quinta-feira, junho 12, 2014

Padrão nordestino!



O exoesqueleto de Miguel Nicolelis é 

padrão nordestino (Brasil), uma BOSTA!

D I L M A V A I T O M A R N O C.



D I L M A    V A I    T O M A R    N O    CU!

Só queremos o hexa - CARLOS ALBERTO SARDENBERG

O GLOBO - 12/06

É possível que a gente ganhe a final da Argentina; mas o projeto de celebração política do governo Dilma/Lula foi perdido



Vereadores de São Paulo, de bronca porque não receberam ingressos para a abertura da Copa, adiaram a votação de um importante projeto de lei que regula a construção de imóveis na cidade. Por falta de uma boca livre, tomaram uma decisão política até sustentável.

Já em Brasília, deputados fizeram o contrário. Aproveitaram um gesto político — a oposição à medida provisória que cria os conselhos populares — para ganhar uma folga geral durante o mês de Copa. Em protesto contra essa tentativa de formar uma estrutura paralela de controle do Estado, até uma boa atitude, abandonaram o local de trabalho para só voltar às votações quando o governo Dilma retirar a medida. Por coincidência, claro, dá para acompanhar os jogos, digamos, junto às bases.

Assim é a Copa entre nós. O mote é: todo mundo gosta do jogo e da seleção, e isso é o mais importante, certo?

Errado. A maioria gosta, mas os atores sociais e políticos envolvidos sempre procuram tirar alguma coisa extracampo.

Começa pela decisão de sediar a Copa, uma escolha de governo, portanto, uma opção política. Por que os governos fazem isso? Para promover a celebração do país no cenário internacional.

Sim, há toda uma conversa sobre ganhos econômicos e legados, mas isso é muito discutível.

Um país que está na pior, seja por razões econômicas, seja por política, não consegue sediar uma Copa. Só conseguem os países desenvolvidos e/ou emergentes que passam por um bom momento e cujos governos pretendem exibir isso ao mundo.

Foi o caso, evidente, da África do Sul, que promoveu a primeira Copa naquele continente. Seu governo quis mostrar que ali estava um país capaz. Foi o caso das Olimpíadas da China, cuja liderança quis se apresentar ao mundo como a nova potência.

A Alemanha não precisava demonstrar nada a ninguém, mas em 2006 o governo quis fazer a Copa do país reunificado.

Sete anos atrás, quando se candidatou e levou a Copa, o Brasil de Lula vinha bem e já estava com lugar garantido no grupo dos principais emergentes. Por que não consagrar isso com uma Copa, especialmente no país pentacampeão, amante fiel do jogo?

Também teve a conversa do legado, mas era basicamente um projeto político. Isso vinha mais ou menos bem até pouco tempo atrás. As pesquisas mostravam clara maioria a favor da realização do Mundial. A população começava a se animar e a maior preocupação era com o time, que não engrenava.

No dia da inauguração, a percepção se inverteu. A população está superconfiante na seleção, fechou com Felipão, como se viu na final da Copa das Confederações, mas perdeu o encanto com a realização do Mundial. A maioria agora acha que não era uma prioridade e que o governo deveria gastar seu dinheiro com educação, saúde e segurança.

Como tudo por aqui, o ambiente mudou depois das manifestações de junho do ano passado.

E ficamos assim: a celebração em campo é muito provável; é possível até que que a gente ganhe uma final da Argentina, suprema felicidade; mas o projeto de celebração política do governo Dilma/Lula foi perdido.

A presidente está na defensiva diante das críticas que surgem aqui e lá fora ao processo de organização. Está tão na defensiva que precisou apelar para um patriotismo sem sentido. Críticas são consideradas ataques ao Brasil. E a esses “inimigos” Dilma atribui o desejo de ver catástrofes.

Ora, ninguém disse isso. O que muitos disseram, fora do governo, é que havia casos de dengue em número superior ao “normal” nesta época do ano. E há. E que o sistema elétrico estava trabalhando no limite, havendo risco de uns 25% de falta de energia em certos lugares. E há.

Daí a dizer que essas pessoas queriam ver os turistas estrangeiros com dengue, jogados em hospitais públicos sem energia, como sugeriu Dilma, em rede nacional, vai alguma diferença, não é mesmo?

Também é sintomática a reação da militância Dilma/Lula. Se é óbvio que muita coisa não ficou pronta, o pessoal responde: E daí? O importante é que vai ter jogo. Diante do fato de que já ocorre espera longa em aeroportos, o pessoal responde: também há demora nos desembarques em Miami...

Quer dizer, se é tudo meia-boca, estão reclamando de quê, seus...?

Mas dá para entender a bronca de Dilma e de Lula. Tanto esforço e, na hora, nem podem fazer uma bela celebração nos estádios?

Tudo considerado, não vamos cair no extremo oposto. Tem muita coisa que não saiu bem, mas queremos mesmo é ganhar a Copa. Melhor ainda: com um golaço de Messi, superado por dois espetaculares de Neymar, que tal?


Recessão "técnica", vida real e voto - VINICIUS TORRES FREIRE

FOLHA DE SP - 12/06

Cresce o risco de que país saiba, um mês antes de votar, que o PIB encolheu por um semestre


AUMENTOU O RISCO de que a economia brasileira encolha no primeiro semestre. As prévias da atividade econômica indicam que se torna mais provável uma baixa da produção no segundo trimestre e uma revisão do crescimento do início do ano.

O resultado do crescimento do PIB da primeira metade do ano será divulgado no dia 29 de agosto, quase um mês antes do primeiro turno da eleição (5 de outubro). Qual pode ser o efeito político de um Pibinho mais do que minguante?

Era razoável imaginar, desde o início do ano, que as desmelhoras econômicas cada vez mais intensas e o efeito acumulado de quase um semestre de tumulto nas ruas tenderiam a se realimentar, o que deveria afetar o prestígio e a votação de Dilma Rousseff.

Foi o que aconteceu. As desmelhoras e primeiro sinais de pioras na economia realimentaram o mau humor social e político, o que ajudou a degradar ainda mais a confiança na economia. A alta da insegurança econômica, bem maior que a deterioração da economia, está associada à baixa da popularidade da presidente e candidata Dilma Rousseff, que voltou a níveis semelhantes ao do colapso provocado por junho de 2013.

Em si mesma, a notícia de encolhimento da economia, do PIB, quase um mês antes da eleição deve ter algum impacto de imagem direto, mas nem tanto assim: o grosso do eleitorado não sabe nem quer saber o que é PIB.

A palavra "recessão" não vai pegar bem, ao menos entre a minoria que acompanha tais coisas. Caso se confirme o encolhimento semestral, muito vai se ouvir a expressão "recessão técnica", o que não quer dizer quase nada (o adjetivo "técnico" parece conferir seriedade a um substantivo, mas não tem lá grande substância além de significar dois trimestres consecutivos de produção econômica menor).

Mais importante é saber quando desse encolhimento será reflexo da deterioração econômica mais perceptível no cotidiano do grosso do eleitorado.

Indicadores antecedentes (prévias indiretas) de pesquisas da FGV passaram a captar um risco de aumento de desemprego (nas grandes cidades, o emprego já não cresce faz uns seis meses; não há desemprego maior, pois menos gente procura trabalho).

A indústria teve um maio ruim e está em regime de férias coletivas (ameaça de demissão, pois). Mas ninguém prevê explosão nem alta relevante do desemprego neste ano.

No entanto, por ora prevê-se também que o PIB do segundo semestre vai compensar parte das perdas do primeiro. Ainda assim, as previsões vão baixando. Na mediana, a centena de previsões privadas do PIB compiladas pelo Banco Central está em 1,4% para o ano (ante 2,5% de 2013) e com cara de baixar.

Ontem, os economistas do Itaú, que não são descabelados, baixaram a deles para 1%, com encolhimento no segundo trimestre.

Na ausência de novidades, a tendência é de o esfriamento se disseminar paulatinamente pela economia "real" (isto é, a da percepção cotidiana), como tem ocorrido desde o final do ano passado, clima mal temperado ainda por notícias pontualmente ruins de recessão "técnica", demissões em setores muito notórios e inflação estourando a meta por alguns meses.


Hora de reajustar o modelo - RAUL VELLOSO

O ESTADO DE S.PAULO - 12/06


Inquieto com as pesquisas eleitorais, o ex-presidente Lula, patrono do atual governo, questionou publicamente o secretário do Tesouro a respeito da razão pela qual o governo aperta o crédito oficial "se a gente não tem inflação de demanda". Arno Augustin não respondeu, mas alguém deveria explicar a Lula que, se a inflação anual de serviços está rodando próxima de 9% ao ano quando a meta oficial é de 4,5%, é óbvio que existe inflação de demanda. Com a variação dos preços administrados próxima de zero, e dados os preços externos e a taxa de câmbio, a inflação só cairá no curto prazo se cortarmos a demanda por serviços. Sem ajuste fiscal, sobram elevação dos juros e contenção do crédito público.

Num prazo mais longo, é preciso criar condições para os investimentos privados em serviços não apenas serem ampliados, como terem como foco maior produtividade, inclusive porque o governo não para de expandir o gasto corrente. O ponto é: além do elevado peso no PIB, por sua natureza o setor de serviços é atendido basicamente pela oferta interna. Assim, se esta não cresce adequadamente, os estímulos de um modelo econômico como o nosso, puxado pelo rápido crescimento do consumo, produzem uma forte pressão sobre os preços de serviços, por conta dos aumentos salariais que são parte do mesmo processo. Não adianta forçar uma baixa artificial, como se fez com os preços administrados, a exemplo da energia elétrica, ou nos quais se interfere fortemente, como os pedágios e as tarifas de ônibus. Quando a hora da verdade chegar, os preços terão de ser realinhados e ocorrerá a velha "inflação corretiva". Ou seja, é preciso ampliar investimentos com redução de custos a médio e a longo prazos.

A princípio, na fase pós-2003, diante do elevado grau de capacidade ociosa existente, foi possível ao ramo industrial, onde os preços da maior parte dos produtos são dados externamente, pagar durante algum tempo os salários mais elevados que se originavam no setor de serviços, sem maiores demissões e outros ajustes.

Como a indústria compete com importados, uma hora tenderia a ceder espaço para a expansão dos demais segmentos, a não ser que conseguisse produzir mais com menos gente, o que não é fácil. Dito de outra forma, a maior demanda pelos majoritários serviços só pode ser atendida mediante ampliação da oferta interna, enquanto na indústria há a opção de importar do exterior. Daí a tendência natural, desde 2004, à apreciação real da taxa de câmbio, mecanismo pelo qual a reorientação setorial da economia se materializa. Trata-se da outra face de um mesmo fenômeno, ou seja, da mudança de preços relativos em favor de serviços e contra a indústria, acentuada posteriormente pelo tsunami de dólares que inundou os mercados brasileiros nos últimos anos. Só assim ingressam mais capitais externos para complementar a combalida poupança interna, corroída pelo modelo pró-consumo.

Até bem pouco a apreciação cambial vinha atenuando as pressões inflacionárias oriundas de serviços, mantendo o crescimento dos preços industriais em reais bem abaixo daqueles. Só que, inconformado com as perdas da indústria, o governo Dilma resolveu compensar seus azares forçando o Banco Central a subir a taxa de câmbio artificialmente em alguns momentos da fase mais recente, causando inflação. Além disso, criou políticas específicas de proteção à produção doméstica, desonerou tributos e ampliou maciçamente o crédito oficial, outra fonte de inflação e ineficiência. Finalmente segurou ainda mais os preços administrados, o que implica, portanto, remar contra a maré natural decorrente do modelo pró-consumo. O pior é que a indústria ficou e continua estagnada há meses, e a taxa de investimento (valor do investimento global dividido pelo PIB) não cresce mais há bastante tempo. Ou seja, em vez de brigar contra a contenção do crédito, Lula deveria dizer a Dilma que o modelo atual está esgotado.


