ZERO HORA - 10/04
Pratico exercícios desde sempre. Já dancei jazz, nadei, joguei vôlei, fiz aeróbica, musculação, mas nada disso me tornou uma amante da vida esportiva. O que me levava a essa movimentação intensa era a consciência de que manter uma atividade física enrijece o corpo e oxigena a mente, então eu ia em frente sem pensar em prazer. Era uma necessidade, e pronto.
Aos poucos, fui largando tudo e mantive apenas as caminhadas, essas, sim, não apenas saudáveis, como prazerosas. Poderia passar o dia caminhando, não tivesse que reservar um tempo para exercícios cerebrais, como trabalhar e fazer palavras cruzadas.
Parecia tudo bem, até que uma médica me disse: caminhar é bom, mas não basta. Está na hora de você suar o top. E me recomendou pilates.
Modismo, chatice, tédio. Todas essas ideias me passaram pela cabeça, mas sou obediente, acato ordens, e me matriculei num pequeno estúdio a poucos passos da minha casa, conduzido por um casal de instrutores. Fui cair na mão dos melhores, posso apostar. Em três sessões, já percebia mudanças no meu corpo, na minha postura.
Quanto ao tédio, bom, não há tédio na dor. Às vezes, me sinto como se estivesse treinando para me apresentar no Cirque du Soleil. Recebo ordens inimagináveis: grude o umbigo nas costas, encolha as costelas, encoste o queixo no peito. Já houve caso de instruírem um rapaz a contrair o útero! Dá vontade de rir, mas não convém, temos que nos concentrar na respiração. Juro, com tudo isso, ainda pedem que a gente respire.
Então, de volta aos exercícios sem prazer?
Pois aí está a novidade: o prazer é de outra ordem. O pilates faz a gente mudar a maneira de pensar o corpo, o que deve ser a razão do seu sucesso mundo afora. Ao decidir praticar um exercício, muitas vezes ficamos condicionados aos benefícios externos de se estar em forma: a saúde é uma boa desculpa, mas a vaidade é que nos faz pagar a mensalidade da academia. Pois o pilates supera essa visão miúda, adicionando à prática uma reflexão que vai muito além do desejo de ser admirado.
Quando somos adolescentes, sentimos nosso corpo como parte indissolúvel do nosso ser. Porém, com o passar do tempo, acaba acontecendo uma dissociação – à revelia, nosso corpo começa a nos abandonar, a nos deixar na mão. A pele vai se soltando, os órgãos internos armam rebeliões, as articulações gritam, rangem – não me peça para explicar, mas nosso corpo ganha vida própria, se emancipa e não nos escuta mais.
O pilates é, antes de tudo, uma reconciliação com esse corpo que se tornou rebelde e fugidio. Ele sempre esteve a nosso serviço, mas pouco estivemos a serviço dele. Pois o pilates, feito um cupido, faz com que nós e nosso corpo passemos a nos conhecer mais profundamente e a descobrir o que nem sabíamos um do outro, mesmo com tantos anos de convívio.
Basicamente, pilates é o resgate do amor entre você e o que você traz dentro. Mesmo que seja um útero que você nem tem.
quarta-feira, abril 10, 2013
O espólio - ANCELMO GOIS
O GLOBO - 10/04
Alekxander Nunes, 34 anos, entrou com o pedido de exame de DNA na Justiça para provar que era filho de Emílio Santiago, morto em março.
Entre os bens deixados pelo cantor estão um apartamento em Nova York, outro em São Paulo e dois no Rio. O processo corre em segredo de Justiça.
CAPACETE OLÍMPICO
Lembra até um capacete de ciclista, certo? Mas este bonito projeto coordenado pela Empresa Olímpica Municipal é o do novo velódromo. O equipamento começa a ser construído no segundo semestre e vai substituir o atual, erguido para o Pan e que está fora dos padrões olímpicos. O templo esportivo, na entrada do Parque Olímpico, em frente à Avenida Abelardo Bueno, na Barra, receberá as competições de ciclismo no Jogos de 2016. Com cinco mil lugares fixos e a possibilidade de mais mil assentos temporários, o projeto do novo velódromo foi desenvolvido pelo consórcio Rio Equipamentos Olímpicos. Prevê acessibilidade total, eficiência energética e uso racional de água. Maravilha!
Corpo a corpo
Ídolos tricolores, o ex-goleiro Paulo Victor e o meia Romerito vão hoje a bares (Rosa Chope, na Barra; Bendito, em Niterói; Belmonte e Boteco da Garrafa, em Copacabana), durante o jogo pela Libertadores.
Querem associar novos tricolores ao clube.
Palace II
Ajuíza Márcia Cunha Silva Araújo, da 4ª Vara Empresarial do Rio, negou um pedido dos advogados do espólio do empresário Sergio Naya, morto em 2009, responsável pela construção do Palace II, que desabou em 1998.
Eles tentaram impugnar uma auditoria que vasculha os valores pagos às vítimas.
Projeto Shakespeare
O Centro velho do Rio deve ganhar uma espécie de filial do famoso Shakespeare’s Globe, de Londres.
O teatro inglês foi construído em 1599 e teve entre seus sócios o próprio William Shakespeare. O prédio atual foi reinaugurado em 1997.
Já...
O projeto carioca, que conta com o apoio entusiasmado do prefeito Eduardo Paes, é liderado pelo economista Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central.
A ideia é erguer o espaço com recurso privado e com a consultoria dos ingleses. Tomara.
Na verdade...
Quem primeiro pensou, há quatro anos, em construir uma réplica do Shakespeare’s Globe no Brasil foi o produtor mineiro Mauro Maya. Seu sonho é fazer o teatro na cidade Rio Acima, MG.
Casa das Garças
José Serra esteve segunda na Casa das Garças, importante centro carioca de estudos de economia.
Participou de um debate com vários economistas, entre os quais Edmar Bacha e Armínio Fraga.
Navalha na carne
Luiz Eduardo Falco, ex-presidente da Oi, assumiu o comando da CVC Viagens cortando cerca de 10% do pessoal, inclusive diretores.
Calma, gente!
Na abertura da exposição “Gênesis”, de Sebastião Salgado, ontem, em Londres, um segurança de Lula partiu para cima de um coleguinha que tentava entrevistar o ex-presidente a respeito das investigações da PF sobre o envolvimento dele no mensalão.
— Eu te conheço. Não quero pergunta. Mais uma e eu vou te expulsar.
Viva a Marrom!
Alcione está em estúdio gravando um CD de sambas inéditos.
No repertório, “He, He”, uma inédita parceria entre Zeca Pagodinho e Djavan. Mas a Marrom avisa que a tônica do seu novo álbum, apesar de seus sambas românticos, é a alegria. A cantora começa a turnê no dia 21 de junho no Vivo Rio.
Bomba em Paraty
A Polícia Federal investiga um atentado a uma funcionária da Área de Proteção Ambiental Cairuçu, em Paraty.
Na madrugada de terça, uma bomba artesanal foi arremessada contra a casa dela, servidora do Instituto Chico Mendes. Ninguém ficou ferido.
Segue...
Foi o terceiro atentado a funcionários da APA. Nos outros, bombas foram jogadas no carro de outra servidora.
A turma fiscaliza a ocupação do solo na região de Paraty.
Tutti buona gente
Além de processados, em Minas Gerais, pela suspeita de lavagem de dinheiro, os irmãos Pajaro, sócios da empresa que venceu a licitação para gerenciar os cartões-combustível da Alerj, respondem a ação penal por uso de trabalho escravo.
O caso está na Justiça Federal, no Pará.
Novela Canecão
A 14ª Vara Federal do Rio determinou que Mario Priolli, dono do antigo Canecão, retire em dez dias cadeiras, mesas, documentos e até caixas lacradas de dentro do imóvel.
Entre os bens deixados pelo cantor estão um apartamento em Nova York, outro em São Paulo e dois no Rio. O processo corre em segredo de Justiça.
CAPACETE OLÍMPICO
Lembra até um capacete de ciclista, certo? Mas este bonito projeto coordenado pela Empresa Olímpica Municipal é o do novo velódromo. O equipamento começa a ser construído no segundo semestre e vai substituir o atual, erguido para o Pan e que está fora dos padrões olímpicos. O templo esportivo, na entrada do Parque Olímpico, em frente à Avenida Abelardo Bueno, na Barra, receberá as competições de ciclismo no Jogos de 2016. Com cinco mil lugares fixos e a possibilidade de mais mil assentos temporários, o projeto do novo velódromo foi desenvolvido pelo consórcio Rio Equipamentos Olímpicos. Prevê acessibilidade total, eficiência energética e uso racional de água. Maravilha!
Corpo a corpo
Ídolos tricolores, o ex-goleiro Paulo Victor e o meia Romerito vão hoje a bares (Rosa Chope, na Barra; Bendito, em Niterói; Belmonte e Boteco da Garrafa, em Copacabana), durante o jogo pela Libertadores.
Querem associar novos tricolores ao clube.
Palace II
Ajuíza Márcia Cunha Silva Araújo, da 4ª Vara Empresarial do Rio, negou um pedido dos advogados do espólio do empresário Sergio Naya, morto em 2009, responsável pela construção do Palace II, que desabou em 1998.
Eles tentaram impugnar uma auditoria que vasculha os valores pagos às vítimas.
Projeto Shakespeare
O Centro velho do Rio deve ganhar uma espécie de filial do famoso Shakespeare’s Globe, de Londres.
O teatro inglês foi construído em 1599 e teve entre seus sócios o próprio William Shakespeare. O prédio atual foi reinaugurado em 1997.
Já...
O projeto carioca, que conta com o apoio entusiasmado do prefeito Eduardo Paes, é liderado pelo economista Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central.
A ideia é erguer o espaço com recurso privado e com a consultoria dos ingleses. Tomara.
Na verdade...
Quem primeiro pensou, há quatro anos, em construir uma réplica do Shakespeare’s Globe no Brasil foi o produtor mineiro Mauro Maya. Seu sonho é fazer o teatro na cidade Rio Acima, MG.
Casa das Garças
José Serra esteve segunda na Casa das Garças, importante centro carioca de estudos de economia.
Participou de um debate com vários economistas, entre os quais Edmar Bacha e Armínio Fraga.
Navalha na carne
Luiz Eduardo Falco, ex-presidente da Oi, assumiu o comando da CVC Viagens cortando cerca de 10% do pessoal, inclusive diretores.
Calma, gente!
Na abertura da exposição “Gênesis”, de Sebastião Salgado, ontem, em Londres, um segurança de Lula partiu para cima de um coleguinha que tentava entrevistar o ex-presidente a respeito das investigações da PF sobre o envolvimento dele no mensalão.
— Eu te conheço. Não quero pergunta. Mais uma e eu vou te expulsar.
Viva a Marrom!
Alcione está em estúdio gravando um CD de sambas inéditos.
No repertório, “He, He”, uma inédita parceria entre Zeca Pagodinho e Djavan. Mas a Marrom avisa que a tônica do seu novo álbum, apesar de seus sambas românticos, é a alegria. A cantora começa a turnê no dia 21 de junho no Vivo Rio.
Bomba em Paraty
A Polícia Federal investiga um atentado a uma funcionária da Área de Proteção Ambiental Cairuçu, em Paraty.
Na madrugada de terça, uma bomba artesanal foi arremessada contra a casa dela, servidora do Instituto Chico Mendes. Ninguém ficou ferido.
Segue...
Foi o terceiro atentado a funcionários da APA. Nos outros, bombas foram jogadas no carro de outra servidora.
A turma fiscaliza a ocupação do solo na região de Paraty.
Tutti buona gente
Além de processados, em Minas Gerais, pela suspeita de lavagem de dinheiro, os irmãos Pajaro, sócios da empresa que venceu a licitação para gerenciar os cartões-combustível da Alerj, respondem a ação penal por uso de trabalho escravo.
O caso está na Justiça Federal, no Pará.
Novela Canecão
A 14ª Vara Federal do Rio determinou que Mario Priolli, dono do antigo Canecão, retire em dez dias cadeiras, mesas, documentos e até caixas lacradas de dentro do imóvel.
Malandros sem chance - MARCELO COELHO
FOLHA DE SP - 10/04
A corrupção brasileira vive uma crise de competência. Os mequetrefes ficarão sem vez
"Vai que Dá Certo" é uma produção da Globo Filmes que reúne alguns comediantes de grande sucesso na internet, como Fábio Porchat e Gregório Duvivier. O filme foi lançado em muitos cinemas, prevendo grande público.
Se você for um dos possíveis espectadores, aviso que vou contar algumas cenas e piadas neste artigo.
Boêmio e azarado, Danton Mello é Rodrigo, proprietário de um Maverick cor de barata metálica. O motor do carro está em petição de miséria. Aparece um assaltante. Rodrigo tem de lhe entregar aquela ruína sobre rodas.
Torce, naturalmente, para que o carro não pegue. Ao volante, o bandido não desiste: manda Rodrigo empurrar o Maverick para ajudá-lo a ir embora.
Tudo bem, é só uma comédia. Tudo bem, o filme tem patrocínio explícito da Fiat -e a necessidade de um carro novo envolverá outros personagens na trama. O espectador pode perguntar, em todo caso, por que um ladrão haveria de querer roubar um Maverick arrebentado.
Uma resposta possível é a de que não se trata de um filme sobre o Brasil real. É uma comédia sobre um país imaginado.
Esse país imaginado difere bastante dos antigos e novos clichês em torno de nosso "caráter nacional", e ao mesmo tempo concorda com eles. Classicamente, sempre fomos um povo improvisador, otimista, pacífico, atrasado e preguiçoso.
O quadro mudou muito quando a malandragem se transformou em PCC, e quando caiu a ficha de que, bem ou mal, estamos entre as maiores economias do mundo. Enquanto isso, o sistema de favores comum na política tradicional se tornou uma espécie de variante parlamentar do crime organizado.
O jeitinho deixou de constar como um traço simpático, e hoje equivale à transação com o pequeno traficante: um dente pequeno na engrenagem maior da corrupção. O que não quer dizer que não se recorra a ele.
"Vai que Dá Certo" se baseia nessa percepção ambígua. A malandragem tem tanto futuro quanto o Maverick de Danton Mello, mas ainda assim não custa dar uma empurrada que, com sorte, o carro pega.
O problema não é tanto o de a sociedade não admitir mais o comportamento criminoso. Ao contrário.
O problema é que não há mais espaço para amadores. Rodrigo e seus amigos são ingênuos e atrapalhados demais para ter sucesso no golpe que planejaram.
Terminam se salvando graças a um político jovem e corrupto, bem caracterizado por Bruno Mazzeo. Claro, o grupo ficará "devendo uma" ao figurão. No final do filme, o deputado aparece para lhes pedir um servicinho. Voltamos, com isso, ao caso do ladrão do Maverick. Que grande corrupto contrataria os préstimos daqueles patetas?
Mas talvez isso aconteça. Muitos escândalos são desvendados, no Brasil, graças ao otimismo, à autoconfiança, dos próprios envolvidos.
Fala-se em "certeza da impunidade", o que não é incorreto. Mas há também a certeza, bem brasileira, de que tudo vai dar certo no final. Assim, esquemas aparentemente bem montados desmoronam na baixaria da ex-amante, no laranja semianalfabeto à frente do barraco onde deveria funcionar uma empresa de consultoria.
Conclui-se que, como em tudo, a corrupção brasileira vive uma crise de competência. Com mais investimento em educação, naturalmente esse problema será contornado. Os mequetrefes ficarão sem vez.
Há algo de doce, talvez, e certamente de ingênuo em "Vai que Dá Certo". Estamos longe da violência mental de um site como "Porta dos Fundos", onde Fábio Porchat e Gregório Duvivier fazem humor mais cínico e adulto.
Uma moça chamada Kellen procura o próprio nome entre as latas de Coca Zero; Fábio Porchat, no papel de atendente do supermercado, avisa. "Você tem um nome merda." Só vai achar, com sorte, na promoção do guaraná Dolly.
Esse tipo de desplante não teria lugar no cinema comercial. Os participantes de "Vai que Dá Certo" precisam ser mais infantis, e menos realistas. Escolhem, na verdade, estilos de atuação heterogêneos.
Lúcio Mauro Filho é uma figura de cartum, enquanto Danton Mello é mais naturalista, e Fábio Porchat se desequilibra entre alguma "gayzice" e o tipo cervejeiro.
O filme é para ser em São Paulo, mas foge de uma localização precisa. No campinho de futebol, cada personagem usa a camisa de um time diferente. Ficamos, como o Brasil, entre o Fiat e o Maverick. Nenhuma das duas opções é de primeira linha.
A corrupção brasileira vive uma crise de competência. Os mequetrefes ficarão sem vez
"Vai que Dá Certo" é uma produção da Globo Filmes que reúne alguns comediantes de grande sucesso na internet, como Fábio Porchat e Gregório Duvivier. O filme foi lançado em muitos cinemas, prevendo grande público.
Se você for um dos possíveis espectadores, aviso que vou contar algumas cenas e piadas neste artigo.
