REVISTA VEJA
Atribui-se a Philip L. Graham, quando presidente do jornal Washington Post, a descrição mais acertada da atividade jornalística: "A correria da imprensa torna inevitável que as reportagens tenham certo grau de superficialidade. Não está ao nosso alcance nem é a nossa praia dar a palavra final. Nós fazemos o primeiro rascunho da história. É uma tarefa extraordinária". Isso não exime a imprensa de apurar os fatos com todo o rigor possível. O esboço preliminar da história de que fala Graham precisa ser sempre o resultado da busca honesta e desprendida da verdade.
Com suas reportagens investigativas, VEJA, há 46 anos, faz revelações que, sem a pretensão de ser abordagens definitivas, constituem, sem dúvida, valiosos primeiros passos para a elucidação de fatos da maior relevância para a vida nacional. Incontáveis vezes, a revista forneceu, a pedido do Ministério Público, gravações, vídeos, fotografias, documentos, anotações obtidas por seus repórteres durante a apuração de casos de corrupção. Em inúmeras circunstâncias, reportagens de VEJA foram tomadas como base para a abertura de inquéritos e até de comissões parlamentares de inquérito no Congresso Nacional.
Na semana passada, nosso orgulho profissional foi lustrado, mais uma vez, com a divulgação da sentença em que o juiz Sergio Moro, responsável pela Operação Lava-Jato, condena Nestor Cerveró, ex-diretor da Petrobras, a cinco anos de cadeia pelo crime de lavagem de dinheiro. Moro relata que o fato foi "revelado originariamente" por VEJA e se refere a reportagem de autoria de Thiago Prado, jornalista da sucursal da revista no Rio de Janeiro. Em duas reportagens, uma de setembro de 2014 e a outra de janeiro de 2015, Thiago revelou, com documentos e apuração primorosa, as transações financeiras suspeitas que, confirmadas e aprofundadas pelos investigadores, levaram Cerveró à cadeia.
Ao lavrar a sentença, o juiz Moro reconheceu de maneira inequívoca os méritos dos "rascunhos da história". Ele diz que o jornalismo investigativo "não é um mal a ser censurado", por dar "vitalidade à imprensa livre" e permitir "maior controle dos governantes pelos governados". Conclui Moro: "Na história brasileira, há diversos exemplos de casos criminais relevantes e posteriormente submetidos às cortes de Justiça que tiveram seu impulso inicial ou receberam auxílio posterior em publicações da imprensa".
segunda-feira, junho 01, 2015
Não há crimes no paraíso - LUIZ FELIPE PONDÉ
FOLHA DE SP - 01/06
O filme Crimes Ocultos (em cartaz nos cinemas), de Daniel Espinosa, deveria ser visto por todos os alunos que escutam bobagens da boca de seus “professores de humanas” sobre o socialismo.
Antes, um reparo. Estou longe de achar que a sociedade de mercado seja um docinho de coco. Pelo contrário, concordo com o sociólogo americano Daniel Bell em seu primoroso The Cultural Contradictions of Capitalism.
Nessa obra, Bell deixa claro como as virtudes que produziram o capitalismo – a saber, autorresponsabilidade, contenção do desejo imediato, poupança, dignidade pensada como fruto do trabalho pessoal – estão em crise por conta de toda uma geração mimada, narcisista e consumista que nasceu da própria riqueza capitalista.
Entretanto, a sociedade de mercado continua sendo a única forma conhecida de produção de riqueza social e de preservação da autonomia individual, ainda que não devamos ser os otimistas ingênuos que acham que o mercado “cura” tudo.
Tampouco a direita fascista, homofóbica, escrota, serve. É um lixo. Dito isso, vamos ao que interessa.
Crimes Ocultos é uma aula de história sobre a URSS, tão necessária contra as mentiras dos socialistas brasileiros. Na época, anos 1950, a esquerda já era mau caráter e já mentia sobre a URSS. Mas quero pontuar uma questão específica que aparece no filme.
Crimes Ocultos narra a história de um oficial da polícia política socialista, a versão comunista da Gestapo, que investiga um serial killer que matava crianças. O governo stalinista negava que existissem homicídios na URSS porque isso era coisa do mundo podre capitalista.
Sendo assim, os superiores do herói recusam a investigação sob a rubrica stalinista de que “não há crimes no paraíso”, leia-se, no socialismo. Ao final, fica claro como um serial killer era quase “um detalhe menor” no absurdo que era o mundo socialista real.
Qual a questão específica que quero pontuar no filme? É a seguinte: a “versão oficial” que o policial é obrigado a aceitar ao final, para criar um departamento de homicídios na polícia, é que todo e qualquer homicídio na União Soviética seria fruto da contaminação do paraíso socialista pela política do mundo capitalista. Não fosse por essa contaminação, não haveria crimes no paraíso socialista.
Voltemos ao Brasil hoje. Não vou falar de política propriamente dita, vou falar da modinha que muitos psicanalistas e associados hoje em dia pregam por aí, a saber, que “a verdadeira clínica é a política”.
