O Estado de S.Paulo - 31/01
Nestes tempos de muito calor, tempestades e milhares de raios, uma carioca da Gávea teve muita sorte porque lhe caiu na cabeça apenas um porco-espinho. A frase de Milton em O Paraíso Perdido tem valor universal, mas parece ter sido escrita para o Brasil deste verão tenso, pré-Copa do Mundo e eleições: a mente humana pode fazer do céu um inferno e do inferno um céu.
Comentando uma conferência budista, Alan Lighting escreveu: "Como cientista, acredito firmemente que os átomos e moléculas são reais e existem independentemente de nossas cabeças". Lighting observa, entretanto, que, enrascados na teia de 1,5 kg de neurônios, temos dificuldade de determinar o que é real. Constantemente, no esforço de representar o mundo, ignoramos dados essenciais ou inventamos algo que não está diante de nós.
Como todo mundo parece esperar alguma coisa em 2014, os rolezinhos foram recebidos com excitação e uma tonelada de interpretações. Racismo, luta de classes, desejo de entrar nos templos do consumo, cada um atirou para o lado, deixando de fora uma realidade que os americanos descrevem de forma direta e simples: boy meets girl. Como foi possível ignorar essa força elementar e fixar nos grandes traços políticos e sociológicos?
Em 2010, no Rio, houve de fato um rolezinho em que moradores de uma favela entraram num shopping e foram retirados por seguranças e forças policiais. Na época a esquerda oficial ignorou o episódio. Sérgio Cabral era o governador, em plena campanha de renovação do mandato, e o PT estava junto - são aliados antigos que até hoje hesitam diante da separação.
A morte de um jovem gay em São Paulo também foi interpretada com excessiva rapidez. Os militantes apostaram num assassinato homofóbico antes de concluídas as apurações.
Estamos entrando no período eleitoral. Os debates assumem tom apaixonado, a verdade naufraga como numa guerra.
No livro Mishima ou a Visão do Vazio, Marguerite Yourcenar faz uma observação sobre autores que estabelecem uma ligação da obra e vida de Mishima usando cabos, sem perceber que as conexões, nesse caso, são finos capilares. O pensamento militante costuma ter essa tendência: ligar com cabos uma realidade que emerge apenas através de delicados capilares.
O resultado disso é um debate enlouquecido, em que a raiva predomina. Recentemente disse pelo rádio que havia uma cela vermelha, com o n.º 13, na Papuda e que poderia abrigar os dirigentes do PT. Foi tomado como um insulto. Não tive outra saída senão mostrar a imagem da cela vermelha com o n.º 13. Aí o debate se deslocou para discutir se a cor era mesmo vermelha ou vinho. Limitei-me a lembrar que em outros idiomas o vinho tinto é chamado de vinho vermelho.
Imagens, que também são discutíveis, ajudam a criar um mínimo de consenso sobre o real. Dilma, em Davos, disse que o Brasil está preparado para a Copa. No mesmo dia passageiros da Gol forçaram a porta de emergência e protestaram em cima das asas do avião. Isso não quer dizer que Dilma estivesse mentindo em Davos. Mas a imagem nos conduz a uma reflexão sobre o nível de preparo do Brasil, alguns meses antes do evento.
No Rio, o vice-governador Pezão afirmou que o sistema de trens estava ganhando cada vez mais credibilidade. As imagens diziam o contrário: passageiros caminhando pelos trilhos, sufocados pelo calor, lamentando a degradação dos serviços.
Outro dia, tuiteiros do PT afirmaram que os presos de Pedrinhas não me deixaram entrar no presídio porque eu seria uma ave de mau agouro, sempre atrás de tragédias. Quem conhece crises penitenciárias sabe que a entrada ou não de alguém num presídio depende das autoridades, não dos presos. Os tuiteiros do PT viraram samurais eletrônicos da família Sarney. Que destino, bro!
Os debates, que se davam em baixo nível, devem cair mais na Copa e nas eleições. Toda a efervescência artificial do momento já revela o medo do desconhecido, dos desdobramentos incontroláveis que podem surgir da revolta popular. É preciso saber antes, interpretar antes, emplacar logo uma versão que resolva o único problema com que realmente vale a pena se preocupar: como continuar no poder. Se dependesse de mim, veria as coisas com calma e até um certo distanciamento. As emoções virão, não é preciso vivê-las antecipadamente.
Alguns problemas reais, como a crise argentina, estão passando ao largo. E podem ter repercussão aqui. O mesmo vale, em menor escala, para a crise na Venezuela. O fracasso de duas economias de peso na América Latina merece estar, creio eu, na ordem do dia. Lembro que, apesar de tudo, a Argentina vai crescer 2,8%, talvez um pouco mais que o próprio Brasil. O índice de crescimento não é tudo. O FMI olha com apreensão para a Argentina e é inevitável que as dificuldades hermanas tenham repercussão no nosso país.
É preciso ainda achar um espaço nessa batalha polifônica em torno do funk ostentação, de biografias de cantores, e discutir um rumo para um país que, a meu ver, já o perdeu com o esgotamento do modelo de puro estímulo ao consumo e coalizão presidencial fisiológica.
Um ocupante da casa do Big Brother fez pipi na piscina e se defendeu: "Quem não faz pipi na piscina?". Todos os que não fazem deveriam levar isso em conta. Há muitos fios soltos por aí, tão importantes para conhecer o País como o fenômeno dos rolezinhos, que na imaginação desvairada é o prenúncio do grande arrastão que descerá dos morros e da periferia.
Há 50 anos os militares tomavam o poder. Muitos dos sobreviventes já estão naquela idade em que chaves e óculos desaparecem com frequência, numa aparente conspiração para nos enganar. Discordo da afirmação budista de que o mundo é um produto da mente. Reconheço nele uma existência autônoma. Mas concordo com a tese de que tudo passa, tudo passará.
Eu me divirto com o reflexo dessa realidade essencial no desespero dos que querem o poder para sempre. Adoro vê-los rangendo bytes e pixels nos blogs envenenados. E a vida vindo em ondas, como o mar.
sexta-feira, janeiro 31, 2014
A casa da amante - JOSÉ CARLOS TEIXEIRA GIORGIS
ZERO HORA - 31/01
O STJ entendeu que o direito de habitação também se estende à concubina
Um dos temas recorrentes nos tribunais é sobre as “famílias simultâneas”, ou seja, a existência de núcleos paralelos ao matrimônio com o reconhecimento de efeitos jurídicos para um dos integrantes desta parceria. Se o cônjuge está separado de fato de sua esposa, a situação está protegida como união estável; mas se o casamento persiste, instalou-se no código figura híbrida e mal desenhada que se denomina “concubinato” para as relações não eventuais entre homem e mulher impedidos de casar.
Assim são frequentes as refregas previdenciárias em que a viúva e a concubina disputam a pensão deixada; ou o patrimônio havido, com resultados pendulares conforme a natureza da Corte.
Em palestras, procura-se alvoroçar os alunos advertindo-os de que, em breve, os manuais cuidarão do assunto como “direitos da amante”, em prol do desgaste que o vocábulo concubina sofre há centúrias, o que exige sua substituição por outro que lhe dê dignidade jurídica, como aconteceu já com outros preconceitos empalidecidos.
É verdade que tais células pouco manifestas, em muitos casos, abrigam típicas famílias, com notoriedade, descendência e até comunhão de vida, embora o varão persista (con) jungido aos laços originais, em esperta duplicidade de vida: aqui o julgador titubeia ante a forte aparência de um concubinato puro e nas sérias consequências de seu veredicto.
A lei ordena que a viúva (ou viúvo) tem o direito de permanecer morando no imóvel em que a família residia desde que único daquele tipo a inventariar; essa garantia, embora não escrita para a companheira (ou companheiro), é admitida pelos tribunais também na união estável, repita-se, vínculo entre pessoas desimpedidas ou separadas de fato.
Pois bem, em decisão recente, o Superior Tribunal de Justiça entendeu, por escassa vantagem, que o direito de habitação _ nome do instituto acima referido _ também se estende à concubina.
O caso julgado foi o seguinte: um respeitável cidadão habitava com sua família em imóvel alugado; e há muitos anos convivia com outra, mas num apartamento que estava em seu nome, sem que sua linhagem soubesse, fato que despertou no falecimento; partilhado esse único bem, tentou-se desalojar a ocupante que, por óbvio, retrucou com seu privilégio. E venceu.
Como diz o jargão forense, é necessário examinar os argumentos em que se ancora o acórdão, pois cada precedente tem sua peculiaridade e nem sempre veste todas as hipóteses.
As amantes estão atentas aos derradeiros recursos.
O STJ entendeu que o direito de habitação também se estende à concubina
Um dos temas recorrentes nos tribunais é sobre as “famílias simultâneas”, ou seja, a existência de núcleos paralelos ao matrimônio com o reconhecimento de efeitos jurídicos para um dos integrantes desta parceria. Se o cônjuge está separado de fato de sua esposa, a situação está protegida como união estável; mas se o casamento persiste, instalou-se no código figura híbrida e mal desenhada que se denomina “concubinato” para as relações não eventuais entre homem e mulher impedidos de casar.
Assim são frequentes as refregas previdenciárias em que a viúva e a concubina disputam a pensão deixada; ou o patrimônio havido, com resultados pendulares conforme a natureza da Corte.
Em palestras, procura-se alvoroçar os alunos advertindo-os de que, em breve, os manuais cuidarão do assunto como “direitos da amante”, em prol do desgaste que o vocábulo concubina sofre há centúrias, o que exige sua substituição por outro que lhe dê dignidade jurídica, como aconteceu já com outros preconceitos empalidecidos.
É verdade que tais células pouco manifestas, em muitos casos, abrigam típicas famílias, com notoriedade, descendência e até comunhão de vida, embora o varão persista (con) jungido aos laços originais, em esperta duplicidade de vida: aqui o julgador titubeia ante a forte aparência de um concubinato puro e nas sérias consequências de seu veredicto.
A lei ordena que a viúva (ou viúvo) tem o direito de permanecer morando no imóvel em que a família residia desde que único daquele tipo a inventariar; essa garantia, embora não escrita para a companheira (ou companheiro), é admitida pelos tribunais também na união estável, repita-se, vínculo entre pessoas desimpedidas ou separadas de fato.
Pois bem, em decisão recente, o Superior Tribunal de Justiça entendeu, por escassa vantagem, que o direito de habitação _ nome do instituto acima referido _ também se estende à concubina.
O caso julgado foi o seguinte: um respeitável cidadão habitava com sua família em imóvel alugado; e há muitos anos convivia com outra, mas num apartamento que estava em seu nome, sem que sua linhagem soubesse, fato que despertou no falecimento; partilhado esse único bem, tentou-se desalojar a ocupante que, por óbvio, retrucou com seu privilégio. E venceu.
Como diz o jargão forense, é necessário examinar os argumentos em que se ancora o acórdão, pois cada precedente tem sua peculiaridade e nem sempre veste todas as hipóteses.
As amantes estão atentas aos derradeiros recursos.
Puxar o cabelo para sair do chão - VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SP - 31/01
Números de emprego, salários e consumo são bons; mas não dá para melhorar sem crescer mais
DILMA ROUSSEFF ontem fez festa com os números do emprego. Publicou vários "tuítes", no Twitter, a respeito da baixa do desemprego, do aumento da ocupação e das várias melhorias qualitativas do mercado de trabalho. É tudo verdade.
A presidente comparava, de resto, os números de agora aos de 2003, "quando assumimos [o PT] o governo".
Nos últimos dois anos do governo FHC (2001-02) e nos dois primeiros de Lula (2003-04), a taxa de desemprego teve picos horríveis de 13%. O desemprego ainda flutuaria em torno de 10% até meados de 2007. Foi então que a taxa começou a descer a ladeira até chegar aos minúsculos 4,3% de dezembro passado, ou de 5,4% na média do ano, as menores da história conhecida (desde 2002).
O desemprego caiu ainda mais rapidamente depois da recessão de 2009, com o crescimento fenomenal e exorbitante de 7,5% de 2010, com o aumento do crédito, em particular do crédito concedido por bancos públicos. Mais adiante, a partir de 2011, o governo passaria a ter mais deficit, os juros básicos baixariam a níveis também historicamente baixos.
Foi também a partir de 2008 que a inflação se tornou persistentemente alta e chatinha. No mesmo ano, o país voltou a registrar deficit em conta-corrente (a comprar mais bens e serviços do que vendê-los no exterior). Inflação persistente, relativamente alta, e deficit em conta-corrente são sinais de algum excesso de consumo.
Não, não se pretende aqui dizer que desemprego baixo e salários melhores sempre acabam em inflação e deficit preocupantes. Em parte, porém, foi isso mesmo o que aconteceu.
A proporção precisa de desemprego e inflação é uma mistura da alquimia econômica praticamente impossível de calcular. Porém, ainda que incalculável e mesmo que não se acredite nessas taxas magicamente equilibradas, elas existem, como as bruxas. A prova do pudim é comê-lo. Descontadas eventuais desgraças econômicas (como choques de escassez, de petróleo ou comida, por exemplo), desemprego baixo além da conta dá em inflação.
Não se trata de uma maldição. É possível ter taxas menores de desemprego com inflação mais baixa, desde que a produtividade da economia seja maior (fazer mais com menos, fazer "mais barato"). Como aumentar a produtividade geral da economia é outra pesquisa quase mística, digamos, uma espécie de Santo Graal dos economistas. Mas, mesmo bem longe da perfeição, sabe-se o bastante sobre o assunto, sobre aumento de produtividade.
Investir em mais equipamentos e máquinas, de preferência tecnologicamente mais avançados, ajuda bem. Diminuir custos de transporte e outros relacionados com uma infraestrutura melhor ajuda bem. Para tanto, é preciso uma aplicação mais balanceada dos recursos da economia, uma dosagem melhor de consumo e investimento, dosagem que não sai bonitinha de uma planilha de cálculos, mas que existe, como as bruxas.
Temos exagerado para mais ou menos em todas as doses: gastos, juros, inflação, salários, investimento, poupança, crédito. A taxa de crescimento da economia é cadente, assim como a de consumo, salários e, agora, da população ocupada. Não, não houve desastre. Mas não é possível sair do chão puxando os cabelos, como temos tentado fazer.
Números de emprego, salários e consumo são bons; mas não dá para melhorar sem crescer mais
DILMA ROUSSEFF ontem fez festa com os números do emprego. Publicou vários "tuítes", no Twitter, a respeito da baixa do desemprego, do aumento da ocupação e das várias melhorias qualitativas do mercado de trabalho. É tudo verdade.
A presidente comparava, de resto, os números de agora aos de 2003, "quando assumimos [o PT] o governo".
Nos últimos dois anos do governo FHC (2001-02) e nos dois primeiros de Lula (2003-04), a taxa de desemprego teve picos horríveis de 13%. O desemprego ainda flutuaria em torno de 10% até meados de 2007. Foi então que a taxa começou a descer a ladeira até chegar aos minúsculos 4,3% de dezembro passado, ou de 5,4% na média do ano, as menores da história conhecida (desde 2002).
O desemprego caiu ainda mais rapidamente depois da recessão de 2009, com o crescimento fenomenal e exorbitante de 7,5% de 2010, com o aumento do crédito, em particular do crédito concedido por bancos públicos. Mais adiante, a partir de 2011, o governo passaria a ter mais deficit, os juros básicos baixariam a níveis também historicamente baixos.
Foi também a partir de 2008 que a inflação se tornou persistentemente alta e chatinha. No mesmo ano, o país voltou a registrar deficit em conta-corrente (a comprar mais bens e serviços do que vendê-los no exterior). Inflação persistente, relativamente alta, e deficit em conta-corrente são sinais de algum excesso de consumo.
Não, não se pretende aqui dizer que desemprego baixo e salários melhores sempre acabam em inflação e deficit preocupantes. Em parte, porém, foi isso mesmo o que aconteceu.
A proporção precisa de desemprego e inflação é uma mistura da alquimia econômica praticamente impossível de calcular. Porém, ainda que incalculável e mesmo que não se acredite nessas taxas magicamente equilibradas, elas existem, como as bruxas. A prova do pudim é comê-lo. Descontadas eventuais desgraças econômicas (como choques de escassez, de petróleo ou comida, por exemplo), desemprego baixo além da conta dá em inflação.
Não se trata de uma maldição. É possível ter taxas menores de desemprego com inflação mais baixa, desde que a produtividade da economia seja maior (fazer mais com menos, fazer "mais barato"). Como aumentar a produtividade geral da economia é outra pesquisa quase mística, digamos, uma espécie de Santo Graal dos economistas. Mas, mesmo bem longe da perfeição, sabe-se o bastante sobre o assunto, sobre aumento de produtividade.
