quinta-feira, agosto 25, 2011

ANCELMO GÓIS - Faxina na torcida

Faxina na torcida 
ANCELMO GÓIS
O GLOBO - 25/08/11

O Ministério Público do Rio decidiu entrar com ação contra a torcida organizada Young Flu por causa da perseguição ao jogador Fred no episódio em que o atacante tricolor bebeu caipisaquês num bar de Ipanema.

O MP exige a destituição do presidente da torcida, Leandro de Carvalho Moraes, e o veto a seu ingresso nos jogos do time.

Além disso...

Se a Justiça acolher o pedido, a Young Flu ficará proibida de comparecer a estádios por até três anos.

E mais: seus integrantes, sob pena de multa de R$10 mil, não poderão procurar jogadores em suas casas ou nos treinos para exigir boa performance.

Pôneis da Nissan

A Nissan, a dos anúncios dos "pôneis malditos", parece perto de anunciar uma nova fábrica em Resende, RJ.

Acelerando

Eike Sempre Ele Batista será um dos patrocinadores do brasileiro Bruno Senna, da Renault, na Fórmula 1.

Aliás...

Imagina se a moda pega por aqui, e - como Warren Buffett, nos EUA, e vários bilionários franceses - Eike, Benjamin Steinbruch, Abílio Diniz, Jorge Gerdau e outros ricaços começam a pedir para pagar mais impostos.

Quem tem... tem

Tem gente temendo pegar avião dia 11 de setembro, quando se completam dez anos dos atentados às Torres Gêmeas.

Começo das trevas

Hoje, exatos 50 anos depois da renúncia de Jânio, que detonou uma temporada de ataques à democracia, será relançado o livro "Jânio Quadros e José Aparecido - O romance da renúncia", de José Augusto Ribeiro e do próprio Aparecido.

"Big boa"

SABRINA SATO, a ex-BBB que se reinventou e hoje é apresentadora do "Pânico na TV", da Rede TV!, aparecerá assim na capa da revista "Marie Claire" de setembro. Numa longa entrevista, fala sobre a personagem que encena no vídeo, conta como aprendeu a rir de si mesma, avalia que seu visual amadureceu e garante: as mulheres estão por cima. "As feministas me criticam, como se eu, por me deixar zoar, mostrasse que os homens têm mais é que tratar mal as mulheres. A gente não é inferior. Deixou de ser há anos e agora ocupa os principais cargos do país. Lá em casa, quando minha mãe me mandava lavar a louça, eu me recusava. Dizia: "Só lavo louça no dia em que meu irmão e meu pai também lavarem"." A "Marie Claire" chega às bancas amanhã

Partido dos Shoppings

O PS (Partido dos Shoppings) conseguiu uma vitória ontem na Câmara.

A Comissão de Constituição e Justiça rejeitou, por 26 votos a 14, em caráter definitivo, o projeto do deputado João Paulo Cunha que proibia a cobrança de estacionamento em shopping.

Mérito Pedro Simon

Todo o ano, em maio, a Firjan dá a personalidades a Comenda do Mérito Industrial do Rio.

Pois agora, em pleno agosto, em edição extraordinária, o conselho da entidade vai conceder a honraria aos nove senadores que iniciaram a campanha a favor da moralidade pública.

A saber...

Os nove são: Pedro Simon, Cristovam Buarque, Pedro Taques, Randolfe Rodrigues, Jarbas Vasconcelos, Ricardo Ferraço, Ciro Miranda, Ana Amélia Lemos e Eduardo Suplicy.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO


Prefeitura de São Paulo dispõe de R$ 3 bilhões para obras de urbanização; metade irá para drenagem
MARIA CRISTINA FRIAS
 Folha de S.Paulo - 25/08/2011

A Prefeitura de São Paulo tem cerca de R$ 3 bilhões em carteira para obras de urbanização, boa parte delas em processo de licitação.

Desse volume, cerca de R$ 1,5 bilhão representa investimento em drenagem, de acordo com Elton Santa Fé Zacarias, secretário de Infraestrutura Urbana.

"São obras para resolver problemas de enchentes em diversos pontos da cidade e envolvem canalização de córregos, a construção de piscinões e, em alguns casos, moradias para famílias que estavam nas áreas atingidas."

Dada a limitação decorrente do volume de endividamento, a Prefeitura depende dos governos estadual e, principalmente, federal para obras maiores.

"Obras de porte não têm mais condições de serem feitas só com os recursos da Prefeitura." O principal interlocutor no governo Dilma Rousseff tem sido o Ministério das Cidades.

A Prefeitura paulistana finaliza a licitação para construir 150 escolas em todas as regiões da periferia.

Com o investimento de mais de R$ 600 milhões apenas para erguer as escolas, o governo municipal pretende acabar com o terceiro turno, o chamado "turno da fome", das 11hs às 15hs.

De início, eram 40 construtoras, algumas em consórcios, a participar do processo. As obras estão divididas em 15 lotes. No dia 5 de se­tembro, abrem-se os envelo­pes da concorrência e, até o final de setembro, as obras devem estar contratadas.

Protecionismo argentino afeta exportadores do Rio Grande do Sul

As dificuldades impostas pela Argentina para a entrada de mercadorias brasileiras prejudicam 80% das empresas gaúchas que exportam para o país, segundo a Fiergs (Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul).

Dessas empresas, 7,4% cogitam investir na Argentina para contornar o problema.

"Estão [a Argentina] fazendo protecionismo e usando isso como política de industrialização", diz o presidente da Fiergs, Heitor Müller.

Além do prejuízo financeiro, 59,1% dos exportadores gaúchos afirmam que perderam clientes para concorrentes da Argentina ou de outros países. Cerca de 3,5% dizem que precisaram demitir.

Desde o começo do ano, o governo argentino colocou 171 produtos na lista dos que precisam de licença não-automática para entrarem no país. Hoje, a licença é exigida para 683 mercadorias.

Bolso
O total de endividados caiu 2,2 pontos percentuais em agosto na cidade de São Paulo e atingiu o menor nível desde junho de 2010, segundo a Fecomercio.

Cerca de 45% dos paulistanos estão endividados neste mês, número que equivale a 1,62 milhão de famílias.

Entre os consumidores com contas em atraso, 52% têm atrasos há mais de 90 dias e 23% têm contas atrasadas por até 30 dias, de acordo com a entidade.

Confiante
O índice de confiança do comércio do Estado do Rio de Janeiro, medido pela Fecomércio-RJ, alcançou 142,73 pontos em julho, alta de 4,24% ante junho.

Foi o maior nível já apurado para o índice em um mês de julho, segundo a entidade. Os melhores resultados apareceram nos segmentos de supermercados (158,89), eletrodomésticos (151,61), calçados (151,21) e perfumaria (150,62).

Inquilino
Os contratos novos de aluguel residencial fechados em julho na capital paulista subiram 18,1% nos últimos 12 meses, segundo o Secovi-SP (Sindicato da Habitação).

Na comparação com o mês anterior, a elevação é de 1,3%.

Os contratos antigos, já em andamento, têm subido com menor velocidade.

Os aluguéis que aniversariam em agosto e são atrelados ao IGP-M, da FGV, serão reajustados em 8,36%, segundo o Secovi.

"Os aluguéis novos ficaram acima da inflação porque há pouca oferta atualmente de imóveis desocupados. Poucas pessoas têm se dedicado a alugar", afirma João Crestana, presidente da entidade.

Em julho, foram as habitações de três dormitórios que tiveram mais aumentos, com preços, em média, 1,7% mais altos em relação aos valores observados em junho.

Casas e sobrados, que levaram de 12 a 28 dias para serem locados, foram negociados mais rapidamente do que apartamentos.

O tipo de garantia mais encontrado nos contratos de locação no mês foi o fiador, opção escolhida por 47,5% dos proprietários. O depósito de até três meses de aluguel foi usado em 32% dos acordos, segundo o Secovi.

DENISE ROTHENBURG - O carregador da estrela


O carregador da estrela
DENISE ROTHENBURG
Correio Braziliense - 25/08/2011

Nas entrelinhas Lula enxerga longe. Trabalha dia e noite de forma a não permitir que as eleições municipais deixem o PSB ou o PMDB magoados como o PT ao ponto de se atirarem nos braços de Aécio Neves em 2014


Nas conversas mais reservadas em todos os partidos de dentro e de fora do governo, a conclusão sobre os últimos movimentos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é uma só: ele tem que permanecer na ribalta porque, sem Lula, o PT se acaba. Os próprios petistas dizem que só conseguem a unidade graças ao ex-presidente. E nunca se discutiu tanto a próxima eleição presidencial num primeiro ano de mandato como agora. E tudo porque Lula está no páreo, uma vez que os adversários — os tucanos Aécio Neves, José Serra e Geraldo Alckmin — estão quietos, esperando o que vai ocorrer na base governista.

E, por falar em base governista, ali, Lula interfere em tudo. Ou quase tudo. Ontem, por exemplo, foi um parto arranjar um presidente para a Comissão Especial que vai avaliar o novo Código de Processo Civil (CPC). Queriam um nome que não tivesse nada que explicar e que pudesse ficar no lugar do deputado João Paulo Cunha (PT-SP), réu do mensalão. Optaram por Sérgio Barradas Carneiro (PT-BA), na esperança de que ele desista de concorrer à vaga de ministro de Tribunal de Contas da União (TCU). Carneiro terminou com a relatoria porque é suplente de deputado e, portanto, não poderia presidir a comissão especial do CPC. Carneiro diz que não vai desistir do TCU. Afinal, diz que sua candidatura obedece aos princípios constitucionais do artigo 73, que fala dos requisitos necessários para quem deseja compor aquela Corte, como experiência na área jurídica e administrativa.

Lula não interferiu diretamente na escolha de Barradas Carneiro, mas, no PT, há quem diga que ele bem avisou sobre as pretensões de João Paulo Cunha e o desgaste que isso poderia trazer para o partido. João Paulo é presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, um palanque de primeira linha, e já foi desgastante para o PT nomeá-lo. Portanto, Lula considerou que "o companheiro João Paulo" não precisaria de outro lugar para aparecer. A própria presidente Dilma entrou também nessa tarefa de pedir a João Paulo que avaliasse ficar fora da presidência da comissão.

Mas, voltemos a Lula: o ex-presidente tem rodado o país, preparando o partido para as eleições municipais. E já percebeu que o PT não está com essa bola toda para "bombar" nas três principais capitais do país. À exceção de São Paulo — onde o ex-presidente tenta refrigerar o partido carregando o ministro Fernando Haddad por todas as panificadoras paulistanas que passam pela sua cabeça —, o PT não tem nomes capazes de surpreender o eleitor de forma positiva. Lula está convicto de que Marta Suplicy não ultrapassa a sua marca e que, se o PT quiser fazer bonito contra os tucanos, tem que chegar com algo novo e confiar no "taco" do seu maior líder, ele próprio.