Ou, o que é a mesma coisa, que a diagnostica, a ciência que organiza os padrões etiológicos (causas) da psicopatologia, deve ser mudada para que aspectos políticos e sociais tenham espaço na determinação dos sintomas.
Sei que o negócio é complicado, mas, trocando em miúdos, é o seguinte: os sintomas seriam fruto da ordem social injusta do capitalismo. Se mudarmos essa ordem via uma política socialista, muitas doenças desapareceriam.
Ou seja, segundo esses neostalinistas (envergonhados de confessar seu amor bandido pela sociedade totalitária), com o socialismo não teríamos pânicos, impotências, depressões e quadros afins.
Gostaria de ver uma conversa entre Slavoj Zizek (o guru dos neostalinistas tupiniquins), grande representante desse lacanismo meia boca que põe a “culpa” da psicopatologia no capitalismo, e os superiores do policial em Crimes Ocultos.
Dizer que homicídios são fruto da sociedade doente capitalista, sujando o paraíso socialista, é a mesma coisa que dizer que a verdadeira clínica é a política.
Stalin dizia que o capitalismo gera assassinos, a trupe neostalinista afirma que o capitalismo gera quadros clínicos que noutra ordem deixariam de existir.
Ou seja: a política socialista cura o mundo das psicopatologias capitalistas.
Num mundo em que essa trupe mandasse (“sem porcos capitalistas e indústrias farmacêuticas”), quando deprimidos e afins continuassem a aparecer, eles iriam pôr a culpa em traidores que mantinham sua vida “promíscua” com as desigualdades do capitalismo. O problema da esquerda não é político, é de caráter.
Cerveró, use a máscara de Dilma - GUILHERME FIUZA
REVISTA ÉPOCA
Nestor Cerveró, o ex-diretor da Petrobras que ficou famoso por proibir máscaras de Carnaval com sua estampa, foi condenado a cinco anos de prisão. Por quê? Porque usou propina do petrolão para comprar um apartamento em Ipanema. A pergunta que o gigante adormecido se recusa a fazer é: não pode usar propina do petrolão para comprar apartamento, mas pode para se eleger presidente do Brasil?
A resposta é: pode, mas não pode. Uma resposta estranha. Não pode, porque o tesoureiro afastado do PT João Vaccari Neto está preso sob acusação, entre outras, de injetar propinas do petrolão na campanha de Dilma Rousseff. E pode porque a presidente supostamente beneficiada pela propina não é sequer investigada. Pois bem: após a torrente de evidências levantadas pela Operação Lava Jato sobre formação de caixa para o PT a partir da corrupção na Petrobras, Ricardo Pessoa, o homem-bomba das empreiteiras, solta a língua. Pagou R$ 7,5 milhões à campanha presidencial de Dilma em 2014 para não perder negócios com a Petrobras.
Essa revelação, feita em regime de delação premiada, expõe de forma contundente o esquema de sangria da maior empresa brasileira em favor do partido governante. Um detalhe: as informações obtidas pela justiça por meio das delações premiadas são a base do balanço oficial auditado da Petrobras, no item das perdas com corrupção. A bomba de Ricardo Pessoa deve, portanto, ensejar no mínimo a abertura de investigação sobre a legitimidade do mandato presidencial de Dilma Rousseff - obtido em circunstâncias que levaram à prisão o então tesoureiro do PT.
Só que não... Numa sinfonia tipicamente brasileira, onde as verdades dançam conforme o DJ do comício, um pas de deux entre o Ministério Público Federal e o Supremo Tribunal Federal celebra o milagre da inocência de Dilma. Abobado como sempre, o Brasil assiste aos rodopios jurídicos dos bufões oficiais e murmura para si mesmo: "É, não tem como investigar a presidenta...".
Pobre país. Tem seus espasmos de protesto, mas não sabe nem o que escrever na cartolina. O STF é transformado em sucursal do PT, com ninguém menos que Dias Toffoli - o juiz de estrelinha - presidindo o processo da Lava Jato, e o Brasil indignado passa lá longe gritando contra a corrupção (sabe-se lá qual). Deve ser glorioso você fazer toda uma carreira de bajulação a Lula e companhia, tornar-se feliz para sempre na corte suprema e assistir tranquilo pela TV aos protestos cívicos. Deve distrair mais do que novela.
Agora Nestor Cerveró, diretor de negociatas e facilitador da sucção petista, é condenado na Lava Jato sem uma gota sequer de respingo no Palácio. Protagonista do escândalo de Pasadena, uma das refinarias que encobriram desfalques bilionários na Petrobras, ele concretizou o negócio a quatro mãos com Dilma, a inocente. A decisão bizarra foi assinada por ela, como presidente do Conselho de Administração da companhia — em 2006, quando o esquema do petrolão já tinha três anos de peripécias montadas por prepostos do PT, coincidentemente o partido de Dilma. A presunção de inocência dela já fez o apresentador inglês John Oliver cair na gargalhada. Deve ser engraçado mesmo, para quem vê de fora. Se Cerveró usasse a máscara carnavalesca de Dilma, estaria livre.
