quarta-feira, dezembro 25, 2013

Alice e o papai noel - ZUENIR VENTURA

O GLOBO - 25/12
Há nessa festa algo que resiste e que desperta memórias e nostalgias de perdidas crenças. O que será? Seria o nosso eterno retorno à infância?
Papai Noel é um mistério. Como explicar que minha neta Alice, tão esperta e racional, ainda acredite na existência dessa figura anacrônica, inverossímil, com aquela barba postiça, um gorro ridículo, vestido como se estivesse na Lapônia e rosnando rô, rô, rô , que é a única coisa que sabe dizer? Como alguém que, aos 4 anos e dois meses, já conhece os segredos do iPad a ponto de se irritar porque o avô analfabyte não consegue acompanhá-la, não faz as perguntas que se esperaria de sua insaciável curiosidade: Ele é um só? Como consegue atender a tantos pedidos? Onde arranja tanto dinheiro fácil, se nunca foi surpreendido recebendo propina? É muita credulidade para quem está sempre duvidando, questionando e o que mais faz é perguntar por que? Aos 3 anos, ela já me desconcertava recusando a versão da cegonha para a origem do nascimento: Você é bobo! Eu nasci da barriga da minha mãe (temo que a qualquer hora ela vá mostrar em detalhes para o irmãozinho Eric o mecanismo da concepção).
Há anos escrevo sobre o Natal, prometendo ser a última vez, porque me repito tanto quanto os costumes da época, em que é tudo igual: a rabanada, a canção Noite feliz , os amigos-ocultos, os presentinhos, os engarrafamentos, o movimento das lojas, sem falar no dinheirinho compulsório para os porteiros, o mendigo de estimação, o guardador de carro, os entregadores de jornais, de remédio, de pizza, garis e carteiros. A exemplo dos Natais anteriores, não foi possível cumprir todos os compromissos de fim de ano, já não digo de compras, que minha mulher é quem as faz, mas de atendimento de convites. Parece que todas as noites de autógrafos, todas as exposições, todos os almoços e jantares de confraternização foram deixados para acontecer nesse período. Ter que escolher uns em detrimento de outros é uma das aflições dessa época. Mas o pior do Natal é sua submissão ao consumo, que faz dele um orçamento , como já dizia Nelson Rodrigues.

Em suma, tudo o que se fala contra o Natal é verdade, mas, apesar dos desvirtuamentos, há nessa festa algo que resiste e que desperta memórias e nostalgias de perdidas crenças. O que será? Seria o nosso eterno retorno à infância, isto é, à fantasia, ao desejo e ao sonho, por mais antiquado que isso pareça? Alice descobriu dentro do mito o imaginário e a realidade, ou seja, a existência de um Papai Noel de mentira e outro de verdade. O primeiro é o que ela vê, pode tocar, fica parado na esquina ou nos shopping centers. O de verdade é justamente o que ela não vê, mas é o que ela imagina que de madrugada vai pendurar seus presentes na árvore de Natal - é o que alimenta sua fantasia. Como não acreditar nele?

Dia de Natal - ROBERTO DAMATTA

O Estado de S.Paulo - 25/12

Eu sinto falta das minhas infantis ansiedades natalinas. A gente ouvia: "amanhã é dia de Natal". E todos pensávamos no que íamos "pedir" a Papai Noel. Foi no Natal que primeiro exercitei o desejo aberto que singulariza e transporta ao sublime e à vergonha - quase sempre aos dois. Por causa disso, todo pedir é sempre atropelado pela insegurança. O que podemos pedir - eis a pergunta não dita - a quem realmente "dava" os tão esperados "presente de Natal" nas famílias de classe média que viviam dentro de orçamento apertado, como sempre foi o meu caso?

Se Papai Noel não existia, pois era o nosso próprio pai, como saber o presente possível? Todos nós (éramos cinco meninos e uma menina) sabíamos que o tal "saco de Papai Noel" era enorme e como Papai Noel era gordo e muito rico. Tão rico quanto os Estados Unidos que o haviam reinventado para a minha geração dos anos 30 e 40. Mas sabíamos também que o seu lugar era um lugar fora do nosso alcance. Como escrever uma carta num inglês que nos era desconhecido e remetê-la para o Polo Norte se correio não era lá essas coisas?

Eu que, felizmente, tive um pai até ser pai, sabia que papai estava ao meu alcance. Mas o tal Papai Noel levantava uma paternidade estacional. Ele só aparecia no final do ano e, a seu lado, surgiam também as figuras santificadas e concretas do Menino Jesus, de São José e da Virgem Mãe. Um amigo dizia que era preciso escolher entre gastar movido pela "propaganda" ou rezar num verdadeiro e escrupuloso Natal. Eu até hoje fico impressionado com a fácil moralidade de plantão.

A Sagrada Família era pobre mas Papai Noel tinha um trenó puxado por renas - estranhos veados grandes que, além do mais, voavam. Ademais, ele entrava nas casas pela chaminé. Eis um detalhe que completava o seu exotismo, porque as casas onde morávamos não tinham chaminé - tinham cafuas e porões. À ansiedade dos presentes, sempre aquém do meu desejo, havia a dúvida porque, afinal, éramos "crianças" e Papai Noel pertencia ao universo dos "grandes". E os adultos sabiam de coisas secretas, como a tal cegonha que, no meu caso, durante sete ou oito anos, trouxe, embrulhado numa fralda, um irmãozinho que me roubava carinho, atenção e espaço...

Camelos, cegonhas e chaminés eram elementos que compunham o mistério dessas figuras periódicas.

Ao escrever essas recordações natalinas, descubro porque, quando visitei o Cairo, Egito, para tomar parte numa ambiciosa conferência de antropologistas, usei a oportunidade para observar os camelos. Diante das pirâmides, eu olhava e perguntava sobre os camelos. Tocava-os, admirava sua capacidade de resistir a sede e tinha curiosidade sobre suas corcovas. Camelo ou dromedário? Uma ou duas corcundas? Eis uma pergunta que não quer calar diante de certas pessoas, sobretudo dos que me governam. E foi assim que, diante da velha Esfinge, eu edipiana e estupidamente paguei para dar uma volta num velho camelo e, mais que isso, tirei uma fotografia. O guia ria e repetia "Lawrence da Arábia", mas eu estava vivendo um dos reis Magos...

Do mesmo modo e pela mesma lógica, essa também ligada ao meu amigo e companheiro de toda a vida, um rapaz chamado Édipo, jamais perdi a fascinação pelas chaminés que estudei, medi, admirei e olhei com fascinação nas casas europeias e américas. O fogo dentro de casa era uma contradição na minha vida de brasileiro cuja família vinha de uma Manaus, de uma Salvador e de uma Niterói nas quais o calor era "de matar" e o risco de algo "pegar fogo" era constante. Como, pois, ter essas chaminés com um fogo caseiro que servia para aquecer, quando só falávamos em ventilação e sonhávamos com o hoje rotineiro e transformador "ar condicionado"?

Papai Noel descia ou entrava pela lareira e eu jamais deixei de espiar escondido para o interior tenebroso das lareiras americanas. E se o bom velhinho fosse o amante da dona da casa, como questionou meu ciumento pai diante da estupefação de seus irmãos e cunhados? Mais que isso, como descer pela chaminé sem se sujar, conforme estabelece uma famosa e intrigante parábola judaica?

O fato antropológico, porém, é que o fogo da lareira contrasta somente em parte com o da cozinha. Os dois se fundem. E produzem uma fumaça humana reveladora de vida. Pois a fumaça que tinge os céus já escuros e frios dos invernos gelados que hoje eu conheço tão bem, seja no norte ou no sul, é o triunfo do calor que resiste ao frio imutável do infinito. Parece com o fósforo lutando inutilmente com o quarto escuro no qual vivemos.

E assim é o Natal. Uma noite de luz na imensa escuridão de nossas vidas. Uma pausa para reconhecer nos próximos o seu amor e a sua paciência para conosco. As rotinas realçam mais o feio e o raso do que o belo e o profundo. Mas o Natal dos "amigos ocultos" e das trocas de presentes redime o outro que está em todos os nossos próximos e, quem sabe, dentro de cada um de nós.

Feliz Natal!

Um outro sentido da festa - TASSO AZEVEDO

O GLOBO - 25/12

O Natal nas ultimas décadas passou de momento de celebração em família do nascimento de um personagem ímpar para ser a data mais importante do comércio, quase a salvação da lavoura em anos mais difíceis.

Nada mais paradoxal do que o Natal ter se tornado quase que o símbolo da pujança da sociedade de consumo. Aquele momento de reunião com a família acabou virando uma estressante corrida por presentes com aquela lista de quase obrigações.

Sempre gostei mais dos momentos pós-troca ansiosa de presentes no Natal, quando todos os primos se embrenhavam numa partida sem fim de War, ouvir as histórias do vovô Leôncio, que eu nem conheci, ou acompanhar atento o tio Paulo, quando já estava para lá de Bagdá, narrar a abertura 1812 de Tchaikovsky como se fosse um filme. Hoje a diversão é app no smartphone...

Os presentes mais legais que já ganhei não poderiam ser comprados. Um livrinho de poemas feito à mão por minha madrinha. Cartões-postais que Tia Valéria enviava dos lugares mais inusitados e traziam consigo histórias mirabolantes da África e da Ásia. Uma fita cassete com músicas selecionadas por uma amiga de correspondência no Canadá. Um desenho de minha filha. Um relógio quebrado que fora de meu bisavô. E o campeão de todos: o bolo prestígio da Dona Dora, que era presente repetido todo ano, mas imbatível!

Entendo presentear como um ato de dedicação ao outro, dai a busca por oferecer uma emoção, uma reencontro com a memória, uma experiência nova ou que amplie o horizonte, o repertório e as possibilidades da pessoa que presenteio.

Para este ano, um LP do Charles Aznavour de 1972, com anotações na contracapa encontrado por caso num sebo, um retrato em pastel de minha filha Clara no colo de minha esposa Ana pintado por um artista de rua na Indonésia, ingressos para o teatro de bonecos e um curso de shiatsu. Proporcionar estas experiências me dá uma sensação muito mais prazerosa e duradoura que receber qualquer presente.

Muitas vezes não consigo este significado e, com família grande, também caio no Natal do consumo que, além de nos estressar e nos distanciar dos motivos pelos quais celebramos esta época do ano, é muito pouco sustentável.

Um lindo vídeo produzido por uma marca de roupas esportivas engajada dos Estados Unidos, lançado dias antes do famoso black friday (que antecipa as compras de Natal) convida as pessoas a comprar e consumir menos e experimentar, concertar, dividir e viver mais. Um ótima reflexão, quem sabe desmaterializando o Natal talvez possamos nos reencontrar com o verdadeiro espirito natalino.

A formação do Eu - FRANCISCO DAUDT

FOLHA DE SP - 25/12

Ao nascer, temos uma impressão embrionária de que não estamos sós; e um 'euzinho' passa a funcionar


O alemão é uma das línguas mais precisas que há, tanto que os políticos alemães têm um grande trabalho para tornar seus discursos vagos (mas conseguem).

