sexta-feira, julho 02, 2010

MELCHIADES FILHO

Protocolo dossiê
MELCHIADES FILHO
FOLHA DE SÃO PAULO - 02/07/10


BRASÍLIA - É enorme o esforço do PT para tentar se desvencilhar do dossiê antitucano formatado pelo "grupo de inteligência" do comitê de campanha de Dilma Rousseff.
A ordem agora é martelar que o próprio PSDB arquitetou o escândalo -e pressionar a imprensa a revelar como obteve a papelada.
A narrativa não para em pé. Que a própria candidata à Presidência se empenhe em divulgá-la é sinal de, no mínimo, desorganização.
Primeiro, porque o caso só veio à tona graças a dirigentes do PT, que o confirmaram à revista "Veja". Gabavam-se de ter abortado a tentativa de alguns correligionários de reeditar os "aloprados" de 2006.
Segundo, porque os próprios envolvidos desautorizam a versão.
O empresário que chefiava a equipe de comunicação de Dilma, apontado como o coordenador do dossiê, não hesitou em acusar o "fogo amigo". "O grupo do PT que integrou o governo da Marta [Suplicy] quer entrar na campanha a qualquer preço. Fui a primeira barreira dessa guerra e sofri as consequências", declarou Luiz Lanzetta.
Indagado sobre como o conteúdo de reportagens inéditas suas sobre José Serra foi parar na imprensa, o jornalista Amaury Ribeiro alegou que seu computador tinha sido violado e que ele só não havia ido à polícia por orientação de Lanzetta: "Havia a suspeita sobre os próprios integrantes" do comitê de Dilma.
A tática petista de jogar na confusão não é nova. Foi usada em 2008, quando a Folha revelou que a Casa Civil havia juntado documentos sobre Fernando Henrique e Ruth Cardoso, com o objetivo de coagir a oposição e impedir a CPI dos Cartões Corporativos.
Na época, o PT tentou emplacar a versão de que o PSDB havia infiltrado um "espião" no Planalto e forjado a planilha que vazou à imprensa. O inquérito policial, porém, confirmou o noticiado: arquivo específico contra o casal FHC tinha sido criado e alimentado no computador de assessora de Dilma.

NELSON MOTTA

Harmonias e dissonâncias
NELSON MOTTA
O GLOBO - 02/07/10


Todos gostam de música, muitos fazem dinheiro com ela, ninguém imagina a vida sem ela, mas como os seus criadores podem viver do seu trabalho? O assunto interessa não só aos compositores, porque envolve liberdade de associação e de expressão, quando se discute se o Estado deve participar da arrecadação e distribuição de direitos autorais no Brasil.

Aqui, a arrecadação é feita por um escritório central, o Ecad, criado, administrado e controlado por sociedades privadas de autores musicais, como a UBC, a Sicam e outras. O Ecad cobra direitos dos que usam as músicas para ganhar dinheiro com elas (rádio, TV, shows, festas, publicidade, clubes ) e os repassa às sociedades, que os distribuem entre seus autores, proporcionalmente à quantidade de execuções públicas de cada música no período monitorado.

É um sistema correto e efetivo, que dá a cada um a sua parte pela utilização comercial de sua criação. Nos Estados Unidos e na Europa funciona muito bem. Se aqui há falhas, falcatruas ou ineficiência, o problema é de gestão e fiscalização, e deve ser resolvido entre o Ecad e as sociedades que representam os compositores, intermediados pela Justiça. O Estado não entende nada disso, e já morde 25% de impostos sobre direitos autorais sem tocar uma nota.

Quando se canta o velho refrão de uma sociedade arrecadadora estatal, ouvem-se cabide de empregos, aparelhamento partidário, altos custos e burocracia.

No mundo moderno, as sociedades de autores são empresas comerciais, que fazem tudo para ganhar o máximo de dinheiro para seus associados.

Como qualquer empresa, competem no mercado, buscam eficiência administrativa, novas tecnologias, prestam contas, são auditadas, podem ser processadas e liquidadas legalmente. O que é que o Estado tem a ver com isso? Pode soar como pleonasmo ou redundância, mas é uma evidência: quem tem a autoridade é o autor, quem criou é que decide o que se faz ou se deixa de fazer com a sua criação. Cabe à Justiça julgar os conflitos com base na legislação (que precisa ser modernizada), e ao Estado garantir os direitos e o cumprimento da lei. Já é muito.

NELSON MOTTA é jornalista

GOSTOSA

TUTTY VASQUES

O sofrimento não pode parar!

TUTTY VASQUES
O ESTADO DE SÃO PAULO - 02/07/10


Eu bem que alertei no início da Copa para o risco de crise de abstinência após as oitavas de final. Dois dias inteirinhos sem futebol na TV e - resultado! - teve torcedor aqui no Brasil que foi ontem ao zoológico com expectativa de safári para tentar saciar a afrodependência. Gente que saiu de casa sem ar, precisando ver girafa, rinoceronte, leão, leopardo, zebra, sei lá! O canal a cabo Animal Planet também bateu sucessivos recordes de audiência nas últimas 48 horas.
Quem tentou manter um pé na África ligado nas mesas-redondas esportivas pegou carona na depressão dos comentaristas com o súbito recesso da Jabulani. Se foi ruim para o afrodependente da poltrona, imagina para o jornalista - ô, raça! -, que há dois dias assiste a 15 minutos de "bobinho" no treino e passa o resto do tempo falando ao vivo sobre tudo o que está acontecendo na Copa.
Pior que ninguém vai ter muito tempo para se refazer da dolorosa estiagem de jogos que se encerra. O ideal seria o brasileiro retomar hoje a rotina do Mundial curtindo Alemanha x Argentina, tranquilo, mas não! Levanta aí porque lá vem a Holanda! Quem dormiu ontem com fome de bola já acorda hoje com frio na barriga. Daqui a pouco a Copa começa ou acaba para o Brasil. Só nos resta torcer para que esse sofrimento continue!
Ô, raça!
"Johann Cruyff é o Maradona da Holanda!"
Pelé, numa rodinha de amigos, reagindo ao pouco-caso do ex-craque holandês com a seleção brasileira ("Não pagaria ingresso para vê-la jogar!").
Antidepressivo infalível 
De passagem por São Paulo, Silvio Berlusconi teve bons motivos para promover uma festinha privê com seis garotas contratadas para a noitada na suíte presidencial do Tivoli Mofarrej: não tem coisa melhor para esquecer um vexame como o da Itália na Copa do Mundo.
Benhêee!!!
William Bonner derreteu-se todo para o gorro e o cachecol de Fátima Bernardes no "boa noite" do Jornal Nacional de quarta-feira. Isso quer dizer o seguinte: alguma ele deve estar aprontando depois que larga o trabalho. A apresentadora conhece o marido de outras copas.
Pau a pau
Alemanha e Argentina chegam amanhã às quartas de final absolutamente iguais em tudo. Até na política, a chanceler Angela Merkel igualou-se nesta semana a Cristina Kirchner em derrotas acumuladas no governo.
Passo a passo
Antes de abrir a discussão sobre o uso de tecnologia no futebol, a Fifa cogita punir erros de arbitragem ajoelhando os responsáveis no milho nalgum canto do vestiário.
Façam suas apostas
Tem bolão novo circulando em Brasília: Lula vai decidir primeiro sobre o caso Battisti ou sobre a compra dos caças da FAB?
Antidoping neles!
Está faltando à Copa do Mundo um bom escândalo por uso de doping. Ninguém aguenta mais ouvir falar em erros de arbitragem! 

