sábado, maio 29, 2010

ROBERTO POMPEU DE TOLEDO

REVISTA VEJA
Roberto Pompeu de Toledo

O fantasma se diverte

"O que o fazia sorrir, em Teerã, era a suspeita de que estavam 
de volta os bons tempos. O presidente do Brasil não ia se meter
de graça numa encrenca como a do Oriente Médio"

Não deu para ver, como todos os fantasmas ele era invisível, mas havia um fantasma naquela cena triunfal de mãos dadas e braços ao alto, em Teerã, irmanando o presidente Lula, o iraniano Mahmoud Ahmadinejad e o turco Tayyip Erdogan. Os mais afoitos sugerirão que o fantasma era o próprio acordo. Ao concordar em ter o urânio enriquecido em outro país, e em seguida acrescentar que nem por isso deixaria de continuar a fazê-lo ele próprio, o Irã entrou nos anais com um caso raro, talvez inédito, de comprometimento simultâneo com uma coisa e seu contrário. Não. O fantasma em questão é outro. Atende pelo nome de Garrastazu de Almeida. Nelson Rodrigues chamou de Sobrenatural de Almeida o fantasma que costumava plantar-se sobre as traves nos jogos do Fluminense. Este é o Garrastazu de Almeida. Estava invisível, mas muito feliz e sorridente, na brecha aberta entre os braços erguidos de Lula e Ahmadinejad.
Em atenção aos jovens: Emílio Garrastazu Médici foi presidente do Brasil entre 1969 e 1974, durante a ditadura militar. Comandou o país no período mais duro, de censura à imprensa, repressão às atividades políticas e tortura nas prisões. Nada a ver com os dias atuais, de liberdades democráticas. Mas, no outro lado da moeda, era o tempo do "Brasil Grande", como se dizia. O país crescia de 8% a 10% ao ano, o consumo alcançava níveis nunca antes vistos neste país, a bolsa de valores batia recordes, o governo investia em grandes obras, como a Transamazônica e a Ponte Rio-Niterói. A euforia estampava-se no dístico "Brasil, ame-o ou deixe-o", exibido nos vidros dos carros. O próprio presidente proferiu uma frase que virou música de sucesso: "Ninguém segura este país". O Brasil parecia ter chegado lá.
Ainda em atenção aos jovens: como se pode constatar, o clima atual de "estamos chegando lá" não é inédito no país. Já ocorreu no governo Médici, como ocorrera no de JK. É antes fenômeno de eterno retorno do que de "nunca antes neste país". Mas o que fez o Garrastazu de Almeida particularmente feliz, na cerimônia de Teerã, foi que o assunto em pauta eram armas atômicas. Quando ele era vivo, e se chamava Emílio Médici, não se contentou com o milagre econômico. Ansiava por um Brasil potência. Nuclear, de preferência. Em seu governo foi anunciada a compra de uma usina atômica, a ser montada em Angra dos Reis. O Brasil recusava-se a assinar o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares. Já não bastasse a histórica rivalidade, vivíamos um grave contencioso com a Argentina em torno da construção da hidrelétrica de Itaipu. Não se falava abertamente, mas tudo levava a crer que caminhávamos em direção à bomba.
O que fazia o fantasma sorrir, em Teerã, era a suspeita de que estavam de volta os bons tempos. Ora, como podia ser de outra forma? Claro que o presidente do Brasil não ia se meter de graça, só pela compulsão ao marketing, numa encrenca do tamanho da do Oriente Médio. Claro que a diplomacia brasileira, que não é boba, não ia na conversa iraniana de que seu programa nuclear tem fins pacíficos. Conclusão: o Brasil agia em função de seu próprio projeto. O que estava contestando era o direito de uma só potência, ou um grupo de potências, determinar quem pode e quem não pode ter a bomba. A leitura do episódio pelo fantasma ia além. Se o Brasil vem investindo, com insistência sôfrega e pedinchona, em obter um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU, precisa acumular cacife para isso. Não há membro do Conselho de Segurança que não tenha a bomba. Por que não nós? Por quê? O fantasma exultava.
Não se ignora no além-túmulo que muita coisa mudou, do regime militar para cá. O Brasil é agora signatário do Tratado de Não Proliferação e as relações com a Argentina evoluíram para a aliança e a colaboração, inclusive nos respectivos programas nucleares. Até foi inscrito na Constituição de 1988 que "toda a atividade nuclear em território nacional somente será admitida para fins pacíficos". Mas… E o nosso peso específico? E a nossa projeção de poder? (O fantasma assimilou o jargão que nos indica o caminho da grandeza.) O atual vice-presidente já declarou que é a favor de o Brasil ter a bomba atômica. Precisamos proteger nosso patrimônio, ele disse. Temos um imenso território, um extenso mar territorial… Temos o pré-sal!
Garrastazu de Almeida saiu satisfeito de Teerã. Voltou feliz para Porto Alegre. Como o Sobrenatural de Almeida, ele gosta de futebol, e costuma frequentar as traves do Grêmio. Ainda leva um velho radinho de pilha.