Boêmio e azarado, Danton Mello é Rodrigo, proprietário de um Maverick cor de barata metálica. O motor do carro está em petição de miséria. Aparece um assaltante. Rodrigo tem de lhe entregar aquela ruína sobre rodas.
Torce, naturalmente, para que o carro não pegue. Ao volante, o bandido não desiste: manda Rodrigo empurrar o Maverick para ajudá-lo a ir embora.
Tudo bem, é só uma comédia. Tudo bem, o filme tem patrocínio explícito da Fiat -e a necessidade de um carro novo envolverá outros personagens na trama. O espectador pode perguntar, em todo caso, por que um ladrão haveria de querer roubar um Maverick arrebentado.
Uma resposta possível é a de que não se trata de um filme sobre o Brasil real. É uma comédia sobre um país imaginado.
Esse país imaginado difere bastante dos antigos e novos clichês em torno de nosso "caráter nacional", e ao mesmo tempo concorda com eles. Classicamente, sempre fomos um povo improvisador, otimista, pacífico, atrasado e preguiçoso.
O quadro mudou muito quando a malandragem se transformou em PCC, e quando caiu a ficha de que, bem ou mal, estamos entre as maiores economias do mundo. Enquanto isso, o sistema de favores comum na política tradicional se tornou uma espécie de variante parlamentar do crime organizado.
O jeitinho deixou de constar como um traço simpático, e hoje equivale à transação com o pequeno traficante: um dente pequeno na engrenagem maior da corrupção. O que não quer dizer que não se recorra a ele.
"Vai que Dá Certo" se baseia nessa percepção ambígua. A malandragem tem tanto futuro quanto o Maverick de Danton Mello, mas ainda assim não custa dar uma empurrada que, com sorte, o carro pega.
O problema não é tanto o de a sociedade não admitir mais o comportamento criminoso. Ao contrário.
O problema é que não há mais espaço para amadores. Rodrigo e seus amigos são ingênuos e atrapalhados demais para ter sucesso no golpe que planejaram.
Terminam se salvando graças a um político jovem e corrupto, bem caracterizado por Bruno Mazzeo. Claro, o grupo ficará "devendo uma" ao figurão. No final do filme, o deputado aparece para lhes pedir um servicinho. Voltamos, com isso, ao caso do ladrão do Maverick. Que grande corrupto contrataria os préstimos daqueles patetas?
Mas talvez isso aconteça. Muitos escândalos são desvendados, no Brasil, graças ao otimismo, à autoconfiança, dos próprios envolvidos.
Fala-se em "certeza da impunidade", o que não é incorreto. Mas há também a certeza, bem brasileira, de que tudo vai dar certo no final. Assim, esquemas aparentemente bem montados desmoronam na baixaria da ex-amante, no laranja semianalfabeto à frente do barraco onde deveria funcionar uma empresa de consultoria.
Conclui-se que, como em tudo, a corrupção brasileira vive uma crise de competência. Com mais investimento em educação, naturalmente esse problema será contornado. Os mequetrefes ficarão sem vez.
Há algo de doce, talvez, e certamente de ingênuo em "Vai que Dá Certo". Estamos longe da violência mental de um site como "Porta dos Fundos", onde Fábio Porchat e Gregório Duvivier fazem humor mais cínico e adulto.
Uma moça chamada Kellen procura o próprio nome entre as latas de Coca Zero; Fábio Porchat, no papel de atendente do supermercado, avisa. "Você tem um nome merda." Só vai achar, com sorte, na promoção do guaraná Dolly.
Esse tipo de desplante não teria lugar no cinema comercial. Os participantes de "Vai que Dá Certo" precisam ser mais infantis, e menos realistas. Escolhem, na verdade, estilos de atuação heterogêneos.
Lúcio Mauro Filho é uma figura de cartum, enquanto Danton Mello é mais naturalista, e Fábio Porchat se desequilibra entre alguma "gayzice" e o tipo cervejeiro.
O filme é para ser em São Paulo, mas foge de uma localização precisa. No campinho de futebol, cada personagem usa a camisa de um time diferente. Ficamos, como o Brasil, entre o Fiat e o Maverick. Nenhuma das duas opções é de primeira linha.
O Rio de altos e baixos - ZUENIR VENTURA
O GLOBO - 10/04
O carioca é ciclotímico em relação ao Rio, que costuma ser para ele a melhor ou a pior cidade do mundo. Aqui não há lugar para vice (os vascaínos que o digam). Nossa percepção e humor variam entre a euforia e a depressão. Até outro dia era a melhor, estava bombando. Vivíamos um momento histórico. A paz urbana finalmente chegara, os investimentos também, os turistas estavam adorando, os hotéis iam ficar superlotados. A cotação estava lá em cima. Tudo parecia pronto para a nossa gente bronzeada mostrar o seu valor nos próximos eventos: Jornada Internacional da Juventude, Copa das Confederações, Copa do Mundo, Olimpíadas. O Brasil, o Rio principalmente, comemoraram antes da hora. Acreditou-se no fim da violência, no milagre das UPPs, festejou-se tanto os novos tempos que a Brahma resolveu neutralizar as vozes que advertiam para os problemas não resolvidos. Contra o bordão "Imagina na Copa", ela lançou a resposta euforizante do pilequinho cívico: "Vai ser a melhor festa já vista." Diante desse clima de exagerado otimismo, atos de barbárie como o inominável estupro da jovem americana na van foram um brutal choque de realidade que abalou nossa autoestima e manchou nossa imagem. O risco agora, para a população, é cair na depressão e, para as autoridades, atribuir tudo de ruim ao acaso e à fatalidade.
Recebi e-mail do prefeito com reparos à coluna do dia 3. Cedo-lhe a palavra. Sobre o Elevado do Joá, ele diz que o chamado "estudo da Coppe" é na verdade "um estudo da prefeitura que contratou a Coppe para fazer um levantamento aprofundado que nunca havia sido feito. Perguntei então: devo interditar o elevado? Resposta: não. O que devo fazer? Demoraram dois meses para me apresentar uma solução definitiva de R$ 70 milhões, que está em execução. Jamais economizaria em tema como esse."
Sobre a TransOeste: "A empresa responsável pelo lote 2 ganhou a licitação e executou mal a obra. A fiscalização da Secretaria de Obras apurou o defeito e exigiu que fosse refeito. Não estamos gastando um tostão. É como se estivesse na garantia. Óbvio que eu preferia que empresas incompetentes não pudessem participar de processos licitatórios."
Sobre o Engenhão: "Essa é uma herança que recebi (junto com a Cidade das Artes). Quem construiu me trouxe um laudo apontando risco (supostamente por erro do engenheiro e seu modelo matemático). Não tinha outra alternativa a não ser interditar. E quem fez é que vai ter que pagar o conserto."
Para terminar, Eduardo Paes deixa no ar uma dúvida: "Temos aqui nossos defeitos, mas diria que nos dois primeiros casos os problemas e/ou soluções são de engenharia. No caso do Engenhão, não posso afirmar."
Recebi e-mail do prefeito com reparos à coluna do dia 3. Cedo-lhe a palavra. Sobre o Elevado do Joá, ele diz que o chamado "estudo da Coppe" é na verdade "um estudo da prefeitura que contratou a Coppe para fazer um levantamento aprofundado que nunca havia sido feito. Perguntei então: devo interditar o elevado? Resposta: não. O que devo fazer? Demoraram dois meses para me apresentar uma solução definitiva de R$ 70 milhões, que está em execução. Jamais economizaria em tema como esse."
Sobre a TransOeste: "A empresa responsável pelo lote 2 ganhou a licitação e executou mal a obra. A fiscalização da Secretaria de Obras apurou o defeito e exigiu que fosse refeito. Não estamos gastando um tostão. É como se estivesse na garantia. Óbvio que eu preferia que empresas incompetentes não pudessem participar de processos licitatórios."
Sobre o Engenhão: "Essa é uma herança que recebi (junto com a Cidade das Artes). Quem construiu me trouxe um laudo apontando risco (supostamente por erro do engenheiro e seu modelo matemático). Não tinha outra alternativa a não ser interditar. E quem fez é que vai ter que pagar o conserto."
Para terminar, Eduardo Paes deixa no ar uma dúvida: "Temos aqui nossos defeitos, mas diria que nos dois primeiros casos os problemas e/ou soluções são de engenharia. No caso do Engenhão, não posso afirmar."
O ‘Fabuloso’ do STF! - TUTTY VASQUES
O ESTADÃO - 10/04
O torcedor reclama do temperamento de Luís Fabiano no trato com os juízes, mas, neste particular, o ministro Joaquim Barbosa não deixa nada a desejar ao artilheiro do São Paulo! O ministro está virando uma espécie de ‘Fabuloso’ do STF.
Com a vantagem de que, como maior autoridade no campo da Justiça, não pode ser expulso por quem se sentir ofendido pelas verdades que diz na cara.
Luís Fabiano deve morrer de inveja! Nem sonha com o dia em que, sem correr riscos de suspensão, poderá esculhambar os árbitros da maneira definitiva como Joaquim Barbosa esculachou dia desses aqueles dirigentes de associações de juízes!
O ministro saiu do encontro com o pavio curto aplaudido pela torcida depois do pito que passou nos ilustres visitantes por conta dos tribunais federais que estariam ajudando a criar de forma “sorrateira em resorts, em alguma praia”. O juiz que tentou reagir, tomou cartão amarelo: “Abaixe a voz, só me dirija a palavra quando eu pedir!”
Por muito menos, o ‘Fabuloso’ do São Paulo está desfalcando seu time em jogos decisivos pela Libertadores, daí a bronca com o temperamento do jogador. Pensa que é presidente do STF, caramba!
Eu, hein!
Como se não bastasse a foto que circula na internet de Ney Matogrosso pegando a Martinália seminua por trás, a personagem da filha da Gretchen afeminou-se em ‘Salve Jorge’.
Desse jeito, Marco Feliciano vai acabar achando que faz milagres!
Companheiro de viagem
Aloizio Mercadante ligou para Dilma Rousseff assim que soube da morte de Margaret Thatcher:
“E aí, a gente vai ao velório?”
O ministro, como se sabe, é uma espécie de membro permanente das comitivas presidenciais em viagens ao exterior!
Baianês enferrujado
O técnico Joel Santana está de volta a Salvador para treinar o Bahia!
Capaz de enfrentar alguma dificuldade inicial com o idioma que não pratica há quase dois anos, mas ele sempre se virou bem em qualquer língua.
Comércio alternativo
Quem não tem dinheiro em caixa para comprar tomate pode recorrer ao Mercado Livre da internet.
Parece que já tem dona de casa da classe C trocando a bicicleta do filho pela quantidade de tomate suficiente para quatro ou cinco macarronadas de domingo.
Tudo a ver
Bonita a homenagem da TV Globo a Margaret Thatcher no ‘Tela Quente’ de segunda-feira!
Nem todo telespectador – ô, raça! – se deu conta, mas a emissora exibiu o ‘Homem de Ferro’ na noite da morte da ‘Dama de Ferro’!
Gentileza gera gentileza
Ao se despedir da Alemanha, o presidente Vladimir Putin agradeceu à anfitriã Angela Merkel a manifestação de mulheres seminuas para ele em Hannover.
Ficou até de combinar com uns rapazes que conhece em Moscou uma retribuição de carinho à altura quando a chanceler visitar a Rússia.
O torcedor reclama do temperamento de Luís Fabiano no trato com os juízes, mas, neste particular, o ministro Joaquim Barbosa não deixa nada a desejar ao artilheiro do São Paulo! O ministro está virando uma espécie de ‘Fabuloso’ do STF.
Com a vantagem de que, como maior autoridade no campo da Justiça, não pode ser expulso por quem se sentir ofendido pelas verdades que diz na cara.
Luís Fabiano deve morrer de inveja! Nem sonha com o dia em que, sem correr riscos de suspensão, poderá esculhambar os árbitros da maneira definitiva como Joaquim Barbosa esculachou dia desses aqueles dirigentes de associações de juízes!
O ministro saiu do encontro com o pavio curto aplaudido pela torcida depois do pito que passou nos ilustres visitantes por conta dos tribunais federais que estariam ajudando a criar de forma “sorrateira em resorts, em alguma praia”. O juiz que tentou reagir, tomou cartão amarelo: “Abaixe a voz, só me dirija a palavra quando eu pedir!”
Por muito menos, o ‘Fabuloso’ do São Paulo está desfalcando seu time em jogos decisivos pela Libertadores, daí a bronca com o temperamento do jogador. Pensa que é presidente do STF, caramba!
Eu, hein!
Como se não bastasse a foto que circula na internet de Ney Matogrosso pegando a Martinália seminua por trás, a personagem da filha da Gretchen afeminou-se em ‘Salve Jorge’.
Desse jeito, Marco Feliciano vai acabar achando que faz milagres!
Companheiro de viagem
Aloizio Mercadante ligou para Dilma Rousseff assim que soube da morte de Margaret Thatcher:
“E aí, a gente vai ao velório?”
O ministro, como se sabe, é uma espécie de membro permanente das comitivas presidenciais em viagens ao exterior!
Baianês enferrujado
O técnico Joel Santana está de volta a Salvador para treinar o Bahia!
Capaz de enfrentar alguma dificuldade inicial com o idioma que não pratica há quase dois anos, mas ele sempre se virou bem em qualquer língua.
Comércio alternativo
Quem não tem dinheiro em caixa para comprar tomate pode recorrer ao Mercado Livre da internet.
Parece que já tem dona de casa da classe C trocando a bicicleta do filho pela quantidade de tomate suficiente para quatro ou cinco macarronadas de domingo.
Tudo a ver
Bonita a homenagem da TV Globo a Margaret Thatcher no ‘Tela Quente’ de segunda-feira!
Nem todo telespectador – ô, raça! – se deu conta, mas a emissora exibiu o ‘Homem de Ferro’ na noite da morte da ‘Dama de Ferro’!
Gentileza gera gentileza
Ao se despedir da Alemanha, o presidente Vladimir Putin agradeceu à anfitriã Angela Merkel a manifestação de mulheres seminuas para ele em Hannover.
Ficou até de combinar com uns rapazes que conhece em Moscou uma retribuição de carinho à altura quando a chanceler visitar a Rússia.
Antropólogo ou espião? - ROBERTO DAMATTA
O ESTADÃO - 10/04
Eu fui dragado pela então chamada Etnologia Indígena muito cedo. Tinha uns vinte anos quando pelas mãos de Luiz de Castro Faria fui levado ao Museu Nacional e iniciado por um entusiasmado jovem Roberto Cardoso de Oliveira nos mistérios luminosos das sociedades sem escrita, grupos tribais com uma tecnologia modesta e um assombroso simbolismo, mas sempre tidos como “primitivos”, “atrasados” e “selvagens”.
Nos anos 60, quando isso acontecia comigo, a vida política brasileira girava em torno do binômio desenvolvido/subdesenvolvido. Era urgente, dizia-se, “mudar as estruturas”.
Logo fui apresentado ao pensamento de Claude Lévi-Strauss. Um primeiro momento de reflexão foi sobre o ensaio “Estrutura social” (publicado no livro “Antropologia estrutural”, em 1958), mas apresentado e discutido numa reunião internacional em 1952 nos Estados Unidos. Antes, eu havia trabalhado com o livro “Social structure”, de George Peter Murdock, professor em Yale. Fui casado com a senhora “estrutura” por algumas décadas e, pensando bem, jamais pedi um divórcio. Cada geração tem uma palavra mágica — e a dos meus contemporâneos foi “estrutura”.
A “estrutura” no singular era vista como um instrumento para o entendimento da sociedade. Já “as estruturas” definiam uma substância histórica claríssima feita de instituições e práticas sociais atrasadas — como o feudalismo rural brasileiro — a serem radical e facilmente transformadas pelo Estado. Na medida em que me tornei um pesquisador de povos indígenas e fui me civilizando, meu destino foi marcado mais pelo primeiro significado do que pelo segundo
Minha primeira viagem de campo foi realizada entre agosto e novembro de 1961. Nesse período, vivi com os índios Gaviões do Sul do Pará, como provam as 600 páginas escritas em cadernos de capa verde musgo, de acordo com instruções do meu professor. O “diário de campo” era para os antropólogos o mesmo que a leitura do Breviário para os padres. Coisa sagrada esse registro de tudo o que podíamos observar. Meu diário foi aberto no dia 8 de agosto, em Marabá, e fechado em 30 de outubro de 1961, na aldeia do Cocal.
No dia 15 de agosto, eu estou em Itupiranga, Pará, e me preparo para cruzar o Tocantins e seguir para leste, na direção do que hoje é Nova Ipixuna, com o objetivo de chegar à Aldeia do Cocal com meu companheiro de aventura, Júlio Cezar Melatti, um grande e generoso antropólogo, hoje professor emérito da Universidade de Brasília. Em 18 de agosto — depois de um dia e uma noite na mata — chegamos à aldeia. Por onde começar? Eis a pergunta que todo etnólogo faz a si mesmo tal como um menino num parque de diversões, um prisioneiro na cela, ou um noivo em lua de mel.
