quinta-feira, março 17, 2011

CONTARDO CALLIGARIS

Intervir ou não
CONTARDO CALLIGARIS
FOLHA DE SÃO PAULO - 17/03/11

Os injustiçados, mundo afora, esperam a chegada da cavalaria. E a cavalaria, bem ou mal, somos nós 

NA FOLHA de 6 de março, um médico líbio, Mohammed Ahmad, entrevistado pelo correspondente Marcelo Ninio, desabafa: "É um massacre, estão atingindo civis, estão nos atacando de todas as direções. Por que a comunidade internacional não intervém?".
A Líbia é apenas um exemplo. A cada dia, junto com as notícias, chega até nós o grito dos que estão sendo perseguidos e exterminados, dos que apodrecem nas masmorras, dos que, indefesos diante de poderes abusivos e absolutos, estão sendo pisados, escravizados, torturados. Eles colocam sua última esperança na improvável chegada da cavalaria. E a cavalaria com a qual eles sonham, bem ou mal, somos nós -somos também nós.
Vamos brincar de Pôncio Pilatos? Ou vamos à luta pelos injustiçados que moram longe de nossa rua, de nosso país e de nossa cultura? E, nesse caso, quais injustiçados escolheremos?
Por temperamento, sou intervencionista -embora muito menos hoje do que no passado, talvez por confiar menos na minha força física. De qualquer forma, se vejo uma briga, tendo a me meter -para afastar os que estão brigando e também para tomar partido. Mas tomo partido como?
Admito que, na maioria das vezes em que decidi me meter, eu realmente não tinha como saber de que lado estava a razão. Por isso mesmo, os supostos "nobres" motivos de minha escolha permanecem sob suspeita. Por exemplo, escolhi o lado do mais fraco: é uma opção generosa, mas quem garante que o mais fraco tinha razão? E se, de fato, eu tivesse escolhido o lado dos que mais se pareciam comigo, como se a razão só pudesse estar com alguém que tivesse a minha cara?
A dificuldade de intervir decorre de contradições que são inseparáveis do próprio espírito da modernidade ocidental.
a) Acreditamos na universalidade da espécie humana; para nós, ser "homem" é mais importante do que pertencer a uma nação ou a uma etnia. Em tese, o que acontece na Líbia ou em Ruanda nos é próximo e nos concerne tanto quanto o que acontece no quintal de casa -portanto, interviremos, não é?
b) Certo, interviremos e pesaremos na balança em nome de nossos valores. Apoiaremos quem quer democracia e escutaremos o grito da mulher que tenta fugir de sua tribo porque não quer que seu sexo seja mutilado ou da adúltera que será apedrejada.
Mas o fato é que a defesa dos valores nos quais acreditamos será hesitante e, de uma certa forma, culpada pelo seguinte sofisma: se todos, por diferentes que sejam de nós, são tão homens quanto a gente, qual seria o mérito especial de nossos valores, salvo o mérito (duvidoso) de eles serem os nossos?
c) Desde o começo da modernidade, acreditamos também que o que acontece no mundo não é efeito da vontade divina, mas da ação dos homens. Por exemplo, não somos dominados pela Providência, mas pela vontade de tiranos contra quem podemos, portanto, nos rebelar.
Há uma contrapartida: assim que a razão moderna reconhece que tudo vem dos atos e das intenções dos indivíduos, ela se torna desconfiada e paranoica. Em suma, a notícia boa é que podemos modificar o curso da história, a notícia ruim é que somos sempre suspeitos de modificá-lo pelas piores razões.
Somos condenados a uma alternativa entre duas posições igualmente incômodas. Quem não intervém é um covarde que renega sua humanidade e deixa os indefesos sem defesa e os injustiçados sem justiça.
Quem intervém é provavelmente um aproveitador que, sob o manto de uma certa grandeza moral, está promovendo interesses escusos ou, no mínimo, impondo ao mundo seus valores particulares. Algumas consequências disso? Aqui vai.
Desde o sítio de Sarajevo, em 1992, até o massacre de Srebrenica em 1995, a imprensa ocidental denunciou a covardia das potências que não impediam o genocídio. Depois dos bombardeios da Otan em 1998, os mesmos comentaristas denunciaram o imperialismo das potências que se atreveram a intervir.
Se amanhã as botas dos soldados da Otan ou mesmo da Liga Árabe pisarem o chão da Líbia, aposto que Mohammed Ahmad será entre os primeiros a se indignar e eventualmente a lutar contra o ocupante estrangeiro.
Nota: Quem puder (o filme está em poucas salas, infelizmente) assista a "Restrepo", documentário de S. Junger e T. Hetherington. É uma extraordinária lição de sobriedade na hora de pensar em intervenções militares "civilizatórias".

NO PAU TINHA UM ESPINHO

SILVIO MEIRA

Por uma educação empreendedor
SILVIO MEIRA


FOLHA DE SÃO PAULO - 17/03/11

TODO BOM empreendimento, toda boa empresa, é uma boa escola. E não há exceções. A ponto de o colaborador de um negócio qualquer dever, pelo menos uma vez por semana, se perguntar o que aprendeu nos últimos 7, 14, 21 dias.
Se, vez após vez, a resposta for muito pouco ou (quase) nada, é hora de procurar algum lugar que, junto com seus colaboradores, esteja construindo o futuro.
Em quase todos os lugares onde não se aprende nada isso não ocorre porque não há problemas, mas porque a cegueira cognitiva reinante no lugar impede que se façam as perguntas que, feitas, criariam as oportunidades de aprendizado para todos. E negócios onde não se aprende o tempo todo, em tempos de economia do conhecimento, estão a caminho do grande cemitério dos CNPJ...
Se olharmos para as últimas décadas da vida nacional, uma possível interpretação é que levamos um longo tempo para pôr em ordem um número de aspectos essenciais à existência ordenada do país.
A ordem democrática e a ordem econômica são duas conquistas que não podemos minimizar, sob pena de, esquecendo o passado, comprometer o futuro. Em tempos mais recentes, houve também um grande progresso na ordem social, trazendo para a cidadania um sem-número de indivíduos e famílias que viviam completamente à margem da sociedade. Mas isso não basta.
Depois de dar os primeiros passos na direção de um país sem sobressaltos em qualquer das outras ordens, é preciso fazer muito mais, é preciso fazer com que cada cidadão entenda seus direitos e deveres, suas escolhas e riscos, o valor de sua contribuição à nação, seu poder como pagador de impostos e eleitor.
Sem esquecer de sua potencial contribuição econômica, ainda mais como empreendedor de si mesmo em uma economia onde conhecimento em rede é cada vez mais o principal vetor de atividade.
Parece que o Brasil está entendendo, tardia mas finalmente, que chegamos num platô de performance do qual dificilmente sairemos sem um aumento significativo da quantidade de pessoas que tenham passado, com uma boa performance, por um sistema educacional de qualidade.
Um tal sistema não "fabrica" conhecimento em série, qual linha de produção da revolução industrial.
Para atender educandos em quantidade e qualidade para as demandas de um país complexo em um cenário internacional de competição quase sem fronteiras, é preci- so que o sistema educacional seja baseado em métodos e mecanis- mos de criação de oportunidades de aprendizado que só costuma- mos ver como exceção no nosso ambiente educacional.
Se escolhermos investir seriamente em educação, como parece que pode ser o caso nesta década, tomara que tal escolha signifique mais e melhores conteúdos e práticas de línguas, lógica, matemática, computação e ciências, para melhorar a qualidade de nosso "peopleware", educando muito mais gente nos fundamentos para participar da economia do conhecimento como cidadão de primeira classe.
E tomara que a "escola industrial", que nos tenta ensinar respostas para perguntas já conhecidas, seja paulatinamente substituída por uma "escola de conhecimento", onde a maior parte do esforço se dá ao redor da descoberta das per- guntas, onde cada um empreende sua capacidade de aprender e, no caso dos professores, sua capa- cidade de criação de oportuni- dades de aprendizado.
Se cuidarmos de criar, manter e evoluir um sistema educacional empreendedor, mudaremos nossa visão de mundo. Ao invés de respostas padronizadas para questões já definidas, uma educação empreendedora vai nos levar a perguntar quais são os problemas -nossos e dos outros- e como podemos descobrir novas e inovadoras soluções.
E isso vai ser um grande passo para a criação de novas capacidades empreendedoras em um país que precisa fazer muito mais que fornecer commodities.
Esse é o tema de uma série no meu blog (no link http://bit.ly/gGB9XB), já no 18º texto, tratando de inovação e empreendedorismo no contexto de uma educação verdadeiramente empreendedora. 

