ZERO HORA - 05/12
Tarde de sexta-feira, entro num táxi para me levar à oficina onde havia deixado meu carro para a revisão. Estávamos descendo a Rua Salvador França quando uma moça na calçada fez sinal – obviamente não viu que o táxi já estava ocupado. Mas o motorista parou mesmo assim, enquanto me comunicava: “Vou descobrir para onde ela vai, de repente é perto e levo as duas juntas”. Eu respondi: “Sinto muito, mas vamos em frente”.
O fominha pretendia recolher todos os passageiros que encontrasse e foi negociar justo comigo, que nunca fui fã de jeitinhos.
A explicação dele para sua atitude: “Dona, na Europa todos os taxistas fazem isso. Nós somos muito atrasados. Eles são mais inteligentes que nós, por isso são de Primeiro Mundo”.
Meu caro Anselmo, Renato, Valdir ou seja qual for o seu nome: eles não são mais inteligentes que nós – eles são mais organizados que nós, mais corretos que nós, mais respeitadores que nós. Existem vários tipos de transporte coletivo: lotações, ônibus, bondes, metrô. O táxi não é coletivo. Pode conduzir mais de uma pessoa, mas faz viagens individuais. É assim que os táxis funcionam no mundo todo: por corrida.
Em tese, você está certo, seria um favor ao trânsito caótico das cidades se os carros transportassem mais gente, e isso até pode acontecer de forma consensual: duas pessoas aguardam no ponto, começam a conversar e descobrem que estão indo para a mesma rua. Podem decidir compartilhar o táxi, é uma atitude civilizada. O que não pode é isso ser decisão do motorista. Há regras que regulamentam cada atividade, e um passageiro que pega um táxi sozinho tem o direito de seguir sozinho até seu ponto de desembarque, sem ser coagido a rachar tarifas e negociar trajetos com uma pessoa estranha recolhida no meio do caminho.
Claro que cheguei em casa me sentindo a malvada da novela. Vá que a moça na calçada estivesse, numa coincidência pouco provável, indo para a mesma rua que eu, que economia faríamos. E eu poderia ter feito uma nova amiga. E o motorista de táxi teria feito uma boa ação para a cidade. E todos dormiríamos felizes.
O motorista estava com sua corrida garantida, mas quis emendar com outra: eu sairia do carro, a moça continuaria a viagem, aí ele poderia recolher outro passageiro, ela sairia no ponto desejado e esse outro passageiro seguiria adiante, e assim o motorista manteria seu táxi constantemente ocupado, num rodízio que otimizaria 100% do seu turno de trabalho. Se essa ideia for boa mesmo, que seja autorizada por lei, implantada e divulgada pelos meios de comunicação, com segurança garantida aos usuários. A partir de então, todos poderiam acenar para táxis ocupados, a fim de saber se o trajeto que está sendo feito é o mesmo que eles pretendem fazer. Todo táxi viraria um táxi-lotação. Prevejo uma bagunça, mas, oficializando, me adapto.
Enquanto isso, sigo malvada.
quarta-feira, dezembro 05, 2012
Leitores de verdinhas - RUY CASTRO
FOLHA DE SP - 05/12
RIO DE JANEIRO - Todo mundo sabe o que é um livro. Mas sabe mesmo? É um conjunto de folhas impressas, presas pelo lado esquerdo. As folhas costumam conter letras ou figuras, em cores ou em PB, e o que varia é o conteúdo. Pode ser, digamos, uma história de Jorge Amado. Ou podem ser cédulas azul-esverdeadas, com a figura da República e, estranhamente, a de uma garoupa, no verso. Quando é esse o caso, tal livro é de autoria do Banco Central e se intitula "Cem Reais" -ou este valor multiplicado pelo número de cédulas, digo páginas, que tal "livro" contém.
Pois, desde já, devemos essa nova definição de livro à desarticulada Operação Porto Seguro, protagonizada -por enquanto- por ex-chefes de agências governamentais, advogados, empreiteiros, um ex-senador, seus respectivos maridos e mulheres e, provavelmente, gente mais graúda, envolvendo licitações, franquias, laudos, diplomas e pareceres falsos, tudo sob a inspiração da ex-chefe do escritório da Presidência em SP e amiga do ex-presidente Lula.
Segundo a Polícia Federal, sempre que os membros da quadrilha precisavam mencionar os valores constantes na saraivada de propinas trocadas entre eles, a palavra usada para isso era "livros", não dinheiro. Está tudo nas conversas gravadas pela PF. São frequentes as referências aos "livros" enviados de uns para os outros, aos "livros" que fulano estaria devendo a beltrano ou ao "livro" que sicrano estaria levando para "ler" em viagem. Livros, aliás, sem títulos ou autores.
Com tantos livros em cena, poderiam ter formado um Clube do Livro ou uma biblioteca circulante, dos quais também sairiam enriquecidos -de cultura, claro. Pena que os "livros" com que se mimoseavam fossem impressos pela Casa da Moeda.
Não importa. Tudo indica que terão muito tempo no futuro para ler livros de verdade.
RIO DE JANEIRO - Todo mundo sabe o que é um livro. Mas sabe mesmo? É um conjunto de folhas impressas, presas pelo lado esquerdo. As folhas costumam conter letras ou figuras, em cores ou em PB, e o que varia é o conteúdo. Pode ser, digamos, uma história de Jorge Amado. Ou podem ser cédulas azul-esverdeadas, com a figura da República e, estranhamente, a de uma garoupa, no verso. Quando é esse o caso, tal livro é de autoria do Banco Central e se intitula "Cem Reais" -ou este valor multiplicado pelo número de cédulas, digo páginas, que tal "livro" contém.
Pois, desde já, devemos essa nova definição de livro à desarticulada Operação Porto Seguro, protagonizada -por enquanto- por ex-chefes de agências governamentais, advogados, empreiteiros, um ex-senador, seus respectivos maridos e mulheres e, provavelmente, gente mais graúda, envolvendo licitações, franquias, laudos, diplomas e pareceres falsos, tudo sob a inspiração da ex-chefe do escritório da Presidência em SP e amiga do ex-presidente Lula.
Segundo a Polícia Federal, sempre que os membros da quadrilha precisavam mencionar os valores constantes na saraivada de propinas trocadas entre eles, a palavra usada para isso era "livros", não dinheiro. Está tudo nas conversas gravadas pela PF. São frequentes as referências aos "livros" enviados de uns para os outros, aos "livros" que fulano estaria devendo a beltrano ou ao "livro" que sicrano estaria levando para "ler" em viagem. Livros, aliás, sem títulos ou autores.
Com tantos livros em cena, poderiam ter formado um Clube do Livro ou uma biblioteca circulante, dos quais também sairiam enriquecidos -de cultura, claro. Pena que os "livros" com que se mimoseavam fossem impressos pela Casa da Moeda.
Não importa. Tudo indica que terão muito tempo no futuro para ler livros de verdade.
Explico o que é um imbecil - PAULO SANT’ANA
ZERO HORA - 05/12
Um leitor me manda dizer que no programa Debates Esportivos, da Rádio ABC, de Novo Hamburgo, no dia 29 de novembro último, o narrador Marco Couto ofendeu a mim e ao colega Kenny Braga, chamando-nos a ambos de imbecis.
Quero reconhecer, senhor narrador, que o senhor tem metade da razão.
Ou não é um imbecil quem, como eu, fuma 60 cigarros por dia?
Ou não é imbecil quem, como eu, acreditou piamente que o PT seria a restauração da moralidade política no Brasil?
Ou não é um imbecil quem, como eu, prega que se construam presídios decentes no RS?
Ou não é imbecil quem, como eu, jura que os cães das raças pitbull e rottweiler não podem transitar no meio social?
Ou não é um imbecil quem, como eu, prega há mais de 40 anos pelo rádio, pela televisão e pelo jornal que sejam cercados os parques e as praças de Porto Alegre?
Só pode ser um imbecil quem pensa dessa maneira.
Quem primeiro chamou a si próprio de imbecil fui eu, quando escrevi, há 20 anos, o meu primeiro livro e, como muita gente me chamava de gênio, pus o seguinte título na obra: O Gênio Idiota.
Naquele instante, eu já tinha na mente um estudo psiquiátrico que li e dizia o seguinte: “O idiota é ainda mais retardado que o imbecil. O imbecil tem idade mental entre três anos e sete anos e quociente de inteligência (QI) de 25 a 50. Já o idiota apresenta profundo retardo mental, com idade de três anos e quociente de inteligência abaixo de 25, sendo incapaz de concatenar ideias”.
Logo, senhor narrador da Rádio ABC de Novo Hamburgo, não me ofendo porque fui chamado pelo senhor de imbecil, eis que outro estudo que possuo afirma categoricamente que 50% das pessoas humanas são idiotas e os outros 50% que restam são imbecis.
Segundo Dostoievski, pensar o contrário do que pensam os idiotas é essencial para que se tenha ideia das características do imbecil.
Logo, não resta nenhuma dúvida de que sou imbecil. Pena que quem tenha dado essa notícia em primeira mão foi a Rádio ABC de Novo Hamburgo, que pelo narrador Marco Couto transmitiu esse conceito sobre o meu quociente intelectual.
E só pode ser um imbecil um sujeito como eu, que está escrevendo uma coluna inteira sobre um suposto anátema que me foi lançado por um anônimo narrador do Interior, embora eu esteja reconhecendo publicamente que o radialista, a meu respeito, acertou em cheio.
E parece que o radialista quis me ofender, apesar de eu não considerar, como se viu acima, uma ofensa a palavra com que me brindou: imbecil.
Em todo caso, nem lamento que hoje se torne em Novo Hamburgo a pessoa mais famosa da cidade o meu pretenso ofensor, depois que os queridos leitores de NH leiam esta coluna.
Tudo que ele queria é que eu respondesse a ele.
E, como sou um imbecil, estou respondendo.
Um leitor me manda dizer que no programa Debates Esportivos, da Rádio ABC, de Novo Hamburgo, no dia 29 de novembro último, o narrador Marco Couto ofendeu a mim e ao colega Kenny Braga, chamando-nos a ambos de imbecis.
Quero reconhecer, senhor narrador, que o senhor tem metade da razão.
Ou não é um imbecil quem, como eu, fuma 60 cigarros por dia?
Ou não é imbecil quem, como eu, acreditou piamente que o PT seria a restauração da moralidade política no Brasil?
Ou não é um imbecil quem, como eu, prega que se construam presídios decentes no RS?
Ou não é imbecil quem, como eu, jura que os cães das raças pitbull e rottweiler não podem transitar no meio social?
Ou não é um imbecil quem, como eu, prega há mais de 40 anos pelo rádio, pela televisão e pelo jornal que sejam cercados os parques e as praças de Porto Alegre?
Só pode ser um imbecil quem pensa dessa maneira.
Quem primeiro chamou a si próprio de imbecil fui eu, quando escrevi, há 20 anos, o meu primeiro livro e, como muita gente me chamava de gênio, pus o seguinte título na obra: O Gênio Idiota.
Naquele instante, eu já tinha na mente um estudo psiquiátrico que li e dizia o seguinte: “O idiota é ainda mais retardado que o imbecil. O imbecil tem idade mental entre três anos e sete anos e quociente de inteligência (QI) de 25 a 50. Já o idiota apresenta profundo retardo mental, com idade de três anos e quociente de inteligência abaixo de 25, sendo incapaz de concatenar ideias”.
Logo, senhor narrador da Rádio ABC de Novo Hamburgo, não me ofendo porque fui chamado pelo senhor de imbecil, eis que outro estudo que possuo afirma categoricamente que 50% das pessoas humanas são idiotas e os outros 50% que restam são imbecis.
Segundo Dostoievski, pensar o contrário do que pensam os idiotas é essencial para que se tenha ideia das características do imbecil.
Logo, não resta nenhuma dúvida de que sou imbecil. Pena que quem tenha dado essa notícia em primeira mão foi a Rádio ABC de Novo Hamburgo, que pelo narrador Marco Couto transmitiu esse conceito sobre o meu quociente intelectual.
E só pode ser um imbecil um sujeito como eu, que está escrevendo uma coluna inteira sobre um suposto anátema que me foi lançado por um anônimo narrador do Interior, embora eu esteja reconhecendo publicamente que o radialista, a meu respeito, acertou em cheio.
E parece que o radialista quis me ofender, apesar de eu não considerar, como se viu acima, uma ofensa a palavra com que me brindou: imbecil.
Em todo caso, nem lamento que hoje se torne em Novo Hamburgo a pessoa mais famosa da cidade o meu pretenso ofensor, depois que os queridos leitores de NH leiam esta coluna.
Tudo que ele queria é que eu respondesse a ele.
E, como sou um imbecil, estou respondendo.
Ficando para trás - ANTONIO PRATA
FOLHA DE SP - 05/12
Não é pela meia perdida que eu fico triste; é a vida que, tão rápido, vai ficando para trás, percebem?
Ao desfazer a mala percebi, chateado, que um dos pés da meia verde tinha ficado lá na praia. Àquela hora, devia estar caído atrás do armário da pousada, quem sabe até já não tivesse virado pano de chão, saquinho de parafuso, flanela para encerar móveis? Se fosse um casaco, uma calça, uma gravata, ainda haveria chances de ir parar num Achados e Perdidos, numa gaveta da recepção, mas um pé de meia? Quem se dá ao trabalho de ligar, perguntar se por acaso, mas que bom, Sedex tá ótimo, me passa a sua conta que te envio um DOC? No entanto, como já disse, fiquei chateado.
Aquelas meias haviam sido compradas na primeira viagem que fiz com a minha mulher, poucos meses depois de começarmos a namorar. Uma viagem em que cruzamos os Estados Unidos de carro, sem rumo, parando de cidade em cidade, dormindo em motéis de beira de estrada e nos descobrindo -descobrindo, por exemplo, que eu não era o tipo de cara que gosta de cruzar um país de carro, sem rumo, parando de cidade em cidade, dormindo em motéis de beira de estrada. Meu apego por "road movies", me dei conta, enquanto discutia com a voz do GPS numa highway de oito pistas em algum lugar do Arizona, tinha mais a ver com "movies" do que com "road". (Há uma diferença nada sutil entre assistir a "Paris, Texas" e estar em "Paris, Texas" -a diferença, digamos, entre um deserto e uma poltrona.)
