sexta-feira, setembro 30, 2011

CLÓVIS ROSSI - No hay gobierno? Soy a favor


No hay gobierno? Soy a favor
CLÓVIS ROSSI
FOLHA DE SP - 30/09/11

A Bélgica que a presidente Dilma Rousseff visita a partir de segunda-feira está completando 475 dias sem governo, todo um recorde mundial.

Sem governo é maneira de dizer: seus políticos não conseguiram se entender para formar um gabinete efetivo, depois das eleições de junho do ano passado. Em sendo assim, governo há, mas se trata de uma administração em funções apenas com poder de fogo limitado ao mínimo.

Não obstante, a Bélgica cresceu, no segundo trimestre do ano, mais que a formidável locomotiva chamada Alemanha. Para o conjunto do ano, a previsão é de crescimento de 2%, índice que se poderia chamar de chinês se se levar em conta a anemia econômica da Europa.

As más línguas (ou as boas, você decide) dizem até que o crescimento não é APESAR da ausência tão prolongada de um governo efetivo mas justamente POR CAUSA dela. Explico: como não há um governo com força suficiente para decretar um ajuste fiscal, ação que se tornou obsessiva nos parceiros europeus da Bélgica, não há, em consequência, esse freio à atividade econômica.

Pode ser, pode não ser. Mas, à primeira vista, o país não parece sentir a falta de governo. É verdade que houve, tempos atrás, manifestações públicas cobrando a formação de um gabinete efetivo. Há poucos dias, os oito principais partidos até chegaram a dois acordos em torno de temas que dividiam o mundo político entre os flamengos (holandeses) do Norte, mais ricos, e os valões fracófonos e mais pobres do Sul.

Mais pobres em termos belgo-europeus. Se os pobres brasileiros fossem pobres como os pobres belgas, que beleza, como diria Milton Leite, esse excelente locutor da Sportv.

Não vou entrar em detalhes sobre a divergência, mais antiga que a própria Bélgica e mais chata do que dizem ser o próprio país. Não concordo, diga-se. Um país que tem o volume de informações disponíveis em Bruxelas não consegue ser chato nem que se esforce, mas admito que essa é uma visão pessoal, de alguém absolutamente viciado em informação.

Além disso, com ou sem governo, a Grand Place continua a ser a mais bela praça do mundo, para o meu gosto. Nesta sexta-feira, estava até enfeitada por um mini-piquenique de alunos de primário exibindo o caráter multicultural do país, um negrinho de mãos dadas como uma loirinha, um indiano ao lado de uma branquinha. Não que a xenofobia que está abrindo caminho no mundo esteja ausente da Bélgica, mas o estrago, até agora, é limitado.

Como um país consegue funcionar sem governo? Simples: a administração é tocada por uma burocracia profissional, pouco afetada pelas trocas da superestrutura política. Muda uma camada fina na cúpula, o resto toca a vida, qualquer que seja o partido ou coligação que governe. Agora, por exemplo, discute-se a formação de um governo de unidade nacional formado pelos oito partidos que negociaram o acordo básica que emperrava as discussões.

Enquanto não sai o novo governo, o jornal "Le Soir", o mais importante do lado francófono, divertia-se discutindo o transcendental assunto da falta de um estacionamento para bicicletas no Parlamento. Emocionante, não?

ALON FEUERWERKER - Sempre há esperança

Sempre há esperança
ALON FEUERWERKER
CORREIO BRAZILIENSE - 30/09/11


Já que o governo Dilma parece tentado a romper com a herança maldita da submissão incondicional aos beneficiados pela ciranda financeira, não custa reacender, mais uma vez, a esperança de que possa ir além

Está certíssimo o Banco Central quando recusa ouvir os conselhos para manter os juros lá em cima num quadro internacional de desaceleração e que, segundo a autoridade monetária, deve caminhar para deflação.
E parabéns à presidente Dilma Rousseff por dar sustentação política ao BC nessa caminhada, contra as pressões por um aperto monetário nonsense, em cenário de grande ameaça ao crescimento econômico.
O Banco Central está fazendo agora o que deveria ter feito na passagem de 2008 para 2009.
Aproveitar a onda descendente e reduzir os juros. Para abrir espaço ao investimento e ao consumo privados. E para permitir que o governo faça política fiscal de maneira mais saudável. Gastando menos com juros.
Não tem lá grande efeito prático falar do passado, mas é bom que o BC ajude a colocar um ponto final naquela polêmica de três anos atrás. E este colunista fica em situação confortável, por ter defendido então o que o BC faz agora.
Sem, entretanto, tirar o mérito de quem exigia uma coisa três anos atrás e exige outra hoje, radicalmente oposta. Pois ninguém é dono da verdade. E a flexibilidade para mudar " para melhor " é qualidade, não defeito.
Ainda que o quadro hoje seja muitíssimo menos propício do que era depois da quebra de 2008, quando a demanda caiu a zero e os governos reagiram com uma inundação de liquidez.
Ao que o então BC reagiu, por sua vez, advertindo sobre a ameaça de inflação importada por causa da momentânea desvalorização do real.
Mas agir é sempre preferível a resmungar e o governo brasileiro desta vez está agindo.
O governo Dilma faz uma aposta corajosa.
Se lá na frente a inflação resistir, os de sempre vão colocar a culpa nos motivos de sempre. Vão exigir juros e mais juros.
Vão convenientemente esquecer da inflação dos preços administrados.
Vão esquecer, por exemplo, da indexação absurda nos contratos das concessionárias de serviços públicos, uma herança da privatização que até hoje ninguém teve peito para corrigir.
O PT está há uma década no poder, já ganhou três eleições falando mal da privatização. Mas mexer no vespeiro que é bom, nada.
Já que o governo Dilma parece tentado a romper com a herança maldita da submissão incondicional aos beneficiados pela ciranda financeira, não custa reacender a esperança de que possa ir além.
De que tome coragem para atacar as injustas e injustificadas relações de desigualdade entre os bancos e seus clientes. Injustiça que se traduz numa palavrinha inglesa: spread.
A diferença entre o que o banco paga de juros a quem poupa e o que cobra de quem lhe pede dinheiro emprestado.
Uma diferença que o Brasil calcula multiplicando por dez. O banco chega a cobrar pelo empréstimo dez vezes o que paga ao poupador. Se não for mais.
Isso sem contar as gordas tarifas.
Daí que nossos governantes possam passear pelo mundo cantarolando a saúde do sistema bancário brasileiro, quando na verdade somos todos vítimas de uma doença: a falta de crédito barato e de longo prazo para o cidadão comum.
O brasileiro que não tem amigos no governo e não tem acesso às diversas modalidades de juro subsidiado, especialmente no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social.
Essa massa de gente paga duplamente o pato. Paga no spread abusivo cobrado pelos bancos. E paga nos impostos que o governo repassa ao BNDES para rodar a máquina.

Risco
Diante do sucesso aparente do PSD, os demais ensaiam contra-atacar com a aprovação de uma janela de infidelidade ampla, geral e irrestrita. Para evitar que os insatisfeitos migrem só para o partido do prefeito Gilberto Kassab.
Como desejo é legítimo, mas corre forte risco de cair no Supremo Tribunal Federal.
Onde há a dúvida sobre a legalidade de o Congresso suspender a vigência de norma constitucional, como a que deu base à decisão de 2007 sobre a relação entre os partidos e os mandatos.

ANCELMO GOIS - Dilma escapou ilesa



Dilma escapou ilesa
ANCELMO GOIS
O GLOBO - 30/09/11


A ação do Itamaraty livrou Dilma de uma saia justa na sua visita, quarta, a Bruxelas. 
Estava prevista uma manifestação no Parlamento Europeu dos familiares das vítimas do italiano Cesare Battisti, cujo pedido de extradição pela Itália foi negado pelo Brasil.

SEGUE... 
O Brasil conseguiu cancelar a manifestação prometendo a formação de uma comissão ítalo-brasileira para discutir o caso.
Com o acordo, os italianos desconvidaram o senador tucano Álvaro Dias, que viajaria de classe executiva para a Bélgica, paga pela Itália, só para participar do ato.

ROCK NA UPP 
Shakira, a cantora colombiana que veio para o Rock In Rio, Xuxa e a ministra Maria do Rosário vão hoje à Cidade de Deus.
Vão fechar uma parceria para a promoção da educação e dos direitos de crianças e adolescentes na América Latina. 

LOS PANCHOS 
A TAM sorteou dois ingressos do Rock In Rio no voo JJ 3031, Brasília-Rio, quarta.
Quem faturou foi a ex-baterista da banda Los Panchos... deputada federal Jandira Feghali.

NO MAIS 
A coluna é do samba e não morre de amores pelo axé, mas apoia 100% Cláudia Leitte que respondeu assim as críticas por ter participado do Rock in Rio:
– Não gostar de axé é normal! Anormal é se achar superior porque conhece John Coltrane ou adora o Metallica.