JUCA KFOURI

A CPI da Copa
JUCA KFOURI

FOLHA DE SÃO PAULO - 17/03/11

DEPUTADO FEDERAL e ex-governador do Rio, quando conviveu com escândalos de todo tipo em sua gestão, eis que Anthony Garotinho colhe assinaturas para investigar os atos do presidente da CBF e do Comitê Organizador Local (COL) da Copa do Mundo de 2014, no Brasil.
Garotinho quer esmiuçar o contrato do COL porque, segundo ele, Ricardo Teixeira pode ficar com todo o eventual lucro da Copa do Mundo.
O parlamentar desconfia ainda de lavagem de dinheiro e quer saber se é mesmo verdade que Teixeira paga advogados com dinheiro da CBF para defendê-lo em questões pessoais.
Verdade que, para tanto, nem é preciso comissão alguma: este colunista é testemunha de que sim, Teixeira paga com dinheiro da entidade os processos que move contra jornalistas.
Mas não têm sido poucas as pessoas que reagem mal não à iniciativa da CPI, mas ao proponente.
E faz sentido, sem dúvida.
É legítimo desconfiar de que seja uma jogada para obter facilidades adiante e tudo o mais que se quiser pensar, em se tratando de quem se trata.
Embora haja uma outra maneira de ver a coisa, remontando às CPIs passadas, que infernizaram a vida do cartola e o indiciariam mais de uma dezena de vezes: a que correu na Câmara Federal, então presidida pelo atual vice-presidente da República, Michel Temer, só foi instalada porque, no Senado, o tucano Álvaro Dias conseguiu emplacar a bem-sucedida CPI do Futebol.
Como havia um pedido anterior, do deputado comunista Aldo Rebelo, Temer correu para que a Câmara não passasse vergonha e instalou a sabotada CPI da CBF/Nike.
Eis que, depois que o combativo presidente daquela CPI, o próprio Rebelo, chegou ao poder com a eleição de Lula, tudo mudou.
A ponto de ele nem lutar mais pelo livro que escreveu sobre a CPI e que Teixeira conseguiu censurar, razão pela qual está proibido, e praticamente desconhecido, até hoje.
Ora, apostemos nas contradições da vida, nos paradoxos ou, se você quiser, na dialética, sem considerar que o inimigo de meu inimigo é meu amigo.
Se Rebelo era contra essa gente e se aquietou pragmaticamente, quem sabe se Garotinho, por mero oportunismo, ele que sempre foi mais dessa turma, não leva adiante o que o outro começou tão bem e acabou tão mal?
Pois a vida também é uma caixinha de surpresas.

EDITORIAL - O ESTADO DE SÃO PAULO

O rabo que abana o cachorro
EDITORIAL
O Estado de S.Paulo - 17/03/11

O Incra é uma enorme autarquia de eficiência administrativa discutível (suas metas de assentamento rural estão longe de serem cumpridas e os dados que divulga não são confiáveis), em primeiro lugar, porque se transformou num cabide de empregos do PT. Esta é a conclusão a que chegou o próprio governo petista, de acordo com uma minuta de portaria em estudo no Ministério de Desenvolvimento Agrário, divulgada pelo Estado (12/3), cujos termos revelam a intenção de criar mecanismos de controle sobre as 30 superintendências regionais do Incra. Essas superintendências definem planos e administram recursos com um grau de autonomia que foge ao controle até mesmo da presidência da autarquia. De fato, o Incra de hoje é fenômeno típico de um estilo de governo que durante oito anos usou a farta distribuição de cargos e benesses no aparelho do Estado para acomodar situações de desconforto e cortejar tendências políticas radicais, em troca de apoio e em benefício da imagem "progressista" do chefão. Como resultado, aquela autarquia se transformou num órgão muito mais poderoso do que o Ministério ao qual está vinculada. Situação que, aparentemente, o governo Dilma se dispõe a reverter.

Vinte e seis das 30 superintendências regionais são dirigidas por petistas, a maioria filiada à tendência Democracia Socialista, que desde 2003 domina o órgão. Durante os oito anos do governo Lula, a reforma agrária, historicamente uma das mais importantes bandeiras de seu partido, permaneceu praticamente congelada. Mas, entretidos com os jogos do poder, que incluem a manipulação de vultosos recursos orçamentários, os esquerdistas acomodados no Incra não perturbaram a paz e ajudaram a inflar o prestígio do chefe do governo. É assim que a autarquia criada em 1970 tem cumprido sua missão de "implementar a política de reforma agrária e realizar o ordenamento fundiário nacional, contribuindo para o desenvolvimento rural sustentável", como está definido em seus estatutos.

O próprio governo Lula, com o pragmatismo que o levou a manter os fundamentos da política econômica e dos projetos sociais de seus antecessores, encarregou-se de desmitificar o tema reforma agrária, minimizando na prática a importância do conflito ideológico entre agricultura familiar e agronegócio. Assim, o trabalho do Incra deixou de ser prioridade de governo. Mas nem por isso a autarquia deixou de crescer. Hoje tem cerca de 6 mil funcionários, enquanto o Ministério do Desenvolvimento Agrário dispõe de cerca de 250. E em 2010 trabalhou com um orçamento de R$ 4,3 bilhões, oriundos da dotação de R$ 6,3 bilhões que coube à Pasta à qual se vincula. E como a atividade-fim original parece já não ter a mesma importância, todo esse aparato tem cumprido um importante papel propagandístico.

Recentemente o Incra anunciou que o governo Lula é o grande campeão da reforma agrária, tendo sido responsável pela incorporação de 48,3 milhões de hectares às áreas de assentamento e pela distribuição de lotes a 614 mil famílias. Mas em reportagem de Roldão Arruda publicada pelo Estado em 28 de fevereiro, ficou demonstrado que esses dados foram inflados artificialmente. Segundo informações divulgadas pelo próprio Incra desde 2003 e analisadas pelo pesquisador da USP Ariovaldo Umbelino de Oliveira, um terço (26,6%) das famílias cujo assentamento se atribui ao governo Lula, antes disso já vivia e produzia na zona rural, mas sem título de propriedade. O governo tão somente as incluiu nos programas de apoio à agricultura familiar. Além disso, 38,6% do total de novas famílias dadas como assentadas são pessoas que ocuparam lotes abandonados em áreas de reformas já existentes. Trata-se, portanto, de simples reordenação fundiária e não de novos assentamentos.

É compreensível, portanto, que o governo Dilma se disponha a enquadrar o Incra nos princípios da boa gestão da coisa pública, com o que estará pondo fim ao singular fenômeno, nas relações da autarquia com o Ministério do Desenvolvimento Agrário, do rabo que abana o cachorro.

GOSTOSA

DEMÉTRIO MAGNOLI

A maldição do pré-sal
DEMÉTRIO MAGNOLI
O Estado de S.Paulo - 17/03/11

"A Petrobrás é um Estado dentro do Brasil - felizmente, um Estado amigo", costumava dizer Lula. O primeiro elemento da ironia é indiscutível: os investimentos da petroleira em ciência e tecnologia são um múltiplo do orçamento do Ministério da Ciência e Tecnologia, e os investimentos em cultura e comunicação social são maiores que os dos Ministérios correspondentes. Infelizmente, o segundo elemento da ironia é discutível.

Desde a descoberta de petróleo no pré-sal, os investimentos da Petrobrás saltaram de R$ 16,5 bilhões, em 2006, para R$ 76,4 bilhões, em 2010. O endividamento cresceu paralelamente, atingindo R$ 117,9 bilhões no ano passado. Desse total, quase 40% representam dívidas com bancos públicos: BNDES, R$ 36,3 bilhões; CEF, R$ 5,66 bilhões; e BB, R$ 4,35 bilhões. Além disso, o BNDES detém quase R$ 44 bilhões em ações da petroleira. Sobre tais empréstimos a Petrobrás paga taxas de juros internacionais, ao redor de 6% ao ano. Contudo o capital de empréstimo dos bancos públicos deriva de aportes do Tesouro, que capta a taxas de juros anuais em torno de 12%. A diferença é paga por todos os brasileiros, ricos e pobres, que financiam a dívida pública. O "imposto Petrobrás", um tributo oculto, mas bem real, deveria conceder à Nação o direito de investigação das estratégias da petroleira. Mas quem está disposto a formular perguntas que incomodam o "Estado dentro do Brasil"?

