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(Como parte dos deveres e prazeres de um avô, levei minhas netas ao Jardim Zoológico, o mesmo que me encantara na infância. Na saída, elas estavam meio decepcionadas, e o avô deprimidíssimo. Os grandes felinos, atração máxima, dormiam prostrados, uns na toca e outros no fundo da jaula. Pareciam dopados, mas me disseram que os tratadores lhes antecipam o almoço para que apaguem e não se perturbem com as multidões de crianças e adultos gritando em frente ao cativeiro. Elas querem ação, e os pobres grandes felinos só querem dormir, talvez sonhar que estão numa savana africana correndo atrás de antílopes. O velho elefante empoeirado balançava a tromba em desalento. O hipopótamo, talvez com vergonha, estava enfiado no seu abrigo e exibia só a traseira descomunal. Dois pinguins tinham sido comidos, na véspera, por enormes e ferozes cães vira-latas, vindos das matas e favelas vizinhas. Mais ferozes e malandros do que as feras enjauladas, cavaram um túnel sob a cerca e devoraram as aves. O que há de educativo em ver bichos tristes e humilhados, expostos à visitação pública? É uma perversão do que se vê nos espetaculares documentários da televisão, onde realmente se aprende sobre os animais - e sobre nós mesmos. Os parques abertos, tipo Kruger ou Simba Safari, são mais humanos para os animais, que vivem livres na natureza e podem ser observados de dentro dos carros pelo público. O cativeiro só se justifica para preservar espécies em extinção, que merecem zoos cinco estrelas para reproduzir, e voltar à vida selvagem É espantoso que, em plena era da ecologia, da sustentabilidade e da correção política, ainda existam jardins zoológicos. São provas vivas de crueldade com os animais, deveriam ser extintos. No Rio de Janeiro, a lei já proíbe exibir animais em circos - e é cumprida. Um vez sugeri aos amigos do "Casseta & Planeta" um quadro em que animais livres e pacíficos passeavam com seus filhos por um zoológico com jaulas cheias de humanos mentirosos, gananciosos, covardes, sádicos e assassinos. O que mais divertia os filhotes dos macacos era a gaiola dos políticos ladrões |
sexta-feira, maio 28, 2010
NELSON MOTTA
VINICIUS TORRES FREIRE
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DILMA ROUSSEFF (PT) meio que prometeu ontem "mais recursos para a saúde". Disse que vai fazê-lo sem aumentar ou criar impostos. "Sem demagogia." Disse também que quer regulamentar a "emenda 29", que se arrasta no Congresso desde o ano 2000. A emenda constitucional 29 estipula o mínimo que Estados e municípios devem investir em saúde; determina que a despesa da Saúde deve crescer tanto quanto o PIB. Por iniciativa de parlamentares governistas, também prevê a volta da cobrança da CPMF, sob o nome de "Contribuição Social da Saúde" (CSS) -é mais imposto. No mesmo discurso, Dilma afirmou ainda que o governo pode arrecadar mais sem criar novos impostos, desde que a economia cresça 6% ao ano. Uhm. Dilma disse ainda nesta semana que pretende dar prioridade à "reforma das reformas", a tributária. Prometeu reduzir impostos sobre investimentos ditos "produtivos", exportações e folha de salários. Dilma quer regulamentar a emenda 29, mas não quer imposto novo, a CSS. Então haverá mais recursos para a saúde (mais despesa, crescendo tanto quanto o PIB) e menos potencial de arrecadação, pois Dilma prometeu reduzir impostos outros. Pode ser que a conta feche. Talvez se o país crescer 6% ao ano, como prevê a candidata do governo Lula. Os ministros do governo Lula responsáveis pela economia andam dizendo, na prática, que o país não vai poder crescer 6% neste ano. Que é preciso tomar algumas medidas a fim de evitar o superaquecimento da economia e inflação, medidas tais como redução de despesas. Os ministros andam pedindo que Lula vete até os reajustes extras que o Congresso aprovou para aposentados do INSS. Mesmo assim, está difícil de cortar gastos; ainda mais atingir a meta deste ano para o superavit primário (a poupança do governo, excluída a conta de juros). Não há maldição que limite o crescimento da economia brasileira a 4%, 5% ou 6%. Governos prestantes podem até ajudar o país a crescer mais rápido. Mas temos visto que, quando o ritmo do PIB passa de uns 5% ao ano, a economia solta alguma fumaça inflacionária. No curto prazo, um modo de evitar tal fumacê nos preços é aumentar a poupança do governo. Dilma quer aumentar algumas despesas, reduzir impostos e crescer 6%, "tudo ao mesmo tempo agora". E a campanha mal começou. Haverá mais pleitos para atender nos palanques. A dívida eleitoral da candidata vai aumentar. Em algum momento, ela teria de dizer que o governo Lula está errado, que é possível crescer 6% sem comprimir despesas do governo. Ou terá de dizer o contrário. E então teria de explicar como cumprirá as promessas. Por ora, ela quer criar o ovo e a galinha ao mesmo tempo. A bem da verdade, Dilma não está só. Lula diz ser a favor da emenda 29 e da CSS. Num discurso para prefeitos, semana passada, Lula disse que "é uma vergonha" que o Congresso não regulamente a emenda. Também num encontro com milhares de prefeitos, Dilma, José Serra (PSDB) e Marina Silva (PV) se disseram a favor da emenda 29; da "reforma tributária" também. Nada de novo aí. É um clássico de campanha, ainda mais por aqui. Mas a gente sempre precisa perguntar como o camelo vai passar pelo buraco da agulha. |
ANTERO GRECO
Velhinhos da pesada
Antero Greco |
O Estado de S. Paulo - 28/05/2010 |