Todas as entradas do meu diário revelam uma recorrente dificuldade em lidar com o mundo aborígene. Muito angustiado, eu escrevo: “Eles falam e eu não entendo, eu falo, eles não entendem”. A marca desses primeiros dias foi uma aproximação física um tanto exagerada — eles nos tocam para ver se somos reais. Tudo o que faço é visto e comentado: não há privacidade. Comemos com eles e descobri que o estudo da “estrutura” promovia fome. Estava enrascado. A aldeia ficava a um dia de viagem de Itupiranga (que, na época, tinha umas 6 ruas) e Itupiranga ficava a um dia de Marabá. Na aldeia, 15 homens, 6 mulheres e apenas dois meninos exprimiam, debaixo do nome de Gaviões, uma forma de humanidade. Estava antenado na teoria das estruturas, mas não tinha rádio. Os índios, por sua vez, não queriam saber de suas tradições e só falavam dos seus mortos pelo contato com conosco — os estrangeiros-inimigos. Naquele tempo eu não sabia nada das perdas e da morte. Estava protegido por minha alucinação antropológica.
Mais para dentro do mato havia um posto de extração de castanha com uns seis ou sete trabalhadores comandados por um chefe chamado Lourival. No dia 29 de agosto de 1961, ele falou da renúncia de Jânio Quadros (ocorrida no dia 25) e da crise institucional que reinava no que chamava de “Sul” (o Brasil), que, como disse, estava “vivendo uma cagada”. Uma das muitas que infelizmente tenho testemunhado em minha vida.
Estava emparedado entre duas estruturas. A “social” dos índios, que eu tinha a obrigação de desvendar e não sabia como; e a do Brasil, que, pelo que tudo indicava, começava a mudar para pior.
Mesmo em meio a essa maluquice iniciatória, porém, eu havia estabelecido um plano para enviar e receber cartas. Um certo João da Mata, logo identificado como um possível parente, prestou-se a receber nossa correspondência e enviá-la às nossas mãos. Recebemos as primeiras cartas no dia 31 de agosto, entregues por um jovem caçador que passou rápido pela aldeia.
No final do trabalho, de volta a Itupiranga depois de passar fome e ter sido vítima de malária, encontramos o prestativo senhor de nossas cartas.
Houve um confronto:
Por que, perguntamos, toda a nossa correspondência fora violada? Ora — respondeu João da Mata — porque eu não acreditei que vocês fossem cientistas. Esse interesse pelos “cabocos Gaviões” não podia ser verdade. Vocês seriam garimpeiros em busca de ouro ou, quem sabe, espiões americanos procurando urânio. As cartas mostravam que eram cientistas e eu me orgulho de os ter conhecido.
Ao pegar o “motor” que ia nos levar de volta a Marabá e, dali, ao Brasil que eu tanto queria mudar, eu ainda ouvia essas palavras. Elas jamais saíram da minha cabeça...
Eu fui dragado pela então chamada Etnologia Indígena muito cedo. Tinha uns vinte anos quando pelas mãos de Luiz de Castro Faria fui levado ao Museu Nacional e iniciado por um entusiasmado jovem Roberto Cardoso de Oliveira nos mistérios luminosos das sociedades sem escrita, grupos tribais com uma tecnologia modesta e um assombroso simbolismo, mas sempre tidos como “primitivos”, “atrasados” e “selvagens”.
Nos anos 60, quando isso acontecia comigo, a vida política brasileira girava em torno do binômio desenvolvido/subdesenvolvido. Era urgente, dizia-se, “mudar as estruturas”.
Logo fui apresentado ao pensamento de Claude Lévi-Strauss. Um primeiro momento de reflexão foi sobre o ensaio “Estrutura social” (publicado no livro “Antropologia estrutural”, em 1958), mas apresentado e discutido numa reunião internacional em 1952 nos Estados Unidos. Antes, eu havia trabalhado com o livro “Social structure”, de George Peter Murdock, professor em Yale. Fui casado com a senhora “estrutura” por algumas décadas e, pensando bem, jamais pedi um divórcio. Cada geração tem uma palavra mágica — e a dos meus contemporâneos foi “estrutura”.
A “estrutura” no singular era vista como um instrumento para o entendimento da sociedade. Já “as estruturas” definiam uma substância histórica claríssima feita de instituições e práticas sociais atrasadas — como o feudalismo rural brasileiro — a serem radical e facilmente transformadas pelo Estado. Na medida em que me tornei um pesquisador de povos indígenas e fui me civilizando, meu destino foi marcado mais pelo primeiro significado do que pelo segundo
Minha primeira viagem de campo foi realizada entre agosto e novembro de 1961. Nesse período, vivi com os índios Gaviões do Sul do Pará, como provam as 600 páginas escritas em cadernos de capa verde musgo, de acordo com instruções do meu professor. O “diário de campo” era para os antropólogos o mesmo que a leitura do Breviário para os padres. Coisa sagrada esse registro de tudo o que podíamos observar. Meu diário foi aberto no dia 8 de agosto, em Marabá, e fechado em 30 de outubro de 1961, na aldeia do Cocal.
No dia 15 de agosto, eu estou em Itupiranga, Pará, e me preparo para cruzar o Tocantins e seguir para leste, na direção do que hoje é Nova Ipixuna, com o objetivo de chegar à Aldeia do Cocal com meu companheiro de aventura, Júlio Cezar Melatti, um grande e generoso antropólogo, hoje professor emérito da Universidade de Brasília. Em 18 de agosto — depois de um dia e uma noite na mata — chegamos à aldeia. Por onde começar? Eis a pergunta que todo etnólogo faz a si mesmo tal como um menino num parque de diversões, um prisioneiro na cela, ou um noivo em lua de mel.
Todas as entradas do meu diário revelam uma recorrente dificuldade em lidar com o mundo aborígene. Muito angustiado, eu escrevo: “Eles falam e eu não entendo, eu falo, eles não entendem”. A marca desses primeiros dias foi uma aproximação física um tanto exagerada — eles nos tocam para ver se somos reais. Tudo o que faço é visto e comentado: não há privacidade. Comemos com eles e descobri que o estudo da “estrutura” promovia fome. Estava enrascado. A aldeia ficava a um dia de viagem de Itupiranga (que, na época, tinha umas 6 ruas) e Itupiranga ficava a um dia de Marabá. Na aldeia, 15 homens, 6 mulheres e apenas dois meninos exprimiam, debaixo do nome de Gaviões, uma forma de humanidade. Estava antenado na teoria das estruturas, mas não tinha rádio. Os índios, por sua vez, não queriam saber de suas tradições e só falavam dos seus mortos pelo contato com conosco — os estrangeiros-inimigos. Naquele tempo eu não sabia nada das perdas e da morte. Estava protegido por minha alucinação antropológica.
Mais para dentro do mato havia um posto de extração de castanha com uns seis ou sete trabalhadores comandados por um chefe chamado Lourival. No dia 29 de agosto de 1961, ele falou da renúncia de Jânio Quadros (ocorrida no dia 25) e da crise institucional que reinava no que chamava de “Sul” (o Brasil), que, como disse, estava “vivendo uma cagada”. Uma das muitas que infelizmente tenho testemunhado em minha vida.
Estava emparedado entre duas estruturas. A “social” dos índios, que eu tinha a obrigação de desvendar e não sabia como; e a do Brasil, que, pelo que tudo indicava, começava a mudar para pior.
Mesmo em meio a essa maluquice iniciatória, porém, eu havia estabelecido um plano para enviar e receber cartas. Um certo João da Mata, logo identificado como um possível parente, prestou-se a receber nossa correspondência e enviá-la às nossas mãos. Recebemos as primeiras cartas no dia 31 de agosto, entregues por um jovem caçador que passou rápido pela aldeia.
No final do trabalho, de volta a Itupiranga depois de passar fome e ter sido vítima de malária, encontramos o prestativo senhor de nossas cartas.
Houve um confronto:
Por que, perguntamos, toda a nossa correspondência fora violada? Ora — respondeu João da Mata — porque eu não acreditei que vocês fossem cientistas. Esse interesse pelos “cabocos Gaviões” não podia ser verdade. Vocês seriam garimpeiros em busca de ouro ou, quem sabe, espiões americanos procurando urânio. As cartas mostravam que eram cientistas e eu me orgulho de os ter conhecido.
Ao pegar o “motor” que ia nos levar de volta a Marabá e, dali, ao Brasil que eu tanto queria mudar, eu ainda ouvia essas palavras. Elas jamais saíram da minha cabeça...
Hoje, excepcionalmente - ANTONIO PRATA
FOLHA DE SP - 10/04
De tudo o que escrevi, só duas frases prestavam -e não eram minhas, mas de Fernando Pessoa
PEÇO PERDÃO ao caro leitor por estas mal traçadas linhas. Sei que a úbere Flor do Lácio já produziu pétalas mais cheirosas do que as que ora ofereço a vossas exigentes narinas. Em minha defesa, digo que não foram a preguiça ou a inépcia as culpadas pelo crônico desmantelo, muito pelo contrário: foi a ambição. O presente texto é fruto de uma experiência pioneira -e não existe pioneirismo sem riscos, como bem sabem os descobridores e, principalmente, os que nada descobriram; os grandes heróis anônimos cujos nomes, destinados aos livros de história, acabaram no fundo dos oceanos ou no bico dos urubus.
Qual era minha ambição? Escrever uma crônica com começo, meio e fim -e, se possível, graça-, instalado na saraiêvica balbúrdia de uma casa em reforma. Tenho certeza de que Marco Polo foi à Conchinchina, Neil Armstrong pisou na lua e Takeru Kobayashi comeu 50 hot dogs em 12 minutos sem sofrerem tanto quanto eu.
O texto que tentei escrever seria sobre a saudade. Teria frases de efeito, tipo "toda saudade é um lembrete da morte" e "no fim, a ausência é a única presença", mas a única presença detectável nas últimas 48 horas, dentro e fora do meu cérebro, é a dos pedreiros, executando sua ininterrupta sinfonia para Makita e marreta.
Que sinfonia! A marreta faz o chão tremer e o laptop sambar no meu colo, como se Deus, ouvindo um cha-cha-cha -e sem nenhuma noção de ritmo-, batucasse na laje. Já o som da Makita penetrando o concreto é... Como definir? Sei exatamente como, depois de dois dias ouvindo-o: é como o urro de uma elefanta fanha sob efeito de anfetaminas tentando imitar uma gata no cio. (A gata não é fanha, só a elefanta: há aí uma diferença sutil, porém fundamental.)
De tudo o que escrevi entre as nove da manhã de segunda e as seis da tarde de terça, só duas frases prestavam -e não eram minhas, mas de Fernando Pessoa: "Oh mar salgado, quanto de teu sal/ São lágrimas de Portugal!". Foi a grandiloquência desses versos que me levou a Marco Polo, a Neil Armstrong, ao fundo dos oceanos. (Os hot dogs de Takeru vieram de um documentário e os urubus, imagino, foram atraídos pelo cheiro de carniça que já emanava de minhas primeiras palavras.)
Agora, enquanto o deadline se aproxima, a casa treme e a elefanta urra, em vez de me desesperar, arranjo subterfúgios. Por exemplo: ver no dicionário o feminino de elefante. Lembro-me de que era uma palavra curta e bonita. Aí está: aliá. Monto a aliá e sigo em minha marcha procrastinatória até o colegial, onde estudei com uma menina chamada Eloá. De elefanta, não tinha nada. Era magra, tristemente linda, vestia-se de preto e tinha sobrancelhas muito delicadas, tão delicadas que eu não sei como resistem, há mais de 15 segundos, às marretadas que chacoalham meus neurônios.
Volto da divagação com o desejo algo corrupto de dizer que sinto saudades de Eloá, resgatando à crônica algo de seu tema original e fechando-a com um laço de lirismo, mas estaria mentindo. Mal conheci Eloá. Quem conheço bem é a aliá, a elefanta, a "elefanha" anfetamínica a urrar em meus ouvidos sua imitação de gata no cio.
Perdão, caro leitor: hoje, excepcionalmente, esta coluna não será publicada.
De tudo o que escrevi, só duas frases prestavam -e não eram minhas, mas de Fernando Pessoa
PEÇO PERDÃO ao caro leitor por estas mal traçadas linhas. Sei que a úbere Flor do Lácio já produziu pétalas mais cheirosas do que as que ora ofereço a vossas exigentes narinas. Em minha defesa, digo que não foram a preguiça ou a inépcia as culpadas pelo crônico desmantelo, muito pelo contrário: foi a ambição. O presente texto é fruto de uma experiência pioneira -e não existe pioneirismo sem riscos, como bem sabem os descobridores e, principalmente, os que nada descobriram; os grandes heróis anônimos cujos nomes, destinados aos livros de história, acabaram no fundo dos oceanos ou no bico dos urubus.
Qual era minha ambição? Escrever uma crônica com começo, meio e fim -e, se possível, graça-, instalado na saraiêvica balbúrdia de uma casa em reforma. Tenho certeza de que Marco Polo foi à Conchinchina, Neil Armstrong pisou na lua e Takeru Kobayashi comeu 50 hot dogs em 12 minutos sem sofrerem tanto quanto eu.
O texto que tentei escrever seria sobre a saudade. Teria frases de efeito, tipo "toda saudade é um lembrete da morte" e "no fim, a ausência é a única presença", mas a única presença detectável nas últimas 48 horas, dentro e fora do meu cérebro, é a dos pedreiros, executando sua ininterrupta sinfonia para Makita e marreta.
Que sinfonia! A marreta faz o chão tremer e o laptop sambar no meu colo, como se Deus, ouvindo um cha-cha-cha -e sem nenhuma noção de ritmo-, batucasse na laje. Já o som da Makita penetrando o concreto é... Como definir? Sei exatamente como, depois de dois dias ouvindo-o: é como o urro de uma elefanta fanha sob efeito de anfetaminas tentando imitar uma gata no cio. (A gata não é fanha, só a elefanta: há aí uma diferença sutil, porém fundamental.)
De tudo o que escrevi entre as nove da manhã de segunda e as seis da tarde de terça, só duas frases prestavam -e não eram minhas, mas de Fernando Pessoa: "Oh mar salgado, quanto de teu sal/ São lágrimas de Portugal!". Foi a grandiloquência desses versos que me levou a Marco Polo, a Neil Armstrong, ao fundo dos oceanos. (Os hot dogs de Takeru vieram de um documentário e os urubus, imagino, foram atraídos pelo cheiro de carniça que já emanava de minhas primeiras palavras.)
Agora, enquanto o deadline se aproxima, a casa treme e a elefanta urra, em vez de me desesperar, arranjo subterfúgios. Por exemplo: ver no dicionário o feminino de elefante. Lembro-me de que era uma palavra curta e bonita. Aí está: aliá. Monto a aliá e sigo em minha marcha procrastinatória até o colegial, onde estudei com uma menina chamada Eloá. De elefanta, não tinha nada. Era magra, tristemente linda, vestia-se de preto e tinha sobrancelhas muito delicadas, tão delicadas que eu não sei como resistem, há mais de 15 segundos, às marretadas que chacoalham meus neurônios.
Volto da divagação com o desejo algo corrupto de dizer que sinto saudades de Eloá, resgatando à crônica algo de seu tema original e fechando-a com um laço de lirismo, mas estaria mentindo. Mal conheci Eloá. Quem conheço bem é a aliá, a elefanta, a "elefanha" anfetamínica a urrar em meus ouvidos sua imitação de gata no cio.
Perdão, caro leitor: hoje, excepcionalmente, esta coluna não será publicada.
Péssimo dos péssimos - TOSTÃO
FOLHA DE SP - 10/04
Hoje é quarta-feira, dia de bons e decisivos jogos, pela Libertadores e pela Copa dos Campeões
O que fazem os membros do comitê da Copa? Marin troca favores, Ronaldo viaja para Londres, para fazer curso de publicidade relacionado às suas atividades empresariais, e o deputado estadual Bebeto sorri.
Marin e vários políticos brasileiros acharam que a Bolívia é uma republiqueta, que a Justiça do país não tem independência e que, para soltar os 12 corintianos, bastaria apelar ao presidente da Bolívia, Evo Morales, além de tentar comprar a dor da família do adolescente Kevin. Quebraram a cara.
A pelada entre Brasil e Bolívia não serviu para avançar na parte tática nem para selecionar jogadores para a Copa das Confederações. Na transmissão da TV Globo, tiraram várias conclusões. Há dois tipos de futebol, quando joga a seleção. Um, distante da realidade, é o dito na transmissão das partidas pela TV Globo e repetido pela maioria. Outro, próximo dos fatos, é falado e discutido pela minoria.
Contra a Rússia, Kaká, Neymar e Oscar tiveram más atuações. Kaká não foi pior que os outros dois. Depois do jogo, parte da imprensa e, provavelmente, Felipão concluíram que não há lugar para Kaká, que o lugar é de Ronaldinho, que tinha perdido o lugar, após o jogo contra a Inglaterra.