A narrativa oficial, fixada pela bilionária publicidade da Petrobrás, sedimentada nos livros escolares, conta a epopeia de uma empresa triunfante, que fez do mar a fronteira do petróleo no Brasil. É uma história de esforços hercúleos, rupturas tecnológicas, recordes de perfuração sucessivos sob uma lâmina d"água sempre mais profunda. Mas, e se, fora do olhar do grande público, existir uma história não contada? Lula: "A Petrobrás é motivo de orgulho para nós. Se fosse uma mulher, seria a mulher com quem toda mãe gostaria que o seu filho casasse". Mas, e se, sob o rosto imaculado da mulher perfeita, existir uma fria manipuladora, uma carreirista hábil, uma egoísta sem limites em busca de dinheiro, poder e prestígio?

A estatal foi fundada em 1953. Logo em seguida contratou os serviços do geólogo americano Walter Link, um renomado ex-funcionário da Standard Oil, para avaliar o potencial petrolífero brasileiro. O Relatório Link foi preparado entre 1955 e 1960, com base apenas em levantamentos geológicos rudimentares. Ele recomendava que a Petrobrás voltasse as costas para o território continental, entregando-se à prospecção offshore. A primeira descoberta offshore deu-se em 1968 e seis anos depois a Petrobrás identificou petróleo na Bacia de Campos. Quando a empresa detentora do monopólio da exploração tinha apenas 15 anos, a marcha épica rumo às profundezas do mar já selava um destino: ninguém mais se preocuparia com o onshore.

Link quase nada conhecia sobre o potencial das bacias sedimentares onshore, que perfazem cerca de 5 milhões de km2 do território brasileiro. Pouco se sabe até hoje. Desde 1953, foram perfurados cerca de 24 mil poços exploratórios onshore no Brasil, um número ridiculamente pequeno se confrontado com a prospecção em países de tamanho comparável. Nos EUA, perfuraram-se milhões de poços pioneiros. No Canadá, perfuram-se anualmente pelo menos 25 mil poços, o equivalente a todas as perfurações pioneiras em terra na história petrolífera brasileira. A prospecção em terra custa uma fração da prospecção sob águas profundas. Os fantásticos investimentos offshore podem resultar em taxas de retorno insignificantes. Entretanto, redundam em imensa concentração de poder econômico e político. O "Estado dentro do Brasil" não busca exatamente petróleo, mas o incremento de seu próprio poder.

A descoberta de petróleo no pré-sal reproduz, em escala ampliada, os efeitos dos primeiros poços na Bacia de Campos. Meses atrás, sob o influxo de investimentos comparativamente modestos, empresas privadas anunciaram três grandes descobertas de gás em terra, no Maranhão, em bacia classificada como pouco atraente pelo Relatório Link. Indícios recentes sugerem que podem existir maiores reservas exploráveis onshore do que no pré-sal. As novidades, porém, não ultrapassaram o círculo dos iniciados. Ensurdecido pela fanfarra nacionalisteira do pré-sal, hipnotizado pelas imagens repetitivas de um Lula abraçado à bandeira verde e amarela, as mãos sujas de óleo, o público aplaude a nova encenação de uma farsa antiga. Homem ao mar: com vastos subsídios públicos ocultos, perfuraremos agora uma camada instável de 2 mil metros de sal, sob 7 mil metros de água.

"Eu penso que vai ter algum momento na História do Brasil que vai ter de ter eleição direta para presidente da Petrobrás, e ele indicará o presidente da República, tal é a capacidade de investimento", sugeriu Lula em 2008. Por ora, ocorre o oposto. O "Estado dentro do Brasil" serve aos seus próprios interesses de poder, mas serve também ao poder de turno, fazendo política enquanto prospecta petróleo. A Petrobrás impulsiona os negócios de empresas parceiras, moldando o comportamento político de poderosos empresários. A Petrobrás transfere fortunas para agências de publicidade que operam no tabuleiro da política partidária. A Petrobrás divulga peças de propaganda governista em período eleitoral. A Petrobrás patrocina os "amigos do rei" nos movimentos sociais, em ONGs e fundações diversas, na esfera opaca dos negócios "culturais".

O "Estado dentro do Brasil" sabota ativamente a Agência Nacional de Petróleo, com a finalidade de restringir a concorrência no setor petrolífero. Ele triunfou na formulação do novo marco regulatório, que lhe reserva uma posição quase monopolista no pré-sal, e conseguiu protelar por três anos a retomada das rodadas de licitações de blocos exploratórios. "O petróleo é nosso" - e a Petrobrás, desgraçadamente, também.

SOCIÓLOGO, É DOUTOR EM GEOGRAFIA HUMANA PELA USP.
E-MAIL: DEMETRIO.

ROBERTO MACEDO

Um filme ruim só no título
ROBERTO MACEDO
O Estado de S.Paulo - 17/03/11

Refiro-me a Trabalho Interno, um documentário sobre a crise financeira que em 2008 eclodiu nos EUA, e que ganhou o último Oscar nessa categoria. O título é tradução inadequada de Inside Job. Ficaria melhor Por Baixo do Pano, pois o filme é centrado em decisões no círculo íntimo do governo, suspeitas em sua legalidade e não convincentemente esclarecidas pelos que participaram delas.

Ele é árduo para não economistas e para aproveitá-lo melhor é preciso um mínimo de informações sobre a papelada financeira subjacente à crise. Para estimular o leitor a assistir ao filme inicialmente procurarei sintetizá-las, limitando-me a papéis com origem em financiamentos imobiliários. Também abordarei a frágil regulamentação do mercado financeiro e alguns personagens envolvidos.

Bancos de investimento e outros entes financeiros adquiriam créditos hipotecários que instituições especializadas nesses financiamentos tinham a receber. Para seu próprio financiamento e ganhar com a intermediação os adquirentes usavam tais créditos como garantia de papéis, conhecidos como CDOs (Collateral Debt Obligations), que vendiam a investidores, como fundos de pensão. Para a instituição que cedia os créditos isso permitia novos financiamentos. Ao mesmo tempo, seguradoras ofereciam outro papel, o CDS (Credit Default Swap), em tese uma forma de proteção contra a inadimplência dos devedores originais. O esquema foi montado de modo a garantir bons rendimentos a investidores e emissores dos dois papéis. Em particular, as instituições financeiras citadas e seus executivos ganhavam fortunas à medida que a papelada aumentava.

Dada a frágil regulamentação do mercado, no processo houve forte aumento da alavancagem, ou seja, da proporção entre o valor das operações realizadas relativamente ao capital próprio das instituições (ir)responsáveis pela papelada, fragilizando-as para enfrentar riscos que se materializassem. A ganância inconsequente ocorria sob a bênção de agências de classificação de riscos, que avaliavam as garantias originais, isto é, as hipotecas de imóveis, em que se sustentavam os CDOs.

O (des)arranjo também se apoiava na pregação de economistas acadêmicos e de banqueiros que diziam ser esse quadro benéfico não só para o desenvolvimento do mercado, como para o da economia. E, ainda, que o mercado era operador eficiente de toda essa intermediação.

A edificação começou a ruir na base, com uma agravada inadimplência dos adquirentes de imóveis financiados. Na outra ponta, investidores em CDOs queriam seu dinheiro de volta e compradores de CDSs não conseguiam receber das seguradoras os valores devidos.

Quando veio o colapso, alguns bancos quebraram, e o governo e seu banco central vieram com dinheiro para remediar perdas e socorrer outros bancos. No filme, tem destaque o fato de o sistema financeiro, que armou toda a encrenca, não ter sofrido punição governamental pelas suas artes. Ao contrário, houve instituições que com o socorro preservaram seus ganhos, logo mostrando novos lucros, e recompensando regiamente seus executivos que arquitetaram o desastre.

