O GLOBO - 13/10
A situação do grupo de Vilma e Mula era insustentável. Havia podridão para todo lado, e a gestão temerária fazia a empresa sangrar uma verdadeira hemorragia
Brasilis era uma empresa cheia de potencial, mas muito mal administrada. Tinha um orçamentogigantesco, que se perdia num imenso mar de desvios e corrupção, além de incompetência. Gerida há mais de uma década por um grupo totalmente incapaz, ela afundava em uma grave crise financeira, com risco até de ir à falência.
Foi quando um gerente, Edvaldo Alcunha, resolveu enfrentar a turma no comando. Como ele liderava os demais gerentes, tinha um grande poder e passou a ser a pedra no sapato dos executivos. Começou a embarreirar projetos e a ameaçar até mesmo com um pedido de demissão da presidenta, Vilma Youssef. Tornou-se a verdadeira oposição ao grupo no controle da empresa.
Como tinha um monte de parasitas que viviam das benesses da companhia, em troca de falar bem dela por aí, a reação foi imediata. Toda a fúria dos dependentes da Brasilis se voltou contra Alcunha. Eles nunca reclamaram da falta de ética dos executivos, dos escândalos que eclodiram em quantidade e magnitude jamais vistas. Mas viraram os paladinos da Justiça quando souberam que Alcunha tinha roubado um chocolate da diretoria!
Fizeram protestos pedindo a cabeça de Alcunha, em nome da ética. Onde já se viu, desviar um chocolate? Alguns tentaram argumentar que aqueles acima de Alcunha tinham desviado umas cem fábricas de chocolate inteiras, e que a prioridade dos justiceiros estava um tanto desfocada. Em vão: aquela gente não queria saber de coerência, apenas dos “pixulecos”. Alcunha precisava sair, para que Vilma pudesse continuar, com toda a trupe de bandoleiros atrás.
Alguns gerentes e até diretores, percebendo que a empresa perderia todos os clientes se continuasse assim, passaram a pedir a cabeça de Vilma, a lutar por sua demissão. Ainda que, para tanto, tivessem que se unir taticamente a Alcunha. Era o mal menor no momento. Afinal, qual o sentido de perseguir o ladrão de galinha e deixar solto o mafioso? Todos os criminosos merecem punição, sem dúvida, mas como explicar aos filhos a escolha bizarra dessas prioridades?
A controladoria acabou preparando um relatório sobre as contas da empresa na gestão de Vilma, e o resultado foi chocante: trilhões de reais haviam sido desviados em “pedaladas”, ou seja, foram jogados para baixo do tapete para não aparecer nos balanços, o que necessitaria da aprovação do Conselho. Vilma alegou que o dinheiro serviu para comprar lanche para os filhos dos funcionários, mas foi pouco convincente. Todos sabiam que ela tinha comprado mesmo era apoio para continuar no comando da empresa.
No mais, o ex-presidente Louis Acácio da Silver, mais conhecido como Mula, passou a levar uma vida de nababo, o que levantou inúmeras suspeitas. Ele continuava influenciando a gestão de Vilma, e passou a vender serviços de “consultoria” para outras empresas, como a Old & Beth, amealhando verdadeira fortuna. Só era visto em jatinhos particulares ou tomando vinhos caríssimos. Um ex-diretor importante, seu braço-direito Josué Liceu, acabou preso, acusado de roubo na empresa.
A situação do grupo de Vilma e Mula era insustentável. Havia podridão para todo lado, e a gestão temerária fazia a empresa sangrar uma verdadeira hemorragia. Só dava vermelho no balanço. A bancarrota era um fantasma que se aproximava rapidamente. Todos os funcionários e acionistas estavam apavorados, vendo a desgraça chegando mais perto. Os serviços prestados pela Brasilis ficariam ainda piores, e muitos perderiam seus empregos. Ninguém conseguia imaginar mais três anos de gestão Vilma, prazo para terminar seu contrato.
Foi nesse contexto que Alcunha virou quase um herói para todos que desejavam a recuperação de Brasilis. Sim, eles sabiam que o homem não era flor que se cheira. Sabiam do caso do chocolate roubado. Mas quando pesavam os prós e os contras, e avaliavam o que estava em jogo, Alcunha passava a ser um instrumento necessário para impedir a completa destruição da empresa. Sem ele no caminho da máfia de Vilma, tudo estaria perdido. Brasilis seria em pouco tempo como a Vuvuzela, empresa vizinha que beijara a lona de vez.
Drástico o quadro dos que queriam salvar Brasilis. Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. Os mais lúcidos coçavam a cabeça perplexos, pensando em como foi possível terem colocado Vilma no comando para começo de conversa. Uma presidenta que queria estocar vento, louvar a mandioca, e que não tinha meta alguma, mas queria dobrá-la assim mesmo. Se Alcunha fosse a única saída, paciência. Por trás de toda criança há sempre um cachorro oculto...
Rodrigo Constantino é economista e presidente do Instituto Liberal
terça-feira, outubro 13, 2015
Diplomacia pobre - JOSEF BARAT
O Estado de São Paulo - 13/10
Sendo o Brasil um país pobre do ponto de vista material, é natural que a atenção de estudiosos se volte para a pobreza. Trata-se de entender uma sociedade extremamente desigual, onde há ilhas de riqueza em meio à pobreza generalizada. Porém, surpreende a fascinação pela pobreza, sem termos tido, por séculos, a contrapartida de medidas objetivas, consistentes e duradouras para superá-la. Isso porque a pobreza não é somente material, mas também reflexo do “deserto de homens e ideias”, na célebre frase de Oswaldo Aranha. É neste deserto inóspito que a irresponsabilidade, a prepotência, o descaso e a corrupção brotam de forma endêmica e que, ao fim e ao cabo, perpetuam a pobreza.
Mas, se o fascínio pela pobreza não resulta em ações concretas de superação, são abundantes as manifestações de “denúncia”, de “libelos” e de busca de explicações para a sua existência. Nesse sentido, é interessante reportar à“arte povera” que impregna, em grande medida, nossas manifestações artísticas e culturais. A “arte pobre” foi uma expressão criada pelo crítico italiano Germano Celant, ao referir-se ao movimento artístico que surgiu na década de 1960 na Itália. Os adeptos dessa arte utilizavam materiais não convencionais nas formas de expressão visual, como, por exemplo, sacos, jor- nais, resíduos e trapos, visando a “empobrecer” a obra de arte, reduzindo seus artifícios e eliminando barreiras entre a arte e o quotidiano. O objetivo era revelar sua crítica ao “empobrecimento” de uma sociedade guiada pelo acúmulo de riquezas materiais.
No Brasil, o fascínio pela pobreza atinge até hoje indiscriminadamente todos os segmentos da criação artística e cultural e, também, vejam só, os formuladores da nossa política externa. Nada mais charmoso que diplomatas e intelectuais buscando formas de inserir o Brasil numa espécie de diplomazia povera. Daí a insistência em manter o País atrelado a esta união de rotos do Mercosul, a ditadores africanos corruptos e, sobretudo, como vagão de 2.ª classe à locomotiva chinesa. Isso é bom para atender aos anseios da construção pesada e de alguns segmentos pouco competitivos da indústria. Claro que temos uma pujante agricultura, que, no entanto, não controla a demanda e os preços das commodities numa relação colonial com a China.
Mas, concretamente, o que representa essa diplomazia povera para a economia brasileira, além dos mimos concedidos aos empresários amigos? Primeiro, as opções equivocadas da nossa política externa – com escolhas de parcerias irrelevantes – acarretaram um reforço à baixa competitividade de nossos produtos industriais e reduziram sua relevância na pauta de exportações. Com as exceções de praxe, cada vez mais agregamos menos valor ao que nossa indústria exporta. A segun- da consequência é que as decisões de excluir o Brasil dos grandes acordos transcontinentais (Pacífico e Atlântico) deixaram o País fora dos fluxos relevantes do comércio mundial para bens industriais e serviços. Não é por acaso que nosso comércio exterior é reduzido e se está reduzindo ainda mais.
Não há dúvida de que o crescimento das exportações de minério e soja para a China incrementou consideravelmente as nossas exportações e induziu avanços tecnológicos na sua produção e produtividade. No entanto, esse avanço não retirou dessas commodities a sua condição básica de vulnerabilidade ante as oscilações de demanda e preços. Mas a excessiva dependência à demanda chinesa e a teimosia em recusar acordos com blocos e países que poderiam estabelecer fluxos de comércio mais equilibrados conosco puseram a nossa indústria também em situação de vulnerabilidade. Esta resulta da perpetuação da sua baixa capacidade competitiva e da impossibilidade de inserção num mercado dinâmico pelos seus baixos níveis de produtividade e inovação. Com a crise “made in Brazil” e a rápida perda de protagonismo no cenário mundial, é de esperar – como diria o saudoso Millôr – que o fracasso não suba à cabeça dos formuladores da nossa política externa.
Sendo o Brasil um país pobre do ponto de vista material, é natural que a atenção de estudiosos se volte para a pobreza. Trata-se de entender uma sociedade extremamente desigual, onde há ilhas de riqueza em meio à pobreza generalizada. Porém, surpreende a fascinação pela pobreza, sem termos tido, por séculos, a contrapartida de medidas objetivas, consistentes e duradouras para superá-la. Isso porque a pobreza não é somente material, mas também reflexo do “deserto de homens e ideias”, na célebre frase de Oswaldo Aranha. É neste deserto inóspito que a irresponsabilidade, a prepotência, o descaso e a corrupção brotam de forma endêmica e que, ao fim e ao cabo, perpetuam a pobreza.
Mas, se o fascínio pela pobreza não resulta em ações concretas de superação, são abundantes as manifestações de “denúncia”, de “libelos” e de busca de explicações para a sua existência. Nesse sentido, é interessante reportar à“arte povera” que impregna, em grande medida, nossas manifestações artísticas e culturais. A “arte pobre” foi uma expressão criada pelo crítico italiano Germano Celant, ao referir-se ao movimento artístico que surgiu na década de 1960 na Itália. Os adeptos dessa arte utilizavam materiais não convencionais nas formas de expressão visual, como, por exemplo, sacos, jor- nais, resíduos e trapos, visando a “empobrecer” a obra de arte, reduzindo seus artifícios e eliminando barreiras entre a arte e o quotidiano. O objetivo era revelar sua crítica ao “empobrecimento” de uma sociedade guiada pelo acúmulo de riquezas materiais.
No Brasil, o fascínio pela pobreza atinge até hoje indiscriminadamente todos os segmentos da criação artística e cultural e, também, vejam só, os formuladores da nossa política externa. Nada mais charmoso que diplomatas e intelectuais buscando formas de inserir o Brasil numa espécie de diplomazia povera. Daí a insistência em manter o País atrelado a esta união de rotos do Mercosul, a ditadores africanos corruptos e, sobretudo, como vagão de 2.ª classe à locomotiva chinesa. Isso é bom para atender aos anseios da construção pesada e de alguns segmentos pouco competitivos da indústria. Claro que temos uma pujante agricultura, que, no entanto, não controla a demanda e os preços das commodities numa relação colonial com a China.
Mas, concretamente, o que representa essa diplomazia povera para a economia brasileira, além dos mimos concedidos aos empresários amigos? Primeiro, as opções equivocadas da nossa política externa – com escolhas de parcerias irrelevantes – acarretaram um reforço à baixa competitividade de nossos produtos industriais e reduziram sua relevância na pauta de exportações. Com as exceções de praxe, cada vez mais agregamos menos valor ao que nossa indústria exporta. A segun- da consequência é que as decisões de excluir o Brasil dos grandes acordos transcontinentais (Pacífico e Atlântico) deixaram o País fora dos fluxos relevantes do comércio mundial para bens industriais e serviços. Não é por acaso que nosso comércio exterior é reduzido e se está reduzindo ainda mais.
Não há dúvida de que o crescimento das exportações de minério e soja para a China incrementou consideravelmente as nossas exportações e induziu avanços tecnológicos na sua produção e produtividade. No entanto, esse avanço não retirou dessas commodities a sua condição básica de vulnerabilidade ante as oscilações de demanda e preços. Mas a excessiva dependência à demanda chinesa e a teimosia em recusar acordos com blocos e países que poderiam estabelecer fluxos de comércio mais equilibrados conosco puseram a nossa indústria também em situação de vulnerabilidade. Esta resulta da perpetuação da sua baixa capacidade competitiva e da impossibilidade de inserção num mercado dinâmico pelos seus baixos níveis de produtividade e inovação. Com a crise “made in Brazil” e a rápida perda de protagonismo no cenário mundial, é de esperar – como diria o saudoso Millôr – que o fracasso não suba à cabeça dos formuladores da nossa política externa.
Síndrome de Peter Pan - CELSO MING
O ESTADÃO - 13/10
O governo do PT sempre viu com desconfiança iniciativas de abertura comercial.