JOSÉ (MACACO) SIMÃO

Ueba! Abre a boca, Galvão
JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SÃO PAULO - 02/07/10


E desculpe o trocadilho, mas hoje a gente Holanda pra frente ou Holanda pra trás?



BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! Direto da Cópula do Mundo! Rumo ao Équissa!
É hoje! Me segura que eu vou ter um calipso cardaico! Vou morrer de morte súbita!
Vamos chupar dez laranjas mecânicas! Um amigo me disse que hoje ele vai comer uma torta holandesa e DEZ HOLANDESAS TORTAS! Rarará!
Acorda! Que lá vem o Galvão com cara de pão na chapa! O duro de o jogo ser às 11h é acordar com o Galvão. Melhor acordar que dormir com o Galvão. Rarará!
E sabe por que Portugal voltou pra casa? Pro Cristiano Ronaldo se depilar! Rarará.
Brasil contra Holanda. O grande perigo desse jogo é o bolão da Ana Maria Braga. Os dez primeiros que acertarem o placar ganham um livro DA AUTORIA DELA! Socorro! O bolão da Ana Maria Braga é mais perigoso que o Robben!
Meu palpite é que vamos ganhar de meio a zero! Tá de bom tamanho?
Hoje é dia de o Galvão ficar perguntando: "Tá de bom tamanho?". "Arnaldo, tá de bom tamanho?" "Tá, mas quando eu apitava em 65... a regra era clara." "Falcão, tá de bom tamanho?" "Quando eu jogava na Roma em 52..." O Falcão parece o Museu da Imagem e do Som. "Casagrande, tá de bom tamanho?" "AHNNN? EHRRR! UHN?!" Rarará!
E o Elano não joga! As coroas estão de luto. Tem um fã clube de coroas loucas pra dar pro Elano. Dizem que ele parece o Sean Penn.
E hoje o Galvão entra em erupção. Vai gritar mais que Tarzan no cio querendo comer a Chita! Eu vou criar a campanha Abre a Boca, Galvão! Quero muitos goools!
Seleção dos peladeiros! Sugestão de leitor pro Dunga ter o hexa garantido. Seleção da Cooperativa Agrícola de Cotia! Gol: Bueiro. Zaga: Coça Coça, Tatu e Rendido. Meio-campo: Freada, Tira Zica, Xuxu e Cueca com Zíper. Ataque: PAÇOCA E COMI O PAÇOCA! Rarará. Com esse ataque, hexa e herpes garantidos.
E desculpe o trocadilho, mas hoje a gente Holanda pra frente ou Holanda pra trás? Rarará.
Nóis sofre, mas nóis goza. Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno.
E força na vuvuzela. Sopra com carinho!
Viva o Brasil!

GOSTOSA

MÔNICA BERGAMO

Cidade Suja 
Mônica Bergamo 

Folha de S.Paulo - 02/07/2010

A coleta seletiva de lixo na cidade, que já apresentava problemas, desandou de vez em junho. Se antes os detritos, apesar de separados pelos moradores, eram recolhidos por caminhões e misturados novamente ao lixo comum, agora nem isso. Há cerca de um mês, o recolhimento do material simplesmente parou de ser feito. A crise atinge bairros como Pacaembu, Jardins, Cerqueira César e Jardim Aeroporto.
Montanha
"Os caminhões já não cumpriam o horário. E agora nem têm passado", diz Iênidis Benfati, presidente da associação de moradores Viva Pacaembu. "A gente tem que ficar tomando conta do lixo." "É um crime ambiental. A população separa o lixo e a prefeitura não recolhe", diz Célia Marcondes, presidente da Samorcc, associação de Cerqueira César. Há prédios com montanhas de reciclados guardadas em contêineres.
Atrasados
A prefeitura já ameaçou multar Loga e a Ecourbis, empresas que fazem a coleta. Elas dizem que as cooperativas de reciclagem de lixo estão sobrecarregadas e que a administração deveria credenciar novas centrais. "O que pode ocorrer é postergação na coleta, porque as cooperativas estão lotadas", afirma Luiz Gonzaga, da Loga.
Procura-se
Um dos apartamentos mais caros do Rio de Janeiro está sendo oferecido a milionários paulistas por R$ 25 milhões. Ele fica no edifício Ana Carolina e tem 685 m2 de área útil. A planta é considerada a maior da avenida Delfim Moreira, no Leblon -só perde para as do edifício Juan Le Pain, de 560 m2, e para o Apolo 11, de 537 m2, na mesma via. A negociação está sendo feita pela Coelho da Fonseca. O nome do proprietário é mantido em sigilo.
Efeito Copa
Os preços no Rio "explodiram", de acordo com especialistas, pelos efeitos da Copa 2014 e da Olimpíada 2016. O metro quadrado nas áreas nobres, como o Leblon, chega a R$ 40 mil -contra R$ 20 mil dos mais caros apartamentos de São Paulo.
Dois em Um
Há dois anos, um imóvel, na avenida Vieira Souto, no Rio, foi colocado discretamente à venda pelo mesmo preço -o de Vera Andrade, ex-mulher do empreiteiro Sergio Andrade. Só que era a cobertura. Os apartamentos vizinhos eram avaliados em R$ 12 milhões.
Tucanos Sem Peixe
O Santos F.C. fez uma exigência para os candidatos que foram ao clube na segunda e assistiram, na Vila Belmiro, ao jogo do Brasil na Copa -entre eles, José Serra e Geraldo Alckmin.

O clube pediu que a visita não seja usada nas propagandas do PSDB na campanha eleitoral.
Olha nós aqui outra vez
A chef Morena Leite comemorou seus 30 anos, anteontem, com uma festa com apresentação de acrobatas e saxofonista em seu restaurante Capim Santo, nos Jardins. No evento, o casal formado pela apresentadora Eliana e pelo produtor João Marcelo Bôscoli apareceu em público pela primeira vez após reatar o namoro.
Sabor do Mediterrâneo
Os sócios Michel Saad e Marcelo Carvalho receberam os amigos no coquetel de inauguração do restaurante Terrasse, anteontem, no Itaim Bibi.
Oferta Dourada
O lutador Marcelo Dourado, vencedor do "BBB 10", está "em promoção" na Copa. Seu cachê para presença em festas e desfiles, que é de R$ 20 mil, está saindo por R$ 15 mil.