E eis que o governo popular é condenado pela Comissão de Valores Mobiliários por fazer uso político da Eletrobrás — lesando a companhia com seu artifício esperto de baixar a tarifa de energia no grito. Eletrobrás e Petrobras depenadas pela administração Dilma Rousseff, através de expedientes ilícitos para a compra de poder político com o dinheiro do povo. Os sucessivos rombos administrativos são maquiados com as pedaladas fiscais — crime de responsabilidade. E o colapso nas contas públicas é remediado com aumento de impostos e cortes que não arranham a burocracia estatal partidária.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso declarou, a respeito do ajuste fiscal, que o governo petista está pagando seus pecados. Não é verdade. Quem está pagando os pecados do governo petista são os contribuintes. E os companheiros continuarão pecando alegremente até que o Brasil acorde da anestesia — e exija a única medida realmente saneadora à disposição no momento: a investigação de Dilma e Lula.
Nestor Cerveró, o ex-diretor da Petrobras que ficou famoso por proibir máscaras de Carnaval com sua estampa, foi condenado a cinco anos de prisão. Por quê? Porque usou propina do petrolão para comprar um apartamento em Ipanema. A pergunta que o gigante adormecido se recusa a fazer é: não pode usar propina do petrolão para comprar apartamento, mas pode para se eleger presidente do Brasil?
A resposta é: pode, mas não pode. Uma resposta estranha. Não pode, porque o tesoureiro afastado do PT João Vaccari Neto está preso sob acusação, entre outras, de injetar propinas do petrolão na campanha de Dilma Rousseff. E pode porque a presidente supostamente beneficiada pela propina não é sequer investigada. Pois bem: após a torrente de evidências levantadas pela Operação Lava Jato sobre formação de caixa para o PT a partir da corrupção na Petrobras, Ricardo Pessoa, o homem-bomba das empreiteiras, solta a língua. Pagou R$ 7,5 milhões à campanha presidencial de Dilma em 2014 para não perder negócios com a Petrobras.
Essa revelação, feita em regime de delação premiada, expõe de forma contundente o esquema de sangria da maior empresa brasileira em favor do partido governante. Um detalhe: as informações obtidas pela justiça por meio das delações premiadas são a base do balanço oficial auditado da Petrobras, no item das perdas com corrupção. A bomba de Ricardo Pessoa deve, portanto, ensejar no mínimo a abertura de investigação sobre a legitimidade do mandato presidencial de Dilma Rousseff - obtido em circunstâncias que levaram à prisão o então tesoureiro do PT.
Só que não... Numa sinfonia tipicamente brasileira, onde as verdades dançam conforme o DJ do comício, um pas de deux entre o Ministério Público Federal e o Supremo Tribunal Federal celebra o milagre da inocência de Dilma. Abobado como sempre, o Brasil assiste aos rodopios jurídicos dos bufões oficiais e murmura para si mesmo: "É, não tem como investigar a presidenta...".
Pobre país. Tem seus espasmos de protesto, mas não sabe nem o que escrever na cartolina. O STF é transformado em sucursal do PT, com ninguém menos que Dias Toffoli - o juiz de estrelinha - presidindo o processo da Lava Jato, e o Brasil indignado passa lá longe gritando contra a corrupção (sabe-se lá qual). Deve ser glorioso você fazer toda uma carreira de bajulação a Lula e companhia, tornar-se feliz para sempre na corte suprema e assistir tranquilo pela TV aos protestos cívicos. Deve distrair mais do que novela.
Agora Nestor Cerveró, diretor de negociatas e facilitador da sucção petista, é condenado na Lava Jato sem uma gota sequer de respingo no Palácio. Protagonista do escândalo de Pasadena, uma das refinarias que encobriram desfalques bilionários na Petrobras, ele concretizou o negócio a quatro mãos com Dilma, a inocente. A decisão bizarra foi assinada por ela, como presidente do Conselho de Administração da companhia — em 2006, quando o esquema do petrolão já tinha três anos de peripécias montadas por prepostos do PT, coincidentemente o partido de Dilma. A presunção de inocência dela já fez o apresentador inglês John Oliver cair na gargalhada. Deve ser engraçado mesmo, para quem vê de fora. Se Cerveró usasse a máscara carnavalesca de Dilma, estaria livre.
E eis que o governo popular é condenado pela Comissão de Valores Mobiliários por fazer uso político da Eletrobrás — lesando a companhia com seu artifício esperto de baixar a tarifa de energia no grito. Eletrobrás e Petrobras depenadas pela administração Dilma Rousseff, através de expedientes ilícitos para a compra de poder político com o dinheiro do povo. Os sucessivos rombos administrativos são maquiados com as pedaladas fiscais — crime de responsabilidade. E o colapso nas contas públicas é remediado com aumento de impostos e cortes que não arranham a burocracia estatal partidária.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso declarou, a respeito do ajuste fiscal, que o governo petista está pagando seus pecados. Não é verdade. Quem está pagando os pecados do governo petista são os contribuintes. E os companheiros continuarão pecando alegremente até que o Brasil acorde da anestesia — e exija a única medida realmente saneadora à disposição no momento: a investigação de Dilma e Lula.
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