No Rio de Janeiro e em Belo Horizonte, o PT está fadado a segurar os aliados. Na capital mineira, baixou a ordem de apoio a Márcio Lacerda (PSB), de forma a não deixar o socialista livre para voar ao lado de Aécio Neves. Também pediu votos para Ana Arraes (PSB-PE), a deputada mãe do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, presidente do PSB. Ela é uma das candidatas a ministra do TCU. No Rio, o ex-presidente também já avisou que não tem conversa que não seja apoiar Eduardo Paes, do PMDB.

Lula enxerga longe. Trabalha para não permitir que as eleições municipais deixem o PSB ou o PMDB magoados como PT ao ponto de se atirarem nos braços de Aécio Neves em 2014. Seja para si próprio ou para Dilma, Lula quer os petistas bem colocados com os aliados. Esse apoio no Rio e em Belo Horizonte tem um preço: deixar que o PT indique os vices nas duas chapas. Assim, Lula espera preparar o seu partido para ganhar essas prefeituras em 2018. Ih! Aí, Lula foi longe mesmo. Mas ele é assim. Começou a preparar Dilma Rousseff dois anos antes para ser presidente. Só falta ele arranjar quem o substitua no papel de carregador da estrela do PT. Esse, ainda não surgiu.

Enquanto isso, no rame-rame dos cargos...
O líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), já acertou a indicação do procurador da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), Marcelo Bechara, para a vaga de diretor aberta com a saída de Antonio Bedran. O PMDB, como todos sabem, não dorme no ponto. Resta saber se o PT vai concordar. afinal, se tem uma coisa que tem incomodado o governo, é a briguinha de bastidores pelos cargos que, às vezes, chega aos jornais, como o caso do PR de Alfredo Nascimento e o do PP de Mário Negromonte, o ministro das Cidades que hoje balança muito mais que o do Turismo, Pedro Novais.

TUTTY VASQUES - Saudades da Bahia!


Saudades da Bahia!
TUTTY VASQUES
O ESTADÃO - 25/08/11

Quem viu, viu! Moraes Moreira e o filho Davi Moraes, violão, guitarra e as nove canções do repertório de Acabou Chorare (1972) - 2.º álbum de estúdio dos Novos Baianos - celebraram no micropalco do cineminha do Instituto Moreira Salles, no Rio, a última grande maluquice que, comprovadamente, deu certo no Brasil. Aconteceu na noite de terça-feira para umas 130 pessoas, boa parte já meio barriguda e com saudades do tempo em que era possível dizer "tudo cacaca na fé fé, no bubu lili no bubu lilindo", sem parecer politicamente incorreto ou inconsequente. Pura nostalgia da geração que viveu o rescaldo dos anos 1960, diriam, não fosse o timbre jovial das vozes que, misturadas à plateia, entoavam o corinho gospel "besta é tu, besta é tu, não viver esse mundo, besta é tu, besta é tu, se não há outro mundo". Quase 40 anos depois da grande viagem daquele bando de loucos - na época, a torcida do Corinthians era tão somente "fiel" -, salvou-se mais do que um disco recorrente nas listas dos dez melhores da música brasileira: a guitarra de Davi Moraes é de berço esplêndido! E que coisa mais linda o diálogo musical com o pai cabeludo. Há muito tempo não se via nada tão família no Rio.

Ver para descrerNa véspera do nascimento de seu filho, Neymar voltou a ter pesadelo com Lúcio. Sonhou que Davi Lucca vinha ao mundo com a cara do zagueiro da seleção! O craque do Santos só relaxou após o parto.

Faz-me rir!O terremoto de araque na costa leste dos Estados Unidos virou piada na costa oeste, onde a terra costuma tremer à vera. Comenta-se em Los Angeles que o bota-fora de Dominique Strauss-Kahn pode sacudir Manhattan com mais intensidade.

Que pecado!O Vaticano tem bons motivos para impor penitência de muitas ave-marias ao senador Pedro Simon. Onde já se viu comparar José Sarney ao papa, caramba!

AntidopingExame que não encontrou drogas no corpo de Amy Winehouse não foi feito no mesmo laboratório que absolveu Cesar Cielo. E não se fala mais nisso, ok?!

Sejamos justosAlguém precisa dizer aos sem-terra que a Fazenda do Guido Mantega é um dos ministérios mais produtivos do governo Dilma. Deveriam invadir o do Turismo ou das Cidades, sei lá!

Zebra NegromontePintou o primeiro azarão da faxina ética: o ministro das Cidades, Mário Negromonte (PP), ficou de repente bem cotado para tomar a vez do colega do Turismo, Pedro Novais, na planilha de demissões do governo.

Custo AlckminGilberto Kassab já sabe como justificar à 4.ª Vara da Fazenda Pública o aumento de 51% em seus vencimentos desde janeiro. Vai alegar que, ano passado, ele não tinha que aturar o Alckmin em solenidades.

Só um toqueQuem avisa amigo é: Elba Ramalho está solteira

ILIMAR FRANCO - Nas mãos de Dilma


Nas mãos de Dilma
ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 25/08/11

A solução do impasse sobre a distribuição dos royalties do petróleo está nas mãos da presidente Dilma. O governo já tem o valor aproximado da perda da União, considerando-se recente proposta do governador Sérgio Cabral. A União, que hoje recebe R$8,6 bi, ficaria com R$7,2 bi; a receita dos estados e dos municípios produtores cairia de R$12,1 bi para R$10,8 bi; e os não produtores elevariam sua renda de R$800 milhões para R$8,4 bi.

PragmatismoApesar das divergências na votação do Código Florestal e de os verdes estarem voltando para a base do governo, PV e PPS decidiram ontem manter o bloco na Câmara. Isso dá aos dois partidos maior representatividade nas comissões.

DISCRIÇÃO. Os Clubes Militares (dos oficiais da reserva) realizaram ontem, na Igreja Santa Cruz dos Militares, no Rio, missa "em memória dos 119 militares e civis que perderam a vida, entre 1964 e 1974, por atos de terroristas". Na terça-feira, quando soube da missa, o ministro Celso Amorim (Defesa) mandou chamar os três comandantes militares e acertou com eles que nenhum oficial da ativa participaria da cerimônia.

Isso não é nada. Vamos aos dados objetivos. Estamos votando e ganhando tudo" - Cândido Vaccarezza, líder do governo na Câmara (PT-SP), sobre as divergências internas nas bancadas do PMDB e do PP

A PRESIDENTE Dilma tirou muitas fotos no jantar com o PMDB. Entre os que fizeram questão do registro: os irmãos Geddel Vieira Lima, vice da CEF, e Lúcio Vieira Lima, deputado do PMDB da Bahia. Eles estão brigados com o governador petista Jaques Wagner.

ACIDENTE. Batedores da Presidência da República treinavam ontem em uma avenida de Brasília quando bateram em cinco carros, um deles era do deputado Eduardo Azeredo (PSDB-MG).

A OAB vai ingressar com Adin no STF proibindo que empresas doem dinheiro em campanhas eleitorais.

Nervos à flor da pele no SenadoO líder do PT, Humberto Costa (PE), e o tucano Mauro Couto (PA) quase partiram para o confronto físico em debate sobre a CPI da Corrupção na sessão de ontem. Já os Senadores Armando Monteiro (PTB-PE), ex-presidente da CNI, e Kátia Abreu (PSD-TO), presidente da CNA, contestaram com violência o tucano Ataídes Oliveira (TO), por suas críticas à falta de transparência do Sistema S e ao enriquecimento de seus administradores.

Medo!O ministro Gilberto Carvalho (Secretaria Geral) aproveitou o jantar do PMDB para pedir ao ministro Mendes Ribeiro (Agricultura) que receba o MST. Os sem-terra invadiram anteontem o gabinete do ministro da Fazenda.

CaloteA UNE contratou um grupo de samba, o Adora-Roda, para fazer duas apresentações em Pretória (África do Sul), no Festival Mundial da Juventude e dos Estudantes. Foi em dezembro, e eles ainda não receberam o cachê de R$5 mil.

Tim-timA presidente Dilma arrancou gargalhadas de ministros, governadores e parlamentares do PMDB anteontem, ao encerrar seu discurso. Ela disse: "Não vou ficar falando muito. Afinal, nós viemos aqui para beber ou para conversar?"

A operação abafaO ministro Mário Negromonte (Cidades), o líder do PP na Câmara, Aguinaldo Ribeiro (PB), e referências partidárias, como os deputados Eduardo da Fonte (PE) e Luiz Fernando (MG), levaram um puxão de orelhas do presidente do partido, Senador Francisco Dornelles (RJ). Informado de que o Planalto "minimizaria" a desastrada entrevista de Negromonte, Dornelles aconselhou a todos: "Crise política é resolvida com o tempo, o silêncio e poucas reuniões". Aparentemente seu apelo foi atendido. Ontem à noite, o líder Aguinaldo Ribeiro afirmou: "Salomão nos ensina, há tempo de falar e tempo de calar. Agora é tempo de calar".

VINÍCIUS TORRES FREIRE - Banca privada sai, estatal fica

 Banca privada sai, estatal fica
VINICIUS TORRES FREIRE 
FOLHA DE SP - 25/08/11

Crédito de bancos privados começa a desacelerar e bancos públicos ainda mantêm ritmo forte


DESDE MAIO, os bancos privados estão emprestando relativamente menos dinheiro. Pelo menos, a quantidade de dinheiro emprestado e ainda não pago (saldo do estoque de crédito) vem crescendo cada vez mais devagar.
A partir de maio, o estoque de crédito do BNDES voltou a acelerar -o BNDES é o banco estatal de desenvolvimento. No conjunto, o estoque de crédito dos bancos estatais voltara a acelerar desde março.
Dá para dizer que se trata de uma reedição, em escala muito reduzida, da estratégia de 2008-2009?
A partir do trimestre final de 2008, quando os bancos privados saíram de cena, o governo empurrou os estatais para o meio do palco, os obrigando a sustentar a oferta de crédito em meio ao tumulto da crise mundial. Entre 2008 e o início de 2010, os bancos estatais chegavam a ser responsáveis por 60% a 80% do aumento do estoque de crédito, o dobro do que era costumeiro nos meses anteriores à crise.
Números tão brutos não permitem deduzir os motivos específicos de cada setor da banca. Mas, pela conversa dos bancos privados maiores na rodada recente de divulgação de balanços, alguns clientes se afastaram, devido a juros altos, e outros foram afastados, pois os bancos passaram a apertar os critérios de concessão de empréstimos.
Os bancos públicos, alguns deles comerciais, como Banco do Brasil e Caixa, estariam em geral mais dispostos a emprestar? Também difícil dizer, embora os estatais tenham liderado o aumento do estoque de crédito recente, em particular em julho, segundo balanço divulgado ontem pelo Banco Central.
Um dado que ajuda a entender um pouco mais a evolução recente de crédito é a participação do crédito direcionado no aumento recente do estoque de crédito.
"Crédito direcionado", grosso modo, é o dinheiro emprestado pelo BNDES mais aquele que os bancos são obrigados a emprestar a tal ou qual setor, com taxas e/ou condições fixadas pelo governo, extramercado. Por exemplo: crédito rural no Banco do Brasil, crédito imobiliário com recursos da poupança e do FGTS (a Caixa Econômica Federal é forte no setor imobiliário).
Em julho, o equivalente a 55% do aumento do estoque de crédito deveu-se ao BNDES e ao crédito para habitação com recursos direcionados (nem todo ele estatal, observe-se) . Em maio e junho, tal conta andava em torno de 31%. Em março e abril, em torno de 22%.
Não houve aceleração notável do crédito imobiliário nesses meses; o estoque do BNDES deu um salto maior apenas em julho (na comparação anual o BNDES até desacelera bem). O crédito do setor privado para consumo (afora habitação) e empresas é que parece, ressalte-se, ter murchado.
Em suma, e apesar de todas as ressalvas, há indícios de que os bancos públicos estão colaborando menos, vamos dizer assim, no esforço de desaquecer a economia e, pois, de conter a inflação.
Com inflação menor, seria possível antecipar o início da derrubada da taxa de juros básica da economia. Esse seria um objetivo oficial do governo Dilma Rousseff, pregado e alardeado pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega. O governo agora também vai orientar os bancos públicos a apertar também o crédito?