Freud descreveu três softwares principais para o nosso funcionamento mental: "das ich"; "das es"; "das überich", alemão do dia a dia compreensível por qualquer um de lá. Em português, o equivalente seria o "Eu"; o "Algo em mim" e "O que está acima de mim".

Mas o primeiro tradutor de Freud para o inglês, Ernest Jones, era médico, e os doutores gostam de falar difícil: impressiona os pacientes e ninguém mais além deles entende. Foi assim que os termos em alemão corrente viraram latim (!): Ego, id e superego.

A partir daí as pessoas pensam que ego é vaidade, e que superego deve ser um parente do super-homem (ou uma super vaidade). E id ninguém sabe mesmo o que é.

O Eu é um programa mental que nos dá a ilusão de existirmos como uma entidade única e essencial. O que sabe o Homo sapiens? Que ele existe! Descartes chegou a uma única certeza: "Penso, logo existo". É um programa tão poderoso que inúmeras pessoas creem que ele é imortal ("meu corpo morrerá, mas eu continuarei existindo pela eternidade").

Deixando de lado a metafísica, que, como bem disse Fernando Pessoa, "é o resultado de se estar mal-disposto", o que me interessa é como o programa Eu se forma. No útero ele não tinha condições de rodar: nada nos perturbou desde o início que nos desse a perceber que algo havia para além de nossa existência, donde, nossa existência não era percebida por falta de contraste.

Mas, ao nascer, a perturbação começa, e com ela uma embrionária impressão de que não estamos sós. E se formos tratados como uma existência em separado, com necessidades, capacidades e características próprias, um "Euzinho" começa a funcionar. Ele vai se construir, construir sua identidade, por identificação. Ela começa pela imitação.

Você fala português hoje do seu jeito porque imitou a fala dos adultos ao seu redor (a melhor maneira de se aprender uma língua, não sei quem foi o idiota que resolveu nos ensinar línguas através da gramática). A imitação leva à incorporação do aprendido, a partir de um ponto você se torna autor, pois o imitado vai se misturando às suas características pessoais.

Mas o processo de identificação pode se dar por gosto, ou por imposição.

Por gosto, é quando se encaixa bem às nossas características únicas, ao desejo que vem de "algo em nós" (id, "das es") não consciente.

Por imposição, quando fomos submissos, fizemos o que nos mandaram, e nos "tornamos" o que nos disseram para ser. Ou, curiosíssimo, quando nos rebelamos e nos tornamos o exato oposto do que nos disseram para ser. Quer dizer que a rebeldia é um jeito de ser comandado, pelas avessas. Assim, filhos de caretas "obedecem" a seus pais e viram hippies. E vice-versa.

Há culturas que estimulam a formação do Eu indivíduo, características próprias, ideias próprias, buscam a democracia. Outras, não suportam a existência de "Eus", querem massa, submissos não pensantes, são as tiranias.

O direito e a justiça - FRANCISCO BOSCO

O GLOBO - 25/12

No julgamento que levou a Portuguesa ao rebaixamento o primeiro prevaleceu sobre o segundo: foi legal, porém injusto


Nessa sexta-feira, o STJD dará sua decisão definitiva sobre o caso das escalações ilegais de jogadores da Portuguesa e do Flamengo, na derradeira rodada do “brasileirão”. Nos últimos dias surgiram fatores novos, que podem mudar a decisão inicial. Quero comentar aqui, entretanto, o primeiro julgamento, cujo veredito — é o que pretendo mostrar — foi legal, porém injusto. O rebaixamento da Portuguesa à série B, junto à manutenção do Fluminense na série A, foi, na melhor das hipóteses, fruto de um lamentável equívoco quanto ao que significam o direito e a justiça, qual a relação entre eles, e qual o papel de um juiz.

Direito e justiça são duas coisas fundamentalmente diferentes. O direito é universal e abstrato. A justiça é singular e concreta. Para que se exerça a justiça, é necessária essa instância generalizante do direito, manifesta sob a forma de rígidas leis, sem as quais a justiça corre o risco do arbítrio. Mas, por outro lado, para que se faça justiça é também necessário submeter os princípios gerais do direito e das leis aos casos singulares, com toda a sua complexidade. Por mais que as leis sejam detalhadas, elas nunca poderão conter, em si, a singularidade dos casos particulares, pois o singular é infinito (um tal livro de leis seria um borgiano volume contendo a análise combinatória de todas as possibilidades do universo). Por essa razão o direito — isto é, a lei — nunca pode conter, em si, a justiça. Em outras palavras, o mero cumprimento da lei não significa realização da justiça.

O sentido de justiça é basicamente formado pelas ideias de conformidade e equidade. A etimologia — do latim “justitia” — encerra os significados de “exatidão”, “justeza”, “equidade”. Fazer justiça é equiparar dois acontecimentos diferentes. Mas, atenção, diferentemente do que consigna o verbete no dicionário (no “Houaiss”), justiça não é a “conformidade dos fatos com o direito”, mas a conformidade de um fato com outro fato, mediada pelo direito. Justiça é comensuração de acontecimentos. O direito estabelece as diretrizes gerais para esse cálculo, mas só quem pode atualizar a matemática fina requerida por essa comparação entre acontecimentos diferentes é a figura do juiz. Sei que estou demasiado abstrato; voltemos ao particular.

A Portuguesa e o Flamengo escalaram ilegalmente um jogador, na última rodada, num jogo que, para eles, não valia quase nada (no caso da Portuguesa, seu adversário disputava ainda a ida à Libertadores). O tribunal, aplicando a lei, puniu os clubes com quatro pontos, em consequência do quê a Portuguesa foi rebaixada. Ou seja, uma infração ao regulamento cuja consequência era quase NADA foi punida com TUDO. Uma operação de comensuração cujo resultado é equiparar o nada e o tudo pode ser conforme à lei — mas é profundamente desconforme à justiça.

Diferentemente do que disseram alguns de seus participantes, o julgamento não fez prevalecer a “lei sobre a moral”, ou a “razão sobre a emoção”; fez sim prevalecer o direito sobre a justiça. Mas o direito, como mostrei, não é por si justo. O direito está a serviço da justiça. Ao contrário, os juízes do caso estabeleceram que o sentido último do processo é o direito (na verdade um meio) e não a justiça (que é o fim). Os juízes recusaram-se a julgar, logo recusaram-se a procurar a justiça. Não foram dignos da função que exercem. Mauro Cezar Pereira tem razão em dizer que, para agir assim, eles são dispensáveis.

É verdade que, se tivessem julgado o caso, e se decidissem por uma punição mais leve, que não acarretaria o rebaixamento, poderiam ferir o direito, e isso também não seria justo. Mas esse cálculo deveria ter sido posto em aguda discussão. Definir e tensionar o direito e a justiça; pesar, avaliar, comparar o evento e a punição; atravessar a aporia, e finalmente decidir. É esse o trabalho de um juiz. Ele deve estar de antemão ciente da natureza impossível da justiça — e enfrentá-la. Por que a justiça é impossível? Porque dois eventos singulares (infrações e punições) nunca serão rigorosamente iguais. Eventos são fenômenos tão complexos que não há justeza (como se diz de uma calça que nos serve perfeitamente) na sua equiparação. A justiça é a matemática impura dos eventos heterogêneos. Ela exige, como escreveu Derrida, “que se calcule o incalculável”. Um homem rouba um supermercado. O que fazer? Cortar-lhe a mão? O princípio do talião é apenas a tentativa de estabelecer uma matemática pura num campo — o da realidade — que só admite um cálculo inexato, uma matemática impura. Portanto é uma aproximação infinita a justiça. O rebaixamento da Portuguesa e a permanência do Fluminense na série A distanciaram-se infinitamente dela.

Mundo real e ideal - TOSTÃO

FOLHA DE SP - 25/12

O futebol ideal é impossível, mas deveria ser uma referência para se jogar melhor


Nesta época do ano, deveria tirar férias, viajar, já que o futebol para. A exceção é na Inglaterra. Mas prefiro continuar por aqui, escrevendo. Os aeroportos estão um caos, os hotéis abusam dos preços, chove muito ou faz muito calor no Brasil e muito frio na Europa e nos EUA. As estradas estão péssimas e perigosas. Os alemães, que fazem a logística de sua seleção, estranharam os quebra-molas, que, para eles, estragam os carros, congestionam o tráfego e provocam mais acidentes.

Aproveito esses dias para ler mais e ir mais ao cinema. Tiro férias também da televisão. Não suporto as retrospectivas.

Difícil é arrumar assunto e leitores para minhas colunas.

Nesta época do ano, as pessoas sonham com o mundo ideal. Nele, os auditores do STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) analisariam o caso da Portuguesa com o olhar do que está escrito no regulamento e também com o olhar da justiça, do contexto, com a certeza de que a Lusa não agiu com má-fé nem se beneficiou de seu erro.

Faltava um argumento jurídico à Lusa. Agora, já tem. Segundo alguns advogados, o Estatuto do Torcedor estaria acima do regulamento do campeonato, o que livraria o time do rebaixamento.

No mundo ideal, os gastos com a Copa seriam apenas com dinheiro privado. A CBF, as federações estaduais e os clubes seriam dirigidos por profissionais competentes, transparentes e independentes.

Não existiriam relações promíscuas, e o calendário seria feito para beneficiar a qualidade do futebol. Os clubes não gastariam mais do que arrecadam ou do que podem pagar, e acabariam os astronômicos salários, incompatíveis com as receitas.

No mundo ideal, os torcedores iriam para os estádios só para torcer e fazer festa. Haveria lugares mais caros, para quem quisesse mordomia, e outros mais baratos, populares. Todos teriam conforto e segurança. Os marginais estariam presos ou impedidos de frequentar os jogos. A vigilância seria constante e implacável.

No mundo ideal, os gramados seriam padrão Fifa. O futebol que se joga no Brasil seria muito melhor, individualmente e no conjunto.

O equilíbrio das partidas do Atlético-MG, contra times sem nenhuma expressão, no Mundial de Clubes, é mais uma constatação desta deficiência.

A Seleção é exceção, pelo fato de quase todos os jogadores atuarem fora do país.

No mundo ideal, a imprensa cobraria de técnicos, dirigentes e jogadores mais compromisso com a qualidade do jogo. Os analistas deixariam de ver futebol somente a partir da conduta dos treinadores, dos resultados e como se houvesse sempre uma relação direta entre a história do jogo e o placar final.

Quanto maior a distância entre o mundo real e o ideal, maior é a frustração e o desamparo.

O mundo ideal só existe na nossa imaginação, mas serve de referência para se tentar sempre fazer algo melhor.

Ideia fixa - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 25/12
O PT quer a pasta da Integração. O PMDB não abre mão de voltar àquele ministério. O vice Michel Temer defendeu essa posição para a presidente Dilma. "Não tem plano B. A pasta era nossa, e abrimos mão em nome de compor com o PSB", afirma o presidente da Câmara, Henrique Alves. O partido não quer trocar para outra, como Cidades, pois "o Aguinaldo Ribeiro e o PP são nossos aliados"

A sucessão e as centrais

As centrais sindicais dos trabalhadores estão se posicionando nas eleições presidenciais. A CUT e a CTB apoiam a reeleição da presidente Dilma (PT). A Força Sindical está com a candidatura Aécio Neves (PSDB). Mas nenhuma delas condiciona esse apoio ao atendimento de suas reivindicações. Em março, elas entregaram à presidente Dilma uma pauta que pedia: "Redução de jornada de trabalho sem redução de salário; o fim do fator previdenciário; e aprovar resoluções da OIT para regulamentar a negociação coletiva do setor público e contra a demissão imotivada". Será que as centrais vão cobrar isso? Será que algum dos candidatos vai assumir essa agenda?



