sábado, julho 11, 2009

ROBERTO POMPEU DE TOLEDO

REVISTA VEJA
Roberto Pompeu de Toledo

O absurdo chamado Honduras

"Contempla-se o mapa e surge por inteiro o erro que
é a América Central – um rabicho da América do Norte,
ou um penacho brotado da cabeça da América do Sul"

Fala-se de Honduras, nestes dias, Honduras para cá, Honduras para lá, como se fosse a coisa mais natural do mundo. Não é. Não dá para comentar um golpe, ou uma situação política, por mais grotesca ou absurda, sem atentar primeiro ao absurdo que é Honduras em si, mesmo sem golpes ou situação política explosiva. Este é o ponto. Quem discute o golpe dá por pacífica a existência de Honduras. Considera que um país chamado Honduras é algo perfeitamente normal e cabível na ordem geral do planeta. Ora, essas pessoas deveriam parar um momento para pensar. Como assim? Honduras? Um país chamado Honduras? A conclusão inevitável é que Honduras é uma aberração.

A América Central é uma aberração. É produto de um erro geológico, um esquecimento que fez uma tripa de terra resistir a seu destino lógico, que seria a submersão no oceano. Sem ela, os oceanos Atlântico e Pacífico teriam ampla comunicação. Teria sido evitado o drama que foi a construção do Canal do Panamá, incluindo o escândalo financeiro da primeira tentativa de sua abertura, tão rumoroso que a palavra "panamá" virou sinônimo de negociata. A América do Norte e a América do Sul seriam dois continentes diferentes, com identidades ainda mais nítidas do que as que já possuem. Teriam nomes diferentes, em consequência. E inexistiria o problema de os do Sul se sentirem órfãos do adjetivo "americano", de tal forma ele é identificado com o mais poderoso dos países do Norte.

Contempla-se o mapa e surge por inteiro o erro que é a América Central – um rabicho da América do Norte, ou, vista do ângulo oposto, um penacho, ou um topete rebelde, brotado da cabeça da América do Sul. Bem… Já que existe, poderia contentar-se em constituir-se numa ponte, uma passagem seca, e por isso uma boa alternativa de comunicação, entre a América do Norte e a do Sul. Não; foi-se além, e implantou-se ali… um país? Um único país, o que, vá lá, com boa vontade seria tolerável? Não; implantaram-se sete países. Sete! Existe até um chamado Belize. Eles acomodam-se mal, apertados uns contra os outros como num trem de subúrbio às 6 da tarde, e não é de espantar que, quando não estão em conflito consigo mesmos, como ocorreu nas guerras civis de El Salvador e Nicarágua, enfrentam-se uns aos outros, como na Guerra do Futebol, entre o mesmo El Salvador e nossa espantosa Honduras, iniciada no estádio em que se enfrentavam, em 1969, as seleções dos dois países.

O.k., reconheçamos que, caso não houvesse a América Central, não haveria conflitos que até possuem seu lado recreativo, infelizmente ensombrecido pela triste circunstância de também levarem à morte e à devastação, como a Guerra do Futebol. E caso não houvesse Honduras não haveria um espetáculo retrô, para encher de conforto a alma de um saudosista, como a deposição manu militari de um presidente, ainda mais que enriquecida por particularidades como arrancar o presidente do palácio de pijama, levá-lo ao aeroporto e despejá-lo, sempre de pijama, num país vizinho.

Tais aspectos não compensam o absurdo que é a mera existência da América Central. O simples fato de haver nações, com o consequente aparato de fronteiras, exércitos, nacionalismos e xenofobias, já é questionado pelos mais idealistas. Transportado para a América Central, o argumento multiplica-se por mil. Se fosse habitada por árabes e judeus, uns roçando as costas dos outros, ou indianos e paquistaneses, ou chineses han e chineses uigures, ainda se entenderia caber tanto conflito em tão exíguo cenário. Não; são países que falam todos a mesma língua, exceto Belize, são todos cristãos e possuem composições étnicas iguais, ou quase. A América Central é uma amostra eloquente da forma, abusiva e abusada, como as nações brotaram e continuam brotando na face do planeta Terra.

Enquanto isso…

Neste outro país aberrante, por outros motivos, que é o Brasil, os deputados dão um golpe na internet. O projeto de lei eleitoral aprovado na semana passada pela Câmara amarra as campanhas políticas pelo novo meio de comunicação na mesma camisa de força da televisão. Dificultam-se ou proíbem-se os debates, as entrevistas, as críticas, a controvérsia. A internet é mais arisca, como se sabe, e a possibilidade de a lei não pegar, pela impossibilidade de fiscalização, é grande. Em todo caso, está lá, no papel, esperando agora a aprovação do Senado. A inspiração central do projeto é reforçar o já velho e vitorioso objetivo de fazer o eleitor votar às cegas.

RUTH AQUINO

REVISTA ÉPOCA
Dilma é braba, mas gosta de maquiagem
Os marqueteiros querem destacar o “lado mulher” da ministra – mas é seu “lado homem” que incomoda
RUTH DE AQUINO
Revista Época
RUTH DE AQUINO
é diretora da sucursal de ÉPOCA no Rio de Janeiro
raquino@edglobo.com.br

A ministra Dilma Rousseff gosta de lilás. Também gosta de dar broncas em público e em particular. Imbecil é um adjetivo comum em seu vocabulário. O maior desejo de seus cabos eleitorais é convencer que Dilma pode ser uma presidente carismática e flexível. Depois do enfrentamento com o câncer linfático, acreditava-se que ela voltaria ao batente menos agressiva. Mas Dilma inspira medo. “Sou a única durona no meio de um monte de homens fofos. Só tem fofo no governo”, disse em almoço feminino em São Paulo.