No socorro houve uma operação particularmente cinzenta, a assegurada à seguradora AIG, que não honrava seus CDSs. Nesse caso, um banco que apostara fortemente na inadimplência dos devedores de financiamentos imobiliários, o Goldman Sachs, foi particularmente beneficiado, pois o socorro lhe permitiu conseguiu resgatar seus CDSs pelo valor de face integral. Ou, como se diz lá, na base de 100 centavos (de dólar) por dólar desse valor.

Bem, aí entra um dos grandes personagens, pois na montagem do socorro estava um que no passado havia sido presidente do Goldman Sachs, o ministro da Fazenda ao final do governo Bush, Henry Paulson. Gaguejando, defendeu-se quando depôs no Congresso, sempre afirmando que o socorro evitou uma quebradeira ainda maior. Mas ficou a sensação de que um resgate de CDSs por menos centavos por dólar de seu valor de face também poderia ter resolvido o problema, mas trazendo alguma punição para o banco. O filme sugere que algumas operações que descreve caracterizariam crimes.

O próprio presidente Barack Obama não se sai bem na história. Depois de pregar mudanças antes de eleito, as que vieram no caso foram consideradas frágeis. Alguns personagens antigos até voltaram à cena na sua equipe, como o ex-reitor de Harvard, o professor Larry Summers, um dos atores na desregulamentação do mercado.

Do lado dos que previram o desastre, o filme menciona o pouco conhecido Raghuram Rajan, que em 2005, como economista-chefe do FMI, escreveu artigo nessa linha, apresentado em reunião de figurões do mercado financeiro, presentes o mesmo Summers e o presidente do banco central americano, Alan Greenspan. Entretanto, quem se tornou mais conhecido foi Nouriel Roubini, que começou sua advertência um ano depois. Ambos aparecem no filme.

Acadêmicos que antes da crise se destacaram como pregadores da desregulamentação do mercado não se saem bem no enredo, que levanta uma questão ética ao apontar um relacionamento promíscuo entre a academia e o setor financeiro, além do tradicional entre o mesmo setor e equipes econômicas governamentais. Entrevistado, o chefe do Departamento de Economia de Harvard, John Campbell, concluiu gaguejando, quase mudo, e lembrando outro filme premiado, O Discurso do Rei, antes de seu final feliz.

Um economista famoso, John Keynes, numa frase muito citada, afirmou que "homens práticos, que se acham isentos de qualquer influência intelectual, são usualmente escravos de algum economista já falecido ou aposentado". O que o filme também mostra é que financistas praticantes trabalharam com economistas muito vivos. Ou ingênuos de enorme utilidade.

ECONOMISTA (UFMG, USP E HARVARD), PROFESSOR ASSOCIADO À FAAP, É VICE-PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO COMERCIAL DE SÃO PAULO

ANCELMO GÓIS

Obama é Mengão
ANCELMO GÓIS
O GLOBO - 17/03/11


Por ser muito grande, o helicóptero de Obama vai pousar, como saiu aqui, no campo do Flamengo e não no heliponto da Lagoa.
Na Gávea, o americano ganhará uma camisa do clube. Se vestir o Manto Sagrado, ganha metade do Rio. 

Longa espera
Guido Mantega ficou ontem com Dilma de 9h30m até quase 15h45m no Palácio do Planalto. A demora em retornar a seu gabinete, na Fazenda, em tempo de boatos de fritura do ministro, gerou ansiedade — inclusive, em gente de sua equipe.

Mas...
Mas, nas seis horas, Guido foi sapecado por afagos de Dilma. 

Chame o síndico 

Está nas mãos do desembargador Guaraci Campos Vianna, da 19a- Câmara Cível do TJ-RJ, o pedido de uma suposta filha de Tim Maia para exumar o corpo do artista. Seu objetivo é fazer um teste de DNA para provar a paternidade. Mas herdeiros atuais alegam que eles próprios podem oferecer o material para o exame. 

Os pernambucanos
Do ex-ministro Sérgio Rouanet sobre o fato de o pernambucano Marcos Vilaça ter inaugurado, em sua gestão na ABL, estátuas dos conterrâneos Manuel Bandeira e Joaquim Nabuco na praça entre a Rua Santa Luzia e a Av. Presidente Wilson, no Rio:

— Só falta o Vilaça pôr uma do Gilberto Freyre para o lugar se chamar Jardim Pernambuco. Faz sentido.

Coisa de mulher

Dilma começou a semana enfrentando uma longa sessão de fotos em seu gabinete. A presidente, que já deu entrevistas para Ana Maria Braga e Hebe Camargo, vai aparecer nas páginas da revista feminina “Marie Claire”.

Obama cá e nós lá
Mais um exemplo de como o dólar a preço de banana promove a conquista da América pelos brasileiros. O comandante de um cruzeiro do Royal Caribean, considerado um dos maiores do mundo e com capacidade para 7 mil passageiros, saiu de Miami para
o Caribe, dias atrás, avisando ter 4 mil brasileiros a bordo. 

Tarso e os blogs
O governador Tarso Genro vai se reunir com 80 (talvez 90) blogueiros gaúchos. Ouviu advertências de que alguns, não todos, são maluquetes, e outros tantos, irados. Mas insistiu na reunião.

‘El rapa!’
Camelôs ilegais que vendem bugigangas no Parque Güell, de Gaudi, em Barcelona, na Espanha, usam agora um apito para avisar uns aos outros da chegada do rapa. Deve ser terrível... você sabe.

Turma do funil

A Cedae vai distribuir 300 mil funis no Rio. É parceria com a Secretaria estadual do Ambiente no programa Prove, que estimula a coleta de óleo de cozinha usado e sua venda para a produção de biodiesel. O funil é para a dona de casa transferir o óleo velho para outro recipiente. 

Segue...

A Cedae se preocupa com o óleo despejado na pia ou no ralo, que contamina a água. Boletim médico Débora Duarte se submeteu
ontem a uma cirurgia de retirada de cálculo renal na Clínica São Vicente, no Rio. Passa bem. 

Último ato

Alunos de teatro da Univer- Cidade, em Ipanema, no Rio, foram pegos de surpresa. A direção avisou que, como há poucos alunos, não vai haver 5o período neste semestre. 

Troca-troca
O deputado Sérgio Zveiter vai substituir Brizola Neto na Secretaria do Trabalho de Cabral. 

Ele tem o que falar 
O delegado Carlos Oliveira, preso na Operação Guilhotina, da PF, acusado de vender armas a bandidos, ofereceu ajuda à CPI das Armas da Alerj, presidida pelo deputado Marcelo Freixo. 

Ai, que calor
Pesquisa da Fecomércio-RJ apontou os sonhos de consumo dos cariocas para 2011. A maioria (73,33%), acredite, só queria um... ventilador!

PENTELHO

CARLOS ALBERTO SARDENBERG

Eles vão sair dessa!
 CARLOS ALBERTO SARDENBERG

O GLOBO - 17/03/11

Oque foi pior: crise financeira de 2008/09 ou a sequência terremoto/tsunami/desastre nuclear no Japão? A tragédia japonesa, claro, que já matou milhares de pessoas e deixou traumatizadas populações locais e mundo afora. Mas, do ponto de vista econômico, a crise financeira foi muito pior. O mundo perdeu algo como 10% de sua riqueza acumulada - e aqui não estamos falando de aplicações financeiras dos ricos, mas de casas, empregos e poupanças de milhões de pessoas comuns.

A tragédia japonesa está longe do fim, mas mesmo nos piores cenários trará menores prejuízos econômicos. E a recuperação será mais rápida.

Uma visão otimista? É o que parece, considerando o ambiente. Desde 2008, os fatos sugerem o cenário da catástrofe.

Na economia, quando o mundo ameaçava se recuperar do colapso financeiro, veio a crise das dívidas públicas na Europa. Nenhum desses dois problemas está resolvido. Governos, empresas, pessoas e instituições internacionais ainda lidam com as consequências, em cenários que podem piorar.

É verdade que, no final do ano passado, a coisa parecia melhorar. Os países emergentes não apenas estavam se recuperando, mas o faziam com taxas de crescimento vigorosas. Entre os desenvolvidos, as principais questões estavam encaminhadas. Os Estados Unidos voltavam a crescer e nenhum país da Europa estava na iminência de quebrar. 2011 foi recebido como o ano da virada. Uma ano não propriamente tranquilo, mas pelo menos sem sobressaltos.