JANIO DE FREITAS - A alegria das meninas

A alegria das meninas
JANIO DE FREITAS 
FOLHA DE SP - 25/08/11

A plena liberdade assegurada aos desvalidos menores de 12 anos conduz à convivência com a droga


AS MENINAS ESTÃO alegres outra vez. Não foi preciso muito para voltarem à alegria. Na rua. Entorpecendo-se com inalação de solvente. Pedindo e ganhando alguma coisa aqui, furtando ou tentando furtar alguma coisa ali, um celular e uma bolsa de passante na calçada, mesmo que necessária certa imposição física do grupo, um objeto da loja -tudo rende para o consumo e para a venda que permite comprar mais solvente. Agora. Depois, o crack.
Se essa vidinha for perturbada, a lei está aí para devolvê-la prontamente e tal como desejada. A lei que reúne os itens generosos de sua pedagogia sob o belo nome de Estatuto da Criança e do Adolescente. Também reconhecida, entre os seus íntimos, como ECA. Desfrutar do ECA é a vantagem de nascer em um país que ama leis.
As meninas podem estar alegres porque tiveram tal sorte. Apanhadas no fracasso de furtos tentados em um hotel paulista, duas ou três foram devolvidas à rua pouco depois de apresentadas à autoridade representativa do ECA; outras duas ou três, as notícias são contraditórias, foram ao encontro das amigas em 24 a 48 horas. Cumpra-se a lei.
Crianças até 12 anos, diz a lei, não podem ter sua liberdade restringida pela autoridade. Era o caso daquelas. Ou não era. Disseram-se todas com 11 anos ou menos. Seus nomes? Deram nomes inverdadeiros. Seus endereços? Escolheram entre não saber e inventar. Seus pais? Outros nomes falsos. Retê-las sujeitaria a autoridade a leis que protegem a lei. Cumpra-se a liberdade da infância, que, segundo a lei, sabe o que fazer com a própria infância e com a liberdade.
Mas a Lei das leis, que carrega a má sonoridade do nome Constituição, informa ter o Estado a responsabilidade de prover a proteção à criança. O que inclui impedir que se envolva com entorpecentes, viva ao abandono nas ruas, não tenha forma alguma de assistência alimentar e à saúde, sem chegar-se ao extremo de considerar a escolaridade obrigatória.
A realidade com que o ECA convive exibe algo diferente. A plena liberdade assegurada aos desvalidos menores de 12 anos, ao tomar o abandono como liberdade, conduz à convivência com a droga, com adolescentes e adultos já deformados pela vida viciosa, com o tráfico, com doenças, com a falta de todo o aprendizado escolar. É o falso respeito à infância induzindo-a ao aprendizado da criminalidade. É a pedagogia da desgraça.
A responsabilidade do Estado vai mais longe, porém. Inclui ocupar-se de proteção em outro nível: o da população já exposta à maior eficiência da criminalidade que à dos meios de segurança e com todos os motivos, comprovados nos fatos de cada dia, de temer o ainda pior, com a chegada crescente do crime aprendido nas ruas desde a infância. E até já praticado por trombadinhas, flanelinhas e outros aos quais os diminutivos não se adaptam.
É verdade que os internatos da infância pobre ou delituosa costumam merecer a mais dura reprovação. É verdade também, no entanto, que esse mal se tem reduzido bastante, com a atenção de iniciativas particulares para o problema. E, ainda uma vez, é do Estado a responsabilidade de prover e de fiscalizar o abrigo em condições respeitáveis e dotado da função educacional necessária. Se falha nessa responsabilidade, a maneira de corrigi-la não é a entrega da infância desvalida, só por ter menos de 12 anos, à escola da criminalidade e à pedagogia da desgraça pessoal e social.
As meninas estão alegres outras vez. No limite da desgraça.

CLÓVIS ROSSI - Os ricos não sofrem nem falam

Os ricos não sofrem nem falam
CLÓVIS ROSSI
FOLHA DE SP - 25/08/11 

Injustiça tributária vale para França e Brasil. Bilionários da 'Forbes' deveriam prestar atenção


Alô, alô, bilionários brasileiros na lista da revista Forbes: deem uma olhadinha, por favor, no apelo de seus colegas da lista francesa da Forbes para que sejam devidamente tributados. Sigam o exemplo, porque a iniquidade tributária não é produto francês, mas universal, inclusive e principalmente nestes tristes trópicos.
Há abundantes dados para mostrar como é correta a decisão do governo francês de impor uma taxação "excepcional" aos ultrarricos. Errado é fazê-la valer só uma vez, quando a iniquidade é permanente, não circunstancial. A decisão foi anunciada um dia depois de que as "vítimas" puseram a corda no próprio pescoço.
Posto de outra forma, em vez de o governo identificar um problema e atacá-lo, esperou que os beneficiários da iniquidade vestissem a carapuça para só depois atuar.
Vamos aos dados. A regra de ouro de qualquer sistema tributário é simples: quem mais tem paga mais. Muito bem: na França, o 0,1% dos mais ricos paga uma alíquota de imposto de renda de 20,5%. Já a fatia de cima, o 0,01% ainda mais rico, paga menos (17,5%). E aquela meia dúzia (ou 0,001%) de ultra-ricos contribui com apenas 15%.
É diferente no Brasil? Não, comprova estudo do Ipea (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas) divulgado faz pouco mais de três meses. Por ele, verifica-se que "as mansões pagam menos impostos que as favelas e estas ainda não têm serviços públicos como água, esgoto e coleta de lixo", como disse Marcio Pochmann, presidente do Ipea, no lançamento do estudo.
Em números: os 10% mais pobres da população separam 32,8% de sua renda para pagar impostos diretos e indiretos. Para os 10% mais ricos, a participação é de 22,7%.
Esses dados ajudam a entender por que o topo da pirâmide se apropria de 75,4% da riqueza nacional. A decisão do governo francês, embora correta, peca por deixar de lado uma proposta (a de taxação dos movimentos financeiros), que vira e mexe entra na agenda internacional - e sai rapidamente porque os governos não têm coragem de enfrentar o que os argentinos chamam, apropriadamente, de "pátria financiera".
O inchaço dela é outra anomalia do capitalismo contemporâneo, a ponto de ter capturado, nos últimos 10 anos, 41% de todos os lucros do setor privado norte-americano, conforme dados esgrimidos por Moisés Naím, agora colunista desta Folha, no tempo em que escrevia apenas para "El País".
Naím citou Simon Johnson, economista do Instituto Tecnológico de Massachusets (EUA), que afirma que apenas seis conglomerados financeiros controlam ativos equivalentes a 60% da economia dos Estados Unidos.
Se valesse mesmo o critério lógico e óbvio de que quem ganha mais paga mais, o setor financeiro teria que dar uma contribuição forte para as arcas públicas, aliviando o sofrimento das classes médias, aposentados e funcionários públicos, que estão levando o peso maior do ajuste fiscal em curso em vários países da Europa.
Por falar em classe média, é ela que, no Brasil, suporta o maior peso impositivo, em termos absolutos, E fica tudo por isso mesmo.

CELSO MING - De olho nele


De olho nele
CELSO MING
O ESTADÃO - 25/08/11

Em meio à profunda estagnação da economia americana, os olhares suplicantes se voltam agora para um homem que não recebeu um único voto dos eleitores: ele é Ben Bernanke, o presidente do Federal Reserve System (Fed), o banco central dos Estados Unidos.

Com uma insistência atordoante, querem agora que ele anuncie a utilização da ferramenta monetária capaz de resolver tudo o que outros mecanismos anticrise não foram capazes de fazer.

A expectativa é a de que Bernanke anuncie amanhã, rodeado pelos picos das montanhas rochosas de Jackson Hole (Estado de Wyoming), mais uma super-rodada de afrouxamento quantitativo. Trata-se de uma operação de recompra de títulos do Tesouro americano, que circulam no mercado para que ainda mais dólares prontamente emitidos (os mesmos que foram dados em pagamento pelos títulos) circulem pela economia e acionem o crédito, o consumo, a produção e o emprego.

Por que Jackson Hole? É que lá se realiza todos os anos um fórum que reúne autoridades dos bancos centrais de todo o mundo. Tem sido ocasião para que o presidente do Fed anuncie novidades na política monetária, que reúne os instrumentos pelos quais um banco central tira e põe dinheiro na economia.

Fortes razões sugerem que o mercado está esperando muito do Fed. Mesmo que Bernanke decida injetar ainda mais dinheiro num mercado já abarrotado de recursos, é pouco provável que isso ajude grande coisa.

O Fed já trabalha com juros próximos de zero por cento ao ano. E, como são o preço do dinheiro, juros rastejantes, por si sós, já indicam que há no mercado uma superoferta de recursos. Mais do que isso, o Fed avisou que os juros permaneceriam nesse patamar pelo menos até meados de 2013 - um horizonte mais do que confortável para que qualquer empreendedor possa investir e contratar pessoal.

Além disso, estão circulando no mercado US$ 1,7 trilhão que o Fed injetou na crise de 2007/2008, mais US$ 900 bilhões correspondentes a duas operações de recompra de títulos.

Os bancos americanos já estão atolados em liquidez. Tanto estão que não têm o que fazer com US$ 1,6 trilhão. Em vez de conceder empréstimos, preferem manter essa dinheirama depositada no próprio Fed, a esses juros aí, de até 0,25% ao ano.

Examinadas as coisas pelo lado da procura de crédito nos Estados Unidos, não se vê quadro muito diferente. Os consumidores estão com dívidas até o pescoço - especialmente com compromissos imobiliários -, numa conjuntura em que o valor dos imóveis não para de cair. O empresário, por sua vez, não se anima a levantar dinheiro nos bancos por não pretender investir enquanto o desemprego continuar tão intenso (o que implica estagnação do consumo) e a perspectiva dos negócios estiver mais para o desânimo do que para a virada do jogo.