É que nessa época o movimento "diminui".
Quero Igual
Dois clientes procuraram a loja de Alexandre Herchcovitch, em São Paulo, para comprar o modelo de casaco usado por Dunga em duas partidas da seleção na África. Saíram frustrados: a peça é da coleção de 2006.
Caso do Acaso
A cantora Tetê Espíndola, do hit "Escrito nas Estrelas", será DJ por uma noite. Ela será a atração da festa "Chanchada", do produtor Leandro Pardí, no dia 11.
Jefferson e O Mistério da "melindrosa"
A disputa entre o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) e o DEM do ex-prefeito Cesar Maia (DEM-RJ), do Rio, que integram a campanha presidencial de José Serra (PSDB), promete, digamos, bons momentos até outubro, mês das eleições. Jefferson chegou a afirmar, anteontem, que a escolha de Álvaro Dias (PSDB-PR) como vice não vingou porque "melindrou uma melindrosa do DEM". Ele bateu um papo rápido com a coluna:

Folha - Quem é a melindrosa? Roberto Jefferson - [Dá uma gargalhada e fala à assessora] Ela quer saber quem é a melindrosa do DEM [mais gargalhadas].

É, eu quero.
[Ainda dando risada] Erraram o sexo. É melindroso, e não melindrosa.

O senhor escreveu no Twitter que o DEM "é uma merda". E depois apagou.
Aquilo não é um conceito, era um desabafo. É como um troço qualquer que você fala, mas não escreve. Eu ia mandar mensagem direta [para um amigo] e acabei respondendo para todo mundo. A minha assessora chegou e eu falei: "Tira isso daqui [do Twitter] pra mim, querida".

Vai ser assim até outubro?
Pra mim o assunto encerra hoje [quarta, quando o deputado Índio da Costa, do DEM, foi indicado vice]. Mas não gostei do papel do DEM. Foi uma humilhação pública do Serra [que recuou na indicação de Dias]. Não é papel de gente amiga.

Cesar Maia enviou e-mail à coluna sobre as declarações de Jefferson. "Estilo e direito. Nada a comentar."
Curto-circuito
A cantora Izzy Gordon se apresenta hoje, às 22h, no Ao Vivo Music em Moema. Classificação etária: 18 anos.

A festa Neverland do clube Glória terá hoje como DJ o cineasta Heitor Dhalia. A partir da meia-noite. 18 anos.

A balada Trash 80's tem edição em prol da ABA, da comunidade Santa Rita, hoje, às 22h, na The Week. 18 anos.

O debate "Irã, Os Olhos do Viajante", com Márcia Camargos e Roberto Cattani, acontece hoje, a partir das 19h, na Casa das Rosas.

A atriz Gisele Fraga faz festa de encerramento da novela "Uma Rosa com Amor", do SBT, hoje, em seu apartamento nos Jardins.

RUBENS NAVES



A lei que trava a ciência brasileira
RUBENS NAVES
FOLHA DE SÃO PAULO - 02/07/10


É bem possível que outra invenção gerada no Brasil seja engavetada, até que empresa estrangeira nos venda tratamento similar




A capacidade criativa da ciência nacional pode beneficiar os brasileiros de forma mais profunda que qualquer conquista esportiva, mas está praticamente impedida de competir. Por isso, nestes dias em que tanto discutimos nossos talentos, vale a pena olhar além dos gramados africanos.
Tomemos o exemplo de um novo tratamento de lesões nas articulações com a utilização de células-tronco, aperfeiçoado na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Tão comuns no futebol, lesões no joelho e tornozelo estão entre as que poderão ser curadas por essa técnica, desde que ela se mostre viável, segura e eficaz ao longo de um processo de aprimoramento tecnológico e testes clínicos.
Esse processo demanda investimentos consideráveis e sujeitos a riscos, uma vez que nessa atividade, como no esporte, não há garantia de sucesso. É aí, na hora em que precisam fazer parcerias para desenvolver e comercializar invenções, que nossas equipes de ciência e tecnologia se deparam com "regras de jogo" desfavoráveis. O alvo principal do novo tratamento é o grande contingente de brasileiros que sofrem com problemas articulares. O sistema público de saúde é, portanto, seu grande comprador potencial.
Ocorre que o tratamento vem sendo desenvolvido por uma pequena empresa incubada no Polo de Biotecnologia do Rio de Janeiro (Bio-Rio), e a legislação de compras e contratações públicas, em especial a lei nº 8.666/93, faz exigências que, na prática, quase sempre eliminam a possibilidade de pequenas empresas vencerem licitações.
É bem possível, portanto, que mais uma invenção gerada no Brasil seja engavetada, até que uma grande empresa estrangeira nos venda um tratamento similar registrado em países onde a legislação mais estimula a inovação.
A exigência de pregões, nos quais o único critério de escolha é o menor preço, ou de licitações burocráticas e morosas trava o setor de ciência e tecnologia, que demanda flexibilidade, agilidade e critérios específicos. Nos casos em que a lei autoriza a dispensa da licitação, a interpretação restritiva dos órgãos de controle desestimula ou impede o uso da exceção legal.
Para transformar essa situação, um grupo liderado pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e pela Academia Brasileira de Ciências, do qual tive a honra de participar, elaborou proposta simples, mas de grande impacto. Trata-se de autorizar as instituições de ciência e tecnologia e as agências de fomento a realizar suas compras, contratações e parcerias com base em regulamento próprio.
A proposta libera os agentes da inovação das amarras da lei nº 8.666/93, preservando a atuação dos órgãos de controle; concede maior autonomia em troca de mais transparência e prestação de contas.
Se transformada em lei, a proposta, apresentada na 4ª Conferência de Ciência, Tecnologia e Inovação, permitirá que o potencial inventivo da ciência nacional sirva efetivamente ao desenvolvimento do país. Uma meta que merece torcida e apoio de todos nós.


RUBENS NAVES, 67, advogado, é professor licenciado da Faculdade de Direito da PUC/SP. Foi presidente da Fundação Abrinq pelos Direitos da Criança e do Adolescente de 2002 a 2006.

A TERRORISTA MENTIROSA

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

Café x Açúcar 
Maria Cristina Frias

Folha de S.Paulo - 02/07/2010

A região é do açúcar, mas é o café quem está fazendo a festa de 15 anos da fundação do Banco Ribeirão Preto. Em menos de três anos, o repasse do Funcafé (de apoio à cafeicultura) passou a R$ 50 milhões no banco, cuja carteira de crédito total subiu de R$ 100 milhões para R$ 280 milhões no período.

"A cana é importante, mas o café já é mais", diz Nelson Rocha Augusto, presidente do banco, que comandou a BB DTVM, a gestora do Banco do Brasil.

O Ribeirão Preto, porém, rompeu a fronteira regional e expande seus negócios para Minas, Bahia e Rio Grande do Norte.

O custo da captação total de recursos é de 100,02% do CDI, segundo Augusto. Apenas 15% vêm de grandes instituições. O restante do "funding" tem origem na própria clientela.