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE

Sem decisão
Sonia Racy 
O Estado de S.Paulo - 29/05/10

Se não tivesse prazo para terminar, o imbróglio sobre o vice de Serra poderia seguir os caminhos da novela O Direito de Nascer, que durou dois anos. Assim que chegou de viagem, essa semana, Aécio declarou firmemente que não fará dupla com o candidato tucano.
No entanto, depois de ter conversado com o mineiro por telefone, FHC desligou acreditando existir chance de Aécio voltar atrás. Sentimento oposto do apurado por Tasso Jereissati, que falou pessoalmente com o ex-governador.
Conversa direta entre Aécio e Serra? Antônio Anastasia é o mediador de campo. E se não fosse tarde, há quem acredite que teria sido ele, Anastasia, a melhor escolha para Serra.

A confirmar
Tucanos estavam ontem, pela manhã, algo desanimados. Souberam que pesquisa do Vox Populi, encomendada por um partido, mostra Dilma cinco pontos à frente de Serra.

Vida nova
Arthur Badin já procura escritório em São Paulo para se instalar assim que sair do Cade, em novembro. Entre os empresários, já há quem esteja de olho em seus serviços.

À la mineira
O PR, partido de José Alencar, resolveu jogar gasolina na polêmica de Minas. Organizou, com os partidos da base aliada, almoço terça em Brasília para instigar a candidatura de Fernando Pimentel.
Com a presença do próprio.

Com amor se paga
Passione ainda não vai bem de audiência, mas seu par romântico emplacou no Fashion Rio. Marcello Antony e Carolina Dieckmann desfilam amanhã para a TNG.
Sweet Home
A mulher de Luis Fabiano, Juliana, desembarcou no Brasil com as duas filhas. Vão assistir à Copa na chácara do jogador, próximo a Campinas.
E agora, José?
Aliás, a CBF tem sugerido aos jogadores da seleção que não levem suas mulheres por causa da insegurança local.
E Dunga, anteontem, liberou a seleção para fazer... Sexo.
Cabeleira
Maria Fernanda Cândido e Isabeli Fontana entraram na nova onda de Marco Antonio Di Biaggi: hidratação para cabelos com Moroccanoil.
"Saiu na Elle americana e virou febre entre as mais ricas", exalta Biaggi.

Guerra
A CPI da Bancoop na Assembleia monta operação de guerra para ouvir, terça, Hélio Malheiro, a principal testemunha de acusação contra a cooperativa. Ele é irmão de Luiz Malheiro, ex-presidente da Bancoop, que morreu recentemente em um acidente de carro.
Guerra 2
Considerado um arquivo vivo, Hélio entrou no programa de proteção a testemunha. Chegará encapuzado e com escolta policial, sem que ninguém tenha acesso a ele.
Solo
Dilma e Marina serão sabatinadas pelos conselheiros da 
OAB nacional dia 16 de agosto, no DF.
Já Serra faz mistério. Se for, será dia 17, com os holofotes só para ele.
Sem mágoas 
A Raça Rubro Negra, principal torcida do Flamengo, preparou carta de despedida para Adriano, que vai para Roma. "Adriano, boa sorte. Você nos deu o Hexa. Nós lhe demos a sua vida de volta. Estamos quites."
Camisinha de força
Na onda da liberação de sexo antes dos jogos de futebol, torcedores do Santos e Corinthians ganham 20 mil camisinhas amanhã, no Pacaembu. Ideia da Secretaria Municipal de Saúde.
Pedra em água
A Record diz ter se animado com o Cade sobre a comercialização do Campeonato Brasileiro.
Aposta em definição até julho.