"Na primeira campanha (2008) do presidente Obama, ele obteve extraordinária contribuição pela internet de pessoas que doavam US$ 10, US$ 20, US$ 100" 
Eduardo Suplicy Senador (PT-SP), ao defender o fim das doações eleitorais de empresas 


De olho no eleitor
 Mesmo que Eduardo Campos se apresente como crítico do governo Dilma, o ex-presidente Lula avalia que o embate contra Campos deve ser cuidadoso.

Ele argumenta que é preciso garantir parcela do eleitorado do socialista num segundo turno.


O retorno 
Ex-presidente da CNI, ex-senador e ministro da Integração no governo Fernando Henrique Cardoso, Fernando Bezerra é o candidato do PMDB ao governo do Rio Grande do Norte. Ele saiu do PMDB, andou no PSB, mas agora está de volta e tem o apoio dos Alves. O partido, que tem o maior número de prefeitos, está há 12 anos fora do poder.


A resposta 
O comando da Câmara vai tentar promover uma reforma política na volta do recesso. Os deputados querem matar qualquer outra tentação de legislar do STF. A maioria não aceita o fim do financiamento pelas empresas.


O 'economês' tucano 
Aliados do candidato tucano à Presidência, Aécio Neves, estão preocupados com a sua linha de comunicação. Citam como exemplo sua frase de que vai transformar o Bolsa Família de uma política de governo para uma política de Estado.

Eles perguntam: "Quem sabe qual a diferença?" e "O eleitor associa o palavreado a algo positivo?".


Só no caso de reeleição
 A exemplo do presidente do PSD, Gilberto Kassab, outros aliados de peso, como é o caso do ex-governador Ciro Gomes (PROS), não querem assumir qualquer ministério agora. Preferem deixar para um eventual próximo mandato.


A tendência
Caso se confirme que não haverá espaço para nomeações políticas na reforma ministerial, aliados afirmam que a presidente Dilma deve, na maioria dos casos, nomear secretários executivos para o lugar dos ministros que foram concorrer.


Lista de desejos - VERA MAGALHÃES - PAINEL

FOLHA DE SP - 25/12

A indústria definiu sua pauta prioritária para o Congresso no ano eleitoral. A Agenda Legislativa da Indústria 2014 lista 14 propostas urgentes para o setor em tramitação no Senado e na Câmara. Entre elas estão a extinção do adicional de 10% do FGTS, a proposta que regulamenta a terceirização e a que racionaliza a cobrança do IPI e desonera o setor produtivo. A CNI avalia que esses projetos são importantes para reduzir o peso de impostos e dar segurança jurídica às empresas.

Disputado 1 Diferentemente do resto do país, onde Dilma Rousseff lidera com folga a sucessão presidencial, pesquisa realizada no Distrito Federal pelo instituto Dados mostra um quadro mais pulverizado de votos.

Disputado 2 Na pesquisa, realizada dos dias 1 a 9, com 3.000 entrevistas, a presidente tem 24,8%, seguida por Aécio Neves (PSDB), com 20,8%. O governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), aparece com 10,5%.

Minha casa... De olho no apoio de PSDB e DEM a sua candidatura ao governo da Bahia, o vice-presidente da Caixa Geddel Vieira Lima (PMDB) colou no prefeito ACM Neto e virou frequentador assíduo de inaugurações de obras em Salvador.

... é da oposição Na última sexta-feira, elogiou o prefeito em discurso e entregou pessoalmente as chaves das casas de um conjunto habitacional. Eram unidades do Minha Casa, Minha Vida, vitrine eleitoral de Dilma Rousseff.

Hora extra Geddel cobrou na última semana do vice-presidente Michel Temer que seja feita logo sua substituição na Caixa. O PMDB indicou formalmente para a vaga o diretor Roberto Desiree.

Cada um... Derrotada na eleição interna do PT-CE, a ex-prefeita de Fortaleza Luizianne Lins, rival do governador Cid Gomes (Pros), insiste na tese de candidato próprio para o governo em 2014. "Se o governador quer ter candidato e o senador Eunício Oliveira também quer se viabilizar, por que o PT não pode?"

... na sua Luizianne afirma que quer "curtir a vida acadêmica" até decidir seu futuro político. Ela fará mestrado em comunicação na PUC-RJ. "Posso ser candidata ao governo ou a deputada. Mas se o PT resolver apoiar o candidato do governador terei de parar e refletir."

Não tá fácil... A presidente do Conselho Nacional de Biblioteconomia, Regina Céli de Sousa, soltou nota em que diz que, para trabalhar na biblioteca do advogado José Gerardo Grossi, José Dirceu precisará ter a supervisão de um bibliotecário.

... pra ninguém "É um equívoco acreditar que as funções do bibliotecário se resumem a controlar a entrada e saída de livros", afirma Regina. A nota diz que descumprir a lei que obriga diploma é passível de sanção.

Reloaded 1 O Marco Civil da Internet terá nova negociação em 2014. Como está, o projeto não será votado. Um dos pontos de divergência é a obrigatoriedade de empresas estrangeiras instalarem data center no Brasil.

Reloaded 2 O governo aceita discutir a regra, mas não abre mão de que os pedidos judiciais sejam atendidos pelas empresas em casos de violação da privacidade. José Eduardo Cardozo (Justiça) vai liderar a discussão.

Filmou... O Conselho Nacional de Trânsito aprovou resolução que permite sanção a motoristas flagrados por câmeras cometendo infrações em rodovias. As multas poderão ser aplicadas por policiais que veem as imagens em centros de operação.

...dançou Antes, algumas multas só podiam ser constatadas pelos agentes no local da infração, como no caso de motoristas falando ao celular ou dirigindo sem cinto de segurança. No futuro, a nova regra poderá ser implementada nas cidades.

com com ANDRÉIA SADI, BRUNO BOGHOSSIAN E JULIO WIZIACK


TIROTEIO

"Com este quadro, não surpreende que o índice de reincidência seja de 82% dos presos. Os presídios são universidades de crimes."

DE MARCUS VINICIUS COÊLHO, presidente da OAB federal, sobre casos de violações aos direitos humanos em prisões no país, investigados pela entidade.


CONTRAPONTO

Eu prometo


Governadores do Nordeste participaram em agosto, em Maceió (AL), de reunião do Conselho da Sudene. Alguns deles chegaram à capital alagoana na véspera, para discutir a pauta que seria entregue à presidente Dilma Rousseff com reivindicações da região.

O anfitrião do encontro, Teotonio Vilela (PSDB), pediu que fosse incluída na lista a duplicação de rodovia federal que liga Maceió ao Recife. Foi interrompido por Eduardo Campos (PSB-PE), que, na época, ainda não admitia abertamente sua candidatura presidencial:

--Essa aí você pode deixar, Téo, que eu vou duplicar quando for presidente!

E se Papai Noel fosse brasileiro? - LUIZ CARLOS AZEDO

CORREIO BRAZILIENSE - 25/12

Nossa festa de Natal tem raízes bem mais antigas do que o nascimento de Jesus, mas sua forma atual data de aproximadamente 350 d.C., quando o papa Julio I resolveu transformar a Saturnália, que ocorria no solstíscio de inverno, numa festa cristã. Os romanos comemoravam intensamente o fim do ano agrário e religioso e a chegada do novo ano, com esperança de boas colheitas e dias melhores. Já então havia intensa troca de presentes.

Foram os norte-americanos - sempre eles - que deram ao Natal o caráter consumista de hoje, logo após a independência. Em Nova York, cidade fundada pelos holandeses, tiraram Papai Noel da sacristia para as portas das lojas. Inspirados na figura de São Nicolao, bispo de Mira, na Turquia, que gostava de distribuir presentes para comemorar o nascimento de Jesus - tradição que remonta aos Reis Magos Belchior, Baltazar e Gaspar -, os cartunistas Washington Irvin e Thomaz Nast deram ao Bom Velhinho o ar bonachão que se universalizou. Se Papai Noel fosse brasileiro, minha lista de presentes seria a seguinte:

Atendimento no SUS - Nosso Sistema Único de Saúde (SUS) precisa urgentemente de uma reforma. Ninguém aguenta mais a demora na marcação das consultas e no atendimento de urgência. No primeiro caso, acabaram com as filas marcando consultas para meses depois da entrega das senhas; no segundo, o sujeito somente é atendido se chegar na horizontal. Tem ainda a maracutaia dos planos de saúde, que enrolam as remoções dos hospitais públicos para não fazer cirurgias de emergência na rede privada. Falta também um plano de carreira que resgate o humanismo das profissões da área de saúde, principalmente dos médicos, sem termos que recorrer a médicos cubanos e de outras nacionalidades.

Educação de qualidade - A educação básica no Brasil foi universalizada, mas o ensino público deixa muito a desejar. Com 50 milhões de jovens, o Brasil vive o paradoxo de importar mão de obra para os setores mais dinâmicos da economia por falta de qualificação adequada dos nossos trabalhadores. Nos setores tradicionais da economia, sobra mão de obra. O desemprego é mascarado pela existência de 10 milhões jovens que nem estudam nem trabalham. Não é à toa que essa garotada nem-nem foi pra rua e pôs a boca no trombone: mais escolas e mais empregos de qualidade!

Transporte digno - Quem não quer um carro novo de presente de Natal? Todo mundo, é claro, mas isso não resolve o problema da mobilidade de nossas cidades, que já não suportam tantos automóveis. Eles ocupam 90% das vias e transportam de 10% a 15% da população, enquanto ônibus, metrôs e trens andam superlotados. Além disso, as passagens custam muito caro. Se houvesse transporte de massa digno, ninguém precisaria de automóvel para se deslocar de casa para a escola ou o trabalho. Mesmo os que têm veículos próprios.

Segurança pública - Cadê o Amarildo? Cadê o Antônio? Ambos sumiram, no Rio de Janeiro e em Brasília, respectivamente, em razão da violência policial. Segurança e respeito aos direitos humanos precisam andar juntas, inclusive nas prisões, verdadeiras masmorras medievais. O autoritarismo secular de nossa estrutura de poder está entranhado nas nossas polícias, que precisam mudar de paradigma, principalmente a militar, cujos métodos de atuação obedecem aos conceitos de guerra e não os da paz.

Proteção à infância - A parcela mais pobre da população brasileira, principalmente nas cidades, precisa de um programa de segurança familiar com foco nas crianças e adolescentes. De cada dez crianças em situação de risco, todas têm famílias desestruturadas, cujos integrantes, em sua maioria, são atendidos por diversos programas sociais - municipais, estaduais e federais -, inclusive o Bolsa Família, mas ninguém é responsável pelo conjunto da obra. As crianças vivem nas ruas, comem num lugar, pegam roupas em outro, dormem em abrigos ou debaixo de marquises, acabam zumbis do crack. Deveriam ser identificadas, cadastradas, frequentar escolas em horário integral e ter as respectivas famílias monitoradas.