"Compramos dinheiro relativamente barato através de produtos específicos de captação também barata. Isso faz com que sejamos mais competitivos."
População com plano de saúde fica estagnada 
A fatia de brasileiros com planos de saúde cresceu um ponto percentual de 1998 a 2008, apesar da expansão da economia do país.

A população com plano era de 25% em 2008 ante 24% em 1998, segundo estudos preliminares do Centro de Políticas Públicas do Insper, baseado na Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) do IBGE.

"É surpreendente que não tenha aumentado o número de pessoas com plano, pois a renda familiar cresceu muito nos últimos anos. Ainda estudamos os fatores que possam explicar isso", afirma Naércio Menezes, coordenador do centro e professor do Insper e da USP.

A estagnação é creditada ao custo do serviço, em alta desde a criação da ANS, em 2000. "O rol de procedimentos mínimos [da agência] encarece os planos. Nem todos podem pagar", diz

Arlindo de Almeida, presidente da Abramge (associação de medicina de grupo, com 260 operadoras de saúde).

"Em números absolutos o setor cresce, mas não espanta que seja relativamente pouco, pois segue o nível de renda do emprego formal", diz Solange Beatriz Mendes, diretora-executiva da Fenasaúde, de operadoras e seguradoras de saúde.

A ANS, porém, aponta aumento de 30% nos planos privados de 2000 a 2009, alta que as associações creditam, em grande parte, à atualização de cadastros.

A diferença das medições ocorre porque a Pnad não separa planos públicos e privados e não exclui os odontológicos, entre outros fatores, segundo a agência.

A melhora do sistema público de saúde e o envelhecimento da população podem ter contribuído para a estagnação, segundo Mônica Viegas, da UFMG. "A alta da massa salarial pode não ter sido suficiente para aumentar o acesso à saúde."
Negócios possíveisUm dos protagonistas da novela da compra da Vivo, o presidente da Portugal Telecom, Zeinal Bava, participará das discussões do Encontro Empresarial Brasil-União Europeia, marcado para o dia 14, em Brasília. Bava discute as perspectivas dos negócios entre Brasil e União Europeia. O encontro é promovido pela CNI e por sua congênere Business Europe, que representa 40 federações industriais e 20 mil empresas de 34 países.
Cresce seguro para pessoas
O mercado de seguros para pessoas cresceu 17,4% em abril deste ano em relação ao mesmo mês de 2009, alcançando R$ 1,3 bilhão.

A expansão se deve ao aumento da renda da população, segundo Marco Antônio Rossi, presidente da Fenaprevi (Federação Nacional de Previdência Privada e Vida).

Outro fator é o aumento do crédito disponível no mercado, que impulsionou os seguros prestamistas -aqueles contratados para garantir prestações em caso de morte, invalidez ou desemprego-, segundo o executivo.

A Bradesco Seguros foi a líder do mercado em abril, com 16,6%. No mesmo mês de 2009, o primeiro lugar do ranking era do Itaú.

"O Brasil tem muito espaço para crescer. Somos muito almejados por empresas estrangeiras", diz Rossi.
Remediado
A farmacêutica americana Eli Lilly se prepara para direcionar seu foco aos mercados emergentes. No Brasil, o interesse está nas classes C e D, onde a empresa criou uma área de Alianças Estratégicas para a América Latina, que começou a funcionar ontem, sob a direção de Allan Finkel. O objetivo é buscar novas parcerias e modelos de negócios, o que pode incluir, no futuro, aquisições pontuais. "Primeiro, vamos buscar acordos com empresas que queiram desenvolver produtos aproveitando nossa expertise", afirma. A companhia também estuda novas estratégias de preços.

WASHINGTON NOVAES

Como se fôssemos rãs em água fervente
Washington Novaes 
O Estado de S.Paulo - 02/07/10


É mais do que oportuna a divulgação (Estado, 15/6) de estudo de várias instituições respeitadas (Inpe, Unicamp, Unesp, USP e Fapesp) segundo o qual a temperatura média na Região Metropolitana de São Paulo subirá entre 2 e 3 graus Celsius neste século. E com isso dobrará o número de dias com chuvas intensas (hoje, de duas a cinco por ano). O estudo dramatiza a necessidade de ações concretas nas zonas urbanas, para impedir, além dos deslizamentos de morros e encostas, a formação de ilhas de calor, que atraem os "eventos extremos". Questão aguda, quando o próprio estudo enfatiza que, se a expansão urbana continuar como hoje, em 2030 a mancha ocupada será o dobro da atual e 11% das ocupações humanas estarão em áreas com risco de deslizamento e mais de 20% em áreas sujeitas a enchentes e inundações.


Tudo isso reforça mais uma vez a necessidade de mudanças radicais em nossas políticas de mitigação (redução de emissões de gases poluentes) e de adaptação a mudanças climáticas. E estas, muito urgentes, exigem mudanças de padrões de construção urbana e rodoviários (pontes, viadutos, aterros, etc.); obrigatoriedade de manter nas zonas urbanas áreas permeáveis, que permitam a infiltração de água e reduzam inundações; leis para obrigar a retenção de água em cada imóvel, com a possibilidade de utilizá-la em descargas sanitárias e outros usos; proibição efetiva de ocupação de áreas de risco (30% da população paulistana, 2,7 milhões de pessoas, vive em cortiços, habitações precárias e comunidades ilegais, todos vulneráveis aos eventos climáticos); e muitas coisas mais.


Também é decisivo no momento em que as chuvas intensas em Alagoas e Pernambuco destroem cidades inteiras, rompem barragens, produzem dezenas de mortes, centenas de desaparecidos, mais de 150 mil desabrigados. Só neste ano, informou este jornal (24/6), 1.635 municípios (quase 30% do total) relataram "situação crítica causada por chuva ou seca". E no momento em que, dizem relatórios oficiais, menos de cem municípios têm alguma instituição capaz de cuidar da defesa civil.


Já perdemos muito tempo. Como está registrado por climatologistas da USP há muitos anos no Atlas do Verde e do Meio Ambiente (editado pela respectiva secretaria na capital paulista), a diferença de temperatura entre as áreas paulistanas que mais conservam a vegetação (Serra do Mar, Cantareira) e as áreas de ocupação industrial e trânsito mais intensos (como a Mooca) pode chegar a 6 graus. E estas "ilhas de calor" geradas pelo asfalto, por fábricas e edifícios atraem chuvas intensas. A consequência é que chove menos nas áreas de mananciais e reservatórios, onde a água seria benéfica, e chove mais nas áreas onde ela é problemática para o trânsito e provoca inundações. Mas há também uma consequência na distribuição temporal das chuvas: cai mais água de segunda a sexta-feira nas áreas de alta ocupação ? quando ela é mais problemática ? e menos nos fins de semana, quando o trânsito se reduz.