Investir em mais equipamentos e máquinas, de preferência tecnologicamente mais avançados, ajuda bem. Diminuir custos de transporte e outros relacionados com uma infraestrutura melhor ajuda bem. Para tanto, é preciso uma aplicação mais balanceada dos recursos da economia, uma dosagem melhor de consumo e investimento, dosagem que não sai bonitinha de uma planilha de cálculos, mas que existe, como as bruxas.
Temos exagerado para mais ou menos em todas as doses: gastos, juros, inflação, salários, investimento, poupança, crédito. A taxa de crescimento da economia é cadente, assim como a de consumo, salários e, agora, da população ocupada. Não, não houve desastre. Mas não é possível sair do chão puxando os cabelos, como temos tentado fazer.
Formas de devaneios - MILTON HATOUM
Estado de S.Paulo - 31/01
Tia Tâmara zelava tanto por suas joias e baixela de prata que só raramente as usava. Guardava os recipientes e peças na cristaleira da sala, como se fossem troféus de grandes conquistas. Ninguém podia sequer abrir a porta de vidro, nem mesmo tio Adam, o marido de Tâmara. Quando ele recebia amigos, ela mostrava a casa aos visitantes e parava diante da cristaleira, que era o ápice da visita, espécie de apoteose de uma cerimônia da província.
Mas nas minhas visitas, Tâmara ficava tensa, vigilante, me enxotava da sala e me ordenava a catar mangas, jambos e sapotis no quintal. A proibição me impelia à transgressão, e quando Tâmara ia à cozinha, eu me aproximava da cristaleira para espiar os totens de prata. Os talheres, sopeiras e molheiras não me atraíam, mas os caracóis e cavalos-marinhos, sim. Ali, ao meu alcance, pareciam tão perfeitos e vivos, que eu conversava com eles e os acariciava com a ponta dos dedos. Sonhava com o oceano distante, sentia cheiro de maresia e perguntava aos seres marinhos se um dia brincaríamos juntos na beira de uma praia. Eles me olhavam com tristeza, e o brilho da prata esmaecia. Às vezes ficávamos em silêncio, trocando olhares de amigos cativos, até ouvirmos o grito agudo da guardiã do tesouro.
Uma manhã, a cristaleira amanheceu vazia. Inconformada com o roubo, Tâmara injuriava a polícia e o marido, cujo ar blasé a irritava. Meus tios eram primos irmãos, e essa promiscuidade de clã afetava três gerações de parentes, comuns a duas famílias. Tâmara dizia que as peças de prata eram insubstituíveis, evitava entrar na sala nua, o roubo era um desrespeito à memória de sua querida avó, que comprara o tesouro de uma família portuguesa, riquíssima até 1912, mas em franca decadência no decênio seguinte.
De fato, a cristaleira perdera sua magia. O ladrão roubara meus sonhos marítimos, minhas conversas com seres inofensivos, enclausurados numa caixa de vidro. Odiei esse ladrão de devaneios.
Uns dois anos depois do roubo, Tâmara e Adam foram passar o carnaval em Belém. Voltaram a Manaus na noite de uma Quarta-feira de Cinzas. Cansados da viagem de barco e da folia paraense, subiram a escada e entraram no quarto, mas só Adam dormiu. Tâmara - conforme nos contou depois - sentiu o sopro de um milagre, saiu da cama, desceu de mansinho e parou num dos cantos da sala; pensou que estava sonhando e acordou aos gritos o marido, um sonhador inato. Adam desceu a escada com passos de sonâmbulo e viu o que eu veria no dia seguinte: os berloques e as peças da baixela arrumados no mesmo lugar da cristaleira.
Não sei por que, o fascínio pelos pequenos seres prateados arrefeceu. Não me pareciam tão vivos como antes do roubo. Alguma coisa tinha acontecido com eles ou comigo. A infância procurava outras formas de solidão, os devaneios haviam migrado da cristaleira às páginas de um livro, habitados por seres mais verdadeiros.
Tempos depois, tio Ghodor, um dos irmãos de Adam, me revelou essa história: Adam, endividado e desesperado por ter falido mais uma vez, simulou o roubo da prataria. Na verdade, pediu um empréstimo a um agiota e, como garantia, entregou as peças de prata ao usurário. Fez isso à revelia de todos os membros dos dois clãs.
E quem pagou a dívida? Tia Tâmara soube disso?
"Ninguém soube, só eu", disse Ghodor. "Por que eu quitei a dívida: paguei 24 parcelas, com juros absurdos. Quer dizer, paguei para o agiota, porque se desse o dinheiro para Adam, o colecionador de fracassos abriria outro negócio desastroso. E ainda paguei a viagem do casal a Belém, porque teu tio, com aquela pose de magnata bondoso, não tinha dinheiro nem para ir ao Careiro da Várzea. Tâmara é uma alma simples... Não desconfiou de nada. Ela acabou acreditando num milagre. E tu sabes: contra a crença, não há argumentos."
Tia Tâmara zelava tanto por suas joias e baixela de prata que só raramente as usava. Guardava os recipientes e peças na cristaleira da sala, como se fossem troféus de grandes conquistas. Ninguém podia sequer abrir a porta de vidro, nem mesmo tio Adam, o marido de Tâmara. Quando ele recebia amigos, ela mostrava a casa aos visitantes e parava diante da cristaleira, que era o ápice da visita, espécie de apoteose de uma cerimônia da província.
Mas nas minhas visitas, Tâmara ficava tensa, vigilante, me enxotava da sala e me ordenava a catar mangas, jambos e sapotis no quintal. A proibição me impelia à transgressão, e quando Tâmara ia à cozinha, eu me aproximava da cristaleira para espiar os totens de prata. Os talheres, sopeiras e molheiras não me atraíam, mas os caracóis e cavalos-marinhos, sim. Ali, ao meu alcance, pareciam tão perfeitos e vivos, que eu conversava com eles e os acariciava com a ponta dos dedos. Sonhava com o oceano distante, sentia cheiro de maresia e perguntava aos seres marinhos se um dia brincaríamos juntos na beira de uma praia. Eles me olhavam com tristeza, e o brilho da prata esmaecia. Às vezes ficávamos em silêncio, trocando olhares de amigos cativos, até ouvirmos o grito agudo da guardiã do tesouro.
Uma manhã, a cristaleira amanheceu vazia. Inconformada com o roubo, Tâmara injuriava a polícia e o marido, cujo ar blasé a irritava. Meus tios eram primos irmãos, e essa promiscuidade de clã afetava três gerações de parentes, comuns a duas famílias. Tâmara dizia que as peças de prata eram insubstituíveis, evitava entrar na sala nua, o roubo era um desrespeito à memória de sua querida avó, que comprara o tesouro de uma família portuguesa, riquíssima até 1912, mas em franca decadência no decênio seguinte.
De fato, a cristaleira perdera sua magia. O ladrão roubara meus sonhos marítimos, minhas conversas com seres inofensivos, enclausurados numa caixa de vidro. Odiei esse ladrão de devaneios.
Uns dois anos depois do roubo, Tâmara e Adam foram passar o carnaval em Belém. Voltaram a Manaus na noite de uma Quarta-feira de Cinzas. Cansados da viagem de barco e da folia paraense, subiram a escada e entraram no quarto, mas só Adam dormiu. Tâmara - conforme nos contou depois - sentiu o sopro de um milagre, saiu da cama, desceu de mansinho e parou num dos cantos da sala; pensou que estava sonhando e acordou aos gritos o marido, um sonhador inato. Adam desceu a escada com passos de sonâmbulo e viu o que eu veria no dia seguinte: os berloques e as peças da baixela arrumados no mesmo lugar da cristaleira.
Não sei por que, o fascínio pelos pequenos seres prateados arrefeceu. Não me pareciam tão vivos como antes do roubo. Alguma coisa tinha acontecido com eles ou comigo. A infância procurava outras formas de solidão, os devaneios haviam migrado da cristaleira às páginas de um livro, habitados por seres mais verdadeiros.
Tempos depois, tio Ghodor, um dos irmãos de Adam, me revelou essa história: Adam, endividado e desesperado por ter falido mais uma vez, simulou o roubo da prataria. Na verdade, pediu um empréstimo a um agiota e, como garantia, entregou as peças de prata ao usurário. Fez isso à revelia de todos os membros dos dois clãs.
E quem pagou a dívida? Tia Tâmara soube disso?
"Ninguém soube, só eu", disse Ghodor. "Por que eu quitei a dívida: paguei 24 parcelas, com juros absurdos. Quer dizer, paguei para o agiota, porque se desse o dinheiro para Adam, o colecionador de fracassos abriria outro negócio desastroso. E ainda paguei a viagem do casal a Belém, porque teu tio, com aquela pose de magnata bondoso, não tinha dinheiro nem para ir ao Careiro da Várzea. Tâmara é uma alma simples... Não desconfiou de nada. Ela acabou acreditando num milagre. E tu sabes: contra a crença, não há argumentos."
Ueba! Errar é o Mano! - JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SP - 31/01
O Corinthians perdeu de 5 a 1 pro Santos! Como disse aquele santista: 'Cinco muito'. Rarará!
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Manchete do Piauí Herald: "Álbum de figurinhas da Copa só ficará pronto em novembro". Pacote com três figurinhas vai custar R$ 650! Rarará!
E sabe como eu vou colar as figurinhas dos jogadores da Argentina? Tudo de cabeça pra baixo! Pra dar zica. Zica Padrão Fifa!
E adorei a charge do Sinfronio com o black bloc pichando o muro. No muro, estava escrito Copa Fifa. E aí ele pixou e ficou: COPA PIFA!
E esse cartaz do torcedor: "Amor, não fui trabalhar. Estou em Quito. Vamos, Fogão". Melhor recado do dia. Volta derrotado, desempregado e sem mulher. Apanhou em Quito e vai apanhar na volta pra casa!
E esses ônibus incendiados em São Paulo? São João fora de época? Agora em São Paulo temos os ônibus articulados, biarticulados e queimados.
E um amigo pediu pra eles queimarem o seu Chevette 1984, ele agradece! Rarará!
Falando em queimados, e o Timão? O Corinthians perdeu de 5 a 1 pro Santos! Como disse aquele santista: "Cinco muito!". Rarará! Tá perdendo de tudo quanto é bicho: de cachorro São Bernardo, peixe! Errar é o Mano e perder tudo é corintiano. E prometo nunca mais fazer trocadilho com Mano!
E o site Futirinhas tem uma fotomontagem do Sheik com o Pato. Sheik: "Acorda, amor, já são seis". E o Pato: "O que? Mais um gol do Santos?".
E a torcida do Santos? Sabe onde a torcida do Santos foi comemorar? No baile da Melhor Idade! Sabe dançando juntinho? Dois pra cá e três pra lá? E sabe qual a semelhança entre o Corinthians e o Bin Laden? Ambos viraram comida de peixe! Peixe, nem no Ceasa. O mar não tá pra peixe!
E o tuiteiro Jorge Miranda me disse que o pai do Neymar virou o pay do Neymar. Rarará!
É mole? É mole, mas sobe!
Os Predestinados! Sabe como se chama o ex-primeiro ministro da Ucrânia? Mycola AZAROV! E direto de Vitória, Espírito Santo, o treinador de armamento e tiro: Adriano MATTOS PINTO! O alvo não podia ser em outro lugar? Rarará!
E essa funcionaria da empresa Keppel de plataformas marítimas: Márcia Maria Bóia Altomar! Predestinadíssima! Rarará!
Nóis sofre, mas nóis goza. Hoje, só amanhã.
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
O Corinthians perdeu de 5 a 1 pro Santos! Como disse aquele santista: 'Cinco muito'. Rarará!
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Manchete do Piauí Herald: "Álbum de figurinhas da Copa só ficará pronto em novembro". Pacote com três figurinhas vai custar R$ 650! Rarará!
E sabe como eu vou colar as figurinhas dos jogadores da Argentina? Tudo de cabeça pra baixo! Pra dar zica. Zica Padrão Fifa!
E adorei a charge do Sinfronio com o black bloc pichando o muro. No muro, estava escrito Copa Fifa. E aí ele pixou e ficou: COPA PIFA!
E esse cartaz do torcedor: "Amor, não fui trabalhar. Estou em Quito. Vamos, Fogão". Melhor recado do dia. Volta derrotado, desempregado e sem mulher. Apanhou em Quito e vai apanhar na volta pra casa!
E esses ônibus incendiados em São Paulo? São João fora de época? Agora em São Paulo temos os ônibus articulados, biarticulados e queimados.
E um amigo pediu pra eles queimarem o seu Chevette 1984, ele agradece! Rarará!
Falando em queimados, e o Timão? O Corinthians perdeu de 5 a 1 pro Santos! Como disse aquele santista: "Cinco muito!". Rarará! Tá perdendo de tudo quanto é bicho: de cachorro São Bernardo, peixe! Errar é o Mano e perder tudo é corintiano. E prometo nunca mais fazer trocadilho com Mano!
E o site Futirinhas tem uma fotomontagem do Sheik com o Pato. Sheik: "Acorda, amor, já são seis". E o Pato: "O que? Mais um gol do Santos?".
E a torcida do Santos? Sabe onde a torcida do Santos foi comemorar? No baile da Melhor Idade! Sabe dançando juntinho? Dois pra cá e três pra lá? E sabe qual a semelhança entre o Corinthians e o Bin Laden? Ambos viraram comida de peixe! Peixe, nem no Ceasa. O mar não tá pra peixe!
E o tuiteiro Jorge Miranda me disse que o pai do Neymar virou o pay do Neymar. Rarará!
É mole? É mole, mas sobe!
Os Predestinados! Sabe como se chama o ex-primeiro ministro da Ucrânia? Mycola AZAROV! E direto de Vitória, Espírito Santo, o treinador de armamento e tiro: Adriano MATTOS PINTO! O alvo não podia ser em outro lugar? Rarará!
E essa funcionaria da empresa Keppel de plataformas marítimas: Márcia Maria Bóia Altomar! Predestinadíssima! Rarará!
Nóis sofre, mas nóis goza. Hoje, só amanhã.
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
Trens sem aumento - ANCELMO GOIS
O GLOBO - 31/01
Além do futebol
Veja como os estádios construídos para a Copa já nascem de olho em negócios além do futebol. A OAS Arenas, que administra a Arena das Dunas, em Natal, recebeu 28 pedidos para realização de eventos em 2014. Entre eles, estão um show da banda Jota Quest e o Carnatal.
Aliás...
Será no Maracanã o esquenta do carnaval da Brahma deste ano. A cervejaria está preparando uma festança onde reunirá celebridades e estrelas do futebol no dia 18 agora. O estádio ficará com a iluminação toda vermelha.
De volta
Spike Lee volta ao Rio em fevereiro para finalizar seu documentário sobre o Brasil. Entrevistará Milton Nascimento.
Vinicius 23
As ruas do Rio passarão a ser numeradas. A ideia é facilitar a vida dos cariocas e, principalmente, a dos turistas. As novas placas com o nome e o número das ruas, como esta acima da Vinicius de Moraes, começam a ser instaladas agora, em fevereiro.
Do Leme ao Leblon...
O prefeito Eduardo Paes decidiu iniciar a colocação das placas pela orla, do Leme ao Leblon, mas depois quer estender para outros bairros.
MAIS SEGURANÇA
O consulado geral dos EUA no Rio está gradeando sua sede na Avenida Presidente Wilson, no Centro. O objetivo é aumentar a segurança. Com autorização da prefeitura, a grade vai avançar sobre a calçada. A assessoria de imprensa do consulado nega que a expansão tenha a ver com a onda de protestos do ano passado. "São diretrizes mundiais de segurança estipuladas pelo Departamento de Estado para postos diplomáticos norte-americanos em todo o mundo", explica a assessoria
UPP em Londres
O jornalão britânico "The Guardian" pediu aos produtores de "5xpacificação" uma cópia do documentário, que fala sobre as UPPs no Rio, feito por moradores das favelas. O filme vai fazer parte do acervo do site do jornal.
O rei da pista
A Zahar comprou os direitos do livro "Le freak: an upside down story of family, disco and destiny", do músico e produtor Nile Rodgers. Rodgers, autor de clássicos das pistas de dança, conta os bastidores de sua carreira, fala sobre drogas, vida pessoal, sua relação com os músicos e também a superação de um câncer. Deverá ser lançado em 2015.
Lei Roberto Carlos
De Leny Andrade, que gravou um CD só com músicas de Roberto Carlos em espanhol, falando sobre a posição do Rei a favor das biografias autorizadas: - Acho isso uma bobagem. Sou totalmente a favor das biografias não autorizadas.
Como se sabe, o STF deve julgar se libera ou não as biografias nos próximos meses.
A farda do imortal
O escritor Antônio Torres experimentou, ontem, o fardão para sua posse, dia 11 de março, na ABL, no lugar de nosso saudoso Luiz Paulo Horta. A vestimenta, que custa uns R$ 60 mil, foi paga pelo governo da Bahia. Aliás, o livro "Essa Terra", do futuro imortal, será o tema da inauguração da Biblioteca Estação Leitura, na Estação Central do Metrô do Rio, em fevereiro.