Aí vem a primeira surpresa - a erupção cívica no Norte da África e em países árabes. Essa inesperada mudança na geografia política trouxe dúvidas razoáveis sobre preços e abastecimento de petróleo, simplesmente a principal fonte de energia do mundo. Os preços subiram de imediato, batendo recordes.

Na sequência, a tragédia do Japão, um país relevante no equilíbrio global. Trata-se da terceira economia do mundo; o quarto maior exportador (com 14% das exportações de automóveis e peças e 60% das vendas mundiais de silício, essencial nos semicondutores); o quinto importador global; o terceiro principal comprador de petróleo e por aí vai.

Além disso, os japoneses, poupadores históricos, são investidores globais. Somando as aplicações financeiras do governo (comprando, por exemplo, centenas de bilhões de dólares dos títulos do governo americano), das empresas e dos fundos privados (com dinheiro das pessoas físicas) os japoneses são os maiores credores do mundo. Em papéis brasileiros, estima-se que os japoneses tenham até US$80 bilhões.

Assim, a paralisia da economia real japonesa, neste momento, já provoca interrupções em algumas cadeias produtivas. Não é um colapso, mas pode ser se a crise nuclear paralisar o país por muito tempo. E, como as compras japonesas estão suspensas, isso já derrubou preços do petróleo e de alimentos como trigo, soja e milho, conforme cálculos do Valor Data.

(Aliás, observe o leitor como economia tem sempre verso e reverso: uma catástrofe aterradora derruba preços de produtos essenciais e ... alivia a vida de populações pobres de outros países que estavam atormentadas com uma inflação de comida e combustível.)

No lado financeiro, se os investidores japoneses começarem a liquidar seus investimentos globais, para fazer caixa e levar dinheiro para a reconstrução em casa, isso abala mercados financeiros de Nova York a São Paulo.

Resumindo, está tudo no ar. A recuperação econômica enfraqueceu, o financiamento das dívidas públicas europeias parece mais complicado, o ambiente político nos países donos ou associados ao petróleo continua instável, para dizer o mínimo, o Japão está em suspenso e o mundo prende a respiração diante da ameaça nuclear.

O que mais?

Façamos o caminho de volta.

O Japão vai sair dessa, com certeza. A riqueza, a cultura, a capacidade econômica e tecnológica do país serão a base da recuperação.

Nas reportagens exibidas pela TV Globo na terça-feira, apareceu uma imagem reveladora. A cena mostrava o interior de um prédio público (o que tinha sobrado, em meio a escombros) no qual pessoas comuns e funcionários do governo organizam a busca de desaparecidos. Um ambiente de desespero - sobreviventes procurando familiares.

A câmera mostra então uma parede na qual foram afixadas folhas de papel com o nome dos desaparecidos e contatos dos parentes.

Gente, as folhas estavam alinhadas rigorosamente na horizontal e vertical!

Eles vão sair dessa.

Em números: segundo cálculos do Goldman Sachs , as perdas físicas (construções e instalações produtivas) podem chegar a US$200 bilhões, o que é muito pouco diante de um produto nacional em torno dos US$5 trilhões. Considerando um processo de reconstrução em cinco anos, por exemplo, seriam 40 bilhões por período.

O governo japonês está superendividado, mais de R$10 trilhões (isso mesmo, o dobro do produto nacional), mas as empresas e sobretudo as famílias têm uma superpoupança de US$18 trilhões - dinheiro que pode ser mobilizado de algum modo para a reconstrução. Do mesmo modo, não é muito que os japoneses precisam retirar no mundo para levar para casa.

Tudo depende, é claro, do tempo no controle da crise nuclear e do início da retomada. Há razões para supor que estarão no tempo.

Quanto aos outros grandes temas, os EUA produziram bons dados nos últimos dias. Na Europa, seguem os programas para ajuste dos países mais endividados. A crise árabe-petróleo é a que mais demanda atenção.

Enfim, não está mais fácil, mas as respostas estão em andamento. 

MÍRIAM LEITÃO

Sol levante
MIRIAM LEITÃO

O GLOBO 07/03/11 

A tragédia humana é sempre maior, mais importante e dolorosa do que qualquer efeito econômico. Com esta noção e respeito é que trato neste espaço das consequências na economia do triplo inesperado japonês: terremoto-tsunami-acidente nuclear. É difícil medir o efeito porque ele se espalha de forma sistêmica, mas já se sabe que as perdas são gigantes e sequenciais.

Há a perda inicial da devastação da infraestrutura de produção de energia, de empresas e instalações industriais, de portos e estradas. Há uma perda da paralisia da produção de inúmeras empresas que estão na cadeia produtiva mundial, com a globalização. O Japão, por ter se especializado em equipamentos de alta tecnologia, é a peça-chave em inúmeros novos produtos, como o iPad 2, e a interrupção da produção e do escoamento atingiu mesmo áreas não afetadas pelos sinistros. Há a perda do racionamento de energia. Há o custo direto e indireto. Por ser país desenvolvido com um alto índice de bens assegurados, qualquer evento no Japão afeta diretamente a indústria de seguros, que terá, pelo que se calcula até agora, um dos maiores custos da História.

A economia japonesa está há décadas com baixo crescimento, mas isso não a faz menos importante. Só com a China, seu comércio é de US$300 bilhões. Isso é 10% do comércio chinês, mas é mais importante para o Japão do que para a China. Porém o problema novamente é a cadeia de suprimentos: do Japão, a China compra inúmeros produtos que compõem sua produção para a exportação, principalmente de eletroeletrônicos. Na área siderúrgica, estima-se que 20% da capacidade produtiva japonesa esteja comprometida. O país é importador de petróleo, mas é exportador de derivados. Sua capacidade de refino foi afetada, e os preços da gasolina no mercado asiático já estão com tendência de alta.

O professor Alexandre Uehara, das Faculdades Integradas Rio Branco, explica que a diferença da tragédia atual de outros eventos envolvendo terremotos é o impacto energético. Cerca de 30% da produção de energia elétrica do Japão tem como origem a fonte nuclear, e até mesmo usinas termelétricas foram afetadas. O impacto econômico é grande e o Banco Central japonês já indica que o país passará por dois trimestres consecutivos de retração econômica.

- O Japão está sofrendo uma crise energética. Temos um efeito cascata, com outras usinas nucleares paralisadas. Montadoras foram obrigadas a interromper a produção e não há perspectiva de se normalizar o fornecimento de energia. O BC japonês fala de recuperação a partir do quarto trimestre. Isso, levando em conta o cenário de o país voltar à normalidade e de não haver problemas grandes de radiação - afirmou.

Uehara explica que somado ao problema energético acontece o gargalo logístico. Com uma economia totalmente integrada, a cadeia produtiva japonesa se especializou em fornecimentos imediatos, sem a prática de formação de estoques. Com o terremoto, toda essa logística foi afetada e isso quer dizer que as empresas do Sul do país podem sofrer de falta de produtos, mesmo que não tenham sido atingidas diretamente. Outro problema é o alto endividamento do governo, que passa de 220% do PIB. Isso pode dificultar a reconstrução.

- Com o terremoto, mesmo quem quer trabalhar pode não conseguir. O Sul do país, mais industrializado, tem dependência do Norte por matérias-primas. A dívida pública também é entrave à reconstrução. O ponto positivo é que ela é doméstica, feita pelo governo com os próprios bancos japoneses - explicou.

Rodrigo Maciel, da Strategus Consultoria, estima que haverá efeitos sobre a economia chinesa porque o Japão é um dos principais parceiros comerciais da China. O risco é de um aumento de custos na produção, por falta de insumos e componentes para as indústrias chinesas.

- O Japão, ao lado de outros vizinhos asiáticos como Coreia do Sul e Taiwan, é um importante fornecedor de componentes e insumos eletrônicos para a linha de montagem chinesa, que, depois, exporta o produto final para o resto do mundo. O custo de produção na China, que vem sofrendo com os aumentos da energia e dos preços das commodities, poderá subir ainda mais para esses setores - afirmou.