Mas as nossas políticas e nossas cidades terão também de chegar a alguma formulação em relação ao transporte urbano e às suas consequências para a saúde humana e o clima. Não dá para aceitar passivamente que a frota de veículos no País cresça 38% de 2000 para cá e chegue a 27,8 milhões, quando no mesmo período a população aumentou 12,7%. Da mesma forma, a frota de motocicletas, que cresceu no mesmo período 243% e chegou a 8,55 milhões. Que se espera que aconteça em matéria de trânsito, emissões e poluição? A má qualidade do ar urbano (Correio Braziliense, 27/10/2008) custa R$ 1 bilhão por ano na saúde. Só em 41 dias do ano a qualidade do ar foi adequada na Região Metropolitana de São Paulo (Estado, 6/3/2009). Seis em dez paulistas vivem em cidades saturadas por ozônio (18/8/2009). Nada menos que 3,5 mil pessoas morrem a cada ano no País por causa da má qualidade do ar (Envolverde, 23/4/2009). Na capital paulista são 20 por dia.


É certo que o Conselho Nacional do Meio Ambiente tornou obrigatória a inspeção anual de veículos e que o Estado de São Paulo está pondo em vigor uma política de mudanças climáticas, que visa a reduzir as emissões de gases poluentes em 20% (calculadas sobre as de 2005) até 2020. Também é certo que empresas começam a se empenhar em reduzir emissões e a promover um registro público voluntário das suas. Afinal, o Brasil já é o quarto maior emissor do planeta.


Mas é preciso muito mais, diante da gravidade da situação planetária em matéria de clima, como têm demonstrado tantos estudos e eventos recentes (mais de 2,5 milhões de desalojados na China). E ainda há poucos dias a Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos, depois de rever 1.322 estudos de cientistas que se dizem céticos quanto à influência de ações humanas no agravamento de mudanças climáticas, afirmou que as credenciais desses "céticos" são insuficientes para negar conclusões em contrário, do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas e outras instituições e outros cientistas. Precisamos de um esforço dramático ? que não está ocorrendo ?, diz o ex-secretário da Convenção do Clima Yvo De Boer. Porque o risco, diz ele, é de nos comportarmos como a rã que está na água e não percebe que ela se aquece; quando perceber, pode ser tarde. De Boer disse, entre muitas coisas, que a China não poderá continuar crescendo 8% ou 10% ao ano para estender o atual modelo a toda a sua população, porque as emissões serão insuportáveis. Da mesma forma, acentuou, como fazer se 5,4 bilhões de pessoas no mundo que vivem hoje com menos de US$ 10 (R$ 18) por dia querem ampliar seu consumo ? o que exigirá mais emissões nos formatos atuais?


"Teremos de aprender a viver consumindo menos recursos, para que todas as pessoas possam viver", alertou, no recente Fórum Global da Mídia, o diretor da Organização Meteorológica Mundial, Mannava Sivakumar. Não há como contestar.

JAPA GOSTOSA

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE

Menino do Rio 
Sonia Racy 

O Estado de S.Paulo - 02/07/2010

No fim da noite de segunda, Índio da Costa estava exausto. Surpreendido com o telefonema de Rodrigo Maia convidando-o para ser vice de Serra, o carioca fez só uma coisa antes de aceitar. "Liguei para minha namorada, Andrea", contou à coluna o pai de uma menina de seis anos, que vive com a mãe espanhola, sua ex-mulher, em Madri. Ainda tonto com a nova posição, admite estar consciente da mudança de vida e de cidade, caso o tucano se eleja .

O demista conhece Serra só de convenções e breves encontros. Mas diz admirar seu trabalho. É que na política, se considera um executivo, "um fazedor".
Nascido na zona sul do Rio, advogado de formação, Índio justifica sua opção pela profissão: "Quero ajudar a mudar a forma de se fazer política no Brasil". Pretende levar para a Presidência da República, por exemplo, o Ficha Limpa.

Muito ligado ao primo-irmão Luiz Octávio Índio da Costa, do Banco Cruzeiro do Su, cita como exemplo de vida, seu avô Luiz Simões Lopes, fundador da FGV e seu pai, Luiz Eduardo Índio da Costa, conhecido arquiteto com forte atuação em projetos públicos. "Cada um, à sua maneira, contribuiu para sociedade. Agora é minha vez."

Aos 39 anos, Índio da Costa estava se preparando para disputar a reeleição como deputado federal, de olho na Prefeitura do Rio. " Rumo alterado, vou me reorganizar em dez dias".
Recorrente
A British Airways foi a única empresa, entre brasileiras e estrangeiras, que ainda não se adaptou à resolução da ANAC, que exige transparência na divulgação das tarifas. A companhia mostra o preço do bilhete e só no final da compra inclui as taxas, como o adicional de combustível.

Anteontem, a companhia recebeu a oitava autuação. Cada multa pode chegar a R$ 10 mil.
Pasto
Os dirigentes da CBF estão espertos. Nada de misturar grama artificial e natural nos campos da Copa de 2014. A fórmula foi vendida para os sul-africanos como solução para gramados perfeitos. E o resultado não poderia ter sido pior.
Menestrel
Juca Chaves aceitou ser puxador de votos do PR paulista para Câmara dos Deputados. O trovador se prepara agora para compor suas marchinhas.
Dançando no poste
Alexandra Valença, a dançarina que apresentou "pole dance" em festa privê para Berlusconi em SP, trabalha para a Prefeitura. Ela é professora de dança do poste na subprefeitura da Lapa.

Aliás, a sub quer abrir aula da modalidade também para homens.
O poste
O Estado de São Paulo abriga uma das maiores comunidades italianas fora da Itália.

Mesmo assim - e isso foi registrado pelo Executivo estadual- Berlusconi foi incapaz de pedir uma audiência com o governador Alberto Goldman.
Literal
Chico Buarque deixou a orla carioca rumo a Paris.

Lá, se divide entre o futebol e a supervisão da tradução de Leite Derramado para o inglês batizado de...The Milk.
Dono da bola
Paulo Renato achou jeito de não ver sozinho, hoje, o jogo do Brasil. Distribui 60 ônibus escolares para 60 prefeitos logo depois da disputa. O telão na Secretaria da Educação está montado.
Tesoura
A Globo convidou e Wanderley Nunes aceitou. Comandará o júri de cabeleireiros na estreia de Ti Ti Ti, próxima novela das sete.
Lay-out
A bandeira estilizada de SP tem até amanhã para sumir da propaganda oficial do governo do Estado. O brasão fica. Exigência eleitoral.
Na frente
Alberto e Deuzeni Goldman recebem convidados para almoço campestre em meio ao Festival de Campos do Jordão. Domingo.

Henrique Meirelles disse sim. E participa do almoço-debate do LIDE para Dilma, segunda. No Hyatt São Paulo

É amanhã o recital de João Carlos Martins em prol do Instituto Vladimir Herzog. Na Sala São Paulo.

O documentário Pixote in Memoriam será exibido, dia 16, no Festival de Paulínia.

Lu Horta, do grupo Barbatuques, se apresenta hoje, no palco do Tom Jazz.
Abre domingo, no Museu Afro Brasil, a mostra Pérolas Imperfeitas, de David Glat.

