econômica dos estádios no longo prazo. Se não se mostrarem lucrativos, os governos estaduais deverão cobrir os prejuízos. Será preciso fazer piruetas enormes para demonstrar essa viabilidade, e o BNDES que se cuide, pois pode ficar mal nessa história.

Tal viabilidade depende muito do uso do estádio para fins esportivos, da frequência que receberá, do valor dos ingressos e dos custos de manutenção, entre outros aspectos. Rendas também poderão vir da utilização para outras finalidades, como shows e festas. Eu gostaria de ver estádios-escolas, estas construídas embaixo das arquibancadas, mesmo que não ficassem bem arquitetonicamente. Se houver alguma outra restrição à ideia, que alguém me diga, pois gostaria de saber.

O certo é que o uso alternativo tem sido mínimo no Brasil. Mesmo com o futebol, segundo matéria de Luciano Máximo no jornal Valor de 1.º/6, a frequência no Brasileirão de 2009 teve a média de 17.807 espectadores - no campeonato alemão essa média foi de 42.565; no inglês, de 35.600; no espanhol, de 29.124; e no italiano, de 25.304, e sabe-se que lá os ingressos custam bem mais. Na Copa de 2006, na Alemanha, 9 dos 12 estádios utilizados eram privados. Aqui, ao contrário, serão 9 estatais dentre os 12, faltando ainda São Paulo por definir.

Em geral os clubes brasileiros não têm condições de arcar com os investimentos de um grande estádio, pois não têm dinheiro e o retorno é baixo. Assim, a Copa e seus estádios serão uma aventura predominantemente estatal e será difícil demonstrar a viabilidade econômica de projetos nessa área, prenunciando, assim, uma manada de elefantes brancos.

E há outros alertas. Na reportagem deste jornal há um do Tribunal de Contas da União (TCU) abordando estádios de Brasília, Manaus, Recife e Cuiabá, nestes termos: "O risco de elefantes brancos pode ser considerado alto em virtude de serem locais com pouca tradição de futebol." Há também um estranho caso de parceria público-privada (PPP), responsável pela reconstrução do Estádio da Fonte Nova, em Salvador, ao custo de R$ 591,7 milhões, num projeto que envolve uma taxa de retorno de 16,7% (!) ao ano para o investimento do parceiro.

Entrevistado, o secretário executivo da PPP defendeu essa taxa argumentando que é semelhante à da reforma do Mineirão, em Belo Horizonte. E que no caso do novo estádio no Recife, onde há outra PPP, o acordo garante ao sócio privado que o Estado bancará o prejuízo caso a bilheteria não renda R$ 75 bilhões por ano, um valor que considera superestimado. É como um elefante a justificar o outro.

A matéria também diz que, das 11 arenas que menciona, praticamente todas estão atrasadas, o que levanta um aspecto particularmente aterrorizante, o de que na última hora os governantes sejam pressionados por mais verbas, e com superfaturamento.

Outra notícia veio ontem na Folha de S.Paulo, indicando que a nova arena a ser construída pelo Palmeiras, em parceria com uma organização privada, já é dada como certa. Sua importância está também no fato de que poderá servir para comparar seus custos e prazos com os das obras sob o guarda-chuva do setor público. E, também, a questão da viabilidade econômica.

Como a manada da Copa já se afigura como inevitável, talvez fosse o caso de replicar também a Ordem do Elefante Branco, de oito graus, outorgada pelo governo da Tailândia, e que aqui poderia ser atribuída aos Estados que mais se destacassem na criação dos bichos.

E há à frente a enorme e séria tarefa de segurar seus custos, na qual será fundamental o papel doMinistério Público, da imprensa, do TCU e de seus congêneres nos Estados. Outra razão é que manadas desse tipo costumam vir acompanhadas de outros coletivos detestáveis. Assim, quando fui confirmar se manada era o de elefantes, reencontrei também outros coletivos que podem vir junto. Alguns festivos, como bandas e buquês, mas há o risco de alcateias, bandos, cambadas, corjas, pragas e nuvens. Deixo para o leitor a tarefa de voltar a seus tempos de ensino básico para rever o significado desses coletivos.

