quarta-feira, setembro 14, 2011

ANCELMO GOIS - GUERRA À VISTA


GUERRA À VISTA 
ANCELMO GOIS
O GLOBO - 14/09/11

Cabral foi informado, ontem à noite, de uma proposta de Guido Mantega que garfa, já em 2012, mais de R$ 2 bi de royalties do petróleo dos Estados produtores.
– É ilegal, não passará. Mas vamos nos preparar para uma guerra – diz o governador.

BYE, BYE, BRASIL 
A Rádio Petróleo informa que a petrolífera Anadarko está querendo sair do Brasil.
A americana foi a primeira privada a descobrir petróleo no pré-sal, em 2008.

CONTAGEM REGRESSIVA 
Orlando Silva ocupa uma rede de rádio e TV amanhã, véspera da celebração dos mil dias para a Copa de 2014.
O ministro garantirá que as obras ficarão prontas a tempo.

E HOJE... 
O governo anuncia um reajuste de R$ 5,6 para R$ 6,5 bilhões nos investimentos para os aeroportos da Copa.

FIM DAS MORTES 
O secretário de Segurança José Beltrame divulga hoje dados oficiais mostrando que despencaram os índices de criminalidade nas áreas das UPPs.
No primeiro semestre, em 13 favelas com UPPs, 11 não registaram homicídios. Apenas duas tiveram registros:Cidade de Deus (3) e Macacos (1).

ISTO É