A Latitudes lança, no fim de semana, um roteiro de viagem exclusivo para o Japão. Em parceria com a Casa do Saber e com a especialista Michiko Okano, referência na cultura nipônica.

Entre as piadas prontas relacionando o PSDB, índio e caciques, vai aqui a eleita campeã das infames. A de que Serra teve que esperar dois "Dias" para escolher seu vice: Osmar e Álvaro.

MERVAL PEREIRA

Crise fiscal 
Merval Pereira 

O Globo - 02/07/2010

Seja quem for que ganhe a próxima eleição, vai ter que encarar uma crise fiscal, especialmente se o cenário internacional piorar como está acontecendo. Qual o país do mundo em que o PIB cresce 7%, a receita cresce mais que o dobro disso, cerca de 18%, e o governo consegue gastar ainda mais, pois a despesa do governo cresceu 20%?

Isso quer dizer que os gastos governamentais estão crescendo três vezes mais que o PIB. Notícia perigosa, sobretudo porque esses gastos não são de investimentos, que são benéficos e podem ser controlados no futuro em caso de necessidade.

Mas estamos subindo gastos permanentes, e a receita não crescerá sempre nessa velocidade para sustentar os gastos, embora a candidata oficial Dilma Rousseff baseie suas propostas de reformulação do sistema tributário, com redução da carga tributária, na premissa de que a receita continuará crescendo devido ao crescimento do PIB.

Neste ano, ainda por cima, a receita está crescendo sobre uma base muito deprimida pela crise e, sobretudo, porque no início do ano passado a Petrobras, que é a maior contribuinte de impostos do país, estava fazendo truques contábeis para pagar menos impostos.

Estão pagando este ano o dobro do que pagaram ano passado.

Segundo estudo do economista Felipe Salto, da Consultoria Tendências, com o aumento de gastos no governo Lula, a dívida total do setor público no país chegará ao maior patamar dos últimos dez anos.

Em dezembro deste ano, o endividamento chegará ao recorde de R$ 2,2 trilhões, correspondente a 64,4% do PIB. Em 2000, a dívida era de 52,7% do PIB.

A herança do governo Lula para o seu sucessor foi aumentada por “empréstimos” que o Tesouro vem realizando com o BNDES desde o ano passado, por meio da emissão de títulos públicos.

O governo está usando o que considera ser uma permissão para gastar dada aos governos nacionais pela crise financeira que se abateu sobre o mundo a partir de setembro do ano passado, com a quebra do banco Lehman Brothers nos Estados Unidos.

A irresponsabilidade com que o equilíbrio fiscal vem sendo tratado nos últimos tempos parece ter, por parte dos mercados financeiros, uma “licença especial”, na certeza de que o próximo governo tomará as providências necessárias.

Um número que passa a ser observado com atenção, mesmo que não afete as estatísticas fiscais, é o da dívida bruta. O Ministério da Fazenda está usando o que o mercado identifica como “um truque” para repassar recursos aos bancos públicos sem aumentar a dívida líquida, este, sim, um número que o mercado financeiro acompanha, especialmente sua relação com o PIB.

Desde junho de 2008, o volume de crédito do BNDES, que era insignificante para as contas públicas, subiu bastante, ficando em torno de 5% do PIB.

A dívida pública bruta passou para 66,5% do PIB, e deve chegar a mais de 70% em 2010 com os novos repasses.

Países que têm investment grade como o Brasil possuem uma dívida bruta em torno de 40% do PIB, embora os Estados Unidos já tenham chegado aos 80%, devido às medidas que tomou por conta da crise.

Em consequência, a dívida líquida do setor público, que representava 61% do PIB em 2002, passou a 48,2% em 2005, e fechou o ano de 2009 em 42,8%.

Segundo levantamento do economista José Roberto Afonso, entre 2002 e 2009 as receitas do governo federal cresceram significativamente.

Passaram de 21,6% do PIB para 23,5% do PIB em 2009 — apesar do recuo verificado no último ano sob forte impacto da crise financeira global.

Ou seja, hoje o governo federal arrecada 1,9 pontos do PIB a mais do que arrecadava em 2009.

As despesas do governo aumentaram mais do que a receita. Em 2002, o governo federal gastava 19,5% do PIB, passando a gastar 22,3% em 2009.

Aumento de 2,76 pontos do PIB entre 2002 e 2009, que resultou num encolhimento do superávit primário do governo central (governo federal + Banco Central) de 0,9 ponto do PIB: em 2002, a economia do governo central, excluído o gasto com juros, foi de 2,17%, e caiu para apenas 1,25% em 2009.

A trajetória de alta das despesas é o fator responsável pelo déficit primário registrado pelo governo em maio, também na análise do economista da Tendências Consultoria Felipe Salto.

Segundo ele, o setor público não deve cumprir a meta integral de superávit primário de 3,3% do Produto Interno Bruto (PIB) este ano.

Na sua avaliação, o esforço fiscal deve alcançar 2,63% do PIB. Para não descumprir a Lei de Diretrizes Orçamentárias, o governo deve abater da meta cerca de 0,7% do PIB os gastos em investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

A CPI da Câmara dos Vereadores do Rio sobre a Merenda Escolar, cujo relatório final sugeria irregularidades nas licitações quando o candidato a vicepresidente na chapa de José Serra, deputado federal Indio da Costa, era secretário de Administração municipal, foi arquivada em 2008 por decisão do Ministério Público, que “não vislumbrou qualquer irregularidade em razão da empresa Milano ter vencido 75% do total do objeto licitado”. O Ministério Público acatou análise do Tribunal de Contas.

CICLISMO: VOLTA DA FRANÇA

PAINEL DA FOLHA

Tempo de tela 
Renata Lo Prete 

Folha de S.Paulo - 02/07/2010

Além da bateria de propagandas do PSDB e de aliados na televisão e no rádio, a nova pesquisa Datafolha capturou o efeito do aumento da exposição do eleitor a entrevistas e sabatinas. Em junho, 30% dos entrevistados disseram ter visto alguma entrevista de José Serra (PSDB) -eram 25% em maio. Outros 43% afirmaram já tê-lo visto nessa situação durante o ano.