Dilma usava um tailleur lilás quando anunciou o megacampo de petróleo de Tupi, em 2007. E um terno lilás no almoço recente na casa de Marta Suplicy em São Paulo, oferecido para mulheres. Os olhos estavam pintados de lilás. A cor é um gosto particular da ministra, não significa nada além da preferência pela sobriedade. Por mais que as comensais tenham tentado conversar sobre casamento, amor e vida pessoal, Dilma só se empolgou ao falar do pré-sal. Marta diz que organizou o almoço porque, “na campanha, vão tentar trucidar o lado mulher dela”. As mulheres são 52% dos eleitores. Mas 30% delas nunca ouviram falar de Dilma.

Na verdade, é o lado homem de Dilma que vem incomodando. Homem no pior sentido. Um assessor pede demissão porque não suporta grosseria. Um ministro é cobrado e destratado aos gritos, constrangendo os outros. O presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, chora depois de se sentir humilhado por Dilma ao telefone. Não há Duda Mendonça que consiga maquiar o temperamento da ministra, fermentado em anos de guerrilha após o colégio de freiras. Ela chegou a ganhar do PMDB um bambolê em janeiro de 2008, para ter mais “jogo de cintura”.

Não sei se Dilma foi injustiçada, mas diz a lenda que, até agora, ela só não destratou Lula e o vice, José Alencar. Quem é assim piora com mais poder. Nesta edição, ÉPOCA traz uma grande reportagem sobre felicidade no trabalho. Tapinha nas costas não garante que você seja feliz no emprego. Mas soco no estômago ou golpe baixo tampouco ajudam. Chefe que faz subordinado chorar e se sentir um lixo comete assédio moral.

Agora que se revelou a maquiagem no currículo da ministra no site da Casa Civil, o Brasil ficou sabendo que Dilma é uma mulher comum, não tem título de mestre nem cursa doutorado. Como ela diz não saber quem incluiu as mentiras em seu currículo, esse episódio acabará sendo usado para propagandear que Dilma não faz parte da elite acadêmica dos doutores. Apesar do aparente crime de falsidade ideológica, ela ficou mais próxima do povo. Dilma agora é só a mãe – ou madrasta? – do PAC.

Os marqueteiros querem destacar o “lado mulher” da
ministra – mas é seu “lado homem” que incomoda

O fato de Dilma dizer que não sabe quem maquiou seu próprio currículo não é nada de mais num governo em que ninguém sabe de coisa alguma. O presidente do Senado, José Sarney, não sabia que um auxílio-moradia ilegal de R$ 3.800 era depositado mensalmente em sua conta pessoal. Não sabia que a Fundação Sarney, do Maranhão, teria desviado meio milhão de reais para empresas fantasmas. Não sabia que sua casa de R$ 4 milhões em Brasília tinha sido ocultada da Justiça Eleitoral.

Dilma e Sarney ganharam diploma na escolinha do professor Lula, que também nunca soube do mensalão ou de qualquer ato de corrupção de seus ministros – e disse em Paris que “não há crise no Senado, apenas divergências”.

Um dos segredos para ser feliz é ser alienado. Estão explicadas as risadas dos políticos nas fotos. Eles não sabem de nada.

Bom mesmo é parar de ler a imprensa. Dá azia ler que a carga tributária bateu recorde no Brasil (35,8% do PIB), mesmo sem os R$ 40 bilhões da CPMF. As alíquotas subiram, o caixa do governo está gordo, mas o dinheiro não é suficiente para a saúde ou para a educação.

Vamos agora ler apenas a coluna de Lula e assistir somente à televisão que o PT vai lançar na internet, em dois andares do prédio alugado em Brasília. Seremos todos felizes, porque não vamos ficar sabendo de nada. Pode haver melhor bálsamo que uma realidade maquiada?

O BUNDÃO IDIOTA

INFORME JB

Genro, Bernardo e o grande desafio

Vasconcelo Quadros

JORNAL DO BRASIL - 11/07/09

A queda de braço entre os ministros Tarso Genro (Justiça) e Paulo Bernardo (Planejamento) (foto-D) envolvendo o projeto de reestruturação da Polícia Federal já dura seis meses, e, pelo jeito, só o presidente Lula indicará o vencedor. A proposta prevê um impacto financeiro estimado em seis vezes mais o valor da atual folha de pagamento do órgão – de R$ 8 milhões para R$ 48 milhões – mas forçaria uma revolução interna na PF. A mudança mais forte é o poder que passam a exercer os agentes federais sobre as investigações. Eles ocuparão todos os núcleos de planejamento operacional de 365 delegacias que integram o organograma das 27 superintendências estaduais de todo o país. Vão mandar em 730 cargos que estão hoje com os delegados.

Custo benefício Desafio

O delegado Luiz Fernando Corrêa argumenta que o foco na gestão do órgão tem produzido economia equivalente ao aumento que as mudanças causarão na folha. Além disso, as operações contra a corrupção economizaram para o governo, no ano passado, perto de R$ 4 bilhões.

Ponto de partida para a chamada Polícia Federal de 2022, as mudanças darão mais musculatura ao órgão. Num país em que encontrar corrupção é como pescar em balde, há quem duvide que exista vontade política na base do governo para aprovar o projeto.