Dor de mãe
O grupo Mães Pela Igualdade, formado em sua maioria por mães de LGBTs que já sofreram discriminação e violência homofóbica, fará, hoje, um ato pela criminalização da homofobia e da transfobia, às 18h, na Cinelândia. É que, só neste ano, 34 LGBTs já foram assassinados no Brasil.
Biblioteca Scarlet
Os filhos de Scarlet Moon doaram o acervo de livros da coleguinha para uma escola pública. São quase mil exemplares, entre eles livros de Rubem Fonseca autografados. Ficarão na Escola Estadual João Cabral de Melo Neto, no Méier.
De bondinho
Dom Orani Tempesta vai levar, na próxima quarta, 97 bispos, de todo o Brasil, para um passeio no Pão de Açúcar, no Rio. Dias depois, como se sabe, dom Orani será empossado cardeal, no Vaticano.
Adeus, Ipanema
O Bloco AfroReggae vai desfilar na Av. Rio Branco, no Centro do Rio, a partir deste carnaval. É que passou a atrair muita gente. Até o ano passado, a turma saía na Av. Vieira Souto, em Ipanema.
UM POUCO MAIS - MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 31/01
EQUIPE
Do total de R$ 8 bilhões já orçados para o TJ-SP em 2014, mais de 90% são destinados ao pagamento de pessoal. A Justiça tem 2.400 juízes e 50 mil funcionários.
DO CORAÇÃO
A Rede e o PSB não devem lançar candidato ao Senado em SP. Marina Silva já decidiu que pedirá voto para Eduardo Suplicy (PT-SP).
EM CASA
Luiza Erundina (PSB-SP), até então citada como possível candidata ao Senado, deve disputar novamente vaga para a Câmara dos Deputados. Pedro Dallari segue como nome cotado para disputar o governo do Estado.
COM TODOS
E, depois de lançar programa em Brasília no dia 4, a Rede e o PSB preparam reunião em São Paulo com potenciais aliados e movimentos sociais. Estão sendo chamados PPS e PV.
DESFALQUE
A regente titular da Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de SP), Marin Alsop, teve que cancelar às pressas a vinda para os concertos de pré-temporada. A mãe dela morreu na semana passada e, agora, o pai está internado em estado grave, nos Estados Unidos. Com a ausência da americana, o maestro Roberto Tibiriçá foi chamado para reger a Osesp nas apresentações marcadas para a capital e em uma turnê por cinco cidades do interior.
CARÃO
O fotógrafo peruano Mario Testino terá exposição individual em São Paulo. "In your Face" chegará em agosto à Faap depois de passar pelo Malba (Buenos Aires) e por Boston (EUA) no ano passado. São 150 fotos "de várias épocas da carreira dele, tanto de modelos como de celebridades", diz Pieter Tjabbes, organizador da mostra.
OUVIU BEM?
Dilma Rousseff fez aquela festa ao se encontrar com o escritor Fernando Morais no lobby de um hotel em Havana, Cuba. "Adoro os seus livros", disse. Cumprimentou outras pessoas, voltou-se de novo para ele: "Eu sou sua macaca de auditório".
ANTI-BLACK BLOC
O projeto de lei que proíbe máscaras em manifestações será um dos primeiros a ir a votação na Assembleia Legislativa na volta do recesso, segundo o deputado Campos Machado (PTB-SP). O autor do texto diz já ter o apoio dos líderes partidários. "Recortei as notícias do protesto de sábado [contra a Copa] e mandei para eles. O povo está me pressionando. Ninguém aguenta mais o vandalismo, a inconsequência."
DOIS TEMPOS
Moraes Moreira lança em fevereiro, pela Discobertas, uma caixa de quatro CDs reunindo originais que fez nos anos 1970. Pepeu Gomes e A Cor do Som têm participação em muitas faixas --para lembrar os tempos pré-axé music, quando eram eles que animavam os trios elétricos.
SAMBA A DOIS
O príncipe de Mônaco, Andrea Casiraghi, e Tatiana Santo Domingo contrataram a cantora Mart'nália para embalar o seu casamento amanhã em Gstaad, na Suíça. Os dois, que já se uniram no civil no ano passado, fizeram o convite à filha de Martinho da Vila há três anos. "O único pedido é que seja um show bem brasileiro, com samba", diz Marcia Alvarez, empresária da artista.
MAR E TERRA
Depois de brilhar no prêmio Bola de Ouro da Fifa, a top Adriana Lima, 32, quer tempo para curtir as duas filhas, Valentina, 4, e Sienna, 1.
A baiana, que mora nos Estados Unidos, quer fazer uma viagem para algum lugar quente. "Acabei de comprar um iate Zeelander e mal posso esperar para viajar nele e passar o tempo com a minha família em alto-mar!", disse ela à "Harper's Bazaar".
A edição de fevereiro, que traz a top na capa, chega hoje às bancas. "Nada é mais sexy do que uma boca vermelha", declarou ela, sensual também com batom cor de boca.
TOMANDO PARTIDO
A especialista em marketing político Cila Schulman abriu seu apartamento nos Jardins para o lançamento do Projeto Sonho Brasileiro da Política, anteontem. Uma das idealizadoras da ação, que pretende pesquisar a relação de jovens com a política, a advogada Marcella Monteiro de Barros falou a convidados como o cientista político Luiz Felipe d'Avila, com a mulher, Ana Maria Diniz. O presidente da GVT, Amos Genish, e sua mulher, Heloísa, também foram ao evento.
DE REPENTE CINQUENTÃO
O apresentador do "Video Show" e colunista da Folha Zeca Camargo lançou anteontem o livro "50, Eu?", na livraria Saraiva do shopping Pátio Higienópolis. O escritor Alberto Villas e a atriz Eliete Cigaarini estiveram na noite de autógrafos.
CURTO-CIRCUITO
A professora Lúcia Camargo, da SP Escola de Teatro, entrou para o júri paulista do Prêmio Shell.
O espetáculo "Florilégio Musical II - Nas Ondas do Rádio" reestreia no Teatro Eva Herz, hoje, às 21h. Livre.
Alessandro Penezzi faz show no Sesc Belenzinho, hoje, às 21h. 12 anos.
O chef Tsuyoshi Murakami, do Kinoshita, cozinha em festival gastronômico neste fim de semana no Sofitel Guarujá Jequitimar.
Regis Figueiredo canta no bar Olaria, no Paraíso, hoje, a partir das 19h. 14 anos.
Vem aí o jornal do PT - ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 31/01
O significado da mudança
A saída da ministra Helena Chagas da Secretaria de Comunicação gera interrogações que explicam a mudança. A primeira: no ano eleitoral, a mídia técnica será mantida na destinação das verbas publicitárias? A segunda: o projeto de regulação da mídia será desengavetado? No mais, o PT queria o lugar. E o ex-ministro Antonio Palocci emplacou o afilhado. Assessores do Planalto relatam que ela já havia colocado o cargo à disposição em novembro. Um ministro próximo a presidente Dilma comentou: “Ela já estava querendo ir embora. O vazamento não foi bom para o Thomas Traumann e foi péssimo para a Helena”.
“Para o PROS, melhor do que se equiparar ao lugar comum do fisiologismo é ter acesso ao governo, reforçar o bloco com o PP e ter como foco o crescimento nas eleições”
Cid Gomes
Governador do Ceará (PROS), sobre a reforma ministerial
Tensão
É grande a inquietação no PMDB com a demora da presidente Dilma em definir seu espaço na reforma ministerial. O partido também não se conforma porque o partido não terá uma pasta a mais. O vice Michel Temer está sob pressão.
Espiritualidade
O médium João de Deus, que atende na Casa Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia (GO), foi chamado ao Rio, ontem, pelo senador Aécio Neves (PSDB). Nesses dias, sob seus cuidados, participam de uma imersão as atrizes Juliana Paes e Cláudia Abreu. O senador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF) também fez consulta ontem com o médium.
Rádio corredor
Ex-presidente da Apex e assessor especial da Presidência, Alessandro Teixeira deixará o Planalto nas próximas semanas para trabalhar na campanha à reeleição da presidente Dilma.
O candidato de Pimentel
O ministro Fernando Pimentel defende uma solução doméstica para substituí-lo na pasta do Desenvolvimento. Seu nome é o do presidente da ABDI, Mauro Borges Lemos, seu amigo há cerca de 30 anos. E foi um dos formuladores das políticas do ministério nesses três anos. Sua nomeação estaria apenas à espera de um sinal verde do PT.
Pegadinha
O novo ministro José Henrique Paim (Educação) brincou dia desses com sua equipe. Ele anunciou: “A presidente Dilma me convidou”. Foi uma festa. Em seguida, ele complementou, rindo: “Para a inauguração do Beira-Rio. Peguei vocês”.
Na telinha
A ex-prefeita de Fortaleza Luizianne Lins (PT) terá um programa diário de entrevistas numa TV do Ceará. Ela já deixou o Rio e se prepara para estrear no novo emprego. A emissora, União, não transmite a programação de redes nacionais.
O CANDIDATO DO PSOL ao governo do Rio é o professor do Colégio Pedro II Tarcísio Motta. O PSOL quer dobrar sua bancada na Câmara e na Assembleia.
Saideira em casa - VERA MAGALHÃES - PAINEL
FOLHA DE SP - 31/01
Às vésperas de deixar a Casa Civil, Gleisi Hoffmann fará a última viagem como ministra à sua base eleitoral: ela entrega 600 unidades do programa Minha Casa, Minha Vida amanhã em Umuarama, na região noroeste do Paraná. Na segunda-feira, a petista deixa o cargo para disputar a eleição para o governo do Estado. Ela vai percorrer vários municípios, assim como o colega paulista Alexandre Padilha, e reassumirá a cadeira no Senado pelo menos até o início da campanha.
Pavimento Hoje a titular da Casa Civil vai ao Ministério dos Transportes para assinar os contratos de concessão das rodovias BR-060, BR-153 e BR-262. O programa foi um dos carros-chefes da gestão da ministra.
Selado A mudança na Secretaria de Comunicação Social do Planalto estava em estudo por Dilma Rousseff desde o fim de 2013. Mas a troca só foi decidida antes de a presidente embarcar para Davos, na semana passada.
Test drive 1 Auxiliares de Dilma lembram que, após o susto das manifestações de rua, em junho do ano passado, o Planalto precisou montar uma estrutura para fazer a interlocução com os movimentos e reestruturar sua ação nas redes sociais, o chamado gabinete digital.
Test drive 2 A equipe ficou sob comando do porta-voz da Presidência, Thomas Traumann, que vai assumir a Secom, e de Valdir Simão, que caiu nas graças de Dilma e será o novo secretário-executivo da Casa Civil.
Time Além de Franklin Martins e João Santana, o nome de Traumann foi defendido para a vaga por Aloizio Mercadante, um dos mais próximos ministros de Dilma.
Sem bênção Diferentemente do que fez com Fernando Haddad quando o pupilo deixou o MEC para se candidatar à Prefeitura de São Paulo, Lula não irá à cerimônia de despedida dos ministros-candidatos, segunda.
Personalizado Mas o ex-presidente já confirmou presença no dia 8 na primeira parada da caravana de Alexandre Padilha, em Ribeirão Preto. Lula e o pré-candidato, indicado por ele, devem ter uma conversa mais alentada antes do evento público.
Com lupa O Metrô de São Paulo suspendeu por 90 dias os contratos de reforma de 98 trens das linhas 1 e 3, estimados em R$ 2,5 bilhões. O Ministério Público quer investigar indícios de superfaturamento envolvendo o cartel denunciado pela Siemens.
Parceiro O Metrô disse à promotoria que não identificou vícios nos contratos, mas decidiu suspendê-los para colaborar com a apuração.
Workshop O Planalto chamou donos de shoppings populares em vários Estados, nos quais os rolezinhos são tolerados e geralmente pacíficos, para se inteirar sobre o fenômeno e a estratégia dos estabelecimentos para conviver com os grupos de jovens.
Cartão... Representantes do Itaquerão se reúnem hoje com o Ministério das Comunicações e com a Anatel. Levarão advertência do governo pelo atraso para permitir que as operadoras de telefonia façam as obras para a instalação da infraestrutura de telefonia 4G e internet.
... vermelho As teles dizem que será inviável cumprir os prazos estabelecidos se só puderem realizar as obras quando o estádio ficar pronto, em março.
Visita à Folha Luiz Fernando Pinto Veiga, presidente da Abrasce (Associação Brasileira de Shopping Centers) visitou anteontem a Folha. Estava com Cleber Martins e Ricardo Bonatelli, assessores de comunicação.
tiroteio
"A forma como Padilha trata os recursos do ministério lembra uma grande família, onde o mais importante é dividir o bolo em casa."
DO VEREADOR FLORIANO PESARO (PSDB-SP), sobre o convênio de R$ 199,8 mil que Alexandre Padilha (Saúde) assinou com uma ONG fundada por seu pai.
contraponto
La garantía soy yo
Fidel Castro recebeu um grupo de artistas brasileiros em Cuba em meados dos anos 90, pouco depois do lançamento do Plano Real. O líder cubano pediu para ver uma cédula da nova moeda. Fidel olhou a efígie da República na nota e disse à cantora Beth Carvalho:
--Essa mulher é branca e tem um nariz grego. O país de vocês não é miscigenado? Essa nota é racista.
Depois, colocou a nota na mesa e discursou:
--O peso cubano não vale nada. Quando Che Guevara era ministro, ele assinou alguns pesos cubanos e eles passaram a valer. Com o dinheiro, construí um hospital!
Às vésperas de deixar a Casa Civil, Gleisi Hoffmann fará a última viagem como ministra à sua base eleitoral: ela entrega 600 unidades do programa Minha Casa, Minha Vida amanhã em Umuarama, na região noroeste do Paraná. Na segunda-feira, a petista deixa o cargo para disputar a eleição para o governo do Estado. Ela vai percorrer vários municípios, assim como o colega paulista Alexandre Padilha, e reassumirá a cadeira no Senado pelo menos até o início da campanha.
Pavimento Hoje a titular da Casa Civil vai ao Ministério dos Transportes para assinar os contratos de concessão das rodovias BR-060, BR-153 e BR-262. O programa foi um dos carros-chefes da gestão da ministra.
Selado A mudança na Secretaria de Comunicação Social do Planalto estava em estudo por Dilma Rousseff desde o fim de 2013. Mas a troca só foi decidida antes de a presidente embarcar para Davos, na semana passada.
Test drive 1 Auxiliares de Dilma lembram que, após o susto das manifestações de rua, em junho do ano passado, o Planalto precisou montar uma estrutura para fazer a interlocução com os movimentos e reestruturar sua ação nas redes sociais, o chamado gabinete digital.
Test drive 2 A equipe ficou sob comando do porta-voz da Presidência, Thomas Traumann, que vai assumir a Secom, e de Valdir Simão, que caiu nas graças de Dilma e será o novo secretário-executivo da Casa Civil.
Time Além de Franklin Martins e João Santana, o nome de Traumann foi defendido para a vaga por Aloizio Mercadante, um dos mais próximos ministros de Dilma.
Sem bênção Diferentemente do que fez com Fernando Haddad quando o pupilo deixou o MEC para se candidatar à Prefeitura de São Paulo, Lula não irá à cerimônia de despedida dos ministros-candidatos, segunda.
Personalizado Mas o ex-presidente já confirmou presença no dia 8 na primeira parada da caravana de Alexandre Padilha, em Ribeirão Preto. Lula e o pré-candidato, indicado por ele, devem ter uma conversa mais alentada antes do evento público.
Com lupa O Metrô de São Paulo suspendeu por 90 dias os contratos de reforma de 98 trens das linhas 1 e 3, estimados em R$ 2,5 bilhões. O Ministério Público quer investigar indícios de superfaturamento envolvendo o cartel denunciado pela Siemens.
Parceiro O Metrô disse à promotoria que não identificou vícios nos contratos, mas decidiu suspendê-los para colaborar com a apuração.
Workshop O Planalto chamou donos de shoppings populares em vários Estados, nos quais os rolezinhos são tolerados e geralmente pacíficos, para se inteirar sobre o fenômeno e a estratégia dos estabelecimentos para conviver com os grupos de jovens.
Cartão... Representantes do Itaquerão se reúnem hoje com o Ministério das Comunicações e com a Anatel. Levarão advertência do governo pelo atraso para permitir que as operadoras de telefonia façam as obras para a instalação da infraestrutura de telefonia 4G e internet.
... vermelho As teles dizem que será inviável cumprir os prazos estabelecidos se só puderem realizar as obras quando o estádio ficar pronto, em março.
Visita à Folha Luiz Fernando Pinto Veiga, presidente da Abrasce (Associação Brasileira de Shopping Centers) visitou anteontem a Folha. Estava com Cleber Martins e Ricardo Bonatelli, assessores de comunicação.
tiroteio
"A forma como Padilha trata os recursos do ministério lembra uma grande família, onde o mais importante é dividir o bolo em casa."
