O GLOBO - 25/12
Comparo o cenário político, econômico e social em que vivemos aos desafios que enfrenta um motorista ao trafegar na neblina
Encontrar algumas metáforas para sinalizar caminhos, em momentos nebulosos, pode ajudar quando se trata de situações complexas, históricas e turbulentas, como há fortes indícios de que estamos passando. Comparo o cenário político, econômico e social em que vivemos aos desafios que enfrenta um motorista ao trafegar na neblina.
São conhecidas as recomendações e as precauções para uma direção veicular mais segura em trechos sob neblina: reduzir a velocidade e aumentar a distância em relação ao carro da frente; acender os faróis baixos ou especiais; e evitar ultrapassagens.
Sem imagens nítidas, precisamos frisar as diferenças entre fazer muito e fazer bem feito, quando atuamos em grandes escalas. Com as manifestações de junho último, constatamos, metaforicamente, áreas de névoa nos transportes, na saúde, na educação, nas comunicações e nas finanças.
Nesta cerração, crescem na imprensa escrita e televisiva articulistas, autoridades e políticos citando nominalmente e ofendendo seus desafetos; adversários passam a inimigos. Quando isso ocorre, todos perdemos pela falta de elegância e por darmos margem às múltiplas interpretações, produzindo violências gratuitas e nada edificantes.
Se continuarmos exigindo maior velocidade de profissionais que dirigem com pouca visibilidade e pistas molhadas, aumentaremos os riscos de colisões e tragédias, quer em julgamentos para falarmos do Judiciário, quer em obras para citarmos o Executivo e quer em normas específicas que competem ao Legislativo.
Profissionais do ramo de informática dirão que a nação brasileira, ao menos parte significativa, está funcionando no “modo de segurança", outra preciosa metáfora, portanto, verifiquemos se as palhetas do limpador estão em bom estado. Aprender a dirigir na neblina requer capacidade técnica e perícia para encarar situações ambíguas, incertas e conflituosas.
Se estivermos no meio do percurso, havemos de comemorar o que já vencemos e deixamos para trás. Devemos manter a concentração para concluir a travessia.
Os mais variados medos que sentimos têm ligação com a ideia de risco. Usar as marcações da pista ou as luzes traseiras do carro à frente para se guiar é o que podemos fazer até descobrirmos a que distância estamos de avistar novos e melhores horizontes.
Aprender é, essencialmente, recriar conhecimento como ação, como atitude e compromisso ético com os que virão depois de nós. E o momento pede que se aprenda a dirigir no nevoeiro ou a funcionar no “modo de segurança”.
Líderes e servidores públicos devem identificar e satisfazer necessidades nas quatro estações do ano, e não apenas no inverno, visando aos resultados nas urnas da primavera, porque as pessoas querem muito mais atenção para o que dizem do que para o atendimento de suas reivindicações. Contudo, um policial rodoviário recomendaria, caso a neblina esteja muito espessa: pare o carro em um posto de serviços ou similar e espere a situação melhorar, independentemente do tempo de experiência do motorista.
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