quarta-feira, maio 09, 2012

Banco não briga - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 09/05/12

A banca chegou a oferecer ontem a Dilma a cabeça de Murilo Portugal, presidente da Febraban, por causa das alfinetadas no governo. Foi preciso que gente do próprio governo dissesse que não era preciso chegar a este ponto.

Yes, nós temos ricos

Cerca de 50 brasileiros ricos, ricos de marré-deci estiveram quarta passada, dia 2, nos leilões da Sotheby’s, em Nova York. Nesse dia, uma das versões de “O grito”, de Edvard Munch, foi vendida por US$ 119,9 milhões.

Dia de rock

Eike Sempre Ele Batista está comprando 50% do Rock in Rio.

Aliás...

Ontem, o empresário almoçou com o bioquímico John Craig Venter, conhecido por seus trabalhos pioneiros no sequenciamento do genoma humano. O americano pesquisa o uso de algas para capturar dióxido de carbono, útil aos projetos de Eike no setor de energia.

Fator Graça Foster

Antes, era só às quintas. Agora, na Petrobras, a diretoria se reúne duas vezes por semana. Às segundas, inclusive.

‘Waterfall’

A sisuda revista britânica “The Economist” tem chamado o malfeitor Carlinhos Cachoeira de... “Charlie Waterfall”.

Camelôs da garoa
Quem reparou foi o professor Mauro Osório, da UFRJ. O Censo mostra que a capital do trabalho informal é... São Paulo, não o Rio, como se pensava. Na Terra da Garoa, os trabalhadores sem carteira somam 34,1%. No Rio, 33,9%.

JULIANA PAES, 33 anos, excede em beleza neste momento família com o filho Pedro, de um ano e cinco meses. A imagem enfeita a semana do Dia das Mães. A musa da coluna, como se sabe, grava na Bahia as primeiras cenas da reedição da novela “Gabriela, cravo e canela”, inspirada na obra imortal do saudoso mestre Jorge Amado (1912-2001)

As fotos de Carolina
Perdeu fôlego a hipótese de que Carolina Dieckmann teve suas fotos íntimas surrupiadas na MacStore do shopping Downtown, na Barra, aonde levou seu computador para conserto. A polícia, que já ouviu a empresa, aposta agora em outra linha de investigação.

Julgamento de Oslo

Asne Seierstad, a jornalista norueguesa que escreveu sobre as guerras do Afeganistão (“O livreiro de Cabul”), da Chechênia (“Os filhos de Grozny”), da Iugoslávia (“De costas para o mundo”) e do Iraque (“101 dias em Bagdá”), prepara novo livro, pela Record. Agora, falará dos ataques terroristas na sua Oslo, em 2011.

Mulheres ricas

A socialite Val Marchiori vai estrelar um comercial da Fiat.

Divas da MPB
Rodrigo Faour, o pesquisador musical, vai relançar pela EMI, numa série de CDs batizada de “SuperDivas”, cerca de 250 gravações raras ou até inéditas de 13 grandes cantoras brasileiras. A série de fonogramas vai dos anos 1940 aos 1980. Faour consumiu um ano e oito meses na produção.

Baú do Faour...

As 13 cantoras são Ademilde Fonseca, Ângela Maria, Elizeth Cardoso, Dalva de Oliveira, Maysa, Leny Eversong, Aracy de Almeida, Cláudia, Eliana Pittman, Waleska, Maria Alcina, Rosana Toledo e Carmélia Alves, cuja capa é reproduzida acima.

Picanha em campo

O Porcão deve ser um dos patrocinadores do Flamengo.

No estaleiro

Alexandre Pinto, secretário municipal de Obras do Rio, está com dengue.

Porca de Ipanema

Sexta, por volta de 21h30m, na Praça Nossa Senhora da Paz, em Ipanema, uma senhorinha levava pela coleira uma... porca. Com uns 10kg, a bicha se chama Rosinha.

Santa CPI - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 09/05/12




Graças à CPI do Cachoeira, a Câmara decidiu colocar em pauta os projetos que calam fundo na alma do contribuinte. Tudo para mostrar que a Casa se preocupa com a pauta do bem


O Brasil seria outro se a cada seis meses se abrisse uma Comissão Parlamentar de Inquérito como essa que engatinha no Congresso Nacional. Isso porque, para mostrar que não estão preocupados ou que o mundo não se resume a isso, parlamentares colocam em pauta vários projetos de interesse e de repercussão social. Não fosse a CPI que hoje investiga os negócios de Carlos Cachoeira e respinga no parlamento, a proposta de emenda constitucional (PEC) que pretende punir de forma severa os promotores do trabalho escravo, por exemplo, dificilmente estaria em debate na Câmara dos Deputados.

Desde a semana passada, quando a CPI saiu do papel, a pauta da Câmara ganhou ares mais sociais. Foi aprovado, entre outros, o projeto que acaba com a exigência de cheque-caução para atendimento hospitalar. Também saiu da gaveta a proposta que amplia as possibilidades de exame de DNA para reconhecimento de paternidade.

Essa semana foi a vez da PEC do trabalho escravo. Essa PEC pretende a desapropriação de terras ou imóveis urbanos onde for detectado o trabalho escravo, sem direito a indenização pela propriedade. Tramita na Câmara desde 1995. Hoje, a multa para quem tem um trabalhador em regime análogo à escravidão varia de R$ 400 a R$ 4 mil.

De acordo com o deputado Cláudio Puty (PT-PA), presidente da CPI do Trabalho Escravo, hoje ainda há pessoas inescrupulosas que fazem a conta: se o lucro for maior do que a multa, correm o risco de manter trabalhadores nessa situação, seja no campo nas cidades. Até porque a fiscalização é precária, por causa da falta de pessoal.

O difícil é conseguir fazer vale essa proposta, uma vez que a poderosa bancada ruralista — que já derrotou o Código Florestal defendido pelo governo — é contra, porque considera que os fiscais cometem abusos na hora de definir as situações análogas à escravidão. Reclamam que até a espessura dos colchões é motivo para aplicação de multas.

Por falar em reclamações...
A CPI do Trabalho Escravo não tem um décimo dos holofotes que se debruçam sobre a CPI dos negócios do bicheiro Carlos Cachoeira. Mas ficará devedora da CPI do Cachoeira, hoje o motor do Congresso e da “pauta do bem”. À CPI de Cachoeira se deve ainda o fato de o Conselho de Ética do Senado correr para analisar o destino do senador Demóstenes Torres (sem partido-GO). E o fato de não haver um voto contrário à abertura de processo já é um sinal de que o senador goiano dificilmente conseguirá se segurar no mandato.

Há quem diga que, se Demóstenes for cassado por quebra de decoro, a CPI terá cumprido seu papel e não precisará chamar governadores para depor. O problema é que Demóstenes já foi, ou seja, sobre ele, se tem a clara sensação de que não há muito mais a apurar. O julgamento político já foi feito e dificilmente a defesa poderá mudar alguma coisa nesse sentido — daí, a tentativa de recorrer ao Supremo Tribunal Federal. Se não der em nada, pelo menos, Demóstenes ganhará tempo.

À CPI agora cabe avaliar outras pontas, por exemplo, as obras do Ministério dos Transportes, os negócios de Cachoeira com a Delta Engenharia e a relação dele com os governadores e com demais parlamentares. Se a comissão não o fizer, deixará a desejar e o eleitor, na certa, vai achar que as excelências empastelaram a CPI. E não haverá pauta do bem que coloque os deputados e senadores como mocinhos nesse filme. E aí, a CPI, hoje santificada como a esperança de muitos, vai virar o inferno e, seus integrantes, assistentes de malfeitos. Bem... Como tudo é um jogo sem “santinhos”, pode começar a fazer as suas apostas. A minha é a de que a CPI dure muito tempo. Só assim as excelências colocam em pauta os projetos que interessam diretamente a você e não ficam apenas no rame-rame das medidas provisórias. Como diria o menino prodígio, santa CPI, Batman!

Lugar comum - SONIA RACY


O ESTADÃO - 09/05/12

Mais um estabelecimento sofre arrastão em Pinheiros. Dessa vez, o escolhido foi o Emiglia. Por volta das 23 horas de sábado, cerca de dez homens armados invadiram o restaurante rendendo os funcionários e algo como 60 clientes.

Levaram dinheiro, joias, relógios, celulares e documentos.

Lugar comum 2

Um dos assaltados, ao fazer o boletim de ocorrência, ficou embasbacado ao ouvir do delegado: “Deve ser a mesma quadrilha que já assaltou duas vezes a Pizzaria Cristal…”

Escalado

A cúpula da campanha de Serra convocou um articulador de peso para tentar tirar o PTB do muro: Geraldo Alckmin.

Apesar de mantida a candidatura de Luiz Flávio Borges D’urso, o governador teve uma longa conversa semana passada com Campos Machado. Tentando manter os petebistas na órbita tucana.

Vitrine

O PT e o PSDB adotaram estratégias diferentes na realização de suas convenções. Os tucanos escolheram dia 17 de junho para poderem usar o direito de resposta. Já os petistas optaram pelo último dia dentro do prazo do TSE, 30 de junho.

Desejam mais tempo para amarrar alianças.

