domingo, agosto 19, 2012

O lado bom da desindustrialização - MAÍLSON DE NÓBREGA


REVISTA VEJA
A Revolução Industrial transformou a Inglaterra na maior potência do século XIX. Por isso, a industrialização passou a ser vista como o meio para alcançar padrões superiores de desenvolvimento. Até hoje, "país industrializado" é sinônimo de país rico. Assim, no século XX, a industrialização foi prioridade mundo afora. Ainda hoje, a ideia de que a indústria é o centro dinâmico da economia povoa muitas mentes, para as quais o setor é a base do crescimento. A ele caberia disseminar o progresso técnico, irradiando efeitos para a frente e para trás na cadeia produtiva.
Fala-se em desindustrialização nociva ao Brasil, mas vários estudos descartam a ideia. Regis Bonelli e Samuel Pessôa, em artigo publicado pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (2010), constatam o declínio da participação da indústria no PIB - de 36% em 1985 para 16% em 2009 -, mas mostram que se trata de fenômeno mundial. A nossa participação é que era excessiva. por causa do fechamento da economia. Recentemente, a indústria nacional tem sofrido perdas alarmantes de competitividade, mas a explicação básica é conhecida: salários acima da produtividade e piora do "custo Brasil" (sistema tributário caótico, legislação trabalhista anacrônica, infraestrutura deteriorada e burocracia excessiva).

A perda de participação da indústria em todo o mundo aumenta, naturalmente, a dos serviços, que é de quase 80% do PIB nos países desenvolvidos. No Brasil, os serviços saltaram de 53% do PIB em 1990 para 67% do PIB em 201 1. Muitos se preocupam, pois acham que os serviços não geram ganhos relevantes de produtividade, que é a fonte essencial da elevação do potencial de crescimento. Esse raciocínio vale para serviços prestados aos consumidores, como os de cabeleireiro, motorista, empregado doméstico e semelhantes. mas não é sempre assim.

De fato, embora a indústria continue importante, os serviços assumirão a liderança que a ela pertenceu, na geração de empregos e produtividade, da Revolução Industrial até meados do século XX. Já é assim na economia americana, conforme provou Enrico Moretti, da Universidade da Califórnia em Berkeley, no livro The New Geography of Jobs (2012). Para ele. a geografia do emprego tem mudado profunda e irreversivelmente nos Estados Unidos. Os eixos de inovação em serviços são as novas engrenagens da prosperidade. Eles envolvem os setores de alta tecnologia: design e software de produtos como o iPhone e o iPad, tecnologia de informação, ciências médicas, robótica, equipamentos médicos, novos materiais e nanotecnologia. A produtividade cresce nesses setores graças ao avanço tecnológico.

Pesquisas de Moretti mostram que nos Estados Unidos um emprego criado nos setores de alta tecnologia gera outros cinco. Na indústria, essa relação é de apenas um para 1,6. Os centros de alta tecnologia demandam relativamente mais profissionais de nível universitário, de alta qualificação e maiores salários. A renda mais elevada aumenta a procura por serviços de médicos, engenheiros, arquitetos, personal traineis e outros, como os ligados ao lazer e ao turismo. Esses profissionais ganham mais do que seus pares que trabalham em regiões desprovidas desses centros.

Áreas de alta tecnologia - casos de Vale do Silício, Austin, Boston, San Diego, Nova York. Washington e Dallas - são aglomerações (clusters) dotadas de ecossistemas com oferta adequada de crédito, capitais, recursos humanos qualificados e serviços de elevada eficiência em propaganda, assessoria jurídica, consultoria de gestão, engenharia e expedição de produtos. A educação é a base da inovação nesses centros. Para Moretti, os mercados emergentes que investem bem em educação e inovam tenderão a trilhar o mesmo caminho. A China já produz mais patentes do que a Alemanha e a França. E o efeito. entre outros, de sua excelente política educacional.

O Brasil precisa de reformas para aumentar a competitividade da indústria e preparar-se para competir nos promissores segmentos dos serviços. Isso exige uma revolução na educação, nas instituições e, assim, no ambiente de negócios. Preferimos, todavia, reeditar políticas industriais de uma época que passou.

Como escapar de uma maldição - CARTA AO LEITOR


REVISTA VEJA
Nesta edição, VEJA estreia uma nova seção, dedicada ao pré-sal. Ela acompanhará, numa cobertura intensiva, a extração dessa extraordinária riqueza brasileira e as mudanças que com ela emergirão - e que terão reflexos na economia, mas também no comportamento, na demografia, no consumo e na tecnologia do país. A criação de uma seção em VEJA ocorre sempre que alguns fenômenos transcendem sua natureza e passam a ter impacto em outras esferas. Foi assim com a seção Vida Digital. Ela surgiu como reconhecimento de que a tecnologia transbordou de sua calha original. De uma área do conhecimento que parecia fundamentalmente destinada a produzir aparelhos cada vez menores, transformou-se em um fenômeno sociocultural que mudou a maneira como nos relacionamos com o mundo.
A seção dedicada ao pré-sal começa com uma visita da reportagem de VEJA às dez cidades brasileiras que, ao longo da última década, mais foram beneficiadas pelo dinheiro dos royalties. A reportagem revela cenários que atestam que a exploração de petróleo em águas profundas da costa brasileira, em quantidade e qualidade fabulosas, já começou a mudar os contornos do país. Mas também confirma o que a história demonstrou mais de uma vez: que a riqueza do subsolo não se traduz imediatamente em distribuição de riqueza e melhoras sociais - e que a "maldição do petróleo" é um perigo sempre à espreita. Essa maldição pode resultar do fenômeno conhecido como "doença holandesa", em que a valorização cambial provocada pela descoberta de uma riqueza natural acaba por tirar o fôlego da indústria, que, cada vez mais dependente do governo, se enfraquece, prejudicando o crescimento de um país. A situação ocorreu na Holanda nas décadas de 70 e 80 depois da descoberta das reservas de gás natural. Mas a co1Tupção, o desperdício de recursos e a falta de planejamento para gastá-los também costumam atrair outra espécie de infortúnio revelada na forma de regimes políticos sustentados pelo assistencialismo e assolados pela miséria, como no caso da Venezuela.

O Brasil reúne todas as condições para transformar a riqueza do seu subsolo em capacitação tecnológica, aumento do nível educacional e geração de empregos de altíssima especialização.

A nova seção é uma contribuição de VEJA para que o Pré-sal escape das velhas maldições - e ajude a trazer à tona a verdadeira riqueza de um país: aquela que modifica para melhor a vida de sua população.

A modernização institucional - PAULO GUEDES


REVISTA ÉPOCA

Na CPI, no julgamento do mensalão e nas medidas para destravar o mercado, o Brasil busca seu futuro
Prosseguem em duas frentes as difíceis batalhas pela modernização de nossas instituições. No front político, o julgamento do mensalão e a CPI do Cachoeira. No front econômico, as greves do funcionalismo público federal e as medidas de cunho "capitalista" preparadas pela presidente Dilma Rousseff. Uma improvável mas concreta aliança entre a "esquerda" e os "conservadores", sempre em nome da "governabilidade", acabou se tornando um formidável impedimento à modernização institucional brasileira.
O abraço de Lula e Maluf é o símbolo dessa aliança. Na verdade, tucanos e petistas praticaram a mesma fórmula, atolando nossas instituições no pântano de uma transição inacabada do Antigo Regime para a Grande Sociedade Aberta.

Sofremos dos males dessa transição incompleta. A concentração dos poderes políticos, a hipertrofia do Estado e a centralização administrativa são maldições de regimes fechados que ainda não erradicamos. "O poder corrompe; o poder absoluto corrompe absolutamente", afirmou o político liberal britânico Lord Acton (1834-1902). "Tudo dependia de um poder central. E a centralização sobreviveu à realeza derrubada, surgindo um poder absoluto de ferocidade ainda maior que o das monarquias", disse o historiador francês Alexis de Tocqueville (1805-1859) sobre a degeneração dos ideais democráticos no Terror jacobino.

A construção de uma sociedade aberta exige incessante aperfeiçoamento institucional. O julgamento do mensalão tem, por isso, dimensão histórica. Vai muito além de tecnicalidades jurídicas, que distinguem "caixa dois" como crime e "recursos não contabilizados" apenas como lapso. Vai também muito além da feroz disputa de poder entre tucanos e petistas. A dimensão histórica do julgamento virá de sua leitura simbólica pela população. Está em jogo o futuro de nossas práticas políticas.

Os petistas estão hoje no banco dos réus com o mensalão. Mas houve também acusações contra os tucanos em episódios como a emenda constitucional que permitiu a reeleição de FHC, as privatizações e o mensalinho na campanha de Eduardo Azeredo para o governo de Minas Gerais. Como veio, logo depois, o mensalão do DEM, com José Roberto Arruda no Distrito Federal. E surge agora a CPI do Cachoeira, atingindo o governador Marconi Perillo, do PSDB. "As piores características do sistema centralizado não são acidentais, e sim suas consequencias inevitáveis", afirmou o economista austríaco Friedrich von Hayek (1899-1992). "É por isso que os menos escrupulosos e os mais desinibidos são cada vez mais bem-sucedidos nesse ambiente. Em nome de nobres ideais, mergulha-se em atmosfera moral cada vez mais deformada, em que os fins justificam os meios e os piores são os que chegam ao topo."

Práticas políticas degeneradas são o resultado da concentração de poderes e da centralização administrativa. A inegável corrupção sistêmica prossegue em escalada até o mensalão, "o mais ousado esquema de corrupção e desvio de dinheiro público, o mais grave atentado que já tivemos à democracia brasileira", segundo o procurador-geral da República, Roberto Gurgel. A desmoralização de nossa classe política é um sintoma da transição inacabada para uma sociedade aberta. "Nada é mais fértil do que ser livre, mas nada é mais árduo do que o aprendizado da liberdade", disse Tocqueville sobre os desafios de uma nova ordem democrática.

Enfrentamos dificuldades semelhantes na dimensão econômica. De olho na criação de empregos, na estabilidade das expectativas inflacionárias e no crescimento futuro, a presidente resiste à escalada de greves do funcionalismo público federal. As pressões dos sindicatos por reajustes salariais astronômicos são descabidas. Os salários dos servidores públicos federais já foram reajustados bem acima da inflação nos últimos anos. Houve mesmo expressiva transferência de renda da população contribuinte para o funcionalismo público federal. Isso causou uma ampliação contínua de gastos públicos em consumo corrente - com despesa de pessoal -, em detrimento dos investimentos públicos em infraestrutura.