O Itaú Unibanco acha que a economia mundial pode ser afetada pela crise japonesa por diversos canais: menor crescimento japonês; diminuição do comércio global; queda nas bolsas; aumento de custos com energia, principalmente por causa do petróleo, promovendo inflação. O resultado pode ser um PIB mundial mais fraco este ano.

O mercado "precifica" esses riscos, como se diz na linguagem das instituições financeiras, e por isso as bolsas estão em queda. Ontem, a Bolsa de Tóquio subiu, mas o índice americano S&P500 caiu e zerou os ganhos que tinha no ano. O efeito de um evento dessa envergadura, e ainda em curso, é difícil de quantificar. Após as três tragédias japonesas, a economia continuará nos próximos dias fazendo as contas do estrago em perda de investimento, paralisação da produção e do comércio, aumento do grau de incerteza. Só uma certeza se tem nestes primeiros dias de angústia: o mundo pode contar com a extraordinária capacidade de superação do povo japonês. Como sempre, o sol se levantará no extremo oriente. 

GOSTOSA

KENNETH MAXWELL

Obama no Brasil
KENNETH MAXWELL


FOLHA DE SÃO PAULO - 17/03/11

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, manteve o Brasil na gaveta por tempo demais. Por isso, é bom que ele tenha, por fim, decidido visitar a América do Sul, feito de Brasília a sua primeira parada e exibido bom-senso ao visitar Dilma Rousseff, a presidente brasileira que tomou posse recentemente.
Será um encontro histórico.
Nem que seja pelo fato de ser o primeiro presidente negro dos Estados Unidos a se encontrar com a primeira presidente do Brasil.
Thomas Jefferson escreveu, em 1820, que seria "uma felicidade ver as frotas do Brasil e dos Estados Unidos navegando juntas como irmãs, parte da mesma família e em busca do mesmo objetivo". Combater o tráfico de escravos era o "mesmo objetivo" que Jefferson tinha em mente.
Na verdade, nem o Brasil nem os Estados Unidos se distinguiriam quanto a isso no século 19. E Obama, de qualquer modo, é produto do mundo pós-colonial, pelo lado paterno, e do Havaí, pelo materno.
A visita de Obama será uma operação imensa, do ponto de vista logístico. Nenhum presidente norte-americano pode viajar a qualquer parte sem um elenco de centenas de subordinados, assessores, carros blindados e seguranças variados.
Ele também trará sua mulher, Michelle, e as filhas do casal, Sasha e Malia. No Rio de Janeiro, Obama tem um grande discurso planejado para a Cinelândia. Também planeja visitar o Corcovado.
Ele não visitará Chapéu Mangueira, a favela sobre a praia do Leme na qual Marcel Camus filmou "Orfeu Negro", em 1959, baseado na peça "Orfeu da Conceição", de Vinicius de Moraes.
Sérgio Cabral, o governador do Rio de Janeiro, queria que Obama visitasse o local. O governador Cabral aparentemente não leu o que Obama escreveu sobre "Orfeu Negro" em sua autobiografia.
Obama recorda que assistiu ao filme com a mãe, por insistência dela. O presidente americano diz que se sentiu chocado pelo retrato condescendente dos afro-brasileiros. Seria desnecessário dizer que a mãe de Obama, Stanley Ann Dunham, ao contrário do filho, adorou o filme (como eu).
Em lugar disso, Obama visitará a favela Cidade de Deus -infame em 2002 devido à violência causada pelas drogas e apenas recentemente "pacificada"-, que serviu de locação ao filme homônimo de Fernando Meirelles. São todas locações boas, ou ao menos evocativas, decerto.
Determinar até que ponto a visita obterá sucesso quanto à difícil tarefa de mediar as questões mais amplas referentes à (relativa) ascensão do Brasil e ao (relativo) declínio dos Estados Unidos só será possível mais tarde.

MERVAL PEREIRA

A janela de Kassab
MERVAL PEREIRA

O GLOBO - 17/03/11 

Queira ou não o prefeito paulistano, Gilberto Kassab, seu movimento de criação de um novo partido acabou sendo entendido pelos políticos como a concretização de um sonho, a tal "janela" para permitir a mudança de legenda sem que o trânsfuga seja atingido pelas sanções da lei de fidelidade partidária.
No que parecia uma maneira de resolver uma questão paulista - a disputa de espaço para uma candidatura ao governo de São Paulo em 2014 -, o futuro Partido da Democracia Brasileira (PDB) acabou se transformando em um desaguadouro de insatisfações em diversos partidos pelo país: PV, PP, PTB, PR e assim por diante.
Muitos políticos que estão desconfortáveis em seus partidos viram nesse projeto a possibilidade de se organizar. O grande problema é de ordem prática: a indefinição sobre o tempo de propaganda gratuita em rádio e televisão na próxima eleição municipal está contendo o ímpeto inicial de adesões.
A eventual fusão a médio prazo com o Partido Socialista Brasileiro (PSB), que cresceu em 2010, tornou-se uma espécie de sonho de consumo dos que se preparavam para embarcar no projeto de Kassab.
O partido cresceu na sua representação legislativa tanto na Câmara, onde passou de 27 deputados federais para 34, quanto no Senado, onde elegeu três novos senadores.
Mas foi nos governos estaduais que o PSB aumentou mais seu cacife. Depois do PSDB, foi o partido que mais elegeu governadores, seis ao todo, sendo quatro no Nordeste: Ceará, Pernambuco (reeleitos), Paraíba e Piauí, além de Amapá e Espírito Santo, representando quase 15% do eleitorado.
O PSB não é um partido que tenha a cultura de confrontação, e as arrumações partidárias nos estados podem ser feitas sem grandes traumas.
Mas também não quer receber em suas fileiras qualquer um. O governador Eduardo Campos (PE) teve conversas francas com Kassab e com o governador catarinense, Raimundo Colombo, e colocou algumas barreiras de entrada.
O projeto específico de São Paulo pode ser a solução que o partido está procurando desde que tentou algumas opções como a ex-prefeita Luiza Erundina ou mesmo o projeto de Ciro Gomes ser candidato ao governo, que acabou fazendo água.
O fato de Kassab ser um político tradicional, sem ligações históricas com a linha política do PSB, não interferirá na possível união política, questão superada pelo fato de o prefeito ser um político de gestão modernizadora, com méritos na relação com o eleitorado, que reconheceu seu trabalho, e na limpeza da Câmara paulista.
O estranhamento que essa mudança provoca, com o PSB contando em suas fileiras com políticos como Gabriel Chalita, o próprio Kassab, o empresário Paulo Skaf, que foi candidato ao governo paulista, foi discutido abertamente pelo governador Eduardo Campos, provocado pelo próprio governador Colombo (SC), um dos "estranhos no ninho".
Para Eduardo Campos, a tradição do PSB sempre foi a de ter um núcleo que segura o eixo estratégico do seu pensamento, mas ser aberto o suficiente para abrigar parceiros dessa luta.
O PSB foi um partido que sempre defendeu frentes políticas, relembra o governador, que abrigou em determinados momentos pessoas "que não necessariamente eram socialistas, mas eram democratas, liberais, pessoas que abraçavam valores que nos são caros, como a democracia, a liberdade. Esse é um processo que vem de nossa tradição".
Ele admite que muitos se referem ao estatuto de 1947 para renegar essas filiações, mas diz que o estatuto "já não está posto para essa nossa realidade, o mundo mudou, as circunstâncias são outras, a discussão é outra, a forma de trabalho é outra".
Na definição de Campos, o PSB não é de confrontação, mas de acumular forças para melhorar a vida do povo. "Fazer isso se isolando, ficarem cinco intelectuais e meia dúzia de sindicalistas radicais querendo botar o mundo de cabeça para baixo, pode redundar num mandato de vereador, eventualmente numa bancada de deputados, mas, para a sociedade, no que vai resultar?", indaga.
Esse "falso radicalismo" impede avanços, e hoje as alianças têm que ser feitas por dentro dos partidos, por que as coligações tendem a acabar, explica Campos.
Para o governador de Pernambuco, se um partido "pretende expressar a sociedade plural que temos, tem que ter dentro de si essa diversidade".
Ser de esquerda no interior da Amazônia é a mesma coisa que ser de esquerda em Ipanema?, indaga Campos, para exemplificar a diversidade que o PSB quer espelhar.
Mas há limites: "Tem que ter princípios, não pode ser corrupto, patrimonialista. Quem tiver espírito público, que seja democrata, que tenha vinculação com os valores democráticos, será bem aceito", define.
Em 2014, ele garante que o PSB estará na base de sustentação da presidente Dilma, "ajudando a que faça um bom governo para que tenha condições de disputar a reeleição".
Ele diz que já conversou com Lula a respeito, e acha que é bom para o país, é bom para o presidente Lula, que Dilma dispute a reeleição.
Com relação ao futuro, as contradições com o velho PT nos estados podem chegar ao ponto do insuperável, porque o PT não está se renovando, não tem um governo-símbolo de um padrão inovador.
Essa maneira de fazer política, com o aparelhamento do Estado sem levar em conta a boa gestão pública, não resiste ao tempo, na opinião de Campos.
"O mundo real vai se sobrepor ao mundo dessa política partidária menor, e a dinâmica da própria sociedade vai exigir outro comportamento. Essa massa que está sendo incluída é uma faca de dois gumes para esse tipo de prática política", diz ele
Eduardo Campos diz que percebe que "a polaridade (PT-PSDB) que São Paulo exporta está se esgotando no estado e vai se esgotar no Brasil". Ele trabalha o futuro político com parcerias com jovens políticos de sua geração, especialmente o ex-governador de Minas e senador Aécio Neves. Se não estiverem juntos em 2014, em algum momento estarão.