Hoje é dia de bons e decisivos jogos. Real Madrid e Borussia Dortmund já estão na semifinal. Muito do que acontece em um jogo ocorre sem ser planejado, e não porque o técnico mudou um jogador três metros para a direita ou para a esquerda, como muitos acham.
O Barcelona é favorito, joga em casa, pode empatar por 1 a 1 ou por 0 a 0, mas corre muitos riscos, ainda mais se Messi não jogar. Quando a bola é lançada na área do Barcelona, para o grandalhão, forte e excepcional Ibrahimovic, é um grande perigo. No primeiro jogo, Beckham só entrou para bater escanteios, faltas e para jogar a bola na área.
O Bayern tem dois gols de vantagem sobre a Juventus. Mesmo assim, o bom time italiano tem razoáveis chances de se classificar. A Juventus é a única das grandes equipes da Europa que atua com três zagueiros. Os dois alas jogam muito à frente, e os volantes avançam, especialmente Pirlo, o organizador da equipe.
A seleção brasileira só terá um grande time quando tiver um volante como Pirlo, que, além de marcar, se torna o armador da equipe, já que é menos marcado. Isso ocorre em todos os melhores times do mundo.
O Grêmio, em casa, enfrenta o Fluminense. Outro jogão. Amanhã, o Palmeiras joga com o Libertad. O time paraguaio é superior, mas, em casa e se for apoiado pela torcida, aumentam as chances do Palmeiras. Só não entendi tanta confiança com a equipe por causa da vitória sobre o Tigre. Parafraseando um antigo comentarista mineiro, o Tigre, na Libertadores, é o péssimo dos péssimos.
Hoje é quarta-feira, dia de bons e decisivos jogos, pela Libertadores e pela Copa dos Campeões
O que fazem os membros do comitê da Copa? Marin troca favores, Ronaldo viaja para Londres, para fazer curso de publicidade relacionado às suas atividades empresariais, e o deputado estadual Bebeto sorri.
Marin e vários políticos brasileiros acharam que a Bolívia é uma republiqueta, que a Justiça do país não tem independência e que, para soltar os 12 corintianos, bastaria apelar ao presidente da Bolívia, Evo Morales, além de tentar comprar a dor da família do adolescente Kevin. Quebraram a cara.
A pelada entre Brasil e Bolívia não serviu para avançar na parte tática nem para selecionar jogadores para a Copa das Confederações. Na transmissão da TV Globo, tiraram várias conclusões. Há dois tipos de futebol, quando joga a seleção. Um, distante da realidade, é o dito na transmissão das partidas pela TV Globo e repetido pela maioria. Outro, próximo dos fatos, é falado e discutido pela minoria.
Contra a Rússia, Kaká, Neymar e Oscar tiveram más atuações. Kaká não foi pior que os outros dois. Depois do jogo, parte da imprensa e, provavelmente, Felipão concluíram que não há lugar para Kaká, que o lugar é de Ronaldinho, que tinha perdido o lugar, após o jogo contra a Inglaterra.
Hoje é dia de bons e decisivos jogos. Real Madrid e Borussia Dortmund já estão na semifinal. Muito do que acontece em um jogo ocorre sem ser planejado, e não porque o técnico mudou um jogador três metros para a direita ou para a esquerda, como muitos acham.
O Barcelona é favorito, joga em casa, pode empatar por 1 a 1 ou por 0 a 0, mas corre muitos riscos, ainda mais se Messi não jogar. Quando a bola é lançada na área do Barcelona, para o grandalhão, forte e excepcional Ibrahimovic, é um grande perigo. No primeiro jogo, Beckham só entrou para bater escanteios, faltas e para jogar a bola na área.
O Bayern tem dois gols de vantagem sobre a Juventus. Mesmo assim, o bom time italiano tem razoáveis chances de se classificar. A Juventus é a única das grandes equipes da Europa que atua com três zagueiros. Os dois alas jogam muito à frente, e os volantes avançam, especialmente Pirlo, o organizador da equipe.
A seleção brasileira só terá um grande time quando tiver um volante como Pirlo, que, além de marcar, se torna o armador da equipe, já que é menos marcado. Isso ocorre em todos os melhores times do mundo.
O Grêmio, em casa, enfrenta o Fluminense. Outro jogão. Amanhã, o Palmeiras joga com o Libertad. O time paraguaio é superior, mas, em casa e se for apoiado pela torcida, aumentam as chances do Palmeiras. Só não entendi tanta confiança com a equipe por causa da vitória sobre o Tigre. Parafraseando um antigo comentarista mineiro, o Tigre, na Libertadores, é o péssimo dos péssimos.
A cesta básica volta às manchetes, um mau sinal - EDITORIAL O ESTADÃO
O Estado de S.Paulo - 10/04
O preço da cesta básica paulistana (carne, leite, arroz, feijão, farinha, batata, tomate, pão, café, banana, açúcar, óleo e manteiga)aumentou 23,06% nos últimos 12 meses, até março, e alcançou R$ 336,26, segundo o Departamento Intersindical de Estudos Socioeconômicos (Dieese). Em março de 2012 o custo da cesta básica correspondia a 41,94% do salário mínimo (após o desconto da Previdência Social) e no mês passado, a 47,81%.
Entre fevereiro e março, a cesta básica subiu em 16 das 18 capitais pesquisadas pelo Dieese. Apenas em Florianópolis e Natal houve queda. A alta foi maior em Vitória (+6%), Manaus (+4,5%) e Salvador (+4%). No primeiro trimestre houve alta em todos os locais pesquisados.
Em um ano, o preço da farinha de mandioca aumentou 173% em Aracaju, 181% em Fortaleza e 202% em Manaus. O feijão subiu 32% em Fortaleza, 35% em Aracaju e 37% em Salvador. A alta do leite foi menor, mas chegou a 28%, em Salvador. E o preço do pão francês aumentou 18% em São Paulo e 30% em Salvador.
Tomate e batata foram recordistas em preços. A batata subiu cerca de 150% em Goiânia, Belo Horizonte e Porto Alegre. Em 13 capitais o tomate superou 100% (no Rio de Janeiro, alta de 194%; em Porto Alegre, de 197%; e em Vitória, de 215%).
A quebra de safra explica a alta dos preços da mandioca e do feijão, cuja área plantada foi reduzida. Os preços do tomate subiram com as chuvas. E o Brasil já importa tomates da China.
A alta dos alimentos é tão forte que já estaria afetando as vendas do varejo, pois o consumidor constata a perda do poder aquisitivo do salário e perde confiança. Os consumidores estão pessimistas com sua renda atual, afetada pela inflação, nota o economista Guilherme Dietze, da Federação do Comércio do Estado de São Paulo, citado em reportagem de Márcia de Chiara, no Estado (9/4).
Infraestrutura precária afeta toda a produção agrícola - inclusive a de bens in natura, os que mais subiram - e a falta de armazéns para estocagem afeta, principalmente, os grãos. Há perdas elevadas, o que eleva os custos da produção.
A situação foi pior há 15 anos, quando o valor da cesta básica calculado pelo Procon e pelo Dieese não era muito diferente do valor do salário mínimo. Mas poderia ser bem melhor do que é. Nos governos que antecederam o PT, a divulgação do valor da cesta era um momento para criticar o governo, tratado como "responsável" pela alta do custo de vida. O governo sempre tem parte da culpa - e isso não é diferente hoje.
O preço da cesta básica paulistana (carne, leite, arroz, feijão, farinha, batata, tomate, pão, café, banana, açúcar, óleo e manteiga)aumentou 23,06% nos últimos 12 meses, até março, e alcançou R$ 336,26, segundo o Departamento Intersindical de Estudos Socioeconômicos (Dieese). Em março de 2012 o custo da cesta básica correspondia a 41,94% do salário mínimo (após o desconto da Previdência Social) e no mês passado, a 47,81%.
Entre fevereiro e março, a cesta básica subiu em 16 das 18 capitais pesquisadas pelo Dieese. Apenas em Florianópolis e Natal houve queda. A alta foi maior em Vitória (+6%), Manaus (+4,5%) e Salvador (+4%). No primeiro trimestre houve alta em todos os locais pesquisados.
Em um ano, o preço da farinha de mandioca aumentou 173% em Aracaju, 181% em Fortaleza e 202% em Manaus. O feijão subiu 32% em Fortaleza, 35% em Aracaju e 37% em Salvador. A alta do leite foi menor, mas chegou a 28%, em Salvador. E o preço do pão francês aumentou 18% em São Paulo e 30% em Salvador.
Tomate e batata foram recordistas em preços. A batata subiu cerca de 150% em Goiânia, Belo Horizonte e Porto Alegre. Em 13 capitais o tomate superou 100% (no Rio de Janeiro, alta de 194%; em Porto Alegre, de 197%; e em Vitória, de 215%).
A quebra de safra explica a alta dos preços da mandioca e do feijão, cuja área plantada foi reduzida. Os preços do tomate subiram com as chuvas. E o Brasil já importa tomates da China.
A alta dos alimentos é tão forte que já estaria afetando as vendas do varejo, pois o consumidor constata a perda do poder aquisitivo do salário e perde confiança. Os consumidores estão pessimistas com sua renda atual, afetada pela inflação, nota o economista Guilherme Dietze, da Federação do Comércio do Estado de São Paulo, citado em reportagem de Márcia de Chiara, no Estado (9/4).
Infraestrutura precária afeta toda a produção agrícola - inclusive a de bens in natura, os que mais subiram - e a falta de armazéns para estocagem afeta, principalmente, os grãos. Há perdas elevadas, o que eleva os custos da produção.
A situação foi pior há 15 anos, quando o valor da cesta básica calculado pelo Procon e pelo Dieese não era muito diferente do valor do salário mínimo. Mas poderia ser bem melhor do que é. Nos governos que antecederam o PT, a divulgação do valor da cesta era um momento para criticar o governo, tratado como "responsável" pela alta do custo de vida. O governo sempre tem parte da culpa - e isso não é diferente hoje.
Quando a dama é de ferro - JORGE FONTOURA
CORREIO BRAZILIENSE - 10/04
Primeira grande personagem contemporânea da era das supermulheres na política, o falecimento de Margaret Thatcher faz suscitar a lembrança da figura central da reconversão ideológica a que a Europa se viu obrigada a partir dos anos de 1980, sob os influxos da queda do muro de Berlim e do ocaso das utopias socialistas. Não isenta de críticas ferozes, sem fazer concessões às políticas sociais e ao paternalismo estatal, seu estilo virulento deu-lhe notoriedade mundial, em particular em momentos de decisões vertiginosas, como na suspensão do leite gratuito para as crianças carentes (o que lhe valeu a pecha de "Thatcher-the-milk-snatcher", a ladra de leite), ou na grave violação de leis de guerra nas Malvinas, ao mandar torpedear de forma sorrateira o cruzador argentino Belgrano, com mais de 500 tripulantes a bordo, em ação fora da zona reconhecida como de combate.
Por 21 anos no poder, como residente habitual de Downing Street 10, a Dama de Ferro venceu três eleições seguidas e mereceu, para o bem e para o mal, o apelido que lhe foi dado. Primeiro lançado como crítica pelos soviéticos, paulatinamente o título foi assimilado e incorporado como virtude política a identificá-la para sempre. Com senso de oportunidade e de profundo conhecimento da sociedade britânica, Maggie soube detectar e vocalizar o conservadorismo latente da classe média, cansada de governos fragilizados e empobrecidos pelo sindicalismo exagerado, pela voracidade fiscal predadora e pelas agendas populistas do segundo pós-guerra.
Apesar de todas as críticas que se lhe podem imputar, sempre instigante e desafiadora, a primeira-ministra britânica confrontou com êxito o espírito do tempo em que viveu, demonstrando que era possível ser popular sem ser populista. Com propostas arrojadas, além de governar rigidamente por sua cartilha, dispensou conselheiros econômicos e marqueteiros, para elaborar seu thatcherismo de resultados - em princípio, apenas uma concepção de oposição aos trabalhistas. De forma herética ao tradicional ambiente político europeu, pregava sua cartilha ultraliberal, de desoneração fiscal, diminuição do tamanho do Estado e não intervenção na economia, com rigor no enfrentamento de sindicatos, de greves e de movimentos populares.
Durante seus governos fez escola, em particular com a política de privatizações de importantes setores da economia, como transportes e telecomunicações, a par da revogação do assistencialismo estatal, sob o drástico lema de que não existe almoço grátis. Foram tempos de austeridade e de enfrentamento social, a demonizar pobres e necessitados, carentes das prestações sociais e dos favores do poder público.
Se suas políticas conseguiram reduzir de imediato a inflação, o desemprego aumentou de forma drástica, desassistido e sem a proteção do Estado, a fazer ressurgir o enfrentamento de classes que parecia ter sido deixado para traz, na dramática história inglesa da segunda metade do século 19. No entanto, depois de Thatcher, nada mais seria igual, mesmo para os governos trabalhistas, obrigados a incorporar muito do thatcherismo residual que se perpetuou.
Apesar da condenação feroz ao neoliberalismo e a sua papisa britânica, parece claro que mesmo governos progressistas, como os de Tony Blair e Gordon Brown, adotaram práticas da dama de ferro, em particular no que concerne à função do Estado e à adoção de privatizações, impensáveis em outras épocas. Tal fenômeno se projetou para fora do Reino Unido, tanto na China e na Rússia, como mesmo no Brasil de Fernando Henrique à Lula e Dilma. Por fim, abstraídas as imprecações de crimes de guerra que possa ter cometido, a dama de ferro consagra-se como paradoxal revolucionária da reação, conservadora e individualista contra a corrente, inconteste como vulto histórico do seu e de outros tempos.
Por 21 anos no poder, como residente habitual de Downing Street 10, a Dama de Ferro venceu três eleições seguidas e mereceu, para o bem e para o mal, o apelido que lhe foi dado. Primeiro lançado como crítica pelos soviéticos, paulatinamente o título foi assimilado e incorporado como virtude política a identificá-la para sempre. Com senso de oportunidade e de profundo conhecimento da sociedade britânica, Maggie soube detectar e vocalizar o conservadorismo latente da classe média, cansada de governos fragilizados e empobrecidos pelo sindicalismo exagerado, pela voracidade fiscal predadora e pelas agendas populistas do segundo pós-guerra.
Apesar de todas as críticas que se lhe podem imputar, sempre instigante e desafiadora, a primeira-ministra britânica confrontou com êxito o espírito do tempo em que viveu, demonstrando que era possível ser popular sem ser populista. Com propostas arrojadas, além de governar rigidamente por sua cartilha, dispensou conselheiros econômicos e marqueteiros, para elaborar seu thatcherismo de resultados - em princípio, apenas uma concepção de oposição aos trabalhistas. De forma herética ao tradicional ambiente político europeu, pregava sua cartilha ultraliberal, de desoneração fiscal, diminuição do tamanho do Estado e não intervenção na economia, com rigor no enfrentamento de sindicatos, de greves e de movimentos populares.
Durante seus governos fez escola, em particular com a política de privatizações de importantes setores da economia, como transportes e telecomunicações, a par da revogação do assistencialismo estatal, sob o drástico lema de que não existe almoço grátis. Foram tempos de austeridade e de enfrentamento social, a demonizar pobres e necessitados, carentes das prestações sociais e dos favores do poder público.
Se suas políticas conseguiram reduzir de imediato a inflação, o desemprego aumentou de forma drástica, desassistido e sem a proteção do Estado, a fazer ressurgir o enfrentamento de classes que parecia ter sido deixado para traz, na dramática história inglesa da segunda metade do século 19. No entanto, depois de Thatcher, nada mais seria igual, mesmo para os governos trabalhistas, obrigados a incorporar muito do thatcherismo residual que se perpetuou.
Apesar da condenação feroz ao neoliberalismo e a sua papisa britânica, parece claro que mesmo governos progressistas, como os de Tony Blair e Gordon Brown, adotaram práticas da dama de ferro, em particular no que concerne à função do Estado e à adoção de privatizações, impensáveis em outras épocas. Tal fenômeno se projetou para fora do Reino Unido, tanto na China e na Rússia, como mesmo no Brasil de Fernando Henrique à Lula e Dilma. Por fim, abstraídas as imprecações de crimes de guerra que possa ter cometido, a dama de ferro consagra-se como paradoxal revolucionária da reação, conservadora e individualista contra a corrente, inconteste como vulto histórico do seu e de outros tempos.
OLHOS BEM ABERTOS - MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 10/04
As atrizes Drica Moraes e Mariana Lima protagonizam a peça "A Primeira Vista", que estreou na semana passada, no Sesc Pompeia. O cineasta Fernando Meirelles e os atores Bruna Lombardi, Carlos Alberto Riccelli e Sabrina Greve estavam na plateia.
TRILHA SONORA
Mudança no comando da Globo Filmes, o braço das Organizações Globo para o cinema: Carlos Eduardo Rodrigues está deixando o comando da empresa. Sai depois de mais de uma década no cargo, um dos mais poderosos do cinema nacional.