Com empregos garantidos, salários e aposentadorias mais altos que no setor privado, os servidores públicos simplesmente ignoram a guerra mundial por empregos. Suas greves ameaçam desestabilizar os orçamentos públicos, desorganizar as cadeias produtivas e recrudescer as expectativas inflacionárias. O sindicalismo exacerbado e o corporativismo anacrônico, patrocinados por uma social-democracia obsoleta, estão entre os males que devastam a economia europeia.

A presidente Dilma resiste ao cerco dos sindicalistas, afirmando que sua prioridade é "assegurar empregos para aquela parte da população que é a mais frágil, que não tem direito à estabilidade, que sofre por estar desempregada". Seu governo continua examinando a desoneração das folhas de pagamentos das empresas por meio da redução de encargos sociais e trabalhistas que incidem sobre o custo da mão de obra. Esses encargos são armas de destruição em massa das oportunidades de emprego no Brasil. "Queremos todos os brasileiros empregados", diz Dilma. A redução dos encargos pode criar milhões de empregos formais na economia, custos mais baixos para as empresas e maiores salários para os trabalhadores.

Outra medida sob exame seria reduzir impostos para derrubar o preço da energia elétrica. Os impostos praticamente duplicam o custo de nossa energia e tiram competitividade de nosso parque industrial. Transformam uma energia barata, à base de usinas hidrelétricas, numa energia mais cara do que a de países com matrizes energéticas menos favoráveis. Uma renúncia fiscal pode baixar substancialmente o preço da energia industrial.

De olho na redução dos encargos trabalhistas para criar milhares de novos empregos, na redução de impostos para derrubar custos industriais, defender nossa competitividade, os empregos existentes e o crescimento futuro, Dilma enfrenta as pressões dos sindicalistas. Anuncia também, em busca da reaceleração do crescimento econômico, um programa de concessões nas áreas de infraestrutura para disparar investimentos privados em portos, rodovias, aeroportos e ferrovias. São armas capitalistas em busca do crescimento perdido.

Não parecia eu - MARTHA MEDEIROS

ZERO HORA - 19/08


Já deve ter acontecido com você. Diante de uma situação inusitada, você reage de uma forma que nunca imaginou, e ao fim do conflito se pega pensando: que estranho, não parecia eu. Você, tão cordata, esbravejou. Você, tão explosivo, contemporizou. Você, tão seja-lá-o-que-for, adotou uma nova postura. Percebeu-se de outro modo. Virou momentaneamente outra pessoa.

No filme Neblinas e Sombras (não queria dizer que é do Woody Allen pra não parecer uma obcecada, mas é, e sou) o personagem de Mia Farrow refugia-se num bordel e aceita prestar um serviço sexual em troca de dinheiro, ela que nunca imaginou passar por uma situação dessas.

No dia seguinte, admite a um amigo que, para sua surpresa, teve uma noite maravilhosa, apesar de se sentir muito diferente de si mesma. O amigo a questiona: “Será que você não foi você mesma pela primeira vez?”

São nauseantes, porém decisivas e libertadoras essas perguntas que nos fazem os psicoterapeutas e também nossos melhores amigos, não nos permitindo rota de fuga. E aí? Quem é você de verdade?

Viver é um processo. Nosso “personagem” nunca está terminado, ele vai sendo construído conforme as vivências e também conforme nossas preferências – selecionamos uma série de qualidades que consideramos correto possuir e que funcionam como um cartão de visitas.

Eu defendo o verde, eu protejo os animais, eu luto pelos pobres, eu só me relaciono por amor, eu respeito meus pais, eu não conto mentiras, eu acredito em positivismo, eu acho graça da vida. Nossa, mas você é sensacional, hein!

Temos muitas opiniões, repetimos muitas palavras de ordem, mas saber quem somos realmente é do departamento das coisas vividas. A maioria de nós optou pela boa conduta, e divulga isso em conversas, discursos, blogs e demais recursos de autopromoção, mas o que somos, de fato, revela-se nas atitudes, principalmente nas inesperadas. Como você reage vendo alguém sendo assaltado, foge ou ajuda? Como você se comporta diante da declaração de amor de uma pessoa do mesmo sexo, respeita ou debocha?

O que você faria se soubesse que sua avó tem uma doença terminal, contaria a verdade ou a deixaria viver o resto dos dias sem essa perturbação? Qual sua reação diante da mão estendida de uma pessoa que você muito despreza, aperta por educação ou faz que não viu? Não são coisas que aconteçam diariamente, e pela falta de prática, talvez você tenha uma ideia vaga de como se comportaria, mas saber mesmo, só na hora. E pode ser que se surpreenda: “não parecia eu”.

Mas é você. É sempre 100% você. Um você que não constava da cartilha que você decorou. Um você que não estava previsto no seu manual de boas maneiras. Um você que não havia dado as caras antes. Um você que talvez lhe assombre por ser você mesmo pela primeira vez.

Fatiados & aliados - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 19/08


Em tempo de mensalão em fatias no Supremo Tribunal Federal (STF), a palavra virou moda na política. Os petistas, por exemplo, tratam tudo agora como fatias. É fatia do eleitorado, fatia de aliado e fatia de sindicatos que puxam greves e por aí vai. A forma como o governo Dilma Rousseff decidiu lidar com os movimentos grevistas dos servidores públicos deixou os petistas fatiados entre a administração comandada pelo partido e as categorias que por muito tempo servem de base ao PT. Especialmente no Distrito Federal e no Rio de Janeiro, onde vive a massa dos servidores federais. Existe um mal-estar no partido que se considera derrotado independentemente do desfecho dessa queda de braço.

O PT e seus aliados sempre se mostraram solidários às categorias em greve. Agora, essa solidariedade está tão fatiada quanto o julgamento do mensalão. Os grevistas, aos quais os petistas são ligados, apostam em manter a greve. O Ministério do Planejamento, comandado pelo PT, considera que vai sufocar as paralisações cortando pontos e exigindo o retorno ao trabalho, levando as categorias a aceitar a proposta de reposição inflacionária de 18% com pagamento em três anos. No meio dessa praça, está o partido.

Para o PT de Brasília não poderia ser pior. Afinal, a sensação que se tem é a de que grande parte dos sindicatos começa a migrar para legendas que tentam resgatar a origem partidária, em especial, o PSol, que vem crescendo no embalo daqueles que têm me mente o antigo jeito de ser e de viver do PT. A volta às aulas da UnB, por exemplo, vem no rastro de uma briga política em torno das eleições da categoria. Em outros setores, ouve-se diariamente os sindicalistas reclamando do Partido dos Trabalhadores, que antes era mais solidário e agora diz apenas que se deve aplicar a lei. Ou seja, os sindicatos, antes aliados, agora podem se voltar contra o partido que ajudaram a levar ao poder. Ninguém duvida que, logo ali, na próxima eleição, o PT perderá mais um naco da sua base.

Por falar em aliados...

Alguns episódios em política se repetem a cada eleição. Em 2010, o então ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, deixou a pasta para ser candidato a governador da Bahia. Ele e o presidente da República desfrutavam de uma relação cordial, contavam piadas juntos, riam, trabalhavam com alegria, era tudo muito bom. Tão bom que Geddel tinha convicção de que Lula não iria forçar a mão pró-Jaques Wagner. Errou. Na hora do vamos ver, Lula jogou seu peso em prol de Wagner.

Guardadas as devidas proporções e personagens, uma vez que Geddel não era digamos, o dono do partido, o mesmo ocorre agora com o governador de Pernambuco, Eduardo Campos. Campos aposta na sua relação com o ex-presidente para afastar o peso da imagem de Lula e da presidente Dilma de campanhas como a de Recife, Belo Horizonte e Fortaleza. Especialmente, depois que o próprio Eduardo jogou seu peso político para fazer a vontade do PT em São Paulo na campanha de Fernando Haddad.

Os petistas são unânimes em citar as cidades onde o PT e o PSB são adversários como aquelas prioritárias para o engajamento de Lula. Também falam da necessidade de colocar nesses locais a participação da presidente Dilma Rousseff, ainda que indiretamente. Com Lula na tevê e nas rádios, a ideia é fazer com que ele cite a presidente Dilma. A lógica dessas citações é a de que, se ele indicou Dilma e o eleitorado tem a sensação de que está dando certo, o mesmo vale para o município. A diferença é que, nas cidades, o eleitor não precisa de ninguém que lhe diga o que funciona e o que está errado. Geralmente, em pleitos municipais, citações desse tipo não têm tanto efeito. Vamos ver se agora terão.

Por falar em causa & efeito...

Os peemedebistas têm sentido falta do senador Jader Barbalho (PMDB-PA) nas reuniões para definir estratégias político-partidárias e conversar sobre cenários e conjunturas. Jader, entretanto, depois de tantos problemas, está recolhido em tratamento de saúde. E já avisou que só quer exercer este mandato de senador. Não será candidato a mais nada. Em tempo: seu mandato vai até 2018, quando ele completará 74 anos. Ou seja, se aposentará mais novo do que José Sarney (PMDB-AP) que, aos 82 anos, comanda o Senado.

A forma como o governo Dilma Rousseff decidiu lidar com os movimentos grevistas dos servidores públicos deixou os petistas fatiados entre a administração comandada pelo partido e as categorias que por muito tempo servem de base ao PT.

A igualdade social no boteco - JOÃO UBALDO RIBEIRO


O Estado de S.Paulo - 19/08


- Tu tá com uma cara que eu vou te contar! Que foi que houve, isso tudo já é tristeza antecipada pela derrota? O jogo ainda é às seis e meia, até lá tu pode fingir que é feliz, pode até sonhar que o Flamengo vai se dar bem. E não precisa chorar, que não vai ser de goleada, o Vasco não está aí para humilhar ninguém, nem mesmo o Flamengo, não precisa.

- Eu não sei de onde você tira essa sua arrogância. O que é o Vasco?

- O Vasco é uma caravela gloriosa, desbravando os sete mares e navegando serenamente para ancorar no posto de campeão brasileiro!

- Ah, bom, campeonato de vela, isso eu não discuto. Eu pensei que você ia se referir ao vice-campeonato de futebol que vocês vão pegar, como é da tradição do teu time. Vocês do Vasco deviam computar o número de vice-campeonatos que já ganharam, de repente dá para criar uma nova categoria para consolar os vascaínos: campeão dos vices, o maior vice-campeão da história do futebol brasileiro. Brasileiro, não; mundial, acho que esse campeonato mundial é do Vasco. A não ser que vocês também sejam vices dos vices.

- Qual é, cara, tu, como representante de um urubu de asa despencada, um timeco que se daria mal na série C, um...

- Tudo bem, não vamos brigar por causa de futebol. A vida não se resume a futebol, tem muita coisa mais importante.