A única iniciativa que poderia, em princípio, mudar esse quadro seria uma importante redução das dívidas habitacionais, de maneira a abrir um espaço no orçamento hoje apertado do consumidor, para que possa voltar às compras e, assim, movimentar novamente o setor produtivo. Não há nenhuma indicação de que nem Bernanke nem o governo Obama estejam se movendo nessa direção.

CONFIRA

Embora em desaceleração, especialmente no financiamento para compra de veículos, o avanço do saldo das operações de crédito continua forte. Foi de 19,8% em 12 meses terminados em julho. O Banco Central quer que não passe dos 15%.

Crédito caro

Apesar da desaceleração, os juros cobrados nas operações de crédito continuam altos, mostrando algumas quedas pouco expressivas. Para pessoas jurídicas, o crédito para desconto de duplicatas ficou em 42,9% ao ano. E no cheque especial para pessoas físicas, em 188,0% ao ano.

CARLOS ALBERTO SARDENBERG - Não tem nada de mais...

Não tem nada de mais...
CARLOS ALBERTO SARDENBERG
O GLOBO - 25/08/11

Nossa série "Não tem nada de mais" recebeu colaboração notável do senador José Sarney. Flagrado em um helicóptero da PM do Maranhão - aparelho comprado para transporte de doentes e feridos -, e na companhia de um empreiteiro que tem negócios com o governo maranhense, fazendo um voo de São Luís para sua ilha particular, em fim de semana, Sarney reagiu conforme o figurino da série: por ser chefe de poder, tem direito "a segurança e transporte de representação em todo o território nacional", em qualquer circunstância, mesmo a lazer.
Ou seja: não tem nada de mais.
Mas considerando que Sarney representa um poder federal e que o helicóptero é estadual e não destinado a "transporte de representação", ou seja, não é para dar carona a autoridades, não haveria aí algo errado ou ao menos estranho? Não, argumenta o senador, pois viajou a "convite" de autoridade estadual máxima, a governadora do Maranhão. A circunstância de a governadora ser sua filha, Roseana, tudo bem?
Resposta: qual o problema?
Pois vamos imaginar um problema. Suponha, caro leitor, que um presidente do Senado - não o Sarney, claro, que não é disso - resolva patrocinar, digamos, uma festinha com amigos e amigas numa mansão de praia e peça "transporte de representação" ao governador local, que coloca à disposição um avião da PM. Pode?
O simples bom-senso e o mínimo de ética dizem que não, não pode. Este caso imaginado está no limite, mas é exatamente a mesma situação da viagem real de Sarney. Ele não ia à farra, mas a descanso. Ok, mas continua sendo lazer absolutamente pessoal e privado. Estava levando não uma turma, mas só um convidado, certo. Ocorre que o cidadão, o empreiteiro, não tem direito legal a "transporte de representação" e, pela ética, nem devia receber a hospitalidade do senador, por haver um claro conflito de interesses.
Alguém da turma do "Não tem nada de mais" poderia argumentar que o empreiteiro tem negócios com o governo estadual, não com o Senado. Mas o helicóptero era estadual. Além disso, como disse o senador, os dois estavam ali a "convite" da governadora que, aliás, é herdeira da tal ilha.
Poderiam também argumentar que o presidente do Senado precisa de segurança. Mas ali? Ele? Um segurança do Senado para carregar as malas já dava conta do serviço, não é mesmo? Quem precisa de segurança é juíza que condena bandidos perigosos, não chefe de poder que distribui benesses como os supersalários no Senado.
Em resumo, não existe a menor possibilidade de se justificar com um mínimo de lógica e decência a viagem do senador e seu amigo.
Só cabe mesmo a resposta do vice-líder do governo Roseana Sarney na Assembleia Legislativa do Maranhão, o deputado estadual Magno Bacelar (PV): "Queria que o presidente do Senado fosse andar de jumento? Enfrentar um engarrafamento? Esse helicóptero, é claro, tem que servir aos doentes. Mas tem que servir às autoridades, esta é a realidade."
Perfeito. O deputado leva, até aqui, o título de campeão nacional do "Não tem nada de mais". O ex-presidente Lula concorre por fora, com a justificativa, digamos teórica. Ele disse, - lembram-se? - que Sarney, pela sua biografia, "não pode ser tratado como uma pessoa comum". Para registrar parte da biografia: a família Sarney, que controla o Maranhão há décadas, vai muito bem, obrigado. Quantos brasileiros têm ilha particular? Quanto ao Maranhão, disputa o título de mais miserável do país.
"Para o bem do povo"
O presidente do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (Brasília), Olindo Menezes, inaugurou uma versão paralela do "Não tem nada de mais".
O caso é simples. A lei determina que nenhum funcionário público pode ganhar mais que o salário de um juiz da Suprema Corte, uns R$26 mil.
Cerca de 700 funcionários passavam do teto e tiveram seus vencimentos reduzidos, por ordem judicial. A mesa diretora do Senado, presidida por Sarney, recorreu ao juiz Menezes, que mandou a Casa voltar a pagar os chamados supersalários.
Entre outros motivos, disse que o corte dos salários "atenta contra a ordem pública", pois coloca "de joelhos o normal funcionamento" do Senado.
O que quer dizer isso? Que os funcionários não trabalhariam mais caso a decisão judicial não os favorecesse? Eles não podem fazer isso. E mesmo que fizessem, de onde o juiz tirou que o Senado pararia?
Os funcionários envolvidos certamente têm o direito de discutir o caso na Justiça. Mas a mesa do Senado não deveria ir à Justiça contra uma lei aprovada ali mesmo.
Tudo, porém, fica mais fácil de entender quando se sabe que muitos senadores passam do teto salarial, inclusive Sarney, possivelmente com mais de R$60 mil mensais.
Quanto ganha exatamente o presidente do Senado? O site Congresso em Foco perguntou diretamente a ele. Sarney respondeu que não diria, "resguardado pelo direito constitucional à privacidade sobre os meus vencimentos, que tenho como qualquer cidadão brasileiro".
Repararam? Para voar no helicóptero da PM, é autoridade, uma pessoa não comum. Para esconder quanto ganha dos cofres públicos, é cidadão qualquer.
Sarney é autoridade no helicóptero da PM e cidadão nos ganhos

MERVAL PEREIRA - Guerras internas


Guerras internas 
MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 25/08/11

Mais uma vez a reação da chamada sociedade civil organizada consegue reverter uma decisão no mínimo polêmica dos políticos de Brasília. Desta, os deputados indicados por PT e PMDB para a presidência e a relatoria da comissão que vai estudar as mudanças no Código de Processo Civil "desistiram" da indicação depois que a OAB e várias outras associações protestaram.
Os deputados João Paulo Cunha, do PT, e Eduardo Cunha, do PMDB, foram considerados desqualificados para o cargo, por não serem juristas e, entre outras razões, por responderem a processos no Supremo Tribunal Federal.
Foi preciso que o vice-presidente Michel Temer interviesse para que a indicação do PMDB fosse revista, e havia um movimento dentro do partido que culpava o líder Henrique Eduardo Alves pelo desgaste que a indicação de Cunha provocou.
A intransigência de Cunha não resistiu às ponderações de que ele estaria atraindo para o PMDB as críticas generalizadas da sociedade, além de impedir a unidade partidária.
Em jogo existe também o futuro do líder Henrique Eduardo Alves, que pretende ser o futuro presidente da Câmara, mas só o conseguirá se tiver a unidade do partido.
O PMDB, aliás, está buscando se reunificar para escapar da síndrome do "fogo amigo" que está predominando na coalizão governamental.
O partido tinha, por exemplo, três candidatos para a vaga do Tribunal de Contas da União (TCU) e por isso estava fora da disputa. Nas últimas horas conseguiu se unir em torno do deputado Átila Lins, do Amazonas, que, além de ter bom trânsito junto ao baixo clero - para tentar neutralizar a influência de Jovair Arantes -, é auditor.
O partido, além de tudo, conseguiu, na reunião de terça-feira no Palácio do Planalto, tirar da presidente Dilma a garantia de que ela não trabalhará por qualquer candidato.
Há, nos bastidores da disputa, uma tentativa de acordo entre PMDB e PSB, mas as primeiras tentativas não deram certo.
O governador de Pernambuco, Eduardo Campos, não está aceitando retirar a candidatura de sua mãe, a deputada federal Ana Arraes, em benefício do PMDB.
O lançamento de um auditor apartidário a candidato a ministro do TCU, indicado por organizações da sociedade civil, é um dado a mais nessa disputa quase sangrenta que se trava na base aliada do governo.
Rosendo Severo seria uma alternativa técnica, o que representaria um grande avanço da luta da cidadania contra o loteamento partidário.
Como parte da comemoração por seus dez anos, a Comissão de Legislação Participativa (CLP) realizou audiência pública com o movimento Ministro Cidadão, que tem como principais apoiadores organismos como a Auditar, o Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE), o movimento Auditoria Cidadã da Dívida, o Sindifisco Nacional.
O PPS e o PSOL já assumiram a candidatura alternativa.
Mesmo a presidente Dilma recuando em seu suposto propósito de fazer uma "faxina ética" no Ministério em grande parte herdado do seu tutor, o ex-presidente Lula, tudo indica que mais um ministro está na marca do pênalti, lá colocado em decorrência do fogo amigo que se transformou em uma marca registrada da guerra fratricida desencadeada no interior da coalizão governista.
Mas o quase ex-ministro Mário Negromonte também está na corda bamba por conta própria, graças a ações heterodoxas de aliciamento de apoio dentro da bancada e, além disso, às declarações que deu ao repórter Gerson Camarotti, do GLOBO, explicitando práticas políticas mais apropriadas a máfias. Negromonte disse, por exemplo, que em briga desse tipo "irmão mata irmão", e ninguém sai ganhando.
E ameaçou revelar podres de companheiros de partido que, segundo ele, têm "folha corrida" no lugar de currículo.
A disputa pelo poder entre o grupo que o apoia e o que gostaria de ver o ex-ministro Márcio Fortes de volta ao Ministério das Cidades, um feudo do PP, fez com que Negromonte tentasse reverter uma mudança na liderança de seu partido na Câmara às custas de oferta de favores e mesmo dinheiro - houve mais de um deputado relatando que lhe fora prometido um "mensalão" de R$30 mil - fato que foi denunciado por um grupo de deputados contrários a ele ao Palácio do Planalto.
Negromonte nega que tenha feito reuniões no ministério para tratar do assunto, mas o deputado João Pizzollati, de Santa Catarina, que supostamente o apoia, confirmou ter participado da reunião para tentar reverter a situação na bancada e recolocar o deputado Nelson Meurer na liderança do partido.
Se os leitores repararem quantas vezes escrevi acima "guerra" ou "sangue", terão uma boa ideia da situação da base aliada do governo. Há um clima de disputa desenfreada e descontrolada dentro dos próprios partidos e também em relação ao Executivo.