Na frente
A biografia de Gilberto Gil a ser publicada pela Nova Fronteira está parada. Motivo? A agenda do cantor. Gil agita a festa da WMcCann. Segunda, no Teatro Bradesco.
Leopold Nosek e João Maurício Galindo debatem cinema e psicanálise. Amanhã, na Cinemateca.
Chegar na balada pingando de suor? Essa é proposta da 1ª SP Bike Circuit. O participante cumpre circuito e cai na The Week. Amanhã.
Osmar Santos abre mostra de pinturas. Segunda. Na Mercearia S. Roque.
Carla Vidal recebe hoje o Troféu SP de Reconhecimento e a Cruz do Mérito Social e Cultural. No Edifício Itália.
O PT continua com mania de aparelho. Reuniu-se nesta semana, no subsolo do Hotel Imperial, exigindo identificação oficial dos companheiros-participantes.

GOSTOSA

RUTH DE AQUINO

REVISTA ÉPOCA
RUTH DE AQUINO
A beleza ajuda a vencer a eleição?
RUTH DE AQUINO
Revista Época
RUTH DE AQUINO
é diretora da sucursal de ÉPOCA no Rio de Janeiro
raquino@edglobo.com.br
Não é de hoje. No século XIX, o escritor irlandês Oscar Wilde dizia que “só os fúteis não julgam pela aparência”. Nos tempos atuais, mais midiáticos do que nunca, a imagem faz um candidato ganhar ou perder votos? Os marqueteiros de Dilma Rousseff acham que sim e estão empenhados na revolução estética da candidata. A equipe de José Serra acha que os trunfos de seu candidato são a confiança e a autenticidade – por isso ele precisaria continuar careca e enrugado. Como pesquisas internacionais enxergam a relação entre voto e beleza?
Num estudo sobre “the political gender gap” – algo como “as distinções de gênero na política” –, Joan Chiao, da Universidade de Illinois, fez uma pesquisa interessante. Ela apresentou fotos de candidatos a eleitores. E tentou diagnosticar quais eram as qualidades – competência, beleza e proximidade – mais valorizadas em políticos de ambos os sexos. Seguem as constatações.
Homens tendem a votar em candidatos homens que lhes parecem, primeiro, competentes. E em candidatas mulheres atraentes, em primei-ro lugar, e competentes, em segundo.
Mulheres tendem a votar em candidatos homens que lhes parecem competentes, em primeiro lugar, e próximos, em segundo. E em candidatas mulheres competentes, em primeiro, e atraentes, em segundo. Então, homem pode ser feio e mulher tem de ser bonita?
“A Dilma tem de se vestir bem e parecer charmosa para seduzir o eleitorado masculino e parecer competente e atraente para as mulheres”, disse o cientista político Antonio Lavareda. Segundo ele, está explicado por que a americana Sarah Palin, apesar de todas as bobagens que diz, desponta como uma força no Partido Republicano. Todos nós lembramos o furor despertado pelas pernas de Sarah, valorizadas por salto alto, associadas à boca e aos olhos expressivos. Mas, quando ela começou a falar... virou personagem de humor.
Portanto, beleza e charme por si só não ganham eleição. Se assim fosse, Margaret Thatcher, Michelle Bachelet e Angela Merkel não esta-riam na galeria das mulheres a comandar países. A mais vaidosa, maquiada e “feminina”, Cristina Kirchner, ali está por causa do marido, e desperta hoje mais ódio que amor dos argentinos.
As pernas de Sarah Palin despertaram furor. 
Mas, ao abrir a boca, virou personagem de humor
No caso de Dilma, seria ingênuo desprezar a transformação radical de seu visual. Tanto a plástica quanto o Botox, e a mudança na roupa, acessórios, cabelo e maquiagem (leia mais), tiveram uma função mais profunda que embelezar seus traços. O objetivo foi suavizar a imagem psicológica de Dilma. O semblante severo e a aparência antiquada reforçavam a fama de gerente durona, rígida, excessivamente técnica e chata – tudo o que o brasileiro comum odeia.
E Serra com isso? Favorito entre as eleitoras mulheres, ele está longe de ser modelo de beleza, embora hoje esteja mais simpático. “Para resumir o que está em jogo em 2010, o sentimento é confiança. De que adiantaria mudar a roupa do Serra, ou injetar Botox? Seria outra pessoa. Algo falso. Melhor ser autêntico do que produzido. Estamos apostando na história dele e numa relação mais afetiva com o eleitor”, disse um representante da equipe do tucano. Ele acredita ser mais fácil dar um embrulho novo em políticos que não tenham ainda uma imagem pública consolidada.
Em outras palavras: como Dilma até há pouco tempo era uma ilustre desconhecida para a massa, sua reinvenção estética pode influenciar, sim, o eleitor. Antes, o povão achava que ela era a mulher do Lula nos comícios. Agora, está até ficando parecida com dona Marisa Letícia, porque alguns esteticistas são os mesmos.
O antropólogo Roberto DaMatta é um dos convictos de que aparência ajuda a vencer eleição. Cita como exemplos o ator Ronald Reagan, nos Estados Unidos, e Collor de Mello, no Brasil. “Em nossa sociedade moderna, que valoriza tanto a imagem e o desempenho na televisão, a beleza, o charme, a elegância e a postura são fundamentais. Entre os jovens, e especialmente em países como o Brasil, a atração física e sexual é o primeiro elo.”
No quesito beleza, seria um desperdício o colírio Aécio Neves ficar de fora. 