Daqui a pouco só falaremos de Copa e você vai se empanturrar de tanto Brasil-sil-sil!!! e seus guerreiros. Enquanto tambores e cuícas esquentam na África do Sul, permito-me algumas observações sobre dois veteranos que ainda dão muito o que falar. São goleiros, por sinal campeões do mundo ? e assim ficamos no clima festeiro de logo mais. Se pensou em Marcos e Rogério Ceni, acertou. Admiro o futebol da dupla, que já vislumbra a esquina dos 40 anos e segue firme como referência em seus clubes. Os reflexos não são impecáveis como tempos atrás, nem eles estão no auge, como na campanha inesquecível do penta, em 2002 na Ásia. As falhas ocorrem com mais frequência; no entanto, têm tanto crédito no Palmeiras e no São Paulo que os deslizes lhes são permitidos. Por mais que isso contrarie cornetas. Ambos sobretudo são ótimos nos pênaltis. Dia desses, Marcos pegou três enfileirados, apesar de seu time ter sido desclassificado na Copa do Brasil. Com mão avariada e tudo, relembrou o "santo" que azedou a vida de Marcelinho Carioca na semifinal da Libertadores de 2000. Anteontem, na derrota para o São Paulo, apareceu na área do rival, aos 46 minutos, e tascou a careca na bola, que raspou a trave. É palmeirense de coração, merece estátua nos jardins da Turiaçu. Mais herói do que Marcos, pelo menos na quarta-feira, foi o Rogério Ceni. Voou feito gato na bola chutada por Ewerthon, no pênalti aos 43 minutos do segundo tempo, e garantiu a vitória por 1 a 0. Quer dizer, junto com Fernandão, que em duas semanas de casa virou talismã tricolor. Parece o Fedato da Academia palmeirense dos anos 70 o ou brioso Tupãzinho do Corinthians na década de 90. O grandalhão entrou no time sem nenhuma cerimônia, passou a cavar espaços, faz gols, ajuda no meio-campo e na defesa. Agora complicou de vez a vida de Washington no Morumbi. Mas falava do Rogério, antes de abrir parênteses para Fernandão. A calma no pênalti, a concentração, a segurança no salto só se veem nos profissionais que dominam aquele retângulo especial dos campos de futebol. Parecia um rapazola, embora esteja mais próximo de tirar o uniforme e vestir a casaca. Porque esse, não tenho dúvida, vai seguir a trilha da cartolagem. Tem toda pinta. Uma espécie de Platini destas bandas. Doni e Gomes são ótimos sujeitos. Mas eu deixava um deles em casa e levava na bagagem da seleção um velhinho da pesada. Nem que fosse para dar mais respaldo para Julio Cesar e seu eventual substituto. Marcos e Rogério são como os sábios que confortam e de quem se esperam grandes lições. Seriam a reserva moral no grupo de Dunga. Meninos amuados. Neymar e André apareceram com trancinhas, que Ganso sensatamente considerou horríveis, fizeram gols e comemoram com moderação, na vitória sobre o Guarani, anteontem. Até aí, tudo bem. Estavam, talvez, sem graça, por causa da punição pela balada da semana passada. Após o jogo, dedicaram a vitória a Madson, comparsa na escapadela e afastado do elenco. Na lata, pediram a reintegração do colega. Bacana o gesto de solidariedade, saudável a liberdade de expressão. No entanto, ficou no ar a sensação de que há ruído na relação dos jovens atletas com a cúpula do time. Hora de uma boa conversa, para o clima não desandar, pois perdem o Santos e o futebol. Registre-se: o time passou sufoco na Vila. Etiqueta e delicadeza. Constrangedoras as fotos que retratam o encontro de Lula com Dunga, antes do embarque da seleção para a África. O treinador estava pouco à vontade e, ao cumprimentar o presidente ? "male-má", como se dizia no Bom Retiro ? nem tirou a mão do bolso. Dunga pode não simpatizar com Lula, muito menos ser seu eleitor, o que lhe é direito sacrossanto. Mas, como alguém que preza hierarquia e autoridade, deveria saber que a reverência não é para o homem e sim para o cargo, para a instituição que Lula simboliza. Uma canelada, a ser compensada na volta, se estiver com a taça. Tomara. |
ROGÉRIO L. FURQUIM WERNECK
A volta do Capitão Palocci
Rogério L. F. Werneck |
O Estado de S. Paulo - 28/05/2010 |
Está em curso mais uma emocionante história de metamorfose no PT. Oito anos se passaram desde que o bravo Capitão Palocci cumpriu com admirável sucesso o que então parecia uma missão impossível: convencer o País de que a cúpula do PT havia adotado um discurso econômico ponderado, completamente distinto da pregação tresloucada que se viu nas eleições municipais de 2000. O novo desafio com que agora se defronta Palocci é parecido com o anterior: convencer o País de que a ex-ministra Dilma Rousseff já não é mais o que mostrou ser nos últimos cinco anos e que, de repente, suas ideias sobre política econômica passaram a ser equilibradas e perfeitamente defensáveis. Na semana passada, a candidata foi cuidadosamente preparada para deixar boa impressão junto a investidores em Nova York. O que se viu foi uma Dilma quase irreconhecível, totalmente remodelada. Novo penteado, nova estampa e ideias novas em folha. No evento de que participou, a candidata fez várias menções a seu conhecido alinhamento com as posições de Palocci. Evitando qualquer referência ao ministro Guido Mantega, ressaltou a importância que sempre atribuiu à condução prudente da política fiscal. Externou ainda seu reconhecimento ao excelente trabalho que vem sendo prestado ao País por Henrique Meirelles. E sublinhou seu inarredável compromisso com metas de inflação cadentes e a manutenção da autonomia operacional do Banco Central (BC). Quem quer que tenha acompanhado as posições defendidas por Dilma Rousseff ao longo dos últimos cinco anos deve ter ficado boquiaberto diante do recém-estreado discurso da candidata. Há uma mudança impressionante, por exemplo, em relação ao que se viu no final de 2005, quando a já então ministra-chefe da Casa Civil, sem deixar margem a dúvidas sobre a real extensão de seu compromisso com a estabilidade de preços, permitiu-se declarar que melhor seria ter inflação de 15% ao ano e recursos mais fartos para investimento. Há também contraste gritante com a forma aguerrida com que, também em 2005, a ex-ministra