- Domingo, num boteco do Rio de Janeiro, não tem nada mais importante do que chope, futebol e mulher.

- É verdade, mas eu não posso evitar o que venho sentindo. Eu tenho pesadelos. Essa noite mesmo, eu tive, acordei suando. Sério mesmo, cara, eu acho até que vou consultar um psiquiatra, isso não pode ser normal.

- Ah, é por isso que você chegou aqui meio estranho hoje.

- É, eu agora dei para ficar minhocando esse negócio e dei para ter esses pesadelos, já é o terceiro ou quarto. É uma espécie de assombração, que resolvi chamar de cotismo. É o medo do cotismo.

- Do quê? É doença nova? Se for, não me conta, que eu começo logo a sentir os sintomas. Vou ter um AVC e um infarto a qualquer momento e amanheço de dengue todo dia.

- Não, doença não. É um problema sociopolítico.

- Ah, cara, não vamos entrar nessa de discutir o Brasil, o mensalão, a ladroeira, pelo menos no domingo vamos dar um tempo, ninguém aguenta.

- Não é o mensalão, é bem mais grave. O cotismo é o seguinte: é a nova política nacional para a eliminação das desigualdades.

- Pior do que comunismo, não? Eu só sinto falta deles quando é para botar a culpa em alguém. Era sempre culpa deles e pra mim continua sendo.

- Eles vão dizer que, com a adoção de cotas...

- Eles quem?

- Eles, eles, eles! Eles estão em toda parte, mandam na nossa vida e cada vez vão mandar mais! Eles! Agora eu tenho certeza de que, quando passar esse negócio do mensalão, eles vão adotar cota para tudo. Eu tive um professor, naquele tempo em que tinha professor, que dizia: "senhores, a sábia mão do homem ainda vai destruir o universo!" É verdade, é verdade!

- Mas não vai ser agora, podemos pedir uns pasteizinhos.

- Aí é que você se engana, já está começando agora e vai se estender a tudo. Ao futebol mesmo, por exemplo. Futebol rende muitos problemas por falta de proporcionalidade em vários aspectos e falta de oportunidades para todos. Primeiro eles vão regulamentar as escalações: tem que ter cota racial. Cada jogador declara sua raça e aí a escalação mantém o equilíbrio racial através das cotas. Poderemos ver o Wagner Love declarando que se chama Wagner porque é de família alemã de pai e mãe e o Loco Abreu alegando que é zulu. Mas aí isso não resolve a desproporção entre as torcidas, de maneira que eles vão implantar as cotas de torcida. Cada torcedor será cadastrado numa torcida, devendo apresentar seu cartão de torcedor juntamente com o ingresso. Quando uma torcida ultrapassar o número de torcedores previsto pela cota, o torcedor tem de escolher outro time, em benefício de paz social e, em última análise, em seu próprio benefício. É um assunto complexo, mas nós temos parlamentares à altura das necessidades. Uma coisa é certa: não será permitida uma desproporção gritante, como existe hoje, por exemplo, entre a torcida do Flamengo e a do Olaria, a lei garantirá a todos os times o direito de ter torcedores. E digo mais. Não tem crime de falsidade ideológica? Pois vai ter crime de falsidade clubista. O camarada que for pegado torcendo por um time, mas portando a carteira de outro, perde o registro e não pode mais frequentar estádios, precisamos de leis severas.

- Você está delirando outra vez, eu nunca sei quando você está falando sério.

- Eu não estou delirando nada. Nem falei sobre as outras cotas dos times de futebol. Uma das primeiras a entrar na pauta vai ser a cota dos originários de comunidades carentes, logo seguida das dos jovens infratores em recuperação, dos homossexuais, da terceira idade, dos nativos do Estado onde fica a sede do time e por aí vamos, inclusive na Seleção.

- Você não acabou o segundo chope e já está de porre. Não está vendo que esse tipo de coisa nunca vai dar certo?

- Eu estou. Mas eles não, é por isso que eu me apavoro. Vai ter cota de mulher, pode escrever. Pra cada cinco gatas com quem você sair, vai ter que encarar uma dragonete, é a justiça social.

Se eu pudesse - DANUZA LEÃO

FOLHA DE SP - 19/08


Iria recomeçar a vida em outra cidade, talvez em outro país, para nada, só para começar tudo do zero


Se eu pudesse, mudava minha vida toda; não que ela esteja ruim, mas só para ver que ela pode ser diferente.

Se eu pudesse, me desfaria de muitas coisas, da minha casa e de quase todas as roupas. Afinal, quem precisa de mais do que dois pares de sapatos, dois jeans, quatro camisetas e dois suéteres, sobretudo quando anda pensando em mudar de vida?

Se eu tivesse muitas joias, enterrava todas elas na areia da praia para que um dia alguém enfiasse a mão brincando, assim para nada, e tivesse a felicidade de encontrar um colar de brilhantes. Afinal, dá para viver sem, não dá?

Das algumas garrafas de champanhe guardadas cuidadosamente, na horizontal, daria para abrir mão, sem nenhuma possibilidade de remorso futuro; champanhe, além de engordar, não passa de um espumante metido a alguma coisa, e nem barato dá, de tão fraquinho que é. Dos vinhos, mais fácil ainda; nada melhor do que o velho e bom uísque, com o qual sempre se pode contar.

E as amizades? Aliás, as amizades, não: as relações. Ah, se tivesse coragem, compraria um novo caderno de telefones e passava só aqueles pouquíssimos nomes que realmente têm algum significado, e que são tão poucos que nem precisaria escrever. Guardaria todos de cor, não na cabeça, mas no coração, e um dia me esqueceria de todos eles.

Se eu pudesse, iria recomeçar a vida em outra cidade, talvez em outro país, para nada, só para começar tudo do zero. Para às vezes sofrer bastante, pensando que poderia ter tido mais juízo e não ter feito tantas bobagens, pois se tivesse errado menos poderia ter sido mais feliz -talvez. Mas alguém tem o poder de fazer alguém sofrer, ou a capacidade do sofrimento é um bem pessoal e intransferível?

Se alguém conseguisse ainda me fazer sofrer, seria um acontecimento a ser festejado.

Se eu pudesse -e não tivesse

tantos compromissos-, seria vegetariana, passaria as noites em claro e teria muito amor pelos animais e pelas crianças. Mas como tenho horror a qualquer bicho e nenhuma paciência com criancinhas, a não ser com meus bichos e minhas crianças, vou ter que atravessar a vida levando essa pesadíssima cruz -afinal, ficou combinado que de certas coisas não se pode não gostar, e se não se gostar não se pode dizer, que vida.

Se pudesse, largaria tudo e iria embora para um lugar onde ninguém me conhecesse, onde não teria passado nem futuro; para um lugar esquisito no qual não entenderia a língua do povo nem ninguém entenderia a minha. Seríamos todos, assumidamente, estranhos -como somos no edifício onde moramos, no local de trabalho, dentro de nossa família. Ou você pensa que alguém conhece alguém porque dá beijinhos no elevador?

Se eu pudesse, quando acordasse hoje de madrugada saía descalça só com um casaco em cima da pele e ia molhar os pés na água do mar, sozinha. Depois, ia tomar um café no balcão de um botequim, como fazem os homens.

Se eu pudesse, rasgava os talões de cheques, cortava os cartões de crédito com uma tesoura, fazia uma linda fogueira com os casacos de pele e ia saber como é que vivem os que não têm, nunca tiveram e nunca vão ter nada disso. E aproveitava o embalo para cortar os fios dos telefones, jogar o celular na tela da televisão e o computador pela janela -deve ser lindo, um computador voando.

Se eu pudesse, raspava a cabeça, acendia dois cigarros ao mesmo tempo e tomava uma vodca dupla, sem gelo, num copo de geleia. E pegaria uma gilete para picar em pedacinhos a carteira de identidade, o passaporte e o CPF, sem pensar um só instante nas consequências e sem um pingo de medo do futuro.

E jogava na lata de lixo meus lençóis, meus travesseiros de pluma, meu cobertor e engolia minhas pestanas postiças, só para aprender que a vida não é só isso.

Se eu pudesse, esquecia o meu nome, o meu passado e a minha história e ia ser ninguém. Ninguém.

Se eu pudesse, não, se eu quisesse.

Pois é, tem dias que a gente está assim, mas passa.

GOSTOSA


Ora bolas - LUIS FERNANDO VERISSIMO


O Estado de S.Paulo - 19/08


Antigamente as bolas tinham a cor do couro com que eram feitas. Bolas pintadas de branco só no vôlei ou em jogos de futebol noturnos. Usavam uma bola por jogo de futebol oficial, de campeonato. O que me fazia sonhar com montes de bola usadas uma só vez estocadas em algum lugar, uma visão do paraíso. A bola única só podia ser substituída, com autorização do juiz, em caso de perda de esfericidade, que era o nome científico de murchamento.

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Quando a bola espirrava para fora do campo, era devolvida pelo público para que o jogo continuasse. Talvez nada na nossa história recente tenha a importância simbólica deste fato: no tempo da Número 5 cor de couro a torcida devolvia a bola. Se a bola demorasse a voltar para o campo havia manifestações de impaciência do resto da torcida e quem retinha a bola era hostilizado. Não se sabe se a torcida passou a ficar com a bola quando começaram a usar várias por partida ou se foi algo no nosso caráter que mudou. Há quem atribua a uma reversão dos polos magnéticos da Terra lá pelos anos 40 e 50 a deteriorização do caráter do brasileiro. Não sei, mas uma das suas primeiras manifestações foi não devolverem mais a bola.

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A bola era branca em jogo noturno porque ajudava a visibilidade, com a iluminação artificial. Depois se deram conta de que o branco também favoreceria a visibilidade de dia, pois seu contraste com o verde do gramado era maior do que o do marrom. Agora as bolas já não são mais brancas. Tem tantos desenhos e grafismos que mal se vê o branco. Algumas bolas novas são marrons. Mas não o marrom das antigas bolas de couro. Um amarelo cocô-de-criança. Os goleiros estão se queixando de que ela é mais difícil de pegar, mas talvez estejam só com nojo. E o contraste com o verde decididamente piorou.

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Teoria: pelo menos no Brasil, o futebol foi ficando mais feio à medida que a bola ficava mais bonita, Hoje quem mais brilha nos gramados é a bola e o jogador brasileiro está com ciúmes, o que explicaria a forma como a maltrata. Seria o caso de voltarmos ao branco básico ou então ao ainda mais básico, o marrom/couro. Ou então - por que não? - à bola com tento e cordeamento, para o futebol reaparecer. Ou então eu é que fiquei tão inconformado com a nossa derrota para o Mexico nas Olimpíadas que estou delirando.