TUTTY VASQUES

Comprometimento até no sexo!

Tutty Vasques 

O Estado de S.Paulo - 29/05/10

Kaká era um dos mais chateados com Dunga anteontem em Johannesburgo. Precisava dizer, ainda mais em entrevista coletiva, que no grupo "tem gente que não gosta de sexo", caramba?
O clima tenso só se desfez quando o técnico deu aquela explicação que lhe serve pra tudo: estava se referindo ao sexo sem comprometimento. O amor à pátria continua comendo solto na seleção, com uma condição preliminar: tem de vestir a camisinha verde-amarela, claro.
É muito fácil entender o Dunga! Sexo, no caso, foi só mais uma metáfora infeliz. Ele quis dizer que tem gente que não gosta de nada, e ninguém tem nada a ver com isso!
Não tem o sujeito que não gosta de samba? Pois então! Tem criança que não liga pra brincadeira, gordo que não dá a mínima pra chocolate, celebridade que não faz questão de aparecer, motorista de táxi que detesta dirigir, mãe adotiva que odeia criança...
Tem técnico que não tolera craque, tem jornalista que não atura técnico e, em ambos os casos, vice-versa. Quando não há comprometimento, que vigore a tolerância! Se o cantor Roberto Carlos acha que sexo e sorvete são as melhores coisas da vida, problema dele! Entendeu agora o que o Dunga quis dizer ao Maradona? Demorou, meu!

Descabelada
Que diabos o Departamento de Estado americano está esperando para contratar o cabeleireiro Celso Kamura?! O humor de Hillary Clinton piora toda vez que ela se olha no espelho.

A inveja é uma...
Da série "Você não nasceu pra ganhar dinheiro - relaxa, vai!", sabe qual será o salário do apresentador Raul Gil no SBT? Nem queira saber! Sai dessa, rapaz!
Inveja do Lula
Cristina Kirchner também adoraria despedir-se solenemente da seleção Argentina que vai disputar a Copa, mas já pensou se o Maradona aparece pelado para cumprimentá-la na Casa Rosada? E tem gente que ainda fala mal do Dunga - ô, raça!
Voz cavernosa
A pressão para que José Serra suba o tom de seu discurso ressuscitou o nome do senador Flávio Arns para candidato a vice na chapa tucana. Falar grosso é com ele mesmo.
Verdadeiro inferno
Tudo bem que os sul-africanos toquem suas vuvuzelas nos estádios de futebol. Mas devia ser proibido soprá-las nos engarrafamentos colossais de Johannesburgo. Já pensou se a moda pega aqui também?!
Alto risco
A Sociedade Brasileira de Cardiologia vai monitorar a incidência de enfartes em brasileiros durante a Copa do Mundo. É bom ficar atenta sempre que o Dunga botar o Josué em campo para garantir resultado.
Tá chegando a hora!
Calma! A Copa do Mundo só começa pra valer quando William Bonner perguntar no Jornal Nacional "onde você está, Fátima Bernardes?" Oficialmente, faltam duas semanas para os jogos. 