TRILHA 2
Rodrigues será substituído por Edson Pimentel. O novo diretor trabalha na Globo desde 1979 e ocupava até agora a direção de planejamento estratégico e controle de entretenimento. Criada em 1998, a Globo Filmes já produziu ou coproduziu 130 filmes. Seus maiores sucessos são "Tropa de Elite 2", "Se Eu Fosse Você 2" e "2 Filhos de Francisco".
TRILHA 3
A gota d'água para a mudança foi a polêmica entre Rodrigues e o cineasta pernambucano Kleber Mendonça Filho ("O Som ao Redor"), que disse que até seu vizinho, "se lançar o vídeo do churrasco dele no esquema da Globo Filmes", faria 200 mil espectadores num fim de semana. Rodrigues desafiou Kleber a fazer sucesso comercial com a ajuda da Globo ou então "assumir" que, como diretor, talvez fosse, na verdade, "um bom crítico".
TCHAU, GENTE
No relatório que apresentou anteontem aos conselheiros da Fundação Padre Anchieta, que mantém a TV Cultura, João Sayad revelou que ela está mais enxuta. Em sua gestão, o número de colaboradores caiu de 2.124 para 1.140. O número de afiliadas e licenciadas que retransmitem a programação do canal saltou de nove para 32, chegando a onze Estados e 620 municípios.
SABATINA
O advogado-geral da União, Luís Adams, continuava a receber, até segunda, eventuais candidatos ao STF (Supremo Tribunal Federal). Em sua agenda oficial constava audiência com o advogado Marcelo Nobre, de SP.
CRUZADA
O presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Joaquim Barbosa, conversou com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, sobre a lei que cria quatro novos tribunais regionais federais no país. Ele apresentou seus argumentos contra a ideia.
VIVA HILDA
Walter Carvalho será o diretor do longa sobre a vida da escritora Hilda Hilst. A atriz Tainá Muller, que comprou os direitos da biografia, será a protagonista. As filmagens devem acontecer em 2015.
HORÁRIO NOBRE
Os produtores do filme "Colegas", estrelado por atores com síndrome de Down, foram convidados pela presidente Dilma Rousseff para exibir o longa no cinema do Palácio do Planalto.
NÃO REPRESENTA
O deputado pastor Marco Feliciano (PSC-SP) não é unanimidade entre seus pares na internet. Ele foi criticado por 12% dos blogs declaradamente evangélicos entre 29 de março e 3 de abril, segundo pesquisa da empresa de monitoramento Medialogue Digital. O levantamento também aponta que, no Facebook, o apoio dos evangélicos ao presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara representou só 9% do total de postagens sobre ele no período.
PRESENTE
Adriane Galisteu lança no sábado o livro "Mãe, Você É Tudo para Mim".
Publicado pela editora Gente, ele traz frases dela em homenagem às mães.
ENTRE AMIGOS
O casal Daniel Borger e Marcia Feldon abriu sua casa, no Jardim América, para jantar beneficente da Amigoh (Amigos da Oncologia e Hematologia do hospital Albert Einstein). O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, a empresária Verônica Serra e os casais Claudio Lottenberg e Ida Sztamfater, Flávio e Anna Cláudia Rocha, Alberto e Cláudia Saraiva e Moise e Chella Safra, com o filho Jacob Moise Safra, foram ao evento, anteontem.
UNHAS AFIADAS
O autor e diretor teatral Gerald Thomas lançou o livro "Arranhando a Superfície", anteontem, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional. O músico Tom Zé, a atriz Nora Prado, a fotógrafa Talita Miranda, o designer Cláudio Martins e o diretor do Sesc-SP, Danilo Miranda, foram à sessão de autógrafos.
Curto-circuito
Cris Barros lança coleção de inverno, hoje, a partir das 10h, em suas três lojas.
Rafael Lupo Medina, gemólogo da Cartier Paris, fala sobre joias hoje, às 18h30, na Renée Behar Antiques, nos Jardins.
A ONG Ampara Animal faz bazar beneficente a partir de hoje, na Vila Madalena. Peças de Cléo Pires, Juliana Paes e Neymar estão entre as doações.
A atriz Débora Falabella apresenta o processo de criação da peça "O Contrato" hoje, em São Sebastião (SP), a convite da Secretaria de Estado da Cultura.
A exposição "Mídia Dia a Dia" abre às 19h, no Território da Foto, em Pinheiros.
A atriz Amanda Pereira estreia a peça "A Gaivota no Infinito do Espelho", hoje, às 21h, no Espaço dos Satyros Um. 14 anos.
Jean-Marc Lacave, presidente da Veuve Clicquot, recebe clientes em almoço no restaurante Skye.
A Prada inaugura sua primeira loja no Rio, no shopping Village Mall, na Barra.
TRILHA SONORA
Mudança no comando da Globo Filmes, o braço das Organizações Globo para o cinema: Carlos Eduardo Rodrigues está deixando o comando da empresa. Sai depois de mais de uma década no cargo, um dos mais poderosos do cinema nacional.
TRILHA 2
Rodrigues será substituído por Edson Pimentel. O novo diretor trabalha na Globo desde 1979 e ocupava até agora a direção de planejamento estratégico e controle de entretenimento. Criada em 1998, a Globo Filmes já produziu ou coproduziu 130 filmes. Seus maiores sucessos são "Tropa de Elite 2", "Se Eu Fosse Você 2" e "2 Filhos de Francisco".
TRILHA 3
A gota d'água para a mudança foi a polêmica entre Rodrigues e o cineasta pernambucano Kleber Mendonça Filho ("O Som ao Redor"), que disse que até seu vizinho, "se lançar o vídeo do churrasco dele no esquema da Globo Filmes", faria 200 mil espectadores num fim de semana. Rodrigues desafiou Kleber a fazer sucesso comercial com a ajuda da Globo ou então "assumir" que, como diretor, talvez fosse, na verdade, "um bom crítico".
TCHAU, GENTE
No relatório que apresentou anteontem aos conselheiros da Fundação Padre Anchieta, que mantém a TV Cultura, João Sayad revelou que ela está mais enxuta. Em sua gestão, o número de colaboradores caiu de 2.124 para 1.140. O número de afiliadas e licenciadas que retransmitem a programação do canal saltou de nove para 32, chegando a onze Estados e 620 municípios.
SABATINA
O advogado-geral da União, Luís Adams, continuava a receber, até segunda, eventuais candidatos ao STF (Supremo Tribunal Federal). Em sua agenda oficial constava audiência com o advogado Marcelo Nobre, de SP.
CRUZADA
O presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Joaquim Barbosa, conversou com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, sobre a lei que cria quatro novos tribunais regionais federais no país. Ele apresentou seus argumentos contra a ideia.
VIVA HILDA
Walter Carvalho será o diretor do longa sobre a vida da escritora Hilda Hilst. A atriz Tainá Muller, que comprou os direitos da biografia, será a protagonista. As filmagens devem acontecer em 2015.
HORÁRIO NOBRE
Os produtores do filme "Colegas", estrelado por atores com síndrome de Down, foram convidados pela presidente Dilma Rousseff para exibir o longa no cinema do Palácio do Planalto.
NÃO REPRESENTA
O deputado pastor Marco Feliciano (PSC-SP) não é unanimidade entre seus pares na internet. Ele foi criticado por 12% dos blogs declaradamente evangélicos entre 29 de março e 3 de abril, segundo pesquisa da empresa de monitoramento Medialogue Digital. O levantamento também aponta que, no Facebook, o apoio dos evangélicos ao presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara representou só 9% do total de postagens sobre ele no período.
PRESENTE
Adriane Galisteu lança no sábado o livro "Mãe, Você É Tudo para Mim".
Publicado pela editora Gente, ele traz frases dela em homenagem às mães.
ENTRE AMIGOS
O casal Daniel Borger e Marcia Feldon abriu sua casa, no Jardim América, para jantar beneficente da Amigoh (Amigos da Oncologia e Hematologia do hospital Albert Einstein). O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, a empresária Verônica Serra e os casais Claudio Lottenberg e Ida Sztamfater, Flávio e Anna Cláudia Rocha, Alberto e Cláudia Saraiva e Moise e Chella Safra, com o filho Jacob Moise Safra, foram ao evento, anteontem.
UNHAS AFIADAS
O autor e diretor teatral Gerald Thomas lançou o livro "Arranhando a Superfície", anteontem, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional. O músico Tom Zé, a atriz Nora Prado, a fotógrafa Talita Miranda, o designer Cláudio Martins e o diretor do Sesc-SP, Danilo Miranda, foram à sessão de autógrafos.
Curto-circuito
Cris Barros lança coleção de inverno, hoje, a partir das 10h, em suas três lojas.
Rafael Lupo Medina, gemólogo da Cartier Paris, fala sobre joias hoje, às 18h30, na Renée Behar Antiques, nos Jardins.
A ONG Ampara Animal faz bazar beneficente a partir de hoje, na Vila Madalena. Peças de Cléo Pires, Juliana Paes e Neymar estão entre as doações.
A atriz Débora Falabella apresenta o processo de criação da peça "O Contrato" hoje, em São Sebastião (SP), a convite da Secretaria de Estado da Cultura.
A exposição "Mídia Dia a Dia" abre às 19h, no Território da Foto, em Pinheiros.
A atriz Amanda Pereira estreia a peça "A Gaivota no Infinito do Espelho", hoje, às 21h, no Espaço dos Satyros Um. 14 anos.
Jean-Marc Lacave, presidente da Veuve Clicquot, recebe clientes em almoço no restaurante Skye.
A Prada inaugura sua primeira loja no Rio, no shopping Village Mall, na Barra.
Baterias inteligentes - TASSO AZEVEDO
O GLOBO - 10/04
Uma enorme gama de inovações tem surgido para viabilizar o armazenamento direto das energias solar e eólica
O armazenamento de energia é fundamental para conferir a flexibilidade necessária para que o sistema elétrico possa ajustar a oferta à demanda de energia. Quando ligamos um notebook na tomada, ele armazena carga na bateria ao mesmo tempo que permite trabalhar com o aparelho. Em países que têm como base usinas termoelétricas, o armazenamento se dá nos estoques de combustíveis (óleo combustível, gás etc). No sistema elétrico brasileiro, a função da bateria é exercida basicamente pelo reservatório das usinas hidrelétricas.
Mas — como o grosso da expansão das hidrelétricas está na Amazônia, em regiões que, por motivos técnicos, econômicos e ambientais os reservatórios precisam ser significativamente menores — é preciso pensar outras alternativas para manter a flexibilidade com fontes renováveis e não apenas recorrer a termoelétricas poluidoras como fazemos atualmente no país.
Algumas das mais promissoras fontes de energia renovável, como a solar e a eólica, ainda sofrem bastante resistência para expansão por não possuírem mecanismos próprios de armazenamento em larga escala.
Nos últimos anos uma enorme gama de inovações tem surgido para viabilizar o armazenamento direto das energias solar e eólica. Nos Estados Unidos centenas de usinas eólicas operam apenas bombeando água para os reservatórios de pequenas centrais hidrelétricas. Uma recente patente da Apple (seria o iEnergy?) descreve um sistema onde energias eólica e solar são utilizadas para aquecer um tanque de líquido de baixa condutividade (precisa bastante energia para aquecer poucos graus) que se conecta por uma membrana a um tanque menor de líquido de alta condutividade que gera vapor e movimenta uma turbina.
São várias alternativas, mas talvez a mais interessante seja a criação de baterias inteligentes, que podem ser programadas para armazenar energia nos momentos de maior oferta e devolver à rede energia nos momentos de maior demanda. Hotéis nos Estados Unidos já utilizam sistemas de baterias inteligentes para armazenar energia durante os períodos do dia de tarifa mais baixa e utilizar esta energia no momento de maior demanda no hotel, o fim da tarde, quando as tarifas da rede são também mais caras.
Antes do fim da década a questão da flexibilidade das energias solar e eólica estará superada e quem sabe todas as baterias de nossos diferentes equipamentos terão a capacidade de interagir com a rede e contribuir para a operação do sistema de armazenamento de energia.
Uma enorme gama de inovações tem surgido para viabilizar o armazenamento direto das energias solar e eólica
O armazenamento de energia é fundamental para conferir a flexibilidade necessária para que o sistema elétrico possa ajustar a oferta à demanda de energia. Quando ligamos um notebook na tomada, ele armazena carga na bateria ao mesmo tempo que permite trabalhar com o aparelho. Em países que têm como base usinas termoelétricas, o armazenamento se dá nos estoques de combustíveis (óleo combustível, gás etc). No sistema elétrico brasileiro, a função da bateria é exercida basicamente pelo reservatório das usinas hidrelétricas.
Mas — como o grosso da expansão das hidrelétricas está na Amazônia, em regiões que, por motivos técnicos, econômicos e ambientais os reservatórios precisam ser significativamente menores — é preciso pensar outras alternativas para manter a flexibilidade com fontes renováveis e não apenas recorrer a termoelétricas poluidoras como fazemos atualmente no país.
Algumas das mais promissoras fontes de energia renovável, como a solar e a eólica, ainda sofrem bastante resistência para expansão por não possuírem mecanismos próprios de armazenamento em larga escala.
Nos últimos anos uma enorme gama de inovações tem surgido para viabilizar o armazenamento direto das energias solar e eólica. Nos Estados Unidos centenas de usinas eólicas operam apenas bombeando água para os reservatórios de pequenas centrais hidrelétricas. Uma recente patente da Apple (seria o iEnergy?) descreve um sistema onde energias eólica e solar são utilizadas para aquecer um tanque de líquido de baixa condutividade (precisa bastante energia para aquecer poucos graus) que se conecta por uma membrana a um tanque menor de líquido de alta condutividade que gera vapor e movimenta uma turbina.
São várias alternativas, mas talvez a mais interessante seja a criação de baterias inteligentes, que podem ser programadas para armazenar energia nos momentos de maior oferta e devolver à rede energia nos momentos de maior demanda. Hotéis nos Estados Unidos já utilizam sistemas de baterias inteligentes para armazenar energia durante os períodos do dia de tarifa mais baixa e utilizar esta energia no momento de maior demanda no hotel, o fim da tarde, quando as tarifas da rede são também mais caras.
Antes do fim da década a questão da flexibilidade das energias solar e eólica estará superada e quem sabe todas as baterias de nossos diferentes equipamentos terão a capacidade de interagir com a rede e contribuir para a operação do sistema de armazenamento de energia.
Difícil mineração - ANTONIO DIAS LEITE
O GLOBO - 10/04
Na sequência de medidas provisórias que dificultam a expansão da economia nacional, prepara-se mais uma, que atinge a atividade de mineração.
A MP ainda em elaboração trouxe efeitos negativos antes de ser publicada, com a decisão do governo de suspender, desde novembro de 2011, a outorga de direitos minerários, presumidamente a fim de evitar o aumento de títulos baseados no código de mineração vigente. Estima-se retenção de cerca de 40 mil requerimentos, mais de 6 mil prontos, bem como 120 portarias de lavra. Instala-se a insegurança institucional na mineração.
O código que se deseja modificar é de 1967 e foi objeto de vários aperfeiçoamentos. Apesar de alguns defeitos, ainda serve. No início da década de 1970, graças a inovações tecnológicas, à alocação de expressivos recursos pelo governo federal e à constituição de um novo instrumento de ação, a CPRM, tornou-se possível ampliar o conhecimento básico de parte significativa do território nacional (projeto Radam); também se iniciou a elaboração da carta geológica na escala de 1:250 mil, que hoje cobre pouco mais de metade do país e a carta na escala de 1:100 mil, que abrange 30%.
Não obstante o atraso do governo, a pujança do setor privado, no período 2008-12, é representada pela média anual de 26 mil requerimentos de pesquisa e de 280 portarias de lavra.
No atual regime, cabe aos particulares, individualmente ou mediante empresas organizadas no país (8 mil em 2010), identificar áreas minerais promissoras sob o aspecto econômico e requerer ao DNPM autorização para as necessárias pesquisas. Trata-se de tarefa que exige conhecimento técnico e experiência de campo. Demanda investimentos de alto risco. O Ibram, com base em dados do DNPM relativos ao período 1991-2010, sugere que, de cem requerimentos, metade dá lugar a alvarás de pesquisa. De quatro relatórios apresentados, um só dá origem à portaria de lavra.
Pergunta-se: por que reformar? Todo sistema está sujeito a críticas. As que vêm a público contra o sistema vigente não convencem. Propostas radicais não convencem. Não seria mais adequado fazer alguns simples ajustes?
O Governo deseja, aparentemente:
1. Substituir o regime de livre acesso mediante requerimento de autorização de pesquisa ao DNPM pelo de licitação de áreas nos termos propostos por órgão do poder público, que também escolheria os alvos a serem pesquisados. Além dos fracos argumentos a favor da proposta será inevitável longo hiato nas pesquisas, em função da necessidade de formar e organizar máquina administrativa, já que nem a CPRM nem o DNPM têm condições de exercer tal missão;
2. Requerer constituição de empresa a fim de substituir o prospector individual na pesquisa, o que cria ônus e obstáculo à entrada de novos agentes. Reduz o número de pessoas dispostas a correr riscos;
3. Trocar o prazo indeterminado da concessão de lavra por prazo fixo definido por órgão do poder público federal. O prazo determinado estimula a lavra seletiva imediatista e a perda de interesse por melhoramentos ao final do prazo. Qual a vantagem?