comandou o torpedeamento da proposta de contenção da expansão de gastos correntes feita pelo então ministro Antonio Palocci. Ou ainda com suas declarações do final de 2007, quando afirmou que qualquer esforço de contenção de gastos seria deixado para o próximo mandato presidencial, que "o popular choque de gestão não leva(va) a nada" e que o grande mérito do PAC era ter feito o País romper com a tradição de contenção fiscal. No afã de romper com essa suposta tradição, a ex-ministra deu amplo respaldo ao Ministério da Fazenda, no seu meticuloso trabalho de demolição institucional do arcabouço de condução de política econômica que, a duras penas, foi construído no País ao longo de duas décadas. Foi esse bota-abaixo que permitiu, por exemplo, que hoje esteja em operação, à luz do dia, um bilionário e grotesco esquema de concessão de crédito subsidiado pelo BNDES, direta e fartamente abastecido pelo Tesouro com recursos provenientes da emissão de dívida pública. Trata-se de involução lamentável, que viola a separação de contas dos segmentos não-financeiro e financeiro do setor público, fundamental para a manutenção do controle fiscal no País. Causam também surpresa os elogios tardios, em falseta, à condução da política monetária, vindos da parte de quem jamais deixou de mostrar hostilidade escancarada à atuação de Meirelles no BC. Graças a Antonio Palocci, o PT convenceu o País, em 2002, de que havia abandonado seu discurso econômico inconsequente e passado a dizer coisa com coisa. Mas os efeitos dessa injeção de credibilidade se dissiparam no segundo mandato do presidente Lula, quando, já não podendo contar com Palocci, o governo abriu espaço para figuras como Dilma Rousseff, Guido Mantega e Luciano Coutinho. É desanimador que, com nova eleição pela frente, o PT se veja obrigado a recorrer mais uma vez aos poderes do Capitão Palocci para tentar revalidar a credibilidade do seu discurso econômico. |
JOSÉ SIMÃO
Traz o Caneco que nóis enche!
JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SÃO PAULO - 28/05/10
Exigências que o Adriano fez ao Roma: 2 descansos por ano de 6 meses e construção de laje no Coliseu pra baladas
BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto do País da Piada Pronta! Classificado na Folha: "Bia Loira. Travesti bem dotado. TRAGA A RÉGUA!". Pichação em Pinhais, no Paraná: "Adélcio, seu corno, fique de olho que o Perna tá Ó na sua mulher, aquela vaca". O brasileiro é cordial!
E sabe o que o Lula disse pro Dunga? "Cumpanhero Dunga, traz o caneco que nóis enche!" E a dona Marisa: "Rápido com a foto que o meu botox vai derreter". E a Dilma não é Rousseff, é Rouchefe. Ops, HULK CHEFE! Dilma Hulk Chefe!
Quando o Serra foi pra escola, a professora perguntou: "Você acha bonito ser feio?". E no batizado, quando o padre jogou água benta, saiu fumaça. Rarará!
E o Serra disse que a Bolívia é um país traficante. Isso que é transformar relações diplomáticas em PÓ! E o ministro da Presidência da Bolívia reagiu. E sabe como ele se chama? Oscar COCA! E o Eramos6 revela as exigências que o Adriano fez ao Roma: dois descansos por ano com duração de seis meses. Construção de uma laje no Coliseu pra baladas. E uma camisinha número dez, extra large.
E ele vai fazer uma festa de despedida: contratou 20 travestis, quatro jumentos, sete anões albinos sanfoneiros e dez corcundas malabaristas fantasiados de pinguim. O baile funk será em benefício da Casa do Baladeiro Aposentado!
Seleção dos Leitores! Fala pro Dunga levar o time dos Pescadores do Açude de Quixeramobim: Maisena, Tieta, Tietinha, Papacu, Brejeira, Vuco, Vuco Vuco. Menelau, Carne Morta e ABESTADO! Ou então o time do Gameleira Esporte Clube: Caramujo, Danilo Empenado, Sangue de Boi, Bosta de Urso e Massa Bruta. Cabresto, Caiçara e Armando Cara de Barraca. Neguinho, Deda Panelada e Beija Flor. Hexa garantido! É mole? É mole, mas sobe! Ou como disse aquele outro: é mole, mas trisca pra ver o que acontece!
Antitucanês Reloaded, a Missão. Continuo com a minha heroica e mesopotâmica campanha Morte ao Tucanês. Em BH tem uma bar chamado O Recanto da Perereca! O MELHOR SALGADO DA REGIÃO!. Mais direto, impossível! Viva o antitucanês! E atenção! Cartilha do Lula. O Orélio do Lula. Mais um verbete pro óbvio lulante. "Zanzibar": companheiro que foi pra África zanzar de bar em bar! O lulês é mais fácil que o ingrêis. Nóis sofre, mas nóis goza. Hoje, só amanhã. Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
JOSÉ EUSTÁQUIO DINIZ ALVES
Envelhecimento populacional não é bomba
JOSÉ EUSTÁQUIO DINIZ ALVES
FOLHA DE SÃO PAULO - 28/05/10
Atualmente, formuladores de política teriam muito a ganhar se colocassem os estudos demográficos no topo de suas agendas
A demografia é uma ciência importante, embora ainda pouco divulgada no Brasil. Talvez por isso, de tempos em tempos, seja apresentada como ameaça visível, invisível ou "bomba demográfica".
Antes de tudo, é preciso distinguir a ciência do seu objeto de estudo. A demografia estuda o comportamento de três componentes: fecundidade, mortalidade e migração. As ferramentas e os cálculos demográficos são úteis para o planejamento estratégico e para estabelecer os contornos das demais ciências sociais.
A cada dia, fica mais claro que os formuladores de política teriam muito a ganhar se colocassem os estudos demográficos no topo de suas agendas. Ainda mais hoje, quando se acentua a discussão a respeito do envelhecimento e da Previdência Social.
Há pouco tempo, ainda se falava da explosão demográfica. Mas a rápida queda da fecundidade, além de desarmar essa "bomba", trouxe diversas vantagens para o país.
Possibilitou a formação de uma estrutura etária com maior número de pessoas em idade produtiva e menor número de pessoas economicamente dependentes.