DO VEREADOR FLORIANO PESARO (PSDB-SP), sobre o convênio de R$ 199,8 mil que Alexandre Padilha (Saúde) assinou com uma ONG fundada por seu pai.
contraponto
La garantía soy yo
Fidel Castro recebeu um grupo de artistas brasileiros em Cuba em meados dos anos 90, pouco depois do lançamento do Plano Real. O líder cubano pediu para ver uma cédula da nova moeda. Fidel olhou a efígie da República na nota e disse à cantora Beth Carvalho:
--Essa mulher é branca e tem um nariz grego. O país de vocês não é miscigenado? Essa nota é racista.
Depois, colocou a nota na mesa e discursou:
--O peso cubano não vale nada. Quando Che Guevara era ministro, ele assinou alguns pesos cubanos e eles passaram a valer. Com o dinheiro, construí um hospital!
PT.com/Lula - DENISE ROTHENBURG
CORREIO BRAZILIENSE - 31/01
Demorou seis meses, mas o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o PT finalmente entenderam que, para atingir o público que lotou as ruas em junho do ano passado e que tem marcado rolezinhos nos shoppings de todo o país, não adianta infiltrar militantes nas manifestações. É preciso falar com eles pelas redes sociais. Foi isso que o ex-presidente fez ontem, em um vídeo de pouco mais de sete minutos, postado em sua página oficial no Facebook.
Mais uma vez, Lula atacou a imprensa, ao dizer que acorda às 6h15 e é bombardeado com notícias de assaltos e mortes. “Será que não nasce uma criança, uma pessoa não é atendida no hospital?”, questiona ele. E pede o fim do jogo rasteiro na internet. “Eu tenho liberdade de pegar uma estrada e fazer uma viagem com minha família, mas se eu for irresponsável, eu posso matar alguém ou posso morrer”.
Um dos estrategistas da campanha do PT alertou, em conversa ontem com a coluna, sobre a importância das redes sociais este ano. “A internet terá um peso enorme nesta campanha, embora a propaganda de rádio e de televisão seja preponderante. Mas a influência das mídias sociais no debate político será bem maior do que foi em 2010”, confirmou o estrategista.
Teacher Obama
Apesar da aversão política a Obama — herdada desde os tempos de Lula e agravada após as espionagens promovidas pelo NSA, os petistas admitem que o presidente dos Estados Unidos soube, antes de todos os demais políticos do mundo, capitalizar o uso da internet em uma campanha eleitoral. Mas ressaltam: “Ele não cabalou votos. Usou as mídias sociais para conseguir financiamento e custear a campanha na televisão”.
Meio a meio
Articuladores da campanha dilmista reconhecem que, nos 40 dias destinados ao programa de rádio e televisão, os eleitores se interessam pelos primeiros 10, para conhecer as propostas dos candidatos, e pelos últimos 10, para sedimentar a decisão. Nesse intervalo, nem adianta caprichar muito que ninguém dá bola para a propaganda política.
Um brinco…
Depois da polêmica em torno da escala em Lisboa e da necessidade de descascar abacaxis para acomodar todos os aliados na reforma ministerial, a presidente Dilma Rousseff terá, pelo menos, um alento. Integrantes de uma cooperativa de catadores de lixo levaram ontem ao secretário geral da Presidência, ministro Gilberto Carvalho, um brinco para ser entregue à presidente.
…Que já foi bolsa
Ele é feito de plástico reciclado derivado de um cartão do bolsa-família entregue por um ex-beneficiário do programa. Em dezembro, na festa de Natal dos catadores de lixo de São Paulo, Dilma foi a um desfile em que uma das modelos usava saia e camiseta feitas com o mesmo material.
Faixa de Gaza I/Quanto mais a reforma ministerial demora, mais fratricida ela fica. Secretária executiva da Secretaria de Direitos Humanos, Patrícia Barcelos sonha em substituir a titular, Maria do Rosário, que será candidata a deputada. Mas vem apanhando do PT, que desejar emplacar lá a atual ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Ideli Salvatti.
Faixa de Gaza II/Prêmio para Ideli? Nada. A bancada do PT na Câmara quer na vaga de articulador político do governo o deputado Ricardo Berzoini (foto). Mas, se não der certo — há quem diga que não haveria espaço para ele e Mercadante (novo ministro da Casa Civil) no quarto andar do Planalto —, Berzoini poderia ser alojado no Ministério das Comunicações. Paulo Bernardo, titular da pasta, jura que não sabe de nada.
Faixa de Gaza III/Depois da substituição de Alexandre Padilha por Arthur Chioro no Ministério da Saúde, agora é a vez de a Fundação Nacional de Saúde (Funasa) tornar-se alvo de cobiça dos partidos, mais especificamente do PT e do PMDB. A autarquia, com um orçamento de R$ 2,5 bilhões, foi comandada por um peemedebista entre 2005 e 2010: Danilo Forte. Ele caiu sob a acusação de distribuir verbas para as bases eleitorais no Ceará. Foi eleito deputado federal com 100 mil votos.
Faixa de Gaza IV/ Com a queda de Danilo, o PT passou a comandar a autarquia. Agora, o PMDB quer retomar o espaço, já que poderá ter dificuldades para conseguir um novo posto no primeiro escalão. Mas, como o partido não se entende na indicação dos nomes, os petistas tentam convencer a presidente Dilma a manter tudo como está.
Demorou seis meses, mas o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o PT finalmente entenderam que, para atingir o público que lotou as ruas em junho do ano passado e que tem marcado rolezinhos nos shoppings de todo o país, não adianta infiltrar militantes nas manifestações. É preciso falar com eles pelas redes sociais. Foi isso que o ex-presidente fez ontem, em um vídeo de pouco mais de sete minutos, postado em sua página oficial no Facebook.
Mais uma vez, Lula atacou a imprensa, ao dizer que acorda às 6h15 e é bombardeado com notícias de assaltos e mortes. “Será que não nasce uma criança, uma pessoa não é atendida no hospital?”, questiona ele. E pede o fim do jogo rasteiro na internet. “Eu tenho liberdade de pegar uma estrada e fazer uma viagem com minha família, mas se eu for irresponsável, eu posso matar alguém ou posso morrer”.
Um dos estrategistas da campanha do PT alertou, em conversa ontem com a coluna, sobre a importância das redes sociais este ano. “A internet terá um peso enorme nesta campanha, embora a propaganda de rádio e de televisão seja preponderante. Mas a influência das mídias sociais no debate político será bem maior do que foi em 2010”, confirmou o estrategista.
Teacher Obama
Apesar da aversão política a Obama — herdada desde os tempos de Lula e agravada após as espionagens promovidas pelo NSA, os petistas admitem que o presidente dos Estados Unidos soube, antes de todos os demais políticos do mundo, capitalizar o uso da internet em uma campanha eleitoral. Mas ressaltam: “Ele não cabalou votos. Usou as mídias sociais para conseguir financiamento e custear a campanha na televisão”.
Meio a meio
Articuladores da campanha dilmista reconhecem que, nos 40 dias destinados ao programa de rádio e televisão, os eleitores se interessam pelos primeiros 10, para conhecer as propostas dos candidatos, e pelos últimos 10, para sedimentar a decisão. Nesse intervalo, nem adianta caprichar muito que ninguém dá bola para a propaganda política.
Um brinco…
Depois da polêmica em torno da escala em Lisboa e da necessidade de descascar abacaxis para acomodar todos os aliados na reforma ministerial, a presidente Dilma Rousseff terá, pelo menos, um alento. Integrantes de uma cooperativa de catadores de lixo levaram ontem ao secretário geral da Presidência, ministro Gilberto Carvalho, um brinco para ser entregue à presidente.
…Que já foi bolsa
Ele é feito de plástico reciclado derivado de um cartão do bolsa-família entregue por um ex-beneficiário do programa. Em dezembro, na festa de Natal dos catadores de lixo de São Paulo, Dilma foi a um desfile em que uma das modelos usava saia e camiseta feitas com o mesmo material.
Faixa de Gaza I/Quanto mais a reforma ministerial demora, mais fratricida ela fica. Secretária executiva da Secretaria de Direitos Humanos, Patrícia Barcelos sonha em substituir a titular, Maria do Rosário, que será candidata a deputada. Mas vem apanhando do PT, que desejar emplacar lá a atual ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Ideli Salvatti.
Faixa de Gaza II/Prêmio para Ideli? Nada. A bancada do PT na Câmara quer na vaga de articulador político do governo o deputado Ricardo Berzoini (foto). Mas, se não der certo — há quem diga que não haveria espaço para ele e Mercadante (novo ministro da Casa Civil) no quarto andar do Planalto —, Berzoini poderia ser alojado no Ministério das Comunicações. Paulo Bernardo, titular da pasta, jura que não sabe de nada.
Faixa de Gaza III/Depois da substituição de Alexandre Padilha por Arthur Chioro no Ministério da Saúde, agora é a vez de a Fundação Nacional de Saúde (Funasa) tornar-se alvo de cobiça dos partidos, mais especificamente do PT e do PMDB. A autarquia, com um orçamento de R$ 2,5 bilhões, foi comandada por um peemedebista entre 2005 e 2010: Danilo Forte. Ele caiu sob a acusação de distribuir verbas para as bases eleitorais no Ceará. Foi eleito deputado federal com 100 mil votos.
Faixa de Gaza IV/ Com a queda de Danilo, o PT passou a comandar a autarquia. Agora, o PMDB quer retomar o espaço, já que poderá ter dificuldades para conseguir um novo posto no primeiro escalão. Mas, como o partido não se entende na indicação dos nomes, os petistas tentam convencer a presidente Dilma a manter tudo como está.
Vale tudo mesmo? - PRISCILA PEREIRA PINTO
GAZETA DO POVO - PR - 31/01
Lendo blogs e ouvindo argumentos a favor dos encontros marcados por grupos diversos via rede social e denominados movimentos cívicos ou manifestações, surgiu uma dúvida: hoje, na sociedade brasileira, vale tudo mesmo?
Cada sociedade tem seus padrões de organização, que se revelam tanto na forma de comportamento coletivo quanto na de regras gerais. Os hábitos ou comportamentos coletivos são modos de conduta constantemente repetidos. Como a tendência dos brasileiros de torcer por um time de futebol, festejar o carnaval e passear em shoppings. A normalidade desses comportamentos faz com que exista uma expectativa de repetição, mas a nenhum deles nossa cultura atribui um sentido obrigatório.
Todavia, há condutas que uma cultura impõe como obrigatórias. Trata-se de designar direitos e deveres cuja observância é exigida de todos. Esses direitos e deveres são estabelecidos por uma série de regras que compõem o sistema normativo de uma sociedade.
Os conceitos de bem e de dever raramente são diferenciados. Até a geração de meus pais, era muito claro no imaginário social que tudo o que era bom era devido. Naquela época, os sistemas normativos da nossa sociedade não se subdividiam. Era um conjunto único de normas obrigatórias. Há regras de trato social que definem o comportamento adequado, sem que exista um conteúdo especificamente moral. Como as exigências de se usar certas roupas em ocasiões formais ou de se comportar educadamente em restaurantes, shoppings, locais de trabalho ou de culto etc.
A consolidação dos modernos Estados de Direito deu relevância especial à distinção entre as regras de trato social e as regras jurídicas. As autoridades do Estado somente podem punir os cidadãos pela desobediência ao direito. Assim, por mais que a moralidade seja um âmbito normativo, as punições ligadas a seu descumprimento não podem atingir propriedade, integridade corporal e liberdade dos indivíduos. Esses tipos de intervenção somente podem ser fundadas nas leis do Estado.
Grupos denominados movimentos dentro da sociedade brasileira vêm marcando encontros e reunindo até 6 mil pessoas em espaços que atrapalham trânsito, transporte e trabalho do cidadão. As pessoas podem frequentar lugares públicos ou privados, sob a condição de que não se coloque em risco os direitos fundamentais dos outros.
Quando o caos domina, qualquer associação (do setor público ou privado) tem o direito de impedir eventos e encontros, alegando motivos como logística, silêncio, ordem e segurança. O Estado de Direito jurídico protege a maioria.
Por que aceitamos ações aterrorizantes e violentas? Vale mesmo chamar o caos de manifestação e criar uma pauta com especialistas para explicar os excessos que são praticados nas redes sociais e que viraram o novo comportamento do brasileiro na área pública e privada? Por que a norma da organização do carnaval e réveillon não é vista como modelo democrático e civilizado da cultura brasileira? Vale a pena adotar os padrões de organização que param a vida e a economia do país, segregando os grupos sociais e incitando violência contra a polícia, a imprensa e pessoas públicas?
Eu espero não perder o Estado de Direito que promove e protege o direito de organização, liberdade de expressão e reivindicações nas eleições e comissões políticas. Hoje o direito de muitos está sendo tripudiado no caos.
Lendo blogs e ouvindo argumentos a favor dos encontros marcados por grupos diversos via rede social e denominados movimentos cívicos ou manifestações, surgiu uma dúvida: hoje, na sociedade brasileira, vale tudo mesmo?
Cada sociedade tem seus padrões de organização, que se revelam tanto na forma de comportamento coletivo quanto na de regras gerais. Os hábitos ou comportamentos coletivos são modos de conduta constantemente repetidos. Como a tendência dos brasileiros de torcer por um time de futebol, festejar o carnaval e passear em shoppings. A normalidade desses comportamentos faz com que exista uma expectativa de repetição, mas a nenhum deles nossa cultura atribui um sentido obrigatório.
Todavia, há condutas que uma cultura impõe como obrigatórias. Trata-se de designar direitos e deveres cuja observância é exigida de todos. Esses direitos e deveres são estabelecidos por uma série de regras que compõem o sistema normativo de uma sociedade.
Os conceitos de bem e de dever raramente são diferenciados. Até a geração de meus pais, era muito claro no imaginário social que tudo o que era bom era devido. Naquela época, os sistemas normativos da nossa sociedade não se subdividiam. Era um conjunto único de normas obrigatórias. Há regras de trato social que definem o comportamento adequado, sem que exista um conteúdo especificamente moral. Como as exigências de se usar certas roupas em ocasiões formais ou de se comportar educadamente em restaurantes, shoppings, locais de trabalho ou de culto etc.
A consolidação dos modernos Estados de Direito deu relevância especial à distinção entre as regras de trato social e as regras jurídicas. As autoridades do Estado somente podem punir os cidadãos pela desobediência ao direito. Assim, por mais que a moralidade seja um âmbito normativo, as punições ligadas a seu descumprimento não podem atingir propriedade, integridade corporal e liberdade dos indivíduos. Esses tipos de intervenção somente podem ser fundadas nas leis do Estado.
Grupos denominados movimentos dentro da sociedade brasileira vêm marcando encontros e reunindo até 6 mil pessoas em espaços que atrapalham trânsito, transporte e trabalho do cidadão. As pessoas podem frequentar lugares públicos ou privados, sob a condição de que não se coloque em risco os direitos fundamentais dos outros.
Quando o caos domina, qualquer associação (do setor público ou privado) tem o direito de impedir eventos e encontros, alegando motivos como logística, silêncio, ordem e segurança. O Estado de Direito jurídico protege a maioria.
Por que aceitamos ações aterrorizantes e violentas? Vale mesmo chamar o caos de manifestação e criar uma pauta com especialistas para explicar os excessos que são praticados nas redes sociais e que viraram o novo comportamento do brasileiro na área pública e privada? Por que a norma da organização do carnaval e réveillon não é vista como modelo democrático e civilizado da cultura brasileira? Vale a pena adotar os padrões de organização que param a vida e a economia do país, segregando os grupos sociais e incitando violência contra a polícia, a imprensa e pessoas públicas?
Eu espero não perder o Estado de Direito que promove e protege o direito de organização, liberdade de expressão e reivindicações nas eleições e comissões políticas. Hoje o direito de muitos está sendo tripudiado no caos.
Dilma, Davos e 2015 - ROGÉRIO FURQUIM WERNECK
O GLOBO - 31/01
Não há nada que indique que a presidente resolveu abandonar a aventura desenvolvimentista
A presença da presidente no Fórum Econômico Mundial, em Davos, causou irritação em segmentos mais empedernidos do PT. Foi vista como evidência de suposta disposição do governo de “beijar a cruz” e convencer o mercado financeiro de que abandonou a “aventura desenvolvimentista”. Quem dera. Seria muito bom se fosse verdade. Mas podem ficar descansados os zelosos guardiães do ideário petista. Nos pronunciamentos da presidente em Davos, não há nada que permita concluir que o governo tenha resolvido desembarcar da “aventura desenvolvimentista”.