Rejeitou sumariamente o projeto da Alca (Área de Livre-Comércio das Américas), não avançou nas negociações do Mercosul com a União Europeia e pouco ou quase nada fez para participar de outras negociações entre países ou entre blocos comerciais.
Na última segunda-feira, Estados Unidos, Japão e mais dez outros países da Ásia e da América Latina (México, Peru e Chile) anunciaram um superacordo que dá preferência comercial recíproca a um mercado conjunto equivalente a 40% do PIB mundial. Trata-se da Parceria Transpacífico (TPP, na sigla em inglês), cujos termos negociados ao longo de oito anos ainda devem ser referendados pelos seus respectivos Congressos. É um acordo de amplo significado geopolítico que parece fadado a mudar a geografia comercial do Planeta.
O Brasil não consegue emplacar um acordo de livre-comércio nem com seus sócios do Mercosul, bloco que pretende ter nível de integração superior, o de união aduaneira. O comércio entre os dois países mais próximos, Brasil e Argentina, por exemplo, segue bloqueado por travas de todo tipo e por retrancas mutuamente consentidas de caráter protelatório, como o automotivo.
Os sucessivos governos do PT vêm justificando essa falta de energia comercial com a alegação de que a opção estratégica foi por canalizar todos os esforços na direção de acordos multilaterais, no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC). Mas as negociações da Rodada Doha, que deveria cumprir esse objetivo, estão emperradas desde 2001. Assim, a opção seria por negociar acordos de preferência bilaterais ou acordos entre blocos. Mas, salvo iniciativas isoladas, o Brasil não vem colocando empenho nessas hipóteses. É uma postura atrasada, de quem não quer conversa séria sobre abertura comercial.
Por trás desse jogo está o medo de desproteger a indústria à medida que forem feitas concessões tarifárias. O medo é o de que, com a derrubada das alíquotas do Imposto de importação, o produto estrangeiro chegue mais barato e alije do mercado o produto nacional.
O resultado é desastroso, por duas razões. Primeira, porque não dá competitividade ao produto brasileiro no exterior, ao contrário, tende a reduzi-la ainda mais, na medida em que a indústria não consegue aumento de escala. E, segunda, porque a falta de competição com o produto fabricado lá fora, deixa nanico o setor produtivo local. É a síndrome de Peter Pan, que não consegue crescer.
Embora pareça protegida contra a concorrência externa, a indústria brasileira vai-se enfraquecendo ainda mais e cada vez mais incapaz de concorrer em igualdade de condições com os produtores externos. Ou seja, mesmo sem acordos comerciais, considerados predatórios, a indústria brasileira definhou. Agora são os próprios dirigentes da indústria que reclamam mais agressividade na negociação de novos acordos comerciais.
A TPP está fadada a ser novo obstáculo de vastas proporções para todo o setor produtivo do País e não só para a indústria. Dará preferência ao setor produtivo de outros países e não ao do Brasil.
O governo do PT sempre viu com desconfiança iniciativas de abertura comercial.
Rejeitou sumariamente o projeto da Alca (Área de Livre-Comércio das Américas), não avançou nas negociações do Mercosul com a União Europeia e pouco ou quase nada fez para participar de outras negociações entre países ou entre blocos comerciais.
Na última segunda-feira, Estados Unidos, Japão e mais dez outros países da Ásia e da América Latina (México, Peru e Chile) anunciaram um superacordo que dá preferência comercial recíproca a um mercado conjunto equivalente a 40% do PIB mundial. Trata-se da Parceria Transpacífico (TPP, na sigla em inglês), cujos termos negociados ao longo de oito anos ainda devem ser referendados pelos seus respectivos Congressos. É um acordo de amplo significado geopolítico que parece fadado a mudar a geografia comercial do Planeta.
O Brasil não consegue emplacar um acordo de livre-comércio nem com seus sócios do Mercosul, bloco que pretende ter nível de integração superior, o de união aduaneira. O comércio entre os dois países mais próximos, Brasil e Argentina, por exemplo, segue bloqueado por travas de todo tipo e por retrancas mutuamente consentidas de caráter protelatório, como o automotivo.
Os sucessivos governos do PT vêm justificando essa falta de energia comercial com a alegação de que a opção estratégica foi por canalizar todos os esforços na direção de acordos multilaterais, no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC). Mas as negociações da Rodada Doha, que deveria cumprir esse objetivo, estão emperradas desde 2001. Assim, a opção seria por negociar acordos de preferência bilaterais ou acordos entre blocos. Mas, salvo iniciativas isoladas, o Brasil não vem colocando empenho nessas hipóteses. É uma postura atrasada, de quem não quer conversa séria sobre abertura comercial.
Por trás desse jogo está o medo de desproteger a indústria à medida que forem feitas concessões tarifárias. O medo é o de que, com a derrubada das alíquotas do Imposto de importação, o produto estrangeiro chegue mais barato e alije do mercado o produto nacional.
O resultado é desastroso, por duas razões. Primeira, porque não dá competitividade ao produto brasileiro no exterior, ao contrário, tende a reduzi-la ainda mais, na medida em que a indústria não consegue aumento de escala. E, segunda, porque a falta de competição com o produto fabricado lá fora, deixa nanico o setor produtivo local. É a síndrome de Peter Pan, que não consegue crescer.
Embora pareça protegida contra a concorrência externa, a indústria brasileira vai-se enfraquecendo ainda mais e cada vez mais incapaz de concorrer em igualdade de condições com os produtores externos. Ou seja, mesmo sem acordos comerciais, considerados predatórios, a indústria brasileira definhou. Agora são os próprios dirigentes da indústria que reclamam mais agressividade na negociação de novos acordos comerciais.
A TPP está fadada a ser novo obstáculo de vastas proporções para todo o setor produtivo do País e não só para a indústria. Dará preferência ao setor produtivo de outros países e não ao do Brasil.
Nas armadilhas - MÍRIAM LEITÃO
O GLOBO - 13/10
No governo, já se sabe que meta fiscal não será atingida. O ministro Joaquim Levy foi convocado para falar na quarta- feira no plenário do Congresso sobre quando o Brasil volta a crescer, mas a grande preocupação do governo agora é como cumprir a lei fiscal este ano. Não será possível atingir a nova meta de superávit primário de 0,15% do PIB, e o problema é que ela sequer foi aprovada pelo Congresso. Ainda está valendo a inatingível meta de 1,1% do PIB.
Levy foi convocado dentro de mais uma manobra para desgastá-lo. Contra ele atuam explicitamente integrantes do próprio PT. A agenda de crescimento na visão de integrantes da equipe econômica depende agora mais do Congresso. Há medidas a serem tomadas, mas o problema é que a cada sacolejo político os empresários se retraem. É preciso eliminar as incertezas políticas que pesam sobre a economia.
O Congresso não apreciou os vetos na semana passada porque não teve quórum, mas quem mais tem feito esforço para mostrar que a derrubada destes vetos representará aumento de gastos é a imprensa, porque o governo não tem mostrado os riscos que isso significa. Ao mesmo tempo, com a ajuda do PT, o Congresso tem aprovado uma medida expansionista do gasto atrás de outra.
A mistura da nova regra de aposentadoria com a desaposentação elevará o déficit do sistema. Essa mistura foi definida por um integrante da equipe econômica com palavras fortes como "barbaridade" e "hecatombe". Por baixo, isso aumentaria o gasto em R$ 15 bilhões em dois anos, segundo cálculos da equipe, mas o problema maior é a armadilha que criou.
- Ao aprovar a regra do 85/ 95 foi oficializada a possibilidade de aposentadoria de pessoas com idade mais jovem. Quem se aposentou com um fator de 0,8, por exemplo, e trabalhou mais um pouco, poderá requerer o recálculo da aposentadoria e ganhará um aumento de 20%. Foi destruído o fator para quem está na ativa e entrando no sistema previdenciário e, com a desaposentação, foi destruído o fator retroativamente - explica a autoridade.
Tudo isso começou com uma proposta que faria uma pequena economia, a MP 664, que estabelecia regras para pensão das viúvas jovens. O Congresso embutiu aí o fim do fator. Foi aprovado com os votos do governo e da oposição. O Congresso, então, apresentou, como alternativa ao fator, a aposentadoria quando a soma do período de contribuição e mais a idade chegasse a 85 para as mulheres e 95 para os homens. O governo, em vez de reagir com uma verdadeira reforma da previdência, fez apenas uma pequena alteração no projeto do Congresso. Agora, isso foi posto em votação no Senado, na semana em que nada se votou no Congresso, e foi aprovado imediatamente com a inclusão da possibilidade de desaposentação. O governo, além de estar diante de um aumento de gastos, tem que saber se vai vetar algo que ele mesmo aceitou com uma pequena mudança ( o 85/ 95 progressivo). Precisará saber também que reforma agora pode ser proposta pela comissão que está sendo coordenada pelo ministro Miguel Rosetto.
Esse é o dilema de médio prazo. A curto prazo o governo tem que saber como vai cumprir a Lei de Responsabilidade Fiscal. Este ano, estão sendo pagas pedaladas no valor de R$ 20 bilhões e mesmo assim o governo está sendo acusado de manter as mesmas manobras de postergar pagamentos. Do que está sendo quitado agora, R$ 10 bilhões são do Programa de Sustentação do Investimento ( PSI), e os outros R$ 10 bilhões são do Pronaf. O nome é "agricultura familiar", mas metade do dinheiro é para subsidiar o complexo agroindustrial. Portanto, beneficia grandes grupos.
O PSI também foi usado para subsidiar grandes grupos. A dupla Guido Mantega- Arno Augustin baixou uma portaria postergando o pagamento do diferencial de juros por 24 meses. Esse período venceu no atual mandato e isso é que aumentou o gasto com o pagamento ao BNDES, segundo explicação de técnicos do governo. Mas neste ponto há outra armadilha. A nova equipe baixou outra portaria reduzindo o tempo para seis meses e quitou o que já havia vencido. Porém, há empréstimos já concedidos, pela regra anterior de dois anos. O que fazer? Se antecipar tudo, não haverá dinheiro. O fato de não pagar é considerado pedalada pelo TCU. O governo está prisioneiro de armadilhas montadas por ele mesmo no primeiro mandato. E não sabe como sair delas.
No governo, já se sabe que meta fiscal não será atingida. O ministro Joaquim Levy foi convocado para falar na quarta- feira no plenário do Congresso sobre quando o Brasil volta a crescer, mas a grande preocupação do governo agora é como cumprir a lei fiscal este ano. Não será possível atingir a nova meta de superávit primário de 0,15% do PIB, e o problema é que ela sequer foi aprovada pelo Congresso. Ainda está valendo a inatingível meta de 1,1% do PIB.
Levy foi convocado dentro de mais uma manobra para desgastá-lo. Contra ele atuam explicitamente integrantes do próprio PT. A agenda de crescimento na visão de integrantes da equipe econômica depende agora mais do Congresso. Há medidas a serem tomadas, mas o problema é que a cada sacolejo político os empresários se retraem. É preciso eliminar as incertezas políticas que pesam sobre a economia.
O Congresso não apreciou os vetos na semana passada porque não teve quórum, mas quem mais tem feito esforço para mostrar que a derrubada destes vetos representará aumento de gastos é a imprensa, porque o governo não tem mostrado os riscos que isso significa. Ao mesmo tempo, com a ajuda do PT, o Congresso tem aprovado uma medida expansionista do gasto atrás de outra.
A mistura da nova regra de aposentadoria com a desaposentação elevará o déficit do sistema. Essa mistura foi definida por um integrante da equipe econômica com palavras fortes como "barbaridade" e "hecatombe". Por baixo, isso aumentaria o gasto em R$ 15 bilhões em dois anos, segundo cálculos da equipe, mas o problema maior é a armadilha que criou.
- Ao aprovar a regra do 85/ 95 foi oficializada a possibilidade de aposentadoria de pessoas com idade mais jovem. Quem se aposentou com um fator de 0,8, por exemplo, e trabalhou mais um pouco, poderá requerer o recálculo da aposentadoria e ganhará um aumento de 20%. Foi destruído o fator para quem está na ativa e entrando no sistema previdenciário e, com a desaposentação, foi destruído o fator retroativamente - explica a autoridade.
Tudo isso começou com uma proposta que faria uma pequena economia, a MP 664, que estabelecia regras para pensão das viúvas jovens. O Congresso embutiu aí o fim do fator. Foi aprovado com os votos do governo e da oposição. O Congresso, então, apresentou, como alternativa ao fator, a aposentadoria quando a soma do período de contribuição e mais a idade chegasse a 85 para as mulheres e 95 para os homens. O governo, em vez de reagir com uma verdadeira reforma da previdência, fez apenas uma pequena alteração no projeto do Congresso. Agora, isso foi posto em votação no Senado, na semana em que nada se votou no Congresso, e foi aprovado imediatamente com a inclusão da possibilidade de desaposentação. O governo, além de estar diante de um aumento de gastos, tem que saber se vai vetar algo que ele mesmo aceitou com uma pequena mudança ( o 85/ 95 progressivo). Precisará saber também que reforma agora pode ser proposta pela comissão que está sendo coordenada pelo ministro Miguel Rosetto.