Essa janela de oportunidade -ou primeiro bônus demográfico- tem ajudado o desenvolvimento e contribuído para a redução da pobreza e das desigualdades.
O país vive, atualmente, o melhor momento demográfico de sua história e vai permanecer com baixa razão de dependência até, pelo menos, 2025.
Agora, uma nova bomba, segundo alguns, ameaça o Brasil. O inevitável processo de envelhecimento já começou e vai se acelerar nas próximas décadas.
Pode-se encarar o fato como uma ameaça visível (como alertou editorial da Folha em 18/5) ou uma nova "bomba populacional", mas, na realidade, trata-se de uma outra oportunidade demográfica que precisamos saber aproveitar.
O processo de envelhecimento populacional traz novos desafios e terá um impacto sobre as contas da Previdência, exigindo mudanças.
A aposentadoria precoce, ainda tão frequente entre nós, não se coaduna com a maior longevidade de homens e mulheres.
A esperança de vida aumentou e a idade habitual para começar a aposentadoria ficou no mesmo patamar. O acúmulo individual de diferentes benefícios fere a isonomia social. Os benefícios assistenciais não contributivos requerem fundos fiscais e não saem de uma pletora orçamentária.
Mas é preciso também olhar para novas oportunidades trazidas pelo envelhecimento populacional.
Se a política macroeconômica souber aproveitar o atual momento favorável para promover o aumento da poupança agregada, o país poderá entrar em um círculo virtuoso, com as pessoas e as famílias se capitalizando para o futuro e as empresas e o setor público aumentando suas taxas de investimento, com a consequente geração de emprego e aumento da produtividade.
A literatura demográfica internacional tem chamado a atenção para a existência de um segundo bônus demográfico, mas precisamos saber aproveitá-lo.
Em síntese, o envelhecimento pode ser bom, e não.... bomba.
JOSÉ EUSTÁQUIO DINIZ ALVES , doutor em demografia, é professor titular da Escola Nacional de Ciências Estatísticas - Ence/IBGE.
RUY CASTRO
Surto cívico
Ruy Castro
FOLHA DE SÃO PAULO - 28/05/10
Tenho sido questionado com frequência sobre se a seleção brasileira vai fazer bonito ou dar vexame na Copa do Mundo. A resposta é não sei e, francamente, não estou com os fígados em sobressalto, à espera.
Tenho uma relação meio espírito de porco com a seleção. Só torço por ela se jogar bem e bonito, ganhe ou não. Ganhar não é tão importante. Domingos da Guia, Leônidas da Silva e Zizinho nunca foram campeões do mundo; Dunga, Gilberto Silva e Kleberson são. Viu como não é importante?
Sou da teoria de que, podendo convocar os jogadores que quiser, mesmo que joguem em Júpiter, o treinador do Brasil está obrigado a armar o melhor time. Donde não abro mão de vê-lo jogar com categoria, dar espetáculo e lutar. Isso significa que a última vez em que me empolguei com a seleção foi na Copa de 1982 _o time de Zico, Sócrates, Falcão, Júnior, Leandro. As Copas de 1994 e 2002, vencidas pelo Brasil, não me inspiraram admiração ou prazer.
É diferente de quando se trata do nosso time de coração. Este entra em campo com os jogadores de que dispõe e que, às vezes, estão longe de ser os melhores. Azeite. É ele que nos redime. Por isso, tem de vencer sempre, mesmo jogando mal, chutando de canela, e nem que seja com um gol de mão e em 'offside', aos 47 do 2º tempo.
A Copa do Mundo é aquele período de quatro em quatro anos em que pessoas que passaram os quatro anos anteriores alheias a futebol são acometidas de um incontrolável surto cívico, cobrem-se de verde e amarelo e torcem pelo Brasil como se soubessem quem é a bola. Mas, desta vez, está difícil até para elas. Exceto por Kaká e, talvez, Robinho e Julio César, não creio que saibam sequer identificar os outros jogadores _todos monotonamente parecidos, de cabeça raspada, brinquinho na orelha e falando 'toicida' em vez de 'torcida'.
MÔNICA BERGAMO
Beleza negra
Mônica Bergamo
Folha de S.Paulo - 28/05/2010
O estilista Walter Rodrigues posa entre as modelos (da esq. para a dir., em sentido horário) Malana, 19, Mayara Ferre, 16, Viviane Oliveira, 18, Janaína Héglin, 19, e Janaína Santos, 19. Ele montou um casting só com negras para a passarela de seu desfile, que abriu ontem o Fashion Rio. "Isso nunca foi feito antes. No princípio, fiquei tenso, achei que não conseguiríamos 25 modelos negras, porque as agências não se esforçam para investir nelas. Estão indo muito para o Rio Grande do Sul e pouco para a Bahia", diz ele.
Maracanã Em Dose Dupla
É grande a possibilidade de o Maracanã, no Rio, sediar não apenas o encerramento, mas também a partida de abertura da Copa de 2014, no Brasil. Esta já é considerada a melhor alternativa pelo governo federal diante das negativas do Estado e da Prefeitura de SP de ajudarem o Morumbi a levar adiante a reforma exigida pela Fifa para o jogo inaugural.
Mascate
O São Paulo F.C., dono do Morumbi, também já admite internamente a hipótese de perder a abertura para o Maracanã. O clube está tendo que levantar sozinho os recursos para as obras. O BNDES já ofereceu financiamento, mas outro banco precisa garantir o empréstimo -e as instituições financeiras privadas não têm se animado a embarcar no projeto.
Dormitório
Outros dois estádios que pleiteiam sediar a abertura, o Mineirão, de Belo Horizonte, e o Mané Garrincha, de Brasília, são considerados carta fora do baralho pelo governo federal. A rede hoteleira da capital mineira não teria capacidade para abrigar os turistas que desembarcariam na cidade para o jogo inaugural. E a capital federal perdeu força depois dos escândalos do mensalão do DEM.