Vitrine 2

A convenção tucana, armada por Edson Aparecido, será realizada no Expo Center Norte, junto com a do PSD e a de outros partidos que vierem a compor a coligação.

Direto no bolso

Não é difícil entender por que Dilma quer baixar os juros. Além do inegável bônus político, a presidenta se conscientizou que o crescimento econômico, baseado na expansão do crédito, está batendo em certos limites. Portanto, nada mais racional do que reduzir o spread dos bancos para tentar trazer o consumidor de volta às compras.

No fundo, é isso que o Ministério da Fazenda negocia aos trancos e barrancos. Neste percurso, entretanto, segundo banqueiros privados, há de se reformular várias coisas. Duas delas, se resolvidas, ajudariam muito, no ver do sistema financeiro: as distorções existentes no cheque especial e no cartão de crédito.

Segundo se apurou, os dois lados, governo e iniciativa privada, estudam uma solução para o que se pode chamar de “subsídio cruzado” no cheque especial. Consta que as tarifas cobradas para se manter uma conta corrente não cobrem os custos dessas contas. E o jeito para “tampar” o buraco está nos juros absurdos cobrados de quem entra no cheque especial.

O cartão de crédito também sofreria o tal do “subsídio cruzado”. São os bancos – e não as lojas, restaurantes ou estabelecimentos em geral–, a arcarem com o custo do inadimplente que optou por parcelas sem juros. De onde tiram dinheiro para tanto? Da absurda taxa de juros cobrada de quem rola dívidas no cartão a “módicos” 16% ao mês.

Na frente

Washington Olivetto comemora dois anos da sua WMcCann na sexta-feira, com duas feijoadas. Uma em Sampa, mais cedo e outra na parte da tarde, no Rio. “Quero ter tempo para ir às duas”, justifica.

A Dan Galeria e Flávio Cohn estabeleceram parceria virtuais com galerias internacionais. Assim, quem visitar a SP_Arte poderá ‘ver’ obras de artistas como Anish Kapoor, Richard Serra, Anselm Kiefer.

Abilio Diniz, Marcelo Odebrecht, David Feffer, Roger Agnelli e Fábio Barbosa são alguns empresários confirmados para ciclo de palestras na Casa do Saber. Tema? Gestão.

Carlos Ayres Britto é presença confirmada no lançamento do Anuário da Justiça Brasil 2012. Hoje, na sede do STF, em Brasília.

Monte Pascoal, Bentley e Glenmorangie recebem para a experiência Cars, Cigars & Spirits. Hoje, na Bentley.

Norman Parkinson, famoso fotógrafo de moda, vem pela primeira vez ao Brasil. Vai expor na Pequena Galeria 18, durante a SPArte.

Elogio ouvido no comitê da campanha de Haddad sobre as incursões do candidato nos bairros da cidade: “Ele finalmente parou de dar aula…”

Bye-bye, Brasil - RUY CASTRO


FOLHA DE SP - 09/05/12


RIO DE JANEIRO - Ontem, nesta coluna, Paula Cesarino Costa sugeriu que, se um dia Woody Allen rodar seu esperado filme no Rio, não precisará inventar nada -os personagens já existem, com ou sem guardanapo na cabeça. Mas as chances de Woody filmar aqui, como fez em Londres, Paris, Barcelona e Roma, são mínimas. Há certa incompatibilidade entre ele e o Brasil.

Woody não gosta de sol, de calor e da exuberância eufórica comum aos nativos dos trópicos. A paisagem também não lhe diz nada. Sua ideia de um "dia bonito" é um céu leitoso, com chuva fina por dias seguidos e temperatura na casa dos 10ºC, ideal para a depressão. Em seus filmes, os atores estão sempre de suéter, casaco, punhos e golas abotoados -não se veem braços ou sequer gogós nus em cena- e se perguntando sobre de que serve a vida se um dia vamos morrer.

Você dirá que, em "A Era do Rádio", de 1987, Carmen Miranda abrilhanta a trilha sonora, e Denise Dummont, em pessoa, canta "Tico-tico no Fubá". Sabe-se ainda que ele é fã de "Memórias Póstumas de Brás Cubas", de Machado de Assis, que leu em inglês. Mas foi também Woody quem, no passado, se referiu ao Brasil como um "one-crop country" (país agrícola, monocultor, símbolo do atraso) e se queixou de ser admirado em "países onde se torturam pessoas" -como se seus fãs brasileiros compactuassem com a tortura.

O Brasil para Woody é o de filmes como "Voando para o Rio" (1933), com Fred Astaire, ou "A Caminho do Rio" (1947), com Bing Crosby e Bob Hope -ou seja, um cenário de estúdio, da RKO ou da Paramount. A ideia de passar meses aqui, absorvendo "cultura" que lhe renda um filme, deve parecer-lhe ainda mais sem sentido do que um fim de semana em Los Angeles.

E, com o sucesso de "Meia-noite em Paris", ele recuperou o crédito para voltar ao seu cenário favorito: Nova York.

Dilma não está com sorte - VINICIUS TORRES FREIRE

FOLHA DE SP - 09/05/12



Suponha-se que a campanha de Dilma Rousseff contra os juros altos funcione. Pode bem ser que o custo do crédito caia, mas a quantidade de dinheiro emprestado também, assim como a vontade de tomar empréstimos e investir. O tumulto europeu redivivo pode ser um dos fatores do desânimo.

Dilma Rousseff não tem a sorte de Lula.

A lentidão da economia mundial, em especial no mundo rico, não anima as exportações. As providências euroamericanas para combater a crise, despejo de dinheiro na praça, ademais encarecem o real e os produtos da indústria. A nova rodada de confusão europeia deve induzir bancos e empresários a jogar mais na retranca. Bancos em particular.

A situação europeia não está feia como pareceu no terço final de 2011. Naqueles meses, o risco de quebra de bancos da eurozona e de calote caótico da Grécia era bem real.

Mas os bancos receberam dinheiro de presente do Banco Central Europeu (empréstimo trilionário e subsidiado). A Grécia recebeu mais empréstimos de emergência e, mais importante, seus credores praticamente deram o fora de lá. Um calote grego, agora, seria ruim, mas não tão ruinoso como em 2011.

Ainda assim, a reação política e eleitoral ao arrocho na Grécia foi tão forte que voltaram à mesa as soluções mais radicais. No mínimo, o caso grego é por ora imponderável -a maioria de esquerda quer tocar fogo nos acordos com União Europeia, BCE e FMI. Mesmo que não vingue o incêndio, há a incerteza que virá com a nova e provável eleição no país.

A incerteza provoca medo, mesmo que materialmente agora a Grécia seja um problema um tanto menor.

Os donos do dinheiro grosso estão desconfiados de que a vitória dos socialistas na França vai colocar água no pacto europeu contra dívidas e deficit de governos. Não deve acontecer grande coisa, mas o fato de a finança mundial voltar à retranca, segurando dinheiro, cobrando mais por ele, pode ser a gota d'água fatal para quem já está com água pelo nariz. Mesmo que não seja, está "todo mundo" (com dinheiro grande) pensando nisso.

O medo retrai os donos do dinheiro, o que provoca mais medo -há uma bolinha de neve rolando por esses dias.

Pode haver "solução feliz" para o medo do mercado diante da reação das urnas? Isto é, uma solução que combine retomada relevante do gasto e investimento público na Europa sem retaliação da finança? Sabe-se lá, mas os entendidos dizem que isso seria viável apenas se os governos europeus "à esquerda" (França) e/ou desesperados (Espanha, Itália) oferecessem "reformas" de peso.

Isto é, mudanças no sistema de previdência, desmonte das leis trabalhistas, capitalização dos bancos europeus mortos-vivos. Vai acontecer? Os socialistas franceses desmanchando o Estado de Bem-Estar Social? Uhm.

Dê no que der, há combustível para pelo menos uns dois meses de tumulto: haverá cúpulas europeias, eleição parlamentar na França, talvez nova eleição na Grécia. Talvez a virada greco-francesa estimule mais protestos em outros países. Isso já dá pano para manga. E molho para bancos e empresas daqui colocarem suas barbas.

Dilema - ALEXANDRE SCHWARTSMAN

FOLHA DE SP - 09/05/12


Cada unidade exportada pelo Brasil em 2011 podia comprar 34% a mais do que em 2001


Leitor voraz de jornais, deparei-me há uns dias com a declaração de uma figura do alto escalão econômico do país comemorando a queda do preço das commodities, que, segundo ele, abriria espaço para a redução adicional da taxa de juros.

Achei curiosa a celebração, pois, sendo o país um produtor e exportador de commodities, certa dose de masoquismo parece ser necessária para entender tamanha satisfação.
Com efeito, qualquer um que tenha acompanhado o desempenho econômico do Brasil nos últimos anos deveria ter em mente o papel central que a elevação do preço internacional das commodities desempenhou de 2001 para cá.

Entre 2001 e 2011, os preços de commodities em dólares (medidos pelo índice CRB) aumentaram 77%, já descontada a inflação (medida pelos preços ao produtor nos EUA).