A "brincadeira" de Lula com Arno - RIBAMAR OLIVEIRA

Valor Econômico - 12/06

O governo Dilma fez o menor esforço fiscal em 15 anos

Na sexta-feira da semana passada, durante palestra promovida pelo jornal "El País", em Porto Alegre, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez críticas ao secretário do Tesouro, Arno Augustin, que estava na plateia. Lula disse que "se depender do pensamento do Arno você não faz nada". Ele lembrou que os tesoureiros de sindicatos e as donas de casas também são assim. "Eles não querem gastar, só querem guardar, mas tem que gastar um pouco também", afirmou, de acordo com relato dos jornais. O ex-presidente disse ainda não entender porque o governo está "barrando o crédito, se não tem inflação de demanda".

Anteontem, Lula afirmou que tudo não passou de "uma brincadeira" com Arno, pois não tem divergências com o governo. "Eu brinquei com ele e ele nem ficou bravo'", disse, segundo relato da imprensa. Ainda bem que era apenas uma "brincadeira", pois se estivesse falando sério, o presidente estaria cometendo uma grande injustiça. O governo nunca gastou tanto como nos últimos dois anos, quando a política fiscal comandada por Arno pressionou fortemente a demanda agregada da economia.

Ele assumiu a chefia do Tesouro em junho de 2007, ou seja, está lá desde o segundo mandato do ex-presidente. Em seu primeiro ano de governo, a presidente Dilma Rousseff ainda acreditava ser necessário que a política fiscal desse uma ajuda ao Banco Central no combate à inflação. Por isso, o secretário do Tesouro executou uma política contracionista em 2011, quando o superávit primário de todo o setor público ficou em 3,11% do Produto Interno Bruto (PIB) - resultado que não era obtido desde 2008. O resultado fiscal de 2010 precisa ser visto com reserva, pois o governo vendeu petróleo do pré-sal para a Petrobras e, com o dinheiro capitalizou a empresa e utilizou R$ 31,9 bilhões para fazer o superávit primário daquele ano.

No segundo ano de governo Dilma, no entanto, as amarras foram soltas. Em 2012, o governo federal gastou R$ 40,5 bilhões a mais do que no ano anterior, a preços de dezembro de 2013, ou 5% a mais, em termos reais. O governo só cumpriu a meta fiscal prevista na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) porque lançou mão de uma poupança de R$ 12,4 bilhões que estava guardada, desde 2008, no Fundo Soberano do Brasil (FSB). Mesmo assim, o superávit primário do governo central (Tesouro, Previdência Social e Banco Central) ficou em 1,96% do PIB, contra 2,25% do PIB do ano anterior, de acordo com o BC.

Não foram apenas as despesas do governo federal que explodiram. Os gastos dos Estados e municípios também apresentaram expansão considerável. Em grande parte porque Dilma autorizou novos limites de empréstimos para os governos estaduais e prefeituras, com o objetivo de que eles ampliassem os seus investimentos. Com isso, o superávit primário de Estados e municípios caiu para 0,49% do PIB, contra 0,80% do PIB no ano anterior.

Essa estratégia de política fiscal expansionista foi mantida no ano passado, quando o crescimento da despesa total (inclui os benefícios da Previdência Social) foi maior ainda, de R$ 61,5 bilhões, também a preços de dezembro de 2013 (veja tabela abaixo) ou 7,2% a mais, em termos reais. Com isso, o superávit primário do setor público consolidado caiu para 1,9% do PIB - o mais baixo desde 1998, quando teve início o programa de ajuste fiscal brasileiro, negociado com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Por causa dos empréstimos, o superávit primário dos Estados e municípios continuou caindo, tendo ficado em 0,34% do PIB.

O governo Dilma Rousseff foi o que fez o menor esforço fiscal nos últimos 15 anos. Com Arno Augustin no comando das contas pública. Isso não decorreu de queda das receitas. Ao contrário, a receita líquida da União (excluídas as transferências para Estados e municípios) cresceu muito nos últimos anos. Em 2012, ela cresceu 1,75% em termos reais na comparação com o ano anterior. Em 2013, o aumento real foi ainda maior, de 6,2%. O que chama a atenção é que a despesa cresceu em ritmo mais acelerado que a receita e isso só foi possível porque o governo reduziu o superávit primário.

Na gestão Dilma, o Tesouro ampliou consideravelmente os empréstimos ao BNDES, com taxa de juro subsidiada e feitos com emissão de títulos públicos. Em abril deste ano, o estoque desses créditos já estava em R$ 414,7 bilhões ou 8,4% do PIB. Esse volume recorde de recursos foi utilizado pelo BNDES em operações com o setor privado, com taxas de juros negativas, para sustentar o investimento.

Dizer que o secretário Arno Augustin "não gosta de gastar" só pode ser mesmo uma "brincadeira" do ex-presidente Lula. A crítica que se faz ao secretário do Tesouro e à sua equipe é de outra natureza. Ela se refere a uma "contabilidade criativa" usada para alcançar as metas fiscais anuais e, com isso, acomodar gastos tão elevados.

O BNDES como trava - CELSO MING

O ESTADÃO - 12/06

Há três anos, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, garantiu que resolveria o problema da falta de financiamentos das obras de infraestrutura, por meio do lançamento de debêntures, títulos de longo prazo. Foi outra promessa não cumprida.

Ontem, no Estadão, o empresário Marcelo Odebrecht se queixou de que não há financiamento de longo prazo no Brasil. O governo responde com superativismo do BNDES, regado a recursos do Tesouro, e acha isso uma glória. E reclama dos bancos privados, que não colaboram com mais esse interesse nacional.

O equívoco começa quando nossas autoridades não reconhecem que o BNDES também é obstáculo ao desenvolvimento de um mercado de longo prazo no Brasil porque os bancos privados não têm como competir com recursos subsidiados de longo prazo fornecidos pelo Tesouro.

Não é verdade que os bancos privados fogem de qualquer engenharia financeira que se encarregasse de oferecer financiamentos de longo prazo com recursos de curto prazo. Praticamente todos os bancos operam no financiamento habitacional que tem até 30 anos para voltar em suaves prestações mensais, a partir de recursos devidos à vista, por meio dos mecanismos da caderneta de poupança.

Para outras finalidades, não há recursos de longo prazo que possam lastrear financiamentos também de longo prazo, porque os juros internos são altos demais, pelas razões já conhecidas: porque o governo não faz a parte dele na política fiscal (administração das despesas) e deixa o Banco Central sozinho na tarefa de combater a inflação com o único instrumento de que dispõe: a política de juros.

Daí se conclui que um mercado de capitais capaz de mobilizar recursos de longo prazo só terá condições de se desenvolver no Brasil quando os juros internos forem derrubados aos níveis vigentes no mercado internacional. Isso, por sua vez, exige arrumação da casa.

Essa arrumação não se limita às questões fiscais. Odebrecht advertiu que não basta resolver a questão de funding (fornecimento de recursos). É preciso, também, capacidade gerencial no governo. Praticamente todas as obras públicas levam atrasos impressionantes. As da transposição das águas do Rio São Francisco já deveriam ter terminado há 4 anos e hoje não se sabe quando vão terminar. Salvador acaba de inaugurar seu metrô com apenas quatro estações, em construção há 14 anos. "Os bancos não aceitam o risco da contrapartida pública que vem de Parcerias Público-Privadas (PPPs)", explicou Odebrecht.

E há o resto. Há as distorções da política econômica, que esfrangalham o caixa das empresas que mais precisam investir, como a Petrobrás e a Eletrobrás.

É em horas assim que todos se lembram de que há trilhões de dólares disponíveis lá fora à cata de aplicações. Mas esse também não é um recurso desejado por este governo, que passou os últimos três anos se queixando da excessiva entrada de capitais de curto prazo e, nos fóruns internacionais, denunciou a guerra cambial e os tsunamis monetários.

O próximo governo, qualquer que seja ele, terá de dar prioridade aos investimentos de infraestrutura. Mas só terá sucesso nisso se equacionar os enormes problemas que impedem o financiamento das obras públicas.


Entrando em campo - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 12/06

O Brasil vai entrar em campo. Duplamente: como país-sede, e a seleção no seu primeiro jogo. Em 1950, 91,7% dos brasileiros vivos, hoje, não tinham nascido. Para 185,9 milhões dos 202 milhões, esta é a primeira competição no país. Das copas, cada um mistura suas lembranças. As minhas vão da alegria de sair correndo da escola para ouvir pelo rádio, em casa, à que vi dividida entre o amor ao time e o ódio ao regime militar.

Éramos muitos lá em casa e, em 1962, havia apenas um rádio. Perto dele disputávamos espaço. Eu era do time dos menores, com pouca chance de chegar perto do aparelho e nenhum entendimento dos dribles e jogadas. Mas o “gol do Brasil” eu sabia o que era. Desentendia os que o Brasil levava, porque, afinal, achava que éramos invencíveis. E fomos.

Em 1966, foi uma tristeza melancólica. Como acontecer tal fiasco e justo para inglês ver? Em 1970, foi a divisão radical entre sentimentos polares: torcer pela seleção amada ou rejeitar a propaganda maciça que misturava o regime ao time? Quem viveu aquela partição não se esquece. Hoje, sabemos que a tortura aumentava nas prisões em dias de jogos. A sensação que tenho até hoje é que quando saí, num fusquinha conversível, de um amigo alemão, para comemorar na Afonso Pena, em Belo Horizonte, eu vibrava e chorava na mesma intensidade. Eram os dois sentimentos presentes. Eu odiava aquele governo e amava aquela seleção. Como não amar?

A democracia garante a separação entre seleção e governo. Isso é civilizatório como a separação entre Igreja e Estado. Todos os desgostosos com qualquer coisa não precisam torcer hoje pela Croácia, mas, como é democracia, cada um é livre para fazer o que quiser. Ninguém dirá “ame-o ou deixe-o”. Que alívio.

Como demorou, depois de 1970, para erguemos novamente a taça! No caminho houve tristezas mais dolorosas que outras. Em 1982, meu filho Matheus não aceitou o resultado do jogo Brasil x Itália, e, numa demonstração precoce do amor que ainda tem pelo futebol, continuou a narração do jogo. Na sua versão, o Brasil marcava mais três gols contra a Azurra, depois do apito final. Até hoje prefiro aversão do Matheus para aquele jogo que terminava em 5, para nós, e 3, para a turma de Paolo Rossi.

Em 1994, o país estava vivendo vastas emoções. O luto por Ayrton Senna, a esperança numa nova moeda, a segunda eleição presidencial da democracia; a primeira terminara em impeachment. Tempo de definições e escolhas. Taffarel foi na bola. Era dele.

Em 2002, ao final do último jogo, eu quis escrever sobre a Copa. Era domingo, não tenho coluna às segundas. Liguei para Luiz Paulo Horta. Saudade daquele dia e do amigo querido. Disse que queria escrever sobre futebol. Luiz Paulo era de aceitar o inesperado com alegria juvenil. E, assim, me deixou sair do campo econômico e me escalou para o time dos articulistas que escreveriam sobre a inebriante vitória sobre a Alemanha. “E o título, Miriam?” Fiz uma escolha musical: Tão bonita manhã.

E assim chegamos no ano da graça de 2014. A Copa será aqui e há muita gente brava com os atrasos, os gastos, as escolhas dos governantes. Com a inflação alta, o baixo crescimento, o trânsito. As promessas não cumpridas. Difícil dizer que os descontentes não têm razão. Mas, hoje, vou vestir a camisa que meu filho Vladimir me deu e torcer com meus netos. Pela festa e pelo time. Para o exoesqueleto e os nossos jogadores. Ficarei ao lado da menina que saía da escola em disparada, subia voando a Rua João Pinheiro, cruzava a Rua Princesa Isabel até o número 100 e, uniformizada, entrava em campo sonhando com a vitória.