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE


Claro escuro
SONIA RACY
O ESTADÃO - 25/08/11

A Defensoria acaba de entrar Justiça contra a Eletropaulo. Em ação coletiva, pede indenização moral de R$ 10 milhões por causa de apagões na capital. O núcleo de Defesa do Consumidor também quer ressarcimento para quem comprovar equipamentos estragados graças às quedas de energia.

Por fim, solicita ao juiz que seja imposto prazo de quatro horas para o restabelecimento da energia.

Alternativas

Indagado sobre a relutância do MAC/USP em se transferir para o prédio do Detran, Andrea Matarazzo avalia que o Estado nada mais pode fazer. Vai ficar vazio, então? "Tem fila para ocupá-lo, começando pelo projeto da Pinacoteca Contemporânea. Ou um sonho antigo de Alckmin, o Museu de História Natural".

A reforma do prédio terminou na segunda-feira.

Matemática

Tem gente curiosa para saber qual o milagre da multiplicação dos pães do consórcio Inframérica - que arrematou o aeroporto de Natal com 228% de ágio. Pelos cálculos de pelo menos uma construtora nacional, a taxa de retorno do investimento seria da ordem de... 4%.

Virtuose

Joshua Bell chegou atrasado ao Cultura Artística, anteontem. Culpa do voo que o trouxe de Lima. E acabou se esquecendo do terno que usaria no recital beneficente que rendeu R$ 940 mil à Unibes. Mesmo à paisana, encantou a plateia lotada.

Virtuose 2

Bell reservou ingresso (que custava R$ 750) para uma amiga brasileira, Maira Calabrezi. "Nos conhecemos pelo Facebook", contou a bela violinista, também pianista e celista.

Emplaca?
Desembarcou esta semana em Sampa um grupo de defensores de direitos humanos da Birmânia. Objetivo? Pedir apoio do governo federal para a criação de uma Comissão de Inquérito para a Birmânia durante a próxima Assembleia Geral da ONU.

O Brasil se absteve nas duas últimas resoluções, em 2009 e 2010. Segundo os ativistas, o apoio do País, líder entre as nações do sul, é fundamental.

Se forem esperar o tempo que sírios e líbios estão esperando...

Balança
Dos 11 vereadores da bancada do PT na Câmara, até agora nenhum manifestou apoio a Marta Suplicy em seu pleito à Prefeitura. Já no diretório municipal, ela conseguiu apoio em setores minoritários.

Dúvida: o que decidirá Marta?

Agnus Dei

Olimpíada e Copa do Mundo serão fichinha perto da galera que Sérgio Cabral quer atrair durante a Jornada Mundial da Juventude. O governador garantiu, em evento em Madri semana passada, que ela será assistida por mais de 4 milhões de pessoas - in loco. "Vamos deixar as Filipinas, campeãs de público, com inveja". Desafiando previsão do Ministério do Turismo, de 2 milhões.

Também presente, Gilberto Carvalho emendou: "Deus tem dado muitas graças ao nosso País".

Na frente

Carla Vidal partiu hoje para o Encontro Latino-Americano de Atualização Científica. Em Orlando. Tema deste ano? Botox.

Zita Carvalhosa inaugura o Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo. Hoje, no Sesc Pinheiros.

A coletiva Contemporânea Art Paraty abre hoje, no Museu Afro Brasil.

Na internet: o fim do mundo em 2012 está cancelado no Brasil. O País não tem estrutura para evento desse porte.

Torcida

Os diretores do documentário Sócrates Brasileiro falam com o ex-jogador - internado na UTI do Albert Einstein - todos os dias. Acompanham a evolução do ídolo da Democracia Corintiana.

O filme, ainda em captação, inclui cenas de um jogo de futebol gravado na granja do Torto, em 2005.

Lula também concedeu depoimento ressaltando que o craque não só foi importante para o futebol, mas também tem visão política.

DORA KRAMER - Olho vivo, faro fino


Olho vivo, faro fino
DORA KRAMER
O Estado de S. Paulo - 25/08/2011

A insurreição de mais da metade da bancada do PMDB na Câmara tem a ver com a condução autocrática do líder Henrique Eduardo Alves e a concessão de espaços privilegiados ao notório Eduardo Cunha, mas tem a ver muito mais com o futuro do partido como integrante da aliança governista liderada pelo PT.

O grupo que há dois meses não chegava a uma dezena de deputados e que hoje soma 50 dos 79 parlamentares do partido desconfia fortemente de que será descartado pelo PT a partir da eleição de 2012, para ser substituído por novos parceiros.

Mais exatamente o PSB e o PSD, cujos préstimos o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, já ofereceu pessoalmente à presidente Dilma Rousseff.

Com o olho vivo e o faro fino que lhes são peculiares, os pemedebistas detectam sinais nos Estados de que o PT se organiza para varrê-los do maior número possível de prefeituras na eleição do próximo ano e, assim, reduzir a força e a importância do PMDB no pleito presidencial de 2014.

E qual a relação disso com a atuação do líder Henrique Eduardo?

Segundo a vice-presidente da Câmara, Rose de Freitas, ao submeter toda bancada ao seu projeto de presidir a Câmara em substituição a Marco Maia (PT-RS), o líder se preocupa mais em amealhar apoios entre outras legendas para assegurar sua eleição do que em buscar espaços de afirmação partidária que possam fortalecer o PMDB e levá-lo a se precaver do descarte futuro.

"O PSB se fortalece, o PSD está surgindo com uma nova força com apoio de gente muito importante do PT e eu pergunto: onde haverá lugar para o PMDB?". Ela mesma responde: "O partido será escanteado".

Rose de Freitas vocaliza uma insatisfação que por enquanto é mais latente que patente. Por sua posição na Câmara e pelas boas relações que mantém com o Palácio do Planalto, ela assume na prática o lugar de porta-voz do grupo, embora desminta que esteja com isso procurando construir uma candidatura à presidência da Câmara.

"Tenho ouvido falar nisso, até mais do que gostaria, mas continuo leal à candidatura do Henrique. Agora, se ele não mudar o comportamento, não começar a atuar de forma a privilegiar o conjunto, terá problemas sérios na bancada. Tudo vai depender da disposição dele de democratizar seus métodos", diz ela.

A maioria dos insatisfeitos não assume de público as críticas, por receio de que um confronto aberto com o líder possa significar desgaste para o vice-presidente Michel Temer.

Mas o sentimento é o seguinte: se o PMDB não tratar de ganhar músculos e preservar a unidade agora, Temer pode dar adeus à expectativa de ocupar de novo a vice em 2014, seja em chapa liderada por Dilma ou por Lula.

E quais são os problemas que enfraquecem o partido na percepção dos deputados? Basicamente três: o PMDB só obedece, não toma uma posição de mérito, não discute a temática nacional, não influencia positivamente na pauta de votações; só Henrique Alves interpreta o pensamento da bancada segundo seus próprios critérios e interesses; só o líder faz a interlocução com o Palácio do Planalto e decide tudo de maneira autocrática.

Rose de Freitas acrescenta à lista a defesa que Henrique faz da manutenção de Pedro Novais no Turismo, segundo ela um excelente deputado que perdeu a condição política de ser ministro ao defender o secretário executivo que saiu por denúncia de corrupção. "E a conta quem paga é o PMDB."

La famiglia. A entrevista do ministro das Cidades, Mário Negromonte, ao jornal O Globo, diz tudo sobre o sistema de coalizão em vigor no Brasil. A linguagem é inescrupulosa - "para acabar com esse fogo amigo teria que ser uma metralhadora para sair atirando" -, o tom de falsa ameaça é de cúmplice - "imagine se começar a vazar o currículo de alguns deputados. Ou melhor, folha corrida" - e a conclusão de réu confesso: "Vim aqui para fazer amigos".

A cada minuto que continua ministro cai um ponto a confiabilidade na disposição da presidente de sanear o ambiente ao qual só com boa vontade pode ser dar o nome de ministério.

EDITORIAL - O ESTADO DE SÃO PAULO - A formatura de Dilma


A formatura de Dilma
EDITORIAL
O ESTADÃO - 25/08/11

Festa de congraçamento é o nome convencional para o jantar oferecido anteontem pela caciquia do PMDB à presidente Dilma Rousseff, no Palácio do Jaburu, residência oficial do seu vice e presidente do partido, Michel Temer. Nas circunstâncias, porém, seria mais adequado falar em festa de formatura. Dilma, que passou pelo menos a primeira metade destes seus oito meses no Planalto de costas para o partido, como que se recusando a encarar o entorno de sua nova condição, enfim se diplomou com distinção e louvor no curso intensivo de pragmatismo político ministrado pelo mestre da disciplina, seu tutor Luiz Inácio Lula da Silva.
Uma semana antes, ela completou a graduação, ao dissertar sobre a "espinha dorsal do governo" para a banca de peemedebistas e petistas que a encarnavam. Prometeu respeitar os contratos políticos entre as duas legendas, intensificar os contatos com as respectivas lideranças parlamentares e descongelar as verbas para as emendas de seus liderados. Manifestou confiança nos abalados ministros do Turismo, Pedro Novais, e da Agricultura, Wagner Rossi - condecorando este último com o adjetivo "exemplar". No dia seguinte, quando ele renunciou, não houve no PMDB quem debitasse a sua queda à presidente. Quanto mais não fosse, o vice testemunhara os seus apelos para que ele reconsiderasse a decisão - e não fez mal nenhum para o prestígio de Dilma ela não perder ocasião de lastimar a saída de Rossi.
O jantar no Jaburu foi só alegria. Todos ali estavam cientes de que ela despira o uniforme de faxineira. Novais fica, fizera saber a presidente, salvo decisão em contrário de seus correligionários. O apadrinhado do presidente do Senado, José Sarney, e do líder peemedebista na Câmara, Henrique Eduardo Alves, começa a ser visto como um fardo por setores da bancada, ecoando as desavenças entre eles e o próprio Alves. É a pequena política de costume, mas a distância de Dilma. O destino do ministro mais recentemente acusado de malfeitorias, o das Cidades, Mário Negroponte, também dependerá da bancada de seu partido, o PP. Ela destituiu o líder Nelson Meurer, aliado de Negromonte, e diversos de seus membros querem de novo na pasta o antecessor Márcio Fortes.
Enquanto a presidente tira o avental, o companheiro Jaques Wagner, o governador da Bahia de quem o PP é o principal arrimo no Estado, veste a camisa da complacência. Erigir o combate à corrupção em bandeira do governo, disse ele na terça-feira em um almoço com empresários de São Paulo, seria um "desserviço" ao País. Afinal, "não estamos em um patamar que assuste, e no mundo todo há esse problema". E pensar que ele sonha com a Presidência da República. Mas o importante agora não é o patamar da convivência do petista com a bandalha, mas o que acha que Dilma acabou de fazer. Segundo ele, foi um "ajuste de conduta", depois de ela avaliar o resultado presumivelmente adverso da devassa no Ministério dos Transportes, que custou a saída do PR da base governista.
Isso significa que será preciso muitíssimo mais do que denúncias da imprensa para abalar o desvelo da presidente com o primeiro time dos seus colaboradores - embora a palavra desvelo não seja a mais apropriada para descrever o modo como os trata pessoalmente. Decerto os brasileiros preferiam que ela exercesse a sua afamada severidade em defesa da ética no governo, como se supôs que continuaria a fazer depois da varredura no valhacouto do Dnit. Mas, se continuasse, seria prova de que não tinha conseguido captar os ensinamentos de mestre Lula. E ela os captou, "capítulo e versículo", como dizem os americanos.
"Ao lado do PMDB, me sinto em casa", exultou a presidente diante de uma centena de peemedebistas (e um punhado de petistas) convidados pelo vice Temer, relatou o blogueiro Josias de Souza, da Folha de S.Paulo. "Vamos" - ela e o PMDB, evidentemente - "entregar um país ainda melhor do que recebemos." Uma pena Lula não ter assistido de corpo presente à exibição de sua pupila. Ninguém mais do que ele merecia estar lá.