Não por acaso, os preços médios das exportações brasileiras cresceram 86% acima da inflação no mesmo período, superando amplamente a elevação dos preços de produtos importados (38%).
Assim, cada unidade exportada pelo Brasil em 2011 podia comprar 34% a mais do que em 2001.
Dado que a quantidade exportada cresceu 75% nesse período, nosso poder de compra externo aumentou nada menos do que 135%, permitindo uma elevação considerável das importações sem piora das contas externas. De fato, o deficit externo, que equivalia a 4,5% do PIB (40% das exportações) em 2001, caiu para 2,1% do PIB (20% das exportações) em 2011.

Segundo minhas estimativas, essa melhora trouxe um ganho ao país da ordem de US$ 60 bilhões no ano passado, ou seja, 2,4% do PIB.

Na prática, permitiu que a demanda interna crescesse sistematicamente acima da produção local (algo como um ponto percentual por ano nos últimos seis anos), sendo a diferença coberta por maiores importações, pagas principalmente pelo aumento do poder de compra das exportações. Não há como exagerar o papel das commodities nessa história.

Todavia, tais preços vêm caindo desde o terceiro trimestre de 2011, trazendo consigo os preços das exportações nacionais e revertendo (parcialmente) o fenômeno observado até então. No primeiro trimestre deste ano, cada unidade exportada podia comprar cerca de 6% a menos do que no terceiro trimestre do ano passado.

Por causa disso, de janeiro a março deste ano as exportações atingiram cerca de US$ 4,5 bilhões menos do que poderiam ter alcançado caso os preços não houvessem caído, pouco menos de 1% do PIB.

Sem queda adicional de preços, estimo que as perdas podem chegar à casa de US$ 25 bilhões no ano, já descontado o efeito dos menores preços de produtos importados.

Como houve redução adicional, contudo, esse valor representa hoje a estimativa mínima para a perda associada à queda de preços de commodities.

À luz do descrito acima, não é difícil entender a relação estreita entre esses preços e o desempenho da moeda. Tipicamente o real se aprecia quando os preços de commodities sobem e perde valor quando o contrário ocorre, impedindo que seu aumento (ou queda) se traduza integralmente para os preços em reais e, portanto, mitigando seu efeito sobre a inflação doméstica.

Entretanto, a intervenção pesada sobre a taxa de câmbio tem limitado esse mecanismo amortecedor.
Enquanto os preços das commodities em dólares caíram 9% entre o terceiro trimestre do ano passado e abril de 2012, esses preços medidos em reais aumentaram 3% no mesmo intervalo (6% nos últimos dois meses), de onde se torna difícil ver sua propalada contribuição à queda da inflação.
Por outro lado, a queda na capacidade de importar também reduz o papel das commodities no sentido de manter baixos os preços de produtos manufaturados.

Em suma, celebrar a queda do preço de commodities me parece um exercício em masoquismo econômico ou então um desconhecimento alarmante do processo que vitaminou nosso crescimento nos últimos anos.

Não saberia dizer qual é a pior alternativa.

O retorno do retorno - ANTONIO PRATA

FOLHA DE SP - 09/05/12


De todos os germes de loucura que um dia possam brotar, há um que tem me incomodado bastante



Todos sabem que a barreira entre a sanidade e a loucura é mais fina do que Magipack: uma esticadinha, uma alfinetada e, pronto, nosso sarapatel de caraminholas pode entornar sobre a reluzente fórmica da consciência. Convenhamos, se fosse possível filmar o que passa por sua cabeça numa mera ida à padaria, você seria amarrado a uma camisa de força antes mesmo de conseguir comer um pão na chapa, tantas seriam as sandices sem nexo -e, pior ainda, as com nexo- projetadas na tela do pensamento.

De todos os germes de loucura que, temo, um dia possam brotar, há um que tem me incomodado bastante ultimamente. Trata-se de uma loucura antiga que agora resolveu me visitar de roupa nova. A loucura antiga, que me acompanha desde que me conheço por gente -desde, portanto, que me desconheço-, é a seguinte. Estou numa estrada. Avisto uma placa de retorno. Meu medo é pegar esse retorno, fazer o oito no viaduto sobre a estrada e, do lado de lá, entrar novamente no retorno para o sentido em que eu vinha. Chegando ao ponto de partida, mais uma vez, pegaria o retorno, e ficaria preso nesse circuito de autorama até acabar a gasolina, até, quem sabe, ser parado pela polícia com tiros no pneu -mas quem garante que, então, não seguiria a pé, fazendo sempre o mesmo caminho, entregue à satisfação infantil da repetição?

A versão atual da fantasia tem o mesmo conteúdo, mas o cenário não é mais uma estrada, e sim as redes sociais e o e-mail. Estou no meio de um texto e ouço o bipe de chegada de mensagem. É a placa de retorno, acenando-me, a chamada para que eu saia da rota. Assim faço: minimizo o Word e abro o Outlook. Se eu logo voltasse ao trabalho, estaria tudo certo, mas não: decido pegar um outro desvio e abro o Facebook. Não satisfeito, entro no Twitter. Então, quando estou indo pro Word novamente, penso: por que não abrir o e-mail, só mais uma vez?

Só mais uma vez? Será? Quem garante que, terminado o segundo passeio pelo circuito, eu não vá recomeçá-lo? E re-recomeçá-lo? E re-re-recomeçá-lo? Como saber se eu conseguirei sair dessa montanha-russa do diabo, dessa inútil roda de ratinho de laboratório? Há dias em que passo 30, 40 minutos indo de um programa pro outro, como uma bola de pinball sendo ricocheteada pelos pinos e barras coloridas da máquina.

Alguns anos atrás, no metrô, vi um cara atravessar a estação tocando todos os cartazes de publicidade com o indicador da mão direita. Quando chegou ao fim, parou, virou-se e percebi em seus olhos vidrados o desespero do abismo. Era a placa de retorno que ele encarava. Respirou fundo, como se prestes a encarar uma missão enfadonha, mas incontornável, e cruzou a estação no sentido contrário, tocando as mesmas placas com o indicador esquerdo.

Acho que meu Magipack ainda está em boas condições, mas não custa deixar o aviso: por favor, Andressa, Lívia, Denise, Daniela e Adriano, se um dia minha crônica não chegar ao jornal, contatem um parente, peçam para um vizinho atirar garrafas de água mineral e maçãs pela janela do escritório, para o zelador cortar minha luz. Há grandes chances de que eu esteja preso no retorno do retorno do retorno do retorno do retorno...

Juros: a batalha das expectativas - CRISTIANO ROMERO


Valor Econômico - 09/05/12


Não se viu, na história recente do país, esforço tão grande de um governo, quanto o que faz agora o da presidente Dilma Rousseff, para reduzir as taxas de juros básica e bancárias. O momento, aparentemente, permite ousadias ou, como declarou há alguns dias o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, "não há razão para o Brasil não testar taxas de juros mais baixas".

A razão para acreditar nisso está tanto na conjuntura da economia mundial quanto na da brasileira, que tornam o ambiente menos inflacionário. No caso da primeira, o que se vê é um baixo desempenho nas economias da Europa, com recessão em alguns países; recuperação fraca nos Estados Unidos; e desaceleração na China, hoje o segundo maior PIB do planeta.

No Brasil, a despeito de a demanda das famílias permanecer aquecida, a economia como um todo segue fraca. Apesar de todos os estímulos dados pelo governo, a produção industrial parece não sair do lugar. Em março, segundo o IBGE, caiu em todas as medidas de comparação - sobre o mês anterior (queda de 0,5%), sobre março de 2011 (-2,1%), no acumulado de 2012 (-3%), em 12 meses (-1,1%) e na média móvel trimestral (-0,3%).

Desafio é convencer agentes de que BC está no caminho certo

A confiança dos industriais, de acordo com a última sondagem feita pela FGV, tem aumentado, mas de forma muito lenta. Caiu 12,1 pontos percentuais entre dezembro de 2010 e outubro do ano passado e, de lá para cá, recuperou apenas 2,6 pontos. Uma boa parcela dos empresários informa que ainda está desovando estoques acumulados ao longo do exuberante ano de 2010.

Enquanto esse processo de correção de estoques não terminar, é bem provável que a indústria continue sem apetite para fazer novos investimentos. Os dados da produção industrial são claros e refletem esse sentimento: os itens que mais caíram no ano (até março) foram bens de capital (máquinas e equipamentos) - recuo de 11,4% em relação ao mesmo período de 2011 - e bens de consumo duráveis (-11,6%).

É razoável acreditar que a indústria brasileira, mesmo diante de um mercado de trabalho aquecido, da renda do trabalhador em alta e da queda dos juros promovida pelo BC e agora também por alguns bancos, esteja temerosa por causa do cenário internacional adverso, afinal, o Brasil não é uma ilha. O próprio Banco Central advertiu, em agosto, que o impacto da crise mundial no PIB brasileiro seria equivalente a, no mínimo, 25% do que teve a turbulência de 2008 - uma subtração de pelo menos 0,5 ponto percentual de crescimento no espaço de 12 a 18 meses.

O comércio varejista, por sua vez, segue crescendo a taxas elevadas. Os dados de fevereiro mostram alta de 9,6% sobre o mesmo mês de 2011; alta de 8,7% no acumulado do ano e de 6,7% em 12 meses. O que favorece esse desempenho é a renda do trabalhador, que continua avançando em ritmo forte, em parte por causa do salário mínimo, que aumentou 14,13% em janeiro, beneficiando cerca de 48 milhões de pessoas.