Foi lá pelo meio da viagem, quando eu estava aflito, espremido entre caminhões mastodônticos e o possível fim do namoro -ela sempre querendo ver o que havia do lado de lá da montanha, eu sugerindo tomar uma cerveja na próxima esquina- que comprei as tais meias, numa cidadezinha em Nevada. Eram grossas, confortáveis, meias de domingo, daquele velho domingo que "pede cachimbo" na canção infantil. Apesar de estrangeiras, emanava delas o inconfundível aroma do lar. Algo sutil, claro: mas não é nas sutilezas que Deus e o Diabo se escondem? Pois as meias verdes amaciaram um pouco aqueles dias atribulados.
Teve uma tarde, já no fim da viagem, em que subimos um platô em Monument Valley, no Arizona. Um cenário de faroeste, digno de John Wayne ou Papa-Léguas, e, embora -ou talvez exatamente porque- escalar um platô no meio do deserto fosse a caricatura do que me desagradava no pacote aventura, a epítome do desconforto, consegui relaxar e aproveitar. Ao chegar lá no alto, suados, tiramos os sapatos, ficamos em silêncio, um encostado no outro, admirando a paisagem marciana.
Anos depois, mesmo tendo lavado dezenas de vezes as meias verdes, uma manchinha da terra vermelha de Monument Valley resistia, impregnada às suas fibras. Sempre que abria a gaveta e as via, me voltava à memória aquele momento da viagem, o momento em que entendi que o namoro, apesar de nossas diferenças -eu, poltrona; ela, platôs- iria dar certo. E deu.
Agora, um pé de meia tá lá na Barra do Sahy, passando óleo de peroba na mesa do café da manhã, o outro irá inexoravelmente pro lixinho do banheiro. Fazer o quê? Veja, não é pela meia que eu fico triste, não. É a vida que, num detalhezinho aqui, noutro ali, tão rápido, vai ficando para trás, percebem?
Não é pela meia perdida que eu fico triste; é a vida que, tão rápido, vai ficando para trás, percebem?
Ao desfazer a mala percebi, chateado, que um dos pés da meia verde tinha ficado lá na praia. Àquela hora, devia estar caído atrás do armário da pousada, quem sabe até já não tivesse virado pano de chão, saquinho de parafuso, flanela para encerar móveis? Se fosse um casaco, uma calça, uma gravata, ainda haveria chances de ir parar num Achados e Perdidos, numa gaveta da recepção, mas um pé de meia? Quem se dá ao trabalho de ligar, perguntar se por acaso, mas que bom, Sedex tá ótimo, me passa a sua conta que te envio um DOC? No entanto, como já disse, fiquei chateado.
Aquelas meias haviam sido compradas na primeira viagem que fiz com a minha mulher, poucos meses depois de começarmos a namorar. Uma viagem em que cruzamos os Estados Unidos de carro, sem rumo, parando de cidade em cidade, dormindo em motéis de beira de estrada e nos descobrindo -descobrindo, por exemplo, que eu não era o tipo de cara que gosta de cruzar um país de carro, sem rumo, parando de cidade em cidade, dormindo em motéis de beira de estrada. Meu apego por "road movies", me dei conta, enquanto discutia com a voz do GPS numa highway de oito pistas em algum lugar do Arizona, tinha mais a ver com "movies" do que com "road". (Há uma diferença nada sutil entre assistir a "Paris, Texas" e estar em "Paris, Texas" -a diferença, digamos, entre um deserto e uma poltrona.)
Foi lá pelo meio da viagem, quando eu estava aflito, espremido entre caminhões mastodônticos e o possível fim do namoro -ela sempre querendo ver o que havia do lado de lá da montanha, eu sugerindo tomar uma cerveja na próxima esquina- que comprei as tais meias, numa cidadezinha em Nevada. Eram grossas, confortáveis, meias de domingo, daquele velho domingo que "pede cachimbo" na canção infantil. Apesar de estrangeiras, emanava delas o inconfundível aroma do lar. Algo sutil, claro: mas não é nas sutilezas que Deus e o Diabo se escondem? Pois as meias verdes amaciaram um pouco aqueles dias atribulados.
Teve uma tarde, já no fim da viagem, em que subimos um platô em Monument Valley, no Arizona. Um cenário de faroeste, digno de John Wayne ou Papa-Léguas, e, embora -ou talvez exatamente porque- escalar um platô no meio do deserto fosse a caricatura do que me desagradava no pacote aventura, a epítome do desconforto, consegui relaxar e aproveitar. Ao chegar lá no alto, suados, tiramos os sapatos, ficamos em silêncio, um encostado no outro, admirando a paisagem marciana.
Anos depois, mesmo tendo lavado dezenas de vezes as meias verdes, uma manchinha da terra vermelha de Monument Valley resistia, impregnada às suas fibras. Sempre que abria a gaveta e as via, me voltava à memória aquele momento da viagem, o momento em que entendi que o namoro, apesar de nossas diferenças -eu, poltrona; ela, platôs- iria dar certo. E deu.
Agora, um pé de meia tá lá na Barra do Sahy, passando óleo de peroba na mesa do café da manhã, o outro irá inexoravelmente pro lixinho do banheiro. Fazer o quê? Veja, não é pela meia que eu fico triste, não. É a vida que, num detalhezinho aqui, noutro ali, tão rápido, vai ficando para trás, percebem?
Os favoritos da mala - ARTUR XEXÉO
O GLOBO - 05/12
Alguns eleitores mais antigos do certame da Mala do Ano andam estranhando a sigla Trem para o Tribunal Regional Eleitoral da Mala. Eles se lembram que o mesmo órgão já foi conhecido como Trema. É verdade. Mas já faz dois anos que a sigla mudou. Com a reforma ortográfica e o sumiço do trema, a sigla antiga perdeu o sentido. Portanto, voltamos a ser Trem, como nos primórdios do concurso. Pois o Trem tem o prazer de anunciar sua nova pesquisa eleitoral. Como sempre, por ordem do juiz presidente, nomes não são divulgados para não influenciar os eleitores que ainda não se manifestaram. Mas os resultados da pesquisa podem adiantar que os ministros — ou sinistros, como preferem alguns eleitores — do STF continuam estourando a boca do balão. Bem, há muitos verões ninguém estoura a boca do balão, mas o juiz, um magistrado do século passado, ainda não se adaptou às novas gírias registradas pela Revista O GLOBO. Sendo assim, é isso aí, bicho!
Mas o mensalão não trouxe apenas candidatos juízes para nossa eleição. Alguns réus têm sido lembrados também. “Mala intransigente”, justificam os eleitores dos juízes. “É mala desde os tempos de Ibiúna”, dizem os que votam em réus.
Outros candidatos têm se mostrado fortes nem que seja para alcançar um posto no Top 10. Um cantor de muita popularidade está estreando na lista. “Esse mala sou eu!”, comentam os que não suportam mais ouvir sua canção. A área da música brasileira está proporcionando também uma disputa que pode ser definida como a guerra do axé. Duas cantoras brigando para ver quem é mais pesada para carregar.
Para encerrar, vale registrar a aparição de duas novas candidatas (o time feminino está forte em 2012). Uma delas é... o que é que ela é? Modelo? Atriz? Celebridade? Bem, uma delas alcançou fama posando nos destroços de Nova York logo após a passagem do Furacão Sandy. A outra já perdeu duas eleições este ano: para a Câmara dos Vereadores e para um clube de futebol. Mas para A Mala do Ano ela promete não repetir as derrotas. Falou e disse!
Quantas vezes você é capaz de assistir a “2 filhos de Francisco”? Houve um tempo em que uma lei obrigava todos os cinemas a passarem, antes do filme de longa-metragem programado, um curta brasileiro. Era uma lei bem intencionada. Mas não deu certo. Os donos de cinemapassaram a produzir curtas para pôr a mão no percentual de bilheteria que cabia aos produtores dos filminhos. E o espectador de cinema no Brasil passou a ser obrigado a assistir aos mais tediosos documentários de toda a História.
Havia exceções. Os cinemas de arte não aderiram a este golpe e passavam curtas do mercado. Resultado: quando não assistia aos mais tediosos documentários de toda a História, os espectadores eram obrigados a ver documentários sobre o Nordeste de todos os pontos de vista. A gente, então, começou a chegar atrasada às sessões. Se o anúncio dizia que a sessão era às 16h, a gente chegava às 16h20m. E, se por acaso o curta ainda não tinha passado, quando ele começava, era recebido com vaias. A lei acabou caindo em desuso e, mesmo sem exibição obrigatória, nossos curtas melhoraram de qualidade. Ainda não tenho opinião formada sobre esta determinação do Ancine de obrigar as emissoras de TV a cabo a exibirem, no horário nobre, 30% de programação brasileira. Lembra-me a Lei do Curta. E não tenho muita certeza de que fará bem à produção nacional. No mês de novembro, para cumprir a lei, “2 filhos de Francisco” foi exibido 19 vezes na TV a cabo. Volto à pergunta inicial: quantas vezes você é capaz de assistir a “2 filhos de Francisco”?
Aos 19 anos, Juliana Paiva não é exatamente uma iniciante. Já participou de outras novelas na Globo (“Cama de gato” e “Ti-Ti-Ti”), já fez cinema (“Desenrola”), mas certamente está enfrentando em “Malhação” seu papel mais difícil. E está se saindo bem. No meio daquele conto de fadas que costuma ser “Malhação”, ela vive um personagem complexo. Fatinha é a periguete da escola. Banca a experiente, mas é imatura. Tem que ser sensual, mas não consegue esconder que ainda é uma criança. Ela não participa da trama principal, mas “Malhação” fica sempre mais atraente quando a ação se vira para as trapalhadas de Fatinha. Além disso, a atriz é linda. Uma protagonista para o futuro.
Ouvi, na “Voz do Brasil”... Tá bem, esta é a hora de você perguntar por que eu ouço a “Voz do Brasil”. Não é uma escolha afetiva. Sempre ouço rádio quando passo roupa. E, às vezes, o horário de passar roupa coincide com o da “Voz do Brasil”. Como a lei não me dá outra opção, vai tu mesmo. Antes que você se espante com o fato de eu passar roupa, prometo que, qualquer dia desses, explico melhor essa história. Voltando ao assunto, ouvi na “Voz do Brasil” que uma deputada federal quer criar um ministério para o Ministério Público. Isso mesmo, um Ministério do Ministério. Soube, pelo mesmo programa, que um deputado ocupou a tribuna para cumprimentar o time de futebol Ajax, da Zona Leste paulistana, pelos bons resultados que ele vem obtendo. Aí eu desliguei o rádio. E o ferro.
Vem cá, a única coisa que o Alex Atala tinha para fazer no sorteio das chaves da Copa das Confederações era pegar uma bolinha num pote. Só tinha dois potes para ele cumprir sua tarefa: o A e o B. Era só prestar atenção no que solicitava o secretário-geral da Fifa, Jérome Valcke , e pegar a bolinha. A ação exigia um exercício intelectual tão insignificante que não precisava nem ensaiar. Mesmo assim, prevenida, a Fifa organizou dois ensaios. E, na Hora H, o sujeito errou? Imagina na Copa!
Alguns eleitores mais antigos do certame da Mala do Ano andam estranhando a sigla Trem para o Tribunal Regional Eleitoral da Mala. Eles se lembram que o mesmo órgão já foi conhecido como Trema. É verdade. Mas já faz dois anos que a sigla mudou. Com a reforma ortográfica e o sumiço do trema, a sigla antiga perdeu o sentido. Portanto, voltamos a ser Trem, como nos primórdios do concurso. Pois o Trem tem o prazer de anunciar sua nova pesquisa eleitoral. Como sempre, por ordem do juiz presidente, nomes não são divulgados para não influenciar os eleitores que ainda não se manifestaram. Mas os resultados da pesquisa podem adiantar que os ministros — ou sinistros, como preferem alguns eleitores — do STF continuam estourando a boca do balão. Bem, há muitos verões ninguém estoura a boca do balão, mas o juiz, um magistrado do século passado, ainda não se adaptou às novas gírias registradas pela Revista O GLOBO. Sendo assim, é isso aí, bicho!
Mas o mensalão não trouxe apenas candidatos juízes para nossa eleição. Alguns réus têm sido lembrados também. “Mala intransigente”, justificam os eleitores dos juízes. “É mala desde os tempos de Ibiúna”, dizem os que votam em réus.
Outros candidatos têm se mostrado fortes nem que seja para alcançar um posto no Top 10. Um cantor de muita popularidade está estreando na lista. “Esse mala sou eu!”, comentam os que não suportam mais ouvir sua canção. A área da música brasileira está proporcionando também uma disputa que pode ser definida como a guerra do axé. Duas cantoras brigando para ver quem é mais pesada para carregar.
Para encerrar, vale registrar a aparição de duas novas candidatas (o time feminino está forte em 2012). Uma delas é... o que é que ela é? Modelo? Atriz? Celebridade? Bem, uma delas alcançou fama posando nos destroços de Nova York logo após a passagem do Furacão Sandy. A outra já perdeu duas eleições este ano: para a Câmara dos Vereadores e para um clube de futebol. Mas para A Mala do Ano ela promete não repetir as derrotas. Falou e disse!
Quantas vezes você é capaz de assistir a “2 filhos de Francisco”? Houve um tempo em que uma lei obrigava todos os cinemas a passarem, antes do filme de longa-metragem programado, um curta brasileiro. Era uma lei bem intencionada. Mas não deu certo. Os donos de cinemapassaram a produzir curtas para pôr a mão no percentual de bilheteria que cabia aos produtores dos filminhos. E o espectador de cinema no Brasil passou a ser obrigado a assistir aos mais tediosos documentários de toda a História.