JOSÉ SIMÃO - Ueba! "Fina Estampa de Bueiro"!

Ueba! "Fina Estampa de Bueiro"!
JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SP - 25/08/11

Gretchen vai doar fundos para o Obama. A Gretchen pendurou a bunda. Ah, tava rachada mesmo. Rarará!

Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O Esculhambador-geral da República! Placa na porta de um táxi do Rio: "Informação: R$ 0,50. Se eu souber: R$ 1". E quem vai ficar com aqueles caftans exóticos do Gaddafi? A Alcione já deu o primeiro lance. A Elba Ramalho já deu o segundo. Eu queria ficar com todos. E um cara no meu Twitter disse que "queria ficar com o harém de louras ucranianas". Ueba! Foi o Gaddafi que ensinou o Berlusconi a fazer o "bunga bunga"!
E falando em "bunga bunga", e a Gretchen? "Gretchen encerra carreira e se muda pros Estados Unidos." Ueba! Vai dançar "Conga la Conga" pro Obama. O Obama tá precisando de fundos mesmo! Rarará!
Gretchen doa fundos para o Obama. A Gretchen pendurou a bunda. Ah, tava rachada mesmo. Rarará! E se a Gretchen soltar um pum num saco de confete, é Carnaval o ano inteiro.
E eu já disse que o Kagaddafi tá escondido no porão do Habib's. Por R$ 0,49! E aí soltou um pum de quibe e abalou Washington. Tremor nos Estados Unidos! Efeito Kagaddafi: pum de quibe!
E a charge do Tiago Silva com o Gaddafi: "Eu só saio se o Sarney sair". Toda piada agora termina em Sarney. Saco, viu! Todo mundo já sabe que no Brasil cai botão, cai dentadura, cai peito, cai avião, só não cai o Sarney. E pronto. Zéfini!
E a nova novelha da Globo? "Fina Estampa"! Prefiro "Fina Estampa de Bueiro". Uma novela explosiva! Bota uma tampa de bueiro no lugar da Christiane Torloni. Seria uma perua explosiva. Esse pessoal não tem imaginação, viu?
E a Lília Cabral no papel de Pereirão: troca pneu, conserta encanamento, marido de aluguel. O site QMerda diz que ela vai virar ministra da Dilma. Corrupção? Chama o Pereirão! Taí um bom apelido pra Dilma: Pereirão. A Dilma é o marido de aluguel do Brasil. Rarará! É mole? É mole, mas sobe!
Os Predestinados! Mais dois para a minha série Os Predestinados. Proctologista em Fortaleza: Francisco REGADAS! Uau! Como se diz no Ceará: "Arre égua!".
E o Twiteiro me disse que tem uma médica especializada em medicina do sono que se chama Boêmia Helena. Rarará! E tem um bombeiro em Campinas que se chama Marcio Roberto Fogo! Manda pra Líbia. Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza. Hoje só amanhã. Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

CONTARDO CALLIGARIS - Antipolítica

Antipolítica
CONTARDO CALLIGARIS
FOLHA DE SP - 25/08/11

Se os políticos parecem ser todos corruptos é porque nós, na sociedade civil, devemos ser todos honestos


Certa vez, uma mulher me disse que não deixaria de gostar de mim, mesmo se eu perdesse o cabelo, engordasse absurdamente e mudasse de fé ou de lugar de residência. Mas ela deixou claro que, caso eu me tornasse um político, ela se separaria de mim, no ato. Essa mulher é brasileira, mas poderia ter sido italiana. Brasileiros e italianos compartilham, hoje, uma paixão antipolítica. A ideia antipolítica mais difusa é a convicção (recente na Itália e endêmica no Brasil) de que o exercício da política é indissociável da corrupção -com seu cortejo de alianças oportunistas, mentiras etc. Fora a ojeriza moral, a consequência dessa convicção é a seguinte: de repente, o único projeto republicano válido parece ser a luta contra os corruptos. Ou seja, no governo, os apetrechos da política (planos, visões ou competências) são inúteis, apenas precisamos de pessoas honestas.
A antipolítica da corrupção cria uma nova unanimidade. Para o cidadão comum, ela é lisonjeira: se os políticos parecem ser todos corruptos é porque nós, na sociedade civil, devemos ser todos honestos, não é? Para os políticos, denunciar a corrupção de sua própria classe é mais fácil do que conceber e colocar em ato ideias sociais e econômicas inovadoras. Com isso, a antipolítica reconcilia a nação, as classes e os partidos: vivemos enfim numa comunidade de (todos) indignados contra os políticos (todos) corruptos.
Na Itália, o Partido Comunista da época de Berlinguer (inclusive nas regiões que governava) era considerado, mesmo por seus adversários, como uma reserva ética. Os comunistas podiam ser acusados de comer criancinhas, mas ninguém imaginava que, uma vez no poder, eles seriam como os outros. Ora, a partir de 1991, quando o partido se desfez, as siglas nas quais ele confluiu (compostas cada vez mais de políticos profissionais e cada vez menos de militantes) foram partidos como os outros.
O caso do PT, no Brasil, não foi muito diferente. As alianças de governo e sobretudo o mensalão acabaram com a ideia de que o Partido dos Trabalhadores representasse uma reserva ética dentro da política. Conclusão: como quer a antipolítica, políticos são todos iguais e reserva ética só existe na sociedade civil.
Quanto a mim, oscilo: acho que a arte de governar não deveria se resumir num trabalho de polícia, mas será que, hoje, é possível qualquer política sem um saneamento moral prévio?
A corrupção generalizada não é o único argumento da antipolítica. A desconfiança de discursos políticos fanfarrões e abstratos (que, ao longo do século 20, sacrificaram milhões) pede que eles sejam substituídos pelo cuidado com os problemas concretos, numa espécie de ativismo direto, sem projetos globais, sem representação e sem delegação. Aqui também a antipolítica ganha uma simpatia suprapartidária e interclassista.
Acabo de ler um conto de Piero Colaprico, "Arrivano i NAM", publicado pelo "Corriere della Sera", no qual ex-militantes da luta armada dos anos 1970 e 1980, tanto esquerdistas como fascistas de extrema direita, unem-se, hoje, para criar um grupo que organiza linchamentos e punições como no passado, só que contra alvos comuns, que não são mais inimigos ideológicos, mas pessoas que concretamente estragam a convivência civilizada de todos na cidade.
Os NAR, Nuclei Armati Rivoluzionari, são assim substituídos pelos NAM, Nonni Armati per Milano, ou seja, os avós armados para Milão, vigilantes defensores da ordem e da justiça miúdas e concretas.
Concordando com a antipolítica, entre os NAR e os NAM, talvez eu prefira os avós, os NAM. Se hesito um pouco, é porque receio que, à força de cuidar apenas do concreto imediato, a gente acabe perdendo a capacidade de pensar mundos realmente diferentes.
Em suma, não sei interpretar a antipolítica. Talvez ela seja o sinal de uma nova forma de domínio, que nos induz a aceitar nosso "sistema" e pedir apenas gestões mais honestas e mais concretas. Talvez, ao contrário, ela seja uma revolta contra a política tradicional, capaz, a longo prazo, de redefinir nossa visão do que é política.
Questões. A Primavera Árabe me parece ser um evento político no sentido tradicional. Mas os jovens protestatórios do Chile e ainda mais os saqueadores de Londres foram o quê? Antipolíticos?

GOSTOSA


MÔNICA BERGAMO - LULISMO TOTAL


LULISMO TOTAL
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 25/08/11

Caso a tese da "novidade" para a candidatura do PT à Prefeitura de SP vingue, Marta Suplicy (PT-SP) será apenas a primeira peça do dominó a despencar. Já há um movimento no PT para que Lula detone a candidatura de Aloizio Mercadante (PT-SP) ao governo paulista em 2014. E lance uma "novidade" para o cargo: Luiz Marinho, prefeito de São Bernardo.

LULISMO 2
Marinho sabe do movimento, mas não o estimula. Candidato à reeleição em 2012, ele teria, se vencedor, que cumprir mandato como prefeito até 2016. Especulações em torno de possível renúncia para candidatura ao governo em 2014 podem atrapalhar a campanha do próximo ano.

LULISMO 3
No cenário ideal traçado pelos petistas do movimento pró-Marinho, se o PT vencesse os pleitos, só pessoas da extrema confiança de Lula ocupariam cargos-chave: Dilma Rousseff na Presidência, Luiz Marinho no governo e Fernando Haddad na Prefeitura de SP. Nenhuma outra liderança se contraporia à força dele no PT.

CHAMADA ORAL
O secretário municipal de Educação, Alexandre Schneider, que deixou o PSDB recentemente e cogita ser candidato a prefeito de São Paulo, foi sondado por PSD e PV para se filiar.

LUA DE MEL
O Procon de São Paulo concedeu licença-gala para um funcionário homossexual, Vicente de Paulo Aquino, viajar com o marido, José Amâncio Mota Faria de Oliveira, com quem acaba de oficializar a união estável. Ele também poderá pleitear a inclusão do companheiro no plano de saúde.

NOVA TEMPORADA
O governador Geraldo Alckmin (PSDB) assina decreto na terça que abre temporada de convocação para as novas PPPs (Parcerias Público-Privadas). O governo espera captar até R$ 25 bilhões de empresas, inclusive estrangeiras. Serão aplicados em obras como expansão do trem interurbano e construção de cadeias e fóruns.

COLATERAL
Depois de três dias de quimioterapia, um dos temores da família do ator Reynaldo Gianecchini parecia afastado ontem: o de que seu organismo não se adaptasse bem aos medicamentos. O ator teve fortes reações alérgicas quando ingeriu antibióticos recentemente.

COLATERAL 2
Ele se recuperava bem também de uma intervenção a que foi submetido depois de ter uma veia perfurada na instalação de um cateter, na semana passada. Além de ser transferido para a UTI, como noticiado, o ator teve que retirar coágulos de sangue que se abrigaram entre as pleuras que envolvem o pulmão. E que poderiam virar grave foco de infecção.