A VOLTA DE DUNGA 
Dunga, o técnico da seleção na Copa de 2010, dará palestra, quarta que vem, no Instituto Bola pra Frente, ONG dos também tetracampeões Jorginho – seu auxiliar no comando do time que fracassou na África do Sul – e Bebeto.
O tema é “A Copa do Mundo em todas as suas dimensões”.

POXA, SUPLICY! 
Não se faz mais senador Eduardo Suplicy como antigamente. O petista, ele mesmo, furou a maior filona, anteontem, no lançamento do livro Tempos de Planície, de José Dirceu, em Brasília. 
Ele chegou por volta das 11h30, passou na frente de todo mundo que estava há mais de uma hora esperando.

CONTA CORRENTE 
O Itaú inaugurou ontem sua primeira agência no Complexo do Alemão, no Rio.

ROGAI POR NÓS 
Gastão Veira foi procurado esses dias pela turma da CNTur e da ABIH-RJ. Querem que o novo chefão do Turismo peça ao colega Carlos Lupi, do Trabalho, que flexibilize o modelo de contratação de temporários. Temem que as normas atuais, que acham rígidas, prejudiquem os próximos grandes eventos no País.

BRASIL NA FRENTE 
Os executivos brasileiros, acreditem, já ganham mais que os colegas norte-americanos. A informação está na matéria de capa da revista Você S/A, dia 6 nas bancas. Mostra que um diretor em São Paulo ganha em média R$ 31.580, contra R$ 27.688 de um em Nova York. 

FALTA DE HUMOR 
Sei não. Mas acho que, com toda a admiração à luta das mulheres por respeito e igualdade – eu apoio, eu apoio –, às vezes falta um pouco de humor em questões como a do anúncio estrelado por Gisele Bündchen. Calma, gente! 

MARIA CRISTINA FERNANDES - A loba que come lobo



A loba que come lobo
MARIA CRISTINA FERNANDES
VALOR ECONÔMICO - 30/09/11

Sabatinada para o Superior Tribunal de Justiça, na condição de primeira mulher a ascender à cúpula da magistratura, a então desembargadora da justiça baiana, Eliana Calmon, foi indagada se teria padrinhos políticos. "Se não tivesse não estaria aqui". Quiseram saber quem eram seus padrinhos. A futura ministra do STJ respondeu na lata: "Edison Lobão, Jader Barbalho e Antonio Carlos Magalhães".

Corria o ano de 1999. Os senadores eram os pilares da aliança que havia reeleito o governo Fernando Henrique Cardoso. A futura ministra contou ao repórter Rodrigo Haidar as reações: "Meu irmão disse que pulou da cadeira e nem teve coragem de assistir ao restante da sabatina. Houve quem dissesse que passei um atestado de imbecilidade".

Estava ali a sina da ministra que, doze anos depois, enfrentaria o corporativismo da magistratura. "Naquele momento, declarei totalmente minha independência. Eles não poderiam me pedir nada porque eu não poderia atuar em nenhum processo nos quais eles estivessem. Então, paguei a dívida e assumi o cargo sem pecado original."

Eliana Calmon nunca escondeu seus padrinhos

De lá pra cá, Eliana Calmon tem sido de uma franqueza desconcertante sobre os males do Brasil. Muita toga, pouca justiça são.

Num tempo em que muito se fala da judicialização da política, Eliana não perde tempo em discutir a politização do judiciário. É claro que a justiça é política. A questão, levantada pela ministra em seu discurso de posse no CNJ, é saber se está a serviço da cidadania.

A "rebelde que fala", como se denominou numa entrevista, chegou à conclusão de que a melhor maneira de evitar o loteamento de sua toga seria colocando a boca no trombone.

Aos 65 anos, 32 de magistratura, Eliana Calmon já falou sobre quase tudo.

- Filhos de ministros que advogam nos tribunais superiores: "Dizem que têm trânsito na Corte e exibem isso a seus clientes. Não há lei que resolva isso. É falta de caráter" (Veja, 28/09/2010).

- Corrupção na magistratura: "Começa embaixo. Não é incomum um desembargador corrupto usar um juiz de primeira instância como escudo para suas ações. Ele telefona para o juiz e lhe pede uma liminar, um habeas-corpus ou uma sentença. Os que se sujeitam são candidatos naturais a futuras promoções". (Idem)

- Morosidade: "Um órgão esfacelado do ponto de vista administrativo, de funcionalidade e eficiência é campo fértil à corrupção. Começa-se a vender facilidades em função das dificuldades. E quem não tem um amigo para fazer um bilhetinho para um juiz?" (O Estado de S. Paulo, 30/09/2010).

Era, portanto, previsível que não enfrentasse calada a reação do Supremo Tribunal Federal à sua dedicação em tempo integral a desencavar o rabo preso da magistratura.

Primeiro mostrou que não devia satisfações aos padrinhos. Recrutou no primeiro escalão da política maranhense alguns dos 40 indiciados da Operação Navalha; determinou o afastamento de um desembargador paraense; e fechou um instituto que, por mais de 20 anos, administrou as finanças da justiça baiana.

No embate mais recente, a ministra foi acusada pelo presidente da Corte, Cezar Peluso, de desacreditar a justiça por ter dito à Associação Paulista de Jornais que havia bandidos escondidos atrás da toga. Na réplica, Eliana Calmon disse que, na verdade, tentava proteger a instituição de uma minoria de bandidos.

Ao postergar o julgamento da ação dos magistrados contra o CNJ, o Supremo pareceu ter-se dado conta de que a ministra, por mais encurralada que esteja por seus pares, não é minoritária na opinião pública.

A última edição da pesquisa nacional que a Fundação Getúlio Vargas divulga periodicamente sobre a confiança na Justiça tira a ministra do isolamento a que Peluso tentou confiná-la com a nota, assinada por 12 dos 15 integrantes do CNJ, que condenou suas declarações.

Na lista das instituições em que a população diz, espontaneamente, mais confiar, o Judiciário está em penúltimo lugar (ver tabela abaixo). Entre aqueles que já usaram a Justiça a confiança é ainda menor.

A mesma pesquisa indica que os entrevistados duvidam da honestidade do Judiciário (64%), o consideram parcial (59%) e incompetente (53%).

O que mais surpreende no índice de confiança da FGV é que o Judiciário tenha ficado abaixo do Congresso, cujo descrédito tem tido a decisiva participação da Corte Suprema - tanto por assumir a função de legislar temas em que julga haver omissão parlamentar, quanto no julgamento de ações de condenação moral do Congresso, como a Lei da Ficha Limpa.

A base governista está tão desconectada do que importa que foi preciso um senador de partido de fogo morto, Demóstenes Torres (DEM-TO), para propor uma Emenda Constitucional que regulamenta os poderes do CNJ e o coloca a salvo do corporativismo dos togados de plantão. "Só deputado e senador têm que ter ficha limpa?", indagou o senador.

Ao contrário do Judiciário, os ficha suja do Congresso precisam renovar seus salvo-conduto junto ao eleitorado a cada quatro anos.

O embate Peluso-Calmon reedita no Judiciário o embate que tem marcado a modernização das instituições. Peluso tenta proteger as corregedorias regionais do poder do CNJ.

Nem sempre o que é federal é mais moderno. O voto, universal e em todas as instâncias, está aí para contrabalancear. Mas no Judiciário, o contrapeso é o corporativismo. E em nada ajuda ao equilíbrio. Em seis anos de existência, o CNJ já puniu 49 magistrados. A gestão Eliana Calmon acelerou os processos. Vinte casos aguardam julgamento este mês.

Aliomar Baleeiro, jurista baiano que a ministra gosta de citar, dizia que a Justiça não tem jeito porque "lobo não come lobo". A loba que apareceu no pedaço viu que dificilmente daria conta da matilha sozinha, aí decidiu uivar alto.

RUY CASTRO - Álbum de figurinhas



Álbum de figurinhas
RUY CASTRO
FOLHA DE SP - 30/09/11 

RIO DE JANEIRO - Meu neto João Ruy, que é português e mora em Lisboa, fez seis anos outro dia e recebeu do Brasil seu presente favorito: um álbum de figurinhas -no caso, o do Campeonato Brasileiro- e centenas de pacotinhos com as respectivas. É um brinquedo solitário, porque ele não tem com quem trocar duplicatas ou disputar no bafo-bafo. E, claro, só consegue identificar os jogadores do Flamengo, por quem torce ardentemente quando vem ao Rio, ou algum outro que atue pela seleção.
Mas João Ruy não se importa, e passa dias colando cromos de clubes e jogadores para ele desconhecidos. O prazer de completar uma página supera o fato de que muitos daqueles times e indivíduos continuarão a ser rostos e camisas no vazio, e que ele nunca os verá jogar.
Diante da informação de que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) concedeu registro ao PSD (Partido Social Democrático), fundado pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, e que este é o 28º partido na fosca constelação política brasileira, coloquei-me no lugar de João Ruy. Imaginei como seria um álbum de figurinhas sobre os partidos.
Cada página dupla seria dedicada a um deles. Traria informações como data de fundação, número de filiados, colocação nas últimas eleições, e mostraria suas cores, mascote, seus 20 principais nomes, o recordista em mandatos etc. -cada qual numa figurinha, como no álbum do Brasileirão.
A exemplo de João Ruy, eu e milhões de brasileiros colaríamos figurinhas de gente que, em grande maioria, nunca vimos e, no caso, é melhor mesmo não ver. Um bando de ninguéns sem representatividade, homiziados em partidos de cujas siglas só se ouve falar quando discutem com o governo ou com a oposição sobre quem dá mais pelos seus miseráveis votos.