Ética na política - Nem é preciso tecer muitos comentários sobre esse assunto. O brasileiro não confia nos partidos, nos políticos e no Congresso e tem bons motivos para isso. É preciso renovar os nossos costumes e as instituições políticas, para que o bem comum predomine em relação ao fisiologismo e ao patrimonialismo.

P.S.: a propósito, faço um pedido muito especial: um presente bacana e singelo para Maria Antônia, a filha caçula do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu. Ela tem apenas 3 anos e sente muita falta do pai.

Pressões do salário mínimo - CELSO MING

O Estado de S.Paulo - 25/12

Os reajustes do salário mínimo acima da inflação ajudaram a aumentar o poder aquisitivo do consumidor, mas abriram rombos nas contas do setor público que têm de ser cobertos por arrecadação de impostos que, por sua vez, tirarão renda do consumidor.

Pela regra definida em 2011, o salário mínimo de 2012 a 2015 (inclusive), é corrigido pela variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) acrescido do avanço do PIB apurado dois anos antes. Assim; o salário mínimo de 2013 foi calculado com base no avanço do PIB de 2011 e o de 2014 será com base no PIB de 2012.

Até o final de 2014, o governo federal deverá encaminhar ao Congresso projeto de lei que definirá as novas regras que vigorarão a partir de 2016.

Pelos cálculos do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), entre dezembro de 2012 e dezembro de 2013, o salário mínimo teve uma correção real (acima da inflação) de 81,4%, o que dá um avanço médio de 5,6%, substancialmente superior ao crescimento do PIB no período.

O principal impacto desse ajuste não foi no poder aquisitivo dos trabalhadores do setor privado (formal ou informal), mas no setor público. Nada menos que 20,6 milhões de pessoas recebem ao menos um salário mínimo mensal da Previdência Social, como aposentadoria ou benefício social regulado pela Lei Orgânica da Assistência Social. Só no INSS, 67% dos beneficiários recebem salário mínimo e, portanto, têm sua renda reajustada de acordo com esse critério. Também estão vinculadas ao salário mínimo as despesas com seguro-desemprego. Em novembro, o ministro Guido Mantega se mostrou espantado com o déficit (R$ 47 bilhões) nas contas do seguro-desemprego, num ano em que a desocupação atinge 4,6% da força de trabalho (dados de novembro). Em parte, isso ocorreu em consequência das atuais regras para o reajuste do salário mínimo.

Além da massa de beneficiários remunerada pelo governo federal, há ainda a fatia enorme de funcionários públicos estaduais e municipais, cuja renda também está atrelada ao salário mínimo. Enfim, o impacto do reajuste sobre as contas públicas é enorme.

O governo terá de negociar num ano eleitoral ou a extensão das atuais regras ou novas regras que entrarão em vigor em 2016 e deverão ser observadas até 2019, inclusive. A FGV calcula que, se os atuais critérios de reajuste do salário mínimo se mantiverem, as transferências de recursos do governo federal para as áreas da previdência e da assistência social subirão de 9,6% do PIB em 2013 para 10,7% do PIB em 2019.

Do ponto de vista político, se for reconduzida para um segundo mandato, a presidente Dilma terá motivos para um empenho maior em conter o salário mínimo, porque sabe o efeito de um reajuste mais generoso para a administração federal. Mas, para isso, terá de enfrentar a campanha dos sindicatos, que começará bem antes de outubro, com o calendário eleitoral como instrumento de pressão.

O fim está próximo - ALEXANDRE SCHWARTSMAN

FOLHA DE SP - 25/12

O fim, no caso, é o do ciclo de alta dos juros; o BC faz de conta que o problema da inflação não é com ele


Não ousaria dizer que o Relatório Trimestral de Inflação (RTI) é uma leitura agradável, embora supere de longe algumas das respostas proferidas durante a entrevista que se seguiu à sua divulgação. Permanece, contudo, informação essencial a quem, como eu, ainda nutre a ilusão de tentar entender os rumos da política monetária no Brasil.

Dois aspectos saltam aos olhos. O primeiro, claro, é o conjunto de previsões acerca do comportamento da inflação até o fim de 2015.

Em ambos os cenários projetados pelo Banco Central, um sob a suposição de manutenção da taxa de juros em 10% ao ano e outro presumindo ainda uma rodada de aumento para 10,25% ao ano, a inflação no final de 2015 baixaria a 5,4% e 5,3%, respectivamente, permanecendo, portanto, bastante acima da meta oficial, que --como o Banco Central deveria saber-- se encontra fixada em 4,5% desde o longínquo ano de 2005.

A serem confirmadas tais previsões, em geral muito otimistas, estabeleceríamos novo (e triste) recorde: seis anos com inflação superior à meta.

E pensar que ainda existem economistas que sugerem, como grande inovação na forma de condução da política monetária, o "alargamento" do prazo de convergência da inflação para dois (!) anos.

Diante desses números, um Banco Central realmente comprome- tido com a convergência da infla- ção à meta não teria alternativa que não fosse a sinalização de aperto monetário adicional.

No entanto --e é esse o segundo aspecto que mencionava ser importante no relatório--, a sinalização do Copom (Comitê de Política Monetária) é que o fim está próximo, no caso o fim do ciclo de aumento de taxas de juros, iniciado em abril deste ano.

Posto de outra forma, mesmo dispondo de tempo suficiente para lidar com o problema inflacionário (em vista das defasagens naturais de política monetária), o BC faz de conta que não se trata de responsabilidade sua e deixa o controle da inflação ao deus-dará.

Tempos atrás, já sob a atual diretoria, ainda se dava ao trabalho de inventar uma história de como o ambiente global seria desinflacionário e tirar da manga um "modelo de equilíbrio geral estocástico" que daria lustro teórico a seu pouco caso com a evolução dos preços.

Era tudo conversa fiada, como ficou claro pelo comportamento da inflação desde então. Mas, pelo menos, havia alguma preocupa- ção com as aparências e, se a hipocrisia é a homenagem que o vício presta à virtude, a meta ainda poderia se sentir lisonjeada, embora não atingida.

Hoje, pelo contrário, não há sequer tal preocupação. O que se depreende das duas informações presentes no RTI é que, apesar das juras sobre "o Banco Central estar de olho na inflação", a ação concreta da autoridade monetária não deixa dúvida acerca da falta de comprometimento com a meta. A atitude do BC fala tão alto que não nos deixa ouvir suas palavras.

Não é por outro motivo que as expectativas de inflação se recusam a convergir para a meta. Há quem interprete esse fenômeno como evidência da persistência de mecanismos de indexação na formação de expectativas, isto é, da inflação passada influenciando a futura.

Perdem, porém, de vista que, em face do relaxamento do BC no campo inflacionário, é precisamente esse tipo de comportamento que deve ser o esperado.

Não há como escapar da conclusão de que os últimos anos marcaram um retrocesso extraordinário na condução da política monetária.

Obviamente isso se insere na deterioração da política econômica como um todo, mas me toca mais de perto por ter tido a oportunidade de participar, ainda que de forma muito modesta, da construção de um regime muito distinto daquele que hoje vigora.

Razões pessoais à parte, é lamentável ver perdido o esforço de muita gente boa, ainda mais com consequências tristes para o país.

Se acreditasse em Papai Noel, pediria ao bom velhinho que iluminasse o Copom, mas deixo isso para os que creem nas previsões do BC.


Terceiro tempo - MÍRIAM LEITÃO

O GLOBO - 25/12

A negociação de três meses para a formação do governo alemão mostrou que é possível unir distribuição de cargos com coalizão em torno de ideias. O novo gabinete que assumiu semana passada é de fato uma mistura dos três partidos e deu uma nova cara à administração de Angela Merkel: mais à esquerda, com mais diversidade, e mais europeísta.

O governo é formado pelos conservadores do CDU, de Angela Merkel, os social-democratas do SPD, e o CSU, também conservador. Pela primeira vez uma mulher comandará as Forças Armadas e pela primeira vez uma pessoa de origem turca terá um cargo no gabinete.

Depois das eleições gerais de setembro, foram três meses de negociação até Merkel formar o gabinete aprovado pelo Bundestag. Antes dela, apenas Konrad Adenauer e Helmut Köhl haviam conseguido governar a Alemanha por três mandatos.

As novidades do gabinete são animadoras. Tanto na área das relações internacionais quanto na área militar foram nomeados ministros favoráveis à intensificação das relações com a Europa; fundamental num momento em que a zona do euro começa a sair da crise, graças, em grande parte, à liderança da Alemanha nos momentos difíceis. No primeiro pronunciamento, Merkel afirmou: Quem quiser mais Europa tem que estar preparado para reajustar algumas áreas de responsabilidade. Ou seja, será necessário mudar alguns tratados.

Dos 16 ministérios existentes - melhor nem lembrar dos nossos 40 - sete serão ocupados pelos conservadores do partido de Merkel (CDU), seis serão ocupados pelos social-democratas (SPD), e três serão do CSU.

O ministro das Relações Exteriores, Frank-Walter Steinmeier, do SPD, é mais influente e proativo que o anterior. Já concorreu contra Merkel, como candidato social-democrata, em 2009, quando o seu partido teve a pior derrota desde a Segunda Guerra. Em 2010, ele se afastou da política para doar um rim para a mulher. O fato elevou muito sua popularidade.

A nova ministra da Defesa, primeira mulher a comandar os militares na história da Alemanha, Ursula von der Leyden, é considerada a provável sucessora de Merkel e vinha defendendo a ideia de um estados unidos da Europa . É mãe de sete filhos e só entrou na política aos 42 anos. O ministro de Estado para Assuntos Europeus, membro do parlamento, Michael Roth, é social-democrata e fortemente pró-europeu. Pertence à nova geração mais moderna do SPD. É considerado um dos mais inovadores pensadores social-democratas. Escreveu um documento muito bem recebido em toda a União Europeia sobre a democracia na Europa, publicado pela Friedrich Ebert Foundation.

O superministro da Economia e Energia, Sigmar Gabriel, é do SPD e foi o grande ganhador das negociações para formar a coalizão. Ele também tem posições pró-europeias. Gabriel foi ministro do Meio Ambiente na primeira coalizão entre Merkel e os social-democratas, entre 2005 e 2009. Antes disso, ele governou a Baixa Saxônia. Além de ter duas áreas decisivas sob seu controle, Energia e Economia, foi nomeado vice-chanceler por Merkel. Ele é que comandará a política de saída da energia nuclear e aumento das fontes renováveis.

Aydan Özoguz será ministra da Migração, Refugiados e Integração. O fato de ser de origem turca é um sinal a favor da diversidade. Mas como o GLOBO publicou, ela tem dois irmãos ligados a extremistas. Nas Finanças, continua o conservador Wolfgang Schäuble, para mostrar que nem tudo é mudança nesse novo tempo alemão.