O espaço entre oferta da indústria e demanda tem sido ocupado pelas importações. Se isso preocupa o produtor nacional e é natural que seja assim, por outro lado ajuda o BC a inflação. Ademais, os preços das commodities, que inflacionaram a economia brasileira no fim de 2010 e no início de 2011, estão em queda. Não se avista no horizonte, pelo menos não por ora, pressão inflacionária relevante.

Todo esse quadro levou o governo a apostar todas as fichas na redução dos juros. Já há em Brasília quem acredite que o BC reduzirá a taxa básica (Selic) para menos de 8% ao ano até dezembro - hoje, está em 9%. Juros tão baixos para a tradição brasileira provocam inflação, acreditam muitos analistas. Reside, aí, o grande desafio do governo, particularmente do Banco Central.

Como o regime de metas para inflação não foi abolido, em tese nada impede que o BC volte aumentar juros no futuro próximo, caso o IPCA suba em algum momento. Além disso, apesar das mudanças no cálculo da poupança, alguns dos constrangimentos que impediam a queda da Selic, como a existência de um volume considerável de crédito direcionado, continuam presentes. Isso explica a desconfiança do mercado, refletida nas expectativas de inflação para 2012 e 2013. Elas vêm se deteriorando nas últimas semanas - neste momento, estão, respectivamente, em 5,12% e 5,56%.

Expectativas não são meras opiniões. São um componente importante da inflação. Para que a estratégia de redução dos juros seja bem-sucedida, governo e BC terão que convencer o mercado de que o caminho escolhido é consistente e o mais adequado ao país neste momento, e não resultado de um desejo político de baixar os juros na marra e forçar o crescimento da economia a qualquer preço, mesmo que às custas de uma inflação superior à meta de 4,5%. Se as expectativas não melhorarem, a inflação tende a aumentar, o que colocará em risco a estratégia de uma redução mais acelerada dos juros.

A presidente Dilma está consciente da necessidade de um melhor gerenciamento das expectativas. O governo acredita que está diante de uma batalha de comunicação, em três fases. Na primeira, a presidente atacou o que considera a "frente popular". Fez pronunciamento à nação em horário nobre da TV, um dia antes das celebrações do 1 de Maio, sobre a necessidade de queda dos juros. Com isso, abriu caminho para o movimento seguinte - a mudança da forma de cálculo da poupança, uma medida necessária para a Selic continuar caindo.

A fase 2 foi uma ofensiva de imprensa das duas principais autoridades do Ministério da Fazenda - o ministro Guido Mantega e o secretário-executivo Nelson Barbosa - para esclarecer as alterações da poupança. A fase 3 são campanhas publicitárias promovidas pelo Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal, exemplo que deve ser seguido por pelo menos dois grandes bancos privados - Bradesco e Itaú -, segundo informação recebida pela presidente na quinta-feira passada.

Naquele dia, Dilma ouviu de três banqueiros - Pedro Moreira Salles (Itaú Unibanco), André Esteves (BTG Pactual) e Luiz Carlos Trabuco Cappi (Bradesco) - que há espaço para baixar juros. A presidente quer, agora, que o BC atue no mercado para melhorar as expectativas dos agentes econômicos.

Pede Pitanga! - TUTTY VASQUES

O ESTADÃO - 09/05/12

Se fosse um Fábio Feldmann, uma Marina Silva ou qualquer outra espécie rara de ambientalista respeitável que pedisse com jeitinho a Dilma o obséquio de vetar o Código Florestal, não creio que isso pudesse influenciar a decisão soberana da presidente.
Pela mesma razão que qualquer apelo gentil formulado por Ronaldo Caiado, Kátia Abreu ou Blairo Maggi a favor da sanção integral do texto aprovado no Congresso também não sensibilizaria o Palácio do Planalto, que conhece bem os prós e contras da matéria.
Dilma tem ainda uns 15 dias para se posicionar no cabo de guerra entre ecologistas e ruralistas, mas para muita gente que até outro dia não tinha opinião clara a respeito, o desejo de Camila Pitanga pelo veto da presidente foi o fiel da balança.
Aquele "veta, Dilma!" sussurrado pela atriz cheia de cuidados com a quebra de protocolo na cerimônia que a aproximou da presidente seduziu grande parte dos indecisos sobre o novo Código Florestal.
Desde então, Camila tem sido aplaudida por onde passa, virou musa da floresta! Os mais excitados com seu jeito carinhoso de fazer política já falam no nome dela para a Presidência em 2014.
Se ela pedir seu voto, você também dá?

Ausências justificadasLula não vai à posse de François Hollande na semana que vem em Paris! Disse ao amigo Sérgio Cabral que não quer que depois digam que deu apoio ao FH francês! O governador também declinou do convite para não dar margem a comentários maldosos sobre suas viagens ao exterior a serviço.

Outra pessoaQue diabos o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, tomou antes de entrar na reunião de ontem com o pessoal da Fifa em Zurique? Não aparentava tanta animação desde a vitória da Revolução Russa de 1917!

ProvocaçãoMano Menezes não é macho suficiente para deixar o Ramires, do Chelsea, fora da seleção que vai convocar na sexta-feira! Só se fala disso na CBF!

Pré-coiceDiálogo filho de uma égua entre a Federação dos Bancos e o governo Dilma sobre a pressão oficial para a redução dos juros:
- Você pode levar um cavalo até a beira do rio, mas não pode obrigá-lo a beber água!
- Você não pode obrigar um cavalo a beber água, mas ele também não pode morrer de sede!

Ideologia fúcsiaO Partido Comunista voltou à legalidade no Paraguai com sua tradicional bandeira vermelha tingida de fúcsia, tom de cor-de-rosa bem forte e levemente purpúreo. Cá pra nós, parece coisa de partido gay falsificado, né não?!

O tempo voaRubinho Barrichello já planeja o futuro na Fórmula Indy! Calcula que "mais uns 5 mil dias" estará no mesmo nível de Tony Kanaan. Passa rápido!

EsclarecimentoQue fique bem claro o seguinte: apoio de Tripoli a Serra é uma coisa; ajuda de Kadafi a Sarkozy, outra, ok?

Às três e meia da tarde - MARTHA MEDEIROS

ZERO HORA - 09/05/12


Eu trabalhava num prédio comercial da Avenida Carlos Gomes, com grandes janelões para a rua. Um dia deixei minha mesa, fui até um desses janelões e fiquei espiando o intenso movimento dos carros. Eram entre três e quatro da tarde. Fiquei olhando, olhando. Mal percebi uma colega que se aproximou e também ficou olhando, olhando. Até que ela disse em voz alta exatamente aquilo que eu estava pensando: “Esse pessoal não trabalha?”.

Caímos no riso. Parecíamos duas detentas sonhando com uma liberdade longínqua. Estávamos apatetadas por ver tanta gente transitando pra lá e pra cá no meio da tarde de um dia útil, enquanto nós ficávamos trancafiadas num escritório das 8h30min ao meio-dia e das 14h às 18h30min, saindo dali apenas quando precisávamos ir a um médico ou fazer uma reunião com um cliente.

Toda aquela gente estaria também indo ao médico ou a uma reunião com o cliente?

Isso foi em outra vida, quando eu ainda era funcionária em tempo integral e o “intenso” movimento dos carros era fichinha perto da avalanche que inunda as avenidas hoje. Só que agora contribuo para essa avalanche. Há mais de 15 anos que trabalho em casa, um luxo que permite que eu saia às 10h30min para ir ao supermercado, às 14h45min para levar uma filha à aula de dança, às 17h para ir a uma livraria comprar um presente. Ou seja, sou mais uma das que “não trabalham”.

Ainda assim, acredito que muitos também se perguntem: essa turma que afunila as ruas no meio da manhã e no meio da tarde está indo para onde, vindo de que lugar? Não deveria estar dando expediente como gente normal?

São fotógrafos de moda se dirigindo a uma locação, confeiteiras entregando uma encomenda, executivos indo visitar uma irmã na maternidade, jornalistas saindo ao encontro de um entrevistado, farmacêuticos voltando do dentista, lojistas transportando roupas de uma filial para outra, publicitárias levando o filho pra tirar o gesso da perna, psicólogos que foram experimentar um terno feito sob medida para o casamento do melhor amigo, universitárias seguindo em direção ao shopping porque o professor ficou doente, chefs de cozinha indo vistoriar os preparativos do bufê de um evento corporativo, bancários dando uma carona para a namorada até o aeroporto.

Não existe mais hora do rush, nem ruas livres e transitáveis no meio da manhã e da tarde. Agora, com tanta gente facilitando o próprio ofício com tecnologia portátil, com a flexibilização de horários de trabalho e sem mais a tirania do cartão-ponto, a vida ficou mais ágil e menos monótona.

As ruas estão cheias não só porque são vendidos mais automóveis, não só porque as cidades não se planejaram para esse excessivo volume de veículos, mas também porque aprendemos a trabalhar e viver ao mesmo tempo. As ruas estão cheias porque aprendemos a trabalhar e viver ao mesmo tempo.