FILME

FABIO GIAMBIAGI

A lógica do absurdo
FÁBIO GIAMBIAGI
O GLOBO - 17/03/11
"Eu quisera, nos meus antagonistas, ao menos lógica na ligação entre suas premissas e as suas conclusões" Rui Barbosa, em discurso no Senado, 3/11/1891

No mês passado, tivemos um debate intenso entre os críticos e os defensores da proposta oficial de fixar o salário mínimo em R$545. O "pacote" completo da política do Governo para essa variável inclui o aumento real do mínimo, de 2012 até 2015, em função do PIB defasado de dois anos, o que significa que ano que vem o referido valor, além de ser corrigido pela inflação, terá um incremento real de 7,5 %, devido ao dinamismo da economia em 2010.

Na ocasião, aqueles que se opunham a um aumento do mínimo para R$560 apresentaram uma série de argumentos em favor da posição que o governo manteve desde o início. Entre os argumentos utilizados, havia dois que se destacaram:

a) O de que a magnitude do aumento pretendido pela oposição e pelas centrais sindicais injetaria fortes pressões inflacionárias na economia e agravaria o déficit público, que, nunca é demais lembrar, deverá ser em 2011 (ano, a princípio, de ajuste) maior que em 2010; e

b) O de que a aprovação dos R$545 evitaria uma alta maior dos juros e abriria caminho para uma possível redução da taxa Selic, até o final do ano.

Deixemos de lado a posição das centrais sindicais, que têm problemas crônicos para fazer uma avaliação do tema olhando para suas diversas facetas, e deixemos de lado também a atitude da oposição, cujos zigue-zagues em torno da questão fiscal são flagrantes e não isentos de oportunismo. Vamos nos concentrar no discurso oficial, que é o único que conta, uma vez que as centrais sindicais mostraram que são muito menos fortes do que elas querem fazer crer, e dado que as oposições, como se viu no episódio, são irrelevantes no Congresso quando o governo se une.

Esclareço, antes de continuar, para que não haja margem para dúvidas, que fui totalmente favorável à posição do governo no que se refere à política a ser adotada para este ano. Entendo, apenas, que se perdeu uma excelente oportunidade - no começo do governo e com a legitimidade associada à votação recebida nas urnas - para travar uma discussão profunda acerca da questão. Perguntas como "o que o país pretende com a política do salário mínimo?", "até quando quem contribuiu 35 anos para a aposentadoria vai ganhar a mesma coisa que aquele que nunca contribuiu?" ou "até que ponto a relação entre o teto e o piso previdenciário vai continuar caindo?" passaram a léguas de distância do Congresso.

Pior ainda. Não apenas as questões efetivamente relevantes foram ignoradas no ambiente de Fla-Flu que cercou o tratamento da matéria, como para o governo o feitiço irá virar contra o feiticeiro ano que vem. Ou seja, o governo foi de uma competência política notável no episódio (deu um "show de bola" diante de uma oposição atordoada), mas a argumentação econômica foi de uma precariedade extrema.

Por quê? Não é difícil de explicar. Lembremos que o aumento real seria nulo este ano e, como já foi dito, de 7,5% ano que vem. Ora, como é possível que um aumento real de menos de 3% (R$560 versus 545) fosse inflacionário e causasse problemas fiscais dramáticos este ano e um aumento real da ordem de 8% não cause nenhum problema ano que vem? Na verdade, sem perceber, o Governo explicou por A mais B exatamente por que a regra que ele mesmo propôs para o futuro vai trazer problemas sérios em 2012, a saber:

i) Pressão sobre a inflação, depois de dois anos em que ela ficará muito acima da meta; e,

ii) Um aumento enorme do gasto público, isso depois de o déficit público ter sido maior em 2011 que em 2010.

Como é possível defender uma política para, em nome do controle do gasto, evitar um maior aumento dos juros e supostamente favorecer a redução deles depois do último trimestre do ano, quando essa mesma política vai aumentar muito mais o gasto em 2012, dificultando seriamente a tarefa do Banco Central de trazer a inflação finalmente para a meta ano que vem? A única lógica presente nisso tudo é a lógica do absurdo. O leitor pode ter certeza de uma coisa: as decisões de 2011 não ajudarão em nada a 2012.

FÁBIO GIAMBIAGI é economista.

JOSÉ SIMÃO

Ueba! Inveja da barriga da Shakira! 
JOSÉ SIMÃO


FOLHA DE SÃO PAULO - 17/03/11

BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Pensamento do dia: "Tsunami! Terremoto! Enchentes! Rebeliões! Só falta a minha sogra vir morar aqui em casa". Isso que é ameaça nuclear!
E o Eramos6 revela que fizeram teste de radiação no Sarney. E descobriram que ele possui várias rádios! Rarará!
E que a Hebe não é do tempo do iPhone, é do tempo do gramofone! A Hebe vai comprar um gramofone da Apple! Rarará!
Aliás, vocês viram a entrevista da Dilma pra Hebe? A Dilma disse que, quando criança, queria ser bailarina e depois bombeira. Bombeira até combina. Mas bailarina? Já imaginou a Dilma dançando a morte do Cisne? "Morre, cisne, eu tô mandando; morre! Pede pra sair! Tá atrasado pro trabalho!". Rarará! Não é "Cisne Negro", é "Cisne Bravo!".
E eu já tô com o meu ingresso pro show da Shakira. Oba! Que venga la Loca! Waka waka na Shakira. E a barriguinha de fora? Eu não tenho inveja da voz, nem da fama e nem do dinheiro da Shakira. Eu tenho inveja da barriga da Shakira. Não precisa encolher a barriga na hora de transar. Barriguinha-ódio: você vê e fica com ódio! Rarará!
E a Shakira parece um liquidificador batendo vitamina de banana. Ela rebola mais que minhoca em anzol. Eu vi um documentário sobre a Shakira em que ela requebra tanto que desce do palco no colo do pai, que lhe aplica ali mesmo uma injeção de analgésico. Pico de Dorflex!
Dilma prometeu um governo pelo social. O social ela tá cumprindo: fez omelete na Ana Maria Braga, entrevista pra Hebe e recebeu Shakira e Obama. Agenda lotada!
E adorei a charge do San Salvador com a dona Marisa falando pro Lula: "A Dilma só vai convidar três ministros pro jantar com o Obama". E o Lula: "Não faz mal, a gente pede uma pizza!". Rarará!
O Brasileiro é Cordial! Olha o cartaz que um cordial botou na garagem do prédio: "Se eu pego o picareta que ralou o para-lama do meu carro na garagem, faço o safado engolir uma lata de massa plástica e usar como papel higiênico um ralador de queijo".
E aquele que escreveu na porta do banheiro de um bar na Bahia: "Faixa de Gases". Rarará! A situação está psicodélica!
Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno! 