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Marisa Monte cantando Villa Lobos, Sorriso o Gari sambando e no fim o Pele aparecendo para ser ovacionado. Estava bem representado o Brasil que as pessoas esperam ver em 2016 no encerramento das Olimpíadas de 2012? Levando-se em conta que o tempo para sua apresentação era escasso, o resumo foi bem escolhido. Já o resto da festa de encerramento foi ainda mais maluca do que a festa de inauguração, com os ingleses recorrendo a todos os clichês conhecidos a seu próprio respeito e ainda ressuscitando o John Lennon, o Fred Mercury, o Churchill e as Spice Girls.

O julgamento de Frineia - CARLOS HEITOR CONY

FOLHA DE SP - 19/08


RIO DE JANEIRO - Dentro de escassas oportunidades, venho acompanhando o julgamento do mensalão no Supremo Tribunal Federal.

Impossível (e inútil) ouvir todos os debates, de qualquer forma, acho que há exagero no tempo e nas palavras dos respeitáveis ministros. Reconheço que a linguagem e os detalhes são peculiares à prática da Justiça, mas acho que a tecnologia pode abreviar as sentenças e pareceres sem perda do conteúdo processual.

Na Roma antiga e na Grécia, em alguns tribunais, o imperador ou os juízes (no caso da Grécia central) condenavam ou absolviam os réus de maneira mais simples: levantavam a mão direita e colocavam o polegar para baixo: era a condenação à morte. Se o polegar estivesse para cima, era a absolvição. Em ambos os casos, a justiça seria feita.

Ficou famoso o caso de Frineia, cuja formosura despertou paixões e ciúmes. Acusada por um pretendente desprezado de explorar o próprio corpo, foi levada a um júri de cidadãos ilibados. No momento da sentença, os juízes botaram o polegar para baixo. Era a condenação fatal. Olavo Bilac tem um poema dedicado ao julgamento de Frineia: segundo o poeta, ela despiu os véus que a cobriam e surgiu toda nua, "no triunfo imortal da Carne e da Beleza".

Diante daquela monumental escultura, um a um os polegares dos juízes foram subindo, subindo, sendo provável que também subissem outras partes dos respeitáveis membros do júri.

Não estou sugerindo um retorno à Antiguidade clássica. Mas um parecer ou voto de 70 laudas, que exige cinco horas para ser lido, podia ser condensado num único polegar, quer dizer, em 11 polegares para baixo ou para cima.

Desde que o Marcos Valério não se obrigasse a ficar nu em plenário para ser absolvido.

Em números - SONIA RACY


O ESTADÃO - 19/08


Daniela Cembranelli, defensora-geral de São Paulo, fez as contas e chegou a resultado surpreendente: dos 17,6 mil habeas corpus originários do Estado, impetrados no STF ano passado, 7,8 mil foram propostos pela Defensoria Pública.

Ou seja, quase 50% das ações foram na defesa dos que não podem pagar advogado próprio.

Em números 2
A profissão de defensor, aliás, está em alta. Em concurso realizado este ano havia 6.669 inscritos para… duas vagas.

Tempo ao tempo
Os radiologistas que tratam de Lula são unânimes: sua barba pode voltar em três meses.

Bem como deve haver uma retração das sobras de pele no pescoço do ex-presidente.

Arte da arte
Com o objetivo de captar recursos para a mostra Panorama da Arte Brasileira em 2013, o MAM promove a Festa Panorama, quinta-feira.

Convidados? 800.

Jogo jogado
Ousada a missão de Ídolos Kids, reality show da Record que estreia em setembro, com comando do ator Cássio Reis.

A atração será exibida às quartas-feiras, no mesmo horário do futebol na rival Globo.

Se a moda pega…
Está dando o que falar nas agências brasileiras proibição, na Inglaterra, de campanha da Nike via Twitter.

O Conar local considerou que posts de Wayne Rooney e Jack Wilshere faziam propaganda não-explícita da marca.

Pioneira no uso de madeira certificada, Etel Carmona vê, não raras vezes, suas peças serem comparadas a joias ou à alta-costura. Entretanto, mais do que o culto ao belo, a designer preocupava-se com o meio ambiente – antes mesmo de a sustentabilidade entrar em pauta. “Sempre fui de optar pela contramão”, brinca. Agora, ela resolveu abrir sua loja nos Jardins para exposição de peças. “Todo mundo me pedia e eu relutava”. Nesta leva, obras reeditadas de Paulo Werneck, e unidades de Roberto Micoli e Marcelo Cipis. Mote? O casamento entre arte e design. “Beleza é fundamental. Funcionalidade e qualidade também”. Dia 28.

Responsabilidade social
A Tiffany & Co arma mais uma edição do Bingo do Bem em prol do projeto social da Fundação Oftalmológica Dr. Rubem Cunha. Dia 29, na joalheria do Cidade Jardim.

Já o Bingo da Obra do Berço acontece no próximo domingo. No Leopolldo Itaim. Convites a R$200.

A Cãominhada, com apoio da Camargo Corrêa, espera juntar 400 cães prontos para adoção. Em busca de um dono, os bichanos desfilarão no Centro de Controle de Zoonoses de São Paulo. Dia 26.

A Wonder chamou Tinico Rosa, tatuador, para estampar as camisetas que serão vendidas na loja da marca. Com verba 100% revertida para a ONG Adote um Gatinho. Sábado.

A TIM invadiu a Paraisópolis. Está revitalizando pontos comerciais da favela.

Marcela Rocha e Danilo Mesquita passarão dois anos em uma expedição marítima pelo mundo para coletar o lixo plástico dos oceanos. Içam velas em novembro.

A Universidade Anhembi Morumbi se juntou com o Hospital Sírio Libanês para estimular a doação de sangue. Farão um trote solidário na unidade da Vila Olímpia. Terça.

APhilips vai levar um grupo de empresários para fazer trabalho voluntário na comunidade do Chapéu da Mangueira, no Rio.

A Childhood Brasil avisa: promoverá o Encontro Empresarial do Programa Na Mão Certa para discutir a violência sexual nas rodovias do país. Quarta-feira.

As razões de cada um - MERVAL PEREIRA


O GLOBO - 19/08


A condução dos trabalhos do julgamento da ação penal 470, popularmente conhecida como "a do mensalão", é talvez a tarefa mais delicada que o atual presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Ayres Britto, enfrentou em sua carreira. Graças à sua capacidade de alcançar consensos o processo, depois de sete anos de tramitação, chegou a julgamento.
Mas também devido a seu temperamento ameno, o presidente do STF muitas vezes é criticado por permitir que personalidades fortes como a de muitos ministros da Corte se sobreponham aos interesses da maioria.
É dentro dessa estreita faixa entre a busca de acordos e a imposição da autoridade do cargo que Ayres Britto se movimenta, em busca de um julgamento "com racionalidade, operacionalidade, urbanidade e segurança", para deixar o STF em novembro com a sensação de ter cumprido um dever.
A cada bate-boca em plenário, cresce a importância de ter na presidência neste momento um homem afável e respeitado como Ayres Britto.
Os desentendimentos entre os ministros nas primeiras sessões não chegaram a macular o julgamento, embora seja desejável que eles se mostrem capazes de chegar a consensos antes que as divergências venham a público.
Mais do que ao temperamento de cada um dos envolvidos, atribui-se a interesses específicos as posições tomadas tanto pelo relator Joaquim Barbosa quanto pelo revisor Ricardo Lewandowski, cada um representando um polo no julgamento.
Ao revisor, porém, não cabe necessariamente o papel de contraponto ao relator, função que Lewandowski assumiu em declarações públicas, o que de antemão demonstrou seu pendor contra a acusação.
Ele vê no relator uma tendência a se alinhar com o Procurador-Geral da República, o que Barbosa considera "uma ofensa", pois pressupõe que comece seus trabalhos com parcialidade.
Não é normal que a tarefa do revisor tenha tanto destaque, e por isso não se ouviu falar em revisor protagonista de um julgamento antes do mensalão.
No que se refere à sua incumbência direta, Lewandowski aprovou o relatório de Barbosa com um erro evidente, que teve que ser corrigido pelo pleno do STF.
O processo contra o argentino Quaglia foi anulado graças ao trabalho de um anônimo defensor público, que denunciou irregularidades que deveriam ter sido detectadas pela revisão do processo.
Diz-se que os ministros do STF são 11 ilhas, por decidirem isoladamente, sem o espírito de coletividade. Mas pelo menos uma questão preocupa o conjunto: a credibilidade da Corte.
O maior elogio que se pode fazer ao STF, a esta altura do julgamento, é que ninguém tem certeza do veredicto final, embora se possam fazer tentativas de adivinhar o voto de um ou outro membro a partir de atitudes passadas.
Mesmo que as provas dos autos devam determinar a decisão dos juízes, as circunstâncias em que os fatos ocorreram dão à narrativa, tanto da acusação quanto da defesa, mais ou menos credibilidade.
Por isso é que o relator Joaquim Barbosa fez questão de separar em partes seu voto, para contextualizá-los.
Mesmo fatos ocorridos fora dos autos, e que estão na vida cotidiana, que não para enquanto o julgamento prossegue, têm interferência na decisão dos juízes.
Foi o caso da decisão do TCU validando a apropriação da agência de Marcos Valério dos bônus de volume que, por contrato, deveriam ser do Banco do Brasil.
Essa decisão, revogada em seguida, poderia dar a sinalização ao Supremo de que, em vez de representar desvio do dinheiro público, como quer a acusação, tratava-se de uma atitude empresarial normal.
Mesmo não sendo possível se apoiar na nova lei sobre lavagem de dinheiro que está em vigor para acusar um réu, pois quando os crimes foram cometidos a lei era outra, mais restrita, os ministros não ignoram que novos conceitos sobre esse crime de caráter internacional estão sendo aplicados com o objetivo de melhorar o combate ao crime organizado.
Nesse mesmo tópico entra o livro do ex-deputado petista Antonio Carlos Biscaia, que foi o presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara em 2005.
Ao relatar pressões que diz ter sofrido por parte de Dirceu para que não fosse à frente o processo de sua cassação e, anteriormente, a relação do então Chefe do Gabinete Civil com o deputado Roberto Jefferson, ele dá mais informações sobre como se passavam as coisas no Palácio do Planalto à altura do escândalo do mensalão.

Isso é fichinha! - HUMBERTO WERNECK


O Estado de S.Paulo - 19/08


Você conhece o tipo. É alguém contar um caso - e lá vem a criatura:

- Isso não é nada! Fichinha perto do que aconteceu comigo...