VEGETARIANO ASSASSINO

VEGETARIANO ASSASSINO


'Tuiteiros' são mais felizes de manhã


'Tuiteiros' são mais felizes de manhã
O Estado de S.Paulo - 30/09/11

Microblog é alvo de estudo do comportamento

O Twitter confirma: as pessoas tendem a acordar de bom humor e são mais felizes nos fins de semana.

Além do blá-blá-blá das celebridades e das ruminações a respeito do que se comeu no café da manhã, a rede social oferece aos cientistas a chance de observar, em tempo real, o comportamento e o pensamento - presumivelmente sem muitos filtros - das pessoas.

Foi o que fizeram pesquisadores da Universidade Cornell, nos Estados Unidos. Com base na análise do conteúdo - feita por um programa de computador que buscou palavras expressando bom e mau humor, apenas no idioma inglês - do microblog de 2,4 milhões de pessoas em 84 países, recolhido durante dois anos, os cientistas encontraram padrões interessantes, descritos em artigo na revista Science.

As conclusões são as seguintes: a menos que você seja notívago, os ápices da positividade se localizam no início da manhã e em torno de meia-noite, com trajetória descendente no meio da manhã e ascendente durante o início da noite. Durante o fim de semana, a positividade aumenta, com o pico matinal ocorrendo duas horas mais tarde.

Você pode pensar que ir para o trabalho, enfrentando problemas como o trânsito congestionado, explicam esse padrão. Nem tanto. O estresse relativo ao trabalho pode ter alguma influência, mas não explica por que a curva descendente matinal ocorre também no sábado e no domingo - ou na sexta e no sábado, nos países muçulmanos.

Scott Golder, estudante da universidade que liderou a pesquisa sob a orientação do sociólogo Michael Macy, afirma que esse padrão provavelmente é causado pelo nosso relógio biológico de 24 horas, o ritmo circadiano que nos diz quando devemos dormir e acordar.

Pesquisas anteriores ligaram o relógio biológico ao humor, mas foram feitas com bases de dados menores. Mas fazer pesquisa com base no Twitter também pode gerar distorções, já que os usuários do serviço costumam ser mais jovens que a população em geral e com maior nível de escolaridade.

Segundo Macy, a relevância principal de seu estudo é chamar a atenção para o potencial científico das redes sociais. A mesma ferramenta já foi estudada por pesquisadores interessados nos efeitos da campanha política feita na internet. Dados de buscas do Google também foram usados para prever surtos de gripe, com base na descrição de sintomas. "É uma nova forma de fazer ciência social e comportamental, algo inimaginável há cinco anos", diz. / AFP

FERNANDO DE BARROS E SILVA - Abaixo o sutiã


Abaixo o sutiã
FERNANDO DE BARROS E SILVA
FOLHA DE SP - 30/09/11 

SÃO PAULO - "Amor, eu estourei o limite do cartão de crédito. Do seu e do meu." Vestida e afetando culpa no tom de voz, Gisele Bündchen dá a má notícia ao marido imaginário. Essa é a maneira errada de abordar o assunto. A maneira certa, explica a propaganda de lingerie estrelada pela modelo, é de calcinha e sutiã, requebrando com a mãozinha na cintura e a fala sensual.
Se a propaganda está no ar, é porque deve ter alguma eficácia. Mas não é preciso muito para perceber que estamos diante de mais uma fashion-cafajestada, entre tantas outras do mercado da publicidade, basta ligar a TV para constatá-lo.
Pior, no entanto, do que o apelo ao machismo mais vulgar é a disposição do governo para combatê-lo recorrendo à censura. A Secretaria de Políticas para as Mulheres acionou o Conar, o Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária, para tirar a peça do ar. É uma medida obscurantista, além de desencadear o efeito contrário ao pretendido por essas feministas de tesoura.
A propaganda, diz a secretaria, reforça "o estereótipo equivocado da mulher como objeto sexual de seu marido e ignora os grandes avanços alcançados para desconstruir práticas e pensamentos sexistas". Sim, estamos de acordo -mas e daí?
Em nome de que a propaganda deve estar necessariamente em sintonia com valores progressistas ou submetida à visão igualitária da relação entre o homem e a mulher?
Como conciliar a defesa da emancipação e dos direitos da mulher com a opção regressiva e autoritária pela censura? O que, afinal, é mais nocivo e perigoso para quem aspira viver numa sociedade com menos discriminação e mais esclarecida: a moral da história do anúncio ou a iniciativa do governo para bani-lo da tela?
Com sua cruzada, a ministra Iriny Lopes folcloriza as atribuições de uma pasta que tem assuntos reais para enfrentar. Só falta lançar uma campanha de esclarecimento público: Gisele Bündchen faz mal à saúde.

EDITORIAL O ESTADÃO - O jogo perigoso do BC



O jogo perigoso do BC
EDITORIAL 
O ESTADÃO - 30/09/2011
Os brasileiros terão de aguentar a inflação acima da meta por mais dois anos, segundo a hipótese mais otimista do Banco Central (BC). Se der tudo certo, o índice oficial baterá no centro do alvo no terceiro trimestre de 2013, com aumento de preços de 4,5% em 12 meses. Nos cenários menos favoráveis, a presidente Dilma Rousseff completará seu terceiro ano de mandato com o custo de vida ainda subindo mais do que o prometido pelas autoridades. São essas, pelo menos, as perspectivas apontadas no relatório trimestral de inflação divulgado nessa quinta-feira.

Apesar disso, o tom do relatório é otimista com relação aos preços. O ciclo de inflação elevada de 12 meses deve ter acabado neste trimestre, segundo o documento, e agora o indicador deve avançar na direção da meta. Levará quanto tempo para chegar lá? Se alguém perguntar se o governo ainda leva a sério o regime de metas, a questão será pertinente.

O presidente do BC, Alexandre Tombini, insiste em reafirmar o compromisso com esse regime. Além disso, ele usou um tom ainda mais otimista que o do relatório. "Trabalhamos com a inflação no centro da meta em 2012", disse Tombini, ontem cedo, numa palestra para executivos financeiros em Curitiba. Horas antes, no Rio de Janeiro, a Fundação Getúlio Vargas havia publicado o Índice Geral de Preços de Mercado (IGP-M) de setembro, com fortes sinais de repique inflacionário. A variação geral passou de 0,44% em agosto para 0,65% em setembro. O índice de preços ao consumidor, um de seus três grandes componentes, aumentou 0,59%, bem mais do que no mês anterior, quando havia subido 0,12%. O IGP-M é apenas um entre muitos indicadores, mas é sempre prudente levá-lo em conta.

Prudência em relação aos preços parece artigo escasso no BC, ultimamente. O Relatório de Inflação aponta a possibilidade de novos cortes de juros, nos próximos meses, e reafirma a argumentação usada para justificar a mudança.

A alegação mais convincente refere-se ao agravamento da situação internacional. Esse fator, segundo o pessoal do BC, deve eliminar as pressões inflacionárias. Mas esse detalhe continua sujeito à verificação, por causa da demanda chinesa, ainda vigorosa, e das condições incertas de suprimento internacional de produtos agrícolas.

O relatório reafirma também as avaliações sobre a situação interna. Para o BC, a economia perde impulso tanto do lado da oferta - especialmente da produção industrial - quanto da demanda. Um dia antes de sair o Relatório de Inflação, porém, o próprio BC divulgou nota mensal sobre a política monetária, confirmando uma nova expansão das operações de crédito em agosto. Além disso, ontem mesmo a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo revelou uma nova elevação do índice de atividade em agosto, com melhor resultado para o mês desde 2005. Apesar disso, o crescimento acumulado será bem menor que o do ano passado, mas a avaliação do BC é insegura em relação à oferta e ainda mais discutível em relação à demanda de consumo. Este último ponto é reconhecido até no relatório, onde os salários e o crédito são mencionados como fatores de risco.