Gestão e economia

Iniciado em 2005, o programa sobre modernização de gestão pública em nove estados tem resultado interessante: com um custo de R$ 44,3 milhões, produziu ganhos da ordem de R$ 9,9 bilhões – R$ 3 bilhões a mais da meta traçada. O balanço vai ser mostrado no evento que o Movimento Brasil Competitivo realiza, agora dia 28, no Rio. O governador Sérgio Cabral e o prefeito Eduardo Paes prometeram participar.

O vazio do recesso

O presidente e o vice-presidente do STF, Gilmar Mendes e Cezar Peluso, embarcam hoje para a Rússia, em visita oficial à Suprema Corte, em Moscou, e à Corte Constitucional da Federação, em São Petersburgo. Na ausência da cúpula do STF, fica de plantão, como presidente, o decano, Celso de Mello, ou quem estiver em Brasília, pela ordem decrescente de antiguidade. Como Celso de Mello está viajando, é bem possível que o ministro Marco Aurélio volte a exercer a presidência da Corte, por uma semana.

Pressão

Agora já são três as investigações que apertam o presidente do Congresso, José Sarney. Duas delas – que tratam dos empréstimos consignados e dos atos secretos – já estão andando. A terceira, protocolada ontem pelo líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), na Procuradoria da República, pode ir ao coração da Fundação José Sarney.

Foco

Mas pode bater cabeça com investigações que a PF já realiza no Maranhão no rastro financeiro deixado pela São Luiz Factoring, que pertence ao empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado. "Meu pedido está focado no desvio do dinheiro público", diz Virgílio.

Mistério

O mutirão organizado pelo Exército para as buscas no Araguaia e documentos inéditos que estavam com o ex-major Curió vão esclarecer se estão vivos sobreviventes da guerrilha dados oficialmente como desaparecidos. Há suspeitas de que quatro tenham sobrevivido. Os militares silenciam sobre este que é um dos grandes mistérios do conflito.

DIOGO MAINARDI

REVISTA VEJA
Diogo Mainardi

Edna entendeu tudo

"Edna O’Brien foi arrastada a um encontro entre Chico Buarque
e Milton Hatoum. O que ela afirmou, assim que conseguiu escapar
do encontro? Que Chico Buarque era uma fraude. O que ela afirmou
em seguida, durante o jantar? Que se espantou com a empáfia
e com o desconhecimento literário dos dois autores"

Edna O’Brien está fazendo um conto sobre "Chico". Ela pronuncia "Chico" com um "T" na frente, como em Chico Marx. Por isso mesmo, "Chico", em seu conto, ganhou o nome de Harpo, como em Harpo Marx. Mas o inspirador da festejada escritora irlandesa – pode bater no peito – é o nosso "Chico": Chico Buarque.

Edna O’Brien conheceu "Chico" uma semana atrás, na Flip, em Paraty. Depois de participar de um debate, ela foi arrastada a um encontro entre Chico Buarque e Milton Hatoum. O que ela afirmou, assim que conseguiu escapar do encontro? Que Chico Buarque era uma fraude. O que ela afirmou em seguida, durante o jantar? Que se espantou com a empáfia e com o desconhecimento literário dos dois autores. E o que ela repetiu para mim, alguns dias mais tarde, em outro jantar, no Rio de Janeiro? Que Chico Buarque era uma fraude, que ela se espantou com sua empáfia e com seu desconhecimento literário, e que se espantou mais ainda com sua facilidade para enganar a plateia da Flip.

No conto de Edna O’Brien, Chico Buarque – ou Harpo – é tratado como "Astro do rock". O personagem é inspirado em Chico Buarque, mas tem também umas pitadas de Bono, do U2, admirador de Edna O’Brien. A narradora – uma autora irlandesa – está numa feira literária no Brasil. De alguma maneira, ela é inserida no séquito de um cantor que, como Chico Buarque, se meteu a fazer romances. Há uma atmosfera onírica no conto. Essa atmosfera onírica foi estimulada pelo fato de Edna O’Brien, nas quatro noites que passou em Paraty, atormentada pela batucada permanente do lado de fora da janela de seu hotel, nunca ter dormido. Quando saiu de Paraty, ela se refugiou no Copacabana Palace, no Rio de Janeiro, mas continuou insone, atormentada pela festa de casamento de Pato, o jogador do Milan, com Sthefany Brito, a atriz deChiquititas. Sthefany é com "Y", como Paraty, e "Chiquitita" tem um "T" na frente, como Chico Marx.

Eu já resenhei um romance de Chico Buarque: Benjamim. Nele, um homem à beira da morte relembra o passado, misturando realidade e sonho. Em Leite Derramado, seu último romance, um homem à beira da morte relembra o passado, misturando realidade e sonho. Chico Buarque, como Harpo, é o buzinador das letras: fon-fon. Ele está para a literatura assim como Dilma Rousseff está para as teses de mestrado. Ou assim como José Sarney está para Agaciel Maia. Edna O’Brien passou apenas uma semana no Brasil. Mas ela entendeu tudo: neste país fraudulento, o que mais espanta é a facilidade para enganar a plateia, enquanto a batucada continua do lado de fora.

GOSTOSAS


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COISAS DA POLÍTICA

A campanha do vale-tudo

Villas-Bôas Corrêa

JORNAL DO BRASIL - 11/07/09

A ruidosa e divertida caravana, liderada pela ministra-candidata Dilma Rousseff, que, na ausência do presidente Lula mas com seu óbvio consentimento, viajou na última semana para o Piauí, com a carga completa de ministros e parlamentares para visitar as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), na verdade inaugurou mais um, e dos mais espertos esquemas de campanha eleitoral, que atropela o calendário constitucional, com a segurança da impunidade.