Na mesma lista que vi aparece trouxa como coletivo de roupas, mas faltou um coletivo para trouxas, todos nós, que pagaremos a enorme conta dessa aventura.

ECONOMISTA (UFMG, USP E HARVARD), PROFESSOR ASSOCIADO À FAAP, É VICE-PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO COMERCIAL DE SÃO PAULO

MERVAL PEREIRA

Direitos relegados 
Merval Pereira 
O Globo - 05/08/2010

A proposta oficial brasileira para que a ONU passe a tratar os países que violam os direitos humanos com mais condescendência, evitando críticas públicas aos regimes autoritários, revelada pelo “O Estado de São Paulo”, se por um lado dá um ar de coerência à posição do governo brasileiro desde que Lula chegou ao poder, em 2002, por outro revela que, muito mais que decisões pragmáticas, se abster em votações contra Cuba com relação à violação dos direitos humanos ou mesmo votar contra uma condenação do governo do Sudão sobre Darfur, onde um conflito étnico matou mais de 200 mil pessoas, faz parte de uma política de Estado que o governo Lula vem adotando sem que a mudança tenha sido debatida pela sociedade.

Coreia do Norte, Irã, Sri Lanka são outras ditaduras que obtiveram do Brasil ultimamente posições conciliatórias quando foram acusados de abusos dos direitos humanos nos organismos internacionais.

A ONG Conectas Direitos Humanos já havia denunciado alteração no padrão de votação do governo brasileiro no Conselho de Direitos Humanos da ONU, seguindo geralmente interesses políticos e comerciais.

Em relação à China, por exemplo, o Brasil mudou sua posição, votando a favor da no-action motion em 2004, ajudando a evitar assim a condenação daquele país por violações de direitos humanos.

Em situação similar em 2001, o governo brasileiro se abstivera de votar. Houve uma mudança também em relação à resolução que condenava a situação dos direitos humanos na Chechênia.

Da abstenção em 2001 e 2002, o governo brasileiro passou a votar explicitamente contra a condenação da Rússia em 2003 e 2004.

O padrão de votação parece seguir o interesse geopolítico e comercial do governo brasileiro, e não tem relação direta com o conceito de direitos humanos em si.

A denúncia pública da ONU, considerada pelas ONGs internacionais que lutam pelos direitos humanos como Anistia Internacional e Human Rights Watch, e pelos governos democráticos, especialmente da Europa, como a principal forma de pressão, é vista pelo governo brasileiro como detonadora de crises internas nesses países.

Além de criticar a conduta como sendo ineficaz, o governo brasileiro considera, embora informalmente, que o Conselho de Direitos Humanos da ONU está muito politizado, controlado pelos EUA, que têm influência para nunca terem sido advertido pelas transgressões aos direitos humanos ocorridas na prisão de Guantánamo, por exemplo.

Essa posição do governo brasileiro, que já havia sido explicitada nas negociações com o governo do Irã sobre a política de energia nuclear daquele país, agora ganha relevância com o caso da mulher iraniana condenada a morrer a pedrada por adultério.

Essa posição leniente do governo brasileiro com ditaduras que violam os direitos humanos, a pretexto de ampliar o diálogo, é o reflexo da dificuldade pessoal que o presidente Lula tem em criticar seu velho amigo Fidel Castro, ou seu mais recente amigo de infância Mahmoud Ahmadinejad, e tem como pano de fundo uma política externa que procura ser um contraponto à influência dos Estados Unidos.

Por isso Lula não deu uma palavra sobre a morte por greve de fome do preso político dissidente Orlando Zapata Tamayo, ocorrida no mesmo dia em que chegou a Cuba, e comparou os prisioneiros da ditadura cubana aos presos comuns brasileiros.