Pão e circo - MERVAL PEREIRA

O GLOBO - 12/06

A Copa do Mundo de futebol começa hoje em São Paulo sem que dois personagens centrais de sua organização possam sequer aparecer no telão do Itaquerão, ou terem suas presenças no estádio anunciadas, justamente os que pensavam em retirar do evento dividendos políticos, cada qual à sua maneira: a presidente Dilma, candidata petista à reeleição, e o presidente da Fifa, Joseph Blatter, também almejando mais uma recondução ao cargo.

Outro grande ausente da cerimônia de abertura será o ex-presidente Lula, responsável pela construção do novo estádio e torcedor fanático de futebol, mas sem condições de se expor ao público sem correr o risco de uma vaia. Aliás, é de se notar que nenhum candidato à Presidência da República pretende dar as caras no estádio.

Situação distinta da que passou o então governador de Alagoas, Fernando Collor, que escolheu o desfile de escolas de samba de 1988 para testar sua popularidade, e foi amplamente vitorioso na ocasião, pavimentando o caminho para sua eleição à Presidência da República no ano seguinte.

Aconselhados pela vaia que levaram na abertura da Copa das Confederações, Blatter e Dilma preferiram o anonimato, ambos utilizando-se de cerimônias em recinto fechado para fazerem seus pronunciamentos oficiais. A presidente Dilma usou a prerrogativa do cargo para se defender das críticas em cadeia nacional de televisão, sem possibilidade de reação da plateia.

Blatter enfrentou a oposição europeia à sua permanência no cargo ao comandar a cerimônia oficial da assembleia da Fifa, e não contou com a solidariedade da presidente Dilma, que pretextou uma providencial gripe para não comparecer à reunião como prometera a ele.

O fato é que as acusações de corrupção contra a direção da Fifa vêm aumentando de tom à medida que se descobrem indícios fortes de que a escolha do Qatar para sede da Copa de 2022 teve interferências indevidas e subornos dos delegados. O que deveria ser a apoteose do projeto iniciado há sete anos, quando a Fifa escolheu o país do futebol para sediar a Copa do Mundo, transformou-se em um pesadelo para o governo e para a Fifa, e mostrou que o povo brasileiro não é exatamente o que pensavam que era: acrítico diante da possibilidade de ver os principais craques do mundo da bola ao vivo em suntuosos estádios.

A confirmação da intenção eleitoreira do governo brasileiro está na escolha de 12 sedes para a Copa, em vez das tradicionais oito. E na tentativa, revelada recentemente, de termos nada menos que 17 sedes, para que a miríade de partidos da coalizão governamental pudesse tirar proveito político do campeonato.

O povo brasileiro vai dando um exemplo de como é possível separar o joio do trigo sem perder a naturalidade.

Adora futebol, está apoiando a seleção brasileira, mas não está com ânimo de esquecer seus problemas apenas por causa do futebol.

Fora os vândalos, que se perderam na ameaça de "não vai ter Copa", e os aproveitadores sindicais, que se utilizam do momento para chamarem a atenção para suas reivindicações sem pensar no coletivo, não há quem não saiba separar os jogos das jogadas políticas como a da presidente Dilma - que utilizou um instrumento de comunicação do Estado para defender seu governo das críticas, como se a maioria que vê abusos e desarranjos na organização da Copa possa ser classificada apenas de "pessimistas".

A tentativa de "transformar em motivo de orgulho nacional obras inacabadas, gastos superfaturados e a absoluta falta de capacidade de gestão deste governo", como disse em nota oficial o PSDB, deve ter se transformado em um tiro no próprio pé, pois é difícil acreditar que a "bronca" da presidente nos "pessimistas" os faça mudar de opinião.

Da mesma maneira que Joseph Blatter tentou calar as vaias no estádio de Brasília na Copa das Confederações dando uma lição de educação aos torcedores, a presidente na noite de terça-feira tentou convencer a população de que não há motivos para desencantos.

Não entenderam até agora que, em vez do folclórico e dócil povo brasileiro que se encantaria com a magia da Copa do Mundo, há uma sociedade inquieta em busca de um futuro que não se resuma a pão e circo.

Aliados em fuga - DORA KRAMER

O ESTADÃO - 12/06

Depois de 40% dos convencionais do PMDB explicitarem sua discordância com a renovação da coalizão com o PT para a reeleição da presidente Dilma Rousseff, significando que parte robusta da mão de obra do partido não fará campanha para ela, agora é a vez de o PSD se rebelar contra a aliança.

O desconforto vem crescendo na mesma proporção da queda dos índices de intenção de votos e do aumento do grau de rejeição da presidente nas pesquisas.

Os dados apurados pelo Datafolha sobre São Paulo foram considerados definitivos: no maior colégio eleitoral do País, ela aparece praticamente empatada com o tucano Aécio Neves no primeiro turno e no segundo perderia tanto para ele quanto para Eduardo Campos por larga margem.

Em uma conversa marcada para ontem com o ex-prefeito Gilberto Kassab, o secretário-geral do PSD, Saulo Queiroz, seria o porta-voz da cobrança por uma definição imediata e radical. Quer dizer o seguinte: não apenas por uma aliança com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, assumindo o lugar de vice na chapa pela reeleição, mas um rompimento no plano nacional.

Uma volta atrás na palavra empenhada de que o partido estaria com a presidente em quaisquer circunstâncias. Em São Paulo a união com o PSDB seria uma mera "soma de conveniências", com suspensão temporária da antipatia mútua entre Alckmin e Kassab.

Em relação à eleição para a Presidência, o argumento para a ruptura é o seguinte: o compromisso do PSD nunca foi com o PT e sim com Dilma Rousseff; na medida em que sua candidatura "derrete" (sim, essa é a expressão usada), o partido não pode nem deve se sentir obrigado a derreter junto.

O ambiente interno no PSD é de rebelião contra a aliança, sentimento que pode vir a se expressar na convenção do partido marcada para o fim do mês.

O cenário ideal na avaliação dos pessedistas seria Kassab aceitar romper com Dilma e negociar uma aliança formal com o PSDB e a indicação do ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles para vice na chapa de Aécio Neves.

Pelo sim, pelo não, fato é que o tucano havia decidido anunciar seu vice antes da convenção do partido marcada para o próximo sábado. Mas agora faz suspense e deixa no ar a possibilidade de deixar o anúncio para depois, a fim de avaliar se insiste na chapa puro-sangue ou se consegue atrair algum aliado que acrescente capital eleitoral.

Fonte segura. Defensor do financiamento público de campanha, o PT já arrecada boa parte desse tipo de recurso por meio do dízimo que os filiados empregados na máquina pública são obrigados a pagar ao partido.

Ao fim e ao cabo, significa transferência do dinheiro do contribuinte - petista ou não - para os cofres da agremiação. No início do primeiro governo Lula, a oposição levantou essa questão, mas estavam todos tão encantados com o "governo operário", ao qual tudo era permitido, que ninguém deu atenção.

Faca no peito. A ex-senadora Marina Silva tem todo o direito de não gostar da decisão do PSB de São Paulo de apoiar o governador Geraldo Alckmin.

Só não dispõe da prerrogativa de tentar impor sua vontade à resolução de seção regional de um partido ao qual escolheu se filiar quando sua própria legenda não obteve registro na Justiça Eleitoral.

Marina ameaça não participar da campanha de Eduardo Campos em São Paulo se a convenção do PSB não mudar a resolução do diretório para seguir a orientação dela.

Se a ideia da ex-senadora era comandar, deveria ter-se filiado a um partido que lhe desse a legenda para concorrer à Presidência, e não se oferecer ao PSB, aceitando a condição de coadjuvante de luxo. Pela ordem natural das coisas, protagonista será, assim que a Rede Sustentabilidade obtiver o registro.

Aí terá legitimidade para mandar e desmandar.


Governo apaga uma má ideia e copia uma boa - JOSÉ SERRA

O ESTADO DE S.PAULO - 12/06

O governo federal anunciou, com a retumbância com que habitualmente se apropria do que não lhe pertence, a regulamentação da Lei Antifumo. Nunca foi tão verdadeira a frase segundo a qual as gestões petistas têm ideias boas e novas. Só que as novas não são boas e as boas não são novas. A proibição da publicidade (enganosa) de cigarros foi feita há 14 anos, no governo FHC, ao lado da proibição do fumo em aviões e de alertas sobre os perigos para a saúde estampados nos maços do produto.

Mais ainda, no Estado de São Paulo, há muitos anos enviei à Assembleia Legislativa um projeto banindo o fumo dos locais fechados de uso coletivo, públicos ou privados, e proibindo os famigerados "fumódromos".

Na vida pública travamos certas batalhas que são apenas necessárias porque constituintes mesmo da tarefa: organizar a administração, dinamizar a burocracia, lidar com a escassez de recursos em face de demandas sempre crescentes, encurtar as atividade-meio para que a gestão possa dedicar-se a seus fins. E há as batalhas volitivas, que são escolhas, as quis têm o potencial de mudar para sempre a realidade, instituindo-se, então, uma nova cultura. Na minha trajetória política, orgulho-me, em particular, de três opções - contrariando, muitas vezes, algumas vozes até sensatas, movidas pela prudência, que me alertaram de que poderia estava mexendo em vespeiro. E estava mesmo.

A estruturação de uma política nacional de combate à aids custou-me, sim, muitas dores de cabeça. A quase unanimidade das pessoas reconhecia que era preciso dar uma resposta de Estado à epidemia, mas havia um grande mal-estar porque a campanha educativa sobre o assunto mexia com certos tabus comportamentais envolvendo a sexualidade. Passados tantos anos, não nos damos conta das barreiras que foram quebradas.

A distribuição gratuita de remédio para as pessoas contaminadas também se afigurava custosa e complicada, de logística difícil. Mas insistimos. E o País teve reconhecido pela ONU seu papel de vanguarda na luta contra esse terrível mal. Em razão dos preços exorbitantes dos medicamentos contra a aids, protegidos por patentes, que tornavam inviável nosso programa, intimamos os fornecedores: ou reduziam os preços ou imporíamos a licença compulsória para sua fabricação. Ganhamos essa batalha aqui, em nosso país, e na Organização Mundial do Comércio, que, por nossa iniciativa, aprovou o direito de o Brasil e outros países em desenvolvimento adotarem tal medida.

Outra luta difícil foi a implementação dos medicamentos genéricos. Uma leitura torta - que nem direi "fundamentalista" porque, parece-me, era mais burra que de princípio - via na sua produção uma afronta à Lei de Patentes, apesar de os genéricos serem clones mais baratos de medicamentos com patentes vencidas. Desde o começo do bom combate deixei claro que não se tratava de opor uma suposta luta humanista a dogmas de mercado. Era essa uma falsa oposição. E se era de lei de mercado que se falava, o que vi foi o florescimento da indústria farmacêutica no País.

Nos governos petistas, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) foi loteada entre partidos e facções de partidos, voltando-se à prática de criar dificuldades para vender facilidades. Quando deixamos o Ministério da Saúde, um remédio genérico era aprovado em quatro ou cinco meses. No governo petista chega-se, em média, a 30!

A terceira escolha que nem sempre me rendeu simpatias e da qual poderia ter declinado foi o combate ao cigarro. Erra feio quem imagina que decidi transformar em política pública uma intolerância pessoal. Era preciso dar início a um trabalho de educação que implicasse a redução da aceitação social do cigarro, desestimulasse os jovens a experimentá-lo, dificultasse o acesso ao produto, rompesse a bolha de glamourização de uma prática nefasta e preservasse a saúde dos fumantes passivos.