4. Ampliar, a "contribuição econômica e social" das empresas de mineração, com aumento da receita fiscal, na contramão das afirmações do próprio governo de desoneração progressiva das atividades produtivas. Menciona-se ainda a taxação especial de minerações altamente lucrativas, penalizando a produtividade.
Ainda há esperança que a reforma possa ser revista e se limite a corrigir deficiências, sem tumultuar a mineração.
A MP ainda em elaboração trouxe efeitos negativos antes de ser publicada, com a decisão do governo de suspender, desde novembro de 2011, a outorga de direitos minerários, presumidamente a fim de evitar o aumento de títulos baseados no código de mineração vigente. Estima-se retenção de cerca de 40 mil requerimentos, mais de 6 mil prontos, bem como 120 portarias de lavra. Instala-se a insegurança institucional na mineração.
O código que se deseja modificar é de 1967 e foi objeto de vários aperfeiçoamentos. Apesar de alguns defeitos, ainda serve. No início da década de 1970, graças a inovações tecnológicas, à alocação de expressivos recursos pelo governo federal e à constituição de um novo instrumento de ação, a CPRM, tornou-se possível ampliar o conhecimento básico de parte significativa do território nacional (projeto Radam); também se iniciou a elaboração da carta geológica na escala de 1:250 mil, que hoje cobre pouco mais de metade do país e a carta na escala de 1:100 mil, que abrange 30%.
Não obstante o atraso do governo, a pujança do setor privado, no período 2008-12, é representada pela média anual de 26 mil requerimentos de pesquisa e de 280 portarias de lavra.
No atual regime, cabe aos particulares, individualmente ou mediante empresas organizadas no país (8 mil em 2010), identificar áreas minerais promissoras sob o aspecto econômico e requerer ao DNPM autorização para as necessárias pesquisas. Trata-se de tarefa que exige conhecimento técnico e experiência de campo. Demanda investimentos de alto risco. O Ibram, com base em dados do DNPM relativos ao período 1991-2010, sugere que, de cem requerimentos, metade dá lugar a alvarás de pesquisa. De quatro relatórios apresentados, um só dá origem à portaria de lavra.
Pergunta-se: por que reformar? Todo sistema está sujeito a críticas. As que vêm a público contra o sistema vigente não convencem. Propostas radicais não convencem. Não seria mais adequado fazer alguns simples ajustes?
O Governo deseja, aparentemente:
1. Substituir o regime de livre acesso mediante requerimento de autorização de pesquisa ao DNPM pelo de licitação de áreas nos termos propostos por órgão do poder público, que também escolheria os alvos a serem pesquisados. Além dos fracos argumentos a favor da proposta será inevitável longo hiato nas pesquisas, em função da necessidade de formar e organizar máquina administrativa, já que nem a CPRM nem o DNPM têm condições de exercer tal missão;
2. Requerer constituição de empresa a fim de substituir o prospector individual na pesquisa, o que cria ônus e obstáculo à entrada de novos agentes. Reduz o número de pessoas dispostas a correr riscos;
3. Trocar o prazo indeterminado da concessão de lavra por prazo fixo definido por órgão do poder público federal. O prazo determinado estimula a lavra seletiva imediatista e a perda de interesse por melhoramentos ao final do prazo. Qual a vantagem?
4. Ampliar, a "contribuição econômica e social" das empresas de mineração, com aumento da receita fiscal, na contramão das afirmações do próprio governo de desoneração progressiva das atividades produtivas. Menciona-se ainda a taxação especial de minerações altamente lucrativas, penalizando a produtividade.
Ainda há esperança que a reforma possa ser revista e se limite a corrigir deficiências, sem tumultuar a mineração.
Cristo versus mudança na Venezuela - JULIA SWEIG
FOLHA DE SP - 10/04
Maduro deveria estudar a destreza com que Raúl Castro substituiu o carisma de Fidel por mudanças
Dois anúncios de campanha contam a história toda do porquê de a eleição deste fim de semana na Venezuela ser um "fait accompli".
Conforme divulgado pelo "New York Times", o anúncio criado pelo grande marqueteiro político brasileiro João Santana "Ele nascerá de novo" compara Hugo Chávez a Jesus Cristo, numa montagem de imagens cafonas evocando paz e harmonia e de devotos de Chávez rezando.
O nome de Nicolás Maduro não é mencionado, mas para que se dar ao trabalho? Juntamente com o slogan lançado nos dias finais do presidente morto, "Eu sou Chávez", o anúncio deixa subentendido que, ao votar em seu sucessor escolhido, até os venezuelanos mortais têm uma chance de alcançar a vida eterna.
O outro anúncio, postado pelo blog "Caracas Chronicles", faz uma nobre tentativa de focar o voto sobre a pobreza e a má administração econômica. Usando animações simples e muitas estatísticas -sabe-se lá se são precisas-, o anúncio argumenta que, não obstante os US$ 620 bi obtidos em receita petrolífera em sua Presidência, Chávez não reduziu a pobreza tanto quanto o fizeram seus vizinhos no mesmo período.
Em vez disso, comprou o amor dos eleitores, usando a receita para incentivar o consumo, elevando a conta das importações ao invés de investir em empregos e produtividade. O anúncio conclui: se você quer progresso e políticas que reduzam a pobreza, vote na mudança. E então vemos uma foto de Capriles, mas seu nome não chega a ser mencionado.
Na eleição de outubro, 44% dos venezuelanos de fato votaram em Capriles e pela mudança. Com o índice de comparecimento às urnas previsto para ser muito menor agora, é difícil prever a diferença entre os candidatos. Mas, comparando as mensagens dos anúncios -Cristo versus mudança-, fica claro quão difícil será derrotar a inevitabilidade.
O único ator político venezuelano em situação pior que o perdedor predeterminado é o vencedor, Maduro.
Depois deste fim de semana, Capriles poderá tirar férias, escrever sua autobiografia, possivelmente polir suas credenciais no setor privado e traçar planos para 2020.
Maduro, porém, será obrigado em algum momento a enfrentar as consequências políticas da inflação, carestia, dos homicídios, da corrupção e da tarefa nada invejável de servir de intermediário entre vertentes concorrentes de chavismo.
Sem os conselhos do mentor (passarinhos não contam) e sem uma equipe experiente para reconstruir a economia, por quanto tempo Maduro poderá razoavelmente sobreviver à custa do legado de Chávez?
Sim, o chavismo chegou para ficar. E, sim, Chávez continuará a ser adorado e reverenciado, porque ajudou milhões de pessoas a passarem da invisibilidade para a visibilidade.
Mas sua Presidência também produziu o que um analista descreveu como, ao mesmo tempo, uma "cultura cívica vibrante" e uma "cultura política impiedosa". A analogia é imperfeita, mas, nesse ponto e em outras questões de Estado, Maduro faria bem em estudar a destreza com que Raúl Castro substituiu o carisma do irmão por mudanças políticas.
Maduro deveria estudar a destreza com que Raúl Castro substituiu o carisma de Fidel por mudanças
Dois anúncios de campanha contam a história toda do porquê de a eleição deste fim de semana na Venezuela ser um "fait accompli".
Conforme divulgado pelo "New York Times", o anúncio criado pelo grande marqueteiro político brasileiro João Santana "Ele nascerá de novo" compara Hugo Chávez a Jesus Cristo, numa montagem de imagens cafonas evocando paz e harmonia e de devotos de Chávez rezando.
O nome de Nicolás Maduro não é mencionado, mas para que se dar ao trabalho? Juntamente com o slogan lançado nos dias finais do presidente morto, "Eu sou Chávez", o anúncio deixa subentendido que, ao votar em seu sucessor escolhido, até os venezuelanos mortais têm uma chance de alcançar a vida eterna.
O outro anúncio, postado pelo blog "Caracas Chronicles", faz uma nobre tentativa de focar o voto sobre a pobreza e a má administração econômica. Usando animações simples e muitas estatísticas -sabe-se lá se são precisas-, o anúncio argumenta que, não obstante os US$ 620 bi obtidos em receita petrolífera em sua Presidência, Chávez não reduziu a pobreza tanto quanto o fizeram seus vizinhos no mesmo período.
Em vez disso, comprou o amor dos eleitores, usando a receita para incentivar o consumo, elevando a conta das importações ao invés de investir em empregos e produtividade. O anúncio conclui: se você quer progresso e políticas que reduzam a pobreza, vote na mudança. E então vemos uma foto de Capriles, mas seu nome não chega a ser mencionado.
Na eleição de outubro, 44% dos venezuelanos de fato votaram em Capriles e pela mudança. Com o índice de comparecimento às urnas previsto para ser muito menor agora, é difícil prever a diferença entre os candidatos. Mas, comparando as mensagens dos anúncios -Cristo versus mudança-, fica claro quão difícil será derrotar a inevitabilidade.
O único ator político venezuelano em situação pior que o perdedor predeterminado é o vencedor, Maduro.
Depois deste fim de semana, Capriles poderá tirar férias, escrever sua autobiografia, possivelmente polir suas credenciais no setor privado e traçar planos para 2020.
Maduro, porém, será obrigado em algum momento a enfrentar as consequências políticas da inflação, carestia, dos homicídios, da corrupção e da tarefa nada invejável de servir de intermediário entre vertentes concorrentes de chavismo.
Sem os conselhos do mentor (passarinhos não contam) e sem uma equipe experiente para reconstruir a economia, por quanto tempo Maduro poderá razoavelmente sobreviver à custa do legado de Chávez?
Sim, o chavismo chegou para ficar. E, sim, Chávez continuará a ser adorado e reverenciado, porque ajudou milhões de pessoas a passarem da invisibilidade para a visibilidade.
Mas sua Presidência também produziu o que um analista descreveu como, ao mesmo tempo, uma "cultura cívica vibrante" e uma "cultura política impiedosa". A analogia é imperfeita, mas, nesse ponto e em outras questões de Estado, Maduro faria bem em estudar a destreza com que Raúl Castro substituiu o carisma do irmão por mudanças políticas.
Fala , Cid Gomes - ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 10/04
O governador Eduardo Campos (PE) segue sua peregrinação, mas o governador Cid Gomes (CE) protesta: “O PSB nunca discutiu candidatura no Diretório Nacional ou na Executiva” . Ele adverte que o partido “corre o risco de definhar” se ficar impedido de se aliar ao PMDB e ao PT . “Isso é bom para o partido? No Ceará, é um complicador . PMDB e PT são meus principais aliados!” , reclama.
Sua proposta é acumular forças
Cid Gomes avalia que a meta do PSB para 2014 deve ser ampliar sua presença nos governos estaduais (hoje são seis), melhorar sua “frágil” bancada no Senado (hoje são cinco de 81) e lutar pela candidatura à vice-presidência. Com ironia, lembra que em 2010 defendeu que o PSB tivesse candidatura própria e que não participasse do governo Dilma. Em ambos foi derrotado por Eduardo Campos. Agora, acha difícil enfrentar
nas urnas “um governo bem avaliado na opinião pública” e adverte: “O PSB é forte no Nordeste. O Eduardo tem um percentual grande em Pernambuco. Mas nos outros estados do Nordeste Eduardo tem o mesmo percentual do Sudeste”.
Frase
“Hoje é um absurdo se falar em ameaça ao estado democrático de direito. O Brasil é uma das mais sólidas democracias do mundo”
Joaquim Barbosa Presidente do STF
Sem exclusividade
A carteirinha da UNE vai perder o monopólio da meia-entrada. A secretária da Juventude do governo, Severina Macedo, ganhou o debate. Os jovens pobres que trabalham e estão no Cadastro Único da pobreza também terão direito.
A referência
Ao tornar público o lobby da AMB, da Ajufe e da Anamatra, o presidente do STF , ministro Joaquim Barbosa, inspirou-se no ex-presidente Itamar Franco. Em 20 de janeiro de 1993, Itamar abriu para a imprensa audiência em que o então senador Antônio Carlos Magalhães lhe entregou um suposto dossiê de corrupção no governo.
Fator de inibição
A presença do presidente do PSD, Gilberto Kassab, e do ex-presidente do PFL Jorge Bornhausen próximos ao governador Eduardo Campos (PSB-PE) impedem uma adesão em massa do DEM à sua candidatura ao Planalto.
Bem me quer , mal me quer
O PPS ficou irado com as críticas de Roberto Amaral, vice-presidente do PSB. Os socialistas, que querem o PPS no palanque de Eduardo Campos, também torceram o nariz. O senador Rodrigo Rolemberg (PSB-DF) faz derramados elogios ao eventual aliado: “O PPS tem história e quadros que honram a política. Há interesse de colaboração e compartilhamento de caminhos”.
Deserção à vista
Mas a sucessão presidencial divide o DEM. O ex-deputado Roberto Magalhães e o deputado Mendonça Filho (PE) estão defendendo, abertamente, que o partido faça uma composição com o governador Eduardo Campos (PSB).
Para o petista, Cabral foi autoritário
O senador Lindbergh Farias (PT) reage às declarações do governador Sérgio Cabral (PMDB) contra a existência de dois palanques em apoio à presidente Dilma no Rio: “Cabral quer tirar do povo o direito de poder escolher”.
NOS GOVERNOS estaduais e federal, cresce a tese de que o Parlamento devia ter mais controle sobre seus órgãos auxiliares, os Tribunais de Contas
Sua proposta é acumular forças
Cid Gomes avalia que a meta do PSB para 2014 deve ser ampliar sua presença nos governos estaduais (hoje são seis), melhorar sua “frágil” bancada no Senado (hoje são cinco de 81) e lutar pela candidatura à vice-presidência. Com ironia, lembra que em 2010 defendeu que o PSB tivesse candidatura própria e que não participasse do governo Dilma. Em ambos foi derrotado por Eduardo Campos. Agora, acha difícil enfrentar
nas urnas “um governo bem avaliado na opinião pública” e adverte: “O PSB é forte no Nordeste. O Eduardo tem um percentual grande em Pernambuco. Mas nos outros estados do Nordeste Eduardo tem o mesmo percentual do Sudeste”.
Frase
“Hoje é um absurdo se falar em ameaça ao estado democrático de direito. O Brasil é uma das mais sólidas democracias do mundo”
Joaquim Barbosa Presidente do STF
Sem exclusividade
A carteirinha da UNE vai perder o monopólio da meia-entrada. A secretária da Juventude do governo, Severina Macedo, ganhou o debate. Os jovens pobres que trabalham e estão no Cadastro Único da pobreza também terão direito.
A referência
Ao tornar público o lobby da AMB, da Ajufe e da Anamatra, o presidente do STF , ministro Joaquim Barbosa, inspirou-se no ex-presidente Itamar Franco. Em 20 de janeiro de 1993, Itamar abriu para a imprensa audiência em que o então senador Antônio Carlos Magalhães lhe entregou um suposto dossiê de corrupção no governo.
Fator de inibição
A presença do presidente do PSD, Gilberto Kassab, e do ex-presidente do PFL Jorge Bornhausen próximos ao governador Eduardo Campos (PSB-PE) impedem uma adesão em massa do DEM à sua candidatura ao Planalto.
Bem me quer , mal me quer
O PPS ficou irado com as críticas de Roberto Amaral, vice-presidente do PSB. Os socialistas, que querem o PPS no palanque de Eduardo Campos, também torceram o nariz. O senador Rodrigo Rolemberg (PSB-DF) faz derramados elogios ao eventual aliado: “O PPS tem história e quadros que honram a política. Há interesse de colaboração e compartilhamento de caminhos”.
Deserção à vista
Mas a sucessão presidencial divide o DEM. O ex-deputado Roberto Magalhães e o deputado Mendonça Filho (PE) estão defendendo, abertamente, que o partido faça uma composição com o governador Eduardo Campos (PSB).
Para o petista, Cabral foi autoritário
O senador Lindbergh Farias (PT) reage às declarações do governador Sérgio Cabral (PMDB) contra a existência de dois palanques em apoio à presidente Dilma no Rio: “Cabral quer tirar do povo o direito de poder escolher”.
NOS GOVERNOS estaduais e federal, cresce a tese de que o Parlamento devia ter mais controle sobre seus órgãos auxiliares, os Tribunais de Contas
Tudo por 2014 - VERA MAGALHÃES - PAINEL
FOLHA DE SP - 10/04
Preocupado em evitar debandada no PSD, Gilberto Kassab pediu a Dilma Rousseff que o governo atue para aprovar proposta que restringe o acesso de novas siglas a tempo de TV e fundo partidário. Após a conversa, a presidente chamou o vice, Michel Temer, e José Sarney (PMDB-AP) para articular a aprovação do projeto do deputado Edinho Araújo (SP). Dilma tem interesse em esvaziar a Rede, de Marina Silva, e a fusão de PPS e PMN, que pode beneficiar Eduardo Campos (PSB).
Porteira Em Brasília, Kassab se reuniu anteontem com líderes da Câmara e ouviu que terá apoio do PMDB para aprovar a medida que dificulta trocas partidárias.