"Comigo" ou com fulano - não importa: importa é passar um rolo sobre a história precedente e impor a sua como vencedora. Nem precisa ser um relato de grandes feitos, no qual o protagonista pontifique como herói. Não se trata de narrar façanha edificante; ao contrário, muitas vezes ser história triste ou feia, não raro condenável e até mesmo repulsiva. Tanto faz; campeão, nessa porfia, é quem conta o melhor conto.

Não faltam, claro, intervenções destinadas a glorificar alguém, em geral o narrador. Vai me dizer que você nunca viu, na sala de embarque do aeroporto (Miami, Orlando, Buenos Aires), compatriotas nossos que, com aquele excesso de decibéis característico de brasileiros em viagem, alardeiam ter comprado coisa melhor e muito mais em conta.

No bairro onde cresci havia uma senhora cujos filhos, a seu ver e contra várias evidências, deixavam no chinelo qualquer um das vizinhanças. Verdade que tomavam bomba, mas por incompreensão dos professores, despreparados para lidar com inteligências tão acima da média. Só num ponto, vejo hoje, teria aquela dona direito a contar vantagem: se os filhos das outras fumavam maconha, os dela, além de pitar, plantavam. No telhado do lar. Pena que mamãe não soubesse da autossuficiência tabagística de sua prole.

Elizabeth Bishop, numa carta, conta que a companheira, Lota de Macedo Soares, foi fazer compras num povoado perto de onde moravam, na serra fluminense - e o feirante, ao saber que a poeta americana ganhara um importante prêmio em seu país, reivindicou sua parte nele:

- Eu dou sorte às freguesas - gabou-se, pesando as batatas. - Tem uma que outro dia ganhou uma bicicleta numa rifa.

No meu já longo trato com todo tipo de contador de vantagem, estou em condições de afirmar que são mais frequentes os relatos de infortúnios. Doença, morte, miserê. Tive uma faxineira (não, não é aquela que ia ao "espermercado") incapaz de ouvir caso ou notícia ruim sem reagir de bate-pronto, ainda quando não tivesse munição à altura. Alguém tinha morrido naquela madrugada? A Rosa não se dava por derrotada: e eu que não preguei o olho, de tanta dor de cabeça? Tinha sempre uma doença do dia - zoeira nos ouvidos, tremeliques numa pálpebra, uma pontada aqui, ó.

Para gente como a Rosa, o câncer do nosso pai nem de longe se equipara aos tumores que carcomeram as vísceras da mãe de alguém, em sofrimentos muito mais pungentes. O assalto de que fomos vítimas é pinto se comparado ao sofrido por beltrano. Conheço certa matriarca que ao botar em livro a saga da sua vida se esmerou em "melhorar" os casos, de modo a torná-los piores, isto é, mais tristes e dramáticos, daí resultando uma catadupa de vicissitudes que a autora, quem duvidaria?, magnanimamente soube superar.

Nos meus remotos 22 anos, tive em Bariloche uma namorada que me proporcionava qualquer chance (quase toda, vá), menos a de suplantá-la no terreno da desgraceira. Nenhum infortúnio por mim relatado chegava aos pés dos que a Ana desfiava, enquanto nos enregelávamos às margens do Lago Nahuel Huapi. Talvez só a desdita de quem, namorando em portunhol, chafurdava inexoravelmente em climas de tango e bolero: Te quiero, mi vida, jamás te olvidaré, bésame, cariño, bésame mucho - e tome saraivadas de !!! e ¡¡¡.

Derrotado de saída no quesito linguístico, ainda tive a pretensão de competir com a moça, cujas histórias, cada vez mais dramalhosas, iam aniquilando meus gaguejantes enredos. Joguei a toalha quando ela me soterrou com as desventuras da órfã que seus pais pegaram para criar: não bastasse à moça ter nascido sem um braço, o noivo lhe pespegou um par de chifres, o que a obrigou a matá-lo, embora o amasse, com três tiros, ¡pum! ¡pum! ¡pum!, antes de enforcar-se no jardim, donde la encontraron colgada, la pobrecita.

Não sei como não balbuciei:

- Ganaste, mi tesoro...

(Tenho a impressão de ouvir aí alguém dizendo que já leu crônica muito melhor sobre gente que sempre tem uma história insuperável).

Punir o culpado pega mal - FERREIRA GULLAR

FOLHA DE SP - 19/08


Estar, hoje, a mais alta corte de Justiça do país, julgando um processo que envolve algumas importantes figuras do mundo político nacional é um fato de enorme significação para o país.

É verdade que esse processo estava há sete anos esperando julgamento e que muitas tentativas foram feitas para inviabilizá-lo. Até o último momento, no dia mesmo em que teve início o julgamento, tentou-se uma manobra que o suspenderia, desmembrando-o em dezenas de processos sujeitos a recursos e protelações que inviabilizariam qualquer punição dos réus.

Mas a proposta foi rechaçada e, assim, o julgamento prossegue. Se os culpados serão efetivamente punidos, não se pode garantir, uma vez que os mais famosos e sagazes advogados do país foram contratados para defendê-los. Além disso, como se sabe, punição, no Brasil, é coisa rara, especialmente quando se trata de gente importante.

E é sobre isso que gostaria de falar, porque, como é do conhecimento geral, poucos são os criminosos condenados e, quando o são, nem sempre a pena corresponde à gravidade do crime cometido. Sei que estou generalizando, mas sei também que, ao fazê-lo, expresso o sentimento de grande parte da sociedade, que se sente acuada, assustada e, de modo geral, não confia na Justiça. Nem na polícia.

Agora mesmo, uma pesquisa feita pelo Datafolha deixou isso evidente. Embora 73% dos entrevistados achem que os réus do mensalão devem ser condenados, apenas 11% acreditam que eles sejam mandados para a cadeia.

E é natural que pensem assim, uma vez que a criminalidade cresce a cada dia e parece fugir do controle dos órgãos encarregados de detê-la e combatê-la.

Outro dia, um delegado de polícia veio a público manifestar sua revolta em face das decisões judiciais que mandam soltar criminosos, poucas horas depois de terem sido presos em flagrante, assaltando residências e ameaçando a vida dos cidadãos. Parece que uma boa parte dos juízes pensa como um deles que, interpelado por tratar criminosos com benevolência, respondeu que "a sociedade não tem que se vingar dos acusados".

Entendo o delegado. Mas pior que alguns juízes é a própria lei. Inventaram que marmanjos de 16, 17 anos de idade, que assaltam e matam, não sabem o que fazem. Lembro-me de um deles que, após praticar seu oitavo homicídio, ouviu de um repórter: "Ano que vem você completa 18 anos, vai deixar de ser de menor". E ele respondeu: "Pois é, tenho que aproveitar o tempo que me resta".

Todo mundo sabe que os chefes de gangues usam menores para eliminar seus rivais. São internados em casas de recuperação que não recuperam ninguém e donde fogem ou recebem permissão para se ressocializar junto à família. Saem e não voltam. Meses, anos depois, são presos de novo porque assaltaram ou mataram alguém. E começa tudo de novo.

Mas isso não vale só para os menores de idade. Criminosos adultos, reincidentes no crime, condenados que sejam, logo desfrutam do direito à prisão semiaberta, que lhes permite só dormir no presídio.

Há algumas semanas, descobriu-se que dezenas desses presos, da penitenciária de Bangu, no Rio, traziam drogas para vender na penitenciária. E tudo articulado com o uso de telefones celulares, de que dispõem à vontade, inclusive para chantagear cidadãos forjando falsos sequestros. Com frequência, ao prender assaltantes, a polícia constata que se trata de criminosos que cumpriam pena e que, graças ao direito de visitar a família no Dia das Mães, das tias ou das avós, saem e retornam, não à prisão, mas à prática do crime.

Esses fatos se repetem a cada dia, com o conhecimento de todo mundo, especialmente dos responsáveis pela aplicação da Justiça, mas nada é feito para evitá-los ou sequer reduzi-los.A impressão que se tem é que tomou conta do sistema judiciário uma visão equivocada, segundo a qual o crime é provocado pela desigualdade social e, sendo assim, o criminoso, em vez de culpado, é vítima. Puni-lo seria cometer uma dupla injustiça.

O que essa teoria não explica é por que, havendo no Brasil cerca de 50 milhões de pobres, não há sequer 1 milhão de bandidos. Isso sem falar naqueles que de pobres não têm nada, moram em mansões de luxo e mandam no país.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO


FOLHA DE SP - 19/08


Seguro contra desemprego cresce 175% no primeiro semestre no país

O seguro contra desemprego e perda de renda cresceu quase 175% no país no primeiro semestre na comparação com o mesmo período de 2011, segundo a FenaPrevi (Federação Nacional de Previdência Privada e Vida).

O produto teve o melhor desempenho entre as modalidades de seguro de pessoas, que abrangem seguros de vida, acidentes e outros.

A contratação de apólices da categoria, geralmente oferecidas por redes de varejo nas vendas de eletroeletrônicos, registrou volume superior a R$ 64 milhões.

"O tíquete é baixo. Representa uma pequena parte do bem que está sendo financiado e que pode ser desde um liquidificador até um automóvel", diz Lúcio Flávio de Oliveira, presidente da Bradesco Vida e Previdência e coordenador do fórum do setor, organizado pela FenaPrevi nos próximos dias 21 e 22.

No financiamento de um veículo de cerca de R$ 30 mil em 60 parcelas, por exemplo, o custo mensal do seguro contra desemprego fica em aproximadamente R$ 25, segundo a entidade.

O seguro de um produto de R$ 1.000, financiado em 24 vezes, tem um custo em torno de R$ 1,40 ao mês.

É crescente o número de varejistas que fazem convênios com seguradoras para distribuir o produto, segundo Oliveira.

"As empresas procuram para se proteger da inadimplência. Houve massificação da oferta enquanto o consumo de bens e de crédito cresceram no país", afirma.

Brasil quer aumentar exportações de tecnologia para US$ 20 bi em 10 anos

O governo quer multiplicar por oito as exportações de produtos e serviços de tecnologia da informação em 10 anos e atingir US$ 20 bilhões, segundo o plano TI Maior que será divulgado amanhã pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.

"Nosso objetivo é aumentar a capacidade de usar tecnologia no desenvolvimento e implementação de produtos qualificados", disse o ministro Marco Antonio Raupp.

O Brasil é o 7º maior mercado de tecnologia, com volume de negócios de US$ 102 bilhões. Mas exporta pouco: US$ 2,4 bilhões. O primeiro em exportação é a Índia e alcançá-la é uma das ambições do ministro. "Isso não vai sair nunca do nosso radar."