Entre Nós
Dilma Rousseff (PT-RS) foi recebida em almoço reservado anteontem na sede da Votorantim, na rua Amauri, em São Paulo. À mesa, Fábio Ermírio de Moraes, Carlos Ermírio de Moraes e Raul Calfat, diretor-geral da Votorantim Industrial, entre outros. Com ela chegaram Antônio Palocci (PT-SP) e Fernando Pimentel (PT-MG), coordenadores da campanha.
O Cara
Responsável por azeitar os canais entre a candidata e o empresariado paulista, Palocci tem linha direta com os Ermírio de Moraes, por quem já foi recebido outras vezes para almoçar e trocar ideias.
Gangorra Eletrônica
E a coordenação da campanha de Dilma faz circular pesquisa interna que mostra que a petista, ainda embalada pelos anúncios do PT em que apareceu colada a Lula, subiu alguns pontos em relação aos últimos levantamentos divulgados. A campanha de José Serra (PSDB-SP) espera reverter o quadro com a enxurrada de anúncios que partidos aliados, como o DEM, vão veicular até o fim de junho.
Bebel Asiática
Bebel Gilberto usará um conjunto de blusa e sarongue coloridos no seu show hoje no Sesc Pompeia.
O figurino, assinado pela estilista italiana Valentina Audrito, foi comprado pela cantora em sua turnê pela Ásia, no mês passado.
Voz do Povo
Placas em português na parede do novo consulado-geral do Brasil em Paris, na França, estampam o apelo: "Ajudem-nos! (Por favor... falem baixo)".
Pernas de Fora
O empresário Alexandre Accioly e sua noiva, Renata Padilha, pedem que as convidadas de seu casamento, amanhã, no Rio, não usem vestidos longos e que os homens não coloquem gravata. A ideia é que a festa no apartamento de Accioly, em Ipanema, seja informal. Aécio Neves será padrinho.
Sócio Fenomenal
O processo para que o jogador Ronaldo se torne sócio do clube Athletico Paulistano, nos Jardins, levará 90 dias para ficar pronto. "É o mesmo tempo que leva para qualquer pessoa. A documentação que ele apresentou há 20 dias está sendo analisada. Ele não terá nenhum privilégio", diz Sylvio Antunes Filho, diretor-secretário do clube. O título custa R$ 5.000, e a transferência, R$ 180 mil.
Esgotado
E os convites para o show de Fábio Jr., hoje, no mesmo clube Paulistano, já estão esgotados. Os ingressos custavam R$ 50 para sócios e R$ 70 para convidados.
Gorete: "quem É Wanessa Camargo?"
"É uma mistura de Márcia [Goldschmidt] e Wanessa Camargo", dizia o cabeleireiro Celso Kamura sobre Gorete, a mulher que levou o "Pânico na TV" (RedeTV!) ao primeiro lugar de audiência, no domingo, depois da transformação que prometia torná-la parecida com Gisele Bündchen. "Quem é Wanessa Camargo?", perguntava Gorete. "Aaah! A cantora... Não acho parecida, não."
Gorete fez anteontem sua primeira aparição pública depois do tratamento dentário e capilar do "Pânico". Ela abriu o desfile de Walério Araújo na Casa de Criadores, semana de moda que reúne novos estilistas. "A Sabrina [Sato] me pediu. Não tive como negar".
"Gostei! É como se fosse passarinho na gaiola querendo voar", dizia Gorete, mais aplaudida do que o próprio estilista. A cantora Stefhany, que já teve o posto de estrela instantânea quando estourou, no ano passado, com um clipe no YouTube, estava longe dos flashes desta vez. Contava com a ajuda de uma assessora para tentar atrair as atenções. Enquanto sorria, a funcionária distribuía cartões e CDs autografados tirados da cintura.
Curto-circuito
A cantora Tulipa faz show no domingo, às 19h, no Auditório Ibirapuera. Livre.
A obra dos diretores de animação Quay Brothers será debatida hoje, às 19h, na Caixa Cultural Sé.
A ONG Obra do Berço realiza hoje, às 8h, a décima edição do Torneio de Golfe Beneficente, no SP Golf Club.
A festa "Tô Mara" acontece hoje, às 23h, com show de Lady Gaga cover, na FunHouse. Classificação: 18 anos.
O São Paulo Bike Circuit acontece no domingo, às 10h, com saída do parque das Bicicletas, em Moema.
O coquetel de abertura do Festival da Mantiqueira acontece hoje, a partir das 18h, na Pousada Muriqui, em São Francisco Xavier.
TUTTY VASQUES
O lixão das vuvuzelas
Tutty Vasques
O Estado de S.Paulo - 28/05/10
Já que ninguém se sensibiliza mesmo com a tragédia da poluição sonora que se avizinha à narração de Galvão Bueno, resta aos incomodados mudar a tática de conscientização do problema.
Os ambientalistas - ô, raça! - ainda não se deram conta de um outro aspecto desastroso oculto pela barulheira em questão: imagina quantas centenas de milhares de anos
serão necessários para a natureza degradar no meio ambiente as milhões de vuvuzelas adquiridas em camelôs dos quatro cantos do mundo para a Copa da África do Sul.
serão necessários para a natureza degradar no meio ambiente as milhões de vuvuzelas adquiridas em camelôs dos quatro cantos do mundo para a Copa da África do Sul.
Se, num cálculo pra lá de otimista, 70% dos torcedores do planeta jogarem suas cornetas de matéria plástica colorida no lixo logo após o Mundial, em fins de julho as vuvuzelas já serão incômodo ecológico tão grave quanto as garrafas PET, os sacos plásticos de supermercado e o pum da vaca.
Ou se faz alguma coisa agora mesmo pela criminalização do negócio ou logo o ser humano estará discutindo a criação de cooperativas de catadores de vuvuzelas para reciclagem.
Pode parecer exagero, mas espera só começar a Copa do Mundo para sentir o drama nos ouvidos. Depois não diga que não avisei!
Pode parecer exagero, mas espera só começar a Copa do Mundo para sentir o drama nos ouvidos. Depois não diga que não avisei!