Para dirimir dúvidas, nada melhor que a declaração peremptória do ministro da Fazenda sobre a “nova matriz econômica”, feita na entrevista concedida ao “Estado de S. Paulo”, lá mesmo, em Davos, na semana passada. “Não concordo de jeito nenhum com a ideia de que a nova matriz tenha fracassado.”
É bem verdade que, para atender a demanda quase desesperada por otimismo que viceja no setor privado, certos analistas, às custas de notável contorcionismo poliânico, têm dado alento à história de que nem Guido Mantega nem Arno Augustin serão mantidos em seus cargos, caso a presidente seja reeleita. E de que o abandono da “aventura desenvolvimentista” será comandado por Nelson Barbosa, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, que, afastado do governo no ano passado, retornaria como ministro no segundo mandato.
Quem está tentado a acreditar nessa história deve ler com cuidado o artigo coautorado, de 42 páginas, que Nelson Barbosa publicou no ano de 2010, sob o título “A inflexão do governo Lula: política econômica, crescimento e distribuição de renda”, disponível na internet, por exemplo, em <http://migre.me/hEprG>.
Escrito em meio à euforia de 2010, com a economia crescendo a 7,5% ao ano, o artigo, em tom triunfalista, apresenta relato quase épico dos grandes feitos que vinham sendo logrados pela “opção desenvolvimentista”, desde o embate decisivo de 2005, entre Dilma Rousseff e Antonio Palocci, que teria marcado a derrota da “visão neoliberal” no governo Lula, com o abandono da proposta de ajuste fiscal de longo prazo.
Tal derrota teria permitido que prevalecesse a ideia de que “somente com a aceleração do crescimento, a economia poderia iniciar um círculo virtuoso no qual o aumento da demanda agregada geraria aumento nos lucros e na produtividade, o que por sua vez, produziria um aumento no investimento e, dessa forma, criaria a capacidade produtiva necessária para sustentar a expansão”.
Para dar início ao círculo virtuoso, “seria necessário adotar medidas monetárias e fiscais de estímulo ao crescimento”. Bem diferente da visão neoliberal, “que respeitava com temor quase religioso a suposta barreira estimada para o produto potencial, a visão desenvolvimentista procurou testar na prática a existência de tais limites, de forma a ultrapassá-los”.
A avaliação da experiência desenvolvimentista, em tom autocongratulatório, é particularmente impressionante. “A opção estratégica fundamental em apostar no crescimento, ao invés de radicalizar a incerta proposta de ajuste fiscal contracionista, baseada nos cânones neoliberais, terminou sendo validada com base em resultados imediatos”.
O artigo termina com uma louvação ao voluntarismo. “É também fundamental reconhecer o papel dos governos de ‘testar os limites’, ou seja, prospectar as maneiras pelas quais o avanço pode ocorrer, sem se fazer refém de axiomas e modelos que negam, de antemão, a possibilidade de políticas macroeconômicas que integrem inclusão e desenvolvimento.” E, afinal, conclui que o país teria revelado “grande capacidade de escapar das limitações autoimpostas”.
Passados quatro anos, e estando a economia como está, o artigo tornou-se imperdível. Especialmente para quem, agora, se vê diante do desafio de, sem se deixar levar pelo autoengano, vislumbrar cenários prováveis para 2015.
Não há nada que indique que a presidente resolveu abandonar a aventura desenvolvimentista
A presença da presidente no Fórum Econômico Mundial, em Davos, causou irritação em segmentos mais empedernidos do PT. Foi vista como evidência de suposta disposição do governo de “beijar a cruz” e convencer o mercado financeiro de que abandonou a “aventura desenvolvimentista”. Quem dera. Seria muito bom se fosse verdade. Mas podem ficar descansados os zelosos guardiães do ideário petista. Nos pronunciamentos da presidente em Davos, não há nada que permita concluir que o governo tenha resolvido desembarcar da “aventura desenvolvimentista”.
Para dirimir dúvidas, nada melhor que a declaração peremptória do ministro da Fazenda sobre a “nova matriz econômica”, feita na entrevista concedida ao “Estado de S. Paulo”, lá mesmo, em Davos, na semana passada. “Não concordo de jeito nenhum com a ideia de que a nova matriz tenha fracassado.”
É bem verdade que, para atender a demanda quase desesperada por otimismo que viceja no setor privado, certos analistas, às custas de notável contorcionismo poliânico, têm dado alento à história de que nem Guido Mantega nem Arno Augustin serão mantidos em seus cargos, caso a presidente seja reeleita. E de que o abandono da “aventura desenvolvimentista” será comandado por Nelson Barbosa, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, que, afastado do governo no ano passado, retornaria como ministro no segundo mandato.
Quem está tentado a acreditar nessa história deve ler com cuidado o artigo coautorado, de 42 páginas, que Nelson Barbosa publicou no ano de 2010, sob o título “A inflexão do governo Lula: política econômica, crescimento e distribuição de renda”, disponível na internet, por exemplo, em <http://migre.me/hEprG>.
Escrito em meio à euforia de 2010, com a economia crescendo a 7,5% ao ano, o artigo, em tom triunfalista, apresenta relato quase épico dos grandes feitos que vinham sendo logrados pela “opção desenvolvimentista”, desde o embate decisivo de 2005, entre Dilma Rousseff e Antonio Palocci, que teria marcado a derrota da “visão neoliberal” no governo Lula, com o abandono da proposta de ajuste fiscal de longo prazo.
Tal derrota teria permitido que prevalecesse a ideia de que “somente com a aceleração do crescimento, a economia poderia iniciar um círculo virtuoso no qual o aumento da demanda agregada geraria aumento nos lucros e na produtividade, o que por sua vez, produziria um aumento no investimento e, dessa forma, criaria a capacidade produtiva necessária para sustentar a expansão”.
Para dar início ao círculo virtuoso, “seria necessário adotar medidas monetárias e fiscais de estímulo ao crescimento”. Bem diferente da visão neoliberal, “que respeitava com temor quase religioso a suposta barreira estimada para o produto potencial, a visão desenvolvimentista procurou testar na prática a existência de tais limites, de forma a ultrapassá-los”.
A avaliação da experiência desenvolvimentista, em tom autocongratulatório, é particularmente impressionante. “A opção estratégica fundamental em apostar no crescimento, ao invés de radicalizar a incerta proposta de ajuste fiscal contracionista, baseada nos cânones neoliberais, terminou sendo validada com base em resultados imediatos”.
O artigo termina com uma louvação ao voluntarismo. “É também fundamental reconhecer o papel dos governos de ‘testar os limites’, ou seja, prospectar as maneiras pelas quais o avanço pode ocorrer, sem se fazer refém de axiomas e modelos que negam, de antemão, a possibilidade de políticas macroeconômicas que integrem inclusão e desenvolvimento.” E, afinal, conclui que o país teria revelado “grande capacidade de escapar das limitações autoimpostas”.
Passados quatro anos, e estando a economia como está, o artigo tornou-se imperdível. Especialmente para quem, agora, se vê diante do desafio de, sem se deixar levar pelo autoengano, vislumbrar cenários prováveis para 2015.
Aprender a aprender - CELSO MING
O Estado de S.Paulo - 31/01
Mais relevante do que a nova queda no desemprego, desta vez para o nível recorde de 4,3% da população ativa, é a informação de que a participação dos trabalhadores na indústria em 2013 caiu para 15,8%. Dez anos antes, eram 17,6%. (Nesse segmento estão incluídos também os empregados na indústria extrativa, distribuição de eletricidade, água e gás.)
Isso poderia ser tomado como mais uma indicação de desindustrialização. É mais consequência do forte crescimento do setor de serviços, que hoje pesa quase 70% no PIB. Em 2003, o subsetor de serviços prestados às empresas (mais aluguéis, atividades imobiliárias e intermediação financeira) empregava 13,4% da mão de obra. Hoje já são 16,2%.
O principal recado passado por essas estatísticas é o de que a indústria de transformação e também os sindicatos dos trabalhadores da área estão perdendo a capacidade de pressão, na proporção em que o setor de serviços vai absorvendo cada vez mais a força de trabalho: "A Volks vai dispensar 4 mil antes ocupados com a linha de montagem da Kombi? Ora, não é uma tragédia. O resto da economia absorverá essa gente...".
Além disso, o mais baixo índice de desocupação da série histórica do IBGE reafirma o diagnóstico do Banco Central de que o mercado de trabalho continua atuando como importante fator de aumento de custos para o setor produtivo e, nessas condições, de foco de inflação.
Economistas se perguntam o que pode ser feito para aumentar a produtividade do trabalho. As soluções definitivas são de longo prazo: implicam melhoria no nível da educação e do treinamento.
Mas há um fator cujo resultado vem sendo pouco avaliado, que é o emprego crescente de Tecnologia da Informação, com sua enorme bateria de recursos, que começa no chip, passa pelos grandes sistemas operacionais e alcança hoje a impressão em terceira dimensão (3D).
A simples transmissão de informações instantâneas dispensa recursos de todos os níveis: instalações, máquinas, almoxarifados, estoques, capital de giro e, inclusive, mão de obra. Mas são recursos que encurtam os prazos, reduzem os erros e facilitam o planejamento.
Com mais Tecnologia da Informação à sua disposição, a mão de obra, mesmo a não especializada, se torna mais eficiente e, portanto, mais produtiva. O caixa do supermercado ou o auxiliar de funilaria podem ser hoje muito mais eficientes do que trabalhadores de sua idade há apenas dez anos.
Na última terça-feira, em artigo no Estadão, o especialista em Economia do Trabalho José Pastore advertiu para impressionantes mudanças no setor de logística que começam a surgir com o emprego intensivo de drones (pequenos aviões teledirigidos) na distribuição. Em Israel, leituras automáticas a distância de consumo de água e eletricidade são feitas há anos por meio de drones.
É claro, o aumento da produtividade da mão de obra depende substancialmente da qualidade da educação e do ensino. No entanto, essas novidades sugerem que, mais do que simplesmente enfiar informações na cabeça das pessoas, o maior desafio consiste em levar a população a aprender a aprender.
Mais relevante do que a nova queda no desemprego, desta vez para o nível recorde de 4,3% da população ativa, é a informação de que a participação dos trabalhadores na indústria em 2013 caiu para 15,8%. Dez anos antes, eram 17,6%. (Nesse segmento estão incluídos também os empregados na indústria extrativa, distribuição de eletricidade, água e gás.)
Isso poderia ser tomado como mais uma indicação de desindustrialização. É mais consequência do forte crescimento do setor de serviços, que hoje pesa quase 70% no PIB. Em 2003, o subsetor de serviços prestados às empresas (mais aluguéis, atividades imobiliárias e intermediação financeira) empregava 13,4% da mão de obra. Hoje já são 16,2%.
O principal recado passado por essas estatísticas é o de que a indústria de transformação e também os sindicatos dos trabalhadores da área estão perdendo a capacidade de pressão, na proporção em que o setor de serviços vai absorvendo cada vez mais a força de trabalho: "A Volks vai dispensar 4 mil antes ocupados com a linha de montagem da Kombi? Ora, não é uma tragédia. O resto da economia absorverá essa gente...".
Além disso, o mais baixo índice de desocupação da série histórica do IBGE reafirma o diagnóstico do Banco Central de que o mercado de trabalho continua atuando como importante fator de aumento de custos para o setor produtivo e, nessas condições, de foco de inflação.
Economistas se perguntam o que pode ser feito para aumentar a produtividade do trabalho. As soluções definitivas são de longo prazo: implicam melhoria no nível da educação e do treinamento.
Mas há um fator cujo resultado vem sendo pouco avaliado, que é o emprego crescente de Tecnologia da Informação, com sua enorme bateria de recursos, que começa no chip, passa pelos grandes sistemas operacionais e alcança hoje a impressão em terceira dimensão (3D).
A simples transmissão de informações instantâneas dispensa recursos de todos os níveis: instalações, máquinas, almoxarifados, estoques, capital de giro e, inclusive, mão de obra. Mas são recursos que encurtam os prazos, reduzem os erros e facilitam o planejamento.
Com mais Tecnologia da Informação à sua disposição, a mão de obra, mesmo a não especializada, se torna mais eficiente e, portanto, mais produtiva. O caixa do supermercado ou o auxiliar de funilaria podem ser hoje muito mais eficientes do que trabalhadores de sua idade há apenas dez anos.
Na última terça-feira, em artigo no Estadão, o especialista em Economia do Trabalho José Pastore advertiu para impressionantes mudanças no setor de logística que começam a surgir com o emprego intensivo de drones (pequenos aviões teledirigidos) na distribuição. Em Israel, leituras automáticas a distância de consumo de água e eletricidade são feitas há anos por meio de drones.
É claro, o aumento da produtividade da mão de obra depende substancialmente da qualidade da educação e do ensino. No entanto, essas novidades sugerem que, mais do que simplesmente enfiar informações na cabeça das pessoas, o maior desafio consiste em levar a população a aprender a aprender.
Poupar o que é valioso - MIRIAM LEITÃO
O GLOBO - 31/01
O ano na energia começou com um perigo a mais. Fontes dizem que o preço do mercado livre disparou dos atuais R$ 484 para R$ 820 o megawatt/hora. Esse é o problema conjuntural. O estrutural é a ausência de programas de consumo eficiente. Estados Unidos e China têm programas agressivos de economia de energia e de redução do consumo. O governo Dilma diminuiu as tarifas e incentivou o consumo, mas os programas de economia de energia patinam.
A reportagem de domingo no GLOBO, escrita pela jornalista Ramona Ordoñez, mostrou dois defeitos do setor no Brasil: a matriz está se tornando mais suja e o desperdício chega a meia Itaipu.
O fato de que o país demandará muita energia no futuro é usado para justificar projetos caros, com subsídios embutidos e cheios de problemas, como os de Santo Antônio, Jirau e Belo Monte. Sem falar na forma controvertida como foram licenciados pelo Ibama ou o atraso nas compensações ambientais de Belo Monte. Os especialistas têm mostrado evidências de que, hoje, as hidrelétricas financiadas pelo governo federal e as rodovias são os principais vetores do desmatamento na Amazônia, que subiu em 2013 depois de oito anos de queda.
Mas os setores ligados às construtoras de barragens, descontentes com a opção pelas usinas a fio d’água, aumentam a pressão para a construção de mais usinas e com grandes reservatórios. Pouco se fala do potencial de redução de mais de 30% com programas efetivos de economia de energia e eliminação dos subsídios à energia convencional, principalmente de fontes fósseis.
O resultado é que as energias fósseis aumentaram sua participação na matriz elétrica brasileira de 6,8%, em 2009, para 12,7%, em 2012. O uso de fontes não renováveis cresceu 42,6% entre 2003 e 2012. Já a geração de energia renovável aumentou menos: 37%. A geração a carvão, a mais poluente de todas, cresceu 41%.
Houve movimentos positivos, como o crescimento e a consolidação da energia eólica na matriz elétrica brasileira. A geração eólica cresceu exponencialmente. Aumentou quase dez vezes entre 2003 e 2007. Entre 2007 e 2012, sete vezes. A primeira fase de crescimento é, na verdade, menos significativa, porque ela sai praticamente do zero. Mas na segunda, saltamos de menos de 0,6 GW para 5,0 GW. No ano passado, pela primeira vez, foram habilitados projetos de energia solar nos leilões. Não conseguiram ofertas, porque o preço do kW/h ainda é muito alto. Mas é importante que essa fonte já tenha sido admitida nos leilões, o que estimulará a indústria a tentar chegar a preços mais competitivos. Deveria ter sido muito mais estimulada a energia solar. A participação da energia renovável na produção de energia primária cresceu de 47% em 2003 ao pico de 48,7% em 2007. Infelizmente, a partir de 2008, essa participação começou a cair, chegando a 46% em 2012.
O aumento da participação de fontes poluentes, como carvão, e o crescimento do consumo subsidiado de diesel e gasolina nos transportes tiveram como resultado imediato um incremento de 30% nas emissões de gases estufa do setor de energia, entre 2006 e 2012. As emissões totais do Brasil caíram 28%, por causa da queda do desmatamento, mostram as estimativas do Observatório do Clima, uma rede independente de entidades de pesquisa. O setor de energia representava 16% das emissões em 2006. Em 2012, passou a responder por 29,4%. Infelizmente, como se sabe, o desmatamento cresceu em 2013.
Na reunião do Fórum Econômico Mundial, o secretário-geral da OCDE, Ángel Gurría, disse aos empresários, lá reunidos, que o último relatório do IPCC, divulgado parcialmente no ano passado, deixa claro que não estamos fazendo o suficiente para enfrentar o desafio climático. Convocou governos e empresas a buscar a meta de emissão zero na segunda metade do século. “Nada menos que uma transformação geral da economia da energia será suficiente", disse. No Brasil, estamos caminhando na direção contrária. E o país ainda se dá ao luxo de ter eólicas rodando à toa, sem linhas de transmissão, em momento em que falta energia boa, limpa e barata no sistema. Hoje, a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica e o
Operador Nacional do Sistema Elétrico informarão o preço no mercado livre. As informações são de que ele está disparando.