A mesma dificuldade ele revelou no caso de Sakineh Mohammadi Ashtiani, começando por afirmar que não poderia se intrometer nos assuntos internos do Irã, pois “é preciso cuidado, porque as pessoas têm leis, as pessoas têm regras... Se começam a desobedecer às leis deles para atender ao pedido de presidentes, vira uma avacalhação”.

Com a pressão da opinião pública, interna e externa, Lula sentiu que mais uma vez seu prestígio internacional afundaria mais ainda, sem contar o prejuízo eleitoral que poderia afetar sua candidata preferida Dilma Rousseff.

Deixando claro o apelo eleitoreiro que vê no tema, Lula se utilizou de um palanque para anunciar que ofereceria asilo à iraniana.

Mas o fez de maneira a não ferir a sensibilidade de seu amigo Ahmadinejad: — Eu tenho que respeitar a lei de um país, mas, se vale minha amizade e o carinho que tenho pelo presidente do Irã e pelo povo iraniano, se esta mulher está causando incômodo, nós a receberíamos no Brasil — afirmou.

A pobre mulher, portanto, seria recebida pelo governo brasileiro para deixar de causar incômodo ao ditador iraniano, não por que seja uma barbárie condenar uma mulher por adultério, e ainda mais à morte, e, além disso, a pedradas.

O governo iraniano, além de ter minimizado a interferência de Lula, classificando sua atitude como consequência de um espírito “emocional”, mas, sobretudo, de desinformação, ainda por cima disse que o mundo ocidental estava distorcendo os fatos com o propósito de prejudicar o Irã.

Esse é um argumento que toda ditadura, de direita ou de esquerda, utiliza para fugir de suas responsabilidades.

Mas já há uma generalizada posição a respeito.

O respeito aos direitos humanos como condição preliminar para o diálogo entre as culturas foi um das decisões centrais da mais recente reunião da Academia da Latinidade, no início do ano em Córdoba.

O tema já havia sido abordado em outras reuniões, e o consenso entre intelectuais e acadêmicos de várias partes do mundo sempre foi o de que os direitos humanos não podem ser encarados como instrumentos de dominação ocidental, e devem ter caráter universal, na definição do secretário-geral da Academia da Latinidade, o brasileiro, Candido Mendes.

A Constituição de 1988 define que o Brasil deve reger suas relações internacionais pela prevalência dos direitos humanos, e os tratados internacionais de que o país é signatário são incluídos como parte integrante dos direitos e garantias fundamentais.

GOSTOSAS

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE

Olho no olho e outro na conta 
Sonia Racy 

O Estado de S.Paulo - 05/08/2010

O BC prepara mais uma norma para arrochar o cerco à lavagem de dinheiro.
Está no forno a consolidação de circular, emitida ano passado, que exige informações especiais de "pessoas politicamente expostas". Ou seja, aqueles que ocupam ou ocuparam cargos públicos e seus parentes.
O acompanhamento dessas contas será aprofundado.


Triiim
Em meio a rumores de associação com um parceiro fixo, coisa que a Tim Brasil nega desejar, surge o nome da Vodafone de olho na subsidiária.
A inglesa contratou banco de investimentos para viabilizar a operação e já teria tido conversas com a... Telefonica, acionista da Telecom Itália - controladora da TIM.

Rouba monte
Descoberto o motivo pelo qual a CSN e a Thyssen Krupp sequer se cumprimentam.
A alemã, ao se instalar no Brasil, foi extremamente "agressiva" na contratação de funcionários, atraindo quase cem pessoas da CSN. A prática não é usual entre empresários brasileiros.

Do bem
Maria Antônia Civita comemora. A prefeitura de São Sebastião doou um terreno de 4.500 m², na comunidade do Sahy, para abrigar a nova sede do seu Instituto Verdescola, que atende hoje cerca de 400 crianças, jovens e mães carentes.
O projeto arquitetônico? Doação de Thiago Bernardes.

A voz
Marina Silva ganhou aliada de peso: Maria Bethania Maria Bethânia, que gravou um vídeo para a candidata. "Marina encheu meu coração de esperança e trouxe as respostas que o Brasil precisa para ter um futuro de sucesso". Entra hoje on-line.