Em 2014, ‘vem pra rua você também’ - ELIO GASPARI

O GLOBO - 25/12

Renan Calheiros usou um jato da FAB para um implante de cabelos, o Brasil precisa de votos na mão e pés na rua



A repórter Andréia Sadi revelou que o presidente do Senado, doutor Renan Calheiros, preocupado com sua cabeça, requisitou um jato da FAB para voar de Brasília a Recife, onde fez um implante de dez mil fios de cabelo. Quem nestas Festas viajou com seu dinheiro deve perceber que esse tipo de coisa só acabará pela associação dos direitos de voto e de manifestação em torno de políticas públicas. Só com o voto isso não muda. Pelo voto, Renan começou sua carreira política em 1978, elegendo-se deputado estadual pelo MDB de Alagoas.

Renan Calheiros é um grão-mestre da costura política. Foi líder do governo de Fernando Collor de Mello e ministro da Justiça de Fernando Henrique Cardoso. Desde 2003 é um pilar da coligação petista no Congresso. Pertence a uma categoria imune à vontade popular. Ela pode ir para onde quiser, mas ele continuará no poder, à sua maneira. Como ministro da Justiça do tucanato, tendo seu nome exposto na Pasta Rosa dos amigos do falecido Banco Econômico, defendeu o uso do Exército para reprimir saques de famintos durante a seca de 1998. Politico da Zona da Mata alagoana, estava careca de saber que tropa não é remédio para esse tipo de situação. Nessa época, dois de seus irmãos foram acusados de terem mandado chicotear um lavrador acusado de roubar um aparelho de TV numa fazenda. Um desses irmãos elegeu-se deputado federal. Entre 1998 e 2006 teve uma variação patrimonial de 4.260%, amealhando R$ 4 milhões.

Renan teve uma filha fora do matrimônio quando ganhava R$ 12.720. A mãe da criança era ajudada por uma empreiteira amiga que lhe dava uma mesada de R$ 16.500. Por causa desse escândalo, por pouco não foi cassado, mas renunciou à presidência do Senado. Reelegeu-se e voltou à cadeira que já foi de Rui Barbosa prometendo uma agenda ética, de “transparência absoluta”. Contudo, como diz o senador Edson Lobão Filho, filho e suplente do senador Edson Lobão, ministro de Minas e Energia, “a ética é uma coisa muito subjetiva, muito abstrata”. Nesse mundo de abstrações, Renan, vendo a despensa de sua casa concretamente desabastecida, mandou abrir um pregão de R$ 98 mil para a compra de salmão, queijos, filé mignon, bacalhau e frutas. Apanhado, cancelou a compra.

Renan não é um ponto fora da curva. Ele é a própria curva. Em 2005, como presidente da Casa, deu sete cargos de R$ 10 mil a cada colega. Seu mordomo ganha R$ 18 mil. Em julho, quando ainda havia povo na rua, usou um jatinho da FAB para ir a um casamento em Trancoso. Apanhado, devolveu o dinheiro. Passados cinco meses fez o voo do implante.

Estabeleceu-se uma saudável relação de causa e efeito entre esse tipo de comensal da Viúva e a opinião pública. Eles não se corrigem, mas, uma vez denunciados, recuam. São muitos os maganos que não toleram saguão de aeroporto, despensa vazia e parente desempregado. Nessas práticas, é fácil colocá-los debaixo da luz do sol. Quando se trata da convênios, contratos de empreiteiras e grandes negócios, a conversa é outra.

Em 2014 a turma que paga as contas irá as urnas. Elas poderão ser um bom corretivo, mas a experiência deste ano que está acabando mostra que surgiu outra forma de expressão, mais direta: “Vem pra rua você também.”

A largada de Dilma - FERNANDO RODRIGUES

FOLHA DE SP - 25/12

BRASÍLIA - Políticos argumentam que a disputa pelo Palácio do Planalto ainda não está na cabeça das pessoas. No Brasil, o Natal do ano anterior ao da eleição não é um momento em que a maioria dos eleitores esteja pensando em quem vai votar lá na frente. Por essa razão, muitos consideram quase inútil analisar o cenário atual.

Essa avaliação é correta só em parte. Há um processo em curso. Os pré-candidatos atuam a cada segundo. Querem estar na melhor posição possível quando a lei permitir uma campanha aberta.

Além disso, a democracia brasileira já começa a ter alguns parâmetros para comparação. Desde o fim da ditadura militar (1964-1985), dois presidentes disputaram a reeleição. Fernando Henrique Cardoso (PSDB), em 1998, e Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em 2006. Não é muita coisa, mas ajuda a entender como o eleitor tem se comportado nessas horas.

A petista Dilma Rousseff deve ser a terceira a disputar a reeleição. FHC e Lula tiveram sucesso nas suas empreitadas, mas, quando estavam engatando nas campanhas, as coisas não pareciam tão boas para eles.

No Natal de 1997, FHC estava com 37% de "bom" e "ótimo" no Datafolha. Lula, ainda sofrendo os efeitos do mensalão, registrava meros 28% de aprovação. Ou seja, ambos estavam pior do que Dilma Rousseff hoje, cuja pontuação é de 41%.

Tanto FHC como Lula se reelegeram até com alguma facilidade. Pesou a favor do tucano o controle da inflação (1,65% em 1998) e o medo ainda presente entre os brasileiros daquela época de que os preços voltassem a subir. O petista Lula se segurou com o crescimento robusto da economia (4% em 2006) e a inclusão social de milhões de pessoas pobres.

Tudo considerado, Dilma está bem na largada. Vai se apresentar como a única habilitada para manter os programas sociais lulistas. É um argumento forte e poderoso. Será suficiente? Saberemos só em 2014.

As entranhas do bolsismo - ZANDER NAVARRO

O Estado de S.Paulo - 25/12

Em viagem de pesquisa visitei áreas rurais na divisa do Maranhão com o Pará. Muitos pequenos povoados com centenas de motos cruzando as estradas da região. Inúmeros sinais de continuidade do atraso histórico, mas iguais evidências, ainda embrionárias, de algum dinamismo social.

Em sua casa de barro, conversei com um jovem agricultor. Recém-casado e com um filho de 6 meses, ele cultiva uma pequena roça com mandioca, praticando a "agricultura no toco", que significa o desmate de uma área de mata original e o plantio após a queimada dos remanescentes florestais. Só vende a farinha se precisar de dinheiro, pois recebe uma bolsa do programa Mais Educação. E o que faz? "Sou professor de agroecologia", diz com certo orgulho. Ele explica que se trata de ensinar a preparação de "canteiros sustentáveis, plantar horta sem venenos", adiantando, contudo, que não foi treinado e, por isso, não sabe "ainda o que é agroecologia". Trabalha um dia por semana na escola da comunidade e recebe R$ 600 mensais.

Em outra comunidade rural, o líder que organizou o levantamento dos interessados locais no programa Minha Casa, Minha Vida afirma que serão oferecidos empréstimos de R$ 35 mil, mas cada família pagará apenas R$ 1 mil, divididos em quatro anos, indicando um subsídio de 97% nas futuras moradias. A dele é uma modesta casa de chão batido e seus olhos brilham ante a perspectiva de mudança. Fazia pouco tempo que esse agricultor assistira a uma conferência em Belém, destinada a representantes comunitários do programa, durante a qual foi escolhido para participar da conferência nacional, em Brasília. Não conhece nada além do Pará e a chance da viagem também alegra o líder da comunidade.

Já em Salvador, uma candidata a empregada doméstica foi entrevistada na casa da senhora contratante. Acertados o salário e os horários de trabalho, ela impôs uma inesperada exigência: não queria ter a Carteira de Trabalho assinada. Diante da surpresa, explicou que se for assim perderá o "auxílio-pesca" que recebe há quase dez anos. "Mas você é pescadora?" Ela riu e disse que nunca fez isso, mas em seu município de origem todos recebem o benefício federal, mesmo não sendo pescadores. Mora com o marido na capital, mas mantém o endereço anterior para continuar beneficiária. Pretendem se mudar para a cidade de Conde, pois lá ofereceriam adicionalmente uma cesta básica por mês.

No outro lado do País, diversos resultados de estudos realizados nas reservas extrativistas do Acre demonstram processos sociais similares, notavelmente adaptados ao sistema de bolsas e auxílios oferecidos pelo governo federal desde 2003. Na famosa Reserva Extrativista Chico Mendes, a principal atividade atualmente não é o extrativismo, mas a pecuária de corte, de fato proibida pelas normas do Sistema Nacional de Unidades de Conservação. Nem por isso, no entanto, muitos deixam de receber a Bolsa Verde. Aliás, por essa razão, em outra reserva, no Alto Juruá, o líder da comunidade afirma: "O que mais se produz aqui é menino, pois é o que rende mais" - em referência ao recebimento de Bolsa Família e outros benefícios, como a bolsa que a mãe poderá pleitear do Programa Brasil Carinhoso.

Finalmente, fruto de pesquisas em diversas regiões, é iluminada a preocupante associação entre a multiplicação das bolsas e a redução da atividade agrícola. Repete-se, em alguma medida, o que foi verificado na década de 1990, quando a disseminação das aposentadorias rurais após a regulamentação da Constituição permitiu a inúmeras famílias rurais pobres trocar parcialmente a incerteza da produção pelo recebimento monetário certo e mensal desse direito. Em consequência, diminuiu a oferta de produtos agrícolas, sobretudo nas regiões rurais mais empobrecidas.

São ilustrações do bolsismo. Quais os seus reais impactos na sociedade brasileira, além da simplória propaganda governamental? É um debate sinuoso e desafiador, pois facilmente polariza, de um lado, a defesa intransigente e usualmente irrefletida, quase sempre partidarizada, e, de outro lado, as opostas posições, até reacionárias, que não aceitam sequer a compaixão social pelos mais pobres. Mas é preciso aprofundar a discussão, escapando desse diálogo de surdos e examinando com mais ciência e distanciamento analítico o gigantesco sistema de auxílios, bolsas e benefícios criado e as suas implicações mais variadas.

Esgotada a meta inicial do bolsismo, que era o aumento da renda dos menos favorecidos, qual será o passo seguinte? No caso das famílias rurais pobres, por exemplo, o conservadorismo do imaginário social poderá acentuar o que julga ser a inata indolência desses grupos sociais, visão já consagrada por alguns escritores no passado. Raramente se observa, contudo, que as escolhas das famílias rurais refletem um sábio cálculo econômico que pondera a exaustão da atividade e os recursos disponíveis, uma equação que um economista agrícola russo, Alexander Chayanov, desvendou quase cem anos atrás em diversos trabalhos.

Não são aceitáveis a superficialidade e as frases de falastrões, ao chegarmos aos dez anos do Programa Bolsa Família. Também é inconcebível tudo ser feito apenas para manter a estreita correlação entre a distribuição das bolsas e o apoio político ao partido no poder. Precisamos ultrapassar esse rebaixamento de cunho eleitoreiro e analisar o sistema de proteção social brasileiro com mais transparência, refinamento e visão de nação. Trata-se de uma vasta estrutura de assistência a que quase ninguém mais se opõe, mas precisa ser aperfeiçoada e transformada numa alavanca pública para promover a prosperidade geral. Manter o sistema de bolsas, que apenas se amplia, sem nenhuma estratégia, especialmente para garantir votos, desqualifica nossos esforços para construir a emancipação cidadã e estimular o desenvolvimento social do País.