Tem mais coisas... - ILIMAR FRANCO


O GLOBO - 09/05/12

O Serviço de Inteligência da Polícia Federal ainda está analisando e catalogando todo o material proveniente das buscas e apreensões nas casas, nas empresas e nos escritórios dos acusados de integrar a organização do contraventor Carlos Cachoeira. Ainda estão sob sigilo dados em computadores, HDs, centenas de CDs e pen drives, fotos, documentos, agendas, cadernos, contratos... Essas provas serão remetidas nos próximos dias ao STF.

Agnelo (PT) não quer depor na CPI
Contrariado com o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, pela abertura de inquérito sobre a atuação de Carlos Cachoeira em Brasília, o governador Agnelo Queiroz (DF) também não quer depor na CPI. Seus argumentos: a Delta coleta o lixo em Brasília por decisão judicial; o preço pago à Delta é o menor do país; o grupo de Cachoeira não conseguiu nomear Paulo Abreu para a Secretaria de Limpeza Urbana; e o DFTrânsito não fez a licitação para a bilhetagem do transporte coletivo como queria o grupo Cachoeira. "Ele tentou, mas não conseguiu fazer nenhum negócio nem nomear ninguém aqui", diz Agnelo.

"Carlos Cachoeira já estava no terceiro nível do crime organizado. Começava a investir em negócios legais” — Pedro Taques, senador (PDT-MT)

TRANSPARÊNCIA. Muita polêmica no governo no debate da nova Lei de Acesso à Informação. Vários órgãos resistem à abertura total. Um deles é o Banco Central, presidido por Alexandre Tombini. O BC é contra a divulgação dos votos individuais dos integrantes do Copom, que delibera sobre juros. Hoje, a ata revela a posição vencedora. O BC avalia que tornar público os votos individuais vai expor seus diretores, que são aprovados pelo Congresso, e colocá-los na linha de tiro dos políticos.

Tietagem
Aprovado o processo por quebra de decoro contra o senador Demóstenes Torres (GO), o líder do PT, Walter Pinheiro (BA), comemorou cochichando no ouvido de Humberto Costa (PT-PE): "Você está saindo melhor que a encomenda."

Clima quente
A senadora Kátia Abreu (PSD-TO) reagiu ao voto do deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS) a favor de sessão aberta ontem na CPI. Na votação, ela protestou: "Como assim? Foi o Onix que me sugeriu o requerimento pela sessão secreta."

PPS: dois pra lá, dois pra cá...
A Executiva nacional do PPS decidiu que o partido deve sair do governo Agnelo Queiroz (PT-DF). O secretário de Justiça de Brasília, Alírio Neto, prevendo esse desfecho, já havia se licenciado do partido. Sua prioridade é executar o programa Viva a Vida Sem Drogas. O PPS teme os desdobramentos do caso Cachoeira. A despeito disso, o partido continua firme ao lado do governador Marconi Perillo (PSDB-GO).

O PSB fica
Depois de muito debate interno, o PSB decidiu manter seu apoio ao governo Agnelo. O senador Rodrigo Rollemberg (PSB) explica: "Vamos manter nossa participação crítica. Somos responsáveis, sair só agravaria a situação de Brasília."

De molho
O governador Sérgio Cabral não irá mais a Londres para o jantar de gala na Brazilian Chamber of Commerce. Ele é um dos anfitriões, junto com os Comitês dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de Londres, e do Comitê Brasileiro.

O PSDB MINEIRO decidiu brigar por uma coligação formal na chapa à releição do prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda (PSB).

O PARTIDO encomendou pesquisa ao instituto Vox Populi sobre qual o político que mais influencia o voto do eleitor. Deu o senador Aécio Neves, 55%, seguido do governador Antonio Anastasia, 12%.

O MINISTRO Fernando Pimentel (Desenvolvimento) influencia o voto de 10%. Para os tucanos, é pouco e não justifica a pressão do PT para obrigar o PSB a fazer chapa comum para a Câmara de Vereadores. 

Surrealismo & Cia - ROSÂNGELA BITTAR


Valor Econômico - 09/05/12


Para fazer o que deseja a nova entidade Collor-PT, inimaginável há 20 anos, mas produzida agora em todos os seus contornos, à luz do dia, na CPI do Cachoeira, o inquérito implodiria antes mesmo do começo dos trabalhos. A entidade quer "pegar" o procurador-geral da República, Roberto Gurgel; a imprensa - a começar da revista "Veja" - e aproveitar a oportunidade para retomar com vigor a proposta de controle da mídia; e o PSDB, na figura do governador de Goiás, Marconi Perillo. Tudo com muito sigilo, o que é contradição evidente, mas Collor certamente quer evitar o que os seus acusaram o PT de fazer com ele na CPI do PC, quando passava à imprensa e ao Ministério Público as informações que ali transitavam.

Para o que tentar escapar desse roteiro, com texto e modo de operação prontos, em que a agressividade de Collor seja bem explorada pelo PT para substituí-lo em algumas ações, a ordem é atropelar.

Tanto o presidente da CPI, Vital do Rêgo (PMDB-PB), quanto o relator, Odair Cunha (PT-RS), dificilmente, por querer ou precisão, agirão fora do jugo da entidade. Quanto mais não seja, por intimidação.

A oposição já tem um código de conduta na CPI

Mas a oposição, numérica e politicamente fragilizada, não se considera aniquilada já de saída e prefere esperar ter os dados que lhe permitam definir se dá para participar da investigação ou não. Por enquanto, não quer desistir.

Numa reunião ocorrida esta semana, os senadores Alvaro Dias (PSDB), Jarbas Vasconcelos (PMDB) e Randolfe Rodrigues (PSOL), debateram essa situação que se configurou na CPI, e o assunto que emergiu da conversa tem clareza objetiva. A CPI, constataram, pode realmente ficar incontrolável. Primeiro, é uma comissão que começa seus trabalhos ao contrário das outras, de início tomando conhecimento de inquéritos já feitos e já vazados para a imprensa. Há inquéritos concluídos e outros, não. Antes, as CPIs apresentavam sugestões de providências ao Congresso, ao Ministério Público e à Polícia Federal. Agora, a PF mandou o inquérito pronto à CPI.

Diante dessa inversão, a oposição acredita que um bom projeto de ação seria trabalhar em duas vertentes. Uma, para tentar saber a extensão do poder do Cachoeira, suas ligações com autoridades federais e estaduais, a pouco esclarecida mistura de suas atividades com as da empreiteira Delta, a relação com governadores. Outra, abrir a caixa preta da Delta. Se isto não for feito, de nada adiantará a tarefa da CPI, vez que as informações já foram prestadas à polícia nas duas operações investigadas.

Embora a Delta seja, as investigações concluídas mostram, uma expressão ponderável do PAC e de vários governos de Estado e grandes cidades, a oposição não quer, segundo diz, usar métodos do PT quando o partido era oposição. Sabem todos que há muitos outros governos envolvidos com a empreiteira além dos de Goiás, Distrito Federal e Rio, mas ponderam que, no momento em que houver transparência nos dados da empresa, será possível verificar que ela, em alguns lugares, não teve uma presença irregular, e em outros, ou até mesmo na maioria, agiu de maneira nefasta. O que é mais coerente com o que apontam as gravações de conversas divulgadas até agora.

A oposição se diz decidida a fugir do protesto juvenil, não quer de maneira alguma aproveitar a CPI para atingir a presidente Dilma ou o governo. Por isso defende que a Delta seja investigada não apenas com relação ao PAC, mas nas suas demais ações Brasil afora.

Isto significa, e a oposição defende, a convocação dos governadores dos três Estados que se relacionaram com a empreiteira, segundo as transcrições dos grampos da polícia, sejam filiados ao PSDB, ao PT e ao PMDB (como é notório). Nenhum desses partidos pode resistir à chamada a seus governadores, segundo crê a oposição. Os três têm que ser convocados, se possível juntos, para evitar que um compareça e os demais consigam licença para a ausência.

A presença do senador Fernando Collor, o que, convenhamos, já dá uma aura de surrealismo a qualquer CPI; sua associação com o PT, que lhe resgatou a cidadania política, vez que a eleitoral tinha obtido sozinho, para transformar a comissão em campo de guerra contra os inimigos comuns, e a ação intimidatória que sua conduta exerce sobre o presidente - agressividade que empalideceu Vital do Rêgo várias vezes como já havia tirado a cor de Pedro Simon em plenário - transforma aquilo em um teatro. Do absurdo. Tanto que ainda há, na CPI e ao mesmo tempo nos autos da PF, o ex-delegado Protógenes Queiroz (PCdoB), autor da célebre Operação Satiagraha, supostamente para prender e tirar do mercado o "banqueiro bandido" Daniel Dantas, mas que cometeu tamanhas irregularidades que acabou se afastando léguas da Justiça enquanto se aproximava a passos largos de um mandato. Teatro sendo, vai ser muito difícil a oposição fazer o que articula nos bastidores.

A visão negativa tem lógica, e a decisão de dar caráter sigiloso ao primeiro depoimento, ontem, é prova disso. Mas, adverte-se, está tudo muito no começo. A oposição, com algumas de suas condutas comuns a um grupo de representantes de partidos governistas, está disposta, para não ser aniquilada de início ou ver implodida a CPI, a reunir-se, debater os assuntos, juntar-se, fazer um trabalho que está definindo como "objetivo, racional, cuidadoso".