A Lei Federal 10.167, de dezembro de 2000, baniu a propaganda de cigarro de TVs, rádios, jornais e eventos esportivos. A pressão foi gigantesca. Se a questão dos genéricos mexia com um dogma, a proibição da propaganda de cigarro tocava em outro: muitos chegaram a ver uma agressão explícita a direitos individuais, como se estivéssemos tentando fazer escolhas em lugar dos cidadãos. Em fevereiro de 2002 os maços de cigarro passaram a ostentar fotos que alertam para os males do tabaco.

Compreendo, sim, as críticas de que não há Estado autoritário o bastante que proíba o suicídio - afinal, as pessoas podem alegar que têm o direito de se matar. É verdade. Mas também desconheço Estado que seja tão liberal a ponto de permitir que se crie e institua uma verdadeira indústria da morte. Há documentos em penca demonstrando que a indústria tabagista, em passado nem tão distante, se concentrava na conquista da adesão dos jovens - os adultos são clientes cativos, pois dificilmente conseguem largar o vício. E o caminho era exatamente a propaganda enganosa, ligando o cigarro à beleza, à vida saudável e à virilidade. Chegou-se mesmo a estampar no produto advertência como "consuma com moderação", sugerindo que pudesse haver níveis seguros de consumo de tabaco.

Diga-se que o sucesso das medidas antitabagistas foi espetacular: o consumo per capita de cigarros no Brasil caiu cerca de 33% entre a década de 1990 e a passada. Só entre 2006 e 2012 o número de fumantes caiu 20%. Hoje, 87% dos fumantes dizem que se arrependeram de ter adquirido o hábito!

A lei federal que vai entrar em vigor em seis meses há muito está em curso no Brasil; uma parte dela, em São Paulo e alguns outros Estados. Não é nova, mas é boa. Aliás, quando o petismo se limita a repetir experiências bem-sucedidas, deve ser aplaudido. O problema é que essa turma prefere errar sempre de modo muito original - a total falta de iniciativa nessa área há 11 anos e a demora em regulamentar a lei, aprovada há dois anos, são parte desses erros.

De todo modo, cabe-me dar boas-vindas aos neoantitabagistas. Aplaudo o PT quando apaga uma má ideia e copia uma boa.


Brasil mostra a sua cara. Está feia - CLÓVIS ROSSI

FOLHA DE SP - 12/06


O orgulho 'patrioteiro' com que foi recebida a indicação à Copa transforma-se em uma razoável dor de cabeça


No dia de 2007 em que o Brasil foi oficialmente escolhido para sediar a Copa do Mundo, a comitiva brasileira exalava orgulho patriótico por todos os poros, sob o comando de um certo Luiz Inácio Lula da Silva.

Era tanto "patrioteirismo" que, no discurso em que comemorou a designação, Lula tirou o terno de presidente e vestiu o verde e amarelo de torcedor fanático, com direito a uma cutucada no presidente da Associação de Futebol Argentino, Julio Grondona, sentado nas primeiras fileiras do auditório: "O Brasil orgulhosamente organizará uma Copa do Mundo pra argentino nenhum colocar defeito".

O ambiente de exaltação patriótica (coisa que me horroriza sempre) era explicável: a escolha para agasalhar a Copa era a grande chance de o Brasil mostrar a sua cara. Era um Brasil que estava na moda no mundo e parecia destinado a uma escalada definitiva rumo ao topo do planeta, o que, de resto, a revista "The Economist" sacramentaria com sua famosa capa de 2009 em que o Cristo Redentor do Rio virava foguete em plena decolagem.

Outro parêntesis: se tivesse algum parentesco com o Taleban, a "Economist" teria queimado os exemplares com aquela capa.

Sete anos depois, no entanto, não são apenas (nem principalmente) os argentinos que estão botando um e mil defeitos no país da Copa.

São alguns brasileiros como Marcello Serpa, sócio da agência de publicidade AlmapBBDO, para quem a Copa trouxe um holofote para as deficiências de infraestrutura e para a desigualdade social no país, a ponto de acentuar o mau humor e de prejudicar a marca Brasil, como afirmou durante evento promovido por esta Folhana terça-feira (10).

São também estrangeiros dos mais diferentes quadrantes, como Shannon Sims, que fez pesquisas no Brasil durante dois anos para o Instituto para Assuntos Mundiais Atuais: "Organizar o maior evento esportivo do mundo era, supunha-se, uma oportunidade para o Brasil demonstrar sua organização, desenvolvimento e competência. Mas, com corrupção abundante, infraestrutura cambaleante e constantes crimes nas ruas, muitos brasileiros sentem que essa oportunidade oferece mais coisas más que boas".

Sims compara o Brasil que aguarda a Copa com um estudante que espera uma prova para a qual não se preparou.

De todo modo, vai ter Copa, ao contrário do que se cantava no ano passado e em alguns momentos deste ano, mas não será a Copa das Copas, como pretende a propaganda.

Afinal, se um dos jornalistas escalados para a Copa, caso de Brian Winter (da agência de notícias Reuters), sofre por cinco horas e vinte minutos para sair do aeroporto de Cumbica e chegar ao seu hotel, não dá para ser a Copa das Copas.

A questão seguinte, proposta por José Sámano (do jornal espanhol "El País"), um dos melhores jornalistas esportivos da Espanha, é se, "com tantos problemas de fundo, convém medir se, nestes tempos, a bola ainda servirá como sedativo ou, ao contrário, chegou a hora de revisar profundamente o modelo".

Respostas a partir de hoje, com o veredito final em outubro.

Sobre futebol e pobreza (vocabular) - EUGÊNIO BUCCI

O ESTADO DE S.PAULO - 12/06


"Tire o seu sorriso

do caminho, que eu quero

passar com a minha dor"
Guilherme de Brito

Alguém bem que poderia avisar ao governo federal que país rico é país sem miséria da informação e sem pobreza vocabular. O resto é paliativo. É pobreza de espírito. O resto é demagogia.

Na sexta-feira passada a presidente da República, Dilma Rousseff, enunciou o seu juízo acerca da antipatia com que muitos brasileiros vêm recebendo o torneio internacional de futebol que começa hoje em São Paulo, com uma partida entre o time de atletas de nacionalidade brasileira e o time dos croatas. Na opinião da mais alta autoridade do País, estaria em marcha uma "campanha sistemática contra a Copa", que, na verdade, teria alvos nem tão desportivos assim. Na sua oratória inconfundível, a presidente exprimiu seu pensamento sobre a tal "campanha": "Mas ela, de fato, não é contra a Copa do Mundo, é uma campanha sistemática contra nós".

Tais vocábulos assim justapostos nos autorizam a deduzir que, à sombra do presidencial raciocínio, quem não se fantasia de Bandeira Nacional dando pinotes e berros no meio da rua faz oposição ao Palácio do Planalto. Isso numa interpretação otimista: a de que o pronome "nós" queira dizer "nós, o governo". Aos olhos da chefe de Estado, todo aquele que vê algo de ridículo e de ostentatório no circo das obras tão faraônicas quanto inacabadas é um adversário não do técnico Felipão, não da CBF, não da Fifa, mas desse "nós" aí que, por boa-fé, presumimos tratar-se dos que agora se acham instalados nos cargos do Poder Executivo federal. Quem não gosta de ver os garotos correndo nos instáveis gramados dos estádios bilionários comete a heresia de confundir futebol com política. Onde já se viu? "Nem na ditadura nós confundíamos Copa com política", explanou pacientemente a candidata à reeleição. "Estava eu lá presa no Tiradentes e começou a Copa. Ninguém torceu contra o Brasil" (Estado, edição de sábado, página A4).

Pelo tom da fala, não é difícil observar que a mandatária se mostra indignada. Se nem na ditadura os presos políticos tiveram a desfaçatez de torcer contra o Brasil, como é que, agora, esses abusados ousam não se deleitar com cabeceadas em plena grama, quer dizer, em plena democracia? Que história é essa? Só pode ser mesmo coisa de gente conspiratória querendo derrubar o governo, conclui a presidente. Cidadão que é cidadão torce diligentemente para o time da CBF - time ao qual vulgarmente se chama de "o Brasil". Brasileiro que é brasileiro, sempre de acordo com a lógica do Planalto, não confunde Copa com política.

Parece não ocorrer à inteligência presidencial a hipótese de que, com a máxima vênia, talvez quem mistura Copa com futebol não sejam os que hoje não se empolgam com esses supostos "canarinhos" que descem do ônibus com o fone de ouvido no pescoço e um boné de trás para a frente, mas justamente ela mesma. É ela, a presidente, quem vê intenções eleitorais (políticas, portanto) nos que não aderem à futebolística torcida varonil. Portanto, quem embola as duas coisas é ela.

Há dois dias, a torcedora-mor foi ainda mais longe em vilanizar os que desprezam a Copa. Num discurso que recitou em cadeia nacional de rádio e TV, permitiu-se proclamar o seguinte: "Treino é treino e jogo é jogo. No jogo, que começa agora, os pessimistas já entram perdendo. Foram derrotados pela capacidade de trabalho e a determinação do povo brasileiro, que não desiste nunca".

Haja autoridade.

Sigamos um pouco mais com a hermenêutica da política futebolizante da chefe de Estado. Para ela, os "pessimistas", os tais que "já entram perdendo", foram "derrotados" pelo "povo brasileiro". Logo, a seu juízo, os pessimistas não pertencem à categoria assim designada "povo brasileiro". Não apenas não pertencem a essa categoria, como são inimigos dela e por ela foram exemplarmente derrotados. Em suma, os "pessimistas" não são brasileiros, na visão da presidente da República. Ninguém neste solo tem direito ao pessimismo. Quem incorrer no crime do pessimismo contra a Copa (ou "contra nós", como ela diz) será devidamente varrido e derrotado pelo "povo brasileiro, que não desiste nunca". (Não nos espantemos se, no frêmito de portarias que vem marcando a temporada da bola solta, em mais de um sentido, o governo encaminhar ao Congresso um projeto de emenda constitucional mudando o nome do país para República Otimista do Brasil. Os "pessimistas" serão automaticamente exilados.)

Aliás, do que mesmo não desistem nunca os "brasileiros"? De obedecer? De dizer amém aos que mandam? De dizer amém e agradecer? Talvez. Em seu discurso em cadeia, Dilma Rousseff deu motivos para que a torcida nacional dedique sua melhor gratidão ao governo federal. Eis o que ela anunciou: "Reduzimos a desigualdade em níveis impressionantes, levando, em uma década, 42 milhões de pessoas à classe média". É como se dissesse: "Brasileiros, não desistam nunca de agradecer".

Aqui chegamos ao ápice do ufanismo do "país sem pobreza". Note bem o improvável leitor: o "nós", o mesmo "nós" contra o qual se levantam os ingratos que não aderem ao futebolístico sorriso oficial, é sujeito dessa oração deveras impressionante, que anuncia a também "impressionante" redução da desigualdade. Nessa sintaxe, o povo entra como objeto direto, nunca, jamais como sujeito. Nenhum brasileiro, nem mesmo os que "não desistem nunca", alcançou o paraíso da "classe média" - seja lá o que isso for - por seus méritos próprios. Os 42 milhões de pessoas que lá chegaram foram "levados" pelas mãos gentis do governo. Foram transportados, como carga na carroceria de caminhões, na viagem que os conduziu de um ponto a outro, bem ali pertinho, na planilha dos tecnocratas do bem, na viagem estatística que os tirou da penúria para instalá-los na bonança - a bonança da Copa do Mundo.

Fala verdade: e ainda querem torcer contra?