Pesadelo Aliados de Marina defendem que a ex-ministra dê uma declaração pública acusando o governo e os grandes partidos de agirem para impedir sua nova candidatura à Presidência.
Sem quórum Em viagem à Europa, Marina desfalcará o seminário "A Esquerda que Pensa o Brasil", no sábado, que o PPS idealizou para reunir os potenciais rivais de Dilma. Com a já anunciada ausência de Eduardo Campos, só Aécio Neves (PSDB) irá.
Como assim? Dilma ficou surpresa com relatos da conversa calorosa de Jorge Gerdau e Campos no Fórum da Liberdade, em Porto Alegre, anteontem. Gerdau preside a Câmara de Políticas de Gestão do governo petista.
Nem aí Quem esteve com Lula nos últimos dias diz que o pedido de investigação sobre seu suposto elo com o mensalão não mudará a agenda de caravanas do ex-presidente. "O efeito é contrário. Ele está mais a fim de ir às ruas", diz um interlocutor.
Classificados Desempregada desde novembro, quando foi exonerada após a Operação Porto Seguro, a ex-chefe de gabinete da Presidência Rosemary Noronha quer se recolocar e está fazendo contatos com políticos.
Fica... Roberto Gurgel entregou ontem parecer ao STF favorável à redistribuição de royalties de petróleo, desde que a aplicação da nova regra não seja imediata.
... para depois O procurador-geral da República evoca o equilíbrio orçamentário dos Estados para defender que as regras valham só em 2016. O parecer é na ação de inconstitucionalidade dos governos de São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo.
Cutucão Advogados do mensalão, liderados por Márcio Thomaz Bastos, encaminharam carta a entidades como OAB e Instituto dos Advogados do Brasil cobrando que se manifestem contra decisões do STF que, a seu ver, ferem o direito de defesa.
Inflamável Ideli Salvatti (Relações Institucionais) relatou a líderes partidários preocupação com a CPI do Petrobras. Ouviu que peemedebistas devem assinar o requerimento, de autoria de Maurício Quintela (PR-AL), Carlos Magno (PP-RO) e Leonardo Quintão (PMDB-MG).
Termômetro Os ministros Fernando Pimentel (Desenvolvimento), Guido Mantega (Fazenda) e Alexandre Padilha (Saúde) visitam a Fiesp amanhã. Discutirão com Paulo Skaf a reação do empresariado à crise na produção industrial e possível reflexo no nível de emprego.
Abrigo 1 Oswaldo Barba (PT), ex-prefeito de São Carlos, foi convidado por Marco Antonio Raupp para assumir a Secretaria Nacional de Ciência e Tecnologia para a Inclusão Social do ministério.
Abrigo 2 Geraldo Alckmin vai incorporar outro ex-prefeito ao governo: Clóvis Volpi (sem partido), de Ribeirão Pires, será o número 2 da Secretaria de Esportes.
com FÁBIO ZAMBELI e ANDRÉIA SADI
tiroteio
"Trata-se de ideia demagógica, infantil e despropositada. Essa campanha sórdida pode comprometer a Copa de 2014."
DE CAMPOS MACHADO (PTB-SP), sobre pedido de Ricardo Young (PPS) para que a Comissão da Verdade paulistana ouça o presidente da CBF, José Maria Marin.
contraponto
Sob medida
Ao apresentar seu plano de metas para a prefeitura paulistana até 2016, Fernando Haddad (PT) explicava a jornalistas que as discussões internas levaram ao número redondo de cem itens prioritários.
-Eu tentei argumentar que a imprensa diria que era uma estratégia de marketing esse número...
Questionado sobre como chegara ao indicador centenário perto dos cem dias de gestão, o prefeito brincou:
-A Leda [Paulani, secretária de Planejamento] me garantiu que chegamos aos cem por acaso. Se ela falou, eu confio. Ela é técnica, não tenho como argumentar contra.
Preocupado em evitar debandada no PSD, Gilberto Kassab pediu a Dilma Rousseff que o governo atue para aprovar proposta que restringe o acesso de novas siglas a tempo de TV e fundo partidário. Após a conversa, a presidente chamou o vice, Michel Temer, e José Sarney (PMDB-AP) para articular a aprovação do projeto do deputado Edinho Araújo (SP). Dilma tem interesse em esvaziar a Rede, de Marina Silva, e a fusão de PPS e PMN, que pode beneficiar Eduardo Campos (PSB).
Porteira Em Brasília, Kassab se reuniu anteontem com líderes da Câmara e ouviu que terá apoio do PMDB para aprovar a medida que dificulta trocas partidárias.
Pesadelo Aliados de Marina defendem que a ex-ministra dê uma declaração pública acusando o governo e os grandes partidos de agirem para impedir sua nova candidatura à Presidência.
Sem quórum Em viagem à Europa, Marina desfalcará o seminário "A Esquerda que Pensa o Brasil", no sábado, que o PPS idealizou para reunir os potenciais rivais de Dilma. Com a já anunciada ausência de Eduardo Campos, só Aécio Neves (PSDB) irá.
Como assim? Dilma ficou surpresa com relatos da conversa calorosa de Jorge Gerdau e Campos no Fórum da Liberdade, em Porto Alegre, anteontem. Gerdau preside a Câmara de Políticas de Gestão do governo petista.
Nem aí Quem esteve com Lula nos últimos dias diz que o pedido de investigação sobre seu suposto elo com o mensalão não mudará a agenda de caravanas do ex-presidente. "O efeito é contrário. Ele está mais a fim de ir às ruas", diz um interlocutor.
Classificados Desempregada desde novembro, quando foi exonerada após a Operação Porto Seguro, a ex-chefe de gabinete da Presidência Rosemary Noronha quer se recolocar e está fazendo contatos com políticos.
Fica... Roberto Gurgel entregou ontem parecer ao STF favorável à redistribuição de royalties de petróleo, desde que a aplicação da nova regra não seja imediata.
... para depois O procurador-geral da República evoca o equilíbrio orçamentário dos Estados para defender que as regras valham só em 2016. O parecer é na ação de inconstitucionalidade dos governos de São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo.
Cutucão Advogados do mensalão, liderados por Márcio Thomaz Bastos, encaminharam carta a entidades como OAB e Instituto dos Advogados do Brasil cobrando que se manifestem contra decisões do STF que, a seu ver, ferem o direito de defesa.
Inflamável Ideli Salvatti (Relações Institucionais) relatou a líderes partidários preocupação com a CPI do Petrobras. Ouviu que peemedebistas devem assinar o requerimento, de autoria de Maurício Quintela (PR-AL), Carlos Magno (PP-RO) e Leonardo Quintão (PMDB-MG).
Termômetro Os ministros Fernando Pimentel (Desenvolvimento), Guido Mantega (Fazenda) e Alexandre Padilha (Saúde) visitam a Fiesp amanhã. Discutirão com Paulo Skaf a reação do empresariado à crise na produção industrial e possível reflexo no nível de emprego.
Abrigo 1 Oswaldo Barba (PT), ex-prefeito de São Carlos, foi convidado por Marco Antonio Raupp para assumir a Secretaria Nacional de Ciência e Tecnologia para a Inclusão Social do ministério.
Abrigo 2 Geraldo Alckmin vai incorporar outro ex-prefeito ao governo: Clóvis Volpi (sem partido), de Ribeirão Pires, será o número 2 da Secretaria de Esportes.
com FÁBIO ZAMBELI e ANDRÉIA SADI
tiroteio
"Trata-se de ideia demagógica, infantil e despropositada. Essa campanha sórdida pode comprometer a Copa de 2014."
DE CAMPOS MACHADO (PTB-SP), sobre pedido de Ricardo Young (PPS) para que a Comissão da Verdade paulistana ouça o presidente da CBF, José Maria Marin.
contraponto
Sob medida
Ao apresentar seu plano de metas para a prefeitura paulistana até 2016, Fernando Haddad (PT) explicava a jornalistas que as discussões internas levaram ao número redondo de cem itens prioritários.
-Eu tentei argumentar que a imprensa diria que era uma estratégia de marketing esse número...
Questionado sobre como chegara ao indicador centenário perto dos cem dias de gestão, o prefeito brincou:
-A Leda [Paulani, secretária de Planejamento] me garantiu que chegamos aos cem por acaso. Se ela falou, eu confio. Ela é técnica, não tenho como argumentar contra.
Reciclado - SONIA RACY
O ESTADÃO - 10/04
São Paulo ganhará quatro megacentrais de reciclagem de lixo – cada uma com 10 mil metros quadrados. Objetivo? Ampliar de 1,8% para 10% o reaproveitamento do lixo produzido na capital.
De acordo com Simão Pedro, secretário de Serviços de Haddad, as unidades podem gerar receita de R$ 2 milhões.
A ideia é que duas estejam prontas até a Copa de 2014.
Na estante
Está saindo do forno a biografia de Antônio Ermírio de Moraes, que completa 85 anos em junho. Escrita por José Pastore, será lançada pela editora Planeta na primeira semana de maio.
Suprema…
Comentário maldoso que corre nos bastidores do Planalto: a demora em escolher o substituto de Carlos Ayres Britto no STF se daria por… falta de opção técnica.
…demora
Outro: Heleno Torres pode ter perdido chance de ouro após o vazamento de encontro, semana passada, com Dilma. Foi depois disso que ela mandou José Eduardo Cardozo chamar todos os outros candidatos para conversar.
Sobre rodas
Luiz Moan assume a Anfavea e o Sinfavea, dia 22 de abril, com evento à noite no Clube Monte Líbano. Seu vice será Antonio Megale.
Tipo exportação
E o Itaú BBA se instala na Colômbia. Para comemorar, promove, amanhã, debate com Cesar Gaviria, Ricardo Lagos e José Luiz Zapatero no Museu Nacional, em Bogotá – que passa a ser patrocinado, por um ano, pelo banco.
Índio não quer apito
Os índios que invadiram, domingo, o hotel de Armínio Fraga– a Fazenda da Lagoa, perto de Ilhéus, na Bahia – não se fizeram de rogados.
Convidaram o caseiro dos gerentes, Mucki Skowronski e Arthur Bahia, a tomar champanhe à beira da piscina.
Tipo importação
A O2 irá coproduzir o próximo longa do inglês Stephen Daldry– diretor de Billy Elliot e As Horas e O Leitor.
O cineasta está no País para a seleção de elenco e pesquisa de locações no Rio. A direção de fotografia será de um brasileiro: Adriano Goldman.
Milagre?
O Corinthians espera que a visita de Aldo Rebelo ao Itaquerão, amanhã, tenha a finalidade de anunciar a liberação dos R$ 400 milhões do BNDES para a arena.
Lá como cá
Após os recentes escândalos financeiros e políticos na França, o governo vai propor uma nova lei sobre a moralização da vida política até dia 24 – segundo divulgou o Le Monde, ontem.
E mais: até dia 15, todos os ministros deverão apresentar declarações de bens a serem publicadas.
Disputa
Além de José Luiz Majolo, há outro concorrente à presidência do conselho do Fundo Garantidor de Crédito. É o atual diretor-executivo da instituição,Antonio Carlos Bueno.
Na frente
Diferentemente do que publicou a coluna ontem, a parceria entre Haddad e o maestro venezuelano José Antonio Abreu é para formar orquestras jovens, o que não tem relação com a Orquestra Jovem do Estado de SP.
A loja Alexandre de Paris abre hoje no Shopping Cidade Jardim. Bem como a Topshop, no Iguatemi.
Astrid Fontenelle, Carla Pernambuco e Natalia Zílio participam do debate O Que Quer a Nova Mulher Brasileira?. Hoje, no Studio 768.
E a Orquestra Sinfônica da Lituânia se apresenta pela primeira vez no Brasil. Dias 13 e 14, na Sala São Paulo.
De acordo com Simão Pedro, secretário de Serviços de Haddad, as unidades podem gerar receita de R$ 2 milhões.
A ideia é que duas estejam prontas até a Copa de 2014.
Na estante
Está saindo do forno a biografia de Antônio Ermírio de Moraes, que completa 85 anos em junho. Escrita por José Pastore, será lançada pela editora Planeta na primeira semana de maio.
Suprema…
Comentário maldoso que corre nos bastidores do Planalto: a demora em escolher o substituto de Carlos Ayres Britto no STF se daria por… falta de opção técnica.
…demora
Outro: Heleno Torres pode ter perdido chance de ouro após o vazamento de encontro, semana passada, com Dilma. Foi depois disso que ela mandou José Eduardo Cardozo chamar todos os outros candidatos para conversar.
Sobre rodas
Luiz Moan assume a Anfavea e o Sinfavea, dia 22 de abril, com evento à noite no Clube Monte Líbano. Seu vice será Antonio Megale.
Tipo exportação
E o Itaú BBA se instala na Colômbia. Para comemorar, promove, amanhã, debate com Cesar Gaviria, Ricardo Lagos e José Luiz Zapatero no Museu Nacional, em Bogotá – que passa a ser patrocinado, por um ano, pelo banco.
Índio não quer apito
Os índios que invadiram, domingo, o hotel de Armínio Fraga– a Fazenda da Lagoa, perto de Ilhéus, na Bahia – não se fizeram de rogados.
Convidaram o caseiro dos gerentes, Mucki Skowronski e Arthur Bahia, a tomar champanhe à beira da piscina.
Tipo importação
A O2 irá coproduzir o próximo longa do inglês Stephen Daldry– diretor de Billy Elliot e As Horas e O Leitor.
O cineasta está no País para a seleção de elenco e pesquisa de locações no Rio. A direção de fotografia será de um brasileiro: Adriano Goldman.
Milagre?
O Corinthians espera que a visita de Aldo Rebelo ao Itaquerão, amanhã, tenha a finalidade de anunciar a liberação dos R$ 400 milhões do BNDES para a arena.
Lá como cá
Após os recentes escândalos financeiros e políticos na França, o governo vai propor uma nova lei sobre a moralização da vida política até dia 24 – segundo divulgou o Le Monde, ontem.
E mais: até dia 15, todos os ministros deverão apresentar declarações de bens a serem publicadas.
Disputa
Além de José Luiz Majolo, há outro concorrente à presidência do conselho do Fundo Garantidor de Crédito. É o atual diretor-executivo da instituição,Antonio Carlos Bueno.
Na frente
Diferentemente do que publicou a coluna ontem, a parceria entre Haddad e o maestro venezuelano José Antonio Abreu é para formar orquestras jovens, o que não tem relação com a Orquestra Jovem do Estado de SP.
A loja Alexandre de Paris abre hoje no Shopping Cidade Jardim. Bem como a Topshop, no Iguatemi.
Astrid Fontenelle, Carla Pernambuco e Natalia Zílio participam do debate O Que Quer a Nova Mulher Brasileira?. Hoje, no Studio 768.
E a Orquestra Sinfônica da Lituânia se apresenta pela primeira vez no Brasil. Dias 13 e 14, na Sala São Paulo.
Pano de fundo - DENISE ROTHENBURG
CORREIO BRAZILIENSE - 10/04
Enquanto a maioria dos congressistas se distrai com os preparativos para os funerais da reforma política, um grupo se debate dentro da Comissão Mista de Orçamento, em torno da relatoria e da presidência do colegiado. Entre as várias razões para a disputa, a mais emblemática caminha silenciosamente fora dos holofotes. Sem muito alarde, os deputados começam a dar forma ao chamado orçamento impositivo para parte da Lei Orçamentária anual. Na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, por exemplo, já foi aprovada uma proposta de emenda constitucional que permitirá a liberação automática das emendas de deputados e senadores ao Orçamento. A grosso modo, significa que o que estiver aprovado em termos de obras e serviços incluídos na lei como emendas parlamentares será cumprido e ponto.
Essa proposta será agora objeto de análise por uma comissão especial que terá prazo de 40 sessões para emitir um parecer. Depois, segue para plenário, onde será submetida a votação em dois turnos. Calcula-se que, até o fim de junho, a Câmara conclua a apreciação do tema. Daí, segue para o Senado, onde a intenção é aprovar o texto o mais rápido possível, a tempo de tornar obrigatória a liberação das emendas para o ano eleitoral.
Se os parlamentares conseguirem cumprir o calendário em tempo recorde — e não é segredo que, quando eles querem, as votações ocorrem rapidamente —, o governo será obrigado a liberar as emendas no ano que vem. Afinal, como se trata de emenda constitucional, não passa pela sanção presidencial. É promulgada diretamente pelo parlamento, sem passar pelo crivo do Poder Executivo. E, pelo andar da carruagem, ou a presidente negocia logo, ou verá os parlamentares mandando na execução do Orçamento — coisa que os integrantes do Poder Executivo não gostam, embora digam publicamente que isso faz parte do processo democrático.