Com isso acredita poder criar pelo menos algum constrangimento, não custa experimentar, à entidade Collor-PT, para conseguir realizar alguma investigação sobre a Cachoeira-Delta. Acha cedo, porém, para avaliar o que vai apurar, se vai se sair bem ou mal. Dar em nada ou dar em tudo. Em três semanas será possível observar o desdobramento disso e concluir se o trabalho é válido.

Na CPI da corrupção, Collor e PT, agressivos, querem transferir à imprensa a condição de ré. Já Dilma Rousseff declarou guerra aos bancos privados em tom acima de uma relação polida. Corre o risco de uma inspeção nos bancos oficiais mostrar que ela não tem exemplos a dar nas instituições do governo. Prepara-se para a Rio+20 incendiando a disputa de interesses, enquanto ameaça com veto total o trabalho do Parlamento. O ar em Brasília está carregado.

Sem pai nem mãe - DORA KRAMER

O Estado de S.Paulo - 09/05/12



Tantas campanhas ditas politicamente corretas e factualmente incorretas são difundidas pela internet e repercutem fora dela que não custava nada essa massa em estado de rebeldia à deriva abraçar um bom combate.

Há várias causas à disposição de soldados efetivamente interessados no aperfeiçoamento da nossa ainda imperfeita democracia. Um exemplo? O fim do voto secreto no Congresso, ao menos para os casos de cassação de mandatos comprovadamente incompatíveis com o decoro parlamentar.

O assunto de quando em vez volta à discussão no Parlamento. Sempre que há algum escândalo envolvendo deputados e/ou senadores ou quando assistimos a alguma absolvição escandalosa.

A última, em 2011, favoreceu a deputada Jaqueline Roriz, flagrada em vídeo recebendo dinheiro de origem desconhecida pelas mãos de um conhecido frequentador - Durval Barbosa, o delator e participante do esquema que resultou na queda do então governador do DF, José Roberto Arruda - de terrenos onde a política se mistura à corrupção.

Em 2006, em meio a renúncias e absolvições de parlamentares envolvidos no escândalo do mensalão, a Câmara aprovou o fim do voto secreto. Foram 383 votos a favor, nenhum contra e quatro abstenções, em primeiro turno.

Na época houve muita animação e apoio à decisão. Mas o tempo passou, o clima de indignação arrefeceu e a coisa por ali ficou faltando completar o processo de votação na Câmara e remeter a proposta ao Senado.

Agora com o caso do senador Demóstenes Torres volta-se a debater o assunto, embora timidamente. É que a situação dele é tão grave, há tanta intolerância em relação ao disfarce de defensor da ética, são tantos os inimigos que o senador colecionou por causa desse papel e é tão inconsistente (senão inexistente) sua sustentação política, que o corporativismo dificilmente prosperará ao abrigo do voto secreto quando o processo for ao exame do plenário no Senado.

Portanto, ainda não será dessa vez que uma crise resultará em avanço e o voto secreto no Parlamento continuará servindo de salvaguarda a representantes da sociedade que não desejam dar satisfações aos seus representados.

Note-se, então, que esse assunto se inscreve entre aqueles passíveis de intervenção popular. Energia solta no ar há de sobra. Pena que em boa medida desajeitada e por isso desperdiçada.

Falta compreensão para distinguir o que realmente é importante para a melhoria do processo político daquilo que tanto serve para aplacar consciências de inocentes úteis quanto presta serviço ao (não raro remunerado) ofício da má-fé.

Roncos da reação. Há duas questões não respondidas pelas tropas de ataque à Veja: as denúncias divulgadas pela revista eram verdadeiras ou falsas? Ajudaram ou prejudicaram na elucidação de casos de corrupção?

Considerando a veracidade e o benefício (abertura de inquéritos, processos e demissões) resultante das reportagens e reveladores do compromisso com os fatos, resta a evidência de inequívoco desconforto com a vigência da liberdade de imprensa no País e o indisfarçável desejo de alguma forma de revogação da regra.

Certamente não se veem assim, mas esses grupos atuam à semelhança de setores conhecidos durante a ditadura como "bolsões radicais" contrários à retomada do Estado de Direito.

Revisão. Leitor pondera e tem razão: se Carlos Augusto Ramos é tratado na imprensa como chefe de um esquema criminoso, acusado em processo na Justiça de Goiás por diversos delitos entre os quais lavagem de dinheiro, não faz sentido nos referirmos a ele como mero "contraventor".

Ademais... É como já avisou doutor Márcio Thomaz Bastos: o homem silenciará na CPMI a fim de não se incriminar mais do que já está.

Demofobia na USP - ELIO GASPARI


FOLHA DE S.PAULO - 09/05/12


Forma uma elite que não paga o curso nem o estacionamento, mas reclama porque a choldra usa seu espaço


O REPÓRTER Reynaldo Turollo Junior informa: "Alunos e professores reclamam de dificuldade para achar vagas no campus". Motivo: com a inauguração de uma estação de metrô nas proximidades, a patuleia passou a usar as vias públicas da universidade para estacionar seus carros.
Poucas vezes a demofobia do andar de cima nacional exibiu-se com tamanha clareza. A choldra paga impostos, a USP fica com 5,04% da arrecadação do ICMS e neste ano receberá R$ 3,9 bilhões da Viúva; seus cursos, bem como o estacionamento, são gratuitos; 72% dos alunos vêm de escolas privadas, e só 10% são negros ou pardos. (Harvard está na marca de 11,8%.)
O retorno filantrópico de seus diplomados é vergonhosamente desprezível, mas é ali que se forma um bom pedaço da elite nacional. (Em 2009, com crise e tudo, ex-alunos de Harvard doaram US$ 602 milhões para a escola.) As reclamações contra o uso do espaço da USP pela escumalha mostram que tipo de elite se produz por lá.
Quando se fala em cobrar anuidades aos alunos que podem pagar, denuncia-se a proposta como elitista. Tudo bem. Nesse caso, poderiam cobrar o estacionamento. Nem isso.
Agora sabe-se que não só esse pessoal quer tudo de graça como reclama quando a escumalha estaciona os carros na sua sesmaria. Um sujeito que paga R$ 2.000 mensais para manter o filho numa universidade privada tem contestado o seu direito de parar o carro no espaço de uma universidade pública gratuita.
Nas cercanias da estação de metrô, o estacionamento custa R$ 30. Estimando-se que estacionem no campus 2.000 carros por dia, a universidade arrecadaria R$ 1,2 milhão por mês cobrando pelo conforto. Enquanto a USP esteve nos arrabaldes da cidade, seria impróprio cobrar, mas agora que há uma estação de metrô nas proximidades, a gratuidade é inexplicável.
É absurdo querer impedir que os demais contribuintes usem esse espaço público. A Universidade Columbia ficava no coração de Nova York e em 1893 foi para os confins da cidade. Há mais de cem anos, seus alunos e professores usam o metrô.
Cadê o espaço de estacionamento gratuito exclusivo para alunos de Harvard? Há um edifício-garagem, onde a vaga sai por US$ 247 mensais. Há ainda cinco estacionamentos, a US$ 123 mensais. Quem quiser parar na rua paga à prefeitura.
No primeiro ano da graduação, os alunos de Harvard vivem obrigatoriamente em dormitórios dentro do campus. Depois disso, quem quer, anda, quem precisa, usa o metrô.
A anuidade de Harvard é paga (US$ 41 mil por ano, mais US$ 13 mil pela hospedagem e refeições.) O processo de admissão é cego, não leva em conta a situação financeira do aluno. Se a sua família tem renda inferior a US$ 65 mil anuais, o estudante paga zero e ganha uma bolsa para sua manutenção.
(Um brasileiro de Campo Grande, RJ, foi beneficiado com uma bolsa de US$ 63 mil, que incluiu seguro-saúde e despesas de viagem.) Se a renda familiar vai até US$ 150 mil, pagará até 10% do que a escola cobra.
Nos fundos da USP, existe a favela São Remo, formada na década de 50, onde vivem 5.600 pessoas, com 60% de vias pavimentadas e 40% iluminadas. Em março, a reitoria da USP informou que estuda uma ação urbanística na área. Que tipo de ação, não disse, pois seria "precoce". Na ocasião, 200 estudantes protestaram contra a possibilidade de remoção de moradores.

Ueba! Sônia Abrão não vazou! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 09/05/12


Olha este motel no bairro Orlenas, em Curitiba: "Motel Hot Chillis. Entrada pelos fundos". Rarará!

BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!
Alerta aos Brasileiros! Olha a agenda do Mantega: hoje, às 16h, reunião com a princesa Máxima dos Países Baixos! Quero ver como vai ficar a poupança depois dessa reunião. Ela é Máxima, mas os Países são Baixos. Mantega nos Países Baixos! Rarará!
E tô adorando o nome do programa do Datena: "Quem Fica em Pé!". Porque no "Brasil Urgente" ninguém fica em pé. Todo mundo baleado!
E manchete do Sensacionalista: "Sônia Abrão quer processar hacker que roubou suas fotos íntimas e deletou tudo em menos de um minuto". O laptop da Sônia Abrão se suicidou! Rarará!
E esta: "Ministro do Supremo manda soltar a nata do bicho". Bicheiro é preso ioiô. Prende, solta, prende. É tanto vai e vem que eles vão acabar presos no trânsito. Presos no engarrafamento. Bicheiros presos no engarrafamento. Eles vão ganhar Milhagem Camburão! O bicho tá solto!
E adoro esta expressão: nata do bicho. Imagine o fundo da xícara! Rarará! E olha o que um cara escreveu no meu Twitter: "Eu odeio os dois, Gustavo Lima e Você!".
E a CPI do Cachoeira? Adorei a charge do Mariano com a Dilma falando pro faxineiro da CPI: "Quando terminar aí, você enxuga tudo direitinho, viu, meu filho". E o Demóstenes tem dois problemas: ético e estético!
E esta: "Maranhão tem 26 maternidades com nome Sarney". Também, pra nascer aquela parentada toda. E em São Luís é assim: você pega a avenida José Sarney, passa pela ponte Roseana Sarney, dobra na maternidade dona Kyola Sarney e vira a direita na escola Marly Sarney. E quem nasce na maternidade Kyola Sarney é o que? Puxa saco, mesmo! Rarará!
É mole? É mole, mas sobe!
O Brasil é Lúdico! Olha este motel no bairro Orlenas, em Curitiba: "Motel Hot Chillis. Entrada pelos fundos". Planejamento familiar! Incentivo ao planejamento familiar!
E em Natal tem o Motel Azzarô. E em frente uma placa: "O melhor frango assado de Natal". Rarará! É verdade! Eu tenho a foto!
E em Manaus tem um campo de futebol chamado Arranca Dedo! E em Belém do Pará tem um inferninho chamado Pau do Urubu! Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

Gigantes e destinos - ROBERTO DaMATTA


O Estado de S.Paulo - 09/05/12


Eu tive um amigo que odiava ser alto e louro. Tinha horror ao seu tamanho que, naquela época, quando éramos todos magros e nanicos, o destacava da massa de moreninhos encurtados. Esse gigantismo criava expectativas sobre ele e, pior que isso, despertava uma curiosidade muitas vezes agressiva. Era americano? Inglês? Alemão? Russo? Sueco? Perguntaram-lhe uma vez numa cidade onde não havia gente alta e loura. "Sou descendente de italianos", respondeu com voz calma o amigo constrangido. Visivelmente aborrecido, pois havia italianos em toda parte, o perguntador arrematou: "Itália, Inglaterra, França, Alemanha é tudo a mesma merda!" E voltou à mesa onde bebericava sua vigésima cerveja.

O olhar do meu amigo dizia: "Tá vendo como é chato ser grande?"

* * * *

Confesso que jamais tinha pensado nesse ônus do gigantismo ou da grandeza. E com isso fui ao Titanic que, neste último dia 10 de abril fez 100 anos de tragédia, justamente porque era um navio "tamanho família" - um Titanic: um titã do mar. Uma obra de navegação marítima que, em 1912, representava o máximo da tecnologia moderna aplicada ao movimento e à mobilidade. Essas coisas que fizeram das viagens, das descobertas, das fronteiras e do contato com o outro o apanágio, senão o centro da nossa ideologia.

Mas no caso do Titanic, o dia 10 de abril representou um caso raríssimo de ser a sua virginal e última viagem. Ora, essa reunião nua e crua da primeira com a última vez, esse acidente que a crença no utilitarismo tecnológico, com sua racionalidade aplicada, iria resolver de uma vez por todas como então e ainda hoje supomos foi desmentida. Daí o gigantismo da frustração transformada em tragédia quando o Titanic bateu inesperadamente num mero trivial e, naquelas águas, natural iceberg.

Era um navio gigante e, como tal, seu infortúnio chama atenção pelas associações negativas do gigantismo. Porque de certo modo nada pode ocorrer com os grandes. O gigante (como o pigmeu) é uma medida perfeita da alteridade e das alternativas a modos de ser e fazer habituais, conduzindo imediatamente a comparação e a dúvida. Serão normais? Serão mesmo humanos como nós? A excepcionalidade conferida ao que não se destaca como diferente tem de ser controlada.

Meu amigo não queria ser um titã, como o Titanic. Vale lembrar ao leitor, entupido de informação inútil, que os titãs eram gigantes e, na mitologia romana, tentaram escalar o céu para destronar, como ainda ocorre em nossos dias, Júpiter, o pai.

No Brasil, onde tudo que é estrangeiro já nasce com o sinal positivo do gênio, fiquei um tanto surpreendido com a nossa distância da tragédia do Titanic. Penso que o noticiário sobre o centenário da tragédia se resumiu em anunciar o relançamento do filme de James Cameron em 3D.

* * * *

Quanto maior o gigante, maior o tombo. O ideal de Babel de chegar ao céu sem sair da terra, unindo este mundo com os outros, é uma velha (e permanente) aspiração humana. Se hoje somos pequenos, feios e fracos, em tempos idos fomos grandes, belos e fortes. Se hoje trabalhamos mais do que burros de carga, vivíamos num mundo de fartura e lazer. Éramos também imortais, até que - num momento específico - alguém (geralmente um ser ambíguo ou inferior - um tipo fora do comum e do lugar como as mulheres num mundo centrado no masculino; os inteligentes num universo de burros; um gordo num mundo de magros; ou um estrangeiro num mundo autocentrado) desobedeceu, errou, esqueceu, não cumpriu uma ordem ou errou o caminho.

* * * *

De tudo o que li sobre o Titanic, destaco o ensaio jornalístico escrito por Daniel Mendelsohn publicado na New Yorker (de 16 de abril do corrente), no qual ele faz um apanhado dos fatos ligados ao Titanic e desenha com grande sensibilidade o desafio que até hoje temos quando enfrentamos a trivialidade do inesperado, agenciado por esse grande inimigo da modernidade e do iluminismo: o acidente e o não previsto. O que surge, como os pesadelos e os sonhos maravilhosos, quando dormimos; os pensamentos invasivos que nos levam a contradições inafiançáveis; o amor apaixonado que nos faz desprezar mandamentos; a ambição que nos conduz ao antiético e ao crime.

No ensaio de Mendelsohn eu aprendi que o navio inafundável que, não obstante, afundou, era de fato a maior metáfora do mundo moderno. Foi quando pensei na figura do Brasil como um gigante. E, com essa imagem, levei um susto. Pois, no nosso hino nacional, somos um gigante adormecido. Eis, pensei, exagerando como sempre faço, um país Titanic que, adormecido por sua própria autopercepção, ronca solenemente diante da solerte roubalheira que impede o seu salto para uma vida social mais justa.

Pois tal como o Titanic, somos grandes, mas ainda continuamos a ter gente na primeira, segunda e terceira classe. Ademais, temos poucos botes salva-vidas. Mais: resistimos em conceber um navio com menos diferenças e no qual, como ocorreu no Titanic, muitos morreram por valores como a honra profissional devida ao papel que ocupavam (o capitão afunda com o navio!) Quando em 1912 o Titanic afundou, a pusilanimidade não era ainda parte da estrutura daquele mundo hoje desossado pelo capitalismo financeiro e pela mentira como dimensão crítica da vida. Essa mentira sistêmica que desonra os nossos administradores públicos fascinados pela viagem no poder e não pelo poder como viagem.

GOSTOSA


Objeto determinado - VERA MAGALHÃES - PAINEL


FOLHA DE SP - 09/05/12


O PT decidiu investir todas as fichas em transformar a CPI criada para apurar as relações de Carlinhos Cachoeira com autoridades de várias instâncias numa investigação sobre a imprensa. A estratégia, antes discreta, se intensificou após reunião de petistas ontem.

No depoimento secreto do delegado Raul Alexandre Sousa, que conduziu a Operação Vegas, as perguntas de petistas e aliados se concentraram nas ligações de Cachoeira com jornalistas. Sousa disse que, após longa investigação, a Polícia Federal não verificou nada de impróprio nessas relações nem viu razões de indiciar jornalistas ou investigar órgãos de imprensa.

QG A reunião em que petistas e aliados decidiram concentrar o foco na imprensa foi feita na liderança do PT no Senado. Um senador petista saiu externando o espírito reinante: "Se a mídia quer guerra, vai ter guerra".

Soldados A tropa de choque anti-imprensa na sessão secreta de ontem foi composta pelos senadores Fernando Collor (PTB-AL) e Humberto Costa (PT-PE) e pelos deputados Luiz Sérgio (PT-RJ), Doutor Rosinha (PT-PR) e Protógenes Queiroz (PC do B-SP).

Tiete Às voltas com o processo do senador Demóstenes Torres, o advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, brincou que defender a atriz Carolina Dieckmann, que teve fotos divulgadas na internet sem autorização, é mais leve e que aproveitou para pedir autógrafo.

Elo 1 A TerraCap, do governo do DF, mantém contrato com a agência de publicidade Pla, da família de Marcello de Oliveira Lopes, homem de confiança de Claudio Monteiro, ex-chefe de gabinete de Agnelo Queiroz (PT).

Elo 2 O contrato com a Pla, de R$ 13,5 milhões, foi firmado em 2009 e renovado em 2011. A PF aponta que Marcellão, como é conhecido, pediu para o grupo de Cachoeira ajudar em negócios com os governos do DF e do Rio.