Enfim, o BC repete a profissão de fé no cumprimento estrito de uma política de consolidação fiscal em 2012, sem redução da meta fiscal fixada pelo Executivo. Nem o projeto de orçamento autoriza essa aposta, nem a perspectiva de um ano de eleições combina com a hipótese de rigorosa disciplina fiscal. Há razões fortes para desconfiar de uma precipitação do BC.

A projeção das contas externas fica restrita a este ano e também é otimista. De fato, o resultado deve ser melhor que o previsto até há pouco tempo, principalmente por causa dos preços dos produtos básicos. Mas é estranho o relatório se deter antes de uma análise das perspectivas de 2012. Se o cenário global for tão ruim quanto o pessoal do BC insinua, e se, além disso, for razoável a previsão de recuo de preços das commodities, o setor externo será uma área de risco, mesmo com o atual volume de reservas. Estranho e preocupante é o aparente descaso em relação a esse ponto.

GOSTOSAS


BARBARA GANCIA - 'O mercado está condenado'



 'O mercado está condenado'
BARBARA GANCIA 
FOLHA DE SP - 30/09/11

'Em 12 meses, milhões vão sumir. Isso é só o começo. O pior risco é não fazer nada. Proteja seus ativos'


REPERCUTIU ATÉ no dogão da dona Maria o show que um operador de mercado deu na BBC nesta semana. Chamado a opinar sobre a crise, ele foi tão contundente que fez a entrevistadora admitir: "O senhor acaba de derrubar o queixo de todos no estúdio".
De fato, o quadro pintado pelo zé-mané foi aterrorizante, um desalento para quem tem ainda alguma ilusão quanto a democracia e o capitalismo. O seu emprego, meu dileto leitor, sua poupança, sua reles existência, aparentemente, nada disso interessa ao sistema financeiro globalizado. Ninguém quer saber, inclusive, do seu voto ou impostos.
Estamos cansados de ouvir essa verdade ser contada pela boca de filósofos como Slavoj Zizek, que vivem de detonar o sistema. Mas quando a crítica vem de dentro apavora um tico a mais.
O operador independente Alessio Rastani (apelido "Ratfuck") foi tão rústico em sua análise sobre a crise na Europa que lembrou Roberto Jefferson quando o deputado apontou o dedo para o então ministro José Dirceu.
O vídeo está aqui youtu.be/BMrHo0Alexw , mas não precisa sair correndo para assistir que eu conto tudo. Antes, porém, algumas considerações sobre a motivação do senhor Rastani.
A mim realmente não importa se o operador é ex-funcionário de algum grande fundo, se tomou um chute no fiofó da Goldman Sachs, se agiu movido por ressentimento ou se expôs os fatos em toda a crueza porque a mulher passou a noite com dor de cabeça.
Tem gente dizendo que se trata de mercenário ou impostor. Ora, será que é tão difícil assim aceitar que até um "trader" possa ter alma? Em vez de insultá-lo, eu lhe daria um troféu. Nunca vi usar de tamanha objetividade para descrever situação tão complexa.
Se você também consegue pressentir que os pacotes foram insuficientes, que falta regulamentação, que nada do que estava errado foi corrigido e que poucos controlam toda a flutuação, também saberá apreciar o que ele disse.
Ele abre sentenciando que "O mercado está condenado". A entrevistadora pergunta o que se deve fazer. "Veja, não tenho esse tipo de preocupação", diz. "Sou um operador de mercado, se enxergo uma oportunidade de ganhar dinheiro, corro atrás. Não é problema meu como vão sanear a economia. Pessoalmente, venho sonhando com esta crise há três anos. Vou confessar uma coisa: eu vou para a cama toda noite sonhando com uma nova recessão, com um momento como este".
Não é de morder uma pessoa capaz desta candura elevada? Rastani continua: "Muita gente ganhou com a crise de 29 e isso não é só para uma pequena elite, é para todos. Quando o mercado despenca, quem planejou pode ganhar com estratégias de 'hedging' e investindo em títulos do governo. Daqui a 12 meses, a poupança de milhões de pessoas irá desaparecer. E isso é só o começo. O pior risco que você pode correr hoje é não tomar providências. Proteja seus ativos. Esta crise é como um câncer. Não se deve esperar que o governo resolva. Prepare-se. Governos não mandam no mundo, quem manda é a Goldman Sachs". E viva a volatilidade! Amigo meu, mestre do universo em pé de igualdade com Gordon Gekko e Sherman McCoy, só ficou decepcionado com essa última parte da fala. "Teria preferido vê-lo desprezar a Goldman Sachs, não é tudo isso, não", disse-me. "De resto, porém, o camarada não errou". Bora andar de montanha-russa, então!

NELSON MOTTA - Corações apaixonados


Corações apaixonados
NELSON MOTTA 
O Estado de S.Paulo - 30/09/11

Com toda a sua densidade musical e poética já reconhecida pela crítica especializada, o que mais me impressiona e emociona no novo disco de Chico Buarque não são as melodias e harmonias elaboradas e nem o virtuosismo e a audácia das rimas, mas as canções de amor, as confissões de um poeta apaixonado. Como um Vinicius moderno, em seus melhores momentos, seu discípulo dileto coloca o coração nos versos e revela o seu encantamento, suas esperanças e temores com um novo amor, logo ele, sempre tão discreto com sua vida pessoal e seus sentimentos.

O poeta sessentão presenteia sua jovem musa - e o público - com músicas e letras que estão entre as suas melhores e afirmam o seu crescimento musical e a sua vitalidade criativa. Sem declarações de amor sentimentais, sem populismo afetivo nem romantismo popular, tudo em forma rigorosa, com palavras, ritmos e sons se harmonizando numa síntese entre razão e emoção difícil de ser encontrada no mercado inesgotável das canções de amor.

"Meu tempo é curto, o tempo dela sobra / Meu cabelo é cinza, o dela é cor de abóbora / Temo que não dure muito a nossa novela, mas / Eu sou tão feliz com ela / Acho que nem sei direito o que é que ela fala, mas / Não canso de contemplá-la."

No blues Essa pequena, entre as delícias do amor e a fugacidade do tempo, entre a urgência e a paciência, Chico enternece sem perder o humor, rimando "ela pinta a boca e sai" com "take your time" e concluindo: "Sinto que ainda vou penar com essa pequena, mas / O blues já valeu a pena".

Na linda Tipo um baião as mudanças bruscas de ritmo e de melodia inspiram os versos que criam imagens vivas dos seus sentimentos: "É São João / Vejo tremeluzir / Seu vestido através da fogueira / É Carnaval/ E o seu vulto a sumir / Entre mil abadás na ladeira".

Como um filme musical, Se eu soubesse é a história do encontro improvável e feliz entre o peso da maturidade e a leveza da juventude, que se harmonizam no dueto amoroso de Chico e Thais Gulin: "Mas acontece que eu sorri para ti / E aí, larari, lairiri, lariri…"

Corações apaixonados de todas as idades devem comprar imediatamente.

JOSÉ SIMÃO - Ueba! Lucas faz gol de nariz!


Ueba! Lucas faz gol de nariz!
JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SP - 30/09/11

E o Ronaldinho Gaúcho? E não é que ele não consegue marcar gol de falta, ele não faz falta nenhuma. Rarará! 


Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! E ontem foi Rosh Hashaná, o Ano Novo dos judeus. E olha a frase que corria na internet: "Amigos judeus, vocês que estão no ano de 5.772, me contem: o Corinthians já foi campeão da Libertadores?". O Itaquerão ficou pronto? Teve Copa no Brasil? O Sarney ainda tá vivo? Rarará!
E um leitor mandou perguntar: "O que vai explodir primeiro, o shopping Center Norte ou o Ronaldo Fenômeno?". O Ronaldo Fenômeno! Porque solta mais gases! Rarará!
E o jogo Selecinha versus Argentina?! Ops, AAARGH... entina! Eu acho uma frescura ficar reclamando do campo! Futebol se joga em qualquer pirambeira. Futebol se joga até em ladeira! Abriu uma clareira, tá todo mundo jogando futebol! Ou os nosso craques aprenderam a jogar em Wimbledon? Rarará! 
E quem eram aqueles argentinos disfarçados de jogadores? Quem escalou aquela seleção? A Cristina Kirchner, que é vesga? Um quebrou o nariz do Lucas e outro roubou um número da camisa do Neymar. 
As camisas brilharam! O Lucas trocou de camisa três vezes. E como disse um cara no meu Twitter: agora ele já pode dizer que vestiu várias vezes a camisa da seleção. "Quantas vezes você vestiu a camisa da seleção?" "Três!" Rarará! 
E o nariz sangrando! O Lucas também pode dizer que deu o sangue pela seleção! Rarará! E o Neymar é tão cai-cai que até o número da camisa dele caiu! Aquela camisa do Neymar foi comprada na 25 de Março! Camisa oficial pirata! O Neymar é bem menino danado: em cinco minutos o uniforme tá imundo! Rarará!
E o Ronaldinho Gaúcho? Aquela mistura de Mulata Globeleza com Michael Jackson paraguaio? E não é que ele não consegue marcar gol de falta, ele não faz falta nenhuma. Parece malabarista de farol, faz aquele monte de malabarismo e depois perde a bola! E parabéns pro povo de Belém que passou duas horas sentado no Mangueirão. Rarará! Eu disse que era proibido fazer trocadilho com Mangueirão mas não resisti! 
E o Galvão tá com a cara mais redonda que o logotipo da Globo! Um amigo meu acha que ele tá com cara de pão na chapa! Rarará! O Galvão devia transmitir avalanche, briga de cachorro e ataque terrorista! Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza! Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno! 

