O GLOBO - 31/01
Deve-se evitar o conhecido equívoco brasileiro de considerar que todo problema tem uma única solução: mais dinheiro. Há exemplos que desmentem a crença.
A mais recente pesquisa internacional sobre Educação reforça a necessidade de o Brasil recalibrar seus esforços na área. Agora, trata-se do relatório mundial da Unesco (Nações Unidas para a Educação Ciência e Cultura), em que duas centenas de países são monitorados com referência a metas pré-acordadas em 2000 para serem atingidas até 2015.
O relatório divulgado esta semana pela Unesco indica a quase impossibilidade de o Brasil chegar aos objetivos até o ano que vem: 80% das crianças na pré-escola; 97% delas matriculadas nos anos iniciais do ensino fundamental; 97% na fase final deste ciclo; reduzir para a metade a taxa de analfabetismo na faixa de 15 anos ou mais (6,45%, a meta); garantir igualdade de gênero, meninos e meninas, na educação.
Com base em dados de 2011 e 2012, a Unesco faz um diagnóstico pessimista para o Brasil. Por sua vez, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), do MEC, discorda, por entender que pelo menos três das cinco metas serão atingidas (acesso à pré-escola, período inicial do ensino fundamental e equipação nos gêneros).
Pode até ser, mas a situação continua desconfortável, para se dizer o mínimo. Com o destaque negativo especial da persistência do analfabetismo na população de jovens e adultos.
No fim do ano passado, foi a vez do teste internacional Pisa, para estudantes de 15 anos de idade, aplicado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), em que se reúnem os países mais avançados, inclusive o Brasil.
Obtiveram-se bons resultados: o país foi o segundo que mais incluiu na rede de ensino adolescentes com 15 anos. Houve, ainda, substancial queda na taxa de repetência e na distorção idade/série, no ensino médio: de 51,1% para 31,1%. O Brasil, foi, ainda, onde os alunos mais avançaram em Matemática.
Ainda assim, no Pisa, o país se mantém, numa relação de 66 países, entre os dez últimos lugares (desta vez, 58º). Consolida-se a ideia de que, se o Brasil tem avançado, as conquistas se dão de forma lenta. Parece, portanto, correto o diagnóstico de que poder público e sociedade, já tendo sido consensualizada a necessidade de a Educação ter prioridade no país, precisam fazer mais. Não necessariamente em quantidade, mas qualidade.
Incluída no Plano Nacional de Educação a meta de se destinar 10% do PIB para o setor — dobrar, portanto, a proporção atual, em dez anos — , ganha extrema relevância discutir como gastar este dinheiro. Onde, de que forma, quais os mecanismos de controle dos gastos e aferição dos resultados, assim por diante. É crucial evitar o conhecido equívoco brasileiro de considerar que todo problema tem uma única solução definitiva: mais dinheiro. Na própria Educação há exemplos que desmentem a crença.
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