Ver e ser visto
Luiz Tarandach, sócio do restaurante Original Shundi, e Guga Sacomani, ex- Club Nasty, vão abrir uma nova balada em Pinheiros, na Av. Henrique Schaumann. Ainda neste mês.
A Seven Six terá música eletrônica e espaço para shows ao vivo.

Niver
O Código de Defesa do Consumidor faz 20 anos. Vidal Serrano Jr., do Idec, e Roberto Pfeiffer, do Procon, preparam comemoração em setembro.

Home, sweet
Marcada a data da mudança de Lula do CCBB para o Palácio do Planalto: dia 23.
Ela começa dia 19, quando o presidente estará em trânsito pelo Paraná e Santa Catarina.

Novo brilho
Esquecidas em depósitos de Brasília, peças de Sérgio Rodrigues, Joaquim Tenreiro e Ana Maria Niemeyer foram restauradas para a nova decoração do Palácio do Planalto.
Outros R$3 milhões estão sendo investidos em móveis zerinhos.

Casa nova
Luisa Strina está mudando de endereço: abre nova galeria de 700 m² nos Jardins. A atual funcionará apenas como acervo.
Na inauguração, dia 19 de setembro, haverá uma mostra coletiva com curadoria de Rodrigo Moura, além de trabalho inédito de Cildo Meireles. Tudo às vésperas da abertura da Bienal de SP.

Marketing do marketing

Ivald Granato tenta organizar, para dia 21, protesto em frente à Bienal. Está pedindo pela internet, adesão a uma carta sua questionando o conceito da mostra e o olhar "comercial" dos curadores. E convoca os artistas para montarem uma Bienal Alternativa
na mesma data.


Na frente

Com palestra de FHC sobre Maquiavel, a Cia. das Letras lança seu selo Penguin. Segunda, no Cultura Artística Itaim.

Máera Moretto lança hoje O Mestre do seu Sistema na Saraiva do Shopping Higienópolis.

Começa hoje mostra de cinema de Russ Meyer no CCBB.

A EDP divulga os premiados hoje no Tomie Ohtake.

Plínio de Arruda Sampaio avisa: leva saco de perguntas maldosas hoje para a Band.

DORA KRAMER

Nem gregos nem troianos 
Dora Kramer 

O Estado de S.Paulo - 05/08/2010

Definitivamente, o governo do presidente Luiz Inácio da Silva caminha para um final melancólico em matéria de política externa.


Foi chamado de ingênuo pelo governo dos Estados Unidos por cair na conversa de Mahmoud Ahmadinejad; admoestado pela oposição cubana por causa de suas ironias e indiferença em relação aos dissidentes da ditadura castrista; condenado pelo presidente da Colômbia que considerou "deplorável" sua posição sobre o conflito com a Venezuela; menosprezado pelo amigo iraniano para quem os apelos de Lula em favor da mulher condenada à morte por adultério são frutos de falta de informação.

Isso em pouquíssimo tempo, convenhamos, representa uma conjunção de repreensões públicas bastante significativas e contrastantes com a quase unanimidade de 80% de aprovação no âmbito interno.

Dirão os que se indignam com o fato haver no Brasil quem se manifeste em oposição a tão adorado presidente, que o mundo conspira, exercita o preconceito das elites, ou quem sabe, é tucano?

Não, o mundo apenas está tomando contato com o Lula real, em contraposição ao herói da resistência que nunca existiu a não ser na fantasia romântica alimentada por falta de informação e açodamento na expiação de culpas ancestrais.

Como o senso crítico mundo afora e os critérios para avaliação de governantes são mais rígidos que os vigentes no Brasil, Lula foi perdendo o charme na proporção que iam crescendo suas impropriedades em âmbito internacional.

Entrou errado numa seara delicada, a dos direitos humanos. Sem capacidade pessoal para avaliar conexões mais elaboradas e sem disciplina nem paciência de ouvir quem poderia lhe ensinar, achando que da mesma maneira que as coisas dão certo aqui podem dar certo de toda parte, o presidente pôs os pés pelas mãos.