GOSTOSA


ILIMAR FRANCO - Queimado


Queimado
ILIMAR FRANCO 
O GLOBO - 30/09/11

Se já estava irritada com o Senador Lindbergh Farias (PT-RJ), pelo que considera radicalismo na discussão da redistribuição dos recursos do petróleo entre os estados, a presidente Dilma agora está furiosa com a participação dele em ato organizado pela família Garotinho, semana passada, em Campos. "Nós temos que mostrar força, e a Dilma tem que saber também que nós vamos para as ruas, que nós vamos nos mobilizar", disse ele.

TorturaO Subcomitê de Prevenção da Tortura das Nações Unidas apresenta hoje, para a ministra Maria do Rosário (Direitos Humanos), um diagnóstico sobre a situação das prisões brasileiras. A expectativa da ministra não é nada boa.

RASGANDO SEDA. Ao avistar o ministro Fernando Haddad (Educação) na fila de autógrafos do livro do ex-ministro José Dirceu, anteontem, o deputado Gabriel Chalita (PMDB-SP) não se conteve e correu para abraçá-lo. Os dois, que devem se enfrentar na disputa pela Prefeitura de São Paulo, eram só amabilidades. Filha do ex-presidente Lula, Lurian, que trabalha para Chalita, também se pendurou no pescoço de Haddad.

Na vida e na política o que derruba não é a montanha, é a pedrinha" - Sérgio Machado, presidente da Transpetro e ex-Senador (PSDB-CE)

O MINISTRO Moreira Franco (Assuntos Estratégicos), nas conversas com integrantes da oposição, está vaticinando que a alternativa de poder competitiva ao PT vai sair da divisão na própria base do governo.

O DIRETÓRIO Nacional do PSDB suspendeu a intervenção da Executiva Estadual no Diretório de Caxias e deu sete dias para que o presidente regional, Luiz Paulo Corrêa da Rocha, justifique a iniciativa.

DEPOIS de ensaiar uma candidatura à Prefeitura de São Gonçalo, a deputada Benedita da Silva (PT-RJ) diz: "Meu candidato é o Gilberto Palmares".

Reestruturação tucanaO presidente do PSDB, deputado Sérgio Guerra (PE), apresenta hoje, para os oito governadores tucanos, em Goiânia, pesquisa realizada pelo cientista político Antonio Lavareda. O PSDB passa por um processo de reestruturação, que culminará com a apresentação do novo programa partidário, coordenado pelo economista Edmar Bacha, no dia 28 de outubro, em congresso nacional no Rio. A meta dos tucanos é aumentar de 790 para 1.000 o número de prefeitos no ano que vem.

MenosApesar da declaração do líder do governo, Cândido Vaccarezza (PT-SP), de que vai convidar o PSD para participar das reuniões semanais da base aliada com a ministra Ideli Salvatti, o Palácio do Planalto acha que é cedo para isso.

PautaA prioridade do governo no Senado é votar, na próxima semana, a criação da Comissão da Verdade e, de quebra, o fim do sigilo eterno de documentos oficiais. Mas o clima está conturbado por causa dos royalties do petróleo.

SucursalNo Pará, o PSD nasce patrocinado pelo governador Simão Jatene (PSDB). Lá, o organizador da sigla é o secretário de Governo, Sérgio Leão. Por isso, o Senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA) está de malas prontas para mudar de partido.

Dilma está uma araraO governo acionou o presidente do PT, Rui Falcão, para tentar enquadrar Lindbergh, e o Planalto já ameaça tratar o petista a pão e água a partir de agora. Uma das irritações é com a intenção de Lindbergh de obstruir as votações do Senado. Sobre a proposta da União, de contribuir com R$1,8 bi, ele disse, na tribuna, anteontem: "A proposta do governo é: "Apresentei isso. Matem-se agora no Senado e na Câmara"". Na lista de queixas do Palácio do Planalto em relação a Lindbergh ainda está sua participação, na marra, na reunião, esta semana, com o ministro Guido Mantega (Fazenda), para a qual ele não havia sido convidado.

WASHINGTON NOVAES - Onde a sociedade quer mais saúde?


Onde a sociedade quer mais saúde?
WASHINGTON NOVAES
O Estado de S.Paulo 30/09/11

Reacende-se o debate sobre a situação calamitosa da saúde pública na maior parte do País - e até já se prevê que será esse o tema principal na campanha eleitoral de 2012. O governo federal, por intermédio de suas lideranças, admite que precisará criar algum imposto que acrescente R$ 45 bilhões anuais ao setor (o ministro da Saúde fala em mais R$ 41 bilhões para igualar o nível da saúde no País ao da Argentina e do Chile). Em 2010 investiu o nosso governo central R$ 61,9 bilhões - mas as despesas da União no setor, segundo Ricardo Bergamini, caíram de 1,88% do PIB, entre 1995 e 2002, para 1,80%, entre 2003 e 2010; a tendência até aqui é de 1,56% do PIB em 2011.

Mas a oposição e até parte dos governistas já dizem que não concordam com um novo imposto, embora haja quem fale em taxar, para isso, grandes fortunas, legalizar o jogo (cobrando altas taxas), aumentar os impostos sobre o fumo e reservas no exterior, além de destinar à saúde parte dos royalties decorrentes da exploração do petróleo.

Até se registram alguns avanços importantes no Estado de São Paulo, como o da redução da mortalidade infantil, que em 20 anos caiu 61,8%, passando de 31,2 mortes de crianças em 1.000 nascidas vivas para 11,9 - e isso se deveu em grande parte aos avanços no setor de saneamento. Também influíram o aumento da vacinação, os cuidados na fase pré-natal, a assistência às gestantes (Estado, 27/8). Em contrapartida, cresceram os índices de poluição do ar nas maiores cidades, que já produzem 23,7 mil mortes por ano. O Rio de Janeiro está com índice três vezes acima do máximo recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS); São Paulo e Campinas, com o dobro (o melhor índice é o de Curitiba). E o Escritório da ONU sobre Drogas e Crime (Unodc) alerta para o consumo abusivo de medicamentos no Brasil, sobretudo emagrecedores (Envolverde, 27/6).

A questão brasileira na área da saúde parece ainda mais preocupante quando colocada diante de outros relatórios internacionais. Como o do World Cancer Research Fund (BBC Brasil, 17/9), que aponta um aumento da incidência de câncer no mundo da ordem de 20% na última década, quando se registraram 12 milhões de casos novos; 1,8 milhão estavam relacionados com má alimentação, deficiências de atividade física e aumento de peso - e esse número "deve crescer dramaticamente na atual década". Além do câncer, diz a ONU em outros documentos, também crescem muito doenças não transmissíveis, como as cardiovasculares, respiratórias crônicas e diabetes. No Brasil, segundo a OMS, os casos de câncer de próstata (41,6 mil em um ano) e de pulmão (16,3 mil) são os mais frequentes entre homens; na mulher, câncer de mama (42,5 mil) e de colo do útero (24,5 mil). Já o IBGE diz que 16% dos meninos brasileiros e 12% das meninas de 5 a 9 anos sofrem com obesidade, sedentarismo e estresse deles decorrente.

Outro alerta da OMS é para a ameaça de recrudescimento da gripe aviária (vírus H5N1), principalmente na Ásia e em regiões mais próximas, embora possa expandir-se. Desde 2003, o combate à gripe exigiu o sacrifício de 400 mil aves confinadas em 63 países, com prejuízos de US$ 20 bilhões. Em 2010-2011 já surgiram 800 casos e há vírus endêmicos em seis países. Como grande exportador de carne de aves, o Brasil precisa se precaver.

Chega-se, então, ao terreno dos medicamentos. Há progressos na cooperação da indústria farmacêutica com a OMS e outros organismos, que permitirá a produção de medicamentos antirretrovirais em versão genérica por um consórcio internacional que os fornecerá a 111 países mais pobres, com economia de US$ 1 bilhão (o Brasil já quebrou a patente em 2001). Também haverá redução dos royalties em patentes de medicamentos para hepatite (Estado, 13/7). Na verdade, os ministros da Saúde do Brasil, da Rússia, da Índia, da China e da África do Sul - o Brics - querem mudanças na legislação sobre medicamentos e patentes para ampliar o acesso das pessoas mais pobres e baratear custos. A resistência é forte. Mas a própria presidente Dilma Rousseff defendeu na recente reunião da ONU a que esteve presente a quebra de patentes de remédios para doenças não terminais (Estado, 20/9), como diabetes, hipertensão e outras. Segundo ela, trata-se de um "elemento da estratégia para aumentar a inclusão social".