Esse é o dilema de médio prazo. A curto prazo o governo tem que saber como vai cumprir a Lei de Responsabilidade Fiscal. Este ano, estão sendo pagas pedaladas no valor de R$ 20 bilhões e mesmo assim o governo está sendo acusado de manter as mesmas manobras de postergar pagamentos. Do que está sendo quitado agora, R$ 10 bilhões são do Programa de Sustentação do Investimento ( PSI), e os outros R$ 10 bilhões são do Pronaf. O nome é "agricultura familiar", mas metade do dinheiro é para subsidiar o complexo agroindustrial. Portanto, beneficia grandes grupos.
O PSI também foi usado para subsidiar grandes grupos. A dupla Guido Mantega- Arno Augustin baixou uma portaria postergando o pagamento do diferencial de juros por 24 meses. Esse período venceu no atual mandato e isso é que aumentou o gasto com o pagamento ao BNDES, segundo explicação de técnicos do governo. Mas neste ponto há outra armadilha. A nova equipe baixou outra portaria reduzindo o tempo para seis meses e quitou o que já havia vencido. Porém, há empréstimos já concedidos, pela regra anterior de dois anos. O que fazer? Se antecipar tudo, não haverá dinheiro. O fato de não pagar é considerado pedalada pelo TCU. O governo está prisioneiro de armadilhas montadas por ele mesmo no primeiro mandato. E não sabe como sair delas.
Lições históricas para iluminar o fim do túnel - FERNANDO EXMAN
VALOR ECONÔMICO - 13/10
Erros recolocam afastamento de Dilma no radar
A estratégia atabalhoada da última semana do Palácio do Planalto teve o condão de recolocar o impeachment em pauta mais rápido do que um opositor otimista poderia esperar. Não bastasse, a despeito da sempre presente ponderação de que uma abdicação não combina com o perfil da presidente Dilma Rousseff, a palavra "renúncia" também voltou a ser lembrada por oposicionistas, líderes de partidos independentes e até mesmo integrantes de siglas governistas.
Nessa conjuntura adversa, um dos principais desafios de Dilma é evitar que o setor produtivo veja a sua saída do poder como a única solução para melhorar o humor da população e recuperar a confiança dos investidores. O problema da presidente da República, no entanto, é que interessa a grande parte do Congresso ver a chefe do Poder Executivo enfraquecida - sobretudo àquelas alas sempre dispostas a negociar com o governo e com as quais ela passou a tratar sem anteparos a fim de assegurar maior estabilidade política à sua administração.
Esse cenário ficou claro com o desfecho da semana passada. O roteiro ideal estava desenhado pelo Palácio do Planalto: a presidente chegaria à sexta-feira demonstrando tenacidade política para rechaçar qualquer tentativa de impeachment e manter as medidas de ajuste fiscal consideradas necessárias para a retomada do crescimento econômico. Nos planos do governo, a reforma ministerial reajustaria a relação entre Dilma e as diversas alas do PMDB. Seria construída uma trincheira na Câmara contra o impeachment. A manutenção dos vetos presidenciais a propostas de criação de novas despesas comprovaria a capacidade do governo de reorganizar a economia do país. E uma decisão favorável na Justiça ainda protelaria a decisão do TCU, reduzindo a pressão sobre Dilma, mesmo que o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), destravasse nesta semana as engrenagens burocráticas que podem levar adiante um processo de impeachment.
De fato, a reforma ministerial reajustou o valor despendido pelo Executivo para contar com o apoio do PMDB, que ganhou o comando de sete pastas. Por outro lado, não garantiu uma maior coesão da bancada da legenda e ainda gerou ressentimentos em outros partidos aliados, o que provocou por duas vezes o adiamento da sessão do Congresso em que os vetos presidenciais seriam apreciados.
A ação protelatória da Advocacia-Geral da União foi rejeitada peloSupremo Tribunal Federal e uniu os ministros do TCU em torno da aprovação do parecer que recomenda ao Congresso a rejeição das contas do governo Dilma referentes ao ano de 2014. Não bastasse, a Justiça Eleitoral decidiu investigar se o dinheiro desviado de empresas estatais tonificou a campanha eleitoral do PT no ano passado. A presidente então adiou uma viagem de Estado à Colômbia e convocou uma reunião ministerial de última hora para tentar recolocar o governo no prumo.
Embora tenha afirmado que vislumbra uma luz no fim do túnel, Dilma começa esta semana numa situação mais delicada do que iniciou a anterior. Nesse contexto, correligionários da petista resgatam o ocorrido com o primeiro presidente da República. O marechal Deodoro da Fonseca elegeu-se para dirigir um país dividido e conviveu com uma série de intrigas no primeiro escalão de seu gabinete. Sofreu resistências no Congresso, sua política econômica do "encilhamento" foi duramente criticada, a qual, segundo historiadores, provocou especulação financeira e o fechamento de várias empresas.
O desfecho é conhecido. O então presidente renunciou ao cargo, morreu isolado e sem honras militares.
Outra passagem da História do Brasil, esta protagonizada pelo ex-presidente Jânio Quadros, é lembrada por alguns adversários de Dilma. Eles apostam no aumento da fragilidade da base aliada e no retorno das massas populares que foram às ruas há alguns anos devido à insatisfação com a baixa qualidade na prestação dos serviços públicos. Mesmo que prospere aos poucos a agenda do impeachment, acreditam, antes o país deve viver uma nova onda de convulsão social, situação que encurralaria Dilma. Segundo recente pesquisa divulgada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), por exemplo, o índice de satisfação com a vida do brasileiro caiu 9,5% em setembro na comparação com o mesmo mês do ano passado, às vésperas da eleição presidencial. No mesmo período, o índice de medo do desemprego apurado pela sondagem cresceu 37,5%.
Anos depois da renúncia do marechal Deodoro da Fonseca, Jânio Quadros também abjurou à Presidência da República. Jânio chegou ao posto revestido de um messianismo moralizador, sucedendo um governo que promovera grandes transformações econômicas e sociais. Sem apoio no Congresso, decidiu renunciar ao cargo, num movimento que, em sua visão, poderia lhe propiciar um retorno ao Palácio do Planalto com um maior vigor político. Na conjuntura atual, porém, Dilma seria levada a renunciar não para fortalecer a si própria no poder, mas para favorecer outro integrante de seu grupo político - o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Segundo relatos de assessores próximos, Jânio Quadros teria demonstrado que não abandonaria sua disposição de deixar o Palácio do Planalto afirmando: "A conspiração está em marcha, mas vergar eu não vergo". Curiosamente, no dia 12 de agosto Dilma citou uma música de Lenine durante a Marcha das Margaridas, ato organizado pelos movimentos sociais do campo, para assegurar que governará até o último dia de seu mandato. "Eu, cantando numa festa, ergo meu copo e celebro os bons momentos da vida. E nos maus da lida, eu envergo, mas não quebro", disse a presidente. "Margaridas, nós podemos envergar, mas nós não quebramos. Nós seguimos em frente."
Alheia às comparações, Dilma reafirmou, durante a posse de seu novo ministério, que a missão de todos era tocar o governo até 31 de dezembro de 2018.
Fernando Exman é coordenador do Valor PRO em Brasília.
A estratégia atabalhoada da última semana do Palácio do Planalto teve o condão de recolocar o impeachment em pauta mais rápido do que um opositor otimista poderia esperar. Não bastasse, a despeito da sempre presente ponderação de que uma abdicação não combina com o perfil da presidente Dilma Rousseff, a palavra "renúncia" também voltou a ser lembrada por oposicionistas, líderes de partidos independentes e até mesmo integrantes de siglas governistas.
Nessa conjuntura adversa, um dos principais desafios de Dilma é evitar que o setor produtivo veja a sua saída do poder como a única solução para melhorar o humor da população e recuperar a confiança dos investidores. O problema da presidente da República, no entanto, é que interessa a grande parte do Congresso ver a chefe do Poder Executivo enfraquecida - sobretudo àquelas alas sempre dispostas a negociar com o governo e com as quais ela passou a tratar sem anteparos a fim de assegurar maior estabilidade política à sua administração.
Esse cenário ficou claro com o desfecho da semana passada. O roteiro ideal estava desenhado pelo Palácio do Planalto: a presidente chegaria à sexta-feira demonstrando tenacidade política para rechaçar qualquer tentativa de impeachment e manter as medidas de ajuste fiscal consideradas necessárias para a retomada do crescimento econômico. Nos planos do governo, a reforma ministerial reajustaria a relação entre Dilma e as diversas alas do PMDB. Seria construída uma trincheira na Câmara contra o impeachment. A manutenção dos vetos presidenciais a propostas de criação de novas despesas comprovaria a capacidade do governo de reorganizar a economia do país. E uma decisão favorável na Justiça ainda protelaria a decisão do TCU, reduzindo a pressão sobre Dilma, mesmo que o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), destravasse nesta semana as engrenagens burocráticas que podem levar adiante um processo de impeachment.
De fato, a reforma ministerial reajustou o valor despendido pelo Executivo para contar com o apoio do PMDB, que ganhou o comando de sete pastas. Por outro lado, não garantiu uma maior coesão da bancada da legenda e ainda gerou ressentimentos em outros partidos aliados, o que provocou por duas vezes o adiamento da sessão do Congresso em que os vetos presidenciais seriam apreciados.
A ação protelatória da Advocacia-Geral da União foi rejeitada peloSupremo Tribunal Federal e uniu os ministros do TCU em torno da aprovação do parecer que recomenda ao Congresso a rejeição das contas do governo Dilma referentes ao ano de 2014. Não bastasse, a Justiça Eleitoral decidiu investigar se o dinheiro desviado de empresas estatais tonificou a campanha eleitoral do PT no ano passado. A presidente então adiou uma viagem de Estado à Colômbia e convocou uma reunião ministerial de última hora para tentar recolocar o governo no prumo.
Embora tenha afirmado que vislumbra uma luz no fim do túnel, Dilma começa esta semana numa situação mais delicada do que iniciou a anterior. Nesse contexto, correligionários da petista resgatam o ocorrido com o primeiro presidente da República. O marechal Deodoro da Fonseca elegeu-se para dirigir um país dividido e conviveu com uma série de intrigas no primeiro escalão de seu gabinete. Sofreu resistências no Congresso, sua política econômica do "encilhamento" foi duramente criticada, a qual, segundo historiadores, provocou especulação financeira e o fechamento de várias empresas.
O desfecho é conhecido. O então presidente renunciou ao cargo, morreu isolado e sem honras militares.
Outra passagem da História do Brasil, esta protagonizada pelo ex-presidente Jânio Quadros, é lembrada por alguns adversários de Dilma. Eles apostam no aumento da fragilidade da base aliada e no retorno das massas populares que foram às ruas há alguns anos devido à insatisfação com a baixa qualidade na prestação dos serviços públicos. Mesmo que prospere aos poucos a agenda do impeachment, acreditam, antes o país deve viver uma nova onda de convulsão social, situação que encurralaria Dilma. Segundo recente pesquisa divulgada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), por exemplo, o índice de satisfação com a vida do brasileiro caiu 9,5% em setembro na comparação com o mesmo mês do ano passado, às vésperas da eleição presidencial. No mesmo período, o índice de medo do desemprego apurado pela sondagem cresceu 37,5%.
Anos depois da renúncia do marechal Deodoro da Fonseca, Jânio Quadros também abjurou à Presidência da República. Jânio chegou ao posto revestido de um messianismo moralizador, sucedendo um governo que promovera grandes transformações econômicas e sociais. Sem apoio no Congresso, decidiu renunciar ao cargo, num movimento que, em sua visão, poderia lhe propiciar um retorno ao Palácio do Planalto com um maior vigor político. Na conjuntura atual, porém, Dilma seria levada a renunciar não para fortalecer a si própria no poder, mas para favorecer outro integrante de seu grupo político - o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Segundo relatos de assessores próximos, Jânio Quadros teria demonstrado que não abandonaria sua disposição de deixar o Palácio do Planalto afirmando: "A conspiração está em marcha, mas vergar eu não vergo". Curiosamente, no dia 12 de agosto Dilma citou uma música de Lenine durante a Marcha das Margaridas, ato organizado pelos movimentos sociais do campo, para assegurar que governará até o último dia de seu mandato. "Eu, cantando numa festa, ergo meu copo e celebro os bons momentos da vida. E nos maus da lida, eu envergo, mas não quebro", disse a presidente. "Margaridas, nós podemos envergar, mas nós não quebramos. Nós seguimos em frente."