Agora propõe à ONU que evite censurar países violadores dos direitos humanos, argumentando que a denúncia pública e dura de atrocidades não é eficaz.

Como se a política de boa vizinhança do Brasil com ditaduras tivesse rendido algum avanço ou benefício para as populações desses países.

Como se alguma ditadura entendesse a linguagem do diálogo e da negociação. Opressor que se preze - e os amigos do governo Lula são convictos no ramo - não dialoga, oprime.

Só afrouxa o torniquete quando é da conveniência do próprio regime opressor fazer alguma concessão.

Essa proposta encaminhada pelo Itamaraty à ONU pretende que o Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas mude seus critérios de funcionamento e passe a adotar os parâmetros do governo Lula.

Se a ONU aceitasse, de uma hora para outra o governo brasileiro teria "lavado" seus procedimento que não seria mais condenado nem condenável. Passaria a ser o modelo de correção.

Se essa hipótese já soaria fora de cogitação em outros tempos, hoje que Lula perde o glamour e a credibilidade no exterior, soa absurda.

Revisão. José Serra não sossegou - fez de tudo e mais um pouco enquanto não conseguiu que Fernando Gabeira fosse candidato ao governo do Rio em aliança com a candidatura presidencial do PSDB.

Hoje o partido - com a concordância do próprio - avalia que foi um erro. A começar pela candidatura de Marina Silva a presidente até as rusgas internas provocadas pela resistência do PV à companhia do DEM, a coligação rendeu m ais problemas que soluções.

Na interpretação dos tucanos paulistas, quem escolheu um candidato a vice no Rio em outro partido saberia escolher um candidato ao governo no PSDB.

Fundamento. O que é mais importante, o nome das coisas ou o que as coisas realmente são? Partindo do princípio de que a designação não altera o significado de nada, o sentido é o que importa.

Por tanto, não interessa se o nome é dossiê, banco de dados ou carta anônima. A boçalidade da intenção é a mesma: pressionar alguém a curvar-se à vontade de outrem mediante ameaça de exposição da intimidade seja ela lícita ou ilícita, falsa ou verdadeira, tanto faz.

TRABALHO

MÍRIAM LEITÃO

Fim da História? 
Miriam Leitão 

O Globo - 05/08/2010

Se você quer que seja mantido o equilíbrio fiscal, controle da inflação e o câmbio flutuante é simples: basta votar em um dos três candidatos mais competitivos nas eleições presidenciais de outubro.

Os três prometem que não vão mexer no “tripé”: as três políticas implantadas pelo governo Fernando Henrique e mantidas pelo governo Lula.

Há sinceridade no que dizem?

Se há, não há mais diferenças entre os candidatos.

Estamos portanto numa espécie de fim da História: não há mais divergência ou dúvida sobre política econômica no Brasil. Seria bom se fosse simples assim — até porque há vários outros temas exigindo atenção —, mas neste, como em vários outros assuntos desta difícil campanha, há pouca verdade no que os candidatos dizem e muito truque de marqueteiro.

“É o tripé que está dando certo e em time que está ganhando não se mexe”, resumiu numa declaração originalíssima o presidente do PT, José Eduardo Dutra. Vamos pular aquela parte em que o mesmo PT dizia que tinha recebido uma herança maldita e que essa eram políticas neoliberais.

Nesta reta final do governo Lula, políticas têm sido adotadas diariamente que quebram a longo prazo um pé do tripé. Os aumentos de gastos públicos, a criação de despesas permanentes, a construção de atalhos fiscais para o endividamento público, a ressurreição da política industrial do governo militar, as exceções criadas na Lei de Responsabilidade Fiscal, tudo isso está, na prática, minando as bases do equilíbrio fiscal.