É um tema antigo e difícil. Quando era secretário de Meio Ambiente, Ciência e Tecnologia do Distrito Federal (1991-1992), o autor destas linhas e o então presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Ennio Candotti, tentaram evitar que o Congresso Nacional incluísse na Lei da Propriedade Industrial, que então discutia, o reconhecimento de pipelines para medicamentos com patente já vencida no exterior - quando, na verdade, deveriam passar a ser fabricados aqui sem pagar royalties, como já ocorria em tantos países. Até ao então presidente Itamar Franco foi uma delegação com representantes da SBPC em todos os Estados. O chefe do governo aderiu imediatamente à reivindicação. Mas seus líderes no Congresso impediram qualquer avanço. E os pipelines prevalecem até hoje, embora haja ações de inconstitucionalidade tramitando no Supremo Tribunal Federal.

Prevenida quanto ao avanço de certas reivindicações, a indústria farmacêutica transnacional já domina 40% do mercado de medicamentos genéricos (Folha de S.Paulo, 28/8), quando há três anos só tinha 12%: muitas patentes poderão cair em domínio público em prazos curtos.

Com tudo isso, a sociedade precisa acompanhar atentamente a discussão sobre a saúde pública, uma das que mais lhe interessam. Recursos podem surgir - basta lembrar o que já se citou num dos últimos textos nesta página: o governo federal paga em juros da dívida pública entre R$ 60 bilhões e R$ 70 bilhões/ano (por causa da mais alta taxa de juros no mundo); em subsídios a vários setores econômicos, R$ 30 bilhões; em ajuda a mutuários, R$ 32 bilhões (Agência Estado, 8/8). Recursos como esses terão o destino que a sociedade autorizar.

MÔNICA BERGAMO - DANÇANDO NA ONDA

DANÇANDO NA ONDA
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 30/09/11

A festa de inauguração do Studio RJ contou com a presença de celebridades como os músicos Caetano Veloso, Seu Jorge, Thalma de Freitas e Quinho. As atrizes Débora Bloch e Leandra Leal, que é casada com um dos sócios da casa, Ale Yousseff, também curtiram a noite de terça no Arpoador, no Rio. 

CARTA ABERTA
Racha no CNJ (Conselho Nacional de Justiça): seis de seus 15 integrantes se arrependeram de ter endossado às pressas a nota divulgada pelo presidente do colegiado e do STF (Supremo Tribunal Federal), Cezar Peluso, contra a corregedora Eliana Calmon. E devem divulgar nova manifestação para esclarecer seu posicionamento. 

PRESSA
De acordo com vários relatos, Peluso estava muito nervoso com as declarações de Eliana Calmon de que há "bandidos escondidos atrás da toga". Chegou a bater as mãos na mesa ao discutir a nota. Por isso, ela teria sido aprovada "de afogadilho" pelos demais conselheiros. 

COMO ESTÁ
Um deles, Bruno Dantas, esclarece a posição do grupo: "A nota era para criticar o maniqueísmo da declaração da ministra Eliana Calmon. Mas passou a impressão de que ela está isolada e de que todos os conselheiros apoiam o esvaziamento da corregedoria. Isso não é verdade. Queremos a manutenção dos poderes do CNJ de investigar desvios." 

COLHER
E, depois do Senado, também a Câmara dos Deputados vai entrar na discussão sobre as competências do CNJ. Os parlamentares da Frente de Combate à Corrupção estão redigindo proposta que reforça os poderes de investigação da corregedoria. "É uma reação indubitável à tentativa de cercear o CNJ", diz o deputado Fernando Praciano (PT-AM), que coordena a frente. 

RÁDIO POLÍCIA
A associação das empresas de radiotáxis de SP entregou anteontem à Polícia Militar relatório dos assaltos, cada vez mais frequentes, sofridos em agosto. Só a Guarucop registrou 15 roubos entre os dias 2 e 12. O aumento de ocorrências se concentra em bairros da zona sul, como Vila Mariana e Jabaquara. Cerca de 20% das unidades da São Paulo Táxi, por exemplo, têm se recusado a trabalhar à noite. 

OPERAÇÃO TÁXI
O comandante da PM, Álvaro Camilo, convocará as associações para uma reunião no início de outubro. A PM diz que tem feito encontros periódicos com os profissionais e que aumentou a fiscalização e as abordagens dos veículos na rua. 

ELE VOLTOU
Depois de quase dez anos "escondendo" o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em suas campanhas eleitorais, o PSDB o mostrará como grande estrela da legenda nos programas de TV que vão ao ar em outubro. 

NO RITMO
Mesmo retomando tratamento preventivo contra o câncer, Hebe Camargo terá agenda lotada nos próximos meses. Ela gravará antecipadamente programas que vão ao ar entre dezembro e janeiro, quando sai de férias. 

DOSE DUPLA
Amilcare Dallevo Neto e Karina Sato comemoraram seus aniversários anteontem, na Kiss & Fly, na Daslu. O pai do aniversariante, Amilcare Dallevo, da RedeTV!, sua mulher, Daniela Albuquerque, e a irmã da anfitriã, Sabrina Sato, cantaram juntos os parabéns. 

CAIXA FECHADO
O TCU (Tribunal de Contas da União) aprovou acórdão anteontem determinando que a Infraero "abstenha-se de emitir ordem de serviço autorizando a execução de obras e serviços" da reforma do aeroporto de Guarulhos. O colegiado discute o fato de a empresa ter contratado a Delta Construções sem licitação. A Infraero alega que a reforma é emergencial. 

ORQUIDOIDO
O músico Lenine disse à "Bravo!" que chega às bancas hoje que tem mais de 6.000 orquídeas em sua casa. "A cada cidade que vou, levo dois porta-instrumentos vazios para trazer minhas orquídeas. A primeira coisa que eu faço quando chego a uma cidade é ligar para os orquidoidos locais." 

CURTO-CIRCUITO
Alfredo Sirkis e Marina Silva fazem debate na Livraria Cultura do shopping Villa-Lobos, na segunda. 
O grupo Momix se apresenta até o dia 9, no Teatro Alfa. 12 anos. 
O espetáculo "Grande Gala 2011" acontece amanhã no Memorial da América Latina. Cinco anos. 
A Fibria está investindo R$ 18 milhões na recuperação da mata atlântica. 

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY

GOSTOSA


CARLOS HEITOR CONY - O veneno da ditadura


O veneno da ditadura
CARLOS HEITOR CONY
FOLHA DE SP - 30/09/11

Apliquei a metáfora aos militares que, após tomarem o poder em 1964, mudaram de comportamento