Alheia às comparações, Dilma reafirmou, durante a posse de seu novo ministério, que a missão de todos era tocar o governo até 31 de dezembro de 2018.
Fernando Exman é coordenador do Valor PRO em Brasília.
O lavador de dinheiro - JOSÉ CASADO
O Globo - 13/10
Ele lavou US$ 444,6 milhões (ou R$ 1,7 bilhão), quase um terço já rastreado como propina em contratos da Petrobras. Tornou-se a sexta testemunha contra o presidente da Câmara
‘Sou réu confesso e colaborador” — anuncia, para não deixar dúvidas. Aos 40 anos, o bacharel em direito Leonardo Meirelles acumula uma condenação a cinco anos de prisão e variados processos.
Poucos lavaram tanto quanto ele: em apenas cinco anos (de 2009 a 2014), Meirelles comprovadamente retirou do Brasil e pulverizou no exterior US$ 444,6 milhões — o equivalente a R$ 1,7 bilhão. É dinheiro suficiente para se erguer um novo Maracanã.
Quase um terço (US$ 120 milhões, ou R$ 480 milhões) já tem origem rastreada: propinas pagas por fornecedores da Petrobras.
Foram 3.649 operações de lavagem a partir de seis empresas de fachada, três de informática e três de química-farmacêutica, todas lastreadas em contratos fraudulentos de exportação e importação — um atestado da vulnerabilidade das regras adotadas em 2006, na gestão do ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci.
Para ocultar a origem e distribuir o dinheiro em contas externas, indicadas por fornecedores da Petrobras e seus intermediários, como Alberto Youssef, ele cobrava 1% do valor.
Em seguida, levava o dinheiro da propina para um passeio por contas bancárias em duas dúzias de países: Suíça, China, Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, Alemanha, Itália, Bélgica, Espanha, Holanda, Liechtenstein, Índia, Hong Kong, Coreia, Malásia, Nova Zelândia, Formosa/Taiwan, Cingapura, Ucrânia, Angola, Costa Rica, Panamá, Paraguai e Uruguai.
Se alguém precisava pagar a um político no exterior, encomendava a Meirelles a transferência. Youssef registrava esse tipo de operação numa planilha intitulada “Band”, em franca alusão à palavra “bandido” (“Era uma brincadeira entre nós”), contou Rafael Ângulo, assessor de Youssef, ao juiz Sérgio Moro, em agosto.
Recentemente, Meirelles viajou com autorização judicial à Suíça, China, Hong Kong, Taiwan e Coreia do Sul. Coletou extratos e registros específicos de seus negócios emitidos pela Sociedade de Telecomunicações Financeiras Interbancárias Mundiais (Swift), uma espécie de cooperativa mantida por duas centenas das maiores casas bancárias globais.
Voltou com uma pilha de papéis. Entre eles, demonstrativos da sua contribuição a Youssef e Julio Camargo, representante do grupo Samsung, na lavagem de propina supostamente paga ao presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), por contratos de plataformas marítimas para a Petrobras.
Duas semanas atrás, na CPI, Meirelles ouviu o deputado Ivan Valente (PSOL-SP) fazer a leitura de um trecho da denúncia da procuradoria contra o presidente da Câmara.
— O senhor tem conhecimento disso?
— Sim — respondeu Meirelles, monossilábico. Pressionado, acrescentou:
— Todos os extratos e as informações pertinentes já foram entregues e fazem parte de um acordo. Não posso responder por força disso.
— É colaboração premiada? — insistiu o deputado Aluisio Mendes (PSDC-MA).
— É. É colaboração premiada, sim — retrucou o homem que lavava propina para os “Band” de Youssef. Ele se tornou a sexta testemunha contra o presidente da Câmara.
O deputado Eduardo Cunha segue na autoimolação. Aparentemente, escolheu a opereta do impeachment de Dilma Rousseff como epílogo da própria tragicomédia.
Ele lavou US$ 444,6 milhões (ou R$ 1,7 bilhão), quase um terço já rastreado como propina em contratos da Petrobras. Tornou-se a sexta testemunha contra o presidente da Câmara
‘Sou réu confesso e colaborador” — anuncia, para não deixar dúvidas. Aos 40 anos, o bacharel em direito Leonardo Meirelles acumula uma condenação a cinco anos de prisão e variados processos.
Poucos lavaram tanto quanto ele: em apenas cinco anos (de 2009 a 2014), Meirelles comprovadamente retirou do Brasil e pulverizou no exterior US$ 444,6 milhões — o equivalente a R$ 1,7 bilhão. É dinheiro suficiente para se erguer um novo Maracanã.
Quase um terço (US$ 120 milhões, ou R$ 480 milhões) já tem origem rastreada: propinas pagas por fornecedores da Petrobras.
Foram 3.649 operações de lavagem a partir de seis empresas de fachada, três de informática e três de química-farmacêutica, todas lastreadas em contratos fraudulentos de exportação e importação — um atestado da vulnerabilidade das regras adotadas em 2006, na gestão do ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci.
Para ocultar a origem e distribuir o dinheiro em contas externas, indicadas por fornecedores da Petrobras e seus intermediários, como Alberto Youssef, ele cobrava 1% do valor.
Em seguida, levava o dinheiro da propina para um passeio por contas bancárias em duas dúzias de países: Suíça, China, Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, Alemanha, Itália, Bélgica, Espanha, Holanda, Liechtenstein, Índia, Hong Kong, Coreia, Malásia, Nova Zelândia, Formosa/Taiwan, Cingapura, Ucrânia, Angola, Costa Rica, Panamá, Paraguai e Uruguai.
Se alguém precisava pagar a um político no exterior, encomendava a Meirelles a transferência. Youssef registrava esse tipo de operação numa planilha intitulada “Band”, em franca alusão à palavra “bandido” (“Era uma brincadeira entre nós”), contou Rafael Ângulo, assessor de Youssef, ao juiz Sérgio Moro, em agosto.
Recentemente, Meirelles viajou com autorização judicial à Suíça, China, Hong Kong, Taiwan e Coreia do Sul. Coletou extratos e registros específicos de seus negócios emitidos pela Sociedade de Telecomunicações Financeiras Interbancárias Mundiais (Swift), uma espécie de cooperativa mantida por duas centenas das maiores casas bancárias globais.
Voltou com uma pilha de papéis. Entre eles, demonstrativos da sua contribuição a Youssef e Julio Camargo, representante do grupo Samsung, na lavagem de propina supostamente paga ao presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), por contratos de plataformas marítimas para a Petrobras.
Duas semanas atrás, na CPI, Meirelles ouviu o deputado Ivan Valente (PSOL-SP) fazer a leitura de um trecho da denúncia da procuradoria contra o presidente da Câmara.
— O senhor tem conhecimento disso?
— Sim — respondeu Meirelles, monossilábico. Pressionado, acrescentou:
— Todos os extratos e as informações pertinentes já foram entregues e fazem parte de um acordo. Não posso responder por força disso.
— É colaboração premiada? — insistiu o deputado Aluisio Mendes (PSDC-MA).
— É. É colaboração premiada, sim — retrucou o homem que lavava propina para os “Band” de Youssef. Ele se tornou a sexta testemunha contra o presidente da Câmara.
O deputado Eduardo Cunha segue na autoimolação. Aparentemente, escolheu a opereta do impeachment de Dilma Rousseff como epílogo da própria tragicomédia.
Parceria Transpacífico, liberalização competitiva - RUBENS BARBOSA
O ESTADO DE S. PAULO 13/10
Depois de longos e difíceis entendimentos, a conclusão da Parceria Transpacífico (PTP), de 12 países com acesso ao Pacífico, incluídos EUA e Japão, representando 40% da produção mundial, abre uma nova etapa nas negociações comerciais. A PTP vai além de um acordo de livre-comércio tradicional, limitado à redução ou eliminação de tarifas e ao exame das barreiras tarifárias e não tarifárias (subsídios, antidumping), controladas nas fronteiras.
A PTP e outros entendimentos, como o acordo EUA-União Europeia, inauguram uma forma de interdependência econômico-comercial regional mais profunda. Esses acordos ampliarão as cadeias produtivas globais, em que o foco, ao contrário dos acordos negociados até aqui, são as regras existentes dentro do território de cada país-membro relacionadas com o comércio (competição, investimento, propriedade intelectual, serviços, trabalhistas, meio ambiente), que passarão a ser harmonizadas.
A PTP é a primeira negociação importante, nas últimas décadas, levada a efeito por motivações geopolíticas. Liderada pelos EUA, a PTP ampliou os interesses e a visibilidade norte-americana na Ásia e excluiu a China, com o objetivo de responder à crescente presença deste país e ao temor dos países da região de uma eventual ameaça de Pequim.
Não cabe aqui analisar as principais disposições e regras do acordo, mas examinar as consequências para o comércio internacional dessa parceria inovadora.
A PTP vai impactar fortemente o sistema multilateral de comércio. Os países não participantes poderão tentar reviver a Organização Mundial de Comércio (OMC), mas a parceria deixará os EUA ainda menos interessado em salvar a OMC e mais propenso a acelerar o acordo com a União Europeia. O fato de a definição das regras ter sido feita fora da OMC enfraquece as negociações multilaterais e marginaliza a instituição. A Rodada Doha, iniciada há quase 15 anos, fracassou e deve ser encerrada melancolicamente, em dezembro, na reunião ministerial de Nairóbi, como pretendem os EUA, apesar da oposição da China e da Índia.
As novas regras do PTP tenderão a ser gradualmente estendidas aos países que tiverem interesse em se juntar aos novos megablocos. Países como o Brasil, que ajudavam a definir as regras no âmbito multilateral da OMC, passarão a ter de aderir a elas com poucas chances de mudá-las, como ocorre com a Coreia do Sul, que já declarou sua intenção de se juntar ao PTP.
Novos padrões estão sendo estabelecidos para o comércio internacional e terão implicações em todos os países. Esses padrões poderão exercer influência sobre outros acordos que vierem a ser examinados com membros ou não do PTP e sobre a negociação de acordos plurilaterais fora do âmbito da OMC, como o de serviços.
A exclusão de todos os países do Brics (Brasil, Rússia, China e África do Sul) chama a atenção. Não seria o caso de esses países pensarem em estudar uma negociação voltada para a colaboração comercial que pudesse no médio prazo caminhar na mesma direção dos novos megablocos?
Quando for ratificado (o que levará algum tempo em vista da reação interna de alguns países, como os EUA, pela ameaça à sua indústria automobilística e farmacêutica), deverá haver significativo desvio de comércio, tanto na área agrícola quanto na de manufaturas, pela presença dos EUA e do Japão gozando de preferências em relação aos países não membros.
Quanto ao Brasil, ainda é cedo para antecipar as consequências da entrada em vigor do PTP, mas é certo que haverá desdobramentos afetando negativamente os interesses comerciais brasileiros. Hoje o Brasil exporta cerca de US$ 54 bilhões para 12 dos países-membros do PTP; poderá haver desvio de comércio com a substituição de produtos agrícolas brasileiros por norte-americanos e australianos, mais competitivos e preferenciais no âmbito da parceria. Por outro lado, as novas regras impactarão futuras negociações do Brasil, a começar com a União Europeia, se forem levadas adiante no próximo ano. A parceria EUA-União Europeia, quando aprovada, deixará ainda mais flagrante o isolamento do Brasil das negociações que envolvem os fluxos dinâmicos do comércio global. Essa nova forma de intercâmbio comercial, que hoje representa quase 70% das trocas mundiais, se desenvolve por meio das cadeias produtivas globais em que o Brasil ocupa uma posição marginal pela sua baixa competitividade em bens e serviços.
O divórcio entre política macroeconômica, política industrial e a de comércio exterior acentuou a perda da competitividade da economia brasileira. Segundo o Fórum Econômico Mundial, o Brasil despencou 18 posições no índice de competitividade, caindo para o 76.º lugar.
O PTP deveria acender uma luz amarela no Brasil, que há 13 anos vem se emaranhando em opções estratégicas equivocadas no comércio exterior e na política externa. Sob forte influência político-partidária, essas opções se desdobraram em políticas que isolaram o Brasil das negociações comerciais globais e estão acarretando um custo para a balança comercial com a queda das exportações e das importações. Os preconceitos antiglobalização e a prioridade Sul-Sul marginalizaram o Brasil dos entendimentos para negociações com países comercialmente relevantes fora da região.
Espera-se que a assinatura do acordo entre EUA, Japão e países asiáticos possa estimular os formuladores de política do governo petista a retomar a discussão de uma agenda para reduzir o custo Brasil (reformas estruturais – tributária, trabalhista, Previdência –, o custo da energia, infraestrutura, burocracia, taxa de juros). Sem isso será difícil iniciar um processo de negociação de acordos comerciais que recoloque o Brasil no fluxo dinâmico das cadeias produtivas e da inovação, com mais investimentos e emprego.