Simbolismos - LUCIA HELENA GALVÃO MAYA

CORREIO BRAZILIENSE - 25/12

Falar de simbolismos, hoje, nem sempre conta com a simpatia do ouvinte. As associações entre quaisquer acontecimentos e os supostos simbolismos a ele associados, pelo fato de as interpretações resvalarem, em algumas ocasiões, em algo que soa como ficção e fantasia, fez com que a abordagem simbólica caísse em descrédito para alguns.

Mas aqui cabe muito bem a colocação dos filósofos da antiga escola romana do estoicismo: "Nada em excesso". Negar conteúdo simbólico a tudo devido à fantasia de alguns peca pelo mesmo exagero de quem interpreta presságios em asas de borboletas. É uma prática normal e assimilada por muitos o fato de buscarmos interpretar a expressão facial do ser humano que se encontra diante de nós para perceber elementos como insegurança, desconfiança, segundas (e até terceiras) intenções... Assim como mensagens insinuadas nas entrelinhas das palavras: "O que ele quis dizer com isso?", ou seja, o que há de não dito, mas igualmente expresso por trás do que foi dito?

Assim, se quebrarmos a inércia do hábito e refletirmos enquanto agimos, neste Natal, chamará a nossa atenção o antigo pinheirinho com a estrela de cinco pontas no alto: por que pinheiro, e não outra árvore? Onde já se viu árvore coroada por estrelas? É lógico que se trata de um conjunto de símbolos: o pinheiro, em forma de cone (conífera), é a espiral da evolução humana, que se estreita, à medida que se eleva, em direção a um ideal celeste e luminoso. A estrela de cinco pontas, equivalente ao pentalfa dos pitagóricos e ao Homem Vitruviano, de Leonardo, representa a imposição do quinto elemento, a consciência humana fundamentada em valores universais sobre os quatro elementos de base: corpo físico, energia vital, emoções e mente prática.

A neve que nosso algodão simula é associada ao frio, ao recolhimento da vida exterior, ao convite a entrar em si próprio e a gestar e dar nascimento ao "infante divino": nossa consciência espiritual. Ou seja, além da base histórica tão bela, que recebemos em nossa educação ocidental cristã, o Natal, visto simbolicamente, também está associado a este outro especial "nascimento".

Nos natais antigos, oferecia-se aos que se amava algo que pudesse relembrá-los da presença do Divino dentro de si: uma vela, uma lamparina, um suporte material para o fogo do Espírito, associado obviamente ao próprio homem. De presença... Vêm os presentes de Natal. Hoje, perdida a memória disso, é comum que entreguemos presentes "ausentes", isto é, sem qualquer chamado simbólico à memória, desprovidos de qualquer convite à vida interior.

Devemos lembrar também que o Natal faz referência ao solstício de inverno no hemisfério norte. Marca a noite mais longa do ano que acontece por volta de 21 de dezembro. Depois dessa noite, a luz do Sol volta a crescer, a batalha contra a escuridão é vencida. Na mitologia grega, a descida ao Hades (à escuridão do submundo) simbolizava a prova mais difícil dos heróis (Ulisses, Orfeu). Era o maior desafio e ao mesmo tempo a porta para a redenção. Não é exatamente nos momentos mais difíceis da vida que descobrimos mais as nossas potências e surge mais força dentro de nós? Por isso, a necessidade desse jogo de luz e sombra para sabermos quem somos.

E o que dizer do Papai Noel? O Bom Velhinho faz referência a São Nicolau, arcebispo de Mira, na Turquia, no século 4. Nicolau era muito generoso e, por vezes, ofertou moedas de ouro a um homem pobre que precisava dar o dote de sua filha. Foram as campanhas publicitárias mais modernas que o transformaram neste senhor com vestes brancas e vermelhas. E faz sentido as crianças acreditarem nele? Do ponto de vista simbólico, sim, pois o Papai Noel existe enquanto necessidade de expressão humana. Nenhuma imagem cai tão fortemente no gosto popular se não tem por trás algo mais profundo arraigado no inconsciente humano. O arquétipo da generosidade existe e pode ser visto como o próprio espírito de Natal. Quando o homem abre o coração para a vida e compartilha o melhor que tem, cumpre o seu papel e assim se realiza.

Enfim, são muitas as histórias e simbolismos, que constituem, para o homem que ama e busca o conhecimento, uma forma especial (e igualmente deliciosa) de ceia de Natal. No melhor espírito filosófico, desejamos a você que possa dar e receber alguns verdadeiros "presentes", neste Natal, e que sua ceia tenha algumas "guloseimas" que alimentem não apenas o corpo.

Prudência nas estradas e na vida - RONILSON DE SOUZA LUIZ

O GLOBO - 25/12

Comparo o cenário político, econômico e social em que vivemos aos desafios que enfrenta um motorista ao trafegar na neblina



Encontrar algumas metáforas para sinalizar caminhos, em momentos nebulosos, pode ajudar quando se trata de situações complexas, históricas e turbulentas, como há fortes indícios de que estamos passando. Comparo o cenário político, econômico e social em que vivemos aos desafios que enfrenta um motorista ao trafegar na neblina.

São conhecidas as recomendações e as precauções para uma direção veicular mais segura em trechos sob neblina: reduzir a velocidade e aumentar a distância em relação ao carro da frente; acender os faróis baixos ou especiais; e evitar ultrapassagens.

Sem imagens nítidas, precisamos frisar as diferenças entre fazer muito e fazer bem feito, quando atuamos em grandes escalas. Com as manifestações de junho último, constatamos, metaforicamente, áreas de névoa nos transportes, na saúde, na educação, nas comunicações e nas finanças.

Nesta cerração, crescem na imprensa escrita e televisiva articulistas, autoridades e políticos citando nominalmente e ofendendo seus desafetos; adversários passam a inimigos. Quando isso ocorre, todos perdemos pela falta de elegância e por darmos margem às múltiplas interpretações, produzindo violências gratuitas e nada edificantes.

Se continuarmos exigindo maior velocidade de profissionais que dirigem com pouca visibilidade e pistas molhadas, aumentaremos os riscos de colisões e tragédias, quer em julgamentos para falarmos do Judiciário, quer em obras para citarmos o Executivo e quer em normas específicas que competem ao Legislativo.

Profissionais do ramo de informática dirão que a nação brasileira, ao menos parte significativa, está funcionando no “modo de segurança", outra preciosa metáfora, portanto, verifiquemos se as palhetas do limpador estão em bom estado. Aprender a dirigir na neblina requer capacidade técnica e perícia para encarar situações ambíguas, incertas e conflituosas.

Se estivermos no meio do percurso, havemos de comemorar o que já vencemos e deixamos para trás. Devemos manter a concentração para concluir a travessia.

Os mais variados medos que sentimos têm ligação com a ideia de risco. Usar as marcações da pista ou as luzes traseiras do carro à frente para se guiar é o que podemos fazer até descobrirmos a que distância estamos de avistar novos e melhores horizontes.

Aprender é, essencialmente, recriar conhecimento como ação, como atitude e compromisso ético com os que virão depois de nós. E o momento pede que se aprenda a dirigir no nevoeiro ou a funcionar no “modo de segurança”.

Líderes e servidores públicos devem identificar e satisfazer necessidades nas quatro estações do ano, e não apenas no inverno, visando aos resultados nas urnas da primavera, porque as pessoas querem muito mais atenção para o que dizem do que para o atendimento de suas reivindicações. Contudo, um policial rodoviário recomendaria, caso a neblina esteja muito espessa: pare o carro em um posto de serviços ou similar e espere a situação melhorar, independentemente do tempo de experiência do motorista.

Educação sem retrocessos - ALESSANDRA GOTTI E PRISCILA CRUZ

O Estado de S.Paulo - 25/12

A Constituição de 1988 foi um marco na História brasileira pela inclusão da educação como um direito fundamental. Somando-se às normas constitucionais, os tratados internacionais ratificados pelo Brasil em matéria de direitos sociais reforçam o dever do Estado de implementar progressivamente tais direitos, utilizando o máximo dos recursos disponíveis e proibindo que os avanços conquistados sofram retrocesso.

Apesar desse instrumental jurídico e da ampliação dos apoios financeiro, técnico e de gestão para a educação em todo o País, no período de um mandato, quatro anos, em 5% dos municípios houve queda no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) nos anos iniciais do ensino fundamental. Mas é nos anos finais do ensino fundamental que a situação é notadamente mais preocupante: em 17% dos municípios houve queda nesse índice no mesmo período.

Num país em que a média do Ideb sobe, essas quedas pontuais representam, por um lado, o aumento das desigualdades e, por outro, um freio para a melhora geral dos níveis educacionais no Brasil.

É evidente que pode haver oscilações. Mas os retrocessos devem ser combatidos. Quem perde mais? Os alunos e o Brasil. Alguém responde por isso? Infelizmente, ainda não.

Para lidar com esse cenário - além de mais recursos para a educação, da valorização e da formação de qualidade dos professores e de uma educação alinhada ao século 21, entre outras medidas - a solução passa necessariamente por uma cultura de monitoramento de resultados e menor tolerância em relação aos retrocessos.

Uma das possíveis estratégias normativas para avançarmos nesse ponto é a aprovação da Lei de Responsabilidade Educacional, em tramitação na Câmara dos Deputados, prevista no Plano Nacional de Educação, projeto de lei que também tramita no Congresso Nacional. Tal lei permitiria que, uma vez constatada a inércia do gestor na educação - ou, pior, o retrocesso nos resultados -, sua conduta poderia ser questionada e sancionada, com fundamento no fato de que é seu dever jurídico implementar políticas que conduzam progressivamente à plena realização dos direitos sociais. Ou seja, sendo a educação uma área tão estratégica para o País e para as pessoas, não pode haver retrocesso.

Uma política pública mostra-se regressiva quando resulta em piores serviços e impactos sociais negativos. Nessas situações, à luz da legislação já existente, cabe ao poder público comprovar que deu prioridade aos recursos públicos para efetivar o direito à educação e observou todos os parâmetros normativos necessários para garantir a ampliação do acesso a ela e de seu padrão de qualidade. Não comprovada essa adequação, é possível aferir que sua conduta, por violar norma constitucional e tratados internacionais, é um ato ilegal.

Como qualquer outra política social, a gestão da política educacional é, evidentemente, muito complexa e as exceções devem ser ponderadas. Algumas medidas, ao serem implementadas, podem provocar retrocessos em alguns resultados. Mas essas excepcionalidades devem ser justificadas e consideradas na lei, tais como: 1) A medida é fundamental para a proteção da totalidade dos direitos sociais, ainda que represente um retrocesso a um direito individualmente considerado; 2) foram exaustivamente examinadas todas as alternativas possíveis, sendo a medida adotada a menos lesiva; 3) foi utilizado o máximo dos recursos disponíveis e, ainda assim, foi necessário valer-se dessa medida para proteger os demais direitos nacional e internacionalmente previstos.