Havia exceções. Os cinemas de arte não aderiram a este golpe e passavam curtas do mercado. Resultado: quando não assistia aos mais tediosos documentários de toda a História, os espectadores eram obrigados a ver documentários sobre o Nordeste de todos os pontos de vista. A gente, então, começou a chegar atrasada às sessões. Se o anúncio dizia que a sessão era às 16h, a gente chegava às 16h20m. E, se por acaso o curta ainda não tinha passado, quando ele começava, era recebido com vaias. A lei acabou caindo em desuso e, mesmo sem exibição obrigatória, nossos curtas melhoraram de qualidade. Ainda não tenho opinião formada sobre esta determinação do Ancine de obrigar as emissoras de TV a cabo a exibirem, no horário nobre, 30% de programação brasileira. Lembra-me a Lei do Curta. E não tenho muita certeza de que fará bem à produção nacional. No mês de novembro, para cumprir a lei, “2 filhos de Francisco” foi exibido 19 vezes na TV a cabo. Volto à pergunta inicial: quantas vezes você é capaz de assistir a “2 filhos de Francisco”?
Aos 19 anos, Juliana Paiva não é exatamente uma iniciante. Já participou de outras novelas na Globo (“Cama de gato” e “Ti-Ti-Ti”), já fez cinema (“Desenrola”), mas certamente está enfrentando em “Malhação” seu papel mais difícil. E está se saindo bem. No meio daquele conto de fadas que costuma ser “Malhação”, ela vive um personagem complexo. Fatinha é a periguete da escola. Banca a experiente, mas é imatura. Tem que ser sensual, mas não consegue esconder que ainda é uma criança. Ela não participa da trama principal, mas “Malhação” fica sempre mais atraente quando a ação se vira para as trapalhadas de Fatinha. Além disso, a atriz é linda. Uma protagonista para o futuro.
Ouvi, na “Voz do Brasil”... Tá bem, esta é a hora de você perguntar por que eu ouço a “Voz do Brasil”. Não é uma escolha afetiva. Sempre ouço rádio quando passo roupa. E, às vezes, o horário de passar roupa coincide com o da “Voz do Brasil”. Como a lei não me dá outra opção, vai tu mesmo. Antes que você se espante com o fato de eu passar roupa, prometo que, qualquer dia desses, explico melhor essa história. Voltando ao assunto, ouvi na “Voz do Brasil” que uma deputada federal quer criar um ministério para o Ministério Público. Isso mesmo, um Ministério do Ministério. Soube, pelo mesmo programa, que um deputado ocupou a tribuna para cumprimentar o time de futebol Ajax, da Zona Leste paulistana, pelos bons resultados que ele vem obtendo. Aí eu desliguei o rádio. E o ferro.
Vem cá, a única coisa que o Alex Atala tinha para fazer no sorteio das chaves da Copa das Confederações era pegar uma bolinha num pote. Só tinha dois potes para ele cumprir sua tarefa: o A e o B. Era só prestar atenção no que solicitava o secretário-geral da Fifa, Jérome Valcke , e pegar a bolinha. A ação exigia um exercício intelectual tão insignificante que não precisava nem ensaiar. Mesmo assim, prevenida, a Fifa organizou dois ensaios. E, na Hora H, o sujeito errou? Imagina na Copa!
Os últimos serão os primeiros - HÉLIO SCHWARTSMAN
FOLHA DE SP - 05/12
SÃO PAULO - "Espere: a útil arte da procrastinação", que acaba de ser lançado no Reino Unido, não é um livro ruim. Padece, porém, de um defeito que está se tornando cada vez mais comum em obras de divulgação científica: tenta explicar o mundo por meio de uma única ideia.
No caso, o autor, Frank Partnoy, matemático, economista e advogado, sustenta que devemos sempre retardar o máximo possível nossas reações, pois isso nos dá tempo para reunir mais informações e, portanto, melhorar a qualidade da resposta. Esse princípio, diz Partnoy, vale para tudo, seja na escala dos milissegundos, como é o caso de tenistas profissionais, seja na dos anos, como em certos tipos de investimento. "Espere" é, se quisermos, um anti-"Blink", a obra de Malcolm Gladwell que nos insta a confiar em nossos instintos e agir antes de pensar.
Minha impressão é que, para justificar um título mais vendável, Partnoy juntou sob a mesma chave interpretativa fenômenos muito pouco conexos, incluindo, além dos tópicos já mencionados, casamentos, racismo, combates aéreos e a ciência dos pedidos de desculpas, entre muitos outros. O resultado, como não poderia deixar de ser, é temerário.
O livro fica bem mais interessante se abandonarmos as preocupações sistematizantes e o lermos como uma série de ensaios sobre assuntos variados. Aí encontraremos muita informação curiosa, como os estudos que ligam o sucesso escolar de uma criança à maleabilidade de seus batimentos cardíacos ou os novos achados sobre o poder da propaganda subliminar.
Num plano mais intimista, pessoas que deixam tudo para a última hora encontrarão conforto psicológico nas elucubrações de Partnoy. Mas é bom ter em mente que nem todas as respostas melhoram se obtivermos mais informações. Há também uma vasta literatura, pouco explorada pelo autor, que mostra que o excesso de dados pode piorar a decisão.
SÃO PAULO - "Espere: a útil arte da procrastinação", que acaba de ser lançado no Reino Unido, não é um livro ruim. Padece, porém, de um defeito que está se tornando cada vez mais comum em obras de divulgação científica: tenta explicar o mundo por meio de uma única ideia.
No caso, o autor, Frank Partnoy, matemático, economista e advogado, sustenta que devemos sempre retardar o máximo possível nossas reações, pois isso nos dá tempo para reunir mais informações e, portanto, melhorar a qualidade da resposta. Esse princípio, diz Partnoy, vale para tudo, seja na escala dos milissegundos, como é o caso de tenistas profissionais, seja na dos anos, como em certos tipos de investimento. "Espere" é, se quisermos, um anti-"Blink", a obra de Malcolm Gladwell que nos insta a confiar em nossos instintos e agir antes de pensar.
Minha impressão é que, para justificar um título mais vendável, Partnoy juntou sob a mesma chave interpretativa fenômenos muito pouco conexos, incluindo, além dos tópicos já mencionados, casamentos, racismo, combates aéreos e a ciência dos pedidos de desculpas, entre muitos outros. O resultado, como não poderia deixar de ser, é temerário.
O livro fica bem mais interessante se abandonarmos as preocupações sistematizantes e o lermos como uma série de ensaios sobre assuntos variados. Aí encontraremos muita informação curiosa, como os estudos que ligam o sucesso escolar de uma criança à maleabilidade de seus batimentos cardíacos ou os novos achados sobre o poder da propaganda subliminar.
Num plano mais intimista, pessoas que deixam tudo para a última hora encontrarão conforto psicológico nas elucubrações de Partnoy. Mas é bom ter em mente que nem todas as respostas melhoram se obtivermos mais informações. Há também uma vasta literatura, pouco explorada pelo autor, que mostra que o excesso de dados pode piorar a decisão.
Luto negado - DIANA CORSO
ZERO HORA - 05/12
Júlio Miguel Molina, coronel da reserva do exército, foi assassinado em Porto Alegre. Num lance surpreendente, a investigação desse crime abriu as portas para a elucidação de outro: o assassinato do deputado cassado Rubens Paiva, torturado até a morte e desaparecido durante a ditadura. Na casa do militar, foram encontrados documentos, restos de arquivos do DOI-Codi. Nunca mais se teve notícia de Paiva depois do dia 20 de janeiro de 1971, embora sua tortura houvesse sido testemunhada por outras vítimas.
Os cinco filhos e a esposa estavam em casa quando ele foi levado por militares da aeronáutica. Posteriormente, foram informados de que o preso havia fugido. Essa família conviveu por décadas com um desaparecimento, que é diferente de uma morte. Sem poder se despedir, tiveram que dizer adeus por dedução.
Os papéis encontrados devolvem simbolicamente partes do corpo de Paiva. Atestam sua prisão e arrolam os objetos recolhidos na ocasião: vestimentas, um lenço branco, um chaveiro com cinco chaves, papéis e documentos. Até agora, não havia como provar a presença do deputado nas dependências do exército. Agora há. Além de anistiado, o crime estaria prescrito. Porém, ocultação de cadáver é um crime que não prescreve. Nem o luto.
O luto é um processo lento, no qual vamos acreditando, a contragosto, que perdemos alguém para sempre. Inutilmente aguardamos sua volta, tecemos comentários que lhe interessariam, esperamos sua opinião e, a cada reiterado silêncio, nos convencemos um pouco. Mortes aniversariam por muito tempo, revemos repetidas vezes suas cenas. Por ser inexorável, a morte é sempre traumática. O trabalho do luto é a tentativa de lhe emprestar algum sentido.
Um corpo desaparecido, insepulto, é o sequestro do direito ao luto. Sem ritos funerários, a morte fica parecendo uma ilusão, de tal modo que a própria vida do morto vai tornando-se imaginária. A crueldade com Paiva estendeu-se, portanto, à família. Seu filho, o escritor Marcelo Rubens Paiva, perguntou-se sobre Molina: “Por que guardava o documento? Era uma espécie de souvenir da guerra suja?”.
A resposta talvez seja que os algozes (com quem o coronel teve algum vínculo) também precisam materializar a morte para acreditar nela, mesmo que seja dos seus inimigos. A tragédia grega de Antígona, impedida de realizar os ritos funerários de seu irmão, se atualiza para os parentes de presos políticos desaparecidos. No fim desta tragédia brasileira, espero que estejam escritas cenas de restituição da dignidade do luto.
Júlio Miguel Molina, coronel da reserva do exército, foi assassinado em Porto Alegre. Num lance surpreendente, a investigação desse crime abriu as portas para a elucidação de outro: o assassinato do deputado cassado Rubens Paiva, torturado até a morte e desaparecido durante a ditadura. Na casa do militar, foram encontrados documentos, restos de arquivos do DOI-Codi. Nunca mais se teve notícia de Paiva depois do dia 20 de janeiro de 1971, embora sua tortura houvesse sido testemunhada por outras vítimas.
Os cinco filhos e a esposa estavam em casa quando ele foi levado por militares da aeronáutica. Posteriormente, foram informados de que o preso havia fugido. Essa família conviveu por décadas com um desaparecimento, que é diferente de uma morte. Sem poder se despedir, tiveram que dizer adeus por dedução.
Os papéis encontrados devolvem simbolicamente partes do corpo de Paiva. Atestam sua prisão e arrolam os objetos recolhidos na ocasião: vestimentas, um lenço branco, um chaveiro com cinco chaves, papéis e documentos. Até agora, não havia como provar a presença do deputado nas dependências do exército. Agora há. Além de anistiado, o crime estaria prescrito. Porém, ocultação de cadáver é um crime que não prescreve. Nem o luto.
O luto é um processo lento, no qual vamos acreditando, a contragosto, que perdemos alguém para sempre. Inutilmente aguardamos sua volta, tecemos comentários que lhe interessariam, esperamos sua opinião e, a cada reiterado silêncio, nos convencemos um pouco. Mortes aniversariam por muito tempo, revemos repetidas vezes suas cenas. Por ser inexorável, a morte é sempre traumática. O trabalho do luto é a tentativa de lhe emprestar algum sentido.
Um corpo desaparecido, insepulto, é o sequestro do direito ao luto. Sem ritos funerários, a morte fica parecendo uma ilusão, de tal modo que a própria vida do morto vai tornando-se imaginária. A crueldade com Paiva estendeu-se, portanto, à família. Seu filho, o escritor Marcelo Rubens Paiva, perguntou-se sobre Molina: “Por que guardava o documento? Era uma espécie de souvenir da guerra suja?”.
A resposta talvez seja que os algozes (com quem o coronel teve algum vínculo) também precisam materializar a morte para acreditar nela, mesmo que seja dos seus inimigos. A tragédia grega de Antígona, impedida de realizar os ritos funerários de seu irmão, se atualiza para os parentes de presos políticos desaparecidos. No fim desta tragédia brasileira, espero que estejam escritas cenas de restituição da dignidade do luto.
No metrô com James Bond - MARCELO COELHO
FOLHA DE SP - 05/12
O filme explora a ideia de um Bond já entrado em anos, com um desempenho físico deixando a desejar
MEU CONHECIMENTO dos filmes de 007 é praticamente nulo -acho que só assisti ao primeiro da série, o de Sean Connery contra o satânico doutor No, além de um outro na década de 1980.
Eu achava aquelas histórias muito sem pé nem cabeça, com James Bond indo de um lugar para outro sem ter a menor ideia do que estava fazendo. O inimigo mortal acabava sendo derrotado graças a uma série de coincidências e absurdos.
Claro que eu estava perdendo o humor de tudo, em especial uma coisa que reconheço agora no último filme de Bond, "Skyfall". Seria, digamos, a arte das pequenas surpresas.
Exemplo inesquecível, logo no começo da série. Um mergulhador sai do mar, com roupa de borracha, pés de pato, garrafão de oxigênio. Tira a máscara: é Sean
Connery. Abaixa o zíper da roupa: está impecavelmente vestido num "summer jacket", pronto para entrar no mais caro cassino tropical.
Há alguns desses imprevistos silenciosos no novo filme de Sam Mendes. Melhor não contar.
Não sei se os maníacos de 007 acham "Skyfall" melhor ou pior do que os anteriores, mas para mim tudo funciona muito bem, com grandes atores (Judi Dench, Albert Finney, um Javier Bardem insuperável como vilão) e perseguições espetaculares.
A grande caçada que inicia o filme é uma obra-prima do gênero e tem essa característica da improvisação, do absurdo, que impregna de humor toda a seriedade dos personagens.
Ninguém imaginaria o que uma retroescavadeira poderia fazer numa corrida em alta velocidade -mas o filme mostra que qualquer coisa, por mais pesada e lerda que seja, pode ser útil nas mãos de James Bond.
O próprio agente do serviço secreto britânico está pesado e lerdo, para nada dizer da instituição em que trabalha e do país que representa. O filme explora a ideia de um Bond já entrado em anos, ruim de pontaria e com um desempenho físico deixando a desejar.
Claro que a Inglaterra será sempre a Inglaterra, ainda mais porque o próprio vilão parece estar vitimado pela mesma decadência.