* RUBENS BARBOSA É PRESIDENTE DO CONSELHO DE COMÉRCIO EXTERIOR DA FIESP
Depois de longos e difíceis entendimentos, a conclusão da Parceria Transpacífico (PTP), de 12 países com acesso ao Pacífico, incluídos EUA e Japão, representando 40% da produção mundial, abre uma nova etapa nas negociações comerciais. A PTP vai além de um acordo de livre-comércio tradicional, limitado à redução ou eliminação de tarifas e ao exame das barreiras tarifárias e não tarifárias (subsídios, antidumping), controladas nas fronteiras.
A PTP e outros entendimentos, como o acordo EUA-União Europeia, inauguram uma forma de interdependência econômico-comercial regional mais profunda. Esses acordos ampliarão as cadeias produtivas globais, em que o foco, ao contrário dos acordos negociados até aqui, são as regras existentes dentro do território de cada país-membro relacionadas com o comércio (competição, investimento, propriedade intelectual, serviços, trabalhistas, meio ambiente), que passarão a ser harmonizadas.
A PTP é a primeira negociação importante, nas últimas décadas, levada a efeito por motivações geopolíticas. Liderada pelos EUA, a PTP ampliou os interesses e a visibilidade norte-americana na Ásia e excluiu a China, com o objetivo de responder à crescente presença deste país e ao temor dos países da região de uma eventual ameaça de Pequim.
Não cabe aqui analisar as principais disposições e regras do acordo, mas examinar as consequências para o comércio internacional dessa parceria inovadora.
A PTP vai impactar fortemente o sistema multilateral de comércio. Os países não participantes poderão tentar reviver a Organização Mundial de Comércio (OMC), mas a parceria deixará os EUA ainda menos interessado em salvar a OMC e mais propenso a acelerar o acordo com a União Europeia. O fato de a definição das regras ter sido feita fora da OMC enfraquece as negociações multilaterais e marginaliza a instituição. A Rodada Doha, iniciada há quase 15 anos, fracassou e deve ser encerrada melancolicamente, em dezembro, na reunião ministerial de Nairóbi, como pretendem os EUA, apesar da oposição da China e da Índia.
As novas regras do PTP tenderão a ser gradualmente estendidas aos países que tiverem interesse em se juntar aos novos megablocos. Países como o Brasil, que ajudavam a definir as regras no âmbito multilateral da OMC, passarão a ter de aderir a elas com poucas chances de mudá-las, como ocorre com a Coreia do Sul, que já declarou sua intenção de se juntar ao PTP.
Novos padrões estão sendo estabelecidos para o comércio internacional e terão implicações em todos os países. Esses padrões poderão exercer influência sobre outros acordos que vierem a ser examinados com membros ou não do PTP e sobre a negociação de acordos plurilaterais fora do âmbito da OMC, como o de serviços.
A exclusão de todos os países do Brics (Brasil, Rússia, China e África do Sul) chama a atenção. Não seria o caso de esses países pensarem em estudar uma negociação voltada para a colaboração comercial que pudesse no médio prazo caminhar na mesma direção dos novos megablocos?
Quando for ratificado (o que levará algum tempo em vista da reação interna de alguns países, como os EUA, pela ameaça à sua indústria automobilística e farmacêutica), deverá haver significativo desvio de comércio, tanto na área agrícola quanto na de manufaturas, pela presença dos EUA e do Japão gozando de preferências em relação aos países não membros.
Quanto ao Brasil, ainda é cedo para antecipar as consequências da entrada em vigor do PTP, mas é certo que haverá desdobramentos afetando negativamente os interesses comerciais brasileiros. Hoje o Brasil exporta cerca de US$ 54 bilhões para 12 dos países-membros do PTP; poderá haver desvio de comércio com a substituição de produtos agrícolas brasileiros por norte-americanos e australianos, mais competitivos e preferenciais no âmbito da parceria. Por outro lado, as novas regras impactarão futuras negociações do Brasil, a começar com a União Europeia, se forem levadas adiante no próximo ano. A parceria EUA-União Europeia, quando aprovada, deixará ainda mais flagrante o isolamento do Brasil das negociações que envolvem os fluxos dinâmicos do comércio global. Essa nova forma de intercâmbio comercial, que hoje representa quase 70% das trocas mundiais, se desenvolve por meio das cadeias produtivas globais em que o Brasil ocupa uma posição marginal pela sua baixa competitividade em bens e serviços.
O divórcio entre política macroeconômica, política industrial e a de comércio exterior acentuou a perda da competitividade da economia brasileira. Segundo o Fórum Econômico Mundial, o Brasil despencou 18 posições no índice de competitividade, caindo para o 76.º lugar.
O PTP deveria acender uma luz amarela no Brasil, que há 13 anos vem se emaranhando em opções estratégicas equivocadas no comércio exterior e na política externa. Sob forte influência político-partidária, essas opções se desdobraram em políticas que isolaram o Brasil das negociações comerciais globais e estão acarretando um custo para a balança comercial com a queda das exportações e das importações. Os preconceitos antiglobalização e a prioridade Sul-Sul marginalizaram o Brasil dos entendimentos para negociações com países comercialmente relevantes fora da região.
Espera-se que a assinatura do acordo entre EUA, Japão e países asiáticos possa estimular os formuladores de política do governo petista a retomar a discussão de uma agenda para reduzir o custo Brasil (reformas estruturais – tributária, trabalhista, Previdência –, o custo da energia, infraestrutura, burocracia, taxa de juros). Sem isso será difícil iniciar um processo de negociação de acordos comerciais que recoloque o Brasil no fluxo dinâmico das cadeias produtivas e da inovação, com mais investimentos e emprego.
* RUBENS BARBOSA É PRESIDENTE DO CONSELHO DE COMÉRCIO EXTERIOR DA FIESP
O Estado desejado - ORLANDO DINIZ
O GLOBO - 13/10
Por que não são desativadas estatais sem função?
O governo federal alimenta uma máquina administrativa inchada e onerosa. Vivemos um momento de grave crise econômica, sustentada por iniciativas erráticas na política. O mercado tem cada vez mais dificuldades de enxergar uma solução e dá as suas demonstrações pela alta do dólar. O quadro de inflação elevada sob recessão com déficit fiscal é agravante.
Ninguém, em sã consciência, deseja viver em um país mergulhado no caos. Mas é preciso que o governo enxergue seriamente o caminho a tomar. A recente reforma administrativa é tímida perto do potencial de redução de gastos dessa estrutura gigante.
O envio ao Congresso de medidas que aumentam receitas para cobrir o (inacreditável) déficit orçamentário de R$ 30,5 bilhões em 2016 é um pacote de maldades com o cidadão e o empresário em toda a escala produtiva. A CPMF surgiu anos atrás sob o pretexto de socorrer necessidades da saúde e nada mudou. Ela é ressuscitada agora, quando pequenas e médias empresas do comércio de bens, serviços e turismo já enfrentam sérios problemas - da queda nas vendas, à inadimplência e ao fechamento de portas.
Espanta muito a falta de visão quanto ao rumo a seguir. Com a retomada desse imposto em cascata, o Executivo esmaga os setores produtivos e, neles, o comércio - o que mais emprega em todo o Brasil, conforme dados do IBGE. Em suas iniciativas mutantes, o governo chegou a propor o corte em 30% no orçamento do Sistema S, que sustenta a qualificação de mão de obra do trabalhador. No Rio de Janeiro, o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial capacita pessoas também nas UPPs, promovendo inclusão social pelo trabalho. A empregabilidade a partir dos cursos do Senac Rio é de 71%. Se o governo recuou nesses termos, ainda não desistiu de tomar recursos do Sistema S por novas fórmulas. O foco está equivocado.
O pacote nasce míope, estimulando uma recessão ainda maior, com o aumento generalizado do fechamento de empresas, principalmente de micro e pequenas que não têm condições de suportar novos aumentos de impostos. Cabe ao Congresso o olhar sob os vários aspectos.
Há saídas. E todo o setor empresarial deseja o encontro de equilíbrio e justiça social na busca de soluções. Ninguém deseja a convulsão social. O momento impõe à sociedade uma discussão sobre o tamanho necessário do Estado brasileiro. Por que não são desativadas empresas estatais sem função, cujos quadros de funcionários crescem na contramão da lógica? Por que o Estado brasileiro não elimina os seus desperdícios e benesses? Por que o governo opta por empurrar esta conta para o cidadão e para o setor produtivo, em vez de verdadeiramente enxugar a mastodôntica máquina pública? A racionalização das medidas necessárias para o ajuste fiscal passa pela reflexão do tamanho do Estado que a sociedade deseja. E ela deve ser ouvida.Orlando Diniz é presidente do Sistema Fecomércio RJ
Por que não são desativadas estatais sem função?
O governo federal alimenta uma máquina administrativa inchada e onerosa. Vivemos um momento de grave crise econômica, sustentada por iniciativas erráticas na política. O mercado tem cada vez mais dificuldades de enxergar uma solução e dá as suas demonstrações pela alta do dólar. O quadro de inflação elevada sob recessão com déficit fiscal é agravante.
Ninguém, em sã consciência, deseja viver em um país mergulhado no caos. Mas é preciso que o governo enxergue seriamente o caminho a tomar. A recente reforma administrativa é tímida perto do potencial de redução de gastos dessa estrutura gigante.
O envio ao Congresso de medidas que aumentam receitas para cobrir o (inacreditável) déficit orçamentário de R$ 30,5 bilhões em 2016 é um pacote de maldades com o cidadão e o empresário em toda a escala produtiva. A CPMF surgiu anos atrás sob o pretexto de socorrer necessidades da saúde e nada mudou. Ela é ressuscitada agora, quando pequenas e médias empresas do comércio de bens, serviços e turismo já enfrentam sérios problemas - da queda nas vendas, à inadimplência e ao fechamento de portas.
Espanta muito a falta de visão quanto ao rumo a seguir. Com a retomada desse imposto em cascata, o Executivo esmaga os setores produtivos e, neles, o comércio - o que mais emprega em todo o Brasil, conforme dados do IBGE. Em suas iniciativas mutantes, o governo chegou a propor o corte em 30% no orçamento do Sistema S, que sustenta a qualificação de mão de obra do trabalhador. No Rio de Janeiro, o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial capacita pessoas também nas UPPs, promovendo inclusão social pelo trabalho. A empregabilidade a partir dos cursos do Senac Rio é de 71%. Se o governo recuou nesses termos, ainda não desistiu de tomar recursos do Sistema S por novas fórmulas. O foco está equivocado.
O pacote nasce míope, estimulando uma recessão ainda maior, com o aumento generalizado do fechamento de empresas, principalmente de micro e pequenas que não têm condições de suportar novos aumentos de impostos. Cabe ao Congresso o olhar sob os vários aspectos.
Há saídas. E todo o setor empresarial deseja o encontro de equilíbrio e justiça social na busca de soluções. Ninguém deseja a convulsão social. O momento impõe à sociedade uma discussão sobre o tamanho necessário do Estado brasileiro. Por que não são desativadas empresas estatais sem função, cujos quadros de funcionários crescem na contramão da lógica? Por que o Estado brasileiro não elimina os seus desperdícios e benesses? Por que o governo opta por empurrar esta conta para o cidadão e para o setor produtivo, em vez de verdadeiramente enxugar a mastodôntica máquina pública? A racionalização das medidas necessárias para o ajuste fiscal passa pela reflexão do tamanho do Estado que a sociedade deseja. E ela deve ser ouvida.Orlando Diniz é presidente do Sistema Fecomércio RJ
Fracasso anunciado - EDITORIAL ESTADÃO
O ESTADO DE S. PAULO -13/10
Foi um fracasso anunciado a 13.ª rodada de licitações de blocos exploratórios de petróleo realizada pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), que rendeu apenas 12% do valor mínimo de todas as bacias ofertadas e negociou só 14% do total de áreas em leilão. O governo tinha esperança de arrecadar de R$ 1 bilhão a R$ 2 bilhões caso houvesse disputa pelos blocos, cujo valor total mínimo foi fixado pela ANP em R$ 978 milhões. Seria um dinheiro razoável para ajudá-lo a reduzir o rombo previsto para suas contas neste ano. Mas um conjunto de fatores adversos, alguns dos quais de responsabilidade do próprio governo, produziu resultados frustrantes.
De 10 bacias sedimentares incluídas no leilão, 6 não receberam oferta. Dos 266 blocos de exploração oferecidos, apenas 37 foram arrematados. Por eles, o governo receberá R$ 121,1 milhões, pouco mais de 10% do valor mínimo que poderia receber caso todos os lotes fossem arrematados pelo preço mínimo. É o pior resultado desde 2003.