GOSTOSA

MÔNICA BERGAMO

LÁ DO ALTO
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SÃO PAULO - 17/03/11

Sergio Marone subiu no telhado de sua casa na Gávea, no Rio, para uma sessão de fotos. O ator volta às novelas na segunda, em "Morde & Assopra", nova trama das sete da Globo. Na história, ele interpreta Marcos, o dono de uma cafeteria badalada. E Marone fará dobradinha de horário com a namorada, Débora Bloch, que estará na próxima novela das seis, "Cordel Encantado".

AS MAIORES DO MUNDO

O desejo da presidente Dilma Rousseff é que a declaração conjunta que ela e o presidente Barack Obama divulgarão no sábado enfatize que Brasil e EUA são as duas "maiores democracias do mundo", comandadas por uma mulher e um negro, num contraponto a outras nações populosas, mas sob regimes fechados. E que essa convergência política precisa também ser convertida em econômica. "Será uma bela estocada na China", afirma um dos interlocutores mais próximos de Dilma. A minuta estava sendo finalizada para ser apresentada aos americanos.

CÚPULA
O ex-presidente do Banco Central e futuro presidente da Autoridade Pública Olímpica, Henrique Meirelles, foi convidado para um encontro com Obama no Rio.

TUDO PARADO

O espaço aéreo de Brasília será fechado durante parte do sábado para garantir a segurança de Obama em sua visita à cidade. Quando o avião dele pousar e decolar novamente, terá prioridade absoluta sobre todos os demais.

MARTELO

O ministro Guido Mantega, da Fazenda, convocou os presidentes da AmBev, da Schincariol, da Coca-Cola e da Red Bull, entre outras, para uma reunião hoje em seu gabinete. Vai comunicar a decisão final do governo em relação ao aumento de impostos para o setor de bebidas -que deve resultar também em aumento de preço para o consumidor.

PLANÍCIE 1
O ex-presidente Lula despachou ontem pela primeira vez na antiga sede do Instituto Cidadania, no Ipiranga. Encomendou uma quentinha para o almoço.

PLANÍCIE 2
O ex-governador José Serra (PSDB-SP), derrotado na eleição de 2010, ligou na noite de anteontem para José Agripino Maia (RN), após o fim da convenção que oficializou o senador na presidência do DEM. Disse que, quando fosse a Brasília, o procuraria para um café.

PRÉ-ESTREIA
Depois de virar o assunto mais comentado no Twitter ontem, o blog de poesia de Maria Bethânia, que obteve autorização do MinC para captar R$ 1,3 milhão para entrar no ar, ganhou versão pirata. "Um milhão de motivos para você acessar", diz o slogan da página, que tem selo de "patrocínio" do ministério, a foto da ministra "Ana Buarque" como apoiadora, notas de dinheiro como papel de parede e um vídeo em que o humorista Renato Aragão imita a cantora.

AO VENTO
Começar a construção do estádio do Corinthians no começo de abril, como gostaria o presidente do clube, Andres Sanchez, será "jogar dinheiro fora", nas palavras de um técnico que participa da discussão do calendário. Com as chuvas, é impossível fazer a terraplanagem de forma eficiente. O volume de terra a ser retirado é significativo: 200 mil m3, substituídos por 400 mil m3 de terras apropriadas ao projeto.

MESMO DIA
Até segunda ordem, portanto, o início da construção está mantido para o fim de abril ou até começo de maio.

DE PERTO
O príncipe Albert, de Mônaco, confirmou presença na abertura da exposição com roupas, joias e correspondências pessoais de Grace Kelly, na Faap, em maio. Ficará no Maksoud Plaza.

CARAVANA
A mexicana Julieta Venegas e o trio pop Camila fecharam participação no Telefônica Sonidos - Festival Mundo Latino, em agosto, no Jockey Club de SP.

PALCO ESTRELADO
A atriz Maria Alice Vergueiro foi homenageada, anteontem, na entrega do 23º Prêmio Shell de Teatro de São Paulo. Beth Goulart apresentou a premiação, no Espaço Araguari. Na plateia estavam os atores Fulvio Stefanini e Antônio Petrin, entre outros.

FOTOS MARCADAS
A fotógrafa Claudia Andujar abriu a exposição "Marcados Para", anteontem, no Centro da Cultura Judaica, com curadoria de Eduardo Brandão. Yael Steiner, diretora-executiva do centro, estava lá.

CURTO-CIRCUITO

A festa Gambiarra completa três anos amanhã, na The Week, com shows de Jair Rodrigues e Andreas Kisser, entre outros. 18 anos.

Wimmer Botura, psiquiatra e compositor, lança hoje, às 21h30, o CD "Viagem Fora do Tempo", no bar Meirinha, na Vila Madalena. Classificação etária: 18 anos.

A Referência Galeria de Arte, em Brasília, abre hoje a exposição "2 x Minas x 2".

Chiara Banfi inaugura hoje mostra individual na galeria Silvia Cintra + Box4, no Rio.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY

VINICIUS TORRES FREIRE

Reatores e reagentes econômicos 
VINICIUS TORRES FREIRE


FOLHA DE SÃO PAULO - 17/03/11

O IENE, a moeda japonesa, não estava tão valorizado em relação ao dólar fazia décadas. O terremoto que afundou o Japão em crise deu um piparote adicional na moeda deles. O pulo do iene pode afetar também as moedas de emergentes mais fortes, sacudidos e com taxas de juros interessantes -como o Brasil.
O iene se valoriza porque, em tese ou de fato (ainda não se sabe bem), deve haver repatriação em massa de capitais japoneses. Instituições financeiras (bancos, seguradoras etc.) e empresas podem precisar de mais caixa ou de capital para emprestar ou cobrir prejuízos.
Ou seja: 1) japoneses ou residentes no Japão vendem ativos denominados em moedas estrangeiras e compram ativos em ienes, ou simplesmente põem o dinheiro no caixa; 2) multinacionais japonesas remetem mais lucros ou pagam empréstimos para as matrizes no Japão. A procura maior pela moeda japonesa eleva seu preço blá-blá-blá.
O grosso desse dinheiro deve vir de onde há dinheiro grosso, os Estados Unidos, por exemplo. Mas muito investidor e poupador comum japonês coloca seu dinheiro em moedas e ativos de países emergentes, como já se disse, como Brasil, Austrália, Nova Zelândia, África do Sul, onde os juros são muito altos (nós) ou relativamente altos (os demais).
Um relatório dos estrategistas de aplicações em moedas do HSBC (global) apresentou ontem um estudo a respeito dessa repatriação.
Eles mesmos pedem cuidado com as estimativas, baseadas nos melhores dados disponíveis, mas ainda assim longe de perfeitos. Para esse pessoal do HSBC, as moedas que mais sentiriam os efeitos da repatriação (desvalorização) seriam, pela ordem, as de Brasil, Austrália, Indonésia e África do Sul.
Esse pode ser um "canal de contaminação da crise". Por isso, o governo brasileiro deu um tempo na discussão de medidas de contenção do influxo de capital externo. Tal fluxo pode parar sozinho.
Sim, há mais risco de contágio. Um desastre japonês pode causar uma aversão a risco global, congelando fluxos de dinheiro e encarecendo empréstimos internacionais, que chovem torrencialmente no Brasil.
O comércio entre Brasil e Japão é relativamente pequeno, uns 3,5% do total brasileiro. Efeito direto, por aí, haverá pouco. Pode haver queda no preço das commodities e recursos naturais que o Brasil exporta (minérios, grãos, carne)? Num primeiro momento, sim, talvez com a crise de confiança nos mercados, com a retirada temporária de especuladores da praça e com uma desaceleração a princípio breve na produção mundial (um trimestre).
Mas, afora um choque depressivo de confiança no Japão, virá a reconstrução e, como acredita gente como Paul Krugman, até uma retomada econômica japonesa mais forte. Reconstrução demanda materiais (minérios, metais, combustível). O consumo de comida é menos "elástico" -deve cair pouco, se cair.
É preciso ressaltar que pouco se sabe a respeito do desastre no Japão -se haverá desastre além do horror humano. Quanto ao mais visível e palpável, não parece haver motivo para pânico. Por ora. O mundo está muito cheio de problemas (dívidas públicas, bancos ainda podres, economias lerdas, inflações nos emergentes, crise árabe etc.). Enfim, nunca se sabe onde há um reator nuclear financeiro prestes a se fundir.