Numa das cenas mais "disgusting" do filme, pode-se ver que a figura de Javier Bardem, recoberta de maquiagem, tintura loira e falsos dentes brancos é, na verdade, algo bem mais horrível do que a espécie de Donald Trump dos pobres que se apresentava no início.
As armas mirabolantes e carros cheios de truques já não adiantam nada contra esse tipo de inimigo. Ele é capaz de dominar tudo graças a uma rede de computadores, escondida dentro de uma ilha em ruínas.
De certo modo, é como se o mundo da prosperidade industrial civilizada já não existisse mais. As grandes potências do Ocidente escondem seus sinais de velhice, o eixo econômico se transferiu para a China, e o aparato tecnológico de destruição, antes guardado nos arsenais de poucos países, hoje está ao alcance de qualquer gênio com um teclado à sua frente.
Num artigo para o site Artinfo, Kelly Chan conta a história da cidade arruinada que serve de esconderijo para Javier Bardem. Trata-se da ilha de Hashima, no porto de Nagasaki. Usada como dormitório para mineiros de carvão, chegou a ser um dos lugares com maior densidade demográfica de todo o mundo.
A preferência pelo petróleo terminou deixando o lugar abandonado, mas a memória do apinhamento, da superpopulação, volta ao filme em alguns momentos.
O vilão conta que, na sua família, o método usado para exterminar ratos era guardá-los vivos dentro de um barril, até que todos se entredevorassem. Outra perseguição notável em "Skyfall" se dá dentro de um metrô lotado, na hora do rush.
Também abandonada e erma, por outro lado, é Skyfall, a propriedade dos antepassados de Bond, perdida nas solidões da Escócia. O casarão semidestruído será o cenário para o embate final entre 007 e seu inimigo.
Decadência por toda parte. Não será daí, na verdade, que o terrorismo tira suas forças? A ilha destruída de Javier Barden se assemelha, em seus escombros pálidos, às imagens da faixa de Gaza.
Ia-me esquecendo: lá a superpopulação é um problema também. Um pouco mais de espaço, não digo vastas propriedades na Escócia, sempre ajuda a pacificar os ânimos.
O filme explora a ideia de um Bond já entrado em anos, com um desempenho físico deixando a desejar
MEU CONHECIMENTO dos filmes de 007 é praticamente nulo -acho que só assisti ao primeiro da série, o de Sean Connery contra o satânico doutor No, além de um outro na década de 1980.
Eu achava aquelas histórias muito sem pé nem cabeça, com James Bond indo de um lugar para outro sem ter a menor ideia do que estava fazendo. O inimigo mortal acabava sendo derrotado graças a uma série de coincidências e absurdos.
Claro que eu estava perdendo o humor de tudo, em especial uma coisa que reconheço agora no último filme de Bond, "Skyfall". Seria, digamos, a arte das pequenas surpresas.
Exemplo inesquecível, logo no começo da série. Um mergulhador sai do mar, com roupa de borracha, pés de pato, garrafão de oxigênio. Tira a máscara: é Sean
Connery. Abaixa o zíper da roupa: está impecavelmente vestido num "summer jacket", pronto para entrar no mais caro cassino tropical.
Há alguns desses imprevistos silenciosos no novo filme de Sam Mendes. Melhor não contar.
Não sei se os maníacos de 007 acham "Skyfall" melhor ou pior do que os anteriores, mas para mim tudo funciona muito bem, com grandes atores (Judi Dench, Albert Finney, um Javier Bardem insuperável como vilão) e perseguições espetaculares.
A grande caçada que inicia o filme é uma obra-prima do gênero e tem essa característica da improvisação, do absurdo, que impregna de humor toda a seriedade dos personagens.
Ninguém imaginaria o que uma retroescavadeira poderia fazer numa corrida em alta velocidade -mas o filme mostra que qualquer coisa, por mais pesada e lerda que seja, pode ser útil nas mãos de James Bond.
O próprio agente do serviço secreto britânico está pesado e lerdo, para nada dizer da instituição em que trabalha e do país que representa. O filme explora a ideia de um Bond já entrado em anos, ruim de pontaria e com um desempenho físico deixando a desejar.
Claro que a Inglaterra será sempre a Inglaterra, ainda mais porque o próprio vilão parece estar vitimado pela mesma decadência.
Numa das cenas mais "disgusting" do filme, pode-se ver que a figura de Javier Bardem, recoberta de maquiagem, tintura loira e falsos dentes brancos é, na verdade, algo bem mais horrível do que a espécie de Donald Trump dos pobres que se apresentava no início.
As armas mirabolantes e carros cheios de truques já não adiantam nada contra esse tipo de inimigo. Ele é capaz de dominar tudo graças a uma rede de computadores, escondida dentro de uma ilha em ruínas.
De certo modo, é como se o mundo da prosperidade industrial civilizada já não existisse mais. As grandes potências do Ocidente escondem seus sinais de velhice, o eixo econômico se transferiu para a China, e o aparato tecnológico de destruição, antes guardado nos arsenais de poucos países, hoje está ao alcance de qualquer gênio com um teclado à sua frente.
Num artigo para o site Artinfo, Kelly Chan conta a história da cidade arruinada que serve de esconderijo para Javier Bardem. Trata-se da ilha de Hashima, no porto de Nagasaki. Usada como dormitório para mineiros de carvão, chegou a ser um dos lugares com maior densidade demográfica de todo o mundo.
A preferência pelo petróleo terminou deixando o lugar abandonado, mas a memória do apinhamento, da superpopulação, volta ao filme em alguns momentos.
O vilão conta que, na sua família, o método usado para exterminar ratos era guardá-los vivos dentro de um barril, até que todos se entredevorassem. Outra perseguição notável em "Skyfall" se dá dentro de um metrô lotado, na hora do rush.
Também abandonada e erma, por outro lado, é Skyfall, a propriedade dos antepassados de Bond, perdida nas solidões da Escócia. O casarão semidestruído será o cenário para o embate final entre 007 e seu inimigo.
Decadência por toda parte. Não será daí, na verdade, que o terrorismo tira suas forças? A ilha destruída de Javier Barden se assemelha, em seus escombros pálidos, às imagens da faixa de Gaza.
Ia-me esquecendo: lá a superpopulação é um problema também. Um pouco mais de espaço, não digo vastas propriedades na Escócia, sempre ajuda a pacificar os ânimos.
O emprego formal também está em queda - PAULO PAIVA
O Estado de S.Paulo - 05/12
Os resultados divulgados na semana passada pelo IBGE confirmam que o crescimento do PIB brasileiro vem perdendo força desde o início de 2011, numa espécie de pouso suave da economia no País. No terceiro trimestre deste ano, sua variação anual não passou de 0,9%. Contudo, as avaliações de opinião pública sobre o governo Dilma ainda não foram afetadas por esse pífio desempenho. Uma das razões apontadas por analistas para esse aparente paradoxo é o comportamento do mercado de trabalho, indicando quase pleno emprego. Segundo a Pesquisa Mensal de Emprego (PME), tomando como referência março de 2011 (último mês do primeiro trimestre daquele ano), o desemprego caiu de 6,5% para 5,3% em outubro passado - a mais baixa taxa registrada na série histórica do IBGE. Nos últimos 12 meses, a população ocupada aumentou 3% e a massa de rendimento dos ocupados subiu 7,9%, tendências opostas à trajetória do PIB.
Mas será que a PME é a melhor referência para ver a sensibilidade do mercado de trabalho às variações do PIB no curto prazo? Para examinar essa questão, torna-se necessário entender o significado dos dados da PME, investigação domiciliar que consolida informações do lado da oferta de mão de obra.
A taxa de desemprego já vem caindo há muito tempo. Se hoje está em torno de 5%, era de 13% em outubro de 2003. Nos segmentos mais jovens da população, por causa do aumento da renda familiar das classes de rendimento médio, a educação pode estar jogando um papel importante para desestimular o reconhecimento de pessoas cujo estudo é sua atividade principal como economicamente ativas - ainda que elas tenham alguma inserção intermitente no mercado de trabalho.
Vale lembrar que, no questionário da PME, o bloco que investiga a situação da educação antecede os quesitos relativos ao trabalho. Nos segmentos com idade acima de 55 anos, só se considera economicamente ativo quem exerce alguma ocupação, porque na sua maioria são aposentados. Nessa situação, raros seriam os que declarariam estar buscando emprego. Assim, a parte da população economicamente ativa (PEA) mais sensível às variações de demanda é constituída por adultos, aproximadamente entre 20 e 59 anos, que representam mais de 60% da PEA.
Quanto aos ocupados, percebe-se que 84% estão trabalhando no setor de serviços, incluídos aqueles na administração pública. Empregados nos setores industriais e de utilidade pública não passam de 16%. Em outubro de 2011 eram 16,3% e caíram para 15,9%, um ano depois.
Ademais, a PME cobre seis regiões metropolitanas do Brasil - Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre -, cujo peso relativo nas atividades industriais tem diminuído e é nulo nas agrícolas. Logo, como a redução do crescimento do PIB decorre da queda dessas atividades, os dados de mercado de trabalho levantados pela PME não são os mais apropriados para a avaliação das reações do nível de emprego às flutuações da economia.
Registros do lado da demanda, como os do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho, que resultam das informações mensais de admitidos e demitidos nas empresas, são mais sensíveis ao comportamento da economia. Esses dados têm cobertura nacional, abrangem todos os setores da economia e representam o comportamento do emprego formal. Ao contrário daqueles da PME, mostram queda de 47% no emprego formal no Brasil, nos últimos 12 meses. Verifica-se, assim, que houve uma expressiva redução no nível de emprego e, em consequência, o mercado de trabalho não está em pleno emprego, como admitem alguns analistas.
Buscar a recuperação da economia no curto prazo com medidas de estímulo à demanda, conforme as tomadas no passado recente, tem se mostrado inócuo e poderá adiar por mais tempo a possibilidade de retomada sustentada do crescimento. Os desafios são: aumentar a competitividade e a produtividade da economia e estimular a poupança e os investimentos. Esses esforços exigem maior competência na gestão pública, melhoria na qualidade da educação e investimentos em infraestrutura. Mais um ano de baixo crescimento sem perspectivas concretas de retomada poderá pôr a perder os ganhos passados de estabilidade e inclusão e o prestígio do governo.
De volta a Teresópolis - ANCELMO GOIS
O GLOBO - 05/12
A ideia é promover ampla reforma na Granja Comary, em Teresópolis, o que inclui quartos individuais para os jogadores e um campo coberto.
Segue...
Parte das obras pode ficar pronta até a Copa das Confederações, mas a CBF mantém: fará em Goiânia ao menos um pedaço da preparação da seleção.
Mas, na Copa de 14, Teresópolis receberá o time de Felipão.
Na verdade...
Desde o lançamento da pedra fundamental, em setembro de 2009, a CBF enfrentou imprevistos na Barra.
Primeiro foram invasores. Depois, laudos detectaram problemas no solo. Por fim, concluiu-se que a grande expansão imobiliária do bairro não recomenda um centro de treinamento.
Mas...
De todo modo, a CBF fez um grande negócio ao comprar a área da Barra. O gabarito de construção no local, que não para de crescer, aumentou.
Na época, a entidade pagou cerca de R$ 300 por metro quadrado. Hoje, o preço disparou para uns R$1.000.
Grajaú no poder
O jornalista Toninho Nascimento, 52 anos, assume em janeiro o cargo de secretário nacional de Futebol e Defesa dos Direitos do Torcedor.
Nos últimos 16 anos, o coleguinha foi editor de esportes do GLOBO. Vai deixar saudades.
Rio na torcida
Neste sábado, dia 8, Dom Eusébio Scheid, ex-arcebispo do Rio, completa 80 anos. Passa a cardeal emérito (isto é, deixa de votar em eleições papais).
Segundo os entendidos, é a hora de Dom Orani Tempesta, atual arcebispo, ser feito cardeal. Tomara.
Shalom, salam, paz
Domingo, num festival de dança no Clube Hebraica, em Laranjeiras, no Rio, jovens de movimentos judaicos de esquerda estenderam uma bandeira de Israel e outra da Palestina com os dizeres “dois Estados, dois povos”, e gritavam: “Paz, salam, shalom.”
O ato era de apoio à criação do Estado palestino. “Shalom” (em hebraico) e “salam” (em árabe) querem dizer a mesma coisa: paz.
Dois Estados, dois povos...
O ato corria calmo até que houve um bate-boca dos jovens com outros judeus.
A discussão acabou em briga, contida por seguranças do clube. A Federação Israelita do Rio já procurou os garotos para costurar a paz. Melhor assim.
Sparks no Brasil
Quem vem ao Brasil para a XVI Bienal do Livro, no Rio, de 29 de agosto a 8 de setembro de 2013, é o escritor americano Nicholas Sparks, que já vendeu cerca de 80 milhões de exemplares em 45 idiomas.
O autor de “Querido John”, entre outros, vendeu aqui mais de cem mil cópias só de sua obra mais recente, “O melhor de mim” (Editora Arqueiro).
Francês, mas carioca
Sexta agora, o Consulado da França no Rio homenageará o francês Marcel Bouilloux-Lafont, um dos fundadores da Compagnie Générale Aéropostale, o correio aéreo de seu país (aliás, para o qual trabalhou Saint-Exupéry, autor de “O pequeno príncipe”).
Lafont, que fundou no Rio o bairro do Grajaú, será lembrado numa placa no antigo Hotel Natal, na Rua Álvaro Alvim 98, onde morou e morreu praticamente esquecido, em 1944, aos 73 anos.
Natal da galinha
O padre Marcos Belizário, da Igreja de São Conrado, no Rio, não se conteve na missa de domingo e protestou contra o tema de Natal do shopping Via Parque: “Galinha Pintadinha”.
— Natal da galinha? Pelo amor de Deus! Natal é de Jesus! — esbravejou.
O falecido era fogo
A 6ª Câmara Cível do Rio anulou uma doação de R$ 206 mil feita por um marido infiel à amante.
A doação só foi descoberta pela mulher depois da morte do danadinho. A grana terá de ser devolvida à família.
Sobrou para Dornelles
O deputado Hugo Leal, coordenador da bancada do Rio, esclarece que foi iniciativa do senador Francisco Dornelles a emenda que separa R$ 40 milhões para o TRE construir sua sede.