Chiadeira... Parlamentares da base aliada se reuniram ontem para discutir a dança das cadeiras promovida pela presidente Dilma Rousseff e pela presidente da Petrobras, Graça Foster, na estatal. O PP, que perdeu o diretor de Abastecimento Paulo Roberto, relatou que foi pego de surpresa.

... geral... Já o PT afirma que Lula havia dado garantias de que o substituto de Renato Duque na Diretoria de Serviços seria Roberto Gonçalves. Mas Dilma e Graça optaram por Richard Olm.

..e irrestrita O PMDB, que perderá o diretor da área internacional, Jorge Zelada, foi avisado de que poderá indicar o substituto para a vaga. Mas já está ciente de que a diretoria será esvaziada. O partido ainda teme perder o comando da Transpetro.

Tô fora Após conversa com o secretário-geral do PR, Valdemar da Costa Neto (SP), o ex-presidente Lula mandou emissários do PT procurarem a direção nacional do partido aliado para discutir apoio a Fernando Haddad.

Voz de fora Valdemar deu sinais de que, para o PR, é mais fácil apoiar o PMDB ou o PSDB em São Paulo. Mas Lula tem orientado o PT a negociar com o ex-ministro Alfredo Nascimento, que deve ter a palavra final sobre alianças do PR nas capitais.

Visita à Folha Gilberto Kassab (PSD), prefeito de São Paulo, visitou ontem a Folha, a convite do jornal, onde foi recebido em almoço. Estava acompanhado de Emerson Figueiredo, Flávio Mello e Sérgio Rondino, assessores de imprensa.

com FÁBIO ZAMBELI e ANDRÉIA SADI

tiroteio

"Um dos princípios do funcionamento do Congresso deve ser a publicidade de seus atos. Sessão secreta de uma CPI em que fatos são conhecidos vai contra esse fundamento."

DO SENADOR RANDOLFE RODRIGUES (PSOL-AP), sobre a decisão da comissão que investiga as relações do empresário Carlinhos Cachoeira com empresas e autoridades de ouvir em oitiva fechada delegados e procuradores do caso.

contraponto

O novo sexo frágil

Durante solenidade de posse de três reitoras de universidades federais, o secretário do Ensino Superior do MEC, Amaro Lins, iniciou o discurso se dizendo impressionado com a "coincidência" de, numa única vez, três mulheres assumirem o cargo mais alto nas instituições.

-Vai se acostumando, disse o ministro da Educação, Aloizio Mercadante.

Lembrando a ascensão das mulheres também na política, com Dilma Rousseff na Presidência, emendou:

-Daqui a pouco vamos precisar de cota para homens!

O segredo como patologia - FERNANDO RODRIGUES


FOLHA DE SP - 09/05/12


BRASÍLIA - Às vésperas da entrada em vigor da Lei de Acesso à Informação, no próximo dia 16, a CPI do Cachoeira protagonizou ontem uma cena que se encaixaria à perfeição num filme do grupo de humor britânico Monty Python: uma sessão secreta (sic) na qual estavam presentes cerca de 50 pessoas, entre congressistas e servidores.
Em regra, não deve haver segredo no Congresso. É a "Casa do Povo". Na prática, querer manter em sigilo uma reunião com 50 participantes é tarefa inglória, patética ou as duas coisas juntas. Em CPIs anteriores era comum um deputado ou um senador deixar seu celular ligado e captando tudo para repórteres que ficavam do lado de fora.
Ontem, no início da sessão dita secreta, houve uma tentativa de obrigar todos os presentes a deixar seus celulares do lado de fora da sala. A exigência não vingou.
O depoente foi o delegado da Polícia Federal Raul Alexandre Marques Souza. Ele comandou a chamada Operação Vegas, que precedeu e deu origem à Operação Monte Carlo. Ambas desvendaram o esquema de negócios comandado por Carlos Cachoeira, raiz da CPI.
Antes de serem entregues ao Congresso, documentos dessas operações vazaram copiosamente para a mídia. O delegado Raul, por dever de ofício, já colocou tudo o que sabe em seu relatório. A CPI tem acesso a esses documentos -bem como qualquer cidadão com alguma habilidade em navegar pela internet.
Nada além de uma obsessão patológica pelo sigilo justifica o depoimento secreto de ontem. Da mesma forma, é ilógico impedir cada integrante da CPI de ter uma cópia da documentação sobre o escândalo. Só assim todos teriam como formar convicção sobre o que se passou.
Ao perder tempo sendo bedel de deputados e de senadores, o comando da CPI desacelera o ritmo da investigação. Por tabela, ajuda quem deveria ser punido com rapidez.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO


FOLHA DE SP - 09/05/12


Companhias de turismo unificam operações

As empresas de turismo Agaxtur e Ancoradouro assinam contrato para formar um "consórcio de operação".

O acordo corresponde à união total de suas partes operacionais, segundo Juarez Cintra, presidente da Ancoradouro, que tem forte participação no interior de São Paulo.

"Vamos unir equipes operacionais. O pessoal responsável por montar os pacotes será o mesmo", diz Cintra.

A ideia, segundo o empresário, é somar os volumes de ambas para conseguir melhores negociações com fornecedores. "Para o nosso fornecedor muda muito. Para negociar com uma rede de hotel, a nossa escala será maior."

Haverá também um investimento tecnológico conjunto para dar suporte à integração.

"A equipe de vendas não se une, ou seja, continuamos concorrendo. Os atendimentos e as marcas continuam separados", diz Cintra.

Não houve troca acionária, segundo Aldo Leone Filho, presidente da Agaxtur. Mas o contrato será renovado em 24 meses. "Não estamos fazendo fusão. Mas, se der certo, algum tipo de sociedade pode acontecer no futuro."

Cintra confirma que o início da conversa com Filho partiu de reuniões em que estavam envolvidas outras empresas do setor.

"Mas o diálogo foi para o lado de fusão. Não queríamos isso", afirma Filho.

Não haverá problemas de concentração de mercado, segundo os empresários, pois o setor ainda é pulverizado.

REFLEXO EUROPEU

A crise da Europa afetou cerca de 60% das empresas da região de Campinas em diferentes escalas. É o que mostra uma pesquisa feita pela Quorum Brasil.

A maioria das empresas ouvidas não acredita em novas crises neste ano. Para os próximos três, segundo o estudo, a expectativa é de otimismo moderado e o mercado interno será o foco dessas companhias.

Na média geral, 3% afirmaram que seu foco é crescer muito no período, 35% citaram crescer e 62% manter.

Para os entrevistados, no interior do Estado, há mais proximidade com clientes e fornecedores, além de mais qualidade de vida e mão de obra mais qualificada.

Energia... O executivo Max Xavier é o CEO da Queiroz Galvão Energias Renováveis, nova área de negócios do grupo Queiroz Galvão, que começou a funcionar nesta semana. Xavier passou pela Elektro, pela AES Eletropaulo e pela NC Energia.

...renovável O braço de energias renováveis tem responsabilidade por todos os projetos do setor e trabalha com um portfólio com capacidade instalada para gerar 810 MW, segundo a empresa, suficiente para abastecer cerca de 1,5 milhão de famílias.

roupa argentina

Após instalar um centro de distribuição em Itajaí (SC), a empresa argentina Kevingston, de roupas, prepara-se para abrir 150 lojas no Brasil nos próximos cinco anos.

O projeto de expansão irá seguir o modelo argentino, no qual a maioria das unidades são franquias.

Estão previstas apenas dez lojas próprias, segundo o gerente-geral da Kevingston no Brasil, Matias Safarian.

A empresa começará por SC. Balneário Camboriú e Florianópolis devem receber as primeiras unidades próprias.

"Já instalamos nosso escritório no Estado. Vamos expandir pelo Sul e depois ganhar espaço no Norte."

A companhia pretende, ainda, produzir no Brasil com a contratação de empresas terceirizadas.

A expectativa é que 80% das mercadorias vendidas no país em 2016 sejam produzidas internamente.

NÚMEROS

338 é o número de lojas da marca no mundo todo

14 é o atual número de unidades no Brasil

US$ 320 milhões foi o faturamento em 2011, cerca de R$ 620,3 milhões

10 países têm lojas das marca: Argentina, Brasil, Espanha, Chile, Uruguai, Paraguai, Bolívia, Colômbia, Peru e Suíça

4 países fazem parte do plano de expansão global da empresa: EUA, México, Alemanha e França

HOTELARIA

A administradora de hotéis InterCity, que tem sede no RS, pretende alcançar 50 contratos assinados para gestão de hotéis até 2014.

A empresa, que administra 18 unidades, 17 no Brasil e uma em Montevidéu, já tem outros 15 projetos de obras de empreendimentos iniciadas, de acordo com Alexandre Gehlen, diretor-geral da empresa.

"Há muitos investidores locais que entram neste setor atualmente", diz.

Acabam de ser fechados contratos para gestão de unidades em Porto Alegre, Gravataí e Distrito Federal.

Banho caro Um banho de água quente de dez minutos custa R$ 0,48 no chuveiro elétrico ante R$ 0,31 no aquecedor a gás, em São Paulo, segundo o Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Gás Liquefeito de Petróleo. No Rio, os valores são, respectivamente, R$ 0,61 e R$ 0,43.