O ano na energia começou com um perigo a mais. Fontes dizem que o preço do mercado livre disparou dos atuais R$ 484 para R$ 820 o megawatt/hora. Esse é o problema conjuntural. O estrutural é a ausência de programas de consumo eficiente. Estados Unidos e China têm programas agressivos de economia de energia e de redução do consumo. O governo Dilma diminuiu as tarifas e incentivou o consumo, mas os programas de economia de energia patinam.
A reportagem de domingo no GLOBO, escrita pela jornalista Ramona Ordoñez, mostrou dois defeitos do setor no Brasil: a matriz está se tornando mais suja e o desperdício chega a meia Itaipu.
O fato de que o país demandará muita energia no futuro é usado para justificar projetos caros, com subsídios embutidos e cheios de problemas, como os de Santo Antônio, Jirau e Belo Monte. Sem falar na forma controvertida como foram licenciados pelo Ibama ou o atraso nas compensações ambientais de Belo Monte. Os especialistas têm mostrado evidências de que, hoje, as hidrelétricas financiadas pelo governo federal e as rodovias são os principais vetores do desmatamento na Amazônia, que subiu em 2013 depois de oito anos de queda.
Mas os setores ligados às construtoras de barragens, descontentes com a opção pelas usinas a fio d’água, aumentam a pressão para a construção de mais usinas e com grandes reservatórios. Pouco se fala do potencial de redução de mais de 30% com programas efetivos de economia de energia e eliminação dos subsídios à energia convencional, principalmente de fontes fósseis.
O resultado é que as energias fósseis aumentaram sua participação na matriz elétrica brasileira de 6,8%, em 2009, para 12,7%, em 2012. O uso de fontes não renováveis cresceu 42,6% entre 2003 e 2012. Já a geração de energia renovável aumentou menos: 37%. A geração a carvão, a mais poluente de todas, cresceu 41%.
Houve movimentos positivos, como o crescimento e a consolidação da energia eólica na matriz elétrica brasileira. A geração eólica cresceu exponencialmente. Aumentou quase dez vezes entre 2003 e 2007. Entre 2007 e 2012, sete vezes. A primeira fase de crescimento é, na verdade, menos significativa, porque ela sai praticamente do zero. Mas na segunda, saltamos de menos de 0,6 GW para 5,0 GW. No ano passado, pela primeira vez, foram habilitados projetos de energia solar nos leilões. Não conseguiram ofertas, porque o preço do kW/h ainda é muito alto. Mas é importante que essa fonte já tenha sido admitida nos leilões, o que estimulará a indústria a tentar chegar a preços mais competitivos. Deveria ter sido muito mais estimulada a energia solar. A participação da energia renovável na produção de energia primária cresceu de 47% em 2003 ao pico de 48,7% em 2007. Infelizmente, a partir de 2008, essa participação começou a cair, chegando a 46% em 2012.
O aumento da participação de fontes poluentes, como carvão, e o crescimento do consumo subsidiado de diesel e gasolina nos transportes tiveram como resultado imediato um incremento de 30% nas emissões de gases estufa do setor de energia, entre 2006 e 2012. As emissões totais do Brasil caíram 28%, por causa da queda do desmatamento, mostram as estimativas do Observatório do Clima, uma rede independente de entidades de pesquisa. O setor de energia representava 16% das emissões em 2006. Em 2012, passou a responder por 29,4%. Infelizmente, como se sabe, o desmatamento cresceu em 2013.
Na reunião do Fórum Econômico Mundial, o secretário-geral da OCDE, Ángel Gurría, disse aos empresários, lá reunidos, que o último relatório do IPCC, divulgado parcialmente no ano passado, deixa claro que não estamos fazendo o suficiente para enfrentar o desafio climático. Convocou governos e empresas a buscar a meta de emissão zero na segunda metade do século. “Nada menos que uma transformação geral da economia da energia será suficiente", disse. No Brasil, estamos caminhando na direção contrária. E o país ainda se dá ao luxo de ter eólicas rodando à toa, sem linhas de transmissão, em momento em que falta energia boa, limpa e barata no sistema. Hoje, a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica e o
Operador Nacional do Sistema Elétrico informarão o preço no mercado livre. As informações são de que ele está disparando.
Governo vê pais fora da crise dos emergentes - CLAUDIA SAFATLE
VALOR ECONÔMICO - 31/01
O real teve, ontem, a segunda melhor performance entre as moedas de economias emergentes, atrás apenas do rand sul-africano. O dólar fechou em queda de 0,90% a R$ 2,4150. No fluxo positivo de US$ 2,7 bilhões (ingresso de recursos externos) da semana passada havia não só operações comerciais, mas também real money de grandes investidores estrangeiros. Esses são dois indicadores que, embora pontuais, animaram os gestores da política econômica nos últimos dias. Há pelo menos três dias o Brasil está fora do centro da crise que pune os emergentes, salientam os economistas oficiais.
O governo brasileiro está empenhado em tomar cuidados para não dar um tiro no pé nesse momento de turbulências externas. Exemplo de tiro no pé seria anunciar uma meta fiscal frouxa agora ou, ainda, comemorar uma taxa de inflação de 6% ao ano. Tenta, também, lançar âncoras para o futuro - indicando expansão dos investimentos e foco no aumento da produtividade - para descongelar 2014.
Esse será um ano difícil, seja por causa das eleições que acabam gerando volatilidades, seja pelas turbulências causadas pela mudança nas condições monetárias globais após cinco anos de grande liquidez. Uma forma de contornar essas dificuldades é acenar com um futuro promissor.
Não há uma crise nas economias emergentes, na avaliação do governo brasileiro. Nem a situação dada pelo cenário internacional é de fim de festa para esses países, pois lá é que estão as oportunidades de crescimento no médio prazo. O que há é uma transição comandada por mudança de preços relativos.
É hora do vamos ver e é preciso muita perícia para mostrar nossas qualidades e diferenças , disse uma autoridade. Para manejar essa transição com o menor custo possível será necessária a ajuda de uma política fiscal sólida, crível, que pode afastar o risco de um rebaixamento do grau de investimento do país pelas agências de rating.
A meta de superávit primário para este ano será anunciada até o dia 20 de fevereiro, segundo o ministro da Fazenda, Guido Mantega. O que se discute é o tamanho exato do compromisso fiscal - 2% do PIB ou, talvez, algo um pouquinho menor. Sobre isso Mantega não quis falar. Para a gestão da política monetária, quanto maior for a contribuição das contas públicas, melhor.
Não basta, no entanto, anunciar a meta. O Ministério da Fazenda vai ter que explicá-la de forma convincente e sem tergiversações. É aconselhável, também, evitar tomar medidas com sinais ruins, como foi a elevação do IOF sobre gastos em viagens internacionais no fim de 2013.
O governo está preocupado não só em dar a direção da política fiscal, mas em como anunciá-la e defende-la para que não caia rapidamente em descrédito.
Após falar pela primeira vez para a elite das finanças do mundo, em Davos (Suíça), na semana passada, a avaliação que se faz no Palácio do Planalto é de que o discurso da presidente Dilma Rousseff naquele fórum foi positivo. Esse foi o retorno que autoridades brasileiras tiveram do presidente do Fórum Econômico Mundial, Klaus Schwab, esta semana.
Não é confortável, no entanto, estar entre os cinco frágeis mais uma vez listados na edição de ontem da The Economist , ao lado da Turquia, África do Sul, Índia e Indonésia.
Uma boa meta fiscal é fundamental para o país navegar sem grandes sobressaltos, mas não é suficiente para funcionar como bala de prata , sobretudo nos momentos de estresse nos mercados internacionais. A Noruega, por exemplo, tem dívida líquida negativa como proporção do PIB, não tem qualquer problema fiscal, mas a coroa norueguesa está perdendo valor frente ao dólar de forma rápida, citou ontem uma fonte. Há outras questões em jogo e, no caso da Noruega, a desvalorização está muito provavelmente ligada ao petróleo. Ontem a moeda teve desvalorização de 1,32%.
Para os momentos de estresse, o que conta mais é o poder de fogo das reservas cambiais.
O governo parece agora convencido, porém, de que o rigor fiscal é um sinal importante para readquirir credibilidade junto aos agentes econômicos, melhorar as expectativas e desafogar a política monetária.
O conceito que rege a questão fiscal e que inspirou o discurso da presidente em Davos é o da contração fiscal expansionista , ou seja: uma meta de superávit primário contracionista, capaz de reduzir a dívida pública líquida como proporção do PIB, agora, pode melhorar tanto o humor dos agentes econômicos internos e externos e restabelecer a confiança que, ao final das contas, ela representará expansão da demanda e do crescimento econômico no futuro próximo.
O real teve uma desvalorização nominal de mais de 55% de julho de 2011 até agora. A expectativa do governo é que neste ano os efeitos do câmbio associado a um maior crescimento das economias avançadas se materializem num reforço das contas do balanço de pagamentos. Conta, para isso, com a expectativa de crescimento do comércio mundial de 2,7% em 2013 para 4,5% estimados para 2014. Com uma meta fiscal sólida e um déficit em conta corrente do balanço de pagamentos estável, o governo acredita que atravessará essa transição que, ao final, será positiva, porque representa a normalização das economias avançadas após uma crise de longa duração.
A inflação caiu cerca de um ponto percentual do pico de 6,7% em junho de 2013 para cá e o Banco Central elevou os juros em 325 pontos-base desde abril. Para este ano, não há uma meta informal explícita do BC, como havia no ano passado, quando a autoridade monetária se comprometeu com um IPCA menor do que os 5,84% de 2012 mas não conseguiu entrega-la. O IPCA de 2013 foi de 5,91%. Há, para 2014, apenas a meta formal de 4,5%.
Crescimento mais ou menos igual ao do ano passado, de pouco mais de 2%; uma inflação que indique convergência para a meta ainda que não este ano; e o auxílio da política fiscal à política monetária para dosar o aumento dos juros são três elementos que vão orientar a política econômica do último ano do mandato de Dilma Rousseff.
O real teve, ontem, a segunda melhor performance entre as moedas de economias emergentes, atrás apenas do rand sul-africano. O dólar fechou em queda de 0,90% a R$ 2,4150. No fluxo positivo de US$ 2,7 bilhões (ingresso de recursos externos) da semana passada havia não só operações comerciais, mas também real money de grandes investidores estrangeiros. Esses são dois indicadores que, embora pontuais, animaram os gestores da política econômica nos últimos dias. Há pelo menos três dias o Brasil está fora do centro da crise que pune os emergentes, salientam os economistas oficiais.
O governo brasileiro está empenhado em tomar cuidados para não dar um tiro no pé nesse momento de turbulências externas. Exemplo de tiro no pé seria anunciar uma meta fiscal frouxa agora ou, ainda, comemorar uma taxa de inflação de 6% ao ano. Tenta, também, lançar âncoras para o futuro - indicando expansão dos investimentos e foco no aumento da produtividade - para descongelar 2014.
Esse será um ano difícil, seja por causa das eleições que acabam gerando volatilidades, seja pelas turbulências causadas pela mudança nas condições monetárias globais após cinco anos de grande liquidez. Uma forma de contornar essas dificuldades é acenar com um futuro promissor.
Não há uma crise nas economias emergentes, na avaliação do governo brasileiro. Nem a situação dada pelo cenário internacional é de fim de festa para esses países, pois lá é que estão as oportunidades de crescimento no médio prazo. O que há é uma transição comandada por mudança de preços relativos.
É hora do vamos ver e é preciso muita perícia para mostrar nossas qualidades e diferenças , disse uma autoridade. Para manejar essa transição com o menor custo possível será necessária a ajuda de uma política fiscal sólida, crível, que pode afastar o risco de um rebaixamento do grau de investimento do país pelas agências de rating.
A meta de superávit primário para este ano será anunciada até o dia 20 de fevereiro, segundo o ministro da Fazenda, Guido Mantega. O que se discute é o tamanho exato do compromisso fiscal - 2% do PIB ou, talvez, algo um pouquinho menor. Sobre isso Mantega não quis falar. Para a gestão da política monetária, quanto maior for a contribuição das contas públicas, melhor.
Não basta, no entanto, anunciar a meta. O Ministério da Fazenda vai ter que explicá-la de forma convincente e sem tergiversações. É aconselhável, também, evitar tomar medidas com sinais ruins, como foi a elevação do IOF sobre gastos em viagens internacionais no fim de 2013.
O governo está preocupado não só em dar a direção da política fiscal, mas em como anunciá-la e defende-la para que não caia rapidamente em descrédito.
Após falar pela primeira vez para a elite das finanças do mundo, em Davos (Suíça), na semana passada, a avaliação que se faz no Palácio do Planalto é de que o discurso da presidente Dilma Rousseff naquele fórum foi positivo. Esse foi o retorno que autoridades brasileiras tiveram do presidente do Fórum Econômico Mundial, Klaus Schwab, esta semana.
Não é confortável, no entanto, estar entre os cinco frágeis mais uma vez listados na edição de ontem da The Economist , ao lado da Turquia, África do Sul, Índia e Indonésia.
Uma boa meta fiscal é fundamental para o país navegar sem grandes sobressaltos, mas não é suficiente para funcionar como bala de prata , sobretudo nos momentos de estresse nos mercados internacionais. A Noruega, por exemplo, tem dívida líquida negativa como proporção do PIB, não tem qualquer problema fiscal, mas a coroa norueguesa está perdendo valor frente ao dólar de forma rápida, citou ontem uma fonte. Há outras questões em jogo e, no caso da Noruega, a desvalorização está muito provavelmente ligada ao petróleo. Ontem a moeda teve desvalorização de 1,32%.
Para os momentos de estresse, o que conta mais é o poder de fogo das reservas cambiais.
O governo parece agora convencido, porém, de que o rigor fiscal é um sinal importante para readquirir credibilidade junto aos agentes econômicos, melhorar as expectativas e desafogar a política monetária.
O conceito que rege a questão fiscal e que inspirou o discurso da presidente em Davos é o da contração fiscal expansionista , ou seja: uma meta de superávit primário contracionista, capaz de reduzir a dívida pública líquida como proporção do PIB, agora, pode melhorar tanto o humor dos agentes econômicos internos e externos e restabelecer a confiança que, ao final das contas, ela representará expansão da demanda e do crescimento econômico no futuro próximo.
O real teve uma desvalorização nominal de mais de 55% de julho de 2011 até agora. A expectativa do governo é que neste ano os efeitos do câmbio associado a um maior crescimento das economias avançadas se materializem num reforço das contas do balanço de pagamentos. Conta, para isso, com a expectativa de crescimento do comércio mundial de 2,7% em 2013 para 4,5% estimados para 2014. Com uma meta fiscal sólida e um déficit em conta corrente do balanço de pagamentos estável, o governo acredita que atravessará essa transição que, ao final, será positiva, porque representa a normalização das economias avançadas após uma crise de longa duração.
A inflação caiu cerca de um ponto percentual do pico de 6,7% em junho de 2013 para cá e o Banco Central elevou os juros em 325 pontos-base desde abril. Para este ano, não há uma meta informal explícita do BC, como havia no ano passado, quando a autoridade monetária se comprometeu com um IPCA menor do que os 5,84% de 2012 mas não conseguiu entrega-la. O IPCA de 2013 foi de 5,91%. Há, para 2014, apenas a meta formal de 4,5%.
Crescimento mais ou menos igual ao do ano passado, de pouco mais de 2%; uma inflação que indique convergência para a meta ainda que não este ano; e o auxílio da política fiscal à política monetária para dosar o aumento dos juros são três elementos que vão orientar a política econômica do último ano do mandato de Dilma Rousseff.
Aduladores do caos - REINALDO AZEVEDO
FOLHA DE SP - 31/01
O Brasil não é o Egito. A nossa democracia não vive sob tutela, a não ser a desses milicianos do futuro
Para o submarxismo vigente naqueles ambientes que o poeta Bruno Tolentino (1940-2007) chamava "Complexo Pucusp" --onde a imprensa colhe seus "especialistas"--, o futuro já aconteceu faz tempo. O que virá será só a materialização do que já estava inscrito na natureza humana. E essa natureza, consta, é libertar-se da opressão. Assim, toda ação, todo acontecimento, todo evento só encontram sentido na medida em que podem ou não ser úteis a esse propósito. A história deixa de ser "a contínua marcha do desejo", na expressão de Thomas Hobbes, para ser uma sequência de capítulos de fim conhecido, que nos conduzirá ao encontro com a verdade. Parece complicado? Eu me esforcei. Das nuvens para os ônibus.
Desde 1º de janeiro, 33 ônibus municipais e outros tantos intermunicipais já foram incendiados na periferia de São Paulo e adjacências. Em dois ou três casos, alega-se uma reação à suspeita de que a PM teria matado um rapaz da "comunidade". E os demais? Ah, esses ficariam por conta do "malaise" social que levaria adolescentes da periferia a fazer "rolezinhos", "black blocs" a quebrar tudo, funkeiros a tentar explodir posto de gasolina... Teria sido acionado o gatilho do DNA libertador das massas.