Calma, gente
Ontem, um casal começou a brigar na Praia de São Conrado, no Rio.
A moça reclamava que o namorado olhava para outra. Em represália, ela tirou a roupa, ficou como veio ao mundo e caminhou calmamente até o mar.
Retaliação israelense ajuda os radicais - EDITORIAL O GLOBO
O GLOBO - 05/12
Construção de casas para colonos entre Jerusalém e Maale Adumim dividiria a Cisjordânia em duas e enfraqueceria ainda mais o futuro Estado
Como ameaçara, Israel retaliou duramente a decisão da ANP de apresentar à Assembleia Geral da ONU uma moção elevando seu status para Estado observador, aprovada por 138 votos, com 41 abstenções e nove contra. O premier Benjamin Netanyahu mandou acelerar a construção de assentamentos judaicos em territórios ocupados e reter o repasse de US$ 100 milhões em impostos à ANP (Israel ficara encarregado de recolhê-los pelos acordos de Oslo, de 1995).
A iniciativa israelense provocou resposta áspera de países europeus, como Reino Unido, França, Espanha, Suécia e Dinamarca, que convocaram os respectivos embaixadores do Estado judeu a suas chancelarias para explicações. Nada parece abalar Israel, que rejeitou as críticas e continuou com as atividades, dentro da prática habitual da região do “bateu, levou”. Nada de sensatez. A aprovação da proposta palestina na Assembleia Geral foi esmagadora, o que aumentou o isolamento israelense, apoiado apenas por EUA, Canadá e sete outras nações de menor expressão. Mas mesmos os EUA reprovaram a retomada dos assentamentos.
A punição da ANP faz menos sentido ainda quando se considera que seu presidente, Mahmoud Abbas, é o único interlocutor reconhecido, até pelo Estado judeu, como credenciado para negociar o status futuro do povo palestino. Enfraquecê-lo equivale a fortalecer o movimento radical palestino Hamas, que se tornou dono da Faixa de Gaza depois de vencer uma eleição e expulsar de lá a ANP, hoje restrita à Cisjordânia. Enquanto Abbas reconhece o direito à existência de Israel, o objetivo do Hamas continua sendo destruí-lo.
A reação europeia e americana se explica pelo fato de Netanyahu ter ordenado a construção de novas casas na área E1, entre Jerusalém e o assentamento de Maale Adumim, o que seria um golpe fatal para a solução “dois povos, dois estados”. A colonização ali praticamente dividiria a Cisjordânia em duas, inviabilizando um Estado palestino contínuo. Além disso, cortaria a ligação com Jerusalém Oriental, reclamada pelos palestinos como sua futura capital. Netanyahu age de olho nas eleições de 22 de janeiro, em que é favorito.
Bateu, levou. A ANP respondeu na mesma moeda. Enviou carta à ONU afirmando que, ao expandir a colonização, Israel comete “crime de guerra”. A expressão acende o sinal amarelo no Estado judeu: é uma velada ameaça de Abbas de recorrer ao Tribunal Penal Internacional, algo a que agora tem direito em sua nova condição de estado observador.
É a lógica dos falcões. O máximo que se consegue, com ela, é um cessar-fogo, depois de muitas mortes. Legítimas negociações do contencioso israelense-palestino só parecem possíveis com muita pressão internacional e a decisão dos respectivos líderes de trocarem visões de curto prazo por um compromisso com a História — algo ainda muito difícil.
Construção de casas para colonos entre Jerusalém e Maale Adumim dividiria a Cisjordânia em duas e enfraqueceria ainda mais o futuro Estado
Como ameaçara, Israel retaliou duramente a decisão da ANP de apresentar à Assembleia Geral da ONU uma moção elevando seu status para Estado observador, aprovada por 138 votos, com 41 abstenções e nove contra. O premier Benjamin Netanyahu mandou acelerar a construção de assentamentos judaicos em territórios ocupados e reter o repasse de US$ 100 milhões em impostos à ANP (Israel ficara encarregado de recolhê-los pelos acordos de Oslo, de 1995).
A iniciativa israelense provocou resposta áspera de países europeus, como Reino Unido, França, Espanha, Suécia e Dinamarca, que convocaram os respectivos embaixadores do Estado judeu a suas chancelarias para explicações. Nada parece abalar Israel, que rejeitou as críticas e continuou com as atividades, dentro da prática habitual da região do “bateu, levou”. Nada de sensatez. A aprovação da proposta palestina na Assembleia Geral foi esmagadora, o que aumentou o isolamento israelense, apoiado apenas por EUA, Canadá e sete outras nações de menor expressão. Mas mesmos os EUA reprovaram a retomada dos assentamentos.
A punição da ANP faz menos sentido ainda quando se considera que seu presidente, Mahmoud Abbas, é o único interlocutor reconhecido, até pelo Estado judeu, como credenciado para negociar o status futuro do povo palestino. Enfraquecê-lo equivale a fortalecer o movimento radical palestino Hamas, que se tornou dono da Faixa de Gaza depois de vencer uma eleição e expulsar de lá a ANP, hoje restrita à Cisjordânia. Enquanto Abbas reconhece o direito à existência de Israel, o objetivo do Hamas continua sendo destruí-lo.
A reação europeia e americana se explica pelo fato de Netanyahu ter ordenado a construção de novas casas na área E1, entre Jerusalém e o assentamento de Maale Adumim, o que seria um golpe fatal para a solução “dois povos, dois estados”. A colonização ali praticamente dividiria a Cisjordânia em duas, inviabilizando um Estado palestino contínuo. Além disso, cortaria a ligação com Jerusalém Oriental, reclamada pelos palestinos como sua futura capital. Netanyahu age de olho nas eleições de 22 de janeiro, em que é favorito.
Bateu, levou. A ANP respondeu na mesma moeda. Enviou carta à ONU afirmando que, ao expandir a colonização, Israel comete “crime de guerra”. A expressão acende o sinal amarelo no Estado judeu: é uma velada ameaça de Abbas de recorrer ao Tribunal Penal Internacional, algo a que agora tem direito em sua nova condição de estado observador.
É a lógica dos falcões. O máximo que se consegue, com ela, é um cessar-fogo, depois de muitas mortes. Legítimas negociações do contencioso israelense-palestino só parecem possíveis com muita pressão internacional e a decisão dos respectivos líderes de trocarem visões de curto prazo por um compromisso com a História — algo ainda muito difícil.
Novas narrativas no México - JULIA SWEIG
FOLHA DE SP - 05/12
País muda foco de violência e insegurança para parceria econômica e a nova classe média, como o Brasil
A POSSE do novo presidente do México, Enrique Peña Nieto, inspirou uma onda de comentários na mídia, dizendo que o momento do país chegou.
Relatos de sua visita ao presidente Obama louvaram seu sucesso em "mudar de assunto", da violência e insegurança para os tópicos mais felizes da parceria econômica e da nova classe média (Peña Nieto também fez isso, depois de eleito, em visita a Brasília).
O "Financial Times", a "Economist" e analistas agora argumentam que, com a economia mexicana preparada para uma recuperação prolongada, é hora de Washington superar sua fixação com imigrantes ilegais e violência dos cartéis, em vez disso focando mais sobre as oportunidades comerciais e energéticas.
O subtexto dessa narrativa é que, ao mesmo tempo em que o México fica mais competitivo, graças aos impostos baixos e aos custos mais altos da mão de obra na China, a estrela do Brasil está brilhando com menos força, graças (em parte) às alíquotas onerosas e ao desaquecimento da China.
Fica claro que, ao promover a nova narrativa sobre o México, a equipe de Peña Nieto provavelmente estudou os casos do Brasil e da Colômbia. O Brasil, que também sofre com a violência relacionada ao narcotráfico e à polícia, descobriu como narrar uma história positiva sobre sua nova classe média, energia, ambientalismo e, até recentemente, seus altos índices de crescimento.
Todos os rankings internacionais relativos a fazer negócios com o Brasil continuaram fracos ao longo do mesmo período em que capital entrou no país com abundância, à procura de bons investimentos.
A narrativa sobre a Colômbia também mudou rapidamente. Terrorismo, insurgências, homicídios e drogas deram lugar, na narrativa pública, a comércio, investimentos, a classe média, o legado cultural e a beleza natural. Mas a pobreza e a desigualdade continuam abissais.
É claro que essas transformações não são mera propaganda. A economia do México está, sim, se recuperando, e sua classe média está crescendo, ao mesmo tempo em que a violência dos cartéis continua.
A Colômbia está pondo fim a seu conflito interno e finalmente montando uma estratégia séria para tratar das questões fundiárias.
E, embora as exigências de conteúdo local, a falta de capacidade técnica e as limitações infraestruturais tenham desacelerado a economia do Brasil, o cenário no país é, como confidenciou um estrategista comercial brasileiro, "nem tão ruim quanto as pessoas pensam agora, nem era tão bom quanto as pessoas estavam dizendo antes".
Meu palpite é que o mesmo será dito do México e da Colômbia dentro de alguns anos, se e quando também eles virem sua trajetória atual se reduzir mesmo um pouquinho.
O que me parece irracional é a rapidez com que os comentaristas e a mídia aderem às narrativas mais convincentes, mesmo incompletas.
Na América Latina de hoje, democracia, insegurança e oportunidades econômicas coexistem. Wall Street é capaz de lidar com essa complexidade. Mas e Washington?Tradução de CLARA ALLAIN
País muda foco de violência e insegurança para parceria econômica e a nova classe média, como o Brasil
A POSSE do novo presidente do México, Enrique Peña Nieto, inspirou uma onda de comentários na mídia, dizendo que o momento do país chegou.
Relatos de sua visita ao presidente Obama louvaram seu sucesso em "mudar de assunto", da violência e insegurança para os tópicos mais felizes da parceria econômica e da nova classe média (Peña Nieto também fez isso, depois de eleito, em visita a Brasília).
O "Financial Times", a "Economist" e analistas agora argumentam que, com a economia mexicana preparada para uma recuperação prolongada, é hora de Washington superar sua fixação com imigrantes ilegais e violência dos cartéis, em vez disso focando mais sobre as oportunidades comerciais e energéticas.
O subtexto dessa narrativa é que, ao mesmo tempo em que o México fica mais competitivo, graças aos impostos baixos e aos custos mais altos da mão de obra na China, a estrela do Brasil está brilhando com menos força, graças (em parte) às alíquotas onerosas e ao desaquecimento da China.
Fica claro que, ao promover a nova narrativa sobre o México, a equipe de Peña Nieto provavelmente estudou os casos do Brasil e da Colômbia. O Brasil, que também sofre com a violência relacionada ao narcotráfico e à polícia, descobriu como narrar uma história positiva sobre sua nova classe média, energia, ambientalismo e, até recentemente, seus altos índices de crescimento.
Todos os rankings internacionais relativos a fazer negócios com o Brasil continuaram fracos ao longo do mesmo período em que capital entrou no país com abundância, à procura de bons investimentos.
A narrativa sobre a Colômbia também mudou rapidamente. Terrorismo, insurgências, homicídios e drogas deram lugar, na narrativa pública, a comércio, investimentos, a classe média, o legado cultural e a beleza natural. Mas a pobreza e a desigualdade continuam abissais.
É claro que essas transformações não são mera propaganda. A economia do México está, sim, se recuperando, e sua classe média está crescendo, ao mesmo tempo em que a violência dos cartéis continua.
A Colômbia está pondo fim a seu conflito interno e finalmente montando uma estratégia séria para tratar das questões fundiárias.
E, embora as exigências de conteúdo local, a falta de capacidade técnica e as limitações infraestruturais tenham desacelerado a economia do Brasil, o cenário no país é, como confidenciou um estrategista comercial brasileiro, "nem tão ruim quanto as pessoas pensam agora, nem era tão bom quanto as pessoas estavam dizendo antes".
Meu palpite é que o mesmo será dito do México e da Colômbia dentro de alguns anos, se e quando também eles virem sua trajetória atual se reduzir mesmo um pouquinho.
O que me parece irracional é a rapidez com que os comentaristas e a mídia aderem às narrativas mais convincentes, mesmo incompletas.
Na América Latina de hoje, democracia, insegurança e oportunidades econômicas coexistem. Wall Street é capaz de lidar com essa complexidade. Mas e Washington?Tradução de CLARA ALLAIN
Uma nova abordagem nas relações Brasil-China - SEAN W. BURGES
O Estado de S.Paulo - 05/12
Como vários outros países do mundo, o Brasil tenta, a duras penas, fazer frente às exportações chinesas. O Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC) organizou sua quarta conferência anual em São Paulo com o intuito de formular respostas a esse desafio. Algumas histórias interessantes foram relatadas, mas não muitas novas ideias foram apresentadas. O mais preocupante, porém, é que pareceu haver pouco reconhecimento dos sutis sinais de alerta de que a China vem manobrando o Brasil para uma posição subordinada, transformando-o num Estado vassalo.
O embaixador da China no Brasil, Li Jinzhang, usou uma mistura de recados oblíquos e antigas estratégias imperiais para sublinhar discretamente as posições relativas de poder dos dois países e os limites às aspirações brasileiras quanto à relação bilateral. Jinzhang falou deliberadamente em mandarim, não no português que esperaríamos de um embaixador num importante global player como o Brasil. Para ser generoso, é possível que seu português - uma língua que se sabe de difícil domínio para os chineses - não estivesse à altura de apresentação pública tão importante. Então por que não usar uma segunda língua comum, como o inglês, que é o idioma internacional dos negócios e da diplomacia? A mensagem era clara: vocês têm de vir até nós e se adaptar aos nossos modos e prioridades.
Pequenas alusões ao fato de que o ator predominante na relação bilateral é a China foram acompanhadas de advertências sutis aos industriais brasileiros que se queixam das importações chinesas e pedem a Brasília a adoção de mais medidas protecionistas. Jinzhang contou a história de um vilarejo chinês que, como o Brasil, era uma comunidade predominantemente agrária. Com muito trabalho e inovação, o vilarejo transformou-se numa potência industrial e agora contribui com pouco mais de 2% das exportações chinesas. Ainda que transmitida com gentileza, a lição às lideranças empresariais brasileiras foi muito simples: não reduziremos o ritmo de nossas exportações, cabe a vocês inovar e competir conosco. Mais arrepiante para a liderança do agronegócio do Brasil, Jinzhang também observou que a principal meta do novo governo em Pequim é garantir a segurança alimentar e o objetivo último, neste caso, é a autossuficiência.