Tristes espetáculos - ELIANE CANTANHÊDE

FOLHA DE SP - 12/06

BRASÍLIA - Bem que nós, brasileiros, poderíamos passar sem os tristes espetáculos do Senado da República e do Supremo Tribunal Federal bem na semana da Copa.

Na terça (10), o cinismo do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa ao depor na CPI de mentirinha, com o beneplácito de um punhado de senadores governistas.

Entre outras barbaridades, ele disse: 1) os R$ 762 mil em dinheiro vivo encontrados pela polícia na sua casa eram para "pagamento de consultorias"; 2) os US$ 180 mil (R$ 400 mil) eram só "por garantia"; 3) sua filha e seu genro não foram à sua casa para sumir com papéis comprometedores, mas para reunir documentos de suas próprias empresas.

Acredite quem quiser, e não é que os senadores governistas acreditaram?! Não dá para entender. Por que a base aliada ao Planalto tem de proteger um réu que foi preso sob suspeita de desviar recursos da minha, sua, nossa Petrobras? O que Paulo Roberto tem a ver com o governo?

Segundo o líder do PT, Humberto Costa, o depoimento dele foi "satisfatório". Para quem, cara pálida? Menos de 24 horas depois veio a notícia de que a Suíça bloqueou a bagatela de US$ 23 milhões (R$ 51,3 milhões) que seriam do mesmo Paulo Roberto.

Seriam para "pagamento de consultorias"? Ou só "por garantia"? Ele reuniu tudo isso com o suor do próprio rosto, ou com o petróleo da Petrobras e com o suor da nação?

O fato é que Paulo Roberto Costa, preso em 17 de março, foi solto pelo ministro do STF Teori Zavascki dois meses depois e voltou para a cadeia nesta quarta (11), um dia depois de fazer os senadores parecerem bobos e o Senado, uma Casa pouco séria.

O Judiciário não ficou atrás. Enquanto o ex-diretor da Petrobras voltava para a cadeia, o já quase ex-presidente do Supremo Joaquim Barbosa, aos gritos, expulsava o advogado de Genoino da corte. Inacreditável.

Por favor, Felipão, Neymar, Hulk, Fred e Júlio César, mostrem ao mundo um espetáculo bem melhor.

Uma nova pátria de chuteiras - RONALDO HELAL

O GLOBO - 12/06

Já se foi o tempo em que a vitória ou derrota da seleção era vivenciada como derrota ou vitória de projetos de nação brasileira

Um espectro parece rondar o país: o silêncio em relação à Copa. Qual a razão deste silêncio? Por que os brasileiros não parecem motivados com o evento? Por que as ruas não estão enfeitadas como em outros Mundiais?

Primeiro, temos que entender que já se foi o tempo em que a vitória ou derrota da seleção em Copa era vivenciada como derrota ou vitória de projetos de nação brasileira, como ocorreu em 1950 e 1970, por exemplo. Isto é positivo e pode ser entendido como o resultado da consolidação da democracia e de uma maior organização da sociedade civil. Os resultados da seleção em Copas do Mundo não mais transcendem o universo esportivo. Hoje, ficamos tristes quando perdemos e celebramos quando vencemos, mas sabemos que o país não vai ficar pior, ou melhor, por conta disso.

Segundo, se refletirmos um pouco, observaremos que o interesse do brasileiro pela seleção vem declinando nas últimas décadas. Não é de agora. Por conta de uma série de fatores como a globalização, o declínio dos estados-nações no mundo, o êxodo dos nossos melhores jogadores para a Europa e, com isso, a desterritorialização do ídolo, a pátria de chuteiras já não contém mais o mesmo sentido que tinha na época em que o dramaturgo e cronista esportivo Nelson Rodrigues dessa forma alcunhou nossa seleção. O torcedor de hoje torce mais para seu time de coração do que para a seleção. A vitória do seu time no Brasileirão tende a ser mais importante e celebrada do que uma conquista de Copa pela seleção. Isto pode ser bom ou ruim, dependendo do ponto de vista e de onde se esteja analisando. Pode ser ruim para a Fifa, mas pode ser bom para os campeonatos locais.

Terceiro, algo ocorreu durante a Copa das Confederações que está afetando este momento. As diversas manifestações que tomaram as ruas do país demonstraram a insatisfação da população com a política do país e resultaram, de imediato, na prisão de um deputado, na transformação da corrupção em crime hediondo e na retirada de uma proposta de emenda constitucional — a PEC 37 —, que ficou conhecida, justa ou injustamente, como a PEC da impunidade. Além disso, elas geraram também alguns questionamentos sobre a relação do brasileiro com a seleção e a política. Um deles dava a entender que quem gosta de futebol e torce pela seleção seria um alienado político, um sujeito contra as manifestações. Ora, este é um raciocínio frágil, simplista e maniqueísta, que não se sustenta após uma análise mais criteriosa. Uma coisa não exclui a outra. Pode-se gostar de futebol e também da seleção e ainda assim protestar democraticamente contra a corrupção, o excesso de gastos públicos com a organização da Copa e coisas do gênero.

No entanto, este raciocínio parece ter inibido uma maioria que não se percebe como tal e, portanto, se sente envergonhada de externar seu interesse pela seleção e pela Copa no país. O sujeito quer dar um basta na corrupção, critica os excessos de gastos para a construção de estádios, reclama da situação da saúde e da educação pública no país, mas ao mesmo tempo quer torcer pela seleção e colocar a bandeira do Brasil na janela. Não o faz porque receia a crítica do vizinho.

No momento em que a maioria silenciosa se perceber como maioria, o entusiasmo deve voltar. Apesar de que não será mais com o ufanismo de antigamente. Neste sentido, o Brasil mudou, e para melhor. Os quase 30 anos de regime democrático proporcionaram certo amadurecimento político da população. A seleção ainda pode ser vista como a pátria de chuteiras em períodos de Copa do Mundo, mas o sentido simbólico deste epíteto não tem mais a força que tinha no passado.

É tarde para se arrepender - J. R. GUZZO

REVISTA EXAME - 09/06


Com a Copa e a Olimpíada, o governo pretendia exibir ao mundo a fabulosa obra construída pelo ex-presidente Lula e sua sucessora, Dilma Rousseff. O que conseguiu foi o espetáculo que está aí

SE ARREPENDIMENTO MATASSE, E É SABIDO QUE NUNCA MATOU ninguém, é certo que o Brasil estaria com as vagas dos cemitérios esgotadas, já há muito tempo, por gerações e mais gerações de nossos mais notáveis administradores públicos. Mas o arrependimento só deixa para trás o desastre que os arrependidos criaram - ainda assim, quando há alguém que se arrependa da barbaridade que fez, algo praticamente desconhecido na vida política brasileira. Ficamos, enfim, só no prejuízo - e sem o menor beneficio de outra velha máxima, segundo a qual é errando que se aprende. No Brasil, é errando que se erra, e perde seu latim quem imagina que a experiência adquirida com os erros pode trazer o conhecimento para chegar aos acertos Nada melhor para ilustrar essas melancólicas constatações do que o "desastre perfeito" que o Brasil, com seu governo, suas empreiteiras de obras públicas e seus grupos de interesse privado, conseguiu armar para a Copa do Mundo de 2014 e para a Olimpíada de 2016, no Rio de Janeiro. Também faremos bonito, por causa dos dois eventos, nos próximos rankings mundiais de roubalheira, estupidez, incapacidade absoluta de planejar coisas elementares, impotência para executar trabalhos previstos com anos de antecedência, desperdício e, sobretudo, uma desvairada resistência diante da mais delicada critica em relação a qualquer aspecto dessa calamidade toda.

Pois ai está. Chegou a Copa. a Olimpíada está chegando e o governo consegue exatamente o oposto do que pretendia com essas duas aventuras. Queria exibir ao mundo inteiro, para bilhões de olhos, a fabulosa obra técnica, social e criativa construída pelo "Brasil Potência" do ex-presidente Lula e sua sucessora, Dilma Rousseff - responsáveis diretos pela prosperidade, pelo progresso e pela subida do Brasil rumo ao futuro. O que conseguiu na vida real foi o espetáculo que está ai. Segundo a presidente Dilma. essa enciclopédia de inépcia escrita ao longo dos dois governos do PT seria consequência, apenas, do "complexo de vira-lata" vivido pelos maus brasileiros - um sentimento de inferioridade, descrença e desânimo que ignora nossas grandes conquistas e riquezas, as quais são a inveja do mundo, a pujança das matas etc. O Brasil, para acalmar a presidente, pode até perder o tal complexo. Ficará apenas com sua vida de vira-lata.

É incômodo, para a corte de Lula, Dilma e PT, aparecer como realmente é na frente do mundo. Sempre sustentaram que tudo o que havia de errado no Brasil era apenas uma fabricação da "grande mídia" de direita, que a presidente acaba de incluir como um de seus alvos de ataque durante a campanha eleitoral. Mas agora quem está falando tudo o que os meios de comunicação brasileiros têm falado durante os 12 últimos anos é a mais prestigiada mídia internacional. Ela insistiu em ignorar, até há pouco tempo, qual quer observação negativa em relação ao governo de Lula e do PT; sua atitude editorial sempre foi um dos grandes orgulhos do Brasil oficial, De uns tempos para cá, porém, o coro mudou de tom - e passou a registrar cada vez mais os desatinos do Palácio do Planalto e do universo que gira a seu redor. Agora, com Copa e Olimpíada, é pau todo dia.

Numa entrevista à Folha de S.Paulo, o perito em urbanismo e arquitetura Michael Kimmelman, que há 20 anos escreve no New York Times, traçou um admirável resumo do que acaba de ver por aqui. Um pais que não dá prioridade ao legado de uma Copa ou de uma Olimpíada, disse ele, faz papel de bobo - e foi isso, precisamente, o que o Brasil fez. Para encarar um desafio desse porte, concluiu Kimmelman, as cidades têm a obrigação de fazer um plano claro do que, no fim das contas, elas querem, Londres, em 2012, fez isso. O Brasil não soube fazer.

Os governos Lula-Dilma tomaram o partido das empreiteiras, dos interesses particulares e da dupla Fifa-COI, aos quais cedeu o poder de decidir sobre questões urbanas de primeira importância. Estão colhendo agora os resultados do que plantaram.


Carga tributária, centralização e serviços públicos - MAÍLSON DA NÓBREGA

REVISTA VEJA


Nos últimos 25 anos, a carga tributária saltou de 22,2% para 36,3% do PIB, e por isso há tempos se demanda uma reforma para reduzi-la. Tem aumentado a sensação de piora dos serviços públicos, o que justifica a demanda cm favor de sua melhora, como nas manifestações que pediam escolas e hospitais de "padrão Fifa". Uma terceira demanda, menos conhecida, é a da descentralização de receitas em prol dos governos subnacionais sob um novo pacto federativo.

Há verdades e inverdades em tudo isso. As verdades estão no aumento da carga tributária e na piora dos serviços públicos. Basta utilizar estradas, portos e aeroportos para se convencer da deterioração. As inverdades nascem do desconhecimento da origem da elevação da carga tributária, localizada basicamente no aumento dos gastos sociais. A sociedade apoia a ampliação dos benefícios, mas poucos percebem o seu custo, qual seja a explosão da despesa pública e, assim, da carga tributária.

O Brasil se tornou um país de transferências sociais, que são benefícios para aposentados, pensionistas e destinatários de programas como o Bolsa Família. Estudo recente de Mansueto Almeida, um dos nossos melhores especialistas na área, mostra que, nos últimos quinze anos, tais benefícios responderam por 82% do crescimento dos gastos não financeiros da União como proporção do PIB. Se considerados os programas de educação e saúde, chega-se a 93%. Logo depois da Constituição de 1988, que é a grande responsável por esse processo, os gastos não financeiros da União alcançavam cerca de 10% do PIB. Subiram para quase 19% em 2013, quando os programas sociais equivaliam a 62,7% dos mesmos gastos.