2 ABILOLADOS

RUY CASTRO

A força maior 

Ruy Castro

FOLHA DE SÃO PAULO - 29/05/10


Uma juíza americana proibiu a atriz Lindsay Lohan de beber álcool. Lindsay está cumprindo uma condicional por dirigir embriagada. A juíza decidiu que ela será chamada de surpresa a fazer exames e terá de usar uma pulseira eletrônica capaz de acusar álcool em seu sangue.
Sei pouco sobre Lindsay Lohan. Tem 24 anos, é bonita, talentosa e gay – aprendi no Google. Nunca vi seus filmes e só há pouco ouvi falar dela, e sempre associada a substâncias. Vive sendo fotografada, na rua ou em boates, em situações desprimorosas. Enfim, como disse, sei pouco a seu respeito. Mas sei o suficiente para dizer que a juíza está errada e que não entende patavina do problema.
Se fosse possível fazer alguém parar de beber por ordem judicial, bastaria um decreto-lei para acabar com o problema do alcoolismo. A juíza supõe que Lindsay seja uma sem-vergonha que, em vez de 'moderar' e beber pouco, como uma boa moça, manda todas para dentro porque gosta de provocar tumulto. Ou seja, a juíza supõe que pessoas com alcoolismo agudo poderiam beber sob controle se tivessem, talvez, 'força de vontade'.
Pena que na vida real não seja assim. Se os alcoólatras conseguissem controlar a bebida não seriam alcoólatras. Não é o bebedor que modera racionalmente o seu consumo – a natureza de seu organismo é que o faz ingerir menos ou mais álcool. Aliás, os fabricantes de bebida sabem disso. Daí aquela advertência ao fim de cada comercial de cerveja exibido na televisão, 'Beba com moderação', ser de um acachapante cinismo.
É possível que, em seus momentos de depressão causada pela intoxicação, Lindsay pense em 'moderar' ou mesmo em abster-se. Mas, no estágio de dependência em que já está, apesar de ter só 24 anos, não é mais a razão que a comanda. Há uma força maior, orgânica, que a leva inexoravelmente à garrafa

PAINEL DA FOLHA

Jader & Juvenil
RENATA LO PRETE
FOLHA DE SÃO PAULO - 29/05/10

O anúncio de que o PMDB do Pará lançará o deputado Domingos Juvenil ao governo, tirando o partido da coligação reeleitoral de Ana Júlia (PT) e dividindo o palanque de Dilma Rousseff, pegou de surpresa o Planalto, que até anteontem vinha recebendo da cúpula peemedebista repetidos sinais de final feliz no Estado.
O susto, aliado à ficha encrencada do pré-candidato, alvo de operação da Polícia Federal, faz o núcleo da campanha de Dilma acreditar que o movimento pode não ser decisivo. A turma de Jader Barbalho ainda estaria, nessa hipótese, tentando negociar uma posição mais confortável na chapa de Ana Júlia.


Farmácia Em abril, a PF encontrou na casa de Juvenil 46 caixas de medicamentos que teriam sido desviados do sistema público de saúde para para distribuição na campanha. O deputado nega.
Precursora O PT despachará para o Maranhão na segunda o secretário-geral do partido, José Eduardo Cardozo, e o de Organização, Paulo Frateschi. A dupla tem a missão anunciada de apurar as denúncias de compra de votos de delegados do partido por parte do PMDB de Roseana Sarney.
Fechado Apeado do governo pela Justiça Eleitoral em 2009, Jackson Lago (PDT) lançou sua pré-candidatura ontem no Maranhão prometendo palanque para José Serra (PSDB). A chapa ao Senado terá os tucanos Roberto Rocha e Edson Vidigal.
Último a saber A passagem de Serra pelo Rio, na quarta-feira, deixou os aliados do DEM um tanto incomodados. Nem o ex-prefeito César Maia nem o filho Rodrigo, presidente nacional do partido, souberam com antecedência da visita. Avisados em cima da hora, não conseguiram chegar a tempo de acompanhar o tucano.
Agora esta Uma nova crise contribui para complicar o já confuso quadro eleitoral no Paraná. O anúncio, feito na segunda pela direção do PSDB estadual, de que o partido abrirá vaga para Ricardo Barros (PP) ser candidato ao Senado, gerou polvorosa entre tucanos que esperavam lançar o correligionário Gustavo Fruet. Além disso, o acerto incluiria a coligação entre PP e PSDB na eleição proporcional.
Os mortos... A proposta de reforma administrativa que tramita no Senado prevê uma nova coordenação para cuidar "de pessoal falecido". A criação do posto foi criticada em documento elaborado por Pedro Simon (PMDB-RS).
...e os vivos O projeto de reforma disponível no Portal da Transparência não é o que está andando no Senado -e que, em vez de enxugar, aumenta em 14% no número de cargos comissionados. O texto aberto para leitura, resultado do trabalho de consultoria da FGV, foi arquivado porque "austero demais".
Modesto Do senador Delcídio Amaral (PT-MS), festejando no Twitter sua inclusão, pela sexta vez, na lista dos cem parlamentares mais influentes do Congresso, feita pelo Diap: "Cheguei ao hexa antes da seleção".
Às compras Antes de renunciar ao mandato de deputado distrital por ter sido flagrado com propina nas meias, Leonardo Prudente fez uma lista de móveis a serem comprados para a nova sede da Câmara, no valor total de R$ 18 milhões. Entre os itens, cadeiras de R$ 4 mil e mesas para um setor de call center (que não existe) por R$ 46 mil. Com a queda de Prudente, a relação foi revista. Ficou em R$ 5,1 milhões.

com LETÍCIA SANDRE e DANIELA LIMA
Tiroteio
"A Polícia Federal mostrou que há grande distância entre o que o Blairo Maggi fala e o que ele realmente faz."