Louve-se a ousadia de mais uma etapa da campanha ostensiva, que sequer apela para o disfarce e ainda aproveita a pasmaceira da oposição, engasgada com dois candidatos, os governadores José Serra, de São Paulo, e o mineiro Aécio Neves, que não conseguem definir a chapa, nem apelando para o par ou ímpar.

A ministra Dilma Rousseff continua contornando dificuldades com a obstinação de quem persegue a oportunidade única, que não caiu do céu mas foi entregue de bandeja pelo presidente Lula. O câncer linfático que parecia bloquear o seu objetivo está sendo superado com êxito graças às sessões de quimioterapia, já terminada, e que serão completadas com 15 aplicações de radioterapia, quando são de 90%, segundo a junta médica, as possibilidades de cura.

Aqui e acolá, a imprensa registra os estrilos do seu temperamento genioso, que intimida os assessores, secretários e ministros e só reverencia o presidente Lula, com quem mantém um relacionamento que o ministro Franklin Martins qualifica como "de pai para filha". E nenhum pai na história deste país deu de presente a uma filha a candidatura a presidente da República.

Se a campanha fora da lei foi iniciada com o presidente Lula, não há razão para ser interrompida quando vai de vento em popa. Com o PAC às ordens como pretexto irretocável, a ministra-candidata lotou o avião com os seus ilustres cabos eleitorais. Entre os quais, os ministros Alfredo Nascimento, dos Transportes – que acaba de ser apresentado ao distinto público – Geddel Vieira Lima, da Integração Nacional, e Márcio Fortes, das Cidades. Nas vagas, os lugares foram distribuídos a parlamentares governistas.

Na volta do giro de reconhecido sucesso, a ministra Dilma anunciou que vai continuar a visitar obras do PAC e do Minha Casa Meu Voto, na companhia de ministros bons de votos e de parlamentares credenciados pelas votações.

O cenário está armado à espera da inadiável reforma política. E que empaca na absoluta falta de confiança no Congresso, que é o pior de todos os tempos, inclusive dos 21 anos da ditadura militar, quando foi tratado com o maior desprezo pelos presidentes-generais. O Legislativo foi então vítima indefesa das cassações de mandato, dos atos institucionais, com destaque para o famigerado AI-5, dos recessos parlamentares, do deboche dos senadores biônicos escolhidos pelas assembléias legislativas, da extinção dos partidos com tradição pelos partidos de chocadeira que misturavam alhos com bugalhos.

Sem liberdade de imprensa não há Congresso nem democracia.

E é o que assusta com a desmoralização suicida da baderna do Congresso que vai se dissolvendo no mar de lama de outros apagões da democracia. Se alguns – que são realmente poucos entre os que são atores e não silenciosos cúmplices da praga que corrói a respeitabilidade do Legislativo – conseguirem aprovar uma reforma política de emergência para a travessia até a convocação de uma miniconstituinte, com prazo para acabar e pauta previamente fixada, será um estímulo para um crédito de confiança ao Congresso renovado pelas urnas de 3 de outubro de 2010.

A faxina tem que começar agora, sem perda de um dia. Pelo menos algumas medidas profiláticas podem ser aprovadas na reabertura do Congresso, com os parlamentares alertados pelas suas bases eleitorais da cobrança da população.

A Fundação Getúlio Vargas, com a sua reconhecida competência, foi convocada pelo Senado para uma análise do obeso quadro de servidores do Senado – 2.216 funcionários para atender 81 senadores, noves fora os ausentes – o que, mais do que um escândalo, é um deboche da opinião pública. O senador Heráclito Fortes, primeiro-secretário da Mesa, garantiu que vai cumprir a recomendação da FGV: cortar 40% do quadro de servidores comissionados e terceirizados.

Já é um começo.

MAÍLSON DA NÓBREGA

REVISTA VEJA
Maílson da Nóbrega

Os salários dos executivos
da Petrobras

"No setor público, raros são os dirigentes demitidos por
incompetência. Sua remuneração não deve ter relação
com a do setor privado"

Deu no Correio Braziliense (25/6/2009): entre 2003 e 2007, a remuneração dos diretores da Petrobras cresceu 90%, mais de três vezes a inflação do período. Em 2007, cada um recebeu perto de 710 000 reais, quase 60 000 reais por mês.

Em entrevista a O Estado de S. Paulo (27/6/2009), o presidente da empresa, Sergio Gabrielli, tachou a matéria de "muito ridícula", pois veiculava decisão da assembleia-geral da empresa, que é pública. Falou em "claro indício de crime de quebra de sigilo fiscal", pois a informação é protegida. Como? Se o dado é público, não teria havido delito.

Corretamente, Gabrielli mostrou que a remuneração é modesta, em relação à de empresas privadas: "Todos os dirigentes da Petrobras receberam 7,108 milhões de reais no ano de 2007. O Itaú teve 244 milhões de reais; o Bradesco, 170 milhões de reais; o Unibanco, 153 milhões de reais; Gerdau, 59 milhões de reais; Vale, 43 milhões de reais; Sadia, 16 milhões de reais; Perdigão, 14 milhões de reais; Aracruz, 9 milhões de reais; CSN, 9,5 milhões de reais".

Haverá quem se impressione com o argumento e dê razão ao presidente da Petrobras. Acontece que não se pode fazer essa comparação. O setor privado é mais exigente quanto aos requisitos de experiência e qualificação profissional. Os executivos podem sair por causa de desempenho insuficiente. Por essas razões, paga-se mais, aqui e em outros países. No setor público, raros são os dirigentes demitidos por incompetência. Sua remuneração não deve ter relação com a do setor privado.