Um aspecto implícito no discurso de encerramento proferido pelo presidente da CEBC, o embaixador Sergio Amaral, foi uma réplica ao desafio chinês. Infelizmente, a proposta de Amaral, que sugeriu revigorar as iniciativas de integração econômica da América Latina a fim de criar um mercado interno mais amplo e estabelecer um patamar comum de tarifas altas para excluir produtos chineses, é uma ideia antiga que não deu certo. Mais ainda, a proposta é um delírio que ignora por completo que Chile, Peru, Colômbia e México se reuniram para formar a Aliança do Pacífico justamente com a ideia de se voltarem para o oeste e olhar para a China, e não a leste, para o Brasil.
O interessante é que a história de Jingzhang sobre a cidadezinha agrícola chinesa que se transformou graças à inovação aponta um passo adiante para o Brasil, que envolva uma direção muito diversa para sua política externa e maiores, mas produtivas, alterações no pensamento empresarial do País. Há duas diretrizes concretas de ação.
Em primeiro lugar, o Brasil precisa aumentar sua taxa de inovação. O programa Ciência sem Fronteiras ajudará, mas não basta. Lições da experiência chinesa devem ser acrescentadas à receita. A industrialização na China apoiou-se em sucessivas ondas de investimento direto estrangeiro (IDE), que traziam tecnologia e novos processos - as empresas chinesas engajaram-se num amplo processo de colaboração internacional para estimular a inovação. Graças ao Ciência sem Fronteiras as universidades brasileiras já começam a experimentar algo semelhante por meio de um relacionamento ativo com universidades dos EUA, do Reino Unido, do Canadá, da Europa e até com a instituição a que pertenço, a Universidade Nacional da Austrália. As empresas devem seguir essa trilha e procurar parceiros dinâmicos, com os quais novos mercados, produtos e processos possam ser explorados e desenvolvidos. O governo brasileiro poderia contribuir ativamente para isso com programas criativos em instituições como o BNDES ou novas linhas de financiamento do Banco do Brasil ou da Caixa Econômica Federal.
Em segundo lugar, o Brasil precisa adotar nova abordagem para lidar com a China. Uma opção que não funcionará é a rota que potências intermediárias como Austrália e Canadá usam há muito tempo para administrar as relações bilaterais com os EUA. Não há comunhão de interesses para tornar isso viável com o Bric China. Em vez disso, dever-se-ia dar atenção a uma estratégia sofisticada de "equilíbrio" envolvendo uma parceria com Austrália e Canadá. Por que esses dois países? Ambos são relativamente pequenos e cortejam ativamente o Brasil, o que os torna administráveis. Mais importante ainda, para o impacto disso nas percepções chinesas, é que eles são outros dois grandes exportadores de minerais e alimentos para a China. Com Austrália, Brasil e Canadá - um novo grupo de países ABC - operando de forma independente, a China pode adotar uma estratégia do tipo "dividir para conquistar". O resultado é que as tarifas chinesas deixam entrar matérias-primas de forma mais barata, mas deixam de fora produtos de maior valor agregado em seu mercado. Isso faz dos países ABC celeiros para os consumidores chineses. A ação coletiva pode ser uma maneira de reverter esse processo e forçar concessões de Pequim.
A China será, sem dúvida, um dos principais parceiros econômicos do Brasil até o resto deste século. O perigo é que, se depender de desgastados modelos de integração e de uma abordagem excessivamente individualista no relacionamento com Pequim, o Brasil será rapidamente empurrado de volta a uma posição periférica e passará a funcionar como pouco mais que uma despensa da China.
Menos do mesmo - ALEXANDRE SCHWARTSMAN
FOLHA DE SP - 05/12
Não há sinal de mudança de rumo que altere o estado das coisas; o baixo crescimento veio para ficar
O resultado do PIB divulgado na semana passada foi decepcionante, não só pelo número em si, metade daquilo que todos esperavam (eu inclusive!), mas também, e principalmente, pela sua composição.
O investimento cedeu pelo quinto trimestre consecutivo, acumulando queda de quase 6% desde o pico observado em meados de 2011.
Tomados como proporção do PIB os investimentos caíram de 19,4% no segundo trimestre de 2011 para 18,1% no terceiro trimestre de 2012, nível mais baixo desde o fim de 2009, quando a economia ainda se recuperava da crise.
Não há como (nem por que) minimizar as consequências desse processo. No curto prazo, o investimento responde por parcela relevante da expansão da demanda interna.
Os demais componentes desta última (o consumo das famílias e do governo) têm mostrado certo vigor, crescendo a taxas médias próximas a 3,5% ao ano nos últimos trimestres, sugerindo que a baixa expansão da demanda doméstica resulta da fraqueza do investimento.
A médio e longo prazo, porém, as consequências são ainda mais graves, pois afetam a capacidade de crescimento sustentado.
Minhas estimativas (com o auxílio inestimável de Cristiano Souza) sugerem que cada 1% do PIB a mais de investimento eleva o crescimento sustentável entre 0,20% e 0,25% ao ano.
Se nossa avaliação estiver correta, portanto, a queda observada desde o segundo trimestre de 2011 nos custou algo em torno de 0,3% ao ano. Pode não parecer muito, mas em dez anos equivale a uma redução do PIB da ordem de 3%, isto é, cerca de um ano de crescimento perdido a cada dez.
O ponto central, no entanto, é entender os motivos por trás do fraco desempenho do investimento. Há certo consenso de que o ambiente externo, notadamente a incerteza que cerca a crise europeia, deva ser responsabilizado pela timidez da inversão em razão da elevação dos riscos a que submete qualquer projeto de investimento.
Não estou, porém, plenamente convencido. Muito embora esse elemento possa desempenhar algum papel no processo, ele me parece insuficiente para explicar a magnitude da queda observada no período recente.
Com efeito, se a crise internacional fosse o fator determinante da fraqueza do investimento, deveríamos observar um processo de queda sincronizada em vários países, em particular aqueles que compartilham (ou melhor, compartilhavam) certas características com o Brasil, como o peso das commodities nas exportações, assim como o regime monetário e cambial.
Isso, porém, não ocorre. A queda dos investimentos no Chile, na Colômbia e no Peru foi semelhante à ocorrida no Brasil entre 2008 e 2009; nos últimos trimestres, contudo, enquanto o investimento nacional segue em queda livre, naqueles países se observa precisamente o contrário.
Creio que a raiz do problema no Brasil esteja relacionada à evolução medíocre da produtividade. Tomada a valor de face, a propósito, a produtividade teria caído, visto que o PIB cresceu 0,9% entre o terceiro trimestre de 2011 e o mesmo período de 2012, enquanto o emprego cresceu 1,7%. Numa interpretação mais caridosa, porém, a tendência subjacente permaneceria positiva, porém modesta, em torno de 1,3% ao ano.
Já o salário real médio tem crescido entre 3% e 5% ao ano, o que implica elevação do custo real unitário do trabalho na casa de 2% a 2,5% ao ano, ou seja, redução equivalente dos lucros.
Dado que o investimento depende crucialmente da evolução esperada dos lucros, não é difícil concluir que esse fenômeno deva se encontrar no cerne do fraco desempenho da formação de capital.
Some-se a isso um governo intervencionista, que vem modificando drasticamente as regras do jogo, e temos a explicação para o quadro observado.
Noto, por fim, como se a conclusão não fosse triste o suficiente, que não há sinal de mudança de rumo na política econômica que possa alterar o estado das coisas. Podemos nos acostumar com o baixo crescimento: ele veio para ficar.
Não há sinal de mudança de rumo que altere o estado das coisas; o baixo crescimento veio para ficar
O resultado do PIB divulgado na semana passada foi decepcionante, não só pelo número em si, metade daquilo que todos esperavam (eu inclusive!), mas também, e principalmente, pela sua composição.
O investimento cedeu pelo quinto trimestre consecutivo, acumulando queda de quase 6% desde o pico observado em meados de 2011.
Tomados como proporção do PIB os investimentos caíram de 19,4% no segundo trimestre de 2011 para 18,1% no terceiro trimestre de 2012, nível mais baixo desde o fim de 2009, quando a economia ainda se recuperava da crise.
Não há como (nem por que) minimizar as consequências desse processo. No curto prazo, o investimento responde por parcela relevante da expansão da demanda interna.
Os demais componentes desta última (o consumo das famílias e do governo) têm mostrado certo vigor, crescendo a taxas médias próximas a 3,5% ao ano nos últimos trimestres, sugerindo que a baixa expansão da demanda doméstica resulta da fraqueza do investimento.
A médio e longo prazo, porém, as consequências são ainda mais graves, pois afetam a capacidade de crescimento sustentado.
Minhas estimativas (com o auxílio inestimável de Cristiano Souza) sugerem que cada 1% do PIB a mais de investimento eleva o crescimento sustentável entre 0,20% e 0,25% ao ano.
Se nossa avaliação estiver correta, portanto, a queda observada desde o segundo trimestre de 2011 nos custou algo em torno de 0,3% ao ano. Pode não parecer muito, mas em dez anos equivale a uma redução do PIB da ordem de 3%, isto é, cerca de um ano de crescimento perdido a cada dez.
O ponto central, no entanto, é entender os motivos por trás do fraco desempenho do investimento. Há certo consenso de que o ambiente externo, notadamente a incerteza que cerca a crise europeia, deva ser responsabilizado pela timidez da inversão em razão da elevação dos riscos a que submete qualquer projeto de investimento.
Não estou, porém, plenamente convencido. Muito embora esse elemento possa desempenhar algum papel no processo, ele me parece insuficiente para explicar a magnitude da queda observada no período recente.
Com efeito, se a crise internacional fosse o fator determinante da fraqueza do investimento, deveríamos observar um processo de queda sincronizada em vários países, em particular aqueles que compartilham (ou melhor, compartilhavam) certas características com o Brasil, como o peso das commodities nas exportações, assim como o regime monetário e cambial.
Isso, porém, não ocorre. A queda dos investimentos no Chile, na Colômbia e no Peru foi semelhante à ocorrida no Brasil entre 2008 e 2009; nos últimos trimestres, contudo, enquanto o investimento nacional segue em queda livre, naqueles países se observa precisamente o contrário.
Creio que a raiz do problema no Brasil esteja relacionada à evolução medíocre da produtividade. Tomada a valor de face, a propósito, a produtividade teria caído, visto que o PIB cresceu 0,9% entre o terceiro trimestre de 2011 e o mesmo período de 2012, enquanto o emprego cresceu 1,7%. Numa interpretação mais caridosa, porém, a tendência subjacente permaneceria positiva, porém modesta, em torno de 1,3% ao ano.
Já o salário real médio tem crescido entre 3% e 5% ao ano, o que implica elevação do custo real unitário do trabalho na casa de 2% a 2,5% ao ano, ou seja, redução equivalente dos lucros.
Dado que o investimento depende crucialmente da evolução esperada dos lucros, não é difícil concluir que esse fenômeno deva se encontrar no cerne do fraco desempenho da formação de capital.
Some-se a isso um governo intervencionista, que vem modificando drasticamente as regras do jogo, e temos a explicação para o quadro observado.
Noto, por fim, como se a conclusão não fosse triste o suficiente, que não há sinal de mudança de rumo na política econômica que possa alterar o estado das coisas. Podemos nos acostumar com o baixo crescimento: ele veio para ficar.
Indústria cresce pouco - MÍRIAM LEITÃO
O GLOBO - 05/12
COM ALVARO GRIBEL E VALÉRIA MANIERO
Depois de 13 quedas seguidas, a produção industrial voltou a crescer em relação ao mesmo mês do ano anterior. Alta de 2,3% em outubro. A base de comparação é tão baixa que a indústria parece ter batido no fundo do poço e voltado a subir. Pior, não fica. O problema é que a recuperação é lenta, e o ano está perdido. A indústria brasileira, hoje, produz menos do que há dois anos atrás.
A indústria fechará o ano no vermelho. O que se pode dizer do resultado de outubro é que os setores que receberam subsídios - como automóveis e linha branca - registraram crescimento. A indústria de extração mineral também cresceu. Mas a produção de máquinas e equipamentos continuou em queda. Isso acende uma luz amarela sobre os investimentos do quarto trimestre, de acordo com o economista José Marcio Camargo, da PUC-Rio:
- O quarto trimestre começou mal para os investimentos. A produção de máquinas caiu, e como o real está mais fraco, importar está mais difícil.
Na comparação com setembro, a indústria cresceu 0,9%. Mas os economistas esperavam alta maior. O Departamento de Estudos Econômicos do Bradesco, por exemplo, previa 1,7%. O Itaú projetava 1,5%. Há um pedaço da indústria brasileira que não cresce, e outro pedaço que só cresce com subsídios, via IPI reduzido. O economista Armando Castelar, da FGV, explica que essa redução é importante para emergências porque antecipa consumo. Mas não resolve problemas estruturais:
- O IPI reduzido não gera consumo novo, só antecipa. O que é consumido agora não será depois. A recuperação da indústria é lenta e para mostrar isso basta dizer que estamos 2% abaixo da produção de outubro de 2010.
No acumulado do ano, a indústra cai em todas as categorias de uso. Dos 27 ramos pesquisados pelo IBGE, 17 estão em queda, assim como 48 dos 76 subsetores industriais. Quem mais cai, nessa comparação, é a produção automobilística, 13%.
Ontem o governo anunciou desonerações da folha de pagamento para a construção civil. Na quinta-feira, deve anunciar o novo pacote para os portos. Esse excesso de medidas, na visão de Castelar, acaba tendo o efeito inverso: paralisa a economia.
- Temos uma média de dois pacotes por semana. Todo mundo precisa voltar a fazer contas e ver o que muda. Isso não ajuda muito a economia como um todo, porque paralisa as decisões.