DO PRESIDENTE PV-RJ, ALFREDO SIRKIS, a respeito da prisão, sob acusação de desmatamento ilegal, do secretário do Meio Ambiente do ex-governador de Mato Grosso. Maggi vinha tentando construir a imagem de preservacionista.
Contraponto
Pede pra sair A recente aprovação pelo Senado do projeto que exige "ficha limpa" dos candidatos fez com que o tucano Álvaro Dias se recordasse de episódio ocorrido na época em que era governador do Paraná (1987-1991). Certa vez, discursando na cidade de Pitanga, localizada no centro-sul do Estado, ele se empolgou:
-Lugar de bandido não é na política, é na cadeia!
No meio do público, um munícipe mais inflamado apontou para o palanque e gritou:
-Então sai já daí, prefeito!

JAPA GOSTOSA

DIOGO MAINARDI

REVISTA VEJA
Diogo Mainardi

Corra, Diogo, corra!

Assim como os cachorros latem antes dos terremotos, 
eu interpreto os artigos de Caetano Veloso como sinais 
de alerta para um desastre iminente. Au! Au! O colunismo 
está ruindo. Au! Au! O colunismo está se esboroando

Caetano Veloso agora é colunista de O Globo. Desde sua estreia, num domingo, quatro semanas atrás, estou tentando arrumar outra maneira para me sustentar. Se até Caetano Veloso se tornou um colunista, tenho de mudar de trabalho urgentemente. Assim como os cachorros latem antes dos terremotos, eu interpreto os artigos de Caetano Veloso como sinais de alerta para um desastre iminente. Au! Au! O colunismo está ruindo. Au! Au! O colunismo está se esboroando. Au! Au! É melhor fugir para o meio da rua, antes que o teto desabe sobre mim. Corra, Diogo, corra! Imediatamente depois de Caetano Veloso estrear como colunista de O Globo, a Folha de 
S.Paulo
 passou a contratar colunistas por metro.
No momento, o jornal tem cento-e-vinte-e-oito colunistas. Esse foi o número anunciado por seus próprios editores: cento-e-vinte-e-oito. Nizan Guanaes é um dos novos contratados pela Folha de S.Paulo. No passado, o colunismo era um reduto dos mineiros. Agora ele é dominado pelos baianos. Na semana passada, Lula reclamou da "elite que escreve colunas neste país", só porque alguns articulistas denunciaram o apoio que ele deu à bomba nuclear iraniana. Elite? Qual elite? No Brasil, qualquer um pode se tornar colunista. Temos mais colunistas do que metalúrgicos. Lula repudiou a mentalidade colonizada de nossos colunistas, mas o fato é que a mentalidade da maioria deles nunca saiu dos arredores do Pelourinho. Resultado: os cento-e-vinte-e-oito colunistas da Folha de S.Paulo ovacionaram Lula por seu apoio à bomba nuclear iraniana.
Se o Renascimento teve Ticiano, o nosso tempo tem os analistas técnicos das bolsas de valores. O que é que isso tem a ver com Caetano Veloso? Respondo imediatamente: a fim de me livrar do colunismo, decidi procurar outra fonte de renda, investindo no mercado financeiro. Os analistas técnicos desenham gráficos para tentar antecipar os movimentos das bolsas de valores. Ocasionalmente, esses gráficos assumem formas humanas. Um deles tem o nome de um produto anticaspa: Head and Shoulders. No Head and Shoulders, um índice financeiro sobe até determinado patamar, formando o ombro direito; depois sobe outro tanto, delineando uma cabeça; depois ele oscila até o patamar inferior, no que seria o ombro esquerdo. Na quarta-feira, analisando uma série de gráficos das bolsas de valores, vislumbrei aquilo que me pareceu ser o contorno do cotovelo direito de um retrato pintado por Ticiano, em 1525. Especificamente: o retrato de Federico II com seu cachorro. Au! Au! Apliquei na hora todas as minhas economias. Se o investimento der certo, nunca mais farei um artigo. Se der errado, terei de me transformar num colunista baiano.