A rodada anterior, realizada em novembro de 2013, só não foi um fracasso tão grande como o que acaba de ocorrer por causa da forte atuação da Petrobrás, que, com lances considerados ousados, arrematou 49 dos 72 lotes então adquiridos, dos 240 blocos para exploração de gás colocados em leilão. Desta vez, por estar envolvida em séria crise financeira causada pelo esquema de corrupção investigado pela Operação Lava Jato e por seu uso político pelo governo do PT, a Petrobrás não fez nenhum lance. Foi a primeira vez, desde o primeiro leilão realizado em 1999, que a empresa não fez ofertas.
Em nota, a estatal explicou que a decisão de não participar foi tomada “após exaustiva análise técnica e econômica dos blocos ofertados, cuja adesão ao portfólio da companhia não se mostrou vantajosa”. A ausência no leilão deveu-se também, segundo a nota, à sua situação financeira, que exige “maior disciplina de gestão”, por meio da redução dos investimentos e de cortes de custos administrativos.
Não foi, porém, só a ausência da Petrobrás e de outras grandes empresas do setor previamente habilitadas para o leilão que levou ao fracasso da 13.ª rodada. A queda do preço do petróleo, de mais de 50% desde 2014 (a cotação atual é de cerca de US$ 50 por barril), certamente tornou as empresas mais seletivas e atentas às alternativas mais lucrativas, o que as afastou do leilão. A oferta de áreas pouco atrativas acentuou essa preocupação das empresas.
Um fator que pode ter sido decisivo para a ausência das grandes companhias internacionais do leilão foi uma mudança nas regras fixadas no edital da 13.ª rodada. Essa mudança deu à ANP o poder de decisão sobre a união de duas reservas contíguas. Com a união das reservas em uma área maior, a agência pode cobrar participação especial, uma taxa aplicada apenas a grandes volumes de produção. Segundo fontes do setor, isso eleva os custos, fator que pode ter sido considerado também pela Petrobrás para não participar do leilão.
Regras aplicadas há tempos pela ANP – como a exigência de conteúdo local nos equipamentos a serem utilizados na exploração e produção – igualmente podem ter contribuído para tornar menos interessante, para as grandes empresas, a participação num leilão já prejudicado pela situação do mercado do petróleo e pela oferta de áreas pouco promissoras.
Mesmo reconhecendo que o resultado ficou muito abaixo do esperado, a diretora-geral da ANP, Magda Chambriard, insistiu na avaliação da agência de que as áreas oferecidas eram “extremamente boas”. Mas alguma coisa deu errado e ela disse que a ANP analisará o que produziu resultados tão fracos nessa rodada.
Quanto à Petrobrás, de fato é necessário que imponha “maior disciplina” à sua gestão financeira, para corrigir os erros causados pela administração petista. Mas a empresa precisa estar preparada para o momento em que suas atuais áreas de produção entrarem em declínio. E essa preparação requer a posse de novas áreas.
Foi um fracasso anunciado a 13.ª rodada de licitações de blocos exploratórios de petróleo realizada pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), que rendeu apenas 12% do valor mínimo de todas as bacias ofertadas e negociou só 14% do total de áreas em leilão. O governo tinha esperança de arrecadar de R$ 1 bilhão a R$ 2 bilhões caso houvesse disputa pelos blocos, cujo valor total mínimo foi fixado pela ANP em R$ 978 milhões. Seria um dinheiro razoável para ajudá-lo a reduzir o rombo previsto para suas contas neste ano. Mas um conjunto de fatores adversos, alguns dos quais de responsabilidade do próprio governo, produziu resultados frustrantes.
De 10 bacias sedimentares incluídas no leilão, 6 não receberam oferta. Dos 266 blocos de exploração oferecidos, apenas 37 foram arrematados. Por eles, o governo receberá R$ 121,1 milhões, pouco mais de 10% do valor mínimo que poderia receber caso todos os lotes fossem arrematados pelo preço mínimo. É o pior resultado desde 2003.
A rodada anterior, realizada em novembro de 2013, só não foi um fracasso tão grande como o que acaba de ocorrer por causa da forte atuação da Petrobrás, que, com lances considerados ousados, arrematou 49 dos 72 lotes então adquiridos, dos 240 blocos para exploração de gás colocados em leilão. Desta vez, por estar envolvida em séria crise financeira causada pelo esquema de corrupção investigado pela Operação Lava Jato e por seu uso político pelo governo do PT, a Petrobrás não fez nenhum lance. Foi a primeira vez, desde o primeiro leilão realizado em 1999, que a empresa não fez ofertas.
Em nota, a estatal explicou que a decisão de não participar foi tomada “após exaustiva análise técnica e econômica dos blocos ofertados, cuja adesão ao portfólio da companhia não se mostrou vantajosa”. A ausência no leilão deveu-se também, segundo a nota, à sua situação financeira, que exige “maior disciplina de gestão”, por meio da redução dos investimentos e de cortes de custos administrativos.
Não foi, porém, só a ausência da Petrobrás e de outras grandes empresas do setor previamente habilitadas para o leilão que levou ao fracasso da 13.ª rodada. A queda do preço do petróleo, de mais de 50% desde 2014 (a cotação atual é de cerca de US$ 50 por barril), certamente tornou as empresas mais seletivas e atentas às alternativas mais lucrativas, o que as afastou do leilão. A oferta de áreas pouco atrativas acentuou essa preocupação das empresas.
Um fator que pode ter sido decisivo para a ausência das grandes companhias internacionais do leilão foi uma mudança nas regras fixadas no edital da 13.ª rodada. Essa mudança deu à ANP o poder de decisão sobre a união de duas reservas contíguas. Com a união das reservas em uma área maior, a agência pode cobrar participação especial, uma taxa aplicada apenas a grandes volumes de produção. Segundo fontes do setor, isso eleva os custos, fator que pode ter sido considerado também pela Petrobrás para não participar do leilão.
Regras aplicadas há tempos pela ANP – como a exigência de conteúdo local nos equipamentos a serem utilizados na exploração e produção – igualmente podem ter contribuído para tornar menos interessante, para as grandes empresas, a participação num leilão já prejudicado pela situação do mercado do petróleo e pela oferta de áreas pouco promissoras.
Mesmo reconhecendo que o resultado ficou muito abaixo do esperado, a diretora-geral da ANP, Magda Chambriard, insistiu na avaliação da agência de que as áreas oferecidas eram “extremamente boas”. Mas alguma coisa deu errado e ela disse que a ANP analisará o que produziu resultados tão fracos nessa rodada.
Quanto à Petrobrás, de fato é necessário que imponha “maior disciplina” à sua gestão financeira, para corrigir os erros causados pela administração petista. Mas a empresa precisa estar preparada para o momento em que suas atuais áreas de produção entrarem em declínio. E essa preparação requer a posse de novas áreas.
Do vício à virtude - JANAÍNA CONCEIÇÃO PASCHOAL
GAZETA DO POVO - PR - 13/10
O pedido de impeachment encabeçado por Hélio Bicudo já continha todos os elementos para o justo afastamento da presidente da República: os fatos estão claramente demonstrados, os crimes firmemente delineados e todos os requisitos formais preenchidos. Por consequência, ainda que o Tribunal de Contas da União, por juízo exclusivamente político, houvesse aprovado as contas do governo, o impeachment de Dilma Rousseff seria cabível.
Ao rejeitar as contas do governo, no entanto, o TCU, além de fortalecer a denúncia referente aos crimes de responsabilidade da presidente, mostrou que o Brasil não vai se transformar na republiqueta sonhada pelo PT. O rigor técnico do voto do ministro Nardes espanca qualquer alegação de que o julgamento teria sido político-partidário. A indignação registrada pelo ministro André Luiz de Carvalho, diante da vergonhosa pressão do governo, mostra que as instituições não podem continuar submetidas ao aparelhamento que vem minando o funcionamento do país.
O PT, tal qual uma nuvem de gafanhotos, vem paulatinamente corroendo nossas instituições por dentro. Durante todos esses anos, o critério para preencher os cargos foi, predominantemente, ser companheiro. Mas em uma verdadeira república o trabalho, o preparo, a seriedade devem ser os requisitos centrais. Os companheiros têm de entender, por exemplo, que a Advocacia-Geral é da União e não do PT. Os companheiros têm de entender que a Procuradoria-Geral é da República e não do PT. Eles têm de perceber que aos ministros do STF compete proteger a Constituição Federal e não prolatar decisões a fim de pagar pela indicação.
A queda de Dilma Rousseff não resolverá todos os problemas do Brasil, por óbvio; entretanto, ao retirar o PT do poder, estaremos quebrando um círculo vicioso e inaugurando um ciclo virtuoso. A era das instituições livres para aplicar as normas, de forma igual, para todos. Para que esse novo modelo efetivamente se perenize, é muito importante ter claro que o pleito de impeachment de Dilma não se alicerça apenas nas pedaladas fiscais (que já seriam suficientes). O pedido de afastamento se alicerça também na promíscua relação havida entre a atual presidente, o ex-presidente Lula e algumas empresas privadas, em especial o Grupo Odebrecht.
Como defensora da livre iniciativa, entendo que empresário é aquele que assume riscos, que investe seus próprios recursos, dá empregos, produz riqueza (para ele e para o país), paga impostos, sem ter garantia do retorno de suas atividades. A livre iniciativa não tem nada a ver com falsos empreendedores, com aqueles que conluiam com os poderosos, usam o dinheiro público e se alavancam sobre o sofrido suor do povo brasileiro, que tem os impostos descontados na fonte. A livre iniciativa tem como pilar a concorrência. Como concorrer com quem está mancomunado com os detentores do poder?
O verdadeiro empreendedor soma. O falso empreendedor suga. São sanguessugas que se pretendem deuses. Nossa luta não é só contra a corrupção, nossa luta também é contra a idolatria. Para tanto, o brasileiro, rico ou pobre, negro ou branco, homo ou heterossexual, precisa parar de acreditar em salvadores da pátria; também precisa deixar de aceitar verdades absolutas, com fulcro apenas em quem seja o mensageiro.
Cada criança, cada adolescente, há de entender que somente estudando, lendo as leis, construindo suas próprias opiniões sobre o que dizem os livros e os professores, será possível erguer uma pátria livre e, portanto, amada. Um povo honrado é pacífico, não passivo!
Janaina Conceição Paschoal, professora livre docente de Direito Penal na USP, é coautora do pedido de impeachment assinado também por Hélio Bicudo e Miguel Reale Jr.
O governo não governa - MARCO ANTONIO VILLA
O GLOBO - 13/10
O governo perdeu a capacidade de governar. A cada mês, desde a posse, o espaço de governabilidade foi se reduzindo. Hoje, luta desesperadamente pela sua sobrevivência. Qualquer ato, por menor que seja, está mediado pela necessidade de preservação. Efetuou uma reforma ministerial com o único intuito de ter uma base segura no Congresso Nacional. Em momento algum analisou nomes tendo como base a competência. Não, absolutamente não. O único pensamento foi de garantir uma maioria bovina. E, principalmente, impedir a abertura de um processo de impeachment.
O articulador deste arranjo antirrepublicano foi o ex-presidente Lula. Ele assumiu o protagonismo, reuniu lideranças partidárias, ditou mudanças políticas e econômicas e apresentou à presidente a nova composição de forças. Foi louvado pela imprensa chapa-branca. Parecia que a escuridão estava no fim. Teria aberto o caminho da governabilidade, isolado os opositores e pavimentado a sua eleição, dada como certa em 2018.
Ledo engano. A reforma ministerial fracassou. Uma semana depois, o panorama no Congresso Nacional é o mesmo — ou até pior. E Lula foi o grande derrotado. Na última quinzena, somou diversas derrotas. Foi acusado de vários crimes — lavagem de dinheiro, corrupção passiva, formação de quadrilha, entre outros — pelo jurista Hélio Bicudo. Dias depois foi divulgada a notícia de que, em 2009, uma medida provisória que beneficiava montadoras de veículos teria sido vendida, e um dos seus filhos supostamente recebido R$ 2,4 milhões. Em seguida, duas revistas semanais revelaram que Lula teria praticado tráfico de influência internacional em Gana e na República da Guiné Equatorial, favorecendo empreiteiras brasileiras e que o tríplex na Praia do Guarujá foi reformado por uma grande empreiteira. O presidente, que se autoproclamava o mais importante da História do Brasil, que, em 2010, estava em dúvida se seria candidato a secretário-geral da ONU ou a presidência do Banco Mundial — sem contar aqueles que queriam indicá-lo ao Prêmio Nobel da Paz — passou a evitar locais públicos, ficou refugiado em auditórios amestrados e foi homenageado com bonecos representando-o em situações constrangedoras.