A política de metas de inflação que vigora há 11 anos pressupõe a não interferência nas decisões do Banco Central. O BC sozinho não resolve o problema, tem que ser ajudado pelo primeiro pé do tripé, mas é condição essencial a autonomia do Banco. Todos os candidatos disseram que respeitarão a autonomia do Banco Central. Há dúvidas razoáveis sobre a real intenção de pelo menos os dois com maiores intenções de voto. O ex-governador José Serra já mostrou em várias entrevistas que esse é um assunto que não está pacificado em suas convicções.

Ele acha que o BC errou nos últimos anos, já deu declarações contraditórias o suficiente para se duvidar da sua convicção quando diz que, se eleito, manterá a política atual. Sobre a ex-ministra Dilma Rousseff repousa a mesma dúvida. Sua formação econômica incipiente e seu entorno fomentam a certeza de que algo de diferente ela vai tentar. Por enquanto, ela está repetindo as frases e palavras que o ex-ministro Antonio Palocci a ensinou.

A sua formação leva a crer que o que ela tem dito não passa de mais um truque de marketing.

A candidata do PV, Marina da Silva, é a menos conhecida dos três por vários motivos. Nunca falou muito desses assuntos econômicos e a imprensa tem obsessivamente perguntado a ela sobre outro tripé: célula tronco-criacionismocasamento gay. Quando consegue fugir dessa pauta pobre, Marina tem admitido que votou contra a Lei de Responsabilidade Fiscal e contra o Plano Real, mas que mudou de ideia, se convenceu de que estava errada, por isso defende a consolidação dos ganhos dos últimos 16 anos dessa política.

Os pés do tripé estão relacionados. Dilma acredita no expansionismo do gasto público, tem demonstrado que sustenta os mesmos ideais do governo militar no que se refere à ampliação da estatização.

Para fazer frente a uma política fiscal frouxa decorrente dessas convicções, a política monetária teria que ser mais e mais apertada. Alguém realmente acredita que Dilma toleraria altas das taxas de juros sequenciais sem interferir? Lula compensou seu parco conhecimento do tema com uma visão profundamente pragmática e sua capacidade de aprender com os dados da realidade. Visto que a inflação sob controle era garantia de popularidade, ele jogou fora a velha cartilha do PT e manteve o que prometeu que mudaria.

O terceiro pé é o câmbio flutuante. Está relacionado aos outros dois. Altas taxas de juros atraem capital especulativo, principalmente em momentos de boom internacional, e isso aprecia a moeda nacional. Os exportadores reclamam. Tanto o entorno de Dilma Rousseff, quanto o candidato da oposição, José Serra, já demonstraram que são sensíveis ao lobby exportador.

A única forma de manter o tripé é fazer um aperto fiscal forte, uma política de austeridade que significaria fazer escolhas difíceis, rever a excessiva estatização e os subsídios extravagantes dados às grandes obras iniciadas neste fim de governo Lula, ser capaz de cortar gastos correntes, abandonar a política dos anos 70 que voltou a vigorar no BNDES.

Uma verdadeira política de austeridade criaria um círculo virtuoso: reduziria a necessidade de elevação das taxas de juros, o que reduziria a apreciação cambial. Se o eleito ou a eleita continuar mantendo um discurso de ambiguidade em relação ao Banco Central, a instituição terá que, de novo, conquistar reputação, o que significa manter juros altos por mais tempo.

Por tudo o que os candidatos têm escondido do que realmente pensam sobre a política fiscal, monetária e cambial; por tudo o que já disseram; por suas ambiguidades; pelo que dizem em assuntos que estão relacionados com esses, a verdade é que mesmo hoje, 16 anos depois da maior vitória que o Brasil teve na luta contra a inflação, não há garantias. Ao contrário do que se poderia esperar, alguns candidatos mais que outros estão prontos para cometer erros velhos. Profissões de fé no chamado “tripé” convencem pouco quem tem mente treinada.