HOMENAGEM
A grife de moda praia Blue Man manterá em sua nova campanha de verão, que será lançada no mês que vem, as fotos feitas pelo modelo Murilo Rezende, assassinado anteontem em um apartamento na rua Oscar Freire. A grife, em nota, "lamenta" a morte de Murilo. "Durante as fotos ele demonstrou ser um excelente profissional."

DE VOLTA
A paulistana Mariana Ximenes desembarca em São Paulo nos próximos dias para passar uma temporada grande na cidade, por conta da estreia da peça "Os Altruístas", no dia 16, no Teatro Augusta. A atriz já está ensaiando com o diretor Guilherme Weber, no Rio.

ARQUIVO CONFIDENCIAL
Fotos Mastrangelo Reino/Folhapress

Clarisse Cecconi

O escritor Fernando Morais autografou anteontem o livro "Os Últimos Soldados da Guerra Fria" (Companhia das Letras), na Livraria Saraiva do Pátio Higienópolis. Ele teve a companhia da neta Clarisse Cecconi, 10. Na fila de autógrafos estavam o jornalista Fernando Pacheco Jordão e a terapeuta Maria Alice Rufino.

MUITO BRILHO
A modelo Caroline Ribeiro e a arquiteta Raquel Silveira conferiram o primeiro desfile da Swarovski no Brasil. A marca austríaca de acessórios apresentou a coleção "Wings of Fantasy" na Casa Fasano, na segunda.

CURTO-CIRCUITO

Os sócios Alexandre Accioly, João Paulo Diniz, Bernardinho e Luiz Urquiza inauguram hoje, às 21h, a academia Bodytech do shopping Eldorado.

O livro "Cooperação Jurídica Internacional em Matéria Penal", de Flávio Ramazzini Bechara, será lançado hoje, às 19h30, na Livraria Saraiva do shopping Pátio Higienópolis.

Laïs de Castro lança hoje, às 18h30, o livro de contos "Sirva o Coração em Bandeja de Cristal Líquido", na Livraria da Vila da Fradique Coutinho.

A Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia promove até sábado congresso no Centro de Convenções Frei Caneca.

O 6º Encontro Paulista de Fundações acontece hoje no Novotel Jaraguá.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY

PAULO DE CASTRO MARQUES - Carne de qualidade traz ganho a todos na cadeia produtiva


Carne de qualidade traz ganho a todos na cadeia produtiva
PAULO DE CASTRO MARQUES
FOLHA DE SP - 25/08/11

A pecuária é uma atividade de ciclos. Há pouco tempo, a discussão sobre os preços do gado monopolizava a relação produtor-indústria.
Nos últimos dois anos, o foco mudou. A partir da melhoria do valor pago pela arroba do boi, a relação entre os dois elos da cadeia evoluiu para uma questão mais aguda: o pagamento por qualidade.
Tendo como agente final o consumidor, ganhou dimensão a necessidade de o pecuarista produzir um gado de melhor carcaça, mais jovem, com carne mais macia, mais nobre e mais suculenta.
Para isso, é indispensável usar boa genética, cuidar bem da nutrição e da sanidade e olhar com carinho para o gerenciamento do projeto.
A indústria também percebeu que tinha de fazer mais para reconhecer o investimento em um gado diferenciado. Afinal, na ponta o consumidor responde com mais demanda e valorização pela carne de valor agregado.
Nesse sentido, nada melhor do que a aproximação dos envolvidos, já que o frigorífico não sobrevive sem o criador, o produtor precisa da indústria para ter rentabilidade e o consumidor é o senhor de todo o negócio.
No momento em que a cadeia da pecuária mexe as peças para encontrar o caminho do crescimento, será realizado na Expointer, em Esteio (RS), importante workshop sobre carne de qualidade, organizado pela Associação Brasileira de Angus (ABA).
O tema do encontro reflete a temática das principais discussões da pecuária no momento. Por meio do seu programa de carnes, a entidade já realiza ações de integração entre os distintos elos da cadeia produtiva, objetivando atender as demandas do consumidor e valorizar o trabalho do criador.
Entre outros assuntos, o evento destaca uma iniciativa que integra indústria e pecuaristas para a produção de carne de qualidade, essencial ao atendimento de nichos valorizados de mercado no Brasil e no exterior. Nesse projeto, o frigorífico financia até a genética para o criador. O pecuarista tem de cuidar do manejo, da mão de obra e da gestão, fornecendo o gado para o frigorífico parceiro.
Segundo dados oficiais, o volume de gado da raça angus abatido em programas de parceria com a indústria cresceu 25% no primeiro semestre e deve bater recorde ao final do ano. Sinal de que os ganhos são compartilhados.
A pecuária brasileira é um colosso de R$ 75 bilhões por ano. Trata-se do maior negócio rural do país. Sua evolução depende fundamentalmente da profissionalização dos agentes envolvidos.
A parceria entre os elos da cadeia é fundamental para a conquista dos objetivos desejados: pecuarista bem remunerado, indústria com produtos de valor agregado e consumidor satisfeito.

EDITORIAL - FOLHA DE SÃO PAULO - Faxina e sangue

Faxina e sangue
EDITORIAL
FOLHA DE SP - 25/08/11
Enquanto o mal-estar na base de apoio persiste, presidente tenta controlar motins com mensagem, lamentável, de que demissões acabaram

A presidente Dilma Rousseff fez chegar aos partidos aliados que não pretende mais efetuar demissões. Trocas na Esplanada, só a partir do fim do ano, quando alguns ministros ficariam livres para disputar as eleições de 2012.
O recado da presidente parece ter pelo menos dois propósitos. Primeiro, tranquilizar os ministros que estão no cargo, mas se sentem ameaçados, bem como acalmar as lideranças no Congresso a quem esses ministros são ligados.
Segundo, com seu gesto Dilma procura dar uma resposta para conter os motins instalados nas bancadas, notadamente as do PMDB e do PP, cujas disputas internas têm como objetivo desestabilizar os ministros dos respectivos partidos -o titular do Turismo, Pedro Novais (PMDB), e o das Cidades, Mário Negromonte (PP).
Ainda que a preocupação da presidente seja compreensível do ângulo de quem precisa zelar pela gestão política do governo, é inevitável a constatação de que ela, lamentavelmente, decidiu pisar no freio da chamada faxina ética.
Ontem mesmo Dilma disse que as demissões "não são a pauta do governo". Na verdade, feitas as contas, essa moralização incipiente dos costumes políticos contou com a atuação da presidente apenas no caso dos Transportes.
Nem Antonio Palocci (Casa Civil) nem Wagner Rossi (Agricultura) foram demitidos por Dilma. Caíram de podres, como se diz.
Os focos de conflagração na base aliada não significam o fim do apoio ao governo, longe disso. Quase sempre, as insatisfações traduzem apenas chantagens sem consequências práticas por parte de partidos e figuras educados na cultura da fisiologia.
É inegável, no entanto, que o ambiente político esteja degradado. Quizilas paroquiais assumem dimensões que não deveriam e revelam, ao mesmo tempo, o mal-estar difuso instalado em Brasília.
Exemplo disso é a entrevista do ministro Mário Negromonte ao jornal "O Globo", ontem. Fustigado por setores de seu partido, o titular das Cidades faz ameaças: "Imagine se começar a vazar o currículo de alguns deputados. Ou melhor, a folha corrida. Mas não vou citar nomes".
Outro conselho do mesmo gênero que o ministro dá a colegas do PP é o de que "não devemos expor as vísceras", porque "em briga de família, irmão mata irmão e morre todo mundo. Eu disse que isso vai virar sangue. Esse pessoal não sabe avaliar os riscos".
Os termos usados e o conteúdo das declarações caberiam perfeitamente num filme sobre a máfia. Será um grande retrocesso, mesmo diante do pouco que já foi conquistado, se Dilma tolerar esse tipo de colocação, esse tipo de ministro, esse tipo de política.

UMA FAXINEIRA ESCROTA


CARLOS A. DÖHLER - Pacote econômico, férias coletivas e o consumidor


Pacote econômico, férias coletivas e o consumidor
CARLOS A. DÖHLER
VALOR ECONÔMICO - 25/08/11
Aplausos e elogios acalorados de um lado, críticas e chiadeiras incisivas de outro. Ambos unilaterais e um tanto exagerados. O maior mérito do pacote econômico Brasil Maior, apresentado pelo governo federal, não foi o de ter beneficiado este ou aquele setor, mas o de finalmente abrir espaço nos palácios de Brasília para debater a desoneração da indústria nacional. O pacote sinalizou a disposição do governo de mexer em temas adiados há anos. Isso, sim, foi um grande avanço.

A alta carga tributária brasileira associada a uma política que favorece a importação vem abalando as estruturas da indústria. Enquanto a produção brasileira vai se acumulando nos estoques, os produtos chineses entram, diariamente, sem pagar impostos e, o que é pior, trazendo nas embalagens um "selo" de desqualificação, falta de ética, irresponsabilidade ambiental, desrespeito aos funcionários e descaso com os consumidores.

No último mês, mais uma vez, acompanhamos pelo noticiário as fabricantes dando férias coletivas aos funcionários. A bola da vez foram as empresas de linha branca (geladeiras, fogões, lavadoras etc), que suspenderam a produção e pediram para milhares de trabalhadores "descansarem".

O aumento dos estoques nas empresas nada mais é do que um reflexo da diminuição da demanda. As corporações que se preparavam para um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 5%, em 2011, ao que tudo indica terão de se contentar com um crescimento próximo a 3,5%. A indústria brasileira também já sente com mais força o impacto das crises econômicas internacionais, que têm levado os países a ampliarem suas barreiras comerciais.

Para o setor têxtil, a situação está especialmente mais complicada. Neste ano, as notícias sobre férias coletivas no segmento tornaram-se tão corriqueiras que sua exclusão do pacote econômico federal causou comoção. Evidentemente que a percepção do poder público é fundamental para modificar um quadro desfavorável. Entretanto, empresas com administrações criativas, corajosas e atentas ao mercado muitas vezes conseguem encontrar alternativas para driblar as dificuldades, antes mesmo da interferência governamental.

A crise nas exportações, por exemplo, podia ser prevista há tempos. Por outro lado, também há alguns anos já era possível vislumbrar um vigoroso crescimento da classe média brasileira - pois esse movimento vinha amadurecendo desde a ascensão das mulheres no mercado de trabalho. A renda do homem brasileiro classe C passou a ter o acréscimo da renda da mulher classe C, possibilitando uma renda familiar classe B.

As fabricantes brasileiras que conseguiram perceber essas variações nos mercados interno e externo adaptaram sua estratégia administrativa e têm conseguido, não só contornar a crise, mas alcançar ótimos desempenhos, produzindo a todo vapor, com 100% dos funcionários e aumentando o faturamento mês a mês. Até mesmo no tão prejudicado setor têxtil brasileiro, a transferência de foco das exportações para a demanda nacional, com enfoque na nova classe média, fez total diferença nesse momento de dificuldades.