No caso de Dilma Rousseff (PT), que passou um período em viagem à Europa e evitou alguns debates e sabatinas, 25% dizem ter conhecimento de suas entrevistas neste mês -caiu dois pontos em relação a maio. O total da candidata de Lula no ano é de 37%.
Imersão Depois de uma rápida passagem pelo Rio, hoje, o recém-indicado vice de Serra, Indio da Costa (DEM-RJ), desembarca no fim de semana em São Paulo para conhecer o staff da candidatura tucana. O "demo" recebeu ontem a incumbência de coordenar a campanha do tucano no Rio.
Cola Sentado na primeira fileira da sabatina de Serra ontem na CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), Indio anotou cada frase do candidato.
Sujeira pesada O DEM, que bateu bumbo para o envolvimento de Indio no projeto da Ficha Limpa, decidiu não lançar candidato próprio no Distrito Federal e apoiar Joaquim Roriz (PSC), cuja ficha ameaça torná-lo inelegível à luz da nova lei. O "demo" Alberto Fraga concorrerá ao Senado na chapa.
Uniformizada A primeira-dama, Marisa Letícia, telefonou ontem para Dilma Rousseff e convidou a candidata do PT a assistir a Brasil x Holanda no Palácio da Alvorada, com Lula & Cia.
Em marcha Se o Brasil for à semifinal da Copa, na terça, Dilma remarcará para o dia seguinte a caminhada pelo centro paulistano que marcará o início da fase oficial de sua campanha.
Deixa estar Antes mesmo de o presidente do TSE ter suspendido a decisão que, na prática, impõe a verticalização das alianças via propaganda, os candidatos governistas foram orientados a não mexer nas coligações que eventualmente pudessem ser questionadas.
Troco Na próxima semana, deputados e senadores vão conversar com Ricardo Lewandowski. Dirão que, se o TSE não recuar em agosto, o Congresso poderá votar decreto derrubando a decisão.Acerto Advogados chegaram a negociar entre si um "jeitinho", no qual todos manteriam o apoio dos partidos aos candidatos, mas sem fechar a coligação no papel.
Transição 1 Em reunião ontem com o presidente do STF, Cezar Peluso, e do TSE, Ricardo Lewandowski, Lula disse que não vê como tratar do aumento reivindicado pelo Judiciário federal ainda em seu mandato, pois geraria impacto para o sucessor.
Transição 2 O presidente se comprometeu a chamar o eleito para reunião com ele, Peluso e Lewandowski, encaminhando depois a solução acordada nesse encontro. Por ora, o ministro Paulo Bernardo (Planejamento) receberá os grevistas para tentar colocar fim à paralisação.
Visita à Folha O coronel Alvaro Batista Camilo, comandante-geral da Polícia Militar de São Paulo, visitou ontem a Folha. Estava com o coronel Marco Antonio Augusto, chefe do Centro de Comunicação Social da PM, a tenente-coronel Maria Aparecida de Carvalho Yamamoto, subchefe, e o capitão Arthur Alvarez de Souza.
Tiroteio
 O vice do Serra já entrou na campanha mentindo: o relator do Ficha Limpa foi o deputado do PT José Eduardo Cardozo.
Contraponto
#PIBfeelings 
 Comentário entusiasmado do ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, no Twitter:

-Se economia crescer 7,3% em 2010, como prevê o BC, será crescimento médio anual de 4% entre 2003 e 2010. Expansão de 37% nos oito anos de Lula.

O presidente do PPS, Roberto Freire, responde:

-Você sabe qual foi o crescimento da China nesse período.Talvez duas a três vezes o do Brasil de Lula.

Volta Paulo Bernardo:

-E você sabe que a média de Lula é quase o dobro do crescimento ocorrido no período FHC, certo?

LUIZ GARCIA

Sobre vices
LUIZ GARCIA
O GLOBO - 02/07/10
O cargo de vice-presidente da República tem importância singular nas democracias modernas.

Nos Estados Unidos, foi cunhada, já há muito tempo, uma expressão curiosa: o que o separa do poder é “uma batida de coração”. Se as coronárias do titular não falharem, poder nenhum; se fizerem uma falseta com o presidente, poder absoluto.

Já no Brasil, onde não existem apenas dois partidos, e as eleições dependem de toda sorte de alianças, a força do vice varia muito. Pode ser herdeiro ambicioso, pode ser aliado eventual, destinado a ser vice e mais nada. Como acontece com o atual, que exerce, com impecável ausência de ambição, o papel de herdeiro apenas presuntivo e mais nada.

Na próxima Copa, perdão, na próxima sucessão, a oposição parece que vai inovar.

Pela primeira vez na história da República, um candidato a vice parece que será um político relativamente jovem, muito mais moço que o cabeça da chapa: o deputado Indio da Costa. Curiosamente, escolhido pelo DEM/ex-PFL, partido comumente associado a valores e comportamentos “da antiga”, como se dizia antigamente.

Cesar Maia é um político com biografia, se permitem, ambígua. Foi muito bom prefeito do Rio, foi muito ruim prefeito do Rio. Uma das coisas boas que fez foi entregar administrações regionais a um bando de garotos, sem vícios nem experiência — e muitos deles foram em frente. O deputado Indio da Costa foi um deles.

Sei lá se ele tem ou não dívida de gratidão com Cesar Maia, mas herdeiro dele certamente não é; seu comportamento na esfera municipal foi criticado, e continua sendo, por muita gente boa, mas como deputado federal parece ter amadurecido bastante. Por exemplo, foi personagem importante na aprovação da lei contra candidatos de ficha suja.

Quem entende dessas coisas diz que na avaliação de qualquer político o que vale mesmo é a biografia recente.

Se for verdade, talvez Indio seja o personagem certo para essa experiência nova que está caindo no seu colo. Podemos ter um vice com fome de bola, mas jovem o bastante para saber a hora e a maneira certas de comer a bola. Tudo no bom sentido, naturalmente.

São hipóteses talvez prematuras: pode ser cedo para se dizer se Serra e o PSDB vão seguir em frente com a proposta do ex-PFL. Ou se o próprio ex-PFL insistirá nela.

Mas, pelo andar da carruagem, uma coisa parece certa: ninguém nessa turma está interessado num candidato a vice com jeito de mordomo de filme de terror.

GOSTOSAS

MÍRIAM LEITÃO

Nós e o mundo 
Miriam Leitão 

O Globo - 02/07/2010

A crise europeia não atinge o Brasil porque o comércio exterior brasileiro é uma parte pequena do PIB, portanto o canal de transmissão não é relevante.

Só afetará se houver uma crise financeira. É o que acha o economista Alexandre Schwartsman, do banco Santander. Para o economista Armando Castelar, o crescimento sustentado não está garantido por uma questão aritmética.

Entrevistei os dois ontem na Globonews sobre economia mundial e brasileira.

O mundo oscila com incertezas e quedas, enquanto isso o Brasil está com um crescimento forte. Ontem saiu um dado que parece ruim mas não assusta ninguém: a produção industrial zero em maio.

— Foi apenas uma pequena parada. A produção cresceu muito no primeiro trimestre. A expectativa é que a indústria continue bastante forte. O setor de bens de capital foi o que sofreu mais e agora tem uma recuperação mais forte, no ano deve fechar com alta de 20% em relação ao ano passado — explicou Armando Castelar.

Ele acha que essa desaceleração é bem vinda, até porque o crescimento da demanda doméstica no primeiro trimestre foi de 12%.

No mundo, o debate é se é hora de manter os estímulos econômicos ou cortar o déficit público. Alexandre acha que a questão essencial é o timing desse ajuste. Acha natural que se dê estímulos às economias ainda fracas, mas se houver um comprometimento com queda maior do déficit, a recuperação será mais fácil. Portanto, não há um conflito entre as duas fórmulas: — O país tem que se comprometer, criar as regras, para que o mercado saiba que num período de dois ou três anos o déficit será reduzido.