Analistas muito severos trovejam: "Eu bem que avisei". Outros iluminam suas esperanças com as chamas dos ônibus. Estão com o povo, contra os reacionários! A antropologia da reparação ameaça: "Chegou a hora de entregar os dedos; os oprimidos não se contentam mais com os anéis do reformismo tucano-petista!".
O espírito do tempo tem peso determinante na história. São os poderes instituídos e as matrizes influentes de valores --onde estão a imprensa e a indústria cultural-- que definem a recompensa e a punição aos comportamentos desejáveis ou indesejáveis. Se essas instâncias flertam com a desordem, esta passa a ser encarada como um instrumento eficaz de luta. Se a violência é recompensada com o reconhecimento da legitimidade da "causa", já se tem erigida uma moral. Aí a vaca vai para o brejo.
Defende-se hoje, a céu aberto, que PMs enfrentem desarmados os fascistoides que vão para as ruas portando coquetéis molotov --e assim é desde a primeira manifestação em São Paulo, no dia 6 de junho do ano passado. Tenta-se linchar um policial que cometeu a ousadia da legítima defesa. A repressão ao tráfico de drogas vira agressão aos direitos humanos. O desvio assume, enfim, o papel de contenção que cabe à norma.
Insiste-se na farsa ridícula da luta da "sociedade contra o Estado", e policiais "negros e morenos" (como diria Gilberto Carvalho), saídos daquela mesma periferia que seria a portadora do futuro, são tratados como o braço armado da velha ordem a retardar a aurora. O Brasil não é o Egito. A nossa democracia, por enquanto ao menos, não vive sob tutela, a não ser a desses milicianos do futuro. É bem verdade que o PT se esforça para tomar o lugar da sociedade e tenta estatizar até os "manos" e as "minas" dos "rolezinhos". Mas ainda não logrou o seu intento.
Não pensem que este rottweiler do reacionarismo acredita numa moral intrínseca da história, oposta à dos submarxistas, que nos conduziria para o bem. A história, em si, é amoral e se move por relações de força. Ocorre que, por esse caminho, democracia, fascismo ou comunismo seriam resultados plausíveis até que não se chegasse àquele momento do encontro do homem com o seu começo. Besteira!
A história não é moral, mas nós somos seres morais. Falaremos em nome de quais valores? A democracia é um regime legitimado pela maioria, mas sustentado, nos seus fundamentos --muito especialmente a proteção às minorias--, por elites de pensamento capazes de fazer escolhas que transcendem seus próprios interesses. É nesse lugar que está a imprensa. Não, meus caros! Os pobres não herdarão o Reino da Terra. Quais serão, então, as nossas escolhas?
Um giro no parafuso - DORA KRAMER
O Estado de S.Paulo - 31/01
Leis draconianas não garantem a saúde legal do ambiente. Disso estamos cansados de saber e habituados a ver, principalmente quando negócios privados se misturam com entes públicos.
Decretar que isso ou aquilo é proibido, é ilegal, é inconstitucional tampouco basta para balizar comportamentos. Nem por essa razão se pode deixar de aperfeiçoar os mecanismos de prevenção e repressão à ilegalidade ou de saudar novas ferramentas que permitam dar mais um aperto na rosca do parafuso.
Senso crítico é essencial até para separar atos bem intencionados, mas de pouca eficácia prática, de ações que realmente tenham o poder de atuar no cerne da questão. Aqui falamos de corrupção.
Mais especificamente da lei (12.846) que entrou em vigor nesta semana, cujo objetivo é investigar, processar e punir empresas envolvidas em ilicitudes na prestação de quaisquer serviços ao Estado.
Muito bem, a corrupção já é ilegal e, no entanto, grassa. No que mais uma legislação poderia mudar essa situação? Mudar totalmente e principalmente do dia para a noite é algo que, de fato, não vai acontecer. Mas, como dizia o então ministro da Fazenda Pedro Malan nos primeiros anos do Plano Real, é tudo uma questão de "processo".
A chamada lei da Empresa Limpa (inspiração óbvia) pode ser enquadrada nessa categoria da qual faz parte a lei da Ficha Limpa. Não obstante a evidência de que a correção na vida pregressa fosse um atributo indispensável a candidatos a cargos eletivos, nenhuma importância se dava a isso.
Até o dia em que uma emenda constitucional de iniciativa popular cruzou o caminho de um ano de eleições (2010), entidades civis se mexeram, a oposição saiu da inércia, a situação não teve jeito, foi a reboque e pronto: estavam plantadas as sementes.
A existência da lei não fará desaparecerem do cenário, como que por encanto, os candidatos fichas sujas, mas sem dúvida é um fator importante de inibição para o desfile de folhas corridas que acaba resultando num Parlamento cheio de gente com contas em aberto na Justiça.
Pois com todas as questões que ainda precisam ser resolvidas na nova lei anticorrupção - conforme apontam os especialistas, em relação à delação premiada e à ordenação da competência para instauração dos processos - o ponto essencial é este: ela sem dúvida alguma inibirá os corruptores e, por consequência, dificultará o campo de atuação dos potenciais corrompidos.
A legislação não prevê prisão, mas impõe multas altas levando em conta o faturamento bruto das empresas que podem ter suas atividades suspensas ou que, em último caso, podem até vir a ser dissolvidas. Isso independentemente de os donos serem os responsáveis diretos pelo ilícito. Mal comparando, é a teoria do domínio do fato aplicada no julgamento do processo do mensalão. Estando o negócio todo em jogo é de se acreditar que haverá, sim, muito mais precaução por parte dos empresários.
Quando põe no risco o empreendimento e torna o empreendedor responsável pelos atos do conjunto, a lei busca atingir a parte que sempre ficou fora do alcance dos grandes escândalos de corrupção, cujo fôlego costuma se esgotar quando se chega aos corruptos. Até por serem mais notórios.
Se um elo dessa cadeia de promiscuidade fica solto, o sistema vai se realimentando por si. Repetindo: a lei sozinha acaba com isso? Não, mas dá uma boa ajuda.
Muito maior e mais eficaz, por exemplo, do que se proibirem pura e simplesmente as doações lícitas de empresas para campanhas eleitorais na ilusão de que, assim, estará extinto o uso do caixa dois e, com ele, o ovo da serpente da corrupção no setor público.
Leis draconianas não garantem a saúde legal do ambiente. Disso estamos cansados de saber e habituados a ver, principalmente quando negócios privados se misturam com entes públicos.
Decretar que isso ou aquilo é proibido, é ilegal, é inconstitucional tampouco basta para balizar comportamentos. Nem por essa razão se pode deixar de aperfeiçoar os mecanismos de prevenção e repressão à ilegalidade ou de saudar novas ferramentas que permitam dar mais um aperto na rosca do parafuso.
Senso crítico é essencial até para separar atos bem intencionados, mas de pouca eficácia prática, de ações que realmente tenham o poder de atuar no cerne da questão. Aqui falamos de corrupção.
Mais especificamente da lei (12.846) que entrou em vigor nesta semana, cujo objetivo é investigar, processar e punir empresas envolvidas em ilicitudes na prestação de quaisquer serviços ao Estado.
Muito bem, a corrupção já é ilegal e, no entanto, grassa. No que mais uma legislação poderia mudar essa situação? Mudar totalmente e principalmente do dia para a noite é algo que, de fato, não vai acontecer. Mas, como dizia o então ministro da Fazenda Pedro Malan nos primeiros anos do Plano Real, é tudo uma questão de "processo".
A chamada lei da Empresa Limpa (inspiração óbvia) pode ser enquadrada nessa categoria da qual faz parte a lei da Ficha Limpa. Não obstante a evidência de que a correção na vida pregressa fosse um atributo indispensável a candidatos a cargos eletivos, nenhuma importância se dava a isso.
Até o dia em que uma emenda constitucional de iniciativa popular cruzou o caminho de um ano de eleições (2010), entidades civis se mexeram, a oposição saiu da inércia, a situação não teve jeito, foi a reboque e pronto: estavam plantadas as sementes.
A existência da lei não fará desaparecerem do cenário, como que por encanto, os candidatos fichas sujas, mas sem dúvida é um fator importante de inibição para o desfile de folhas corridas que acaba resultando num Parlamento cheio de gente com contas em aberto na Justiça.
Pois com todas as questões que ainda precisam ser resolvidas na nova lei anticorrupção - conforme apontam os especialistas, em relação à delação premiada e à ordenação da competência para instauração dos processos - o ponto essencial é este: ela sem dúvida alguma inibirá os corruptores e, por consequência, dificultará o campo de atuação dos potenciais corrompidos.
A legislação não prevê prisão, mas impõe multas altas levando em conta o faturamento bruto das empresas que podem ter suas atividades suspensas ou que, em último caso, podem até vir a ser dissolvidas. Isso independentemente de os donos serem os responsáveis diretos pelo ilícito. Mal comparando, é a teoria do domínio do fato aplicada no julgamento do processo do mensalão. Estando o negócio todo em jogo é de se acreditar que haverá, sim, muito mais precaução por parte dos empresários.
Quando põe no risco o empreendimento e torna o empreendedor responsável pelos atos do conjunto, a lei busca atingir a parte que sempre ficou fora do alcance dos grandes escândalos de corrupção, cujo fôlego costuma se esgotar quando se chega aos corruptos. Até por serem mais notórios.
Se um elo dessa cadeia de promiscuidade fica solto, o sistema vai se realimentando por si. Repetindo: a lei sozinha acaba com isso? Não, mas dá uma boa ajuda.
Muito maior e mais eficaz, por exemplo, do que se proibirem pura e simplesmente as doações lícitas de empresas para campanhas eleitorais na ilusão de que, assim, estará extinto o uso do caixa dois e, com ele, o ovo da serpente da corrupção no setor público.
Do PT para o PT - ELIANE CANTANHÊDE
FOLHA DE SP - 31/01
BRASÍLIA - Enquanto os aliados ou se esgoelam ou dissimulam, Dilma cuida primeiro da família: os candidatos petistas deixam o governo, mas os ministérios do PT ficam.
Eles são, claro, o coração do governo. Sai Gleisi para disputar no Paraná, entra Mercadante na Casa Civil, que já abrigou Dirceu, Palocci e a própria Dilma. Sai Alexandre Padilha para a eleição em São Paulo, entra Arthur Chioro na Saúde. Ao subir para o Planalto, Mercadante iça Henrique Paim do segundo para o primeiro posto na Educação.
Já os coadjuvantes vão disputar as laterais do palco: o PTB e o PSD estão de olho na Secretaria de Portos, por exemplo, e o Turismo está dando sopa. Só falta a Pesca.
No meio, entre os protagonistas e os coadjuvantes, há o PMDB, poderoso, guloso e muitas vezes ameaçador, e o novo Pros, que tem duas estrelas, os tonitruantes irmãos Gomes, Cid e Ciro. E entre as vagas que importam e as outras que nem tanto, há duas vistosas: Desenvolvimento e Integração Nacional.
A Integração é o sonho de dez entre dez políticos nordestinos porque tem gordos recursos para secas, enchentes e uma lista dessas coisas que aparecem muito e são faca de dois gumes: tiram voto quando ocorrem, mas dão voto aos montes quando atraem verbas --e, atrás delas, poderosos, discursos, inaugurações.
E vejamos o valor de face do Desenvolvimento, que tem baixo orçamento, mas muita influência: canal entre o Planalto e o mundo empresarial (que financia campanhas), é/era ocupado pelo petista Fernando Pimentel, amigão da presidente e candidato ao estratégico governo de Minas Gerais --que fica no "triângulo das Bermudas" eleitoral e é a base do presidenciável Aécio Neves. Logo, não é pouca coisa.
Com o PMDB botando a faca no pescoço de Dilma, é até possível que ela tire o Desenvolvimento do PT e dê para o partido do seu vice, Temer. Mas não dói. Vai-se esse anel, ficam os dedos que mais contam.
BRASÍLIA - Enquanto os aliados ou se esgoelam ou dissimulam, Dilma cuida primeiro da família: os candidatos petistas deixam o governo, mas os ministérios do PT ficam.
Eles são, claro, o coração do governo. Sai Gleisi para disputar no Paraná, entra Mercadante na Casa Civil, que já abrigou Dirceu, Palocci e a própria Dilma. Sai Alexandre Padilha para a eleição em São Paulo, entra Arthur Chioro na Saúde. Ao subir para o Planalto, Mercadante iça Henrique Paim do segundo para o primeiro posto na Educação.
Já os coadjuvantes vão disputar as laterais do palco: o PTB e o PSD estão de olho na Secretaria de Portos, por exemplo, e o Turismo está dando sopa. Só falta a Pesca.
No meio, entre os protagonistas e os coadjuvantes, há o PMDB, poderoso, guloso e muitas vezes ameaçador, e o novo Pros, que tem duas estrelas, os tonitruantes irmãos Gomes, Cid e Ciro. E entre as vagas que importam e as outras que nem tanto, há duas vistosas: Desenvolvimento e Integração Nacional.
A Integração é o sonho de dez entre dez políticos nordestinos porque tem gordos recursos para secas, enchentes e uma lista dessas coisas que aparecem muito e são faca de dois gumes: tiram voto quando ocorrem, mas dão voto aos montes quando atraem verbas --e, atrás delas, poderosos, discursos, inaugurações.
E vejamos o valor de face do Desenvolvimento, que tem baixo orçamento, mas muita influência: canal entre o Planalto e o mundo empresarial (que financia campanhas), é/era ocupado pelo petista Fernando Pimentel, amigão da presidente e candidato ao estratégico governo de Minas Gerais --que fica no "triângulo das Bermudas" eleitoral e é a base do presidenciável Aécio Neves. Logo, não é pouca coisa.
Com o PMDB botando a faca no pescoço de Dilma, é até possível que ela tire o Desenvolvimento do PT e dê para o partido do seu vice, Temer. Mas não dói. Vai-se esse anel, ficam os dedos que mais contam.
Amigos, amigos - LUIZ GARCIA
O GLOBO - 31/01
Espionagem — até de aliados — sempre fez parte da agenda de governos. Pelo menos daqueles que têm recursos para isso
Não há qualquer dúvida de que os Estados Unidos são a maior potência do planeta, tanto na área financeira como sob o ponto de vista militar. Mas essa posição confortável tem óbvias limitações, principalmente no caso de um país que também se orgulha de seu regime democrático, inalterado desde o berço.
Por isso mesmo, é preciso dar atenção a uma denúncia, feita esta semana pela chanceler da Alemanha Federal, Angela Merkel. Do alto de suas muletas, necessárias devido a um acidente de esqui, ela soltou o verbo esta semana no Parlamento alemão contra o poderoso aliado, devido ao seu programa de espionagem em massa, do qual não escapam aliados como a Alemanha.
O discurso de Merkel pode ser resumido a um trecho irrespondível: “As ações nas quais o fim justifica os meios, nas quais se faz tudo o que é possível tecnicamente, violam a confiança e semeiam a desconfiança. O resultado final não é mais segurança, e sim menos.”
São belas palavras. Podemos esperar, talvez com uma certa dose de ingenuidade, que já representem um limite para as políticas de segurança de outros aliados de Washington — como a própria Alemanha, naturalmente. Mas, na ausência de provas em contrário, palmas para a chanceler. Ela incluiu o Reino Unido em seu protesto contra a espionagem de aliados e acusou as duas potências numa especulação que não parece imprópria: “Será certo que não se trate só de se defender de ameaças terroristas, mas também de obter vantagens sobre seus aliados?”
Ela talvez terá alguma resposta hoje mesmo, quando receberá em Berlim o secretário de Estado americano, John Kerry. Mas, dado o caráter delicado da situação — que talvez possa ser definida como uma briga de velhos amigos —, é possível que os americanos prefiram deixar o assunto esfriar até uma visita de Merkel a Washington, que deverá acontecer dentro de alguns meses.
Diz um velho ditado: “Amigos, amigos, negócios à parte.” É preciso não esquecer que a espionagem — até de amigos — sempre fez parte da agenda de governos. Pelo menos daqueles que têm recursos para isso.
Espionagem — até de aliados — sempre fez parte da agenda de governos. Pelo menos daqueles que têm recursos para isso
Não há qualquer dúvida de que os Estados Unidos são a maior potência do planeta, tanto na área financeira como sob o ponto de vista militar. Mas essa posição confortável tem óbvias limitações, principalmente no caso de um país que também se orgulha de seu regime democrático, inalterado desde o berço.
Por isso mesmo, é preciso dar atenção a uma denúncia, feita esta semana pela chanceler da Alemanha Federal, Angela Merkel. Do alto de suas muletas, necessárias devido a um acidente de esqui, ela soltou o verbo esta semana no Parlamento alemão contra o poderoso aliado, devido ao seu programa de espionagem em massa, do qual não escapam aliados como a Alemanha.