Em crônica publicada na semana que passou ("Médicos e Monstros"), na qual criticava a demora em criar e fazer funcionar a Comissão da Verdade, apelei para o exemplo clássico da alteração de uma personalidade, exposta magistralmente por Robert Louis Stevenson em seu romance "Dr. Jekyll and Mr. Hyde". 
É a história do médico de excelente formação moral e social que, descobrindo uma mistura química e testando-a em si mesmo, transforma-se num monstro assassino. 
Apliquei a metáfora aos militares que, após tomarem o poder em 1964, mudaram de comportamento. Desde criança ouvia dizer que o soldado era "o povo fardado". Era o homem comum que tomava o compromisso de defender a pátria e a sociedade, não apenas em caso de guerra mas no dia a dia de uma nação. 
Perderia tempo e espaço se fosse lembrar os muitos momentos em que os militares, pondo em risco a própria vida, cumpriram lealmente esse dever constitucional. Referia-me à exceção, cuja verdade agora começa a ser exigida nas ruas, na mídia e no Congresso. 
Posso dar exemplos pessoais sobre a transformação que se operou na classe militar. Na minha primeira prisão, em 1965, havia um motivo para a repressão: em companhia de oito amigos, fizemos uma manifestação contra o presidente Castelo Branco, na porta do Hotel Glória, por ocasião de uma reunião da OEA. Fomos presos, mas tratados como devem ser tratados aqueles que violam determinada lei. 
Na segunda vez, em 13 de dezembro de 1968, logo após a edição do AI-5, fui preso novamente, sem nenhuma motivação legal, mas encontrei no quartel do Batalhão de Guardas (RJ) o mesmo tratamento humano e, em alguns momentos, cordial, por parte dos militares. Eram cidadãos comuns que cumpriam o regulamento que entrara em vigor, mas respeitavam a dignidade dos detidos. Meu companheiro de cela era o jornalista Joel Silveira, que cobrira a FEB durante a Segunda Guerra. Ele recebia visita de generais que eram seus amigos. 
Um tenente que dava serviço à noite comunicou que estava para se casar, mas ainda não tinha dinheiro para comprar os móveis. Joel telefonou para o Zé Aparecido, que era diretor do Banco Nacional, descolou um bom empréstimo para o tenente, que, meses depois, quando casou, convidou o Joel para a cerimônia. 
Os militares ainda não haviam experimentado a poção mágica do poder, continuavam como homens comuns. Mas veio a diabólica transformação logo depois: nas quatro prisões seguintes, ficamos conhecendo o outro lado daquela turma que nos prendia. Nem Joel nem eu fomos torturados, mas passávamos a noite ouvindo os gritos dos torturados. Na hora das refeições, antes de chegar a comida, chegavam dois tipos de homens diferentes, verdadeiros armários que apontavam as armas enquanto comíamos não a comida normal dos quartéis, mas uma pasta que parecia os restos de outras refeições. Nenhum diálogo, apenas ameaças. Nem banho de sol, obrigatório pela Convenção de Genebra. Nem visitas, nenhum contato com o mundo exterior, nem mesmo com a família, que não sabia onde estávamos e se estávamos vivos. 
Voltando à prisão de 1968, quando a classe militar ainda não havia experimentado o veneno do poder. No Natal daquele ano, o comandante cujo nome não guardei, homem civilizado e gentil, surpreendeu a mim e ao Joel mandando vir, de sua casa, uma ceia completa, vinho, castanhas, fatias de peru, frutas, um cartão amável desejando não somente um feliz Natal mas uma rápida libertação. Que ocorreu duas semanas depois. 
Evidente, estou tratando de um caso pessoal. Ao longo do país o tratamento aos presos não foi o mesmo. Houve milhares de torturados, desaparecidos e mortos. 
Todos nós, principalmente os jovens que hoje se dirigem ao caminho das armas, precisamos ficar sabendo que a poção do poder que terão para defender a pátria e a sociedade pode transformá-los em monstros que repetirão, em escala impossível de prever, os crimes hediondos praticados durante aquele período. 
Daí a necessidade de todos ficarmos sabendo como e por que se deu essa transformação. Precisamos conhecer a verdade. 

JUAN QUIRÓS - Carga pesada


Carga pesada
JUAN QUIRÓS
O Globo - 30/09/2011

Foi importante a recente medida governamental, atualizando os limites de faturamento para efeito de caracterização das pequenas e microempresas no Simples Nacional.

A decisão evitará que numerosas dessas firmas continuem pagando impostos e enfrentando todos os trâmites burocráticos como se fossem grandes.

No entanto, o ajuste de R$36 mil para R$60 mil do teto da receita bruta anual do empregador individual, de R$240 mil para R$360 mil para a micro e de R$2,4 milhões para R$3,6 milhões para apequena empresa, elevação de 50%, significa basicamente a correção de uma defasagem de muitos anos.

Também é pertinente o parcelamento da dívida tributária, em até 60 parcelas, para os empreendedores que estão enquadrados no Simples Nacional, assim como a suspensão da exigência de declaração anual, que será consolidada pela própria Receita Federal a partir do movimento mensal.

Espera-se, ainda, que termine com êxito a negociação do governo e dos parlamentares para que micro e pequenas empresas possam exportar, em valores equivalentes aos das suas vendas no mercado interno, sem serem excluídas do Simples.

Não há dúvida de que esse conjunto de medidas é benéfico e contribuirá para estimular número significativo de empresas. No entanto, um dos mais graves problemas enfrentados pela pequenas e micro continua afligindo esse segmento.

Trata-se da pesada carga tributária brasileira, inimiga da competitividade da economia nacional.

Há pequenas, médias e microempresas, dependendo de sua área de atuação, que chegam a empenhar até metade de seu faturamento exclusivamente para pagar impostos. Esta cruenta realidade é demonstrada em estudo da auditoria BDO RCS.

A pesquisa constatou que 69,8%, num universo de 150 firmas entrevistadas, gastam pelo menos 20% de sua receita apenas com o recolhimento de tributos. Esse custo fiscal - pasmem - pode chegar a 27,9% do faturamento total até mesmo para optantes pelo regime de tributação inerente ao Simples Nacional - o Regime Especial Unificado de Arrecadação de Tributos e Contribuições.

Imaginemos uma empresa que recolha 20% de tudo o que ganha em impostos. Dos restantes 80%, tem de bancar seu custeio (energia, telefone, internet, água, aluguel ou amortização de imóvel próprio), insumos e salários dos colaboradores. O que resta de lucro para o empreendedor?

A resposta está na estatística: a mortalidade dessas organizações nos primeiros cinco aniversários continua muito elevada, em torno de 58%. Todo ano, cerca de 85 mil empresas de pequeno e médio portes fecham as portas.

Por isso, é fundamental rever de modo mais profundo o regime tributário da pequena e da microempresa. Também são necessárias medidas como a desburocratização no acesso ao financiamento, diminuição das exigências de grandes compradores para fomento e garantias de crédito para compra de ativos que possam agregar inovação tecnológica a produtos e serviços e participação maior do segmento nas compras do setor público.

Não basta atualizar os tetos do Simples.

LUIZ GARCIA - Juízes dos juízes


Juízes dos juízes
LUIZ GARCIA
O GLOBO - 30/09/11

Para muitos juízes brasileiros, o Conselho Nacional de Justiça deve ser, acima de tudo, um órgão bem comportado. O que, na prática, significaria tratar de assuntos como planejamento estratégico e modernização tecnológica do Judiciário. Na prática, ele é, e pretende continuar a ser, bem mais do que isso: comportase, também e principalmente, como uma espécie de fiscal da atuação de juízes e tribunais.

E fiscal severo: em seus seis anos de existência, já puniu uma boa quantidade de juízes e desembargadores e até um ministro do Superior Tribunal de Justiça. Os castigos não envolvem cadeia: incluem censuras simples, remoção, afastamento com redução de vencimentos por até dois anos e aposentadoria compulsória. Note-se que o CNJ não é apenas uma espécie de cão de guarda, atento ao comportamento ético deste ou daquele juiz. Preocupa-se também com a eficiência dos métodos de trabalho dos tribunais: fiscaliza, por exemplo, a quantidade de processos julgados em todo o país.

Num caso curioso, no começo deste ano ele decidiu que os tribunais deveriam funcionar todos os dias úteis, das 9h até as 18h. Não parece ser um expediente exaustivo, mas a Associação dos Magistrados Brasileiros reagiu com energia: recorreu ao Supremo Tribunal Federal, alegando que em muitos tribunais, principalmente no Nordeste, o calor vespertino tornava simplesmente impossível o funcionamento da Justiça. O STF deu razão aos calorentos. Por sorte, médicos, engenheiros e burocratas em geral não seguiram o exemplo dos calorentos juízes.

Agora, outra briga está começando: o Supremo Tribunal Federaldeverá decidir se o CNJ pode ou não pode investigar espontaneamente o comportamento de juízes, como tem feito. Para a AMB, o Conselho não tem esse direito: poderia, apenas, manifestar-se sobre decisões das corregedorias dos tribunais. Ou seja, se os próprios juízes não tomarem a iniciativa de fiscalizar o comportamento de seus colegas, ninguém mais poderá fazê-lo. Para todas as demais profissões, atos individuais e comportamentos coletivos sempre podem ser submetidos a decisões do Judiciário.

A Associação dos Magistrados está procurando agora fazer com que, para seus membros, esse “sempre” deixe de existir. É bom lembrar que, com exceção da briga sobre o horário de trabalho nos tribunais, nenhuma das decisões do CNJ foi revogada. Parece ser bom e suficiente motivo para que não se mexa na autonomia e na competência dos juízes que julgam os juízes.

INVESTIGAÇÃO NO BRAZIU 7

CSI:BRAZIU 7


RENATA LO PRETE - Estou aqui


Estou aqui
RENATA LO PRETE
FOLHA DE SP - 30/09/11

O gesto de Aécio Neves, que saiu da hibernação para anunciar à bancada do PSDB a disposição de concorrer à Presidência contra "Lula ou Dilma", foi interpretado em Brasília como resposta ao protagonismo crescente de Eduardo Campos (PSB), que fez da eleição da mãe ao TCU uma exibição de força, e Gilberto Kassab, que, de posse do registro definitivo de seu PSD, vai contabilizando adesões em número capaz de fazer a sigla eventualmente superar a bancada tucana na Câmara.
Não por acaso, as especulações para 2014 passaram a incluir, entre as chapas possíveis, uma com Aécio e Eduardo -mas com o pernambucano na cabeça.

Meio-termo 1 A corregedora nacional de JustiçaEliana Calmon, já recebeu sinais do esboço do acordo que ministros do Supremo tentam construir antes de votar, na próxima semana, ação que visa limitar os poderes do CNJ para investigar juízes.