ANCELMO GÓIS

A ilustre figura 
Ancelmo Góis 
O Globo - 05/08/2010

A ilustre figura da foto tem dividido as manhãs da Praça Antero de Quental, no Leblon, com crianças, babás, idosos etc. É, veja só, um gavião-carijó, ave de rapina meio assustadora (como a imagem do coleguinha André Teixeira mostra), mas que, ao menos que se saiba, não atacou ninguém. Esta espécie, explica o veterinário André Sena Maia, cuida mesmo é de proteger seu ninho de potenciais invasores. Que Deus proteja — a ave e os humanos da Antero de Quental

Meu nome é Gal
Gal Costa, 65 anos, entrou no bisturi.
A grande cantora, que prepara um novo CD com produção de Caetano e Moreno Veloso, fez plástica no rosto com o mestre Ivo Pitanguy. Quem viu diz que Gal está ótima.

Shopping no pregão
Ontem, na Bovespa, um único investidor se desfez de 1,4% do capital da BR Malls, grupo que tem participação em 35 shoppings no país.
Embolsou o equivalente a uns US$ 50 milhões.

Segue...
Com isso, a BR Malls passa a ser uma das empresas de capital mais pulverizado do país.
Em janeiro, o GP Investimentos saiu da sociedade — e, mês passado, o fundo americano Equity International vendeu 9% do capital, embora continue com 6% da rede.

Boa chance
Tem construtora no Rio contratando hermanos bolivianos, paraguaios e até argentinos.
Alega falta de mão de obra nativa.

Tá quente
Está cada vez mais próxima a associação do Gávea (Armínio Fraga) com o JP Morgan.

Serra, o filme
Estreou ontem na internet uma série de 12 filmetes dirigidos por Guilherme Coelho e Pedro Cezar sobre a trajetória de José Serra.
Os curtas, de dois a cinco minutos, não fazem parte da campanha oficial do tucano. São uma “contribuição voluntária e pessoal” dos diretores. Os filmes estão no YouTube e no site www.retratosdoserra.com.br.

Aliás...
Guilherme Coelho, jovem cineasta já reconhecido (dirigiu o ótimo “Fala tu”), é filho do tucano Ronaldo Cezar Coelho.

Telefone no ar
A TAM vai começar a liberar o uso de celulares nos voos.
A primeira experiência será num Airbus A-321, em rotas domésticas. A tarifa da ligação será sempre internacional.

Pacote anticrack
O ministro Luiz Paulo Barreto acertou a liberação de R$ 410 milhões da União para combate ao crack e a outras drogas.
O dinheiro ajudará a aumentar o policiamento especializado nas fronteiras. Deste total, a PF receberá R$ 120 milhões.

Diário de Justiça
O ministro Celso de Mello, do Supremo, concedeu liminar para reintegrar, até o julgamento, o desembargador Mariano Travassos, do TJ do Mato Grosso.
Travassos é aquele afastado da presidência do tribunal pelo CNJ, acusado de desviar recursos para a maçonaria. A liminar não devolveu ao desembargador a presidência do TJ-MT.

Medo do terror
O Comitê Organizador dos Jogos de 2012, em Londres, decidiu que todos os espectadores das competições terão de passar por “checagem de segurança” igual à dos aeroportos.
A entrada de líquidos nos estádios será proibida. Até água.

Rio 2016...
Aliás, as oito propostas de marca para os Jogos de 2016, no Rio, apresentadas pelas agências finalistas serão analisadas amanhã e sábado pela comissão julgadora, na sede do Comitê Organizador, na Barra.
A escolhida só será anunciada no réveillon de Copacabana.

Na estrada
William Kennedy, o escritor americano ganhador do Prêmio Pulitzer, que veio para a Flip, escreveu ontem dentro de uma van, entre São Paulo e Paraty, parte de seu novo romance.
Sairá aqui pela Cosac Naify.

Modelo global
A universitária Anna Silva foi selecionada para ir ao II Modelo Global da ONU, a partir do dia 14, em Kuala Lumpur, Malásia.
Mas a escolha não inclui passagens. Anna precisa de um patrocinador.

Sala vip
Ontem, no Santos Dumont, entre os passageiros que comeram a barra de cereal que a Gol amassou, com voos atrasados, estavam Thiago Lacerda, Carolina Dieckmann, Christine Fernandes, Emílio Santiago, Caio Blat...
Blat, para piorar, ainda bateu boca com uma garçonete: “Só porque é ator acha que pode me tratar mal?”, ralhou a moça.
Calma, gente.