Para superar conjunturas adversas, o administrador não deve contar apenas com a sensibilidade do governo. Ele precisa estar atento ao seu consumidor momentâneo e, sobretudo, ao cliente em potencial. Saber quem são aqueles que não compram a sua marca hoje, mas que poderão vir a comprar é fundamental, bem como buscar estratégias para alcançar esse público. O mercado é dinâmico.

Agora, por exemplo, é fundamental perceber as novas transformações que estão a caminho. O consumidor brasileiro de hoje não será o mesmo daqui a 10 anos. A população está envelhecendo com saúde. O mercado consumidor será formado por uma grande gama de pessoas com mais de 40 anos, exigentes, estabelecidas financeira e profissionalmente. Ninguém irá comprar por comprar, apenas para satisfazer uma vaidade. O consumidor do futuro buscará empresas com os seus mesmos ideais. Empresas que saibam criar valores emocional, social, ambiental, de experiência e, lógico, financeiro para o produto.

Também é fundamental aos administradores estarem antenados à facilidade de mobilização da nova geração. Qualquer informação passou a estar ao alcance de todos e com a rapidez de um click. Ainda não se sabe até que ponto poderá chegar essa facilidade de comunicação, mas já é possível imaginar o perfil do nosso próximo consumidor, que acreditará ter o mundo aos seus pés, confiará em seus pontos de vista e disseminará informações o tempo todo.

A sorte, mais uma vez, está lançada. Ou melhor, a sorte não, o desafio. Sociedade, indústria e governo estão amadurecendo juntos. A população passará a dar as cartas do jogo, exigindo respeito e responsabilidade dos gestores; o setor produtivo briga contra o tempo para adaptar suas práticas corporativas, colocando assuntos como equilíbrio ambiental e ética na pauta do dia; e o poder público dá mostras de que pela primeira vez passará a defender o patrimônio interno. Com essas três frentes integradas e atuando com firmeza, certamente temos motivos para confiar na possibilidade de um Brasil Maior.

Carlos Alexandre Döhler é diretor comercial da empresa Döhler S/A e pós-graduado em Comércio Exterior pela Univille-SC

FERNANDO REINACH - Quando o rato quer o gato


Quando o rato quer o gato
FERNANDO REINACH
 O Estado de S.Paulo - 25/08/11

Nada como o desejo sexual para diminuir a aversão ao risco. Mas quando um rato se sente atraído por um gato, acaba comido. Literalmente. Ruim para o rato, bom para o gato e para o parasita que, instalado no cérebro do rato, faz com que o roedor se apaixone pelo inimigo.

Em 1999, foi descoberto que ratos infectados com o parasita Toxoplasma gondii apresentavam um comportamento estranho. Enquanto um rato normal fica totalmente paralisado e tenta se esconder ao sentir o cheiro de um gato, ratos infectados pelo Toxoplasma pareciam ficar curiosos e começavam a explorar o ambiente. E, óbvio, encontravam-se com o gato e eram devorados. Mas como explicar esse comportamento quase suicida, aparentemente causado pela presença do parasita?

O Toxoplasma infecta diversos animais, até mesmo seres humanos, alojando-se no cérebro, onde forma minúsculos cistos. Mas o Toxoplasma só se reproduz sexualmente no intestino de um gato. É lá que ele se divide e acaba contaminando as fezes do bichano.

Nós e os ratos somos contaminados quando entramos em contato com fezes de gatos contaminados. Uma vez no rato, o grande desafio do Toxoplasma é voltar para o seu hospedeiro primário, o gato, a fim de se multiplicar. Para isso é necessário que o gato coma o rato - e, infelizmente para o Toxoplasma, não é sempre que o gato consegue capturar o rato (vide Tom & Jerry).

Na época em que esse comportamento foi descoberto em ratos infectados, os cientistas sugeriram que, ao longo da evolução, o Toxoplasma teria adquirido a capacidade de se alojar em um local do cérebro dos ratos, alterando o comportamento do roedor, o que facilitaria sua captura pelos gatos. Essa hipótese, digna de um filme de ficção científica, agora foi confirmada.

Experiência. O experimento é simples. Dezoito ratos foram infectados com Toxoplasma e 18 ratos saudáveis serviram como controle. Nove ratos infectados e 9 ratos saudáveis foram colocados em gaiolas contendo um pedaço de tecido umedecido com urina de gato. A outra metade, 9 ratos saudáveis e 9 infectados, foi colocada em uma gaiola, na qual podiam sentir o cheiro de uma fêmea no cio colocada na gaiola ao lado.

O estímulo durou 20 minutos. Uma hora e meia após o término do estímulo, os ratos foram sacrificados e seus cérebros, preservados, fatiados e examinados ao microscópio. O objetivo era determinar qual área do cérebro havia sido estimulada durante a exposição à urina de gato ou ao cheiro das atrativas fêmeas no cio. Isso é possível porque, quando um neurônio fica ativo por muito tempo, ele sintetiza uma proteína chamada c-Fos, que pode ser detectada nas fatias de cérebro. Se os neurônios possuem c-Fos, isso indica que eles estavam ativos antes da morte do animal. As áreas do cérebro envolvidas no desejo sexual e nas reações de medo foram examinadas cuidadosamente nos quatro grupos de animais.

Nos ratos normais estimulados pela presença da fêmea, somente a região envolvida no desejo sexual havia sido ativada. Também como esperado, os ratos normais submetidos ao cheiro de urina de gato apresentavam a área relacionada ao medo ativada e a região relacionada ao estímulo sexual desativada. O interessante é o que foi observado nos ratos infectados com Toxoplasma. Nos ratos submetidos ao cheiro das fêmeas, somente a área sexual era ativada. Mas nos ratos infectados submetidos ao cheiro de urina de gato, tanto a área relacionada ao medo quanto a área relacionada ao desejo sexual haviam sido ativadas. Em outras palavras, os ratos infectados pelos parasitas, ao sentir o cheiro de urina de gato, ficavam com medo (como esperado), mas ao mesmo tempo ficavam atraídos sexualmente pelo cheiro. Como a atração sexual é mais forte que o medo, eles se aventuram a procurar a origem do cheiro de urina. Acabam encontrando o gato, são devorados, e o parasita pode colonizar o gato.

Esse resultado demonstra que a infecção pelo parasita não suprime o medo que os ratos sentem dos gatos, mas estimula de tal forma o desejo sexual que este supera o medo. Parece-me que esse tipo de reação, o desejo superando o medo, não é estranho aos seres humanos. Seria curioso investigar se pessoas infectadas pelo Toxoplasma são mais propensas à infidelidade.

MAIS INFORMAÇÕES: PREDATOR CAT ODORS ACTIVATES SEXUAL AROUSAL PATHWAYS IN BRAINS OF TOXOPLASMA GONDII INFECTED RATS. PLOS ONE, VOL. 6 PÁG. 23.277, 2011

ALBERTO TAMER - À espera de Bernanke


À espera de Bernanke
ALBERTO TAMER
O Estado de S.Paulo - 25/08/11

Sim, todos estão esperando para ver se o presidente do Federal Reserve, Ben Bernanke, anuncia ou pelo menos sinaliza, amanhã, no fórum dos bancos centrais dos Estados, em Wyoming, se pretende injetar mais liquidez no mercado para afastar o novo risco de recessão. Foi o que fez exatamente há um ano, no mesmo fórum, quando anunciou a compra US$ 600 bilhões, uma operação encerrada em junho passado. Ao todo, desde a crise de 2008, foram US$ 2,8 trilhões diretos ou indiretos do Fed e do Tesouro, que impediram o pior e só não deram mais resultados porque as empresas e os consumidores americanos perderam a confiança que ainda restava no Congresso e no governo. Uma confiança ainda mais abalada pelos últimos acontecimentos políticos e o rebaixamento da nota dos Estados Unidos pela Standard & Poor"s. O dinheiro ocioso continua acumulado nas caixas dos bancos.

O que você querem? Ainda ontem, o presidente Barack Obama se reuniu com empresas perguntando o que precisam para voltar a contratar e promete anunciar medidas de emergência no dia 7 de setembro, mas tem as mãos amarradas pelo Congresso. No mesmo dia, ao saber que o UBS demitiria 3,5 mil empregados, ofereceu-lhe empréstimo de US$ 20 milhões para que conserve pelo menos 2 mil empregos. Motivo, os cortes representariam perda de US$ 70 milhões na receita.

Sim ou não? Os analistas estavam divididos, ontem. Uns achavam que, de uma forma ou de outra, haverá uma nova injeção de liquidez, outros acreditam que Bernanke vai reafirmar o que tem dito nos últimos dias: o Fed está comprometido com o crescimento, os juros ficaram negativos mais dois anos e todas as cartas estão na mesa. Nesse clima de incerteza, as bolsas europeia e americana fecharam novamente em alta, o que foi interpretado pelos investidores como expectativa de que virá um sinal positivo do Fed. O que se espera é mais turbulência no mercado se nenhum estimulo monetário for decidido agora. É um cenário pouco sustentável por muito tempo e agravado agora pela situação na zona do euro. "Pode-se não estar no olho do furacão, mas na calmaria que antecede as tempestades", afirmava outro analista de Wall Street

O Brasil no sim ou não. O Brasil deve estar preparado para se vier amanhã um sim ou um não de Bernanke, mesmo porque o Fed terá de agir em breve, pois a economia americana não dá sinal de reação e a mundial, que poderia ajudar, está desacelerando. Seja agora ou logo mais, a previsão é que haverá mais emissão de dólares, mais liquidez no mercado financeiro internacional. Será mais dinheiro entrando no Brasil que continua mantendo as portas abertas.

Um desafio agradável. Os dólares devem continuar entrando por todos os lados, agora também pela via comercial com o expressivo aumento do preço das commodities, que só devem recuar se houver uma desaceleração ainda mais forte na economia mundial. É um afluxo crescente que representa um desafio bom, mas desconfortável porque valoriza o real. O Brasil tem excesso de investimentos que faltam lá fora.

O petróleo da Líbia. A queda de Kadafi e a perspectiva de que o país voltará a exportar petróleo não deve pesar muito nos preços e vai acabar ajudando. Não se espera que o país volte a produzir 1,6 milhão de barris por dia de petróleo leve, como antes, mas até 600 mil barris nos próximos meses. É um erro falar em repetição do Iraque, onde Saddam destruiu campos de produção e houve guerra mais longa e não revolução. Os preços tendem a manter-se em níveis baixos.

E viva o novo desafio. De novo, o cenário é favorável para o Brasil e só pode tornar-se mais incômodo se realmente o Fed indicar amanhã que pretende voltar a emitir e injetar dólares no mercado financeiro ainda este ano. Dólares, que mesmo sendo incorporados às reservas, continuarão desvalorizando o real. Mas, como dizem os otimistas generosos, ao contrário dos pessimistas persistentes, não é um problema considerando a tempestade que se forma lá fora.