Arrivederci Chatuba
Agora é oficial: só falta a diretoria da Roma acertar detalhes do esquema do resgate de Adriano no "Bota-fora do Imperador", convocado para este fim de semana na favela da Chatuba. Tomara que aquela loura não chegue antes para pegá-lo no tapa!
Agora é oficial: só falta a diretoria da Roma acertar detalhes do esquema do resgate de Adriano no "Bota-fora do Imperador", convocado para este fim de semana na favela da Chatuba. Tomara que aquela loura não chegue antes para pegá-lo no tapa!
Fenômeno
O vereador paulistano Gabriel Chalita escreve mais de 30 mensagens por dia no Twitter. Incrível como ainda arruma tempo para redigir aquelas cartas lindas para o padre Fábio Melo, né?
Mal embalado
Tudo bem que o truque do cabeleireiro não se preste à imagem de José Serra, mas quem é o figurinista do pré-candidato tucano? Ninguém mais da geração do ex-governador usa calça de tergal com camisa Volta ao Mundo.
Eu, hein!
Esclarecido da noite pro dia pela polícia da Bahia, o assassinato daquele delegado abatido a tiros durante entrevista de rádio sepulta em definitivo o mito da falta de pressa dos conterrâneos de Dorival Caymmi. Tomara que seja só isso!
Esclarecido da noite pro dia pela polícia da Bahia, o assassinato daquele delegado abatido a tiros durante entrevista de rádio sepulta em definitivo o mito da falta de pressa dos conterrâneos de Dorival Caymmi. Tomara que seja só isso!
Irritando Hillary Clinton
Bateu saudades de Condoleezza Rice no chamado eixo do mal. "Tem coisa mais irritante que a Hillary Clinton irritada?!" - comenta-se na ponte aérea Teerã-Pyongyang.
Bateu saudades de Condoleezza Rice no chamado eixo do mal. "Tem coisa mais irritante que a Hillary Clinton irritada?!" - comenta-se na ponte aérea Teerã-Pyongyang.
Seguro morreu de velho
Claro que dá para entender que dinheiro não cai do céu para dar aos aposentados, mas de onde vem a fortuna para comprar aviões de caça e submarinos nucleares?
Claro que dá para entender que dinheiro não cai do céu para dar aos aposentados, mas de onde vem a fortuna para comprar aviões de caça e submarinos nucleares?
Tem tempo ainda
Termina na terça-feira o prazo para recall de volantes na seleção. Quem sabe, até segunda, alguém pega catapora ou dá uma topada no pé da cama, sei lá, pode acontecer, né não?!
Termina na terça-feira o prazo para recall de volantes na seleção. Quem sabe, até segunda, alguém pega catapora ou dá uma topada no pé da cama, sei lá, pode acontecer, né não?!
MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO
Indústria de vidro investe R$ 390 milhões em fábrica
Maria Cristina Frias
Folha de S.Paulo - 28/05/2010
A fabricante de vidros e espelhos Cebrace, uma joint venture entre o grupo japonês NSG/Pilkington e o grupo francês Saint-Gobain, vai investir ? 170 milhões (cerca de R$ 390 milhões) na expansão de sua planta em Jacareí, no interior de São Paulo.
"A cidade se transformará no maior polo vidreiro do Ocidente", diz Roberto Wertzner, diretor da Cebrace.
A unidade, que receberá um novo forno, o quinto da empresa, deve começar a operar até dezembro de 2011.
Com um aumento de volume de 900 toneladas ao dia, a capacidade total da empresa subirá para 3.600 toneladas diárias, segundo Wertzner.
O investimento é o maior recebido por Jacareí nos últimos dez anos, de acordo com o prefeito da cidade, Hamilton Ribeiro Mota.
A prefeitura construirá uma via de acesso da rodovia à empresa para facilitar o escoamento, diz o prefeito.
A Cebrace está hoje em segundo lugar em arrecadação de ICMS no município, atrás da AmBev, que também possui fábrica instalada na região, segundo Mota.
"Hoje a Cebrace representa 9% da arrecadação de ICMS no município. Após a expansão, poderá alcançar ou até ultrapassar a representatividade da AmBev, que está hoje em 20%", diz Mota.
De vento em popa
A finlandesa Wärtsilä, do mercado de motores de geração de energia e propulsão marítima, fechou contrato com o grupo Quip, para fornecer equipamentos para a P-63, navio/plataforma com capacidade para processar e armazenar petróleo. Os investimentos são de mais de 60 milhões (cerca de R$ 140 milhões). "É o maior contrato da história da empresa no mundo no segmento naval", diz Robson Campos, que assumiu a presidência da Wärtsilä Brasil neste mês. A estratégia de Campos é diminuir a fatia de equipamentos importados, que é de cerca de 70%, para aumentar o uso de insumos nacionais."Encontramos no país o que precisamos para construir termelétrica e navio."
Médicos Sem Fio
A Stryker, empresa que traz salas de cirurgia sem fio ao país, irá instalar, até o final do ano, quatro unidades completas em São Paulo, no hospital Nossa Sra. de Lourdes, e, em Brasília, nos hospitais Santa Helena e Santa Lúcia, que terão duas cada um.
De acordo com Júlio Álvarez, diretor da empresa, as unidades podem ser formatadas conforme a especialidade cirúrgica e custam até US$ 250 mil.
"A grande vantagem é integração imediata das informações do paciente. É o futuro." Além de eliminar cabos, a tecnologia permite acompanhamento à distância, filmagem em alta resolução e a ativação das funções por comandos de voz.
Reeleição
Após nova convocação, os conselheiros do Corecon-SP (Conselho Regional de Economia) elegeram ontem os economistas Carlos Alberto Safatle e José Dutra Vieira Sobrinho para presidente e vice-presidente da categoria em SP para 2010.
Na tomada 1A CPFL Energia fechou acordo com a TH!NK Global AS, montadora norueguesa de carros elétricos, para trazer ao Brasil três unidades do modelo de passeio TH!NK City. A parceria faz parte do programa iniciado em 2006 pela CPFL Energia.