MERVAL PEREIRA

Vitória do Pragmatismo
MERVAL PEREIRA 
O GLOBO - 29/05/10


“A geografia do voto nas eleições presidenciais do Brasil: 1989-2006”, um estudo do cientista político Cesar Romero Jacob, diretor da editora da PUC, e uma equipe de pesquisadores brasileiros e franceses, pode ser útil para compor cenários em relação à eleição deste ano, na medida em que, com uma série histórica já de cinco eleições, mostra como os vitoriosos — Collor, Fernando Henrique e Lula — ganharam com estratégias assemelhadas.
Mudanças na chamada “geografia eleitoral” dos partidos mostram que nenhum candidato ganha sem algum grau de compromisso com um Brasil que tem voto e representação política, formando “estruturas de poder” definidas: as oligarquias nos grotões, os pastores pentecostais, os políticos populistas na periferia e a classe média urbana escolarizada.

Este ano, ele prevê uma disputa acirrada, pois os dois candidatos que polarizam a eleição — Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) — são pragmáticos igualmente e buscam alianças políticas sem pruridos ideológicos.

Para Cesar Romero Jacob, o primeiro a entender que existem estruturas de poder no território nacional foi Fernando Collor. Criou-se um mito, até pela falta de uma série histórica, de que a imprensa tinha criado o mito e elegido o Collor.

Não foi a imprensa, no entanto, o fator determinante, afirma Romero Jacob. Segundo ele, Collor, como alguém oriundo da oligarquia, sabia que existiam estruturas de poder no interior do Brasil, que tem cerca de 5.500 municípios, sendo que destes, 5.200 têm menos de 50 mil eleitores, correspondendo a 46% do eleitorado.

Collor contou com as estruturas oligárquicas para vencer, até porque o PFL abandonou o Aureliano Chaves, e o PMDB abandonou Ulysses Guimarães.

Os mapas mostram que ele teve votação no país inteiro, e os percentuais mais altos, na faixa de 64%, numa eleição que teve 21 candidatos a presidente, são sempre em pequenos eleitorados.

Nos grandes centros, o volume de votos é maior, mas o percentual é mais baixo.

Collor entendeu, antes dos outros, que ele precisava usar essas máquinas que existem nos grotões.

Na outra ponta, existem os grandes centros urbanos modernos, onde há um eleitorado mais independente das clientelas políticas, sobretudo uma classe média urbana, escolarizada.

Para esses, diz Romero Jacob, o candidato tem que ter discurso, identificado em pesquisas qualitativas. “Aí você trava uma batalha de opinião pública”, ressalta.

Entre o grotão e os centros urbanos modernos, há uma periferia pobre onde quem tem poder são os políticos populistas com seus centros sociais, que criam uma clientela, e os pastores pentecostais, que com suas igrejas acabam criando também uma clientela eleitoral.

Através de políticas de alianças, de articulação dessas estruturas existentes, Collor conseguiu ganhar a eleição. O que fazia Mario Covas, então candidato do PSDB à Presidência? Os mapas mostram que ele teve voto em São Paulo e no Ceará — porque Ciro Gomes e Tasso Jereissati aderiram ao PSDB logo que ele foi fundado — e em capitais.

Também Brizola teve sua votação restrita, naquela eleição, ao Rio de Janeiro e ao Rio Grande do Sul. “E você não pode querer ser presidente da República sem voto em São Paulo, com 22% do eleitorado, e em Minas, com 11%”, lembra Romero Jacob.

A campanha de Covas não foi pragmática, foi “ideológica”.

O tal “choque de capitalismo” que ele propôs, embora estivesse absolutamente certo, não quer dizer nada para o eleitor lá do grotão, comenta o sociólogo.

Cinco anos depois, Fernando Henrique Cardoso pragmaticamente fez a mesma coisa que Collor, só que no sentido contrário: foi dos grandes centros para os grotões.

Aí o choque de capitalismo já não era teórico, era o Plano Real, que catalizou essas estruturas de poder. Mas Fernando Henrique fez alianças com as oligarquias, e por isso foi muito criticado.

O professor Cesar Romero Jacob usa os mapas eleitorais para rejeitar a tese de que, com o Plano Real, Fernando Henrique poderia ter vencido as eleições sem o PFL.

“Quando você tem uma série histórica com cinco eleições, e começa a ver o mesmo fenômeno se repetir, chega à conclusão de que o eleitorado não é tonto, o voto não é errático. Mesmo que as conjunturas sejam diferentes, você tem as mesmas estruturas de poder sobre o território que têm que ser articuladas”.