Há quem pense que a carga tributária aumentou por causa dos gastos correntes, mas eles caíram 31,5% nos últimos quinze anos relativamente às despesas financeiras da União como proporção do PIB. Os 39 ministérios são uma extravagância, mas não haverá queda relevante da despesa se forem reduzidos, embora seja preciso diminuir seu número para melhorar a gestão e combater ineficiências, fisiologismo e corrupção.

Na verdade, o brutal aumento da despesa dos últimos anos se deve muito mais à opção por um padrão europeu de gastos sociais, sem dispormos de condições similares de renda e riqueza. É perda de tempo, pois, lutar por uma redução da carga tributária sem antes enfrentar a questão desses gastos, pelo menos para estancar sua insustentável expansão. Será preciso rever a política de reajustes reais do salário mínimo, que impacta metade dos gastos do INSS e a maioria das transferências. Quanto aos serviços públicos, uma redução drástica das indicações políticas e a privatização competente dos serviços de transportes contribuiriam para melhorar sua qualidade.

A demanda por descentralização da receita tem rala justificativa. Seria preciso também descentralizar a despesa, mas nem sempre os serviços podem ser mais bem prestados localmente. O Bolsa Família fica melhor sob gestão da União do que pulverizado em mais de 5 000 municípios. O mesmo se dirá da Previdência, que representa perto de 40% das despesas não financeiras da União, e não há lógica alguma em transferi-la para estados ou municípios. Não há como transferir responsabilidades típicas da União como estabilidade da moeda, preservação da concorrência, comércio exterior, defesa, entre outras. Com quem ficaria a atual dívida federal? A ideia de descentralizar é boa em tese, mas fora da realidade. No campo tributário, a rigidez do gasto impede a redução da carga. Consideradas todas as despesas, inclusive as de pessoal e as financeiras, a União despende obrigatoriamente cerca de 90% das receitas. Daí a redução dos investimentos federais dos últimos anos. O foco terá de ser a simplificação do sistema tributário, que abrangeria a substituição dos atuais tributos sobre o consumo, incluindo o ICMS, por um imposto sobre o valor agregado (IVA) nacional, como sucede nos mais de 150 países que adotam essa forma de tributação. O sistema tributário é provavelmente a maior fonte de ineficiência da economia brasileira.

Precisamos mudar o foco das demandas eleger líderes capazes de promover as reformas.

Patrão Fifa - AGAMENON MENDES PEDREIRA

REVISTA VEJA

Com medo de ser criticada pela imprensa golpista, a presidenta Dilma Roskoff resolveu se antecipar e já ensaiou todos os micos que o Brasil vai pagar durante a Copa. O apagão está confirmado e o apaguão também, porque vai faltar água. Outra providência tomada (to­mada trifásica, é claro) pela INFRA- ERRO é o caos aéreo que foi exausti­vamente testado e já está funcionan­do a todo o vapor nos aeroporcos brasileiros. Para receber bem as hor­das de turistas, a presidenta-gerenta também criou um novo programa assistencialista, o Meu Primeiro As­salto. Assim, os gringos que estão chegando há pouco de fora vão ser assaltados pela primeira vez na vida no Brasil. Graças a esse programa de inclusão marginal, o governo preten­de criar uma nova fonte de renda pa­ra os criminosos excluídos. Os quebraquebras. uma das manifestações mais espontâneas da nossa cultura, também vão marcar presença nos estádios superfaturados. Su- perfaturados no padrão Fifa, é claro. O pau vai co­mer e não vai ser lá em casa, para tristeza da Isau­ra, a minha patroa! O clima é de pânico contido e desespero generalizado. Além do transporte ruim e das ruas esburacadas, o torcedor vai ter que ir pros estádios de armadura para não apanhar da polícia e dos baderneiros. E, se o pacato cidadão cair no meio de uma manifestação e acabar espancado, já era: não vai ter vaga em nenhum hospital público! E a segurança dos jogadores? Imagine se um índio revoltado acertar uma flechada na bunda do Hulk, o jogador-melancia.

Enquanto os empreiteiros e o governo correm para ver se os estádios e aeroportos ficam prontos até a Olimpíada, a população também está correndo, mas noutra direção, pra fugir da polícia e
A POPULAÇÃO de São Paulo está torcendo pro Neymar "fazer chover" no jogo contra a Croácia. Quem sabe assim o Reservatório da Cantareira enche de novo dos black blocs. Pelo menos, a barbárie está funcionando perfeitamente no Brasil e, o que é melhor, no padrão Fifa de boçalidade. Os baderneiros profissionais se anteciparam ao calendário da Copa e já começaram a quebrar tudo o que veem pela frente agora. São as "eliminatórias". Os donos de empresas rodoviárias estão com medo de não sobrar nenhum ônibus pros grevistas torcedores tacarem fogo quando a Copa começar.

E eu continuo aqui na Granja Comary, aviário-sede da CBF Confederação Brasileira de Frango. Graças às minhas conexões com a car-tolagem, arrumei uma vaga no galinheiro onde estão hospedadas as penosas que formam a base da alimentação de nossos craques. O rigoroso Felipão, um técnico disciplinador, exigiu que os jogadores vão cedo pra cama: eles têm que dormir com as galinhas. Mas quem acorda com o cacarejar das criaturas bicudas chegando da balada sou eu.

Infrin Gente

Luís Felipe Pré-Scolari

O Brasil pode não ganhar a Copa, mas o técnico Felipão ganhou uma baba! Felipão sozinho fez mais comerciais de TV que o Fábio Porchat, o Luciano Huck e o Neymar juntos. Incapacitado de atender a todos os convites publicitários que recebeu, Felipão foi obrigado a passar alguns anúncios para o seu fiel assistente, o Murtosa, que, verdade, é o Baixinho da Kaiser. Por falar nisso, tem uma coisa que eu não entendi até agora. Naquele comercial da Sadia, o técnico da seleção retira do forno um suculento frango assado. Em vez de entregar o frango ao goleiro Júlio Cesar, Felipão oferece a iguaria ao seu bigodudo amigo e, subitamente, puxa fora a bandeja, deixando o guloso Murtosa na mão.

O Felipão cozinha pro Murtosa? Ele e o Murtosa moram juntos naquela casinha? Será que eles são um casal gaúcho afetivo? A impressão que dá é que a Sadia realizou a primeira propaganda brasileira com duas criaturas do mesmo sexo e da mesma seleção. Não vejo a hora de assistir na TV aos dois amigos inseparáveis fazendo anúncio de lingüiça e peru. Da Sadia, é claro.

Minha abreugrafia não autorizada!

Eu desafio os decanos da MPB (Muito Pouca Biografia) Caetano Velhoso, Chico Buarque de Hollanda e o Rei Roberto Carnes, o maior censor romântico do Brasil, a expor sua abreugrafia como eu estou fazendo aqui para os meus dezessete leitores e meio (não se esqueçam do anão)!

"Todo o poder aos sovietes" - CARTA AO LEITOR

REVISTA VEJA


Uma reportagem desta edição de VEJA revela como Henrique Alves, presidente da Câmara dos Deputados, está se virando para lidar com o mais ousado e direto ataque à democracia representativa em dez anos de poder petista no Brasil, o decreto nº 8243, que cria a "Política Nacional de Participação Social" e o "Sistema Nacional de Participação Social".

Um grande perigo se esconde sob essas denominações inofensivas. Alves poderia ter submetido uma proposta de anulação do monstrengo a votação em regime de urgência. Temeroso, porém, de se indispor com o Executivo e perder o apoio que Dilma Rousseff lhe prometeu na campanha eleitoral no Rio Grande do Norte, optou pela via do convencimento. Alves vai tentar persuadir o governo a voltar atrás em sua ruinosa iniciativa. É melhor para o Brasil que tenha êxito.

O decreto recebeu a condenação pública de dezenas de juristas. Até mesmo a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), sempre obediente aos desígnios do PT, se insurgiu contra a peça enviada ao Congresso. Com ela, o governo propõe que "todos os órgãos da administração pública direta ou indireta" tenham em suas instâncias decisivas conselhos formados por integrantes da "sociedade civil". Ou seja, os ministérios, as estatais, as agências reguladoras, as prefeituras, os órgãos policiais e até as Forças Armadas deverão ter conselhos formados por "cidadãos, os coletivos, os movimentos sociais institucionalizados ou não institucionalizados, suas redes e suas organizações". Aqui, mais uma vez, a falsa inocência disfarça a estratégia de entregar o comando da máquina do Estado ao que os ideólogos de esquerda chamam de "movimentos sociais", grupos atrelados principalmente ao PT, a cuja ideologia servem e a cujas ordens obedecem.

Se o decreto passar, sem terem recebido um único voto nas urnas, o MST ganhará o direito de exigir assento no Alto-Comando do Exército, o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) de questionar se a Itaipu pode continuar gerando energia ou se deve começar a se dedicar à produção de flechas; já as medievais Ligas Camponesas vão palpitar nas linhas de pesquisa da Embrapa. É dessa
Dilma Rousseff assinou um decreto bolchevique que contraria suas convicções e sua atuação democrática na Presidência da República
aberração que se trata. Novidade no Brasil, esse golpe mortal nas instituições é manobra consagrada nos nossos infelizes vizinhos caídos nas garras dos ditadores bolivarianos.

Basta um pouco de conhecimento histórico para perceber a raiz oblíqua do decreto. Ê uma tentativa canhestra de imitar a União Soviética, que, como o próprio nome informa, se organizou como um conjunto de conselhos, ou sovietes, em russo. A palavra de ordem propagada por Lenin, líder da facção bolchevique (que, aliás, significa Campo Majoritário, a denominação escolhida pelo grupo comandado por José Dirceu no PT), era "Todo o poder aos sovietes". Foi a senha para que os comunistas esmagassem as instituições e conquistassem o poder total — ou a hegemonia, palavra que, não por acaso, aparece em quase todos os documentos do PT.

Que os radicais façam das suas no PT, não é novidade. A perplexidade vem do fato de Dilma ter assinado um decreto que contraria frontalmente sua pregação e, sobretudo, sua atuação democrática como presidente. A única explicação plausível é que ela se viu obrigada a trair suas convicções e ceder à pressão daqueles que nada esqueceram e nada aprenderam.


A democracia bolivariana do PT - EDITORIAL REVISTA ÉPOCA

REVISTA ÉPOCA 

A presidente Dilma Rousseff usou a última reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, na semana passada, para defender o decreto que implanta a Política Nacional de Participação Social e o Sistema Nacional de Participação Social. O sistema prevê a criação de "conselhos populares", formados por integrantes de movimentos sociais, que passarão a opinar sobre os rumos e as políticas de órgãos do governo federal e agências reguladoras. Segundo Dilma, tal política é parte da construção da democracia no país. "Somos a favor da consulta", disse ela. "Muitas cabeças pensam mais do que só a cabeça do Executivo."

Por trás das belas palavras a favor da ampliação dos canais de participação democrática, no momento em que as ruas exprimem uma insatisfação difusa, há uma oportunista e perigosa tentativa de subverter a ordem constitucional vigente - tudo pela via de uma única canetada presidencial. Segundo a Constituição de 1988, a representação popular se dá pela manifestação do voto direto e secreto. Ela estabelece também que as consultas populares, como referendos e plebiscitos, assim como os projetos de lei de iniciativa popular, têm de passar pelo Congresso Nacional.