A crise deve se prolongar. O projeto criminoso de poder — sábia expressão do ministro Celso de Mello, decano do STF — não consegue conviver com o Estado Democrático de Direito e fará de tudo para permanecer no governo, custe o que custar. Ou seja, se for necessário jogar o país na pior crise econômica do último meio século, o fará sem qualquer constrangimento. Se for preciso estender a crise política até a exaustão, não pensará duas vezes — fará com satisfação. Se for indispensável ameaçar com uma crise social — acionando movimentos mantidos com generosas verbas oficiais — agirá desta forma sem pestanejar. Neste caso, a dúvida que fica é se aliados de travessia — como o capital financeiro — vão manter seu apoio — que rende lucros fabulosos — a um governo que pode levar o país a uma conflagração, jogando brasileiros contra brasileiros.
O perfil da crise atual não tem relação com nenhuma outra da nossa história. É algo muito particular. Os acontecimentos de 1992, por exemplo, tiveram como foco central denúncias de corrupção que, nos moldes do projeto criminoso de poder, parecem, como diria um ex-presidente, “dinheiro de pinga.” A renúncia de Fernando Collor — o impeachment, vale lembrar, não ocorreu — tem relação direta muito mais com o caminho econômico-político preconizado quando da posse do presidente, em 15 de março de 1990, relacionado à profunda modernização do Estado e de suas relações com a sociedade, do que com as acusações de corrupção — algumas comprovadas e que não envolviam diretamente o presidente. Ou seja, ter retirado privilégios de empresários de diversos ramos, de artistas e intelectuais, de funcionários públicos e de empresas e bancos estatais, entre outros, e de se recusar partilhar a máquina pública para obter apoio no Congresso, foram fatais. Com este leque de adversários, o que causa estranheza é que seu governo tenha durado tanto tempo.
A crise atual é mais profunda. A política é mero pretexto para o enriquecimento pessoal e uso do Estado como meio de distribuir prebendas, algumas milionárias, ao grande empresariado. O PT cumpriu o dito marxista: transformou o Estado em comitê central da burguesia. Nos dois governos Lula, isto foi possível devido à conjuntura econômica internacional, às reformas adotadas nas gestões FH que deram frutos depois de 2002, ao estabelecimento de uma máquina burocrática controlada por comissários do partido, à compra de apoio na imprensa, no meio artístico, entre pseudointelectuais e a omissão da oposição parlamentar. Mas o que era doce acabou.
Na última quinzena, o governo foi sucessivamente derrotado. Em um só dia, na última quarta-feira, colecionou três fracassos: no Congresso Nacional, no STF e no TCU. Mas, como se diz popularmente, “não quer largar o osso.” Isto porque o partido não sobrevive fora do Estado. Criou um estamento de militantes-funcionários que vivem, direta ou indiretamente, de recursos públicos. São os parasitas da estrela vermelha. E são milhares. A maioria nunca trabalhou — ou está distante décadas do mercado formal de trabalho.
O projeto criminoso de poder caminha para o isolamento. Vai ser derrotado. Mas a agonia vai até quando? Empurrar a crise para 2016 significa uma irresponsabilidade histórica. A sociedade quer ser livrar do governo. Mas onde estão os novos governantes? E, principalmente, o que pensam sobre o Brasil?
O governo perdeu a capacidade de governar. A cada mês, desde a posse, o espaço de governabilidade foi se reduzindo. Hoje, luta desesperadamente pela sua sobrevivência. Qualquer ato, por menor que seja, está mediado pela necessidade de preservação. Efetuou uma reforma ministerial com o único intuito de ter uma base segura no Congresso Nacional. Em momento algum analisou nomes tendo como base a competência. Não, absolutamente não. O único pensamento foi de garantir uma maioria bovina. E, principalmente, impedir a abertura de um processo de impeachment.
O articulador deste arranjo antirrepublicano foi o ex-presidente Lula. Ele assumiu o protagonismo, reuniu lideranças partidárias, ditou mudanças políticas e econômicas e apresentou à presidente a nova composição de forças. Foi louvado pela imprensa chapa-branca. Parecia que a escuridão estava no fim. Teria aberto o caminho da governabilidade, isolado os opositores e pavimentado a sua eleição, dada como certa em 2018.
Ledo engano. A reforma ministerial fracassou. Uma semana depois, o panorama no Congresso Nacional é o mesmo — ou até pior. E Lula foi o grande derrotado. Na última quinzena, somou diversas derrotas. Foi acusado de vários crimes — lavagem de dinheiro, corrupção passiva, formação de quadrilha, entre outros — pelo jurista Hélio Bicudo. Dias depois foi divulgada a notícia de que, em 2009, uma medida provisória que beneficiava montadoras de veículos teria sido vendida, e um dos seus filhos supostamente recebido R$ 2,4 milhões. Em seguida, duas revistas semanais revelaram que Lula teria praticado tráfico de influência internacional em Gana e na República da Guiné Equatorial, favorecendo empreiteiras brasileiras e que o tríplex na Praia do Guarujá foi reformado por uma grande empreiteira. O presidente, que se autoproclamava o mais importante da História do Brasil, que, em 2010, estava em dúvida se seria candidato a secretário-geral da ONU ou a presidência do Banco Mundial — sem contar aqueles que queriam indicá-lo ao Prêmio Nobel da Paz — passou a evitar locais públicos, ficou refugiado em auditórios amestrados e foi homenageado com bonecos representando-o em situações constrangedoras.
A crise deve se prolongar. O projeto criminoso de poder — sábia expressão do ministro Celso de Mello, decano do STF — não consegue conviver com o Estado Democrático de Direito e fará de tudo para permanecer no governo, custe o que custar. Ou seja, se for necessário jogar o país na pior crise econômica do último meio século, o fará sem qualquer constrangimento. Se for preciso estender a crise política até a exaustão, não pensará duas vezes — fará com satisfação. Se for indispensável ameaçar com uma crise social — acionando movimentos mantidos com generosas verbas oficiais — agirá desta forma sem pestanejar. Neste caso, a dúvida que fica é se aliados de travessia — como o capital financeiro — vão manter seu apoio — que rende lucros fabulosos — a um governo que pode levar o país a uma conflagração, jogando brasileiros contra brasileiros.
O perfil da crise atual não tem relação com nenhuma outra da nossa história. É algo muito particular. Os acontecimentos de 1992, por exemplo, tiveram como foco central denúncias de corrupção que, nos moldes do projeto criminoso de poder, parecem, como diria um ex-presidente, “dinheiro de pinga.” A renúncia de Fernando Collor — o impeachment, vale lembrar, não ocorreu — tem relação direta muito mais com o caminho econômico-político preconizado quando da posse do presidente, em 15 de março de 1990, relacionado à profunda modernização do Estado e de suas relações com a sociedade, do que com as acusações de corrupção — algumas comprovadas e que não envolviam diretamente o presidente. Ou seja, ter retirado privilégios de empresários de diversos ramos, de artistas e intelectuais, de funcionários públicos e de empresas e bancos estatais, entre outros, e de se recusar partilhar a máquina pública para obter apoio no Congresso, foram fatais. Com este leque de adversários, o que causa estranheza é que seu governo tenha durado tanto tempo.
A crise atual é mais profunda. A política é mero pretexto para o enriquecimento pessoal e uso do Estado como meio de distribuir prebendas, algumas milionárias, ao grande empresariado. O PT cumpriu o dito marxista: transformou o Estado em comitê central da burguesia. Nos dois governos Lula, isto foi possível devido à conjuntura econômica internacional, às reformas adotadas nas gestões FH que deram frutos depois de 2002, ao estabelecimento de uma máquina burocrática controlada por comissários do partido, à compra de apoio na imprensa, no meio artístico, entre pseudointelectuais e a omissão da oposição parlamentar. Mas o que era doce acabou.
Na última quinzena, o governo foi sucessivamente derrotado. Em um só dia, na última quarta-feira, colecionou três fracassos: no Congresso Nacional, no STF e no TCU. Mas, como se diz popularmente, “não quer largar o osso.” Isto porque o partido não sobrevive fora do Estado. Criou um estamento de militantes-funcionários que vivem, direta ou indiretamente, de recursos públicos. São os parasitas da estrela vermelha. E são milhares. A maioria nunca trabalhou — ou está distante décadas do mercado formal de trabalho.
O projeto criminoso de poder caminha para o isolamento. Vai ser derrotado. Mas a agonia vai até quando? Empurrar a crise para 2016 significa uma irresponsabilidade histórica. A sociedade quer ser livrar do governo. Mas onde estão os novos governantes? E, principalmente, o que pensam sobre o Brasil?
Sangue e suor - NATUZA NERY - PAINEL FOLHA
FOLHA DE SP - 13/10
A ameaça de impeachment chega ao seu nível mais elevado nesta semana com o governo perdido sobre como evitar o processo de deposição. Apesar de reuniões picadas aqui e ali com pouquíssimos ministros nos últimos dias, a presidente Dilma Rousseff ainda não tem um gabinete de crise plenamente estruturado para impedir a cassação de seu mandato pelo Congresso. Após reuniões com sua equipe nesta segunda, porém, Dilma estaria convencida a "partir para a guerra".
Tudo... Ministros defendem que a presidente adote o discurso do "nunca roubei" e vá para cima do chefe da Câmara, Eduardo Cunha.
...ou nada Para o grupo, não há outra alternativa a não ser dizer, publicamente, que "quem tenta tirá-la do cargo é um político acusado de cometer atos ilícitos" no esquema da Petrobras.
No ar Nas conversas travadas nesta segunda no Palácio da Alvorada, auxiliares reconheceram as chances reais de o impeachment ser deflagrado. Caso isso ocorra, Dilma faria um pronunciamento em rede nacional de rádio e TV.
Padrinho Preocupado com o grau de instabilidade atingido pela crise,o ex-presidente Lula avisou que irá a Brasília nos próximos dias.
No escuro Sem ponte com o presidente da Câmara, o Planalto não conseguiu, nos últimos dias, se antecipar aos movimentos do adversário. Agiu, portanto, mais por intuição que por informação.
Placar Petistas afirmam que a única frente do governo que tem funcionado bem até agora é aquela encarregada de reunir votos contra a deposição da petista na Câmara. Segundo cálculos de três ministros, haveria apoio "sólido" de 230 deputados.
Imprevisível Por outro lado, a avaliação da cúpula do Planalto é a de que, se houver pressão das ruas, muitos desses congressistas desistiriam de apoiar a presidente.
Falta confirmar A falta de quorum para manter os vetos presidenciais, semana passada, também joga dúvidas sobre essa previsão.
Time Dilma escalou Miguel Rossetto (Previdência) para mobilizar os movimentos sociais. José Eduardo Cardozo (Justiça) medirá o pulso do STF para avaliar se há apoio contra o impeachment.
Vai dar? O governo não sabe se possui maioria confortável no Supremo Tribunal Federal para contestar a eventual abertura de um processo contra a presidente.
Munição "Mas já queimamos o cartucho do STF quando tentamos evitar o julgamento no TCU. E o STF nos derrotou", diz um ministro, com dúvidas sobre se recorrer ao Supremo seria a melhor estratégia neste momento.
Radar Nas últimas semanas, diferentes interlocutores do Planalto levaram a Brasília a informação de que muitos empresários ensaiam retirar o apoio ao governo.
Contenção O Palácio do Planalto, no entanto, ainda não tem ninguém escalado para tentar conter a notícia de sangria no setor privado.
Sede ao pote Uma ala do PSDB não concorda com a estratégia do partido de combinar o jogo do impeachment com Eduardo Cunha. Na avaliação de alguns tucanos, isso está expondo a legenda.
Apanha calado Há meses apanhando de Eduardo Cunha pela imprensa, nenhum ministro ou dirigente petista de peso condenou publicamente o principal adversário de Dilma. O grupo de deputados do partido que pediu seu afastamento da Câmara o fez de forma isolada, sem o aval da cúpula.
Medo Parte desse silêncio resultou da percepção de que o peemedebista, a esta altura, já estaria tão fragilizado que não teria mais condições de operar um processo de deposição da presidente. A outra parte vem da crença de que ainda seria possível fazer um acordo com ele.
Será? Petistas afirmam que falta mobilização não só da militância mas também dos dirigentes do partido nos Estados. "Estamos esperando Godot", diz, frustrado, um integrante do partido.
CONTRAPONTO
"A permanência de Eduardo Cunha na presidência da Câmara é a maior afronta à República e à democracia que este país já viu."
DO SENADOR RANDOLFE RODRIGUES (Rede-AP), sobre a revelação de que contas secretas na Suíça eram usadas por Cunha para pagar despesas pessoais.
TIROTEIO
Momento tiete
Em sua viagem oficial aos Estados Unidos, no fim de junho, Dilma Rousseff conversava com seu homólogo Barack Obama quando notou Kátia Abreu os cercando. Ao perceber a inquietude de sua ministra da Agricultura, a presidente brasileira foi logo apresentando os dois.
Kátia, admiradora declarada de Obama, quase não conseguiu reagir diante do mandatário norte-americano.
–É que ela é fã dele –explicou Dilma para os assessores que acompanhavam a cena.