O discurso de Merkel pode ser resumido a um trecho irrespondível: “As ações nas quais o fim justifica os meios, nas quais se faz tudo o que é possível tecnicamente, violam a confiança e semeiam a desconfiança. O resultado final não é mais segurança, e sim menos.”
São belas palavras. Podemos esperar, talvez com uma certa dose de ingenuidade, que já representem um limite para as políticas de segurança de outros aliados de Washington — como a própria Alemanha, naturalmente. Mas, na ausência de provas em contrário, palmas para a chanceler. Ela incluiu o Reino Unido em seu protesto contra a espionagem de aliados e acusou as duas potências numa especulação que não parece imprópria: “Será certo que não se trate só de se defender de ameaças terroristas, mas também de obter vantagens sobre seus aliados?”
Ela talvez terá alguma resposta hoje mesmo, quando receberá em Berlim o secretário de Estado americano, John Kerry. Mas, dado o caráter delicado da situação — que talvez possa ser definida como uma briga de velhos amigos —, é possível que os americanos prefiram deixar o assunto esfriar até uma visita de Merkel a Washington, que deverá acontecer dentro de alguns meses.
Diz um velho ditado: “Amigos, amigos, negócios à parte.” É preciso não esquecer que a espionagem — até de amigos — sempre fez parte da agenda de governos. Pelo menos daqueles que têm recursos para isso.
Companheiros - EDITORIAL GAZETA DO POVO - PR
GAZETA DO POVO - PR - 31/01
São raras as obras no Brasil – um país com gravíssimas deficiências de infraestrutura, como todos sabemos – que contam com financiamento semelhante ao do Porto de Mariel, em Cuba
Talvez para aliviar a angústia de estar em um local onde se respira economia de mercado, a presidente Dilma Rousseff trocou Davos, na Suíça, onde participou do Fórum Econômico Mundial, por Cuba, onde ela inaugurou, no dia 27, a primeira etapa do bilionário Porto de Mariel, ao lado de Raúl Castro. A maior obra realizada em Cuba desde a revolução de 1959 tem pesada participação brasileira: aos US$ 802 milhões emprestados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) se juntarão mais US$ 290 milhões de financiamento anunciado por Dilma durante a inauguração. Por mais que quase todo esse dinheiro deva necessariamente ser gasto com fornecedores brasileiros (é a Odebrecht, por exemplo, que está construindo o porto), muitos questionam o fato de o governo estar usando cerca de R$ 2,5 bilhões (em valores de hoje) para financiar infraestrutura e gerar empregos em um outro país.
Para colocar em perspectiva o dinheiro que está sendo investido em Mariel, vale a pena fazer a comparação com os anúncios no setor de infraestrutura e logística anunciados no Brasil. O Programa de Investimento em Logística (PIL), divulgado pelo governo em agosto de 2012, previa R$ 133 bilhões em um prazo de 30 anos – em média, R$ 4,43 bilhões por ano para rodovias e ferrovias em um país inteiro. Em dezembro daquele mesmo ano, foi lançado o PIL – Portos, que destinaria R$ 54,2 bilhões, entre 2014 e 2017, a 31 portos (média de R$ 1,75 bilhão por porto). Ou seja, são raras as obras no Brasil – um país com gravíssimas deficiências de infraestrutura, como todos sabemos – que contam com financiamento semelhante ao de Mariel.
O porto, aliás, não é o único caso de generosidade brasileira para com Cuba. No dia 27, a Folha de S.Paulo revelou que o Brasil oferece anualmente um crédito de US$ 500 milhões, via BNDES e Banco do Brasil, para que a ilha dos Castro possa importar produtos e serviços brasileiros. E, em maio de 2013, os dois governos assinaram um memorando de entendimento para o financiamento de obras em cinco aeroportos cubanos, no valor de US$ 176 milhões.
Também preocupante é a tendência cubana de não pagar suas dívidas, levando credores a abrir mão de boa parte do dinheiro a que têm direito. Nos casos mais recentes, ocorridos no fim do ano passado, o México perdoou 70% da dívida cubana de US$ 500 milhões, contraída há mais de 15 anos, e a Rússia anulou 90% de uma dívida de US$ 32 bilhões. Pelo acordo com o Kremlin, Cuba deverá enviar US$ 3,2 bilhões, ao longo de dez anos, para Moscou. E, mesmo assim, diplomatas russos duvidavam da capacidade cubana de dispor de US$ 320 milhões anuais para o pagamento. Portanto, não é desprezível o risco de que o dinheiro emprestado por Dilma aos Castro acabe se tornando investimento a fundo perdido. Vale a pena fazer negócio nessas circunstâncias?
Para os Castro, a mãozinha amiga de Dilma é um ótimo negócio, já que a Venezuela bolivariana, que até há pouco usava e abusava do dinheiro do petróleo para patrocinar a ditadura cubana, já não consegue nem sequer colocar papel higiênico nas prateleiras dos mercados. A Venezuela, inclusive, já tinha substituído um padrinho anterior, a União Soviética, que ruiu pouco mais de 20 anos atrás. Para o PT, é a oportunidade de retribuir o treinamento guerrilheiro que alguns de seus líderes receberam durante o regime militar brasileiro, quando os grupos da luta armada sonhavam em instalar no Brasil uma ditadura semelhante à cubana. Resta saber quanto esse companheirismo todo pode custar aos brasileiros.
São raras as obras no Brasil – um país com gravíssimas deficiências de infraestrutura, como todos sabemos – que contam com financiamento semelhante ao do Porto de Mariel, em Cuba
Talvez para aliviar a angústia de estar em um local onde se respira economia de mercado, a presidente Dilma Rousseff trocou Davos, na Suíça, onde participou do Fórum Econômico Mundial, por Cuba, onde ela inaugurou, no dia 27, a primeira etapa do bilionário Porto de Mariel, ao lado de Raúl Castro. A maior obra realizada em Cuba desde a revolução de 1959 tem pesada participação brasileira: aos US$ 802 milhões emprestados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) se juntarão mais US$ 290 milhões de financiamento anunciado por Dilma durante a inauguração. Por mais que quase todo esse dinheiro deva necessariamente ser gasto com fornecedores brasileiros (é a Odebrecht, por exemplo, que está construindo o porto), muitos questionam o fato de o governo estar usando cerca de R$ 2,5 bilhões (em valores de hoje) para financiar infraestrutura e gerar empregos em um outro país.
Para colocar em perspectiva o dinheiro que está sendo investido em Mariel, vale a pena fazer a comparação com os anúncios no setor de infraestrutura e logística anunciados no Brasil. O Programa de Investimento em Logística (PIL), divulgado pelo governo em agosto de 2012, previa R$ 133 bilhões em um prazo de 30 anos – em média, R$ 4,43 bilhões por ano para rodovias e ferrovias em um país inteiro. Em dezembro daquele mesmo ano, foi lançado o PIL – Portos, que destinaria R$ 54,2 bilhões, entre 2014 e 2017, a 31 portos (média de R$ 1,75 bilhão por porto). Ou seja, são raras as obras no Brasil – um país com gravíssimas deficiências de infraestrutura, como todos sabemos – que contam com financiamento semelhante ao de Mariel.
O porto, aliás, não é o único caso de generosidade brasileira para com Cuba. No dia 27, a Folha de S.Paulo revelou que o Brasil oferece anualmente um crédito de US$ 500 milhões, via BNDES e Banco do Brasil, para que a ilha dos Castro possa importar produtos e serviços brasileiros. E, em maio de 2013, os dois governos assinaram um memorando de entendimento para o financiamento de obras em cinco aeroportos cubanos, no valor de US$ 176 milhões.
Também preocupante é a tendência cubana de não pagar suas dívidas, levando credores a abrir mão de boa parte do dinheiro a que têm direito. Nos casos mais recentes, ocorridos no fim do ano passado, o México perdoou 70% da dívida cubana de US$ 500 milhões, contraída há mais de 15 anos, e a Rússia anulou 90% de uma dívida de US$ 32 bilhões. Pelo acordo com o Kremlin, Cuba deverá enviar US$ 3,2 bilhões, ao longo de dez anos, para Moscou. E, mesmo assim, diplomatas russos duvidavam da capacidade cubana de dispor de US$ 320 milhões anuais para o pagamento. Portanto, não é desprezível o risco de que o dinheiro emprestado por Dilma aos Castro acabe se tornando investimento a fundo perdido. Vale a pena fazer negócio nessas circunstâncias?
Para os Castro, a mãozinha amiga de Dilma é um ótimo negócio, já que a Venezuela bolivariana, que até há pouco usava e abusava do dinheiro do petróleo para patrocinar a ditadura cubana, já não consegue nem sequer colocar papel higiênico nas prateleiras dos mercados. A Venezuela, inclusive, já tinha substituído um padrinho anterior, a União Soviética, que ruiu pouco mais de 20 anos atrás. Para o PT, é a oportunidade de retribuir o treinamento guerrilheiro que alguns de seus líderes receberam durante o regime militar brasileiro, quando os grupos da luta armada sonhavam em instalar no Brasil uma ditadura semelhante à cubana. Resta saber quanto esse companheirismo todo pode custar aos brasileiros.
O segundo lance do Fed - EDITORIAL O ESTADÃO
O Estado de S.Paulo - 31/01
Depois de uma semana de tensão nos mercados financeiros e cambiais, uma surpresa positiva: o dólar caiu no Brasil, apesar da nova redução dos estímulos monetários nos Estados Unidos, anunciada no dia anterior. A injeção de dinheiro para reanimar a economia americana passará de US$ 75 bilhões para US$ 65 bilhões em fevereiro. Será o segundo corte de US$ 10 bilhões, no intervalo de um mês. O dólar continuou em alta em alguns mercados e caiu em outros, enquanto as ações se valorizavam nas principais bolsas do Ocidente. Na Argentina, um dos países mais vulneráveis à mudança da política monetária americana, o dólar ficou estável no mercado oficial, cotado a 8,01 pesos por dólar, enquanto se observava uma depreciação moderada no paralelo. Segundo analistas, em todo o mundo houve realização de lucros, depois da grande especulação cambial dos dias anteriores, e também alguma acomodação.
No caso do Brasil, a disputa pela fixação da taxa final de câmbio do mês também ajudou a derrubar a cotação da moeda americana. De toda forma, continuam no horizonte os riscos associados à redução gradual da emissão de dólares. Os financiamentos já se tornaram mais escassos e tanto as empresas quanto os governos terão de se adaptar às novas condições internacionais de crédito e de investimento.
Nenhum cronograma foi anunciado pelo Federal Reserve (Fed) para a alteração de sua política. O ritmo dependerá das informações coletadas entre as reuniões do Comitê Federal de Mercado Aberto, responsável pela estratégia monetária. Por enquanto, as informações indicam recuperação firme da economia americana e a redução do desemprego.
No ano passado o Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos cresceu 1,9%, segundo cálculo divulgado com a estimativa preliminar da atividade no quarto trimestre. Entre o terceiro e o último trimestre de 2013 a produção aumentou em ritmo equivalente a 3,2% ao ano. Houve uma certa desaceleração, mas o resultado é bom e tem sido sustentado tanto pelo consumo das famílias quanto pelo investimento privado. Mas os novos números ainda serão revistos com base em informações mais amplas.
O crescimento da maior economia do mundo prenuncia novas oportunidades para negócios internacionais, mas nem todos os países - e isso inclui o Brasil - estão preparados para aproveitá-las. Além do mais, a normalização da política monetária americana, com diminuição dos incentivos e, mais tarde, uma elevação dos juros, já afeta os mercados e impõe desafios a economias desenvolvidas e em desenvolvimento.
A desaceleração da economia chinesa também complica o cenário, principalmente para os parceiros muito dependentes - também é o caso do Brasil - das vendas de produtos básicos.
Ninguém pode acusar os dirigentes do banco central americano de ter agido de surpresa. Em maio de 2013 todos sabiam do plano. Houve muita especulação, enquanto se esperava o início dos cortes. A palavra tapering, usada para indicar a diminuição progressiva das injeções de dólares, tornou-se corrente nos mercados. As mudanças nas condições de financiamento - crédito mais seletivo e preferência mais acentuada por ativos em dólares - começaram bem antes da execução da nova política. Os governos tiveram tempo razoável para se preparar.
No Brasil, só o Banco Central mudou de orientação, mas a motivação inicial para a alta de juros foi a piora considerável da inflação. Com o início efetivo do tapering, será arriscado evitar uma nova elevação da taxa básica. Vários outros bancos centrais, incluídos os da Turquia e da Índia, aumentaram os juros, nos últimos dias, para conter a fuga de dólares e a depreciação de suas moedas.
O Executivo brasileiro nada fez para melhorar suas contas e para reduzir mais prontamente as vulnerabilidades do País. O recém-divulgado superávit primário do governo central, de R$ 77,07 bilhões em 2013, foi menor que o do ano anterior. As perspectivas de crescimento econômico permanecem ruins, assim como as das contas externas. Mesmo sem tapering o Brasil estaria muito mal na foto.
Depois de uma semana de tensão nos mercados financeiros e cambiais, uma surpresa positiva: o dólar caiu no Brasil, apesar da nova redução dos estímulos monetários nos Estados Unidos, anunciada no dia anterior. A injeção de dinheiro para reanimar a economia americana passará de US$ 75 bilhões para US$ 65 bilhões em fevereiro. Será o segundo corte de US$ 10 bilhões, no intervalo de um mês. O dólar continuou em alta em alguns mercados e caiu em outros, enquanto as ações se valorizavam nas principais bolsas do Ocidente. Na Argentina, um dos países mais vulneráveis à mudança da política monetária americana, o dólar ficou estável no mercado oficial, cotado a 8,01 pesos por dólar, enquanto se observava uma depreciação moderada no paralelo. Segundo analistas, em todo o mundo houve realização de lucros, depois da grande especulação cambial dos dias anteriores, e também alguma acomodação.
No caso do Brasil, a disputa pela fixação da taxa final de câmbio do mês também ajudou a derrubar a cotação da moeda americana. De toda forma, continuam no horizonte os riscos associados à redução gradual da emissão de dólares. Os financiamentos já se tornaram mais escassos e tanto as empresas quanto os governos terão de se adaptar às novas condições internacionais de crédito e de investimento.
Nenhum cronograma foi anunciado pelo Federal Reserve (Fed) para a alteração de sua política. O ritmo dependerá das informações coletadas entre as reuniões do Comitê Federal de Mercado Aberto, responsável pela estratégia monetária. Por enquanto, as informações indicam recuperação firme da economia americana e a redução do desemprego.
No ano passado o Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos cresceu 1,9%, segundo cálculo divulgado com a estimativa preliminar da atividade no quarto trimestre. Entre o terceiro e o último trimestre de 2013 a produção aumentou em ritmo equivalente a 3,2% ao ano. Houve uma certa desaceleração, mas o resultado é bom e tem sido sustentado tanto pelo consumo das famílias quanto pelo investimento privado. Mas os novos números ainda serão revistos com base em informações mais amplas.
O crescimento da maior economia do mundo prenuncia novas oportunidades para negócios internacionais, mas nem todos os países - e isso inclui o Brasil - estão preparados para aproveitá-las. Além do mais, a normalização da política monetária americana, com diminuição dos incentivos e, mais tarde, uma elevação dos juros, já afeta os mercados e impõe desafios a economias desenvolvidas e em desenvolvimento.
A desaceleração da economia chinesa também complica o cenário, principalmente para os parceiros muito dependentes - também é o caso do Brasil - das vendas de produtos básicos.
Ninguém pode acusar os dirigentes do banco central americano de ter agido de surpresa. Em maio de 2013 todos sabiam do plano. Houve muita especulação, enquanto se esperava o início dos cortes. A palavra tapering, usada para indicar a diminuição progressiva das injeções de dólares, tornou-se corrente nos mercados. As mudanças nas condições de financiamento - crédito mais seletivo e preferência mais acentuada por ativos em dólares - começaram bem antes da execução da nova política. Os governos tiveram tempo razoável para se preparar.
No Brasil, só o Banco Central mudou de orientação, mas a motivação inicial para a alta de juros foi a piora considerável da inflação. Com o início efetivo do tapering, será arriscado evitar uma nova elevação da taxa básica. Vários outros bancos centrais, incluídos os da Turquia e da Índia, aumentaram os juros, nos últimos dias, para conter a fuga de dólares e a depreciação de suas moedas.
O Executivo brasileiro nada fez para melhorar suas contas e para reduzir mais prontamente as vulnerabilidades do País. O recém-divulgado superávit primário do governo central, de R$ 77,07 bilhões em 2013, foi menor que o do ano anterior. As perspectivas de crescimento econômico permanecem ruins, assim como as das contas externas. Mesmo sem tapering o Brasil estaria muito mal na foto.
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