Hoje, 93% da exportação de tecnologia do Brasil são serviços de desenvolvimento de programas simples, o que tem baixo valor agregado.

A estratégia para elevar as exportações é estimular a produção de softwares, mais complexos e rentáveis. Outro objetivo é atrair centros de desenvolvimento de grandes empresas globais.

Raupp cita a IBM e a GE como grandes companhias que já fixaram essa área no Brasil. O plano prevê quatro grandes novos centros.

"A própria Microsoft, nós temos estimulados para que traga um centro de pesquisa e desenvolvimento no Brasil."

disque-jogos

Com o maior fluxo de brasileiros no Reino Unido na Olimpíada de Londres, cresceu o uso do roaming internacional. O tráfego de dados subiu entre 300% e 841% nas operadoras, enquanto o uso de voz cresceu mais de 100%.

As empresas não informam as bases dos cálculos.

No roaming internacional, os preços são compostos de acordo com as taxas do serviço do país e o valor das tarifas cobradas pelas operadoras locais para compartilhar a rede.

mala pronta

A maioria dos empresários do setor de turismo está confiante: 87% deles estão otimistas com a ampliação dos negócios em 2012, de acordo com pesquisa anual da FGV, encomendada pelo Ministério do Turismo.

No ano passado, a receita do setor de turismo cresceu 18,3% em relação a 2010 e alcançou R$ 50,9 bilhões.

As empresas com maior incremento na receita foram as de turismo receptivo (33,5%) e hospedagem(22,7%).

Para 2012, os empresários dos setores de agências de viagem, transporte aéreo, operadoras de turismo e locadoras de automóveis são os mais confiantes: 100% estimam receitas maiores.

O transporte rodoviário foi o segmento com a menor alta no faturamento, de 6,8%.

O estudo será apresentado na reunião do Conselho Nacional de Turismo depois de amanhã a empresas do setor.

Energia... A Andrade & Canellas, empresa especializada em energia, e a Critical Software desenvolveram uma plataforma para controle de de energia elétrica.

... calculada O sistema atua na realização de leilões de energia e monitora a carteira de contratos, além de simular a migração de um cliente cativo para o mercado livre.

Alavanca A Tátil, empresa que fez o logo da Rio 2016, lança a Pipa, "aceleradora" de projetos sustentáveis. Selecionará negócios que deem lucro, com valor social e ambiental.

Fio da meada - DORA KRAMER

O ESTADÃO - 19/08


O relator Joaquim Barbosa, no seu voto em tese condutor do julgamento, avançou em algumas questões até então em aberto: levou em conta as investigações da CPI, foi além da versão do crime eleitoral e mostrou que a dúvida sobre se havia pagamentos mensais ou não a parlamentares em troca de apoio ao governo Lula pode ser secundária.

O ministro condenou o deputado João Paulo Cunha, o publicitário Marcos Valério e dois sócios dele na agência SMP&B por peculato, corrupção e lavagem de dinheiro pelo uso da Câmara dos Deputados como instrumento de desvio de recursos públicos mediante contratação de serviços cuja prestação não correspondia aos pagamentos recebidos.

No período em que João Paulo foi presidente da Câmara, a empresa recebeu quase R$ 11 milhões pela execução de trabalhos no valor de apenas R$ 17 mil. Segundo o entendimento do relator, o deputado direcionou a licitação em favor de Marcos Valério, que o remunerou por isso.

A evidência seriam os R$ 50 mil recebidos pela mulher de João Paulo no caixa de uma agência do Banco Rural em Brasília, pagamento autorizado mediante fax pela empresa de Marcos Valério. Se a pedido do tesoureiro Delúbio Soares ou não, se para pagar dívida de campanha eleitoral ou não, o relator repetiu: pouco importa, pois o essencial é a caracterização da troca de favores.

Daí a corrupção, daí a infração do princípio da impessoalidade previsto no artigo 37 da Constituição. Da tentativa de ocultação (a primeira versão era a de que a mulher de João Paulo teria ido ao banco pagar uma fatura de TV a cabo) decorreria a lavagem de dinheiro e do uso das prerrogativas de presidente da Câmara para favorecer a SMP&B, o peculato.

Um episódio síntese, a partir do qual Joaquim Barbosa parece pretender desvendar a trama toda arquitetada pela organização cujos participantes cometeram o que o relator entendeu terem cometido os primeiros condenados por ele: corrupção, peculato, lavagem de dinheiro, evasão de divisas e, por óbvio, formação de quadrilha.

A contabilização ou não de recursos nesse quadro, convenhamos, é o de menos.

À míngua. Houve um tempo em que as comissões de inquérito emitiam ordens de prisão, faziam operações de busca e apreensão e não davam trégua aos convocados para depor.

Cometeram-se muitos abusos, humilhações, sem contar memoráveis chamamentos ao "teje preso".

Da exorbitância caiu-se no terreno oposto da completa inação em decorrência dos sucessivos habeas corpus concedidos pelo Supremo nem sempre interpretados em sua real dimensão pelos parlamentares que, no lugar de encontrar um caminho adequado para fazer valer suas prerrogativas, preferiram abrir mão delas.

Chegou-se agora ao clímax da interpretação de que nada valem e podem muito pouco com o pedido de Fernando Cavendish ao STF para não atender à convocação da CPI do Cachoeira. O pedido em si é uma impertinência.

Se atendido, terá se configurado um desacato ao Congresso.

Lições do abismo. A três fatores o tucanato atribui a queda de José Serra nas pesquisas e o empate com Celso Russomanno: o peso da rejeição a Gilberto Kassab, a desconfiança do eleitorado de que Serra não cumprirá o mandato até o fim e o gosto por uma nova experiência, também conhecido pelo nome de fadiga de material.

Deixam de lado, contudo, outros dois: o desacerto interno do PSDB - nacional e regionalmente falando - e o "incentivo" de Kassab e companhia à candidatura de Russomanno na expectativa de tirar Fernando Haddad do segundo turno.

O último partido (PT) que tentou esperteza dessa natureza elegeu Severino Cavalcanti presidente da Câmara dos Deputados.

Agora a esperança dos tucanos é o pouco tempo de televisão do candidato do PRB e a preferência dos petistas por Serra na hora do vamos ver.

Um julgamento em três atos - THIAGO BOTTINO

O GLOBO - 19/08

Iniciado o julgamento do mensalão, pode-se dizer que a decisão se dará em três atos. O primeiro ato diz respeito ao que foi provado. Há fatos e há versões; há testemunhas que se contradizem; há milhares de documentos. Acusação e defesa apresentaram narrativas apoiadas em provas.

Na maioria dos casos, há consenso sobre os fatos (como a ocorrência de pagamentos, contratos, subcontratações, reuniões etc.). Segue daí que os ministros ligarão os fatos às pessoas. Cada um dos ministros dirá quais provas e qual narrativa foram mais convincentes no tocante à autoria e participação das pessoas envolvidas em cada episódio. Uma testemunha pode convencer o juiz mesmo que outras dez digam o oposto; o depoimento do desafeto e do corréu podem ter menos valor; provas técnicas podem se sobrepor à testemunhal. O que vale é a convicção do juiz, desde que apoiada em uma prova válida, conforme dispõe o artigo 155, do Código de Processo Penal.

E aí começa o segundo ato — talvez o mais esperado pelos juristas. Provado o pagamento de valores a deputados e partidos para apoio político, aplicam-se penas do crime de corrupção ou de caixa dois? O recebimento de valores por meio de empresas de terceiros é uma forma de lavagem de dinheiro? E se for por meio da esposa do réu? A subcontratação de 99% do valor total do contrato de licitação é uma forma de fraude?

A importância do segundo ato é enorme. Os efeitos são imediatos não apenas para os réus. A decisão do Supremo definirá a jurisprudência para todos os juízes do país. Em raríssimas situações o Supremo teve oportunidade de atuar como juiz de primeiro grau. Há o risco de que um tribunal acostumado a corrigir erros de outros juízes cometa, ele próprio, equívocos comuns a quem está tão próximo do calor do processo?

O último ato será a dosimetria das penas, caso haja condenações. Como as penas variam muito é preciso individualizar a punição. Serão consideradas a personalidade, conduta social, antecedentes e a reprovabilidade da ação de cada réu. Também os motivos, circunstâncias e consequências do crime. Tudo isso para que a pena de cada eventual condenado seja individual, e não um castigo coletivo. Ao final, a população terá condições de conhecer exatamente quem, quando, como e por que fez o quê, entender como nossas leis e instituições funcionam, qual a punição para cada condenado.

O risco de banalizar o ilegal - MIRIAM LEITÃO


O GLOBO - 19/08

Todo caixa dois tem um crime antecedente. Um dos piores resultados possíveis do julgamento do mensalão seria a aceitação do caixa dois como fato da vida ao qual deveríamos nos resignar. Aceitá-lo como espécie de subcrime porque “política é assim mesmo”. Empresa que doa de forma clandestina tem propósito inconfessado ou dinheiro de origem criminosa.

Tempos atrás, quando surgia denúncia de que havia caixa dois numa campanha política a notícia ocupava espaço nos jornais e o país se indignava. Agora se infiltra uma cultura de aceitação resumida na frase “isso foi só caixa dois”. Se isso ficar confirmado em sentenças amenas para esse crime, o Brasil estará abrindo uma enorme brecha para que o crime de corrupção se alastre.

O que levaria uma empresa a preferir a doação de campanha não declarada? Vários motivos, nenhum deles lícito. Pode estar imaginando auferir vantagens num possível governo futuro e por isso não quer deixar rastro. Pode ser um dinheiro não declarado que está em caixa por negócios escusos anteriores. Pode ser pela exploração de algum ramo de negócio ilegal. Um dinheiro que circula fora do sistema bancário em espécie, em grandes volumes, está correndo um risco óbvio. Só pode estar fugindo do perigo maior que é ser detectado pela estrutura de controle dos meios de pagamento. Lícito não é.

A atitude implícita na naturalização do crime de caixa dois é o maior perigo que está surgindo no julgamento do mensalão. Desde que Delúbio admitiu “o dinheiro não contabilizado”, e após o expresidente Lula ter dito a famosa frase de que “o PT fez o que é feito sistematicamente neste país”, construiu- se a convicção de que é aceitável o que não é.

O advogado de Delúbio Soares, Arnaldo Malheiros Filho, ao falar no Supremo admitiu que seu cliente quando tesoureiro do PT distribuíra dinheiro de caixa dois. E por isso é que o fez pelas vias tortuosas descritas nos autos. “O procurador pergunta: por que não se faziam transferências bancárias? Porque era ilícito. Deram despesas sem nota. Quem tem uma vivência de eleições no Brasil sabe que o que circula é a moeda sonante. Era ilícito mesmo. Delúbio é um homem que não se furta a responder por aquilo que fez. Ele fez caixa dois de campanha, isso ele não nega. Agora, ele não corrompeu ninguém.”