A BELEZA EM berço esplêndido da foto é a modelo americana Chanel Iman, que veio ao Rio posar para a campanha de uma grife paulista de moda praia

TRÊS GERAÇÕES de bambas portelenses, mestre Monarco, seu filho Marquinhos e sua neta Juliana, fazem pose nos bastidores da preparação do show que farão no Rival no fim de semana

PONTO FINAL

No mais
Do economista boa-praça Sérgio Besserman sobre a oferta de Lula para asilar no Brasil a iraniana condenada à morte por adultério: — No meu grupo do Jobi (o boteco do Leblon), essa nova política externa do Lula de asilar todas as mulheres do planeta perseguidas por amarem é um sucesso.

Já há até um manifesto para que o novo presidente se comprometa com a continuidade e fixe metas ambiciosas.

GOSTOSA

LUIS FERNANDO VERISSIMO

O M.H.
VERISSIMO
O GLOBO - 05/08/10


M.H., o Marciano Hipotético, vem seguidamente ao Brasil. Diz que gostou da caipirinha e das mulheres, embora nem sempre encontre uma disposta a aturar seu método pouco convencional de acasalamento (algo envolvendo tubos retráteis e ventosas coloridas). As visitas de M.H. são bastante espaçadas, já que a viagem de Marte é longa, e ele sempre se surpreende com o que encontra aqui. Quando lhe contaram que no Brasil havia conflitos por terra, por exemplo, ele precisou ser reanimado (“Amônia! Amônia!”), tal foi o seu espanto. Como era possível, num país deste tamanho, faltar terra para 
dividir?
E M.H. não consegue entender a nossa política. 
Lula, principalmente, é um desafio para a sua compreensão.
Numa das primeiras vezes em que esteve no Brasil, M.H. acompanhou a eleição do Collor com uma grande vantagem de votos sobre o Lula. Viajou de volta para Marte convencido de que a carreira política do Lula estava acabada. Voltou ao Brasil na época da eleição do Fernando Henrique, que derrotara... Não era possível. O Lula! Agora sim, pensou M.H., Lula desistiria. Ficara claro que o Brasil jamais elegeria alguém como Lula para a presidência. O cargo – conforme lhe contaram – era só para doutores ou generais. Além de tudo, Lula e o seu partido assustavam os brasileiros. Fernando Henrique também era de esquerda – pelo menos era o que dizia no rótulo – mas não ameaçava a prataria de ninguém. M.H. voltou para casa certo de que não ouviria mais falar em Lula e curioso sobre quem substituiria Fernando Henrique no governo. Quem daria continuidade ao projeto liberal tão bem recebido pelo povo brasileiro?
Na sua visita seguinte ao Brasil, M.H. teve duas surpresas. A primeira foi que o governo Fernando Henrique, por incrível que parecesse, tinha sido substituído por um governo Lula. A segunda foi que o governo Lula estava prestes a terminar. Lula não sobreviveria ao escândalo do mensalão. M.H. concordou com o Bornhausen: nos 30 anos seguintes, sempre que voltasse ao Brasil, não encontraria nem traços do PT. Mas quando voltou encontrou Lula não apenas ainda no poder mas com um índice de aprovação 
lá no alto.
O M.H. pôos as quatro mãos na cabeça.
Na visita seguinte, M.H. acreditou que o fim do Lula finalmente tinha chegado. Leram para ele um artigo publicado num grande jornal que acusava Lula de ter assassinado os mortos num acidente de avião em São Paulo. Pronto, pensou M.H. Quando estão chamando um presidente da república até de assassino, é porque o seu fim está 
próximo.
Pelo menos, pensou M.H., num país normal.
Na sua última visita. M.H. pediu para saber o índice de aprovação do governo Lula, apesar de tudo. Quando soube, suspirou fundo pela guelras. É possível que desista do Brasil.