O senhor Gabrielli tem elevada qualificação acadêmica, incluindo o doutorado em economia nos EUA. É professor de uma instituição de prestígio, a Universidade Federal da Bahia. Sua competência é hoje muito reconhecida. Ocorre que se a Petrobras fosse privada dificilmente esses predicados bastariam para ele chegar a presidente. A escolha de seus dirigentes levou mais em conta as vinculações sindicais ou partidárias.

Segundo Maria Celina d’Araújo, cientista política da Fundação Getulio Vargas, o governo federal dispõe de 77 000 cargos para preencher por indicação política. No atual governo, esse processo foi exacerbado. Salvo exceções como a do Banco Central, as nomeações se pautaram por critérios essencialmente políticos. Nem mesmo as agências reguladoras – que deveriam ser geridas por pessoal preparado – escaparam do aparelhamento.

No governo federal americano, as indicações políticas são cerca de 3 000. Os dois partidos que se revezam no poder costumam recorrer a gente qualificada, recrutada nos seus próprios quadros ou em organizações de pesquisas e estudos (os think tanks). No Reino Unido, onde é maior a profissionalização do serviço público, o primeiro-ministro nomeia pouco mais de 100 pessoas, incluindo os ministros.

O governo britânico usa habitualmente empresas de consultoria especializadas (headhunters) para recrutar e selecionar dirigentes. É assim que são escolhidos os equivalentes, entre nós, aos cargos de secretário da Receita Federal e do Comitê de Política Monetária do Banco Central. O presidente que conduziu a privatização da British Steel, a estatal de aço, era um canadense indicado pelo mesmo método.

No setor privado, cargos como os da Petrobras são exercidos segundo valores, princípios e lógica distintos dos aplicáveis ao governo. Ao contrário do setor público, sua remuneração deriva de expectativa de desempenho, de demandas do cargo ou dos respectivos riscos.

Voltemos aos EUA. Como o país não possui empresas estatais como as brasileiras, tomemos o exemplo do Federal Reserve, o banco central. A remuneração anual de seu presidente, medida pelo método da paridade do poder de compra da moeda, é de 279 100 reais, menos da metade do ganho de um diretor da Petrobras. A complexidade do cargo é maior. Comparada à de um dirigente de banco americano, essa remuneração ficaria a uma distância maior do que a existente entre a Petrobras e empresas brasileiras.

Em resumo, consideradas a natureza estatal da Petrobras e a forma de escolha de seus diretores, parece não haver justificativa para o valor de seus salários, muitíssimo superiores aos do universo dos dirigentes do setor público brasileiro. A comparação com a remuneração de diretores de empresas privadas é no mínimo descabida.

GOSTOSA DO TEMPO ANTIGO


PAINEL DA FOLHA

Desvio de foco

RENATA LO PRETE

FOLHA DE SÃO PAULO - 11/07/09

Embora receoso dos rumores sobre a iminência de novas denúncias, o núcleo próximo a José Sarney (PMDB-AP) atravessou o dia de ontem com a avaliação de que a promessa de instalar a CPI da Petrobras na terça produziu o efeito desejado de acalmar a oposição, que agora trata a comissão como prioridade.
A despeito de um ou outro discurso mais inflamado na tribuna, o presidente do Senado e seus aliados acreditam que, se a comissão de fato começar a funcionar, o alvo principal do PSDB e do DEM não será a Fundação José Sarney, suspeita de desviar recursos que lhe foram repassados pela estatal. ‘O que eles querem é o PT’, resume um sarneysista.

Veja bem - Sarney telefonou à ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, e ao chefe de gabinete de Lula, Gilberto Carvalho, na quinta à noite. Tentou argumentar que não agiu para agradar a oposição ao determinar a abertura da CPI, mas sim porque o STF mandaria instalar a comissão de qualquer maneira.

Não leve - Quando Sarney deixou o Palácio do Planalto, em 1990, a comissão responsável pela guarda de documentos presidenciais emitiu parecer contrário ao envio do acervo para o Maranhão. Segundo a orientação dos técnicos, o material deveria ser remetido ao Arquivo Nacional, pois no Maranhão não haveria garantia de que estaria devidamente protegido nem de que receberia o tratamento adequado para preservação.

Levo sim - Sarney ignorou o parecer. Alegou que faria de sua fundação ‘um ponto de referência para a cultura brasileira do norte do país’.

Caneta - Roseana Sarney (PMDB) assinou ontem decreto desapropriando área para a instalação de refinaria da Petrobras no Maranhão. Em discurso, ela disse que a Petrobras é um ‘orgulho para o Brasil’ e elogiou Lula.

Muito bonito! - A julgar pelo site que permite ver os e-mails recebidos pelos senadores com perfil no Twitter, Aloizio Mercadante deve andar de orelha quente. São muitas as mensagens cobrando a adesão do petista ao ‘fora Sarney’ e à CPI da Petrobras. Uma delas: ‘Que beleza! Tem tempo pra twitar mas não tem tempo pra instalar a CPI!’.

Na rede - Tão logo acabe o recesso, o CNJ vai se debruçar sobre a criação de uma espécie de Siafi para divulgar as contas da Justiça nos Estados.

Novo no bairro - Esqueceram de avisar a Ciro Gomes (PSB) que Orestes Quércia (PMDB), com o qual o deputado descartou qualquer tipo de aliança caso venha a disputar a sucessão em São Paulo, foi recentemente visitado pelos petistas Cândido Vaccarezza e José Mentor. A dupla tentava atrair o ex-governador, aliado de José Serra (PSDB), para o campo lulista.