O primeiro ato não tem sujeito. Ele diz que “deram” dinheiro sem nota. O raciocínio oficializa o divórcio entre caixa dois e corrupção. O problema é que aceitando-se isso e transformando o caixa dois numa espécie de crime tolerável, inúmeros outros podem estar sendo encobertos e oficializa-se o manto protetor ao corrupto.

Já é difícil combater o dinheiro ilegal na campanha, ficará impossível se ele for tratado como parte da paisagem da política no país, uma espécie de efeito colateral inevitável.

A proposta de solução leva ao risco de aumentar a prática. O financiamento público exclusivo de campanha pode levar, diz Cláudio Abramo, da Transparência Brasil, a um aumento das doações clandestinas. Se proibidas essas doações, os partidos continuarão indo nas grandes empresas e todo o caixa um virará caixa dois.

O problema pode acontecer em qualquer país e já houve muitos escândalos no mundo por doações não contabilizadas. Um deles colocou Helmut Kohl no eterno ostracismo. O que difere um país de outro é o rigor da punição que recai sobre esses políticos. É esse o momento em que estamos decidindo: se aceitaremos mais rigor nas punições ou se vamos tratar com leveza um crime que é a ponta do iceberg de outros crimes.

Os pontos-chave

1 Um dos piores resultadosdo julgamento do mensalão seria a banalização do crime de caixa dois

2 Empresa que doa de forma clandestina tem propósito inconfessado ou dinheiro de origem criminosa

3 Doação ilegal de campanha todo país tem, a diferença está na punição aplicada para esse tipo de crime

Ordens variadas - JANIO DE FREITAS

FOLHA DE SP - 19/08


Com o vale-tudo, não se sabe o que sucederá amanhã no STF ao pedido de condenação já apresentado pelo relator


Ainda que não pareçam, até por não terem precedente, são palavras do presidente do Supremo Tribunal Federal: "Cada ministro adotará a metodologia de voto que considera cabível".
Ou seja, vota caso a caso, a cada réu do mensalão examinado pelo relator, ou por blocos de personagens, ou por blocos de envolvimentos assemelhados, ou vota considerando o todo. Inovação brasileira: a solução de mais um desentendimento de magistrados pela criação do populismo judicial.
Mas o Supremo tem um regimento que determina o sistema de votação. E não oferece o "faça o que quiser" como exemplo de desordem a ser dado pelos guardiães da ordem jurídica, ou seja, das normas. Com o vale-tudo, ninguém sabe o que sucederá amanhã, no Supremo, ao primeiro pedido de condenação, já apresentado pelo relator Joaquim Barbosa.
Acusado de receber R$ 50 mil provenientes de Marcos Valério e de usar verba da Câmara em proveito próprio, o deputado João Paulo Cunha poderá ver-se condenado ou (resultado improvável) absolvido amanhã mesmo, como poderá depender do pinga-pinga de votos até um dia incerto.
E, por falar nisso, também não se sabe se as sentenças serão propostas com cada voto ou só virão em outro dia incerto, chocando-se umas com as outras, lá no final do julgamento.

2- A atual disposição de lugares na arena do Supremo situa lado a lado Joaquim Barbosa e Gilmar Mendes. Combustível junto de fogo. Duas cabeças com peculiares sensos de convívio, de modos e de liberdade de opinião. Aguardam-se bons espetáculos. Não percam. O Brasil ganhou três medalhas de judô e duas de boxe em Londres.

3- Admitir que a acusação ao criador do WikiLeaks, Julian Assange, de violentar duas mulheres na Suécia possa ser armação é, para muitos sábios do jornalismo brasileiro, praticar a "teoria da conspiração". Mas logo na Suécia é que Assange precisou violentar mulheres? E depois de comprometer os Estados Unidos em graves denúncias. Então, pratiquemos a teoria -não pela última vez.
À falta de qualquer reação ao levante para derrubar João Goulart, todos, inclusive os golpistas, se perguntavam onde estava o "dispositivo militar do Jango", a máquina imbatível em que os janguistas em geral, e sobretudo os comunistas, depositavam confiança absoluta. Nem do comandante do "dispositivo", general Assis Brasil, havia notícia.
Assis Brasil foi militar sóbrio, de vida pessoal bem ordenada -até chegar a Brasília para montar o "dispositivo militar". Não demorou que lhe faltassem tempo e cabeça, e talvez energia física, para ocupar-se de sua missão.
O dispositivo feminino mobilizado por empresários golpistas batia qualquer concurso de misses. No dia do golpe, como ocorria há meses, o chefe do "dispositivo militar do Jango" estava sobrecarregado de uísque, a que aderira, e não o usufruía sozinho.
Uns dez anos depois, o grupo do general Geisel tinha, cedo ainda, um candidato em potencial para a sua sucessão. Discreto, com certas qualidades intelectuais (o pai foi célebre como político e como escritor), adepto do retorno progressivo ao Estado de Direito, sem inimigos.
No caso, um grupo de militares e o SNI substituíram os empresários. A vida do general em questão não precisou alterar-se em mais que um ponto: o suficiente para muitas fotos no apartamento que passara a frequentar em Brasília, dia a dia. A candidatura e o futuro do general foram esvaziados para sempre.
Julian Assange fez o maior e melhor trabalho jornalístico desde o Watergate. E foi com documentos da prepotência dos Estados Unidos.

Dilma, desça do muro na Síria - CLÓVIS ROSSI

FOLHA DE SP - 19/08



Cara presidente, atrevo-me, pela primeira vez na vida, a dar um palpite sobre o que um governo deveria fazer, movido pelo fato de que a situação na Síria ultrapassou de longe todos os limites e, por isso, exige que desça do muro qualquer pessoa preocupada com o direito à vida, como você o é.

Imito sugestão feita aos líderes da Alemanha e da França para que tomem juntos um avião rumo a Moscou, para tentar convencer Vladimir Putin a deixar de bloquear iniciativas, quaisquer iniciativas, que possam fazer cessar a violência.

Eu, se fosse a senhora, tomaria um avião não para Moscou, mas para Ancara para juntar-se ao primeiro-ministro Recep Tayyp Erdogan e, aí sim, juntos, seguir para a Rússia. O gancho, como dizemos nas redações, acaba de ser dado pelo chanceler turco, Ahmet Davutoglu, ao dizer que o novo mediador da ONU para a crise síria, o argelino Lakhdar Brahimi, só terá alguma chance se houver consenso entre os membros do Conselho de Segurança.

Como você sabe, é Putin quem embarga o consenso, pelo seu inoxidável respaldo ao ditador sírio.

Antes de embarcar, Dilma, puxe da memória de seu computador os argumentos para uma intervenção da ONU. Seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, assinou em 2005, com todos os líderes mundiais, um documento simplificado para R2P ("Responsibility to Protect").

Deixa claro que, "se um Estado é incapaz de proteger a sua população, ou é o perpetrador dos crimes, a comunidade internacional tem a responsabilidade de responder em tempo e de maneira decisiva por meio de um amplo leque de instrumentos diplomáticos, econômicos, humanitários e, se necessários, coercitivos" (cito William Pace, do Instituto para Política Global).

Que o Estado sírio cai na categoria de perpetrador de crimes lê-se no recentíssimo relatório de nosso conterrâneo, o inatacável Paulo Sérgio Pinheiro.

Ainda no seu arquivo, está documento que você mesma produziu, o da "Responsabilidade ao Proteger", que é um espécie de normatização da R2P, no qual fica claro que mandar tropas é a última das últimas instâncias, esgotados todos os outros instrumentos listados por Pace.

Esclareço que, para mim, tais recursos já se esgotaram, mas aceito a visão do Itamaraty de que ainda cabe esperar mais (espero que ainda sobrem sírios vivos e inteiros quando a diplomacia brasileira achar que é hora de endurecer, mesmo que seja sem perder a ternura).

Se, apesar de esses argumentos, você não convencer Putin, pelo menos demonstrará que o Brasil quer ser cachorro grande e não espectador passivo de um genocídio.

Livra-se de quebra de avaliações como a que Shlomo Ben Ami, ex-chanceler de Israel, hoje vice-presidente do Centro Internacional pela Paz (Espanha), fez para "El País":

"As mais importantes democracias emergentes, como Brasil, Índia e África do Sul, têm sido particularmente decepcionantes em sua reação ante a Primavera Árabe".

Os planos de Dirceu - ILIMAR FRANCO


O GLOBO - 19/08

Petistas estão chocados com a atitude do ex-tudo José Dirceu. Às vésperas de ser julgado, amigos falam de seus planos grandiloquentes, entre eles o de presidir o PT. Os mais fiéis querem que ele transfira seu título para Brasília e, depois de anistiado, concorra ao governo ou ao Senado. Sustentam que, se José Roberto Arruda conseguiu, Dirceu pode dar a volta por cima.

O mensalão, as eleições e o PT
Os petistas estão monitorando em todo o país os reflexos do julgamento do mensalão em suas candidaturas às prefeituras de capitais e grandes centros urbanos. Os primeiros retornos revelam que há perdas nos setores médios e altos da sociedade, mas essas sondagens indicam que o julgamento pelo STF, agora em 2012, não terá o mesmo impacto negativo do escândalo do mensalão, em 2005. Há uma frase, segundo os petistas, que resume a leitura que está sendo feita desse conjunto de pesquisas: “Vai ter algum impacto negativo (dependendo do lugar e do candidato), mas não vai ressuscitar o ódio ao PT.”

“São Paulo é um espetáculo! Já teve o improvável Pitta! Já teve o improvável Fleury! Não se pode subestimar o Russomanno!”
Miro Teixeira
Deputado federal (PDT-RJ)

Guerra de guerrilha
Os tucanos ameaçam o PMDB com as convocações de Iris Rezende e Maguito Vilela, ambos de Goiás, na CPI do Cachoeira. Os peemedebistas agora estão dando o troco, ventilando a convocação do governador Simão Jatene (PA), por causa de contratos com a Delta.

Cerca-lourenço
A presidente Dilma decidiu se aproximar dos movimentos sociais. A primeira conversa será com a UNE. Na quarta-feira ela recebe seu presidente, Daniel Iliescu. O líder estudantil vem defender a aprovação no Plano Nacional de Educação, em debate no Congresso, de item que destina 10% do PIB para a educação. O governo Dilma é contra.