Fazendo isso, o país tem o melhor dos dois mundos, mantém o estímulo, mas fortalece a confiança dando um horizonte para a queda dos gastos. Alguns países como Grécia, Itália não têm a alternativa. Têm que cortar agora para evitar o pior. Estados Unidos, Alemanha, Inglaterra e em certa medida a França têm a opção de manter os estímulos agora, projetando cortes no futuro.

A economia mundial estava se recuperando, aí a Europa entrou em crise, e agora há sinais de desaceleração em outras economias. A dúvida é se estamos indo para um segundo mergulho. Armando Castelar acha que há sim esse risco: — O risco existe. A economia mundial tem um problema sério que é a falta de demanda privada, as famílias estão muito endividadas tanto nos Estados Unidos quanto na Europa. Isso não mudou.

Acho que o mundo vai crescer muito pouco, não apenas a Europa. Nos Estados Unidos, os dados imobiliários americanos mostram queda a partir de abril; a China e a Índia já estão com sinais de desaceleração. O que vem sustentando o crescimento mundial são os emergentes e até eles começam a ter sinais revisados para baixo. O cenário do novo mergulho não é o mais provável, mas há o risco.

Alexandre acha que o Brasil poderia ser afetado pelo canal do comércio, mas o fato de o Brasil importar e exportar pouco, 11% a 12% do PIB, reduz os riscos: — O risco de o país ser afetado aumentaria se houvesse uma crise financeira como aconteceu após a quebra da Lehman. Não é o cenário mais provável. Uma crise financeira afeta o crédito que atinge a demanda doméstica, que é importante para o crescimento brasileiro.

O Brasil está razoavelmente isolado disso.

Mesmo com o aumento do custo de se carregar dívida dos países europeus, que é o grande ativo dos bancos da Europa, Alexandre não acha que possa haver essa crise financeira. Ele acredita que só um evento traumático, como um calote de um dos países, é que poderia criar uma crise.

Armando acha que dificilmente a Grécia escapa de um calote. A torcida é para que seja uma reestruturação negociada da dívida, em vez de uma ruptura com os credores: — A Grécia acabará fazendo uma reestruturação da dívida que, na verdade, é um calote. Inevitável. Não deu um calote até agora porque tem déficit primário, ou seja, até para pagar as contas que não são juros ela precisa ser financiada.

Ela tem sido financiada porque os grandes detentores da dívida grega, além dos banco gregos, são os bancos franceses e alemães. Com uma divida que está indo para 150% do PIB, ela teria que gerar superávits de 6% a 7% só para pagar juros. É inviável.

A situação dos bancos europeus vai continuar ruim por muito tempo, porque os bancos são os que carregam as dívidas dos países.

Armando acha que o crescimento sustentando do Brasil não está garantido: — É uma questão aritmética.

Precisaria investir 23% do PIB para crescer 5,5%.

Está investindo 18%, com uma poupança de 16% e já tem déficit em conta corrente.

Para investir 23% com 16% de poupança, teria que ter um déficit externo de 7%.

O que é inviável. A literatura é clara sobre isso: é preciso aumentar a poupança do setor público, o que significa reduzir o gasto. Nós estamos fazendo o oposto: aumentando o gasto corrente.

Alexandre alerta também para o risco BNDES. O balanço do banco será de 12% a 13% do PIB e a contrapartida disso é uma expansão da dívida. Lembra que o governo está emprestando a um custo menor do que se financia. Com o aumento do volume dessas operações, o gasto aumenta. Ele diz que isso não é razoável.

ANCELMO GÓIS

BP de castigo
ANCELMO GÓIS
O GLOBO - 02/07/10


O comando da BP no Brasil esteve ontem no Ministério das Minas e Energia fazendo uma exposição sobre o desastre ambiental no Golfo do México, causado por uma plataforma sua.
Agora, aguarda o sinal verde da ANP para assumir dez blocos exploratórios que comprou da Davon, sete deles na Bacia de Campos, inclusive no pré-sal.

O QUE SE DIZ
A agência deve aprovar. Mas sem pressa. Examina item por item.
É uma espécie de recado à BP para andar nos eixos por aqui.

SACK’S & LOUIS VUITTON
A LVMH, leia-se Louis Vuitton, adquiriu 70% da brasileira Sack’s, perfumaria virtual com 4 milhões de visitantes por mês, por pelo menos R$ 350 milhões.
O negócio marcará a entrada no Brasil da Sephora, líder de venda on-line nos EUA, que também é da LVMH, e pelo plano, ganhará lojas físicas aqui.

FILHO DO IBOPE
A Sack’s foi criada em 2000 por Carlos André Montenegro, 31 anos, com R$ 50 mil emprestados pelo pai, Carlos Augusto Montenegro, do Ibope. André e outros sócios, donos de 30%, vão tocar a empresa.

NO MAIS 
Impressiona como bacanas de São Paulo disputam no tapa a companhia de Dilma Rousseff.
Segunda, a candidata petista almoça com um grupo de empresários liderados por João Dória Jr., um dos fundadores, em 2007, do movimento “Cansei”, que parecia uma insurreição de vips contra o governo.

A NOSSA JABULANI 
João Bosco, mestre da música e apaixonado pelo futebol, sugere um nome para a bola da Copa de 14: Tanajura.
– É redondinha, cheinha que nem uma bola e, pelo menos em Minas, é sinônimo de bunda.
Faz sentido.

OUTRA... 
Todas as contas abertas no Banco do Brasil no Sul e no Sudeste agora vão dar origem a formulários eletrônicos. Assim, o banco deve reduzir em 15 milhões por ano as cópias de documentos. Só para armazenar esta papelada seriam necessários 13 mil novos armários.

E MAIS 
Eike Batista está apaixonado pelo Twitter.
Ontem, ele se gabava de, com seus pouco mais de 44 mil seguidores, ter superado o presidente da Rússia, Dmitri Medvedev, que mobilizou quase 31 mil internautas.

FORA DA HORA 
A Procuradoria Regional Eleitoral entrou com representação no TRE contra Eduardo Paes por propaganda eleitoral fora do período previsto na lei. O prefeito carioca, ao inaugurar uma UPA na Cidade de Deus, dia 31 de maio, teria pedido votos para Cabral e Dilma.

PULSEIRA ASSASSINA 
A Escola Britânica, no Rio, proibiu o uso daquelas pulseiras “bate-enrola”, vendidas nas cores verde e amarela, que fazem a festa dos camelôs na Copa.
É que outro dia, o arame que fica dentro do plástico rasgou a perna de um aluno, que levou 20 pontos na perna.

CEGONHA
O técnico Parreira é vovô novamente. Nasceu anteontem, na Perinatal, Isabela, filha de Danielle Parreira com Reginaldo Cavalcanti.