Na tomada 2Hoje, a CPFL Energia participa de outras iniciativas no segmento de veículos elétricos. Além da parceria com a companhia norueguesa, há projetos como o Palio Weekend (com Fiat e Itaipu), a moto elétrica (Unicamp) e o Aris, projetado pela Edra.
Metais 1O reajuste do preço do minério de ferro não deve emperrar o aumento da utilização do aço na construção civil no país. De acordo com a Tendências Consultoria, o consumo de aço no mercado doméstico deve crescer 12% neste ano.
Metais 2"A única incerteza em relação ao cenário do minério de ferro é a China. Mas a expectativa é que o ritmo de expansão do país asiático desacelere e o preço da commodity não suba muito", afirma a economista Amaryllis Romano, da Tendências.
Menos águaUm acordo entre a austríaca Adcon Telemetry e a brasileira Olearys, ambas do setor de agronegócio, trará ao Brasil uma máquina capaz de monitorar o clima, obter informações do solo e prever alagamentos, o que reduz custos.
BRASIL S/A
Decepções globais
Antonio Machado
CORREIO BRAZILIENSE 28/05/10
Moeda encolhe no mundo, Geithner alerta Europa sobre o risco de deflação e crise toma novos rumos
Uma das consequências da grave crise que abalou as estruturas do crédito e do mercado financeiro em todo o mundo tem sido a revisão de sólidas verdades, o ressurgimento de outras arquivadas no museu da teoria econômica e a emergência de consensos flutuantes.
Se a “ciência” da economia e seus mais notórios porta-vozes estão confusos, sua “clientela” no mundo da política e dos negócios está no mato sem cachorro. Tome-se o caso dos governos europeus.
Acuados pelo pé-atrás dos mercados financeiros quanto à solvência dos países mais frágeis da Zona do Euro e mesmo do futuro da moeda única, reagem com corte de gastos públicos e aumento de impostos.
Grécia, Portugal, Espanha, Itália, França, nessa ordem, cortaram salários e aposentadorias do funcionalismo público. Os primeiros aumentaram impostos sobre a renda e o consumo. A Alemanha cortou as asas de operações no mercado futuro com títulos, ações e moeda. E a própria União Europeia desarquivou a ideia de tributar ativos, passivos e/ou o lucro de bancos e grupos financeiros.
O fim é encolher o custo do Estado, o consumo interno, reforçar o Tesouro nacional e tentar reerguer a economia pela exportação. É a receita clássica do FMI — afora essa espécie de CPMF global, que, no entanto, o Fundo apoia —, seguida uma década atrás pelos países emergentes que formam o poder em ascensão na geopolítica global.
A dúvida é se tal receita, que implica enorme ônus social, ainda se aplica numa época em que a informação circula em tempo real, a aversão da sociedade à austeridade fiscal é maior e o mundo rico é desafiado pela indústria e lavoura de baixo custo das ex-colônias.
Para começar, tem de haver base industrial ou agrícola moderna ou em formação pronta para competir no mercado global com incentivos adequados. Portugal e Grécia são vazios econômicos. A própria Zona do Euro, à exceção da Alemanha, só será competitiva fora da área protegida da União Europeia se encolher o seu sistema de bem-estar social — o alicerce político de sua unidade e prosperidade.
Talvez tenha sido esse o senso do alerta do secretário de Tesouro dos EUA, Timothy Geithner, que foi a Londres e Frankfurt, ontem, e hoje chega a Berlim. “A grande lição da crise financeira nos EUA”, disse ele, com a sutileza de elefante da diplomacia americana, “é que você tem de agir rápido e com força”. Soou aos interlocutores de Geithner como crítica, dada a lerdeza da Europa para agir. Mas também tem a ver com os riscos de induzir uma recessão saneadora.
Europa fala e não age
A tradução literal do chamado de Geithner é que a Europa não tem de ficar falando do tamanho do pacote de ajuda aos países de 750 bilhões de euros, cerca de US$ 1 trilhão, tem de gastá-lo logo. À Alemanha sugeriu, nas entrelinhas, que a chanceler Angela Merkel cesse suas ações regulatórias unilaterais no mercado financeiro, deixando-as para um acordo internacional, como estudado pelo Grupo dos 20 (G-20), a coalizão de países ricos com os maiores emergentes.
“Não faz sentido”, escreveu o estrategista John Ross Crooks, do fundo australiano Black Swan Capital, “Geithner mover publicamente o pote (de problemas) da Europa, quando já há grandes divergências em movimento.” A Europa está dividida sobre a reforma bancária.
EUA enxugaram o dólar
Os conflitos de governança da União Europeia, contudo, são só um naco de um problema maior e mais sério: a redução global da moeda, e não só do multiplicador bancário e dos derivativos de todo tipo, que inundaram a liquidez no mundo criando a ilusão do ganho fácil.
Isso diz respeito à medida de moeda da época em que banco central controlava inflação regulando a emissão monetária e não apenas com os juros. Por tal metro, a oferta do chamado M3 (conceito de meios pagamentos ampliado, que soma o dinheiro em circulação aos depósitos à vista e aplicações de prazo curto) está em queda, nos EUA, desde o início de 2009. Isso explica a deflação dos mercados.
A ajuda que prejudica
O economista Tim Congdon, da empresa americana de pesquisas IMR, apurou tal anomalia, e a sua constatação correu o mundo econômico.
Ela dá fundamento quantificável à magia de as economias em crise terem sido resgatadas com enorme fluxo de moeda sem provocar uma gota de inflação. Mas alerta para outro fato: que parte da alta dos mercados de ações, papéis de dívida e commodities desde o ano passado aconteceu no vazio, inflada sobretudo pelas expectativas.
Em tal cenário, o ajuste recessivo na Europa tende a piorar, em vez de aliviar, a solvência dos países endividados, além de forçar uma onda de deflação. É isso o que Geithner deve ter visto.
Eles nadavam pelados
Nada é mais pertinente com a imagem do bilionário Warren Buffet, segundo a qual a ressaca da crise iria mostrar quem estava nadando pelado, que a prescrição da União Europeia contra a insolvência da região, ou seja, recessão. O que aos governantes europeus revelam é a ignorância sobre o que embalava a prosperidade anterior.