A ameaça de impeachment chega ao seu nível mais elevado nesta semana com o governo perdido sobre como evitar o processo de deposição. Apesar de reuniões picadas aqui e ali com pouquíssimos ministros nos últimos dias, a presidente Dilma Rousseff ainda não tem um gabinete de crise plenamente estruturado para impedir a cassação de seu mandato pelo Congresso. Após reuniões com sua equipe nesta segunda, porém, Dilma estaria convencida a "partir para a guerra".
Tudo... Ministros defendem que a presidente adote o discurso do "nunca roubei" e vá para cima do chefe da Câmara, Eduardo Cunha.
...ou nada Para o grupo, não há outra alternativa a não ser dizer, publicamente, que "quem tenta tirá-la do cargo é um político acusado de cometer atos ilícitos" no esquema da Petrobras.
No ar Nas conversas travadas nesta segunda no Palácio da Alvorada, auxiliares reconheceram as chances reais de o impeachment ser deflagrado. Caso isso ocorra, Dilma faria um pronunciamento em rede nacional de rádio e TV.
Padrinho Preocupado com o grau de instabilidade atingido pela crise,o ex-presidente Lula avisou que irá a Brasília nos próximos dias.
No escuro Sem ponte com o presidente da Câmara, o Planalto não conseguiu, nos últimos dias, se antecipar aos movimentos do adversário. Agiu, portanto, mais por intuição que por informação.
Placar Petistas afirmam que a única frente do governo que tem funcionado bem até agora é aquela encarregada de reunir votos contra a deposição da petista na Câmara. Segundo cálculos de três ministros, haveria apoio "sólido" de 230 deputados.
Imprevisível Por outro lado, a avaliação da cúpula do Planalto é a de que, se houver pressão das ruas, muitos desses congressistas desistiriam de apoiar a presidente.
Falta confirmar A falta de quorum para manter os vetos presidenciais, semana passada, também joga dúvidas sobre essa previsão.
Time Dilma escalou Miguel Rossetto (Previdência) para mobilizar os movimentos sociais. José Eduardo Cardozo (Justiça) medirá o pulso do STF para avaliar se há apoio contra o impeachment.
Vai dar? O governo não sabe se possui maioria confortável no Supremo Tribunal Federal para contestar a eventual abertura de um processo contra a presidente.
Munição "Mas já queimamos o cartucho do STF quando tentamos evitar o julgamento no TCU. E o STF nos derrotou", diz um ministro, com dúvidas sobre se recorrer ao Supremo seria a melhor estratégia neste momento.
Radar Nas últimas semanas, diferentes interlocutores do Planalto levaram a Brasília a informação de que muitos empresários ensaiam retirar o apoio ao governo.
Contenção O Palácio do Planalto, no entanto, ainda não tem ninguém escalado para tentar conter a notícia de sangria no setor privado.
Sede ao pote Uma ala do PSDB não concorda com a estratégia do partido de combinar o jogo do impeachment com Eduardo Cunha. Na avaliação de alguns tucanos, isso está expondo a legenda.
Apanha calado Há meses apanhando de Eduardo Cunha pela imprensa, nenhum ministro ou dirigente petista de peso condenou publicamente o principal adversário de Dilma. O grupo de deputados do partido que pediu seu afastamento da Câmara o fez de forma isolada, sem o aval da cúpula.
Medo Parte desse silêncio resultou da percepção de que o peemedebista, a esta altura, já estaria tão fragilizado que não teria mais condições de operar um processo de deposição da presidente. A outra parte vem da crença de que ainda seria possível fazer um acordo com ele.
Será? Petistas afirmam que falta mobilização não só da militância mas também dos dirigentes do partido nos Estados. "Estamos esperando Godot", diz, frustrado, um integrante do partido.
CONTRAPONTO
"A permanência de Eduardo Cunha na presidência da Câmara é a maior afronta à República e à democracia que este país já viu."
DO SENADOR RANDOLFE RODRIGUES (Rede-AP), sobre a revelação de que contas secretas na Suíça eram usadas por Cunha para pagar despesas pessoais.
TIROTEIO
Momento tiete
Em sua viagem oficial aos Estados Unidos, no fim de junho, Dilma Rousseff conversava com seu homólogo Barack Obama quando notou Kátia Abreu os cercando. Ao perceber a inquietude de sua ministra da Agricultura, a presidente brasileira foi logo apresentando os dois.
Kátia, admiradora declarada de Obama, quase não conseguiu reagir diante do mandatário norte-americano.
–É que ela é fã dele –explicou Dilma para os assessores que acompanhavam a cena.
COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO
KROLL NÃO ACHOU CONTAS DE CUNHA NA SUÍÇA
Embora tenha dito que não investigou parlamentares, a empresa de investigações Kroll não foi capaz de encontrar as contas secretas do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, na Suíça. Integrantes da CPI da Petrobras, que contratou a Kroll por R$ 1,2 milhão para auxiliar a CPI, estranharam a empresa de inteligência não encontrar dados de uma investigação pública, comandada pelo Ministério Público da Suíça.
DEVER SER
Para ter sido um trabalho útil às investigações da CPI, a Kroll tinha que investigar todas as pessoas citadas nas delações na Lava Jato.
NÃO RESISTIU...
Após ser pressionada pela CPI, a Kroll revelou que fuçou dados dos ex-diretores da Petrobras Paulo Roberto Costa e Renato Duque.
...E ADMITIU
A Kroll admitiu ter investigado o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, o empreiteiro Ricardo Pessoa (UTC) e o megadoleiro Alberto Youssef.
NO LIXO
Após receber R$ 1,2 milhão da Câmara pelo trabalho na CPI da Petrobras, a Kroll ficou ‘sob suspeita’ e não teve o contrato renovado.
GOVERNO TORROU R$412 MILHÕES EM DIÁRIAS ESTE ANO
Durante o anúncio solene das medidas que chamou de “reforma administrativa”, sexta-feira (2), a presidente Dilma incluiu entre as suas declarações de intenção de tentar reduzir gastos com diárias e viagens no serviço público. Pudera. Na discussão dessas medidas, ela ficou espantada com a informação de que somente este ano, até o mês de agosto, seu governo torrou R$ 412 milhões em diárias para servidores.
NINGUÉM VIGIA
Na Agência Nacional de Vigilância Sanitária, onde não se vigia a farra, estão 14 dos 15 maiores contemplados com diárias: média de R$60mil.
LEI AMIGA
Segundo a lei, diárias só são concedidas para indenizar o servidor por despesas extras com “pousada, alimentação e locomoção urbana”.
A CONTA É SUA
Se o ritmo de gastos continuar, o governo Dilma deve gastar cerca de R$ 800 milhões com diárias apenas este ano.
CUNHA, O PARANOICO
Quem conversa com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, sai com a impressão de que ele agora encarna um personagem famoso do saudoso Pasquim, jornal carioca de humor: “Ubaldo, o Paranoico”.
ESFORÇO PROTOCOLAR
Os partidos aliados orientaram seus deputados a não registrarem presença na sessão do Congresso analisaria vetos presidenciais. O PCdoB, que ganhou o Ministério da Defesa, foi um deles.
AGORA VAI?
O líder do PP, deputado Eduardo da Fonte (PE), garante que nesta semana os partidos da base aliada do governo Dilma vão dar quórum para votar os vetos presidenciais. Diz que agora “os ânimos esfriaram”.
PURO FISIOLOGISMO
Voz destoante do seu partido, o senador Antonio Reguffe (PDT-DF) critica a reforma ministerial do governo. “Não há qualquer proposta nova para a saúde”, critica. Segundo ele, “é puro fisiologismo”.
VANGUARDA DO ATRASO
Enquanto o mundo azeita as relações comerciais em tratados como o Trans-pacífico, que prevê até troca de mercadorias, tipo queijos, no Brasil a atrasada “vigilância sanitária” apreende até queijo da Serra, de Portugal, ou doce de leite argentino, adquiridos no freeshop.
DILMA SITIADA
“Não há nada que leve à compreensão de que o governo Dilma sobreviva até janeiro”, diz o deputado Bruno Araújo (PSDB-PE), uma das principais vozes da oposição favoráveis ao impeachment de Dilma.
MUDANÇA DE ESTRATÉGIA
A esperança da oposição na CPI do BNDES é a chegada de inquéritos do Ministério Público para pressionar o comando da CPI a investigar negócios escusos no banco com empreiteiras enroladas no Petrolão.
FACTOIDE
O Planalto avalia que a ameaça do líder do PRB, Celso Russomanno (SP), de entregar o Ministério do Esporte não passou de uma tentativa de descolar do governo para disputar a Prefeitura de São Paulo.
PENSANDO BEM...
... nesta terça, o Tribunal de Contas deveria homenagear o ex-ministro Guido Mantega (Fazenda) pelo Dia do Maquiador.
Embora tenha dito que não investigou parlamentares, a empresa de investigações Kroll não foi capaz de encontrar as contas secretas do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, na Suíça. Integrantes da CPI da Petrobras, que contratou a Kroll por R$ 1,2 milhão para auxiliar a CPI, estranharam a empresa de inteligência não encontrar dados de uma investigação pública, comandada pelo Ministério Público da Suíça.
DEVER SER
Para ter sido um trabalho útil às investigações da CPI, a Kroll tinha que investigar todas as pessoas citadas nas delações na Lava Jato.
NÃO RESISTIU...
Após ser pressionada pela CPI, a Kroll revelou que fuçou dados dos ex-diretores da Petrobras Paulo Roberto Costa e Renato Duque.
...E ADMITIU
A Kroll admitiu ter investigado o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, o empreiteiro Ricardo Pessoa (UTC) e o megadoleiro Alberto Youssef.
NO LIXO
Após receber R$ 1,2 milhão da Câmara pelo trabalho na CPI da Petrobras, a Kroll ficou ‘sob suspeita’ e não teve o contrato renovado.
GOVERNO TORROU R$412 MILHÕES EM DIÁRIAS ESTE ANO
Durante o anúncio solene das medidas que chamou de “reforma administrativa”, sexta-feira (2), a presidente Dilma incluiu entre as suas declarações de intenção de tentar reduzir gastos com diárias e viagens no serviço público. Pudera. Na discussão dessas medidas, ela ficou espantada com a informação de que somente este ano, até o mês de agosto, seu governo torrou R$ 412 milhões em diárias para servidores.
NINGUÉM VIGIA
Na Agência Nacional de Vigilância Sanitária, onde não se vigia a farra, estão 14 dos 15 maiores contemplados com diárias: média de R$60mil.
LEI AMIGA
Segundo a lei, diárias só são concedidas para indenizar o servidor por despesas extras com “pousada, alimentação e locomoção urbana”.
A CONTA É SUA
Se o ritmo de gastos continuar, o governo Dilma deve gastar cerca de R$ 800 milhões com diárias apenas este ano.
CUNHA, O PARANOICO
Quem conversa com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, sai com a impressão de que ele agora encarna um personagem famoso do saudoso Pasquim, jornal carioca de humor: “Ubaldo, o Paranoico”.
ESFORÇO PROTOCOLAR
Os partidos aliados orientaram seus deputados a não registrarem presença na sessão do Congresso analisaria vetos presidenciais. O PCdoB, que ganhou o Ministério da Defesa, foi um deles.
AGORA VAI?
O líder do PP, deputado Eduardo da Fonte (PE), garante que nesta semana os partidos da base aliada do governo Dilma vão dar quórum para votar os vetos presidenciais. Diz que agora “os ânimos esfriaram”.
PURO FISIOLOGISMO
Voz destoante do seu partido, o senador Antonio Reguffe (PDT-DF) critica a reforma ministerial do governo. “Não há qualquer proposta nova para a saúde”, critica. Segundo ele, “é puro fisiologismo”.
VANGUARDA DO ATRASO
Enquanto o mundo azeita as relações comerciais em tratados como o Trans-pacífico, que prevê até troca de mercadorias, tipo queijos, no Brasil a atrasada “vigilância sanitária” apreende até queijo da Serra, de Portugal, ou doce de leite argentino, adquiridos no freeshop.
DILMA SITIADA
“Não há nada que leve à compreensão de que o governo Dilma sobreviva até janeiro”, diz o deputado Bruno Araújo (PSDB-PE), uma das principais vozes da oposição favoráveis ao impeachment de Dilma.
MUDANÇA DE ESTRATÉGIA
A esperança da oposição na CPI do BNDES é a chegada de inquéritos do Ministério Público para pressionar o comando da CPI a investigar negócios escusos no banco com empreiteiras enroladas no Petrolão.
FACTOIDE
O Planalto avalia que a ameaça do líder do PRB, Celso Russomanno (SP), de entregar o Ministério do Esporte não passou de uma tentativa de descolar do governo para disputar a Prefeitura de São Paulo.
PENSANDO BEM...
... nesta terça, o Tribunal de Contas deveria homenagear o ex-ministro Guido Mantega (Fazenda) pelo Dia do Maquiador.
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