O Boletim Focus estima uma queda da produção industrial este ano em 2,3% e uma alta de 3,8% em 2013. Se acontecer, o crescimento médio nos dois anos será de 0,7%. É pouco.
Elétricas: recordar é viver
Um dos últimos atos do ex-presidente Lula no cargo foi renovar por 25 anos a Reserva Global de Reversão. Para quem não sabe, trata-se de um dos principais encargos da conta de luz. Aconteceu no dia 31 de dezembro de 2010, um dia antes da posse da presidente Dilma Rousseff. A falta de planejamento é que incomoda investidores e analistas do setor elétrico. Naquele ano, o Brasil cresceu 7,5% e reduzir custos industriais não era prioridade. Agora, as medidas são implementadas às pressas, com perdas para as companhias.
Internet móvel é desafio
A conta não fecha para as companhias de telecomunicações no mundo. A internet móvel, com acesso pelo celular, exigirá investimentos sem que as receitas subam na mesma proporção. A estimativa do consultor Tiago Monteiro, da A. T. Kearney, é de que o número de usuários de banda larga móvel no Brasil chegará a 114 milhões até 2015, com crescimento de 22% ao ano. A Oi registra alta de 11% ao mês na contratação do recém-lançado pacote de dados pré-pagos para celulares, focado nas classes C, D e E.
SEM ACORDO. O presidente dos EUA, Barack Obama, rejeitou ontem a proposta dos republicanos para evitar o abismo fiscal. O impasse continua.
Uma rocha no caminho - ROSÂNGELA BITTAR
Valor Econômico - 05/12
A presidente Dilma Rousseff está a engendrar uma novidade no conjunto de alterações que pretende fazer na composição do governo para 2013, o terceiro e crucial ano de seu mandato, quando as coisas têm que acontecer ou não chegará lá, no horizonte da reeleição. Não há decisão ainda e nem haverá este ano, mas a hipótese com que trabalham autoridades de coordenação é uma migração da presidente da Petrobras, Graça Foster, para o Ministério das Minas e Energia, na reforma ministerial que ocorrerá após a eleição dos presidentes da Câmara e do Senado, em fevereiro.
Sabe-se que a presidente da Petrobras fará o que for determinado pela presidente da República. Ocupa o posto de colaboradora número 1, título que inclui até a concordância em rebaixar seu posto. O senso comum indica que é queda a troca de um posto no governo rico e flexível por outro no governo pobre e rígido, como se definia em reformas de gestão os órgãos da administração direta e as estatais.
Porém, ao produzir essa ideia e deixar em algum momento os circunstantes perceberem quais são suas conjecturas e intenções futuras, Dilma está a desconsiderar esse tipo de firula porque o poder dos ministros é ela quem dá.
Dilma sabe que do jeito que está o governo não chega lá
Na concepção do governo, as prioridades estão muito bem definidas e equacionar o problema da energia é a preocupação número um da presidente. Ao que parece, ela descobriu que não atingirá essa meta com o atual plantel que vem produzindo trapalhada atrás de trapalhada e apagão atrás de apagão. Dilma quer continuar, por exemplo, atribuindo o festival de apagões e o risco de racionamento ao governo Fernando Henrique Cardoso. De dez anos atrás, é verdade, e depois dele o PT já teve dois governos Lula e um Dilma para resolver os obstáculos nessa área em que a presidente, como técnica, está mergulhada desde o governo de transição, mas o assunto lhe é caro, nele é especialista, e quer continuar deixando o problema na responsabilidade da década adversária.
A direção da Petrobras poderia ficar com qualquer um dos bons executivos da área e a presidente teria a seu lado, na Esplanada, a executiva de sua maior confiança para que possam resolver em conjunto o problema mais explosivo que vem se avolumando para a campanha da reeleição: a ameaça de apagão total com racionamento, uma vez que em matéria de sucessivos apagões minis, médios e grandes o sistema elétrico tem sido pedagógico.
Dilma pode digerir todos os cálices, menos esse, e sabe que Graça Foster lhe é absolutamente fiel e fará o que ela própria faria. É considerada também melhor gestora que Márcio Zimermann, que Nelson Hubner, que Maurício Tolmasquim, que Hermes Chipp. Ministro interino que assumiu o cargo titular em várias oportunidades por períodos até longos, com os impedimentos do senador Edison Lobão por problemas de saúde, a gestão não é o forte do Zimmerman nem de outros que estão há anos labutando no escuro. E há, no governo Dilma, quem tenha certeza que essa quantidade de apagões se deve mais à falha dos humanos do que do sistema. Este, por incrível que pareça, é considerado ainda muito bom.
Além disso, está na área de energia a queda de braço do governo com o mercado na regulação das concessões, e a presidente acha que os técnicos já se deram o direito de se equivocar o suficiente, nessa negociação. Como foi possível errar o ano de início de operação de uma usina para efeito de cálculo da depreciação de seu patrimônio? Até isso aconteceu e foi considerado um atestado absoluto da maneira mambembe como o assunto foi tratado.
Sobre a negociação das concessões, por sinal, houve derrocada coletiva. Todas as autoridades com poder ao redor da presidente, inclusive o ministro da Fazenda, Guido Mantega, foram convocados a ajudar a explicar, tentar persuadir, de jornalistas a empresas do setor elétrico e governos estaduais, sem sucesso. Nas boas intenções do governo com as propostas da Medida Provisória 579, em tramitação no Congresso, o mercado e os governos não desvendaram os olhos. Até porque a crise, não só nesse setor, mas muito nele, é também de confiança. O fato de ter espalhado a missão é mais um reconhecimento de que, para a presidente, tão momentoso assunto não pode ficar apenas aos cuidados do órgãos próprios do governo que, durante dois meses, não conseguiram reduzir sua aflição.
No caso de optar pela solução da transposição de Graça Foster, a presidente Dilma tiraria o Ministério das Minas e Energia do domínio de partidos que integram a aliança política do seu governo, no momento com o PMDB, devendo dar à legenda do vice-presidente Michel Temer algum outro posto de equivalente importância. Um pouco menor, vá lá.
Apagão de energia, bem como a crise que se instalou no setor elétrico com reflexos negativos nas bolsas, atingem de frente a imagem de boa gestora da presidente e a tiram do sério. A oposição acha que não tem mais remédio e que as falhas se devem a modelo colocado de pé pela própria Dilma.
Outra área crucial para a campanha da reeleição é a da Educação, e a ela a presidente está também se dedicando, apoiou a atribuição dos recursos de royalties do pré-sal integralmente para o setor que será uma dos carros-chefes do seu marketing. Aqui, porém, não se fala em ineficiência do ministro da área, ao contrário. Dilma traz Aloizio Mercadante a tiracolo, leva-o nas suas viagens e não há dúvidas sobre o poder exercido por ele. Não tem entrado na lista de substituições e não existem sinais de que até março do ano que vem o status de Mercadante seja alterado.
O outro elemento determinante do seu sucesso, para formar esse novo tripé do governo tendo em vista resultados concretos a alavancarem a campanha, é a economia, e nela a retomada dos investimentos para que o crescimento saia dos índices pífios em que se encontra.
As medidas adotadas não estão dando certo, o otimismo do ministro da Fazenda, Guido Mantega, deixou de ser contagiante, e a presidente Dilma não dá indicações do que fará. Mas não se vislumbra mudança de equipe até porque, nesse particular, sempre há a crise internacional a quem responsabilizar pelos insucessos.
Faxina urgente - ROLF KUNTZ
O Estado de S.Paulo - 05/12
A próxima grande faxina da presidente Dilma Rousseff deveria ser na política econômica. Com dois anos perdidos e apenas meio mandato pela frente, ela tem pouco tempo para se livrar do entulho de erros e montar uma estratégia de crescimento de longo prazo. A melhor síntese dos enganos acumulados nos últimos dez anos está na balança comercial, onde aparecem com clareza tanto os equívocos da política interna quanto os enormes tropeços da diplomacia econômica. O desestímulo à indústria, a perda de competitividade, o erro de diagnóstico no meio da crise, a perigosa dependência da China e o delírio da opção terceiro-mundista estão refletidos na evolução do comércio de manufaturados e de commodities. Esses dados combinam perfeitamente com a estagnação industrial nos últimos dois anos, com a redução do investimento, mostrada no último relatório sobre o Produto Interno Bruto (PIB), e com a produção declinante de bens de capital - uma queda de 10,1% nos 12 meses até outubro.
O erro de diagnóstico já foi apontado mais de uma vez por vários analistas e confirmado por todos os dados recentes. O governo gastou muita munição para estimular o consumo e negligenciou a capacidade de resposta da indústria. O déficit comercial do setor de manufaturados, US$ 96 bilhões em 2011, deve chegar neste ano a US$ 100 bilhões, segundo estimativa da Confederação Nacional da Indústria (CNI). A participação de manufaturados estrangeiros no mercado interno de consumo praticamente dobrou em dez anos e chegou a 20,1% em 2011. O grande salto ocorreu em anos recentes.
O desajuste industrial está longe de ser uma tendência nova. Entre 2000 e 2011 a produção do setor de transformação cresceu a uma taxa média anual de 2,4%, enquanto a produtividade da mão de obra aumentou 0,6% ao ano, segundo a CNI. Pelo menos 18 economias industriais bateram o Brasil nesse quesito. A lista ficaria muito maior com a inclusão de emergentes.
No entanto, apesar de todas as desvantagens comparativas, a exportação de manufaturados tem resistido razoavelmente ao impacto da crise global, enquanto o comércio de produtos primários é severamente afetado pela desaceleração das grandes economias, a começar pela chinesa. De janeiro a novembro, o Brasil exportou manufaturados no valor de US$ 83,4 bilhões, 1,4% menor que o de um ano antes. A receita dos básicos, US$ 104,2 bilhões, foi 7,8% inferior à de janeiro-novembro de 2011. A redução é explicável tanto pelos volumes quanto pelas cotações. Os preços de bens industriais, sabe-se há muito tempo, são menos sujeitos a grandes oscilações em tempos de crise. Não há nenhum mal em fomentar as vendas de produtos primários e semielaborados. Mas é um erro enorme descuidar do comércio da indústria de transformação, deixando-o na dependência de alguns mercados tradicionalmente acessíveis, como os latino-americanos. O Brasil tem perdido também esses mercados para produtores mais competitivos, como os chineses e outros asiáticos.
De janeiro a novembro, a exportação para a China, US$ 38 bilhões, foi 7,3% menor que a de igual período de 2011. Mais detalhes da pauta só estão disponíveis até outubro. Nesses dez meses, a receita obtida com os básicos foi 7,4% inferior à de um ano antes. A de manufaturados cresceu 17,2% e a de semielaborados, 3,38%, mas esse conjunto representou apenas 16,4% do valor total. A relação comercial entre Brasil e China é de estilo colonial. Foi definida como estratégica, no entanto, pelos formuladores da diplomacia petista.
As vendas brasileiras para os Estados Unidos chegaram a US$ 22,7 bilhões até outubro e US$ 24,9 bilhões até novembro (com ganho de 5,7% em relação ao ano anterior). Esse crescimento foi puxado pela indústria de transformação. Até outubro, as vendas de manufaturados para o mercado americano alcançaram US$ 11,1 bilhões, 48,8% do valor total. O aumento foi de 19% sobre os meses correspondentes de 2011. Incluídos os semimanufaturados, o total dos industrializados chegou a US$ 15,4 bilhões, 68% da receita. A relação com o Império é bem mais igualitária do que o comércio com os parceiros "estratégicos".
Uma diplomacia econômica mais adulta teria ao mesmo tempo ampliado o comércio com os grandes parceiros tradicionais - e para isso conviria negociar acordos com Estados Unidos e União Europeia - e continuado a diversificação geográfica, iniciada de fato há muito tempo. Uma política orientada para o comércio com todos os mercados, sem bobagens terceiro-mundistas, teria imposto uma atenção muito maior à produtividade e à inovação. O resultado seria uma economia muito mais dinâmica. Não se chega a isso com improvisações, incentivos parciais e provisórios, remendos tributários, demagogia na educação, voluntarismo e loteamento do governo. Se a presidente insistir nesse rumo, o País perderá bem mais que os quatro anos deste seu mandato.
MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO
FOLHA DE SP - 05/12
Rede Accor anuncia novo hotel em São Paulo
A operadora hoteleira Accor anunciará hoje a construção de um novo empreendimento no interior do Estado de São Paulo, em Bauru.
O hotel levará a bandeira Ibis, da categoria econômica da rede. Serão 160 apartamentos, que devem ficar prontos até 2016, de acordo com a empresa.
Com este projeto, a companhia passará a ter 111 hotéis em construção ou com contratos assinados, sendo 22 deles em municípios do interior de São Paulo.
Nos últimos meses, o grupo inaugurou outros três empreendimentos na região, todos da marca Ibis, nas cidades de Jaboticabal, Itu e Presidente Prudente.
"Hoje mais profissionais viajam a negócios para o interior dos Estados", diz Abel Castro, vice-presidente de desenvolvimento da Accor para a América Latina.
A forte expansão atual pelo interior acontece principalmente por meio da bandeira econômica, devido a um recente impulso no turismo de negócios. As outras categorias recebem investimentos maiores em grandes cidades.
"Os investimentos da Accor não estão concentrados apenas nos grandes centros. No interior também há um crescimento significativo do mercado de turismo, de lazer e negócios", diz Castro.
NOS ANDES
O BTG Pactual contratou o chileno Rodrigo Valdés para o cargo de economista-chefe do banco para os países andinos. Valdés foi economista-chefe do Banco Central do Chile de 2002 a 2007. Ele assumirá a partir de janeiro.
Neste ano, o banco concluiu a compra da Celfin Capital, no Chile, e anunciou a da colombiana Bolsa y Renta.
LUXO MADURO
Depois de abrir duas lojas no Brasil, a primeira delas há cerca de um ano, a Bottega Veneta espera antes de dar novos passos, diz Marco Bizzarri, CEO global da marca de acessórios de luxo.
Uma próxima abertura poderá ser no Rio, em Brasília ou de novo em São Paulo, afirma Bizzari, com a ressalva de que ainda não há planos de expansão. "Continuaremos a investir em treinamento", afirma.