O decreto de Dilma parece ter sido inspirado por uma tentativa de substituir o regime de democracia representativa, simbolizado pelo Congresso, por uma canhestra democracia direta de inspiração bolivariana, que encanta setores do PT. Frustrado no propósito de convocar uma Constituinte para reescrever a carta constitucional, o PT procura agora caminhos para contorná-la e impingir ao país uma visão singular de democracia e se incrustar, depois de 12 anos de governo, ainda mais no aparelho de Estado. Os tais movimentos sociais, muitos deles financiados com dinheiro público, são massa de manobra usada pelo PT para atingir seus fins políticos. Fazem bem os partidos de oposição e os juristas que se movimentam para derrubar no Congresso e no Supremo tribunal Federal (STF) essa exorbitância institucional decretada por Dilma.


Congresso defende a democracia representativa - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 12/06

É fácil prever o que acontecerá se este golpe de gabinete não for derrotado: imagine-se uma comissão controlada por militantes do MTST instalada no Ministério das Cidades


A maneira como o Decreto-Lei 8.243 foi baixado, na surdina, denunciou o cuidado do governo em não chamar a atenção. O Planalto, portanto, sabia que o lançamento da Política Nacional de Participação Social (PNPS) e a instituição de uma miríade de comissões, conselhos, fóruns, “mesas” e similares na administração direta e estatais não transitariam sem críticas da sociedade. Mesmo assim tentou, e ainda tenta, tornar o fato consumado.

O Congresso, o Planalto driblou por meio do decreto-lei. Mas, felizmente, não está sendo fácil o governo Dilma contrabandear para dentro do Estado brasileiro um esquema de vários tentáculos pelos quais a máquina pública será ainda mais aparelhada por grupos de aliados políticos e ideológicos, disfarçados de representantes da “sociedade civil". Tudo isso enquanto parte do poder do Congresso é desidratado e transferido para o Sistema Nacional de Participação Social (SNPS), criado pelo mesmo decreto — e a ser tripulado por companheiros indicados por comissários.

Pela importância da medida, capaz de alterar o regime de democracia representativa estabelecido na Constituição, este não é assunto para decreto-lei. Seria, mas numa ditadura.

A oposição apresentou projeto de decreto legislativo para revogar o ato da presidente, e obteve apoio também de parlamentares da base do governo. O presidente da Câmara, Henrique Alves (PMDB-RN), não o colocou em pauta, mas propôs a Dilma revogar o 8.243 e enviar as mudanças em projeto de lei. É a melhor alternativa, também apoiada pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Diante da obstrução dos trabalhos que a oposição passou a fazer, em protesto contra o conjunto desta obra prima do autoritarismo, Alves e Renan suspenderam na terça as sessões nas duas Casas até depois do final da Copa. Dilma terá este tempo para uma reflexão.

Esta espécie de Cavalo de Troia da democracia direta, de pedigree chavista, é empurrado para dentro do Estado por frações radicais do PT, aproveitando-se do mau momento político-eleitoral da candidata Dilma.

O principal arauto do decreto, ministro Gilberto Carvalho, a quem esta enorme sanguessuga ideológica ficará subordinada, segundo o decreto, tenta amenizar, mencionando as comissões e entes semelhantes que já existem. Acontece que alguns deles como Anvisa, uma agência, e Conanda — comissão ligada a assuntos do menor de idade — são maus exemplos, pois costumam tentar assumir poderes do Legislativo.

A própria constitucionalidade do PNPS, trombeteada por petistas, é discutível. Em artigo na “Folha de S.Paulo”, o jurista Ives Gandra garantiu que o decreto-lei fere a cláusula pétrea constitucional da autonomia e independência dos Poderes. É fácil prever o que acontecerá se este golpe de gabinete não for derrotado. Basta imaginar uma comissão controlada por representantes do MTST instalada no Ministério das Cidades.

Na marca do pênalti - EDITORIAL O ESTADÃO

O ESTADO DE S.PAULO - 12/06

A presidente Dilma Rousseff deve estar se perguntando o que foi que fez de errado ao seguir à risca os conselhos de seu patrono Luiz Inácio Lula da Silva e do seu marqueteiro João Santana para virar o jogo de seu crescente desprestígio. Nos últimos tempos, como a instruíram, ela praticamente só fez expor-se, expor-se e expor-se. Ou abrindo a residência oficial do Alvorada a diferentes grupos de jornalistas, em jantares nos quais não só aceitava responder ao que quisessem, mas ainda - para mostrar ao eleitorado, por meio deles, a sua "face humana" - lhes repassava a sua inigualável receita de bacalhoada.

Ou percorrendo o País inteiro, como a candidata em campanha que é, para ser o centro das atenções em eventos criados só para isso, reproduzindo o que o Lula fazia em 2010 ao carregar o seu "poste" para todo lado. Ou convocando redes nacionais para se vangloriar dos seus feitos, prometer um futuro ainda mais superlativo e ir para cima da oposição. Ou, o que dá no mesmo, sendo a estrela do programa eleitoral e dos spots de propaganda do PT. Nos meses recentes ela há de ter falado urbi et orbi mais vezes do que nos três anos anteriores de mandato. E o que isso lhe rendeu na percepção alheia? Uma torrente de más notícias. As duas de anteontem, então, foram um naufrágio. Uma pesquisa simplesmente deixou a sua reeleição na marca do pênalti. E o PMDB a castigou aprovando o apoio a ela nas urnas de outubro por uma maioria vexatória de tão aquém das expectativas.

Além de trazer mais do mesmo, a pesquisa do Ibope apresentou um resultado inédito e potencialmente letal para a pretensão da presidente. O mais do mesmo é o definhamento do presumível eleitorado da petista, acompanhado da alta das intenções de voto no tucano Aécio Neves e no socialista Eduardo Campos. Variações pequenas, dentro da margem de erro de 2 pontos da sondagem. Mas só Dilma, como se diz, pontuou para baixo, descendo dos 40% de maio para 38%. Aécio foi de 20% para 22% e Campos, de 11% para 13%. Somado-se a isso os 3% do Pastor Everaldo, do PSC, e os 4% dos "outros", desaparece a diferença que levaria Dilma à vitória na primeira rodada. A cada sondagem, o segundo turno se torna mais provável, praticamente uma certeza. E o seu resultado está ficando mais incerto.

Em um tira-teima com qualquer dos rivais, a vantagem de Dilma nunca esteve tão pequena: 11 pontos sobre Campos e 9 sobre Aécio. Esses números não precisam ficar mais apertados para se poder afirmar com segurança que, em tais condições, qualquer desfecho é possível. Dilma continua imbatível no quesito rejeição, com "votos negativos" em alta: agora são 38% os entrevistados que não votariam nela de forma nenhuma. No caso de Aécio são 18% e no de Campos, 13% - em tendência de queda. Pior do que isso para a presidente é a novidade do levantamento: pela primeira vez desde que chegou ao Planalto, o contingente que considera a sua gestão ruim ou péssima superou a parcela que a julga boa ou ótima. A diferença é pequena (35% a 31%), mas, se Dilma não estancar a tendência, não haverá segundo mandato.

Os políticos do PMDB seriam os últimos a não perceber o desgaste aparentemente irrefreável da presidente que, de mais a mais, nunca os tratou bem (como se isso fosse uma exceção) e que não quis ou não conseguiu impedir o PT de lançar candidatos próprios a governador em Estados peemedebistas, a começar do Rio de Janeiro. Deram-lhe um troco ardido na terça-feira ao manter, visivelmente a contragosto, a coligação cujo vice é o presidente efetivo da sigla, Michel Temer. Na véspera da convenção, os seus caciques diziam que, na pior das hipóteses, 66% dos delegados votariam pela aliança - da primeira vez, em 2010, foram 85%. Os 59% afinal apurados deram a Dilma a mais mequetrefe das vitórias.

É fato que ainda assim ela obteve o que queria do PMDB: os seus 2 minutos e 18 segundos em cada bloco de 25 minutos do horário eleitoral. Terá assim quase a metade do tempo das emissões - o que poderá se revelar um bem que vem para o mal. Doze minutos de jactâncias e promessas, duas vezes por dia, poderão indispor com a candidata o mais crédulo dos eleitores - mesmo com Lula dominando a cena.

Faces do futuro - EDITORIAL FOLHA DE SP

FOLHA DE SP - 12/06

Se há um choque de princípios que marcará a sociedade nos próximos anos é aquele entre a comodidade e a segurança, de um lado, e a privacidade, de outro.

Como mostrou reportagem do jornal "The New York Times" reproduzida por estaFolha, avanços no campo do reconhecimento de faces por computador lançam novos dilemas. Empresas podem reter dados faciais de seus clientes? Devem obter autorização para fazê-lo? E o que dizer do governo?

Hoje em dia, algumas companhias conseguem, usando bancos de dados gigantescos e algoritmos relativamente simples, rastrear os hábitos dos consumidores a ponto de conhecer sua intimidade. Uma rede de varejo norte-americana, por exemplo, desenvolveu um método para detectar a gravidez de suas clientes. Com a informação vieram ofertas irresistíveis.

Investidas como essas se sobrepõem a outros avanços tecnológicos, como câmeras de vigilância mais potentes e chips de cartões bancários capazes de revelar quanto o cidadão gastou e onde ele esteve. A isso se somam os drones, que localizam, e eventualmente liquidam, até quem se esconde nas áreas mais remotas do planeta.

Agências governamentais não hesitam em usar tais métodos para a bisbilhotice em massa.

Reconheça-se, porém, que a maioria das pessoas se entrega voluntariamente a essa hipervigilância --para nada dizer da superexposição vista nas redes sociais.

Cadastros na internet podem trazer, como contrapartida, ofertas personalizadas por e-mail, que representam inegável conforto. A utilização da tecnologia de ponta pelas polícias, por sua vez, aumenta a capacidade de prevenir e resolver crimes, ampliando a sensação de segurança da população.

Para que o cruzamento de ferramentas como grandes bancos de dados, reconhecimento facial, câmeras de vigilância e drones não se aproxime demais da distopia de George Orwell em "1984", é crucial que sejam criados limites.

Um bom começo seria determinar que dispositivos dessa natureza só sejam usados com a ciência do cidadão, a quem cabe decidir se quer fazer parte da trama.

De malabarismo em malabarismo, todos perdem - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE

CORREIO BRAZILIENSE - 12/06
A responsabilidade fiscal - ou, precisamente, a falta dela - cada vez preocupa mais. Depois de recorrer a truques contábeis para fechar, no ano passado, a contabilidade da meta de superavit primário fixada na lei orçamentária, conforme entendimento do próprio Tribunal de Contas da União (TCU), o governo dá seguidas mostras de insistir em fazer malabarismos com gastos e receitas.
No início desta semana, soube-se que 1,4 milhão de beneficiários do abono salarial do PIS/Pasep no exercício 2013/2014 ainda não haviam feito o saque a que têm direito. Coincidência ou não, o governo cancelou, no mês passado, campanha publicitária que alertaria para a necessidade de sacar o benefício até 30 de junho. A partir dessa data, os trabalhadores dependerão da Justiça para liberar o dinheiro.

É difícil provar que a demora no aviso aos beneficiários foi proposital, para manter os recursos em caixa e ajudar a compor o superavit primário do governo. Mas é igualmente difícil tirar a razão de especialistas que levantam essa suspeita. Ainda mais agora, que a desconfiança é, de certa forma, reforçada, com o montante do primeiro lote de devoluções do Imposto de Renda frustando as expectativas, ao revelar-se 28% menor do que o de 2013.

Mais estranho é que um governo obstinado no incentivo ao consumo como forma de fazer crescer o PIB tenha retido tanto dinheiro justo às vésperas de uma Copa do Mundo no país. E com o "pibinho", como já passou a ser denominado o Produto Interno Bruto brasileiro, rolando ladeira abaixo. Ontem mesmo, o Banco Mundial reduziu de 2,4% para 1,5% a expectativa de crescimento do país para este ano, bem abaixo da média de 4,8% estimada para o conjunto das nações em desenvolvimento.