Ela surgiu dos desequilíbrios globais, sobretudo entre superavits da China e deficits dos EUA. E, na Europa, entre Alemanha, espécie de China do euro, e os vizinhos mais fracos, sem economia, vivendo de dívida bancada por bancos alemães e outros europeus. Poderosos, os EUA enrolam a China. Fracos, Grécia, Espanha, Portugal, não têm a quem apelar. O G-2, de China e EUA, vai submetendo a todos.
MERVAL PEREIRA
Mal-entendido ou má intenção?
Merval Pereira
O GLOBO - 28/05/10
Na nova política de segurança divulgada pelo governo dos Estados Unidos, o Brasil ganhou relevância em relação a documentos anteriores, mas continua bem abaixo dos outros três centros de influência — China, Rússia e Índia — e quase da mesma importância que a África do Sul.
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, pôs o Brasil em um segundo pelotão.
Em todo o texto, ele cita a Índia nove vezes; a China, dez; a Rússia, 14; e o Brasil, apenas cinco, mesmo número de vezes da África do Sul. A Turquia é citada apenas uma vez.
Os desentendimentos sobre o acordo nuclear com o Irã, que a secretária de Estado, Hillary Clinton, classificou de sérios, estão no centro desse esfriamento de relações entre Obama e Lula, que um dia ele já definiu como “o cara”.
O vazamento da carta que Obama escreveu ao presidente Lula é um desentendimento diplomático sério. A Casa Branca não gostou de saber que um governo amigo divulga documentos pessoais entre presidentes.
Mas uma leitura atenta da carta, em vez de demonstrar, como quer o governo brasileiro, que Lula seguiu à risca as orientações de Obama, deixa claro que houve no mínimo um mal-entendido, que fala mal da diplomacia brasileira.
Ou uma tentativa frustrada de criar um fato consumado que favorecesse o Irã.
Ao se referir aos termos do acordo de novembro, Obama deixa claro que o objetivo dele era deixar o Irã sem material atômico para produzir a bomba.
Está claro que, sem essa precondição, não há acordo.
Na carta, está dito claramente: “A proposta da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) foi preparada de maneira a ser justa e equilibrada, e para permitir que ambos os lados ganhem confiança. Para nós, o acordo iraniano quanto a transferir 1.200 quilos de seu urânio de baixo enriquecimento (LEU) para fora do país reforçaria a confiança e diminuiria as tensões regionais, ao reduzir substancialmente os estoques de LEU do Irã. Quero sublinhar que esse elemento é de importância fundamental para os Estados Unidos. Para o Irã, o país receberia o combustível nuclear solicitado para garantir a operação continuada do TRR (o Reator de Pesquisa de Teerã), a fim de produzir os isótopos médicos necessários e, ao usar seu próprio material, os iranianos começariam a demonstrar intenções nucleares pacíficas. Não obstante o desafio continuado do Irã a cinco resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas que ordenam o final de seu programa de enriquecimento de urânio, estávamos preparados para apoiar e facilitar as ações quanto a uma proposta que forneceria combustível nuclear ao Irã usando urânio enriquecido pelo Irã, uma demonstração de nossa disposição de trabalhar criativamente na busca de um caminho para a construção de confiança mútua”.
O pressuposto era, portanto, que o Irã reduzisse “substancialmente os seus estoques”. Qualquer acord o que não “ reduzisse substancialmente” os seus estoques, não teria sentido, portanto.
Em outro trecho, a carta diz: “Compreendemos pelo que vocês, a Turquia e outros nos dizem que o Irã continua a propor a retenção do LEU em seu território até que exista uma troca simultânea de LEU por combustível nuclear. Como apontou o general [James] Jones [assessor de Segurança Nacional da Casa Branca] durante o nosso encontro, seria necessário um ano para a produção de qualquer volume de combustível nuclear. Assim, o reforço da confiança que a proposta da AIEA poderia propiciar seria completamente eliminado para os Estados Unidos, e diversos riscos emergiriam. Primeiro, o Irã poderia continuar a ampliar seu estoque de LEU ao longo do período, o que lhes permitiria acumular um estoque de LEU equivalente ao necessário para duas ou três armas nucleares, em prazo de um ano”.
Ou seja, se em um ano o Irã poderia continuar a ampliar o seu estoque de LEU, bastaria ao governo brasileiro fazer as contas: de novembro a maio são seis meses, meio ano, tempo suficiente para um reforço e tanto no estoque.
O volume ser transferido ao exterior deveria ser, portanto, proporcionalmente aumentado.
O acordo fechado entre Brasil e Turquia com o Irã, nos termos em que foi concebido, isto é, permitindo que o Irã continuasse a ter um estoque de urânio que manteria a possibilidade de chegar à bomba atômica, criou, sem dúvida, uma turbulência internacional que interfere na decisão do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas de implementar sanções contra o Irã.
Se, como tudo indica, as sanções forem impostas com o apoio da grande maioria dos membros do Conselho de Segurança — a informação é de que apenas Brasil, Turquia e Líbano seriam contrários a elas —, fica claro que o Brasil está isolado na tentativa de salvar o Irã da punição.
Brasil e Turquia somente poderiam se considerar vitoriosos caso o Conselho rachasse devido ao acordo.
O ex-governador Aécio Neves avisou a direção do PSDB que não se dispunha a ser o vice de Serra antes de fazer o anúncio oficial. Ele reafirmou a convicção de que seria mais útil na campanha mineira, para garantir a vitória de Serra por uma margem que possa ajudar a definir a vitória a nível nacional. A pressão regional foi mais forte do que a nacional, pois o candidato de Aécio ao governo de Minas, Antonio Anastasia, cresceu muito, mas parou em 17%, com a ausência de dele na campanha.
Os tucanos consideram que esse esforço de Aécio para eleger Anastasia pode fazer com que o nome de Serra seja levado a todos os municípios mineiros. O temor é que, na ânsia de eleger Anastasia, os políticos aceitem também a chapa Dilmasia
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