Pode-se perguntar, então, se já não é possível cobrar dos gestores públicos resultados satisfatórios em área tão essencial como a educação. A resposta é sim. Já existem ferramentas para essa cobrança, a começar da própria Constituição de 1988 e dos tratados internacionais, apesar de muito pouco ou nada exploradas, pela insuficiente fixação de parâmetros que gerem consequências. Ou seja, muito embora o direito exista, as ferramentas trazidas por uma Lei de Responsabilidade Educacional poderiam vir para modular as consequências jurídicas resultantes da inércia e do retrocesso, contribuindo para o aperfeiçoamento da legislação vigente e da gestão das políticas públicas de educação.

É fundamental que os alunos cujos resultados foram piores nessas gestões sejam protegidos de novos retrocessos por toda a sociedade brasileira. É nosso dever defendê-los, porque, em geral, os mais atingidos são os alunos em situação de maior vulnerabilidade social e econômica.

Assim, os principais projetos de lei para a educação que estão sendo debatidos no Congresso Nacional - isto é, o Plano Nacional de Educação e a Lei de Responsabilidade Educacional - têm o mérito de estimular uma cultura focada no progresso social e tornar mais transparente a ação estatal - uma vez que para que existam avanços e se concretize uma educação de qualidade o planejamento e a excelência são imprescindíveis na implementação de políticas. Como os recursos são escassos e há muito a fazer, a boa gestão pública - com prioridade para os recursos, o delineamento de metas adequadas e a execução eficaz das políticas implementadas - e o constante monitoramento dos resultados alcançados são fundamentais.

Leis como essas são essenciais para que as ações do Estado transitem da invisibilidade para a luz do dia e para que se norteie o que deve ser feito a partir dos resultados atingidos - progressos essenciais para que o Brasil aprimore a eficiência de suas políticas públicas e melhore a vida dos seus milhões de habitantes.

Cobaias num mundo cão - UIRÁ MACHADO

FOLHA DE SP - 25/12

Pelo calendário chinês, o ciclo atual, que se encerra somente no final de janeiro, corresponde ao ano da serpente, mas 2013, pode-se argumentar com facilidade, foi o ano do cão --ou do beagle, para ser ainda mais preciso.

Não faltarão justificativas para o simpático animal figurar nas retrospectivas deste ano. Com razão, poderá inclusive ser alçado à condição de símbolo da irracionalidade que contaminou as manifestações depois de junho.

Sim, há os black blocs. Mas estes, além de nada "fofos", assumem de antemão o vandalismo como bandeira. São racionais em seu desvario; mais previsíveis, pois. Menos mal que sua lógica tenha sido rechaçada por 95% dos paulistanos, segundo o Datafolha.

Deu-se algo bem diverso no episódio em que 178 beagles foram retirados do Instituto Royal, em São Roque (SP). Alegados maus-tratos às cobaias bastaram para que ativistas variados se julgassem no direito de invadir o biotério, depredar o local e prejudicar anos de pesquisas científicas.

A ação foi aprovada por 56% dos paulistanos, a despeito dos sinais de surto coletivo e muito embora não existissem evidências de que o laboratório agia ao arrepio da lei.

É curioso que não se tenha notícia de mobilização semelhante em torno de violação bem mais ostensiva: o uso de cobaias humanas em pesquisa sobre malária.

O caso é antigo, mas só agora a Justiça Federal decidiu, em segunda instância, dar ganho de causa a moradores de comunidades ribeirinhas do Amapá. Segundo o Ministério Público Federal (MPF), pelo menos dez deles foram usados como isca para mosquitos transmissores da malária, em 2003 e 2004.

Em português claro: cada participante precisava levar picadas dos insetos.

Só que de cem insetos; mantidos em copos, eram conduzidos até os braços e as pernas dos ribeirinhos. O procedimento ocorria durante nove noites, duas vezes por ano, e rendia até R$ 20 por jornada.

Consta que, para auxiliar a pesquisa, o poder público parou de borrifar inseticida nas comunidades, a fim de não espantar os mosquitos.

De acordo com a ação judicial, os participantes tiveram malária --alguns chegaram a ficar incapacitados devido a complicações da doença-- e espalharam a enfermidade nas suas regiões.

Difícil discordar do MPF quando afirma que os ribeirinhos foram submetidos a situação subumana; ou do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, que viu exploração da "hipossuficiência financeira e cultural daquelas pessoas".

Mais difícil, contudo, é entender como esse tipo de situação pode ocorrer num país onde as pessoas encontram tempo e disposição para protestar até em nome dos beagles.

Contraproducentes - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 25/12

Assim como uma boa legislação é capaz de permitir que empresas se recuperem, com amparo judicial, evitando que cheguem ao estado falimentar, também é positivo que contribuintes tenham possibilidade de renegociar débitos tributários, ainda mais quando resultam de conflitos de interpretação sobre a incidência de impostos ou não. No entanto, essa possibilidade de renegociação não pode se transformar em estímulo para que o não recolhimento de tributos, sobre os quais não exista dúvida, se transforme em rotina. Ou seja, propositalmente deixa-se de pagar os impostos sabendo-se que mais à frente a autoridade fazendária criará um programa especial de parcelamento, com abatimento de juros de mora e multas. É uma situação em que o contribuinte que esteja em dia fica em desvantagem em relação a inadimplentes contumazes. O não recolhimento de impostos declarados acaba correspondendo a uma sonegação que rapidamente pode ganhar roupagem legal.

O mais difícil nessa questão é separar o joio do trigo. Ou seja, aqueles que teriam uma real necessidade de recuperação financeira, na qual o equacionamento das dívidas tributárias é fator relevante, dos que usam essa possibilidade de renegociação para disfarçar uma sonegação. A elevada carga tributária existente no Brasil (36% do PIB), assim como a complexidade desse sistema, são argumentos que podem justificar o não recolhimento de impostos. De fato, o país precisa de uma reforma tributária simplificadora, que diminua o número de impostos e contribuições federais que possuem uma mesma fonte fonte geradora como base de cálculo. No caso dos estados, o problema se acentua pela variedade de alíquotas nas operações interestaduais. Há anos tenta-se chegar a um acordo que simplifique essa estrutura tributária e elimine parte da burocracia, mas sempre há reviravoltas quando o entendimento começa a ficar próximo. A última tentativa de acordo foi em âmbito administrativo, na esfera do Conselho de Política Fazendária (no qual estão representados os secretários estaduais de finanças) para depois ser referendado no Congresso. Mas tal tentativa também empacou quando parecia estar a um passo do entendimento.

Todos esses motivos justos não podem servir de pretexto para o não recolhimento de impostos se tornar uma rotina entre os que ficam à espera de um programa de refinanciamento de débitos, como é o caso do Refis, do governo federal, já em sua terceira versão. A porta de renegociação deveria estar permanentemente aberta aos contribuintes de boa fé, que, por problemas conjunturais, reconhecidos, tenham acumulado algum débito sem possibilidade à vista de quitação. Programas especiais de refinanciamento deveriam ser excepcionais e não frequentes, como tem sido o caso do Refis, pois dessa forma crescerá a cada exercício fiscal o número dos que ficam aguardando uma nova versão, mais amena, do programa.

Indústria menos inovadora - EDITORIAL O ESTADÃO

O ESTADO DE S. PAULO - 25/12
Contrariando freqüentes conselhos de consultores especializados em estimular atitudes positivas dos dirigentes empresariais em momentos de dificuldades, a indústria brasileira não fez da crise mundial uma oportunidade para disputar e conquistar novas fatias de mercado nem para assumir riscos. Ao contrário, a crise a levou a adotar atitudes mais defensivas, de preservação do espaço conquistado e de reorganização interna em busca de redução de custos, até mesmo com o corte de vagas. Por isso, ela ficou menos inovadora.
Entre 2009 e 2011, o período em que a economia brasileira registrou os impactos mais intensos da crise surgida em 2008 -com forte oscilação do ritmo de cresci mento do PI B nos dois primeiros anos e um avanço muito lento a partir de 2011 -, a proporção das empresas industriais que adotaram novos processos produtivos ou colocaram no mercado produtos novos ou significativamente aprimorados foi de 35,6%, menos do que a fatia registrada no período anterior à crise, de 2006 a 2008, quando alcançou 38,3%.

Este é um dos dados mais interessantes da Pesquisa de Inovação (Pintec) 2011 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que neste ano chega à sua quinta edição. Ao trazer informações e dados que permitem melhor compreensão da atitude das empresas brasileiras com relação à inovação, a Pintec oferece ao governo elementos para a elaboração de políticas públicas e ao setor privado, dados para a elaboração de estratégias nesse campo.

Neste ano, além de empresas industriais e de serviços que já vinham sendo estudadas, a pesquisa incluiu o setor de eletricidade e gás e, na área de serviços, empresas de engenharia e arquitetura, entre outras. Das 128.699 empresas desses setores com 10 ou mais pessoas ocupadas, 45.950 adotaram alguma forma de inovação em 2011. Ou seja, 35,7% das empresas - índice praticamente igual a todas empresas industriais tomadas isoladamente e que representam mais de um terço do total - são inovadoras.

É um índice comparável ao de países como a Espanha. Mas o exame das ações de inovação das empresas brasileiras mostra que, mesmo tendo investido mais nesse campo - em valores reais, os investimentos aumentaram 164% em relação a 2008 elas foram muito afetadas pela crise financeira, o que as levou a direcionar os investimentos para a redução dos riscos. "Em contexto de crise, elas adotam comportamento mais defensivo e postergam planos de lançar produtos", como observou o gerente da pesquisa, Alessandro Pinheiro.

De fato, os processos, e não os produtos, foram a prioridade dos programas de inovação das indústrias brasileiras em 2011. A aquisição de máquinas e equipamentos continuou absorvendo a maior fatia dos investimentos em inovação. Os resultados dessa escolha são, obviamente, positivos para a empresa, com ganhos de produtividade e com redução de custos. Mas, como observou o gerente do IBGE, "isso prejudica principalmente a inovação de produtos".

A inovação de produtos exige maiores esforços da empresa e, muitas vezes, inovações de processos, mas também implica riscos, o que parece ter inibido as indústrias brasileiras. A pesquisa mostra que a fatiadas empresas industriais inovadoras em produtos caiu 5,6 pontos porcentuais entre 2008 e 2011, de 22,9% do total para 17,3%.

Além da redução proporcional das indústrias inovadoras, a Pintec 2011 traz outra novidade. Problemas antigos, como o risco dos investimentos, oscus-tos elevados, a escassez de fontes de financiamento e a rigidez da estrutura organizacional das empresas, continuam sendo obstáculos à inovação. Entre os mais graves, no entanto, agora está a falta de pessoal qualificado, problema que já vinha sendo apontado em outros estudos como fator de limitação da melhorada produtividade e da qualidade em diferentes segmentos industriais. Em outras edições, a Pintec já o havia identificado como inibidor dos programas de inovação das empresas, mas na pesquisa mais recente do IBG E ele surge como a segunda principal dificuldade para a adoção de programas de inovação, atrás apenas dos elevados custos e à frente dos riscos.