Pelo estômago - Presidente da CNA, a senadora Kátia Abreu (DEM-TO) chegou na terça-feira ao Ministério do Planejamento, onde teria reunião sobre o fundo garantidor da agricultura, portando duas bandejas: uma de broas e outra de bolo de milho. Tudo para seu neoamigo Paulo Bernardo, a quem cobriu de elogios recentemente na tribuna.

Pessoa comum - Diplomatas brasileiros ficaram impressionados ao ver ontem o premiê espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero, almoçando no ‘bandejão’ do Centro de Imprensa da cúpula do G8. Sem seguranças. Nenhum outro chefe de governo se aproximou do centro.

Tiroteio

O governo Yeda, no qual uma assessora misteriosa tem tanto poder, não combina mesmo com uma Secretaria de Transparência.
Do deputado estadual FABIANO PEREIRA (PT), que presidiu a CPI do Detran gaúcho, sobre a saída de Carlos Otaviano Brenner de Moraes após Yeda Crusius (PSDB) se recusar a demitir Walna Menezes, suspeita de envolvimento em esquema de fraudes em obras.

A luta continua - Do líder do PSOL na Câmara, Ivan Valente (SP), em resposta à carta de Luciana Genro (RS) à direção da sigla, na qual o acusa de ‘machismo e grosseria’: ‘É uma atitude desqualificada de alguém que mente de forma despudorada para patrocinar luta interna’.

Contraponto

Penas alternativas

Após a segunda absolvição de Edmar Moreira, o clima no Conselho de Ética da Câmara desandou para a piada.
-Acho que ele deveria ser obrigado a pintar sozinho o castelo inteiro- brincou um deputado.
Voto vencido pela cassação, Ruy Pauletti (PSDB-RS) não só se recusou a ser o terceiro relator do caso, num encaminhamento que proporia apenas suspensão a Edmar por ter usado a verba indenizatória para contratar suas próprias empresas, como bateu na madeira e disse:
-Olha, se um dia eu cair neste conselho, por favor me apliquem a seguinte pena: seis meses sem vir às sessões, com salário. Isso não é pena, são férias!

LYA LUFT

REVISTA VEJA
Lya Luft

A outra epidemia

"Como de um lado nos tornamos mais abertamente
corruptos e de outro estamos mais condescendentes,
instalou-se entre nós uma epidemia moral"

Para mim, escrever é sempre questionar, não importa se estou escrevendo um romance, um poema, um artigo. Como ficcionista, meu espaço de trabalho é o drama humano: palco, cenário, bastidores e os mais variados personagens com os quais invento histórias de magia ou desespero. Como colunista, observo e comento a realidade. O quadro não anda muito animador, embora na crise mundial o Brasil pareça estar se saindo melhor que a maioria dos países. De tirar o chapéu, se isso se concretizar e perdurar. Do ponto de vista da moralidade, por outro lado, até em instituições públicas que julgávamos venerandas, a cada dia há um novo espanto. Não por obra de todos os que lá foram colocados (por nós), mas o que ficamos sabendo é difícil de acreditar. Teríamos de andar feito o velho filósofo grego Diógenes, que percorria as ruas em dia claro com uma lanterna na mão. Questionado, respondia procurar um homem honrado.

Vamos ter de sair aos bandos, aos magotes, catando essa figura, não uma, mas multidões delas, para consertar isso, que parece não ter arrumação? Se os homens nos quais confiamos, em seus cargos importantes, já não servem de modelo, devemos dizer aos nossos filhos e netos que não olhem para aquele lado nem os imitem? O Senado da República, só para citar um caso atual, teve sua maior importância em Roma, a antiga, e se originou nos milenares conselhos de anciãos, ou homens sábios e meritórios de tempos remotos. O Senado Romano também não era um congresso de santos: até Brutus ali tramava, ocultando nas vestes o punhal com que mataria Júlio Cesar, seu protetor. Afinal eram – e são – todos apenas humanos, e o problema sempre começa aí. A noção idealizada de um grupo de homens virtuosos liderando tornou-se mais realista, levando em conta as nossas mazelas. E daí? – dirão os mais céticos. Toda família tem seu esqueleto no armário, todo povo também: houve papas assassinos e mulherengos, reis dementes, rainhas devassas, e alguns normaizinhos, que só buscavam cumprir seus deveres e cuidar da sua gente sem prejudicar ninguém.

Ilustração Atômica Studio


Eu queria preservar a imagem dos homens públicos como uma estirpe vagamente nobre, em cargos solenes, que lutariam pelo país ou por sua comunidade, por nós todos, buscando antes de tudo o bem dos que neles confiaram. Em caso de dúvida ou perplexidade, a gente olharia para eles e saberia como agir. Mas, como de um lado nos tornamos mais abertamente corruptos e de outro estamos mais condescendentes, instalou-se entre nós uma epidemia moral. Se fomos criados acreditando que o importante não é ter poder, mas ser uma pessoa honrada, estamos mal-arranjados. Pois, na vida pública, não malbaratar o dinheiro, não fazer jogos de poder ilícitos, não participar das tramas, ficar fora da dança dos rabos presos em que todos se protegem, virou quase uma excentricidade. Quem sabe o jeito é engolir sapos inaceitáveis: fim para o idealismo, treinem-se um olho clínico e cínico, enchendo bolsos e esvaziando pudores na permissividade geral que questiona o velho conceito de certo-errado. Talvez ele não passe de uma ilusão envelhecida, para sobreviver em vez de afundar. Não sei. A cada dia sei menos coisas. Antigas certezas se diluem: calejados pelas decepções, vacinados contra a indignação, não sabemos direito o que pensar. Então não pensamos.