Em visita ao país, Bizzari diz que os consumidores brasileiros logo se interessaram por todos os artigos da grife, inclusive roupas, quando, inicialmente, costumavam ser os de couro, pelos quais a grife é mais famosa, que mais atraíam a atenção.
A grife, que não ostenta seu logo e que tem como slogan a frase "Quando suas [dos clientes] próprias iniciais são suficientes", investe em todos os mercados. "Evitamos investir apenas nos emergentes, a colocar todos os ovos na mesma cesta. Nosso crescimento é homogêneo", afirma Bizzari.
Ele destaca o Japão como mercado mais importante, mais ou menos equiparado à Europa. A empresa pertence ao grupo PPR, antes conhecido como Gucci Group.
O PPR fez em novembro um acordo com a Ioox para expandir seu e-commerce. No ano que vem, artigos da Bottega vão estar disponíveis também aos brasileiros.
€ 671 milhões foram vendidos pelo grupo nos nove primeiros meses deste ano, o que representa cerca de R$ 1,8 bilhão; a alta ante igual período de 2011 foi de 39%
189 são as lojas comandadas diretamente pelo grupo
MAIS LOJA, MENOS FÁBRICA
O grupo Paquetá, fabricante de sapatos de marcas como Dumond e Capodarte, vem substituindo a produção pelo varejo.
Com dificuldade para competir com mercadorias chinesas e vender para fora com o dólar em patamar baixo, a companhia, que em 2008 exportava 80% de sua produção, está com um projeto de expansão de lojas próprias.
O grupo planeja abrir, nos próximos dois anos, 50 unidades só da marca Paquetá Esportes, que hoje tem 31 lojas no país. Até 2015, o números de pontos (próprios e franqueados) deve passar de 353 para 650.
"Antes o varejo representava 30% do faturamento. Agora é responsável por 50%. Apenas 30% da nossa produção é exportada atualmente", diz o presidente do grupo, Adalberto Leist.
ALTO PADRÃO EM ALTA
O mercado corporativo de escritórios de alto padrão em São Paulo fechou o terceiro trimestre deste ano com maior disponibilidade de imóveis, conforme três das maiores consultorias que atuam no setor no país.
Apesar de diferenças entre os resultados, todas as empresas apontam índice positivo de vacância. O levantamento da Colliers International Brasil revela que a taxa em empreendimentos de alto padrão atingiu 7,6%. A Jones Lang LaSalle registra 11,42%, e o índice da Cushman & Wakefield é de 15,4%.
O estudo da Colliers International revelou também que a taxa de vacância registrada na capital é a maior desde 2009, quando atingiu 7,1%.
Taça
A Vinícola Salton desenvolveu sua primeira linha de rótulos voltada exclusivamente para o mercado externo. Estados Unidos, Canadá, China e alguns países europeus receberão os produtos.
Na rua...
A rede Mil Milkshakes, que tem mais de 40 lojas de rua no país, vai começar a abrir unidades em shopping centers. Para 2013, serão mais de 50. A primeira será aberta em São Paulo, ainda neste ano, seguida por Pernambuco, Piauí e Bahia.
...ou no shopping
A MySandwich, rede europeia que chegou ao mercado brasileiro em setembro, vai abrir mais de 20 franquias no próximo ano. No início da operação, o foco serão shoppings, mas o modelo comporta lojas em ruas, aeroportos e universidades, de acordo com a empresa.
Flávia Oliveira - NEGÓCIOS E CIA
O GLOBO - 05/12
Equipamentos 1
A BMC-Hyundai abre sede em Duque de Caxias (RJ) amanhã. Investimento de R$ 6,5 milhões, a unidade é um misto de revenda e linha de montagem. O objetivo é antecipar a produção no Brasil de dois equipamentos que a joint-venture entre a brasileira e a sul-coreana começa a fabricar em Itatiaia a partir de março de 2013.
Equipamentos 2
A empresa está investindo R$ 180 milhões na planta de produção de escavadeiras, retroescavadeiras e pás carregadeiras. Fornecedores brasileiros já habilitados começam a atender na unidade de Caxias. É um teste para a futura fábrica de Itatiaia, diz Felipe Cavalieri, presidente da BMC.
Equipamentos 3
O projeto no Brasil é o 1º da Hyundai Construction fora da Ásia. O grupo já está na China e na Índia. Aqui, vai faturar R$ 680 milhões este ano. Espera chegar a R$ 1 bi em 2013. “Contamos com a realização das grandes obras de infraestrutura no país e, principalmente, no Rio”, diz Armando Mantuano, diretor da BMC-Hyundai.
Turismo
Até setembro deste ano, Caixa, BB, BNB e Basa emprestaram R$ 7,9 bilhões ao setor de turismo. Um ano atrás, o volume estava em R$ 6 bi. Os desembolsos dos bancos públicos para a área crescem com a proximidade da Copa 2014, diz o ministro Gastão Vieira, do Turismo.
INDÚSTRIA NO NÍVEL DE UM ANO ATRÁS
Produção de junho a outubro cresceu 2,3%, o suficiente para compensar queda de 2,2% até maio
Dá para dividir em duas metades, com tendências absolutamente opostas, a produção industrial brasileira nos dez primeiros meses de 2012. A conta é de André Macedo, do IBGE. De janeiro a maio, o setor acumulou queda de 2,2%. Teve um solitário mês de crescimento: fevereiro. De junho em diante, valeu o inverso. A produção cresceu 2,3%. Só setembro teve variação negativa. “Analisando as duas metades, vemos que a segunda compensou a queda da primeira. A indústria brasileira, portanto, chega a novembro no mesmo patamar em que estava em fins de 2011”, resume Macedo. A estagnação já não é boa notícia. Mas piora quando se leva em conta o desempenho pelas diferentes categorias de uso. Só a produção de bens duráveis reagiu de junho em diante. Até maio, segundo o IBGE, caía 6,7%. Nos cinco meses seguintes, por obra do IPI reduzido para linha branca, móveis e carros, avançou 9,2%. A fabricação de bens de capital saiu de 11,9% negativos para 0,1% positivo. Nos dois outros segmentos, há empate. Os bens intermediários caíram 1,7% até maio e avançaram 1,5% de junho a outubro; os semi e não duráveis, saíram de 3% negativos para 2,6% positivos.
14 MESES DE QUEDA
Faz mais de um ano que a produ ção de bens de capital está em queda no país. A informação é péssima, porque a atividade é termômetro da taxa de investimento da economia.
EM CARTAZ NA PRESIDENTE VARGAS
Romero Britto desenhou, de graça, para a Cedae o painel instalado no térreo da nova sede da empresa. É o primeiro do brasileiro no país. É também o maior que já fez: tem 400 m2. Britto criou e sua equipe no Brasil acompanhou a aplicação das pastilhas de vidro com tratamento antipichação, conta o presidente da Cedae, Wagner Victer. A inauguração é hoje.
COMPRAS HI -TECH
Mais de 200 itens do segmento gourmet estarão disponíveis em gôndola virtual que o Zona Sul lança nesta sexta, no Fashion Mall. Clientes com aplicativo Zona Sul Atende poderão fazer compras escaneando os códigos dos produtos. É aporte de R$ 70 mil. A rede prevê alta de 20% nas vendas on-line. Nos próximos seis meses, deve instalar até três gôndolas no Rio.
Com carteira 1
A formalização deve ser o grande efeito da desoneração dos custos trabalhistas na construção civil fluminense. Quem prevê é Antônio Carlos Mendes Gomes, diretor do Sinduscon-Rio. Hoje, o setor tem 330 mil profissionais com carteira assinada. Eles não passam de 40% do pessoal.
Com carteira 2
De janeiro a outubro, a construção civil no estado admitiu 41.262 empregados. Nos dez meses de 2011, houve saldo de 37.758. Na capital, foram abertos 19.885 postos de trabalho, calcula o Sinduscon-Rio, com base nos dados do Caged. Só em outubro surgiram 509 postos.
É NATAL
A Ortobom, de colchões, estreia campanha de Natal amanhã. Criação da agência Squadro, será veiculada na TV e também nos pontos de venda. A rede prevê alta de 10% nas receitas sobre o mesmo período do ano passado.
Tintim
O seguro Auto SulAmérica prevê alta de 40% na demanda pelo serviço Motorista Amigo, por conta das comemorações de fim de ano. A empresa envia condutor para levar o segurado em casa, se ele não tiver condições de dirigir. De janeiro a setembro, o total de pedidos foi 60% superior ao de igual período de 2011.
Alimentação
O Burguer King chega ao Ilha Plaza em meados deste mês. A rede está investindo R$1,5 milhão na unidade, a primeira no bairro. O shopping ganhará também loja do California Coffee. É aporte de R$ 300 mil e deve faturar R$ 60 mil mensais.
Indústria
A DM9Rio ganhou a conta do Sistema Firjan. Concorreu com outras quatro agências. O contrato tem verba licitada de R$ 10,5 milhões e prazo de um ano. Pode ser renovado por até 60 meses. Quem sai é a DPZ.
Livre Mercado
O Shopping Grande Rio (São João de Meriti) já trocou, em 20 dias, 12 mil cupons da promoção de Natal. A troca de notas de compras está 40% acima do esperado. O mall vai sortear um apartamento.
O Bay Market (Niterói) investiu R$ 250 mil em campanha para a data. Clientes que gastam a partir de R$ 250 ganham panetone e concorrem a um Gol zero.
A Via Mia abre hoje no RioMar, em Recife. É a 168 loja da marca, com nova identidade visual. As outras serão renovadas em 2013. A grife quer faturar 30% mais.
O Brasil participa amanhã, pela 18 vez, do Global Domino’s Day. Haverá desconto de 50% nas pizzas. A previsão é vender 20 mil unidades, alta de 30%.
Ricardo Bonani, ex-Master, vai comandar o departamento de atendimento da F/Nazca no Rio.
Gilberto Braga (Ibmec), Renê Garcia (FGV) e Nelson Rocha (ex-Fazenda do Rio) debatem a economia em 2013, hoje, na Bolsa do Rio. Ação da Lopes&Machado.
Energia sem planejamento - EDITORIAL O ESTADÃO
O Estado de S.Paulo - 05/12
O governo federal terá de recorrer a cortes de impostos e a subsídios para garantir a prometida redução de 20,2% nas contas de luz, se for incapaz de superar ou compensar a resistência da Cesp e de outros grupos ao esquema de renovação antecipada de concessões. Terminado o prazo para adesão, ontem, só 60% das usinas aceitaram a proposta. O governo paulista a rejeitou, mas poderia aceitar um entendimento, se as condições apresentadas pela administração federal fossem melhoradas, segundo o secretário de Energia do Estado de São Paulo, José Aníbal. Até ontem, no entanto, nenhum avanço ocorreu nas negociações, disse o secretário ao sair de uma reunião no Ministério de Minas e Energia, em Brasília. Nem mesmo o prazo especial, até 31 de dezembro, para a apresentação de relatórios sobre reformas e ampliações de centrais elétricas tornou as condições mais aceitáveis, disse Aníbal. Sem acerto, a Cesp poderá ter de devolver a Usina Três Irmãos no começo do ano.
O governo mineiro havia informado, alguns dias antes, a intenção de recusar parcialmente as condições do poder central. A Cemig, segundo os representantes de Minas Gerais, teria direito à renovação dos contratos de três de suas usinas nos termos originais, sem compromisso de redução de tarifas.
O governo só conseguiu adesão geral das empresas de transmissão.
A presidente Dilma Rousseff e os responsáveis pelo setor energético falharam, portanto, quando resolveram impor às concessionárias um acordo concebido no interior do governo e nunca discutido abertamente com todos os grupos.
De modo geral, a proposta federal foi recusada porque as condições financeiras foram consideradas insuficientes. O governo propôs renovar as concessões antecipadamente em troca de redução das tarifas. Isso seria possível, segundo o esquema concebido em Brasília, porque as concessionárias já teriam amortizado a maior parte do investimento fixo. Poderiam excluir esse custo, portanto, da composição das tarifas.
O raciocínio pode ser correto, em princípio, mas ainda haveria uma amortização residual e seria preciso cobrir essa diferença. O valor oferecido ficou muito abaixo da necessidade estimada pelas companhias. Pelo menos em um caso - o da Usina Três Irmãos, da Cesp - houve um erro indiscutível, porque os cálculos foram feitos como se a operação tivesse começado dez anos antes da data efetiva.
Depois de alguns dias de discussão e de muitas críticas, contas foram refeitas e alguns valores foram aumentados. Alguns grupos aceitara. Outros, incluída a Cesp, continuaram rejeitando como insuficientes as compensações. Com as três usinas paulistas - Três Irmãos, Jupiá e Ilha Solteira - fora do esquema, o governo federal deve perder algo entre 1,6 e 1,7 ponto porcentual dos 20,2% de redução prometidos, disse o secretário José Aníbal.
Como outros grupos deveriam ficar fora do acordo, a perda total poderia ser maior e as renovações permitiriam um corte de apenas 17% ou menos, segundo especialistas. Para manter o objetivo original, o governo teria de cobrir a diferença com recursos próprios, cortando tributos ou subsidiando a energia.
A Eletrobrás, controlada pela União, aderiu ao acordo contra a vontade dos minoritários. Eles tentaram impedir a adesão, na assembleia de segunda-feira, mas o governo impôs sua vontade, sujeitando a empresa a perdas elevadas e reduzindo sua capacidade de investimento.
O elevado custo da energia elétrica é uma importante desvantagem da indústria brasileira na competição internacional. O governo deve dar prioridade, portanto, à redução desse custo, para fortalecer a economia nacional. Mas a administração federal tomou o caminho errado. Preferiu a improvisação ao planejamento, sem negociação com os agentes envolvidos. Aceitou até o risco de impor perdas à Eletrobrás, prejudicando sua capacidade de investir e comprometendo, portanto, a oferta e o custo futuros da energia. Mais uma vez a presidente Dilma Rousseff confundiu o papel do Estado como articulador e indutor do crescimento com o exercício autoritário do poder. Isso é ruim para seu governo e para o País.
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