Meio-termo 2 Do que lhe chegou ao conhecimento, a ministra viu mais motivos para se acalmar do que para se desesperar.

Tudo coberto De um tuiteiro inconformado com a ofensiva da ministra Iriny Lopes para tirar do ar, sob a alegação de preconceito, propaganda de lingerie estrelada por Gisele Bündchen: "Mais alguns anos de PT no poder e as mulheres bonitas serão obrigadas a usar burka".

Estresse Assim como o PR, o PTB e o PSC estão à beira de um ataque de nervos com o Planalto. Não que essas legendas pretendam migrar para a oposição, mas teme-se que, insatisfeitas diante de sucessivos pleitos não atendidos, elas criem dificuldades na hora de prorrogar a DRU (Desvinculação de Receitas da União), prioridade zero de Dilma Rousseff no Congresso até o fim do ano.

Carinho Foi a pedido do PT que Dilma entrou em campo para convencer o deputado João Paulo, ex-prefeito de Recife, a ficar no partido.

PPP verde O governo paulista fechou um plano de concessões de parques e áreas verdes à iniciativa privada. Das 92 unidades de conservação sob controle da Fundação Florestal, 33 estão aptas a migrar para o regime de parcerias, que também estará aberto a ONGs. Pelo edital, a fiscalização permanecerá com o Estado. O anúncio será feito na próxima quinta-feira, no Bandeirantes.

Fatura Durante reunião hoje em São Bernardo do Campo com prefeitos do PT paulista, a ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais) será cobrada para liberar emendas parlamentares e obras, em particular pelos que pleiteiam a reeleição.

Minha fuga O vereador Juscelino Gadelha (PSB) propôs a concessão de título de cidadão paulistano a Cesare Battisti invocando a luta do ex-terrorista italiano "em busca da liberdade e da cidadania". A aprovação depende de acordo de lideranças.

Visitas à Folha Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comitê Organizador da Olimpíada de 2016 no Rio, visitou ontem a Folha, onde foi recebido em almoço. Estava com Carlos Villanova, diretor de Comunicação.

Antonio Carlos Valente, presidente da Telefonica, e Pablo Isla, presidente da Inditex S.A. (Zara), visitaram ontem a Folha.

Ives Gandra Martins, Paulo Rabello de Castro e Carlos Rodolfo Schneider, coordenadores do MBE (Movimento Brasil Eficiente), visitaram ontem a Folha. Estavam com Patrizia d'Aversa, assessora de imprensa.

com LETÍCIA SANDER e FÁBIO ZAMBELI

tiroteio

"Quem não tem canino para se manter na oposição pode sair do Democratas.
Agora nós vamos para o tudo ou nada."
DO DEPUTADO RONALDO CAIADO (DEM-GO), sobre a perspectiva de novas deserções no partido uma vez que o PSD, sigla criada por seu ex-correligionário Gilberto Kassab, recebeu registro definitivo e está portanto habilitada a participar das eleições municipais do próximo ano. Quem quiser concorrer pela legenda tem de se filiar antes de 7 de outubro.

contraponto

Questão de relevo


O coquetel de lançamento, anteontem, do livro "Tempos de Planície", coletânea de artigos de José Dirceu, atraiu meia República a um restaurante de Brasília.
Ao contemplar a extensa e estrelada fila dos que aguardavam por um autógrafo do primeiro chefe da Casa Civil do governo Lula, deputado cassado e réu mais vistoso do processo do mensalão, o deputado Nelson Pellegrino (PT-BA) refletiu:
-Isso porque ele está falando da planície. Imagine se fosse do Planalto....

MERVAL PEREIRA - Difícil acordo


Difícil acordo
MERVAL PEREIRA
O  GLOBO - 30/09/11

A tese de Constituinte revisora lançada pelo PSD como bandeira principal do novo partido é um desdobramento de propostas semelhantes que já haviam sido discutidas e abandonadas, e tem como novidades a amplitude da sua atribuição - só ficariam de fora a divisão dos poderes, o modelo federativo, o voto secreto e as garantias individuais - e a proposta de que seus membros seriam eleitos por voto em lista fechada.

O centro de todas as propostas anteriores era uma Constituinte exclusiva composta de notáveis que poderiam ser eleitos para essa tarefa determinada, por período definido, e para tal não precisariam ter experiência política nem força eleitoral. Seriam lançados pelos partidos e escolhidos pelos eleitores por seus méritos reconhecidos.

A escolha por lista fechada radicaliza essa ideia, passando aos partidos a tarefa de escolher esses notáveis, como se essa providência garantisse a qualidade dos componentes da Constituinte.

Tanto a tese idealista de que os eleitores escolheriam apenas os melhores entre os melhores quanto a de que os partidos fariam essa escolha pelos eleitores não se sustentam em nenhuma experiência empírica.

Mesmo sem essa pureza de representação, no entanto, estou convencido de que certas reformas estruturais necessárias ao país só serão aprovadas em uma Constituinte convocada com essa função específica.

A Constituinte exclusiva para a reforma política não é uma ideia nova e já chegou a ser lançada tempos atrás pelo próprio PT, através do então presidente Lula, e com o apoio da OAB.

Sempre pareceu a muitos - a mim inclusive - ser uma saída para a efetivação de uma reforma que, de outra forma, jamais sairá de um Congresso em que o consenso é impossível para atender a todos os interesses instalados.

O deputado Miro Teixeira defende de há muito a tese de que a Constituinte poderia, além da reforma política, tratar de dois assuntos polêmicos: pacto federativo e reforma tributária.

A convocação de uma Constituinte restrita, ou um Congresso revisor restrito, para tratar da reforma política, segundo Miro daria oportunidade de tratar de forma mais aprofundada esses temas, com discussões estruturais que se interligariam, com a redistribuição das atribuições e verbas entre os entes federativos, temas que, aliás, estão na ordem do dia com a disputa pela distribuição dos royalties do petróleo.

O fato é que assuntos como o recall - quando um parlamentar eleito pode ser destituído pelos eleitores -, ou restrições à imunidade parlamentar ou reformas no sistema previdenciário só passariam numa Constituinte exclusiva e originária, já que o poder constituinte derivado, quando o Congresso se transforma em Constituinte, fica limitado pelo próprio interesse dos parlamentares.

Mas toda essa teoria fica ameaçada pelas experiências anteriores na América Latina, onde vários governos autoritários utilizaram o expediente da Constituinte para aumentar o poder do Executivo, como aconteceu na Venezuela de Chávez, na Bolívia de Evo Morales, no Equador de Correa.

Tem sido politicamente inviável tentar levar adiante a proposta devido ao uso distorcido das constituintes em países da região, que acabaram transformadas em instrumentos para aumentar o poder dos governantes de países como a Bolívia ou Equador, seguindo os passos da "revolução bolivariana" de Chávez.

A base teórica da manipulação dos referendos e do próprio instrumento da Constituinte para dar mais poderes aos presidentes da ocasião é o livro "Poder Constituinte - Ensaio sobre as alternativas da modernidade", do cientista social e filósofo italiano Antonio (Toni) Negri.

Essa influência foi admitida pelo próprio Chávez em um de seus programas radiofônicos ainda em 2006, quando ele anunciou que estava entre eles "um filósofo, escritor e ativista italiano, Toni Negri. (.) Por aqui temos seguido suas teses, Toni Negri: O poder constituinte".

O filósofo italiano diz que "o medo despertado pela multidão" faz com que o poder constituído queira impedir sua manifestação através da Constituinte: "A fera deve ser dominada, domesticada ou destruída, superada ou sublimada".

Antonio Negri considera que o "poder constituído" procura tolher o "poder constituinte", limitando-o no tempo e no espaço, enquanto o dilui através das "representações" dos poderes do Estado.

Em uma definição mais popular, Evo Morales diz que se trata de uma nova maneira de governar através do povo. Defendem, na prática, a "democracia direta", o fim das intermediações do Congresso, próprias dos sistemas democráticos.

A proposta do PSD, portanto, encontrará grande resistência por parte da maioria do Congresso, embora sua origem - um partido que não é de centro, nem de direita, nem de esquerda - seja menos suspeita do que quando a proposta vem do PT.

Não parece lógico que um partido fundado pelo prefeito paulistano Gilberto Kassab e cuja maioria saiu dos quadros do DEM esteja maquinando algum golpe autoritário contra a democracia.

Mas como a nova legenda já nasce como aliada do governo haverá dificuldade de costurar um acordo político que torne inviável qualquer tentativa de golpear as instituições democráticas através da Constituinte.

Será preciso haver um amplo pacto político que delimite os alcances das mudanças que vierem a ser feitas. Uma delicada negociação política que o governo Dilma tem condições de levar adiante pelo clima de distensão que vem imperando nas relações entre governo e oposição.

Mas como quem está por trás do projeto petista é o ex-presidente Lula, não creio que haverá clima político de confiança para um acordo desse tipo.