A sorte é que apesar de tudo o país anda, a grande maioria de nós labuta na sua vidinha, trabalhando, pagando contas, construindo casas e ruas e pontes e amores e famílias legais. Lutando para ser pessoas decentes, as que carregam nas costas o mundo de verdade. É a nós – o povo, independentemente da cor, da chamada classe, da conta bancária ou do lugar onde mora – que os ocupantes de cargos públicos devem servir. Nós os elegemos e pagamos (coisa que nosso lado servil costuma esquecer), e não podemos ser contaminados por essa epidemia contra a qual não há vacina, mas para a qual é preciso urgentemente encontrar alguma cura. Enquanto ela não chega, mais uma vez eu digo: meus pêsames, senhores.

FICHA SUJA

RUY CASTRO

Andando na Lua


FOLHA DE SÃO PAULO - 11/07/09

Enquanto não decidem se, um dia, Michael Jackson será enterrado, cremado, embalsamado ou posto em órbita, o luto continua. Para algumas correntes filosóficas, oriundas da escola de pensamento do Hippopotamus nos anos 80, ele ficará como um dos maiores dançarinos da história. Mas já surgem reflexões mais sóbrias sobre seu talento.

Não há mistério. Michael foi um legítimo continuador da dança jazzística americana, que, a partir do pioneiro Willie Covan (1897-1989), teve, entre centenas de criadores, Bill “Bojangles” Robinson, os Berry Brothers, os Nicholas Brothers, Cab Calloway, a dupla Buck e Bubbles e Sammy Davis Jr., todos negros. E brancos como Fred Astaire, Eleanor Powell, Hermes Pan, os irmãos Fred e Gene Kelly, Ann Miller e Gene Nelson, apenas entre os famosos.

De 1910 a 1960, esses homens e mulheres inventaram a gramática completa do sapateado, inclusive o “backsliding”, em que o dançarino parece andar para a frente quando, de fato, está deslizando para trás. Um de seus primeiros praticantes foi Cab Calloway, por volta de 1932, e seu principal aperfeiçoador, pode crer, foi o mímico francês Marcel Marceau, nos anos 1940.

Em 1982, o jovem Michael viu um dançarino negro Jeffrey Daniel apresentar o “backsliding”' na Disneylândia e contratou-o como professor. Foi Daniel quem coreografou o primeiro show de Michael fazendo “backsliding”, no ano seguinte, e também o vídeo Bad, em 1987. Michael chamou o passo de “moonwalking'”e, quem não o conhecia, achou que ele o inventara.

Na verdade, Michael nunca se disse inventor do “moonwalking”. E nem poderia, com a quantidade de imagens no Google mostrando quase todos os citados acima, negros e brancos, executando-o. É só escrever, por exemplo, “Cab Calloway” e “moonwalking' e clicar.

ANCELMO GÓIS

Milton e Portinari

O GLOBO - 11/07/09

Nosso Milton Nascimento vai cantar no Grand Palais, em Paris, em setembro de 2010, diante de Lula e Sarkozy, na abertura da exposição dos painéis “Guerra e Paz”, de Portinari.
As obras, da ONU, depois serão expostas no Brasil.
MALDADE RUBRO-NEGRA
De Ruy Castro, sobre a morte do travesti Andréa Albertini, com quem Ronaldo se envolveu no ano passado:
– Para mostrar que não guarda rancor, a torcida do Flamengo se associa à dor de Ronaldo pelo passamento de sua ex-noiva Andréa Albertini. Ao quase viúvo, nossas condolências.
É QUE...
O escritor, como boa parte dos flamenguistas, anda “de mal” com Ronaldo, principalmente depois que o craque duvidou das pesquisas que apontam a massa rubro-negra como a maior do Brasil.
Mas, brincadeiras à parte, os gols que o Fenômeno marcou contra o Fluminense, quarta, mostram, mais uma vez, que ele continua um dos orgulhos do nosso futebol.
BOLSA ARTE
Dia 23 no Teatro Raul Cortez, em São Paulo, Lula se reúne com artistas para anunciar, finalmente, o Vale-Cultura. Empresas poderão abater do lucro R$ 50 por mês para o funcionário gastar com filmes, peças e livros.
– Será o Bolsa Família da Arte – celebra o cineasta Luiz Carlos Barreto, que sempre batalhou pelo projeto.
BB VAI ÀS COMPRAS
O Banco do Brasil mudou de direção mas não o apetite em ampliar sua participação no setor de seguros.
SERÁ?
Há gente graúda no PSDB achando que Serra pode desistir de ser candidato a presidente ano que vem.
HEI DE TORCER, TORCER
Terça agora, Celso Barros, presidente da Unimed, anuncia a parceria com o América.
A empresa, que já patrocina o Fluminense, vai gastar uns R$ 150 mil por mês com o clube.
...ATÉ MORRER, MORRER
No dia seguinte, entra no ar o anúncio feito pelo superpublicitário Washington Olivetto com torcedores de outros times cantando o belo hino do América, composto por Lamartine Babo.
O garoto-propaganda será Romário, que articulou o apoio da Unimed ao América.
BACANA SOFRE
Mais um indicador de que a crise chegou a Mônaco, o principado europeu dos magnatas.
O número de ricaços que agora alugam quartos em suas mansões é bem grande. Os chiques cobram em média 200 euros por dia para a temporada de verão que acaba de começar.
ALIÁS...
Ontem, não teve Sarney, Lula, nem CPI da Petrobras.
O assunto do dia foi a cena do presidente americano com nossa Mayara.
PROPAGANDA ELEITORAL
A fiscalização do TRE do Rio abriu investigação contra o deputado Marcos Abrahão. É que ontem, no Buraco do Lume, um evento religioso tinha no palco a foto do deputado e a inscrição “Esse nome dá trabalho”. Abrahão é aquele que foi acusado de mandar matar um colega para ficar em seu lugar.