Fernando Henrique foi o segundo a abandonar as ilusões de que se pode ganhar uma eleição presidencial apenas com uma tese.

O mapa eleitoral do Fernando Henrique é muito parecido com o do Collor, destaca Romero Jacob, e em nada tem a ver com o do Mario Covas.

É claro que o eleitorado do Fernando Henrique nos grandes centros é sempre maior que o do Collor, porque ele reúne o eleitorado tucano dos grandes centros urbanos, com as máquinas oligárquicas nos grotões, explica o professor.

Ele também fez aliança com os políticos populistas da periferia e com os pastores pentecostais. Em 1998, a estrutura da votação foi assemelhada, com algumas diferenças.

Mas, pragmaticamente, ele se aliou em São Paulo a Paulo Maluf e teve uma vot ação no estado muito maior do que tivera em 1994 — venceu por diferença de 5 milhões de votos.

Até aqui, diz Romero Jacob, temos a vitória do pragmatismo sobre uma posição “ideológica” de Lula, que tinha uma votação, sobretudo, nas capitais, onde há um eleitorado de esquerda, e nos municípios industriais: ABCD mais Osasco e Guarulhos, em São Paulo; em Minas, no Vale do Aço; e, no Rio de Janeiro, tinha voto em Volta Redonda.

(Continua amanhã: a mudança em 2002)

O ABILOLADO A VAGABUNDA E A MENTIROSA

ANCELMO GÓIS

LULA E OS CLINTON
ANCELMO GÓIS
O  GLOBO - 29/05/10

De Lula a um assessor, após discutir com o primeiro-ministro da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, as declarações da secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, contra o acordo com o Irã:
— Esses Clinton são todos tucanos.
Não é a primeira vez que Lula faz chacota da amizade do casal Clinton com FH.

LULA É REPUBLICANO
Aliás, em março, Lula, sob o argumento de que “ministro fala com ministro”, disse só ter recebido Hillary porque o chanceler Celso Amorim insistiu.
Só que o presidente, na época do Bush, recebeu mais de uma vez Condoleezza Rice, antecessora de Hillary no cargo.

FARDÃO ELEITORAL 
Serra e Dilma já confirmaram que vão à ABL em agosto para falar sobre o programa cultural dos candidatos.

IMPÉRIO DO DESAMOR
Ontem, Adriano expulsou Vagner Love (que saiu chorando) de sua casa, no Condomínio das Mansões, na Barra, na festa de despedida do Imperador.
Os dois amigos brigaram — por um rabo de saia, claro.

INTELECTUAIS 
Depois de se reunir com artistas num encontro organizado por Wagner Tiso, segunda é a vez de Dilma Rousseff se encontrar com intelectuais.
Será às 18 horas, no auditório do Hotel South American Copacabana.

MARCEU NA COPA 
Jacob Zuma, o presidente casamenteiro da África do Sul (tem cinco mulheres, poligamia permitida pela etnia zulu), trabalhou ontem de paletó e... camisa da seleção do país.
É que Zuma baixou uma medida para instituir a sexta, até o fim da Copa, como a “Soccer Friday” (“Sexta do Futebol”).

É ASSIM... 
Às sextas, pela recomendação do presidente sul-africano, todos devem vestir a camisa dos Bafana Bafana, como é conhecida a seleção do país.
O povão comprou a ideia. Ontem, só se viam nas ruas nativos com o manto da seleção deles.

MAS... 
O embaixador brasileiro na África do Sul, José Vicente Pimentel, adotou a medida. Só que com alma canarinho. Ontem, foi trabalhar com a camisa da nossa seleção (a 11, de Robinho).

SEXO E PIRATARIA 
Acredite. Ontem, um camelô de Copacabana fazia lista de espera para a compra do DVD pirata de Sexy and the City 2.
O ambulante dava garantia de que o piratão chegaria hoje em suas mãos, por R$ 10.

BRASIL-FRANÇA
Pedro Malan foi convidado para integrar o Conselho Executivo da Câmara de Comércio Internacional em Paris. 

TIPO EXPORTAÇÃO
Acredite. A saúde brasileira anda mesmo virando exemplo no exterior. Depois das campanhas de vacinação, semana que vem, o ministro José Temporão vai mostrar a Lula um vídeo recém-produzido pela ONU que trata o sistema de combate à mortalidade materna e infantil brasileiro como exemplo. O filme de uns 10 minutos destaca as ações de combate às desigualdades regionais relativas às mortes de mães e recém-nascidos. 
É. Pode ser.