Essa perspectiva é o que move hoje corações e mentes dos políticos que terão assento na Comissão Mista de Orçamento. Os deputados do PT não abrem mão da relatoria, para segurar ao máximo as propostas do governo. Afinal, conseguem liberar as próprias emendas no Poder Executivo. A eleição do presidente da comissão mista está marcada para hoje, e a previsão é de que seja tão tumultuada quanto foram ontem as discussões da reforma política. Caso o PMDB da Câmara não consiga a relatoria do Orçamento, a ordem entre os peemedebistas é negociar a da LDO, a Lei de Diretrizes Orçamentárias, um texto que será aproveitado pelos deputados e senadores para amarrar essa imposição das emendas, de forma a deixar tudo pronto para o caso de os parlamentares aprovarem a liberação automática das emendas até setembro. A diferença é que a presidente Dilma Rousseff poderá vetar a LDO, uma vez que essa imposição de liberar recursos para emendas de deputados e senadores ainda não está em vigor.
Enquanto isso, na Comissão de Meio Ambiente…
A Agência Nacional do Petróleo (ANP) autorizou a Chevron a voltar a produzir petróleo no Brasil. A empresa estava proibida de operar no país desde o acidente de 2011. A autorização vem justamente no período em que a Comissão de Meio Ambiente da Câmara se prepara para aprovar um projeto da deputada Elcione Barbalho (PMDB-PA) que pretende destinar 2% da receita líquida da produção de campo à criação de uma reserva especial de recursos. Tudo para cobrir danos ambientais e socioeconômicos decorrentes de acidente ou da falha de equipamentos de exploração de petróleo e gás natural. Hoje, representantes das empresas vão baixar por ali para não deixar o texto ser aprovado.
Por falar em não deixar aprovar…
Os funerais da reforma política seguem por hoje. O deputado Roberto Freire, do PPS, por exemplo, não aceita aprovar o único tema que tem algum consenso entre os partidos: a coincidência de mandatos de prefeitos, vereadores, governadores, senadores, deputados federais, estaduais e presidente da República. “Essa coincidência de mandatos vem do período da ditadura. É um retrocesso. Aliás, tudo o que vem do PT tem se mostrado um retrocesso”, afirma. Mas essa é outra história.
Enquanto a maioria dos congressistas se distrai com os preparativos para os funerais da reforma política, um grupo se debate dentro da Comissão Mista de Orçamento, em torno da relatoria e da presidência do colegiado. Entre as várias razões para a disputa, a mais emblemática caminha silenciosamente fora dos holofotes. Sem muito alarde, os deputados começam a dar forma ao chamado orçamento impositivo para parte da Lei Orçamentária anual. Na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, por exemplo, já foi aprovada uma proposta de emenda constitucional que permitirá a liberação automática das emendas de deputados e senadores ao Orçamento. A grosso modo, significa que o que estiver aprovado em termos de obras e serviços incluídos na lei como emendas parlamentares será cumprido e ponto.
Essa proposta será agora objeto de análise por uma comissão especial que terá prazo de 40 sessões para emitir um parecer. Depois, segue para plenário, onde será submetida a votação em dois turnos. Calcula-se que, até o fim de junho, a Câmara conclua a apreciação do tema. Daí, segue para o Senado, onde a intenção é aprovar o texto o mais rápido possível, a tempo de tornar obrigatória a liberação das emendas para o ano eleitoral.
Se os parlamentares conseguirem cumprir o calendário em tempo recorde — e não é segredo que, quando eles querem, as votações ocorrem rapidamente —, o governo será obrigado a liberar as emendas no ano que vem. Afinal, como se trata de emenda constitucional, não passa pela sanção presidencial. É promulgada diretamente pelo parlamento, sem passar pelo crivo do Poder Executivo. E, pelo andar da carruagem, ou a presidente negocia logo, ou verá os parlamentares mandando na execução do Orçamento — coisa que os integrantes do Poder Executivo não gostam, embora digam publicamente que isso faz parte do processo democrático.
Essa perspectiva é o que move hoje corações e mentes dos políticos que terão assento na Comissão Mista de Orçamento. Os deputados do PT não abrem mão da relatoria, para segurar ao máximo as propostas do governo. Afinal, conseguem liberar as próprias emendas no Poder Executivo. A eleição do presidente da comissão mista está marcada para hoje, e a previsão é de que seja tão tumultuada quanto foram ontem as discussões da reforma política. Caso o PMDB da Câmara não consiga a relatoria do Orçamento, a ordem entre os peemedebistas é negociar a da LDO, a Lei de Diretrizes Orçamentárias, um texto que será aproveitado pelos deputados e senadores para amarrar essa imposição das emendas, de forma a deixar tudo pronto para o caso de os parlamentares aprovarem a liberação automática das emendas até setembro. A diferença é que a presidente Dilma Rousseff poderá vetar a LDO, uma vez que essa imposição de liberar recursos para emendas de deputados e senadores ainda não está em vigor.
Enquanto isso, na Comissão de Meio Ambiente…
A Agência Nacional do Petróleo (ANP) autorizou a Chevron a voltar a produzir petróleo no Brasil. A empresa estava proibida de operar no país desde o acidente de 2011. A autorização vem justamente no período em que a Comissão de Meio Ambiente da Câmara se prepara para aprovar um projeto da deputada Elcione Barbalho (PMDB-PA) que pretende destinar 2% da receita líquida da produção de campo à criação de uma reserva especial de recursos. Tudo para cobrir danos ambientais e socioeconômicos decorrentes de acidente ou da falha de equipamentos de exploração de petróleo e gás natural. Hoje, representantes das empresas vão baixar por ali para não deixar o texto ser aprovado.
Por falar em não deixar aprovar…
Os funerais da reforma política seguem por hoje. O deputado Roberto Freire, do PPS, por exemplo, não aceita aprovar o único tema que tem algum consenso entre os partidos: a coincidência de mandatos de prefeitos, vereadores, governadores, senadores, deputados federais, estaduais e presidente da República. “Essa coincidência de mandatos vem do período da ditadura. É um retrocesso. Aliás, tudo o que vem do PT tem se mostrado um retrocesso”, afirma. Mas essa é outra história.
Chavismo, populismo e santeria - RICARDO VÉLEZ RODRIGUEZ
O ESTADÃO - 10/04
Fica clara uma lição do drama sofrido pelo falecido presidente Hugo Chávez, da Venezuela, bem como pelo povo desse país irmão: os homens passam, as nações ficam. O grande problema dos populismos (a mais recente variável do patrimonialismo na América Latina) é que guindam às alturas líderes carismáticos, que passam a considerar-se sobranceiros ao próprio povo que os colocou no altar da fama e tentam pôr as instituições e as nações respectivas a serviço do seu projeto pessoal de imortalidade. A mumificação do líder carismático é o corolário natural desse processo.
Esse fenômeno, que era corriqueiro na Antiguidade, ao ensejo dos despotismos hidráulicos, muito bem estudados por Karl Wittfogel na sua clássica obra O Despotismo Oriental (1951), manifestou-se, no antigo Egito, nos impérios pré-colombianos inca e asteca, no império chinês, após a unificação dos chamados "Estados combatentes" efetivada pelo imperador Chin, nos impérios sumero-babilônicos, etc. Era conhecida, nesses contextos, a macabra praxe da imolação coletiva dos funcionários reais e de suas famílias quando da morte do líder. Prática que, diga-se de passagem, não deixaria de ser profilática na atual sem-vergonhice do patrimonialismo caboclo.
A primeira manifestação moderna da pretensão de imortalidade pessoal veio na trilha do patrimonialismo ibérico, ao ensejo do absolutismo da dinastia dos Áustrias, com Carlos V e Filipe II, que encontraram no pensamento contrarreformista a ideologia de que precisavam para a perpetuação no poder. O conluio entre poder absoluto da realeza e burocracia eclesiástica foi a resultante dessa simbiose entre religião e política, com os resultados muito bem conhecidos no império espanhol, notadamente no México. Sofremos também no Brasil as consequências dessa mistura, no absolutismo piegas de dona Maria I, que levou Tiradentes ao patíbulo e perseguiu com mão de ferro os demais conjurados mineiros.
A pretensão hegemônica do líder carismático veio a ser sistematizada por Jean-Jacques Rousseau, que efetivou a síntese do pensamento totalitário no seu opúsculo O Contrato Social (1763). O legislador, para ele, seria o salvador, porquanto imporia a unanimidade e eliminaria o dissenso, condições da felicidade geral. Na América Latina, em perversa síntese juntou-se a tradição patrimonialista ibérica com o pensamento de Rousseau, o que produziu um reforço à ideia do poder total, que se manifestou no feroz patrimonialismo que tomou conta dos países hispano-americanos após as guerras da independência. No Brasil, essa variável se concretizou, depois de proclamada a República positivista, com a eliminação dos que se manifestassem contra. Canudos e a saga do Contestado são expressão desse modelo.
No século 20, a concepção do poder total deixou de ser uma religião revelada para se transformar em ideologia, "a religião totalitária". Ora, é desse teor o pano de fundo de crenças em que se alicerça o populismo. Chávez considerou-se, numa primeira etapa, o enviado de Cristo para apregoar nas Américas a Teologia da Libertação. Já num segundo momento, premido pela doença, apelou para um coquetel ideológico em que foram misturados elementos do cristianismo evangélico (praticado pela avó) e da santeria afro-caribenha. É sabido, como nos conta Beatriz Lecumberri na sua obra intutulada La Revolución Sentimental (Caracas: Puntocero, 2012), que, na cerimônia com os paleros (assim chamados os chefes dos terreiros de santeria), o cadáver do Libertador Simón Bolívar foi exumado num ritual rigorosamente planejado, com a finalidade de que o líder doente pudesse apropriar-se da imortalidade do herói. A resultante desse processo, num contexto fortemente patrimonialista como o venezuelano, é a radicalização do exército dos seguidores de Chávez (hoje estimado em perto de 120 mil camponeses e líderes sindicais armados nas denominadas "milícias bolivarianas"), que, certamente, farão muito barulho, causarão inúmeras mortes e dificultarão ao máximo a volta do país ao leito da normalidade democrática.
No Brasil não ficamos imunes a esse fenômeno de maluquice coletiva. Já estamos pagando a conta da era lulopetista, com a inflação que chegou, com a Petrobrás sendo cada dia mais descapitalizada, com a gastança federal da pupila do líder carismático (que levou a Roma imensa comitiva que se hospedou em hotéis de primeira "para facilitar os trabalhos", segundo a alegação oficial) e com a nossa infraestrutura em frangalhos depois de a petralhada ter torrado em políticas sociais sem rumo o caixa feito por Fernando Henrique Cardoso e que pagaria os investimentos que não foram realizados.
Isso sem falar no "mar de lama" patrocinado desde a alta cúpula para pagar fidelidades no Congresso (no nosso "presidencialismo de coalizão"). Para não mencionar o stalinismo da direção petista, que enfileira suas baterias contra todo e qualquer um que se opuser ao projeto de hegemonia partidária, desde os ministros do Supremo Tribunal Federal até os jornalistas, blogueiros e empresas de mídia que não se afinem com a pretensão oligárquica. Para piorar as coisas, num momento em que o Brasil se atrapalha com montes de obras atrasadas para os eventos esportivos previstos, o líder carismático faz deslanchar antecipadamente a campanha presidencial, com o corriqueiro clima de palanque que já tomou conta do País e impede uma administração transparente do dinheiro público.
Para superarmos o risco do misticismo patrimonialista vamos começar pelo ponto que realmente interessa à sociedade brasileira: o saneamento da representação. Aproveitemos que se fala hoje, de novo, em reforma política. É necessário, mais do que nunca, que se adote o sistema distrital no Brasil. Somente assim a sociedade sentirá que tem forças para controlar o poder e fazer valer os interesses dos cidadãos.
Fica clara uma lição do drama sofrido pelo falecido presidente Hugo Chávez, da Venezuela, bem como pelo povo desse país irmão: os homens passam, as nações ficam. O grande problema dos populismos (a mais recente variável do patrimonialismo na América Latina) é que guindam às alturas líderes carismáticos, que passam a considerar-se sobranceiros ao próprio povo que os colocou no altar da fama e tentam pôr as instituições e as nações respectivas a serviço do seu projeto pessoal de imortalidade. A mumificação do líder carismático é o corolário natural desse processo.
Esse fenômeno, que era corriqueiro na Antiguidade, ao ensejo dos despotismos hidráulicos, muito bem estudados por Karl Wittfogel na sua clássica obra O Despotismo Oriental (1951), manifestou-se, no antigo Egito, nos impérios pré-colombianos inca e asteca, no império chinês, após a unificação dos chamados "Estados combatentes" efetivada pelo imperador Chin, nos impérios sumero-babilônicos, etc. Era conhecida, nesses contextos, a macabra praxe da imolação coletiva dos funcionários reais e de suas famílias quando da morte do líder. Prática que, diga-se de passagem, não deixaria de ser profilática na atual sem-vergonhice do patrimonialismo caboclo.
A primeira manifestação moderna da pretensão de imortalidade pessoal veio na trilha do patrimonialismo ibérico, ao ensejo do absolutismo da dinastia dos Áustrias, com Carlos V e Filipe II, que encontraram no pensamento contrarreformista a ideologia de que precisavam para a perpetuação no poder. O conluio entre poder absoluto da realeza e burocracia eclesiástica foi a resultante dessa simbiose entre religião e política, com os resultados muito bem conhecidos no império espanhol, notadamente no México. Sofremos também no Brasil as consequências dessa mistura, no absolutismo piegas de dona Maria I, que levou Tiradentes ao patíbulo e perseguiu com mão de ferro os demais conjurados mineiros.
A pretensão hegemônica do líder carismático veio a ser sistematizada por Jean-Jacques Rousseau, que efetivou a síntese do pensamento totalitário no seu opúsculo O Contrato Social (1763). O legislador, para ele, seria o salvador, porquanto imporia a unanimidade e eliminaria o dissenso, condições da felicidade geral. Na América Latina, em perversa síntese juntou-se a tradição patrimonialista ibérica com o pensamento de Rousseau, o que produziu um reforço à ideia do poder total, que se manifestou no feroz patrimonialismo que tomou conta dos países hispano-americanos após as guerras da independência. No Brasil, essa variável se concretizou, depois de proclamada a República positivista, com a eliminação dos que se manifestassem contra. Canudos e a saga do Contestado são expressão desse modelo.
No século 20, a concepção do poder total deixou de ser uma religião revelada para se transformar em ideologia, "a religião totalitária". Ora, é desse teor o pano de fundo de crenças em que se alicerça o populismo. Chávez considerou-se, numa primeira etapa, o enviado de Cristo para apregoar nas Américas a Teologia da Libertação. Já num segundo momento, premido pela doença, apelou para um coquetel ideológico em que foram misturados elementos do cristianismo evangélico (praticado pela avó) e da santeria afro-caribenha. É sabido, como nos conta Beatriz Lecumberri na sua obra intutulada La Revolución Sentimental (Caracas: Puntocero, 2012), que, na cerimônia com os paleros (assim chamados os chefes dos terreiros de santeria), o cadáver do Libertador Simón Bolívar foi exumado num ritual rigorosamente planejado, com a finalidade de que o líder doente pudesse apropriar-se da imortalidade do herói. A resultante desse processo, num contexto fortemente patrimonialista como o venezuelano, é a radicalização do exército dos seguidores de Chávez (hoje estimado em perto de 120 mil camponeses e líderes sindicais armados nas denominadas "milícias bolivarianas"), que, certamente, farão muito barulho, causarão inúmeras mortes e dificultarão ao máximo a volta do país ao leito da normalidade democrática.
No Brasil não ficamos imunes a esse fenômeno de maluquice coletiva. Já estamos pagando a conta da era lulopetista, com a inflação que chegou, com a Petrobrás sendo cada dia mais descapitalizada, com a gastança federal da pupila do líder carismático (que levou a Roma imensa comitiva que se hospedou em hotéis de primeira "para facilitar os trabalhos", segundo a alegação oficial) e com a nossa infraestrutura em frangalhos depois de a petralhada ter torrado em políticas sociais sem rumo o caixa feito por Fernando Henrique Cardoso e que pagaria os investimentos que não foram realizados.
Isso sem falar no "mar de lama" patrocinado desde a alta cúpula para pagar fidelidades no Congresso (no nosso "presidencialismo de coalizão"). Para não mencionar o stalinismo da direção petista, que enfileira suas baterias contra todo e qualquer um que se opuser ao projeto de hegemonia partidária, desde os ministros do Supremo Tribunal Federal até os jornalistas, blogueiros e empresas de mídia que não se afinem com a pretensão oligárquica. Para piorar as coisas, num momento em que o Brasil se atrapalha com montes de obras atrasadas para os eventos esportivos previstos, o líder carismático faz deslanchar antecipadamente a campanha presidencial, com o corriqueiro clima de palanque que já tomou conta do País e impede uma administração transparente do dinheiro público.
Para superarmos o risco do misticismo patrimonialista vamos começar pelo ponto que realmente interessa à sociedade brasileira: o saneamento da representação. Aproveitemos que se fala hoje, de novo, em reforma política. É necessário, mais do que nunca, que se adote o sistema distrital no Brasil. Somente assim a sociedade sentirá que tem forças para controlar o poder e fazer valer os interesses dos cidadãos.
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