GOSTOSA


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DORA KRAMER

O dia depois de amanhã

O ESTADO DE SÃO PAULO - 11/07/09

Seja qual for o rumo da crise em curso – sustentação de José Sarney em andrajos ou eleição de um presidente-tampão – a maioria dos senadores já dá por perdida a atual legislatura. Não há, reza a avaliação preponderante, a menor possibilidade de recuperação de imagem.

Não apenas porque o descrédito é muito profundo, mas, sobretudo, pela ausência de um centro de equilíbrio capaz de arbitrar uma solução e conduzir o Senado ao reencontro da harmonia interna e da confiabilidade externa.

A cena retratada nesta semana em primeira página onde o senador Tasso Jereissati aparece de dedo em riste, batendo boca com o colega Eduardo Suplicy em plenário, é emblemática. Tanto quanto a figura, o discurso e os gestos de José Sarney materializam a síntese do atraso, a fotografia de Jereissati e Suplicy traduz, na essência, a desorientação.

Constatada a perda e a ausência de instrumentos para construir uma virada – impossível, dada a atual correlação de forças em que a hegemonia é referida no passado – resta apostar no futuro, na renovação de dois terços dos mandatos dos 81 senadores em 2010.

Os mais perspicazes já atuam nessa lógica, convencidos que estão de que o eleitor votará segundo um critério de nítida divisão entre os que representam o “velho” e os que se identificam com as demandas de um “novo” Senado.

Não por outro motivo a bancada do DEM abandonou tão rapidamente a condição de aliada de José Sarney e assumiu a defesa do seu afastamento do cargo. Isso não tem nada a ver com o jogo eleitoral de candidaturas, conforme alegam Sarney e o governo. O critério valeu na recusa do DEM em apoiar um candidato do PT, Tião Viana, para a presidência do Senado. Mas, a crise fez a coisa mudar de figura. Agora, o que vale é relação com o eleitorado, a sobrevivência política de cada senador.

O DEM, bem como o PSDB, o PT, o PDT ou qualquer outro à exceção do PMDB, têm perfeita noção de que o episódio Sarney delimita terrenos. Quem fica com ele, diante da opinião pública corrobora os vícios que ela já não aceita. Quem se afasta, manda um recado de que captou a mensagem a respeito do castigo à espreita mais adiante, nas urnas de 2010.

Trata-se de uma escolha entre ficar com o tempo do onça ou aderir aos tempos modernos.

Hesitante no início da crise em negar sustentação política a Sarney, o líder do DEM, senador Agripino Maia, mudou de posição depois de ser hostilizado em Mossoró (RN) porque ficou hesitante durante um debate público sobre o assunto.

O eleitor o fez entender de maneira muito simples e direta que a crise não deixou espaço para escolha.

De forma mais elaborada, o senador Cristovam Buarque analisou a situação semanas atrás em discurso no Senado. Sarney só não o assistiu de corpo presente porque se retirou logo depois de ouvir o líder do PSDB, Arthur Virgílio, pedir pela primeira vez que se retirasse de cena.

Cristovam subiu à tribuna em seguida e fez duas constatações bastante realistas: a primeira, que Sarney não é o homem talhado para conduzir a crise, pois o faz “em ritmo antiquado”; a segunda, que sozinho o Senado não ultrapassa o obstáculo. Precisa da colaboração das melhores cabeças da sociedade que, na visão do senador, deveriam ser chamadas a debater e apresentar propostas.

Tentar levar as coisas à moda de sempre resultará, na opinião dele, no “atropelo do Senado” pela dinâmica da contemporaneidade. “Hoje não somos mais julgados a cada quatro ou oito anos. Somos julgados a cada minuto, online. Continuar administrando as dificuldades na lentidão atual é um suicídio.”

E ao falar em “suicídio” Cristovam não antevia a possibilidade de extinção do Senado, mas um cenário de total inoperância e falta de importância, semelhante à situação do Legislativo no regime autoritário. Uma instituição decorativa.

A compreensão sobre o esgotamento de um modo de vida parlamentar se amplia dentro do Congresso. A conferir se em 2010 o eleitorado cuidará mesmo de concretizar a ruptura ou se vai preferir a comodidade da indignação sem resultados.

Costas quentes

A oposição está segura de que consegue mesmo fazer funcionar a CPI da Petrobras. Não porque confie no acordo firmado com os governistas, já quebrado por três vezes.DEM e PSDB se fiam na palavra do presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, que assegurou parecer favorável se a petição ao STF bater em suas mãos.

O único problema é que na semana que vem o presidente tribunal estará fora do país e será substituído pelo ministro Marco Aurélio de Mello, cuja posição não está tão clara para os oposicionistas. A decisão favorável na Justiça já poderia ter sido obtida nesta semana. Só não foi porque o requerimento não estava pronto. Isso apesar de a oposição ameaçar recorrer ao Supremo desde o dia da criação da CPI, há dois meses.