Não bastasse, o IBGE revelou, também ontem, que a indústria está produzindo menos e, consequentemente, empregando menos. O recuo da produção industrial foi de 5,8% em abril, em relação ao mesmo mês de 2013. Já a retração do mercado de trabalho no setor bateu em 2%. Pois é nesta hora que o governo segura a devolução do Imposto de Renda recolhido a mais no ano passado. E não foi pouco o dinheiro que, com essa manobra, a Receita Federal deixou de injetar na economia. Se apenas empatasse a atual liberação com a primeira do ano passado, seriam mais R$ 750 milhões disponíveis para consumo.

É certo que está esgotado o modelo de crescimento focado no consumo. Aliás, o mau exemplo vindo de cima, com um governo perdulário incentivando o cidadão a ir às compras, vai escrevendo uma história com final infeliz para as duas partes. Uma se vê às voltas com um superavit primário que não consegue cumprir. A outra, que também gastou mais do que recebeu, vê sua capacidade de honrar compromissos desaparecer no cadastro de inadimplentes do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC), no qual 1,2 milhão de pessoas tiveram os nomes e CPFs inscritos apenas entre abril e maio últimos. A receita para sair do imbróglio, toda dona de casa conhece: só gastar o que se tem.

Vai ter Copa - EDITORIAL FOLHA DE SP

FOLHA DE SP - 12/06


Apoiar a seleção brasileira não significa ignorar os muitos problemas do país; eventual sucesso em campo nada diz sobre os governos


Não foi como das outras vezes. Aquele clima de Copa do Mundo, sensação que ninguém explica, mas todos reconhecem, chegou mais tarde do que em anos anteriores --e muito atrasado em relação ao que seria de esperar sendo o Brasil o anfitrião do evento.

Mas chegou. O país do futebol enfim se revela nas bandeiras, ainda um pouco tímidas, que pegam carona nos carros ou se exibem nas janelas. Aos poucos, assuntos sem relação com o Mundial vão sendo deixados de lado; cada vez mais é o "escrete canarinho" que importa --e mesmo seleções estrangeiras atraíram milhares a seus treinos.

Os problemas, é claro, estão aí. Vêm de séculos, e seria um disparate imaginar que o torneio pudesse resolvê-los. Da mesma forma, seria um equívoco apostar no esporte para ocultar a imensa lista de mazelas que aflige a população.

A obsoleta mentalidade do "pão e circo" sofreu um desmentido inaudito no mês de junho passado, quando multidões tomaram as ruas de todo o país.

O conjunto da sociedade revelou sua insatisfação com os serviços públicos: transporte, saúde, educação, segurança, saneamento e inúmeros outros deveres do Estado receberam merecidas críticas. Os protestos concentraram e catalisaram a exasperação com a corrupção, com a inflação, com o crescimento pífio da economia.

Sinal dos tempos, nem a Copa foi preservada. Desabou o apoio à realização do Mundial, passando de 79%, em 2008, para 51% às vésperas da estreia do Brasil. Há, além das denúncias de desvios, o contraste entre os estádios suntuosos, de altíssimo padrão, e a realidade do que os governos oferecem em troca de pesados impostos.

O futebol, formador da identidade nacional, tem sido há um ano o ponto de fuga das demandas populares. Faz sentido, assim, que alguns se disponham a protestar mesmo durante a Copa. Os atos, desde que pacíficos, darão o testemunho do quanto o país amadureceu nestas décadas de democracia.

Maturidade democrática, aliás, que deve incluir a capacidade de diferenciar resultados esportivos de êxitos políticos; o desejado sucesso da seleção, ou seu eventual fracasso, será dos jogadores, da comissão técnica e do povo brasileiro, mas não de seus governantes.

Se o fenômeno cultural do futebol tem inegável dimensão política, é crucial distinguir as esferas. Do contrário, num contexto de efervescência social, o inocente gesto de apoiar a seleção, nos estádios ou fora deles, acabaria sujeito a reprimendas. Nada mais infeliz do que censurar a felicidade alheia.

É de resto um despropósito torcer contra o Brasil. Os únicos que têm a ganhar com nossa derrota são os adversários, pois aos brasileiros restará apenas a tristeza.

Sem abandonar o espírito crítico, mas reconhecendo a importância do futebol para o país, esta Folha deseja boa sorte à seleção brasileira.

Que a torcida repita o comovente espetáculo promovido na Copa das Confederações, e que os jogadores retribuam com seu máximo esforço o apoio recebido.

Alegria e maturidade - EDITORIAL GAZETA DO POVO - PR

GAZETA DO POVO - PR - 12/06

A realização da Copa do Mundo despertou e desperta todo tipo de questionamento legítimo. Mas sabotar o evento é sabotar o próprio país


Sim, vai ter Copa. Brasil e Croácia iniciam hoje, em São Paulo, um Mundial marcado pelo contraste entre a paixão do brasileiro pelo futebol e a decepção de perceber que a realização do evento não trouxe o que era prometido em 2007, quando o país foi escolhido para sediar a Copa. De fato, há muito com que se frustrar, especialmente com os gastos exorbitantes nos estádios em comparação com os investimentos nos direitos básicos do cidadão. Mas nada disso justifica “sabotar” a Copa do Mundo, como propõem os bandidos black blocs. Os brasileiros conscientes sabem que a hora é de esforço para um evento bem feito.

Como já dissemos em outras ocasiões, há dois grandes motivos que justificam a realização de megaeventos esportivos em países com as características – e as deficiências – do Brasil. O primeiro é o legado urbanístico e de infraestrutura deixado por competições como a Copa e os Jogos Olímpicos, já que é necessário preparar as sedes para o fluxo de espectadores esperado. Nesse quesito, que fez a fama de cidades como Barcelona, sede da Olimpíada de 1992, nossa oportunidade foi desperdiçada. Muito do que foi prometido acabou descartado, e muito do que foi feito apresenta problemas, como todos sabemos.

Mas não é isso que impedirá os estrangeiros e brasileiros de outras cidades de vir a Curitiba assistir às quatro partidas realizadas na Arena da Baixada. E é este o segundo bom motivo para receber a Copa: o fluxo de turistas-torcedores e os recursos que eles trazem para gastar no país e, especialmente, na capital paranaense. Nesse sentido, a bola dentro do poder público (não sem pressão de entidades como a Associação Comercial do Paraná) foi resistir à tentação de decretar feriado em Curitiba nos dias de jogos na capital; assim, quem vier de fora para ver os jogos encontrará não uma cidade-fantasma, mas uma cidade em pleno funcionamento, oferecendo oportunidades de lazer, gastronomia e compras e mostrando um povo trabalhador.

Cabe a nós, paranaenses, proporcionar aos visitantes uma experiência tal que eles deixem Curitiba e o Paraná com desejo de voltar no futuro. O futebol está trazendo pessoas que talvez nunca tivessem considerado a possibilidade de conhecer nosso estado. Que elas se encantem com o que temos a oferecer e, em sua terra natal, divulguem as nossas virtudes e empolguem novos futuros visitantes. E que nós aproveitemos os holofotes para, mais uma vez, reconhecer o que temos de bom e trabalhar para superar nossas deficiências.

Não queremos, com isso, dizer que o curitibano e o brasileiro devam, por 30 dias, suspender completamente o juízo crítico acerca de tudo que rondou a organização da Copa no Brasil. Queremos, sim, dizer que o torcedor não pode ser punido por causa de nossas mazelas. Arruinar a experiência do torcedor que vem de fora, ou do brasileiro fã de futebol que talvez nunca mais tenha a oportunidade de presenciar uma Copa em seu próprio país, pouco ou nada ajudará a resolver os problemas da saúde e da educação que não têm “padrão Fifa”, mas o triste “padrão Brasil”. Por isso, é preciso rejeitar oportunismos como os de São Paulo, onde metroviários desrespeitaram a Justiça, usando a Copa e a possibilidade de dificultar o acesso de torcedores ao estádio para pressionar o governo estadual.

A hora é de maturidade e alegria. Maturidade para saber que, sim, é possível se manifestar, desde que de forma pacífica, sem vandalismo, sem desrespeito à propriedade alheia e aos direitos dos demais, sem prejudicar aqueles que vêm prestigiar o bom futebol. Maturidade de saber que ainda teremos muito a fazer depois da Copa, fiscalizando para evitar que os malfeitos sejam varridos para debaixo do tapete e, especialmente, rejeitando nas urnas, em outubro, aqueles que não ouviram o pedido do povo nas jornadas de junho de 2013. E alegria para fazer da Copa do Mundo no Brasil e em Curitiba uma experiência que seja lembrada com gosto pelos que dela participarem, seja como torcedores nos estádios, seja nas Fan Fests, seja no contato com os visitantes, seja na torcida por sua seleção favorita.


Em torno da campanha pelo hexacampeonato - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 12/06

Torcida faz a sua parte e, mesmo com algum grau de desencanto com o legado da Copa, incentiva a seleção. Equívocos do poder público são lições para eventos futuros


A bola, enfim, começa a rolar hoje, no Itaquerão, para uma Copa do Mundo que se inicia já com marcas dignas de registro. Até o dia 13 de julho, quando será disputada a final no Rio de Janeiro, a competição terá sido a competição de futebol mais vista do planeta.

Em razão do ritmo alucinante de multiplicação dos meios individuais de comunicação (smartphones e outros dispositivos), que se juntam às transmissões oficiais das redes de TV, estima-se que 3,6 bilhões de pessoas em todo o mundo acompanharão os jogos, aumento significativo de audiência em relação a 2010, quando 3,2 bilhões assistiram às partidas na África do Sul. É uma plateia de mais da metade da população da Terra.

Outra peculiaridade é que o Maracanã se tornará, ao lado do Estádio Azteca, no México, o segundo estádio a receber duas finais do Mundial de seleções. O Brasil esperou 64 anos para voltar a sediar o evento, e o fará, é o que se espera, à altura de sua magnitude. Vista apenas pelos viés esportivo, a Copa tem tudo para ser o palco de uma grande conquista da seleção brasileira, que busca o hexa com apoio crescente da torcida. A ver. Mesmo fora de campo, o direito de sediar a competição trouxe benefícios para as cidades-sede. Ampliaram-se ou construíram-se estádios, houve avanços por conta de investimentos em infraestrutura e, não menos importante, o país consolidou-se como opção real para abrigar grandes eventos internacionais. Mas foi também fora das quatro linhas que se acumularam maus passos — que, se não inviabilizaram, são responsáveis por um certo, e impensável, desencanto do país do futebol com a sua Copa. Nesse sentido, independentemente de a seleção vir a colher bons ou maus resultados, e a despeito da inegável grandeza dos números resultantes da Copa, seu legado terá sido marcado também por nódoas. A começar pelo voluntarismo e pela megalomania lulopetistas, ainda nos primeiros momentos de organização do evento, quando idealizou uma competição com inchadas 14 cidades-sede (número depois reduzido para 12, ainda assim inflado), indisfarçável tentativa de ampliar os palanques para a candidata Dilma desfilar.

Também fica espetada na fatura dos maus serviços a incompetência gerencial de diversas instâncias do poder público (federal, estadual e municipal), que não deram conta de cumprir com o cronograma de intervenções urbanísticas, uma falha grave, da qual a ampliação/modernização da mobilidade urbana inconclusa é a imagem mais visível. Por fim, perpassando tais equívocos, e os potencializando, a densa burocracia que atravancou investimentos e deu espaços à corrupção.

Mas, jogo jogado, a Copa está aí, e é com alegria e confiança que a torcida aguarda o pontapé inicial de logo mais. No entanto, lições ficaram. O poder público tem o dever de terminar as obras inacabadas e, não menos importante, no caso do Rio, aprender com os erros e se redimir a tempo de evitá-los daqui até 2016, nas Olimpíadas.