O abre-alas do PSB
A exemplo do ex-presidente Lula (PT) e do senador Aécio Neves (PSDB-MG), o governador Eduardo Campos (PE) também vai percorrer o país pedindo votos para candidatos do PSB nas prefeituras das principais cidades. Um de seus objetivos é fortalecer o partido em São Paulo.

Acidente de trabalho
Ao retornar da programação de Alagoas com a presidente Dilma, na sexta-feira, a ministra Helena Chagas (Comunicação) deslocou o cotovelo do braço esquerdo ao tropeçar e cair no chão na pista da Base Aérea, em Brasília. O general José Elito (Segurança Institucional) ajudou-a na mesma hora e, no muque, colocou o cotovelo no lugar. A ministra vai ficar pelo menos uma semana com o braço engessado.

O mensalão paraguaio
O Brasil não ficou surpreso com o Paraguai querendo dinheiro para aprovar a Venezuela no Mercosul. É assim que reconhece a China de Taiwan, que construiu o prédio do seu Congresso.

Ficha limpa
Com a exposição na CPI do Cachoeira, o senador Pedro Taques (PDT-MT) passou a ser requisitado por candidatos de todo o Mato Grosso. Para evitar surpresas, pediu à assessoria que cheque as fichas antes de ele fazer manifestações de apoio.

O ADVOGADO ANTONIO Carlos de Almeida Castro, do publicitário Duda Mendonça e de sua sócia Zilmar Fernandes, cobrou R$ 5 milhões pela defesa no julgamento do mensalão.

Aeroportos tomados - EDITORIAL FOLHA DE SP

FOLHA DE SP - 19/08



Foi com a certeza arrogante dos que se consideram acima da lei e com descaso pela sociedade e pelas instituições --numa palavra, escárnio-- que o líder do movimento de policiais federais recebeu a determinação do Superior Tribunal de Justiça (STJ) para pôr fim à operação-padrão que inferniza milhares nos aeroportos do país.

Marcos Wink, presidente da Federação Nacional dos Policiais Federais, descartou como inócua a decisão judicial, que impõe à entidade multa diária de R$ 200 mil caso não interrompa o procedimento de revistar, um a um, cada passageiro de voos internacionais.

Aos repórteres, Wink explicitou como pretende se esquivar da determinação judicial. Sempre se pode argumentar, explicou o agente, que os policiais estão apenas desempenhando a sua função. Para burlar o STJ, o líder sindical disse que basta parar de chamar o abuso de operação-padrão.

Só na última quinta-feira, o procedimento provocou atrasos em quase 20% dos voos que saíam do aeroporto internacional de Guarulhos (SP). Formou-se uma fila de embarque estimada em 4.000 pessoas. Policiais rodoviários federais também fizeram fiscalização redobrada nas estradas, só para prejudicar o trânsito.

Os policiais federais rejeitam a oferta do governo Dilma Rousseff de aumento de 15% nos próximos três anos. Com a mesma desfaçatez com que ignorou a ordem judicial, Marcos Wink declarou que, se fosse esse o valor do reajuste, os agentes o doariam para caridade.

O acinte arquitetado por parcela significativa de policiais federais, que já se voltava contra os cidadãos que lhes pagam salários, não cede nem diante da própria Justiça. É preciso dar um basta a tamanho abuso de poder --desse ponto de vista, aliás, sua atitude pouco se distingue da do policial militar que liga a sirene para furar o sinal vermelho mesmo quando não há suspeito a ser perseguido.

Essa "afronta à Constituição", como a definiu o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, tem de ser repelida. Os agentes devem cumprir imediatamente a ordem do Superior Tribunal de Justiça.

Os que insistirem em desrespeitar a lei devem ser identificados e punidos. Não se pode tolerar que um punhado de servidores continue a tomar aeroportos para si.

Crise, erro de diagnóstico e mudança de rumo - AFONSO CELSO PASTORE


O Estado de S.Paulo - 19/08


Será que o frustrante crescimento brasileiro, que deve atingir 1,5% em 2012, é uma consequência da desaceleração mundial? Ou será que a terapia aplicada pelo governo nos últimos dois anos baseou-se em um diagnóstico errado, cujo reconhecimento o levou a mudar o rumo da política econômica com as "privatizações" anunciadas na última quarta-feira?

Por muito tempo ainda sofreremos os efeitos de um baixo crescimento mundial. Mesmo admitindo que ocorra um acordo que prorrogue as isenções tributárias nos Estados Unidos, fugindo do penhasco fiscal (fiscal cliff) que retiraria alguns pontos de porcentagem do crescimento do PIB em 2013, não há perspectivas de aceleração do crescimento. Os preços das casas vêm mostrando uma pequena elevação, e o índice de confiança dos construtores de casas indica algum crescimento, mas estes são apenas sinais de vida de um setor que ainda tomará muito tempo para se recuperar.

O consumo das famílias, por sua vez, vem crescendo a taxas bem mais baixas do que na saída da recessão de 1980/82, que foi a pior do século passado, excetuada a crise de 1929. Nos anos 80, nem as famílias estavam excessivamente endividadas, nem ocorreu uma destruição de riquezas, e, na atual crise, o estouro da bolha imobiliária levou a uma destruição de riqueza que obriga as famílias endividadas a poupar.

Dessa forma, o consumo só pode crescer limitadamente estimulado pela política monetária não convencional do Federal Reserve, que vem colocando todas as taxas de juros reais no campo negativo, desestimulando as poupanças e estimulando o consumo. A recuperação depende do oxigênio dado pelo Federal Reserve, e está longe de ser autossustentável.

Na Europa, os problemas são mais complexos. Eles se iniciaram com a disparidade gerada entre os países da área monetária pela própria criação do euro. Antes do advento do euro, havia países mais produtivos, com uma moeda forte, ao lado de países menos produtivos, com uma moeda fraca. O euro tornou ainda mais competitivos os países produtivos, e menos competitivos os países da periferia. As consequências disso somente seriam eliminadas se existisse mobilidade de mão de obra, ou se fosse criada uma união fiscal. Os políticos que construíram o euro provavelmente tinham consciência desse problema, mas julgaram que a criação da união fiscal não tinha urgência. Foram atropelados pela crise de 2008, que encurtou o período no qual os ajustes teriam de ocorrer, antes de existirem as condições políticas para isso.

Para piorar o problema, os países que mais perderam competitividade com a criação do euro são os que se enredaram em uma crise de dívida soberana ao lado de uma crise bancária. Próximos da insolvência, não podem capitalizar seus bancos, restando-lhes esperar que o BCE compre bônus de dívida soberana. Mas, mesmo que isso ocorra, terão de manter a austeridade fiscal para evitar um default soberano, e realizar reformas que aumentem a competitividade.

Finalmente, o crescimento da China deve se desacelerar para 7,5% em 2012, sem esperanças de que retorne a dois dígitos no futuro próximo.

Quando o mundo se desacelera, todas as economias são afetadas, e o quadro pintado acima não dá esperanças de reversão no curto prazo. Mas seria ingênuo atribuir a isso o medíocre crescimento brasileiro em 2012. A grande maioria dos países emergentes vem mostrando desempenhos bem melhores do que o nosso. Em 2012, o Chile e o Peru deverão crescer acima de 6%; a Colômbia, um pouco abaixo de 6%; e o México deve crescer em torno de 3,7%. Na Ásia, a Índia e a Indonésia vêm crescendo acima de 6%; a Malásia e Cingapura mostram taxas próximas de 5%; e a Coreia deve crescer em torno de 3,6%. Certamente estes países tiveram uma reação à crise mais eficaz do que a nossa.

Por que o Brasil vem tendo um desempenho tão fraco? Se em 2012 vivêssemos um período de alto desemprego, com elevada capacidade ociosa na indústria, como ocorreu na crise de 2008, teríamos de reagir com políticas que elevassem a demanda agregada. Essa foi a opção tomada pelo governo em 2010. O erro naquele período não foi expandir a demanda, que era a opção correta, e sim utilizar em excesso os estímulos fiscais discricionários, incluindo a expansão excessiva de crédito por parte do BNDES, quando o melhor caminho teria sido o da queda mais acentuada da taxa de juros. Em adição, o Banco Central demorou demais para adotar as medidas macroprudenciais necessárias para impedir a escalada da inadimplência no crédito pessoal.

Mas o problema de 2011 e 2012 é completamente diferente: não mais temos um problema de falta de demanda. Desde o início de 2011 o mercado de mão de obra já dava claros sinais de estar em pleno emprego, e o crescimento do consumo das famílias continuou robusto, apesar da desaceleração das concessões de crédito provocada pela inadimplência. O problema, agora, é que existe uma desaceleração da oferta, isto é, uma queda do crescimento do PIB potencial, que deriva da queda dos investimentos em capital fixo; do encolhimento no crescimento da produtividade total dos fatores; e do fato de que, com a economia próxima do pleno emprego, a contribuição ao crescimento gerado pela absorção de mão de obra fica limitada à taxa de crescimento da população em idade ativa.

Mas o governo insistiu em continuar expandindo a demanda, e sua única aposta para melhorar o desempenho da oferta foi de que, com a queda da taxa real de juros, libertaria o "animal spirit" dos empresários, elevando os investimentos. Mas as incertezas vindas do exterior reduziam as expectativas de retorno sobre os investimentos, em parte anulando os estímulos da queda dos juros reais. A compressão das margens de lucro das indústrias gerada pelo aumento do custo unitário do trabalho tirava ainda mais estímulos à formação bruta de capital fixo. O resultado é que a queda da taxa real de juros provou ser ineficaz em elevar os investimentos.

O novo problema somente poderia ser tratado com políticas que estimulassem a eficiência econômica e reduzissem os riscos, acarretando a expansão dos investimentos. O ideal seria um programa de investimentos em infraestrutura, reduzindo os custos e induzindo novos investimentos.

Mas o governo tem restrições à privatização. Se tivesse recursos, faria isso aumentando o tamanho do Estado, que é uma opção que se ajusta mais à sua ideologia. Como não tem recursos, teve de chamar o setor privado. Contudo, para que o setor privado se engaje, é necessário que os riscos regulatórios sejam eliminados e que o governo aceite taxas de retorno elevadas. Ou seja, o governo teria de aceitar que é preciso usar plenamente o mecanismo de preços e as forças de mercado, e não o poder discricionário do Estado, mas tem restrições em enveredar por esse caminho.

Não se trata, consequentemente, de uma mera mudança de rumo de política econômica, e sim de uma alteração radical da postura do governo com relação aos papéis do Estado e do setor privado. Se superar essa barreira, terá sucesso. Mas, se sucumbir à visão de que o Estado deve policiar o comportamento do setor privado, colherá resultados pobres.