O papa e o Natal: oportunidade de renascimento - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE

CORREIO BRAZILIENSE - 25/12
Um dos significados do dia de hoje é o da renovação. E é importante lembrar o conceito, que acompanha escolha importante ocorrida este ano, exatamente do ponto de vista religioso. O conclave que indicou Jorge Mario Bergoglio o 266º papa da Igreja Católica provocou certa apreensão. Primeiro, pelo ineditismo de o pontífice não ser originário do Velho Mundo. Depois, pela suposta ligação dele com a ditadura argentina. As atitudes do latino-americano, porém, mostraram que os receios eram infundados.
Ao escolher o nome de Francisco, o santo dos pobres, Bergoglio indicou que a palavra humildade poderia sair do dicionário cristão para tomar o mundo de forma real. Por seu lado, entrevistas como a do Nobel da Paz Adolfo Pérez Esquivez deram testemunho de que o argentino sempre foi crítico contumaz do sangrento regime militar no país (1966-1973) - mesmo que não o tenha dito abertamente, e em outras oportunidades criticasse a Teologia da Libertação, de fundo marxista.

Em seus primeiros dias de pontificado, Francisco fez renúncias. Deixou de lado o palácio antes ocupado por outros papas; passou a almoçar com trabalhadores comuns e padres no refeitório do Vaticano; pegou o mesmo ônibus que os cardeais após o conclave que o elegeu herdeiro do trono de Pedro. Em seu aniversário de 77 anos, no último dia 17, saiu para comemorar com os pobres.

O papa argentino tampouco limitou os discursos a uma doutrina amorosa para os fiéis. Cobrou dos religiosos postura menos cheia de clericalismo. Demitiu quem estava envolvido com escândalos no Banco do Vaticano. Adotou postura menos punitiva ao tratar de homossexualidade. Para muitos, porém, ainda faltam ações mais drásticas contra os pedófilos dentro da Igreja Católica.

Não é possível dizer que elas não virão. Afinal, outro discurso que sempre deixa os mais conservadores apreensivos tem sido constantemente lembrado por Francisco: o diálogo ecumênico. João Paulo II havia indicado o caminho da tão dogmática Igreja Católica ao visitar sinagogas e mesquitas. Bergoglio está a um passo de repetir as atitudes e, acima de tudo, avançar no assunto.

Em 28 de junho, em discurso ao Patriarcado de Constantinopla, igreja ortodoxa criada a partir do cisma com a irmã católica, o argentino foi enfático: "Não devemos ter medo do encontro e do verdadeiro diálogo. Isso não nos afasta da verdade; em vez disso, através de uma troca de dons, nos conduz, sob a orientação do Espírito da verdade, à toda a verdade".

A virtude, no caso, não está em fazer bela palestra positiva para esta ou aquela religião. Mas pedir sensatez e diálogo aos próprios católicos romanos. "É belo pedir ao Senhor Jesus esta graça: que nos envie o seu espírito de inteligência, a fim de que não tenhamos um pensamento frágil, um pensamento uniforme, mas um pensamento que brota da alma, do coração e que dá o verdadeiro sentido dos sinais dos tempos." A homilia, em 29 de novembro último, revela que, no primeiro Natal do novo papa, o pedido é de renascimento, de renovação.

Natal renovado - EDITORIAL FOLHA DE SP

FOLHA DE SP - 25/12

Em menos de um ano de pontificado, ações midiáticas de Francisco vão retirando da igreja o lastro inquisitorial legado por seu antecessor


É mais fácil falar em mudanças do que realizá-las. O mais nítido exemplo desse truísmo terá sido, nos últimos anos, o caso do presidente americano Barack Obama.

Conseguiu, por certo, implementar alguma coisa de suas propostas de campanha. Mas não há dúvida da distância que se verificou entre a ideia de um governante livre dos vícios e das pressões do establishment de Washington e a realidade de um chefe do Executivo exposto a todo tipo de reveses e pressões.

Aos que esperavam de Obama reformas radicais pode-se lembrar que não se muda o rumo de um transatlântico com a mesma agilidade com que se desloca uma lancha ou um jet ski; o tamanho e a complexidade do Estado americano são fatores capazes de inibir a manobra feérica, o salto voluntarista, a "audácia da esperança" mencionada na campanha eleitoral.

Há uma personalidade, entretanto, que pode servir, em certa medida, como contraexemplo. Em menos de um ano, o papa Francisco parece empreender, com leveza, uma guinada na lenta e vetusta barca de são Pedro.

Verdade que, diferentemente de qualquer governo democrático, no Vaticano a vontade de um só homem tem poder definitivo.

Seria ignorar a resistência das instituições, contudo, minimizar o quanto de determinação e desassombro terão sido necessários a Jorge Bergoglio para desconsiderar os presumíveis apelos à prudência e à compostura que uma chusma de conselheiros lhe sussurrou entre os labirintos de mármore e a escuridão das sacristias.

Tudo, pode-se dizer, é marketing, nisso que talvez merecesse, mais que qualquer ação de Obama, o rótulo de "audácia da esperança"; da fé e da caridade também.

Atitudes tomadas com um olho na repercussão midiática marcaram o atual pontificado. Pagando ele mesmo a conta do hotel, ou realizando visitas noturnas, supostamente incógnito, às imediações desvalidas do Vaticano, Francisco administra com energia sua imagem à frente de uma Igreja Católica presa a preconceitos incompatíveis com o mundo moderno.

Fez muito, no entanto, para retirar dessa armadura doutrinária o aspecto punitivo e obsessional (nas questões relativas ao sexo) que limitou o alcance e a pertinência das manifestações de seu antecessor, Joseph Ratzinger.

Pouco resta à igreja, atualmente, além do poder simbólico --ou da estratégia de relações públicas, em terminologia corporativa.

Se a mensagem do papa for, na medida do possível, a da tolerância e da caridade exercidas no cotidiano, e não somente numa data específica como a de hoje, o senso publicitário do papa Francisco traz em si a alegria e a abertura de coração que correspondem, mesmo entre os que não seguem a fé cristã, ao espírito do Natal.

COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO

“Temos maçãs podres que temos que extirpar do Judiciário”
Ministro Francisco Falcão (STJ), corregedor do Conselho Nacional de Justiça


MINISTÉRIO DA JUSTIÇA FAZ LICITAÇÃO SUSPEITA

O Ministério de Justiça se prepara para anunciar, no apagar das luzes, em 31 de dezembro, a empresa vencedora da milionária licitação que vai criar o sistema de indexação balística no Brasil. Investigada pelo Tribunal de Contas da União por suspeita de direcionamento da vencedora, a licitação só foi anunciada na véspera do recesso Judiciário, dia 18. Assim, recursos judiciais não dificultarão o processo.

DIRECIONADA

Das três empresas no mundo que fornecem o sistema, só a russa Evofinder atende ao requisito de entregar “unidades portáteis”.

PREÇO

O pregão eletrônico 56/ 2013 prevê a compra de 67 equipamentos avaliados em R$ 1,8 milhão cada um, somando R$ 120,6 milhões.

DEFASAGEM

Os equipamentos pretendidos pelo Ministério da Justiça são defasados. Já há duas gerações mais avançadas avaliadas em R$ 350 milhões.

SOLUÇÃO

O banco de dados de balística ajuda a precisar de onde saiu o disparo de arma de fogo e, assim, identificar o responsável pelos tiros.

BARBAS CRESCEM NA PF

Policiais federais de Foz do Iguaçu decidiram deixar a barba crescer como sinal de protesto e de vigília, até que a presidente Dilma cumpra a lei, em vigor desde agosto, para finalmente receberem o adicional de fronteira – benefício que levaram três anos para conquistar. Dilma precisa assinar um decreto regulamentando a lei. “Foi uma promessa vazia, nada mudou”, reclama o sindicato da categoria no Paraná.

HOMENAGEM AO NOEL

O pessoal da PF no Paraná promete manter-se barbudo até receberem o benefício, de apenas R$ 90 por dia de trabalho na fronteira.

SOBRA

Na Inglaterra, 90% dos crimes são esclarecidos enquanto no Brasil o índice de solução dos homicídios não passa de 5%, em Brasília.

COPA NA TELINHA?

A Agência Brasileira de Inteligência (Abin) gastou R$ 98.779,60 de dinheiro público na compra de novos televisores. É para Copa em HD?

TELHADO DE VIDRO

Durante o merecido recesso, após um 2013 exaustivo, a Câmara dos Deputados começará a reforma de R$ 41 milhões em três blocos de imóveis funcionais de suas excelências, ocupados de terça a quinta.

ENTÃO, É NATAL

O presidente do PSDB-MG, deputado Marcus Pestana, defende que o senador e presidenciável Aécio Neves dê, realmente, uma pausa na campanha durante as festas de fim de ano: “Seria contraproducente”.

CPI À VISTA

A Petrobras anuncia em janeiro suas novas agências de propaganda, e outra vez despontam como favoritas a Master e a Heads, paranaenses como o ministro Paulo Bernardo (Comunicações). A PPR, como desde o início do governo Lula, também deverá faturar mais essa.

BOLA DA VEZ

Líder nas pesquisas ao governo do Rio, Marcelo Crivella (PRB) está sendo assediado para se aliar tanto a Anthony Garotinho (PR) quanto ao peemedebista Luiz Fernando Pezão.

PEDE PRA SAIR

Para Sérgio Zveiter (PSD-RJ), relator do recurso apresentado por Natan Donadon, o presidiário deveria renunciar logo ao mandato: “O processo ficou para fevereiro, e ele não tem direito a mais nada”.

JOGO PESADO

Deputados da Paraíba ameaçam convocar o ministro Aguinaldo Ribeiro (Cidades) para esclarecer suspeita de cooptação de prefeitos por meio de liberação de verba da pasta, tudo de olho nas eleições de 2014.

‘TIA’ DILMA

O ex-espião Edward Snowden garantiu na TV Globo que não trocaria asilo no Brasil por informações. Anrã: dará a Dilma sua coleção de matrioshkas, as bonequinhas russas gordinhas que se multiplicam.

PENSANDO BEM…

…não deve ser segredo para Snowden, mas ele é forte candidato na coluna a ganhar o troféu Óleo de Peroba importado dos EUA.


PODER SEM PUDOR

ALKIMIN, O SOLIDÁRIO

Assim que soube da cassação do deputado mineiro Carlos Murilo, sobrinho de JK, José Maria Alkimin telefonou, compungido:

- Olha, meu querido, estou com você na hora dessa terrível injustiça...

Lembrou-se de que o telefone poderia estar grampeado, e corrigiu:

- ...quero dizer, meu caro, que eu continuo solidário com a Revolução, que só tem feito coisas certas, apesar de alguns equívocos como esse que cometeu com você, mas a gente tem que compreender que tudo isso é para o bem da nossa Pátria...

E desligou.

QUARTA NOS JORNAIS

Globo: Famílias vão à Justiça por vaga em creches públicas
Folha: Triplica o número de idosos que vivem sós
Estadão: IPI de carro sobe e arrecadação pode crescer R$ 950 milhões
Correio: Votos por um Brasil melhor: O presente de Natal que eleitores do DF querem dos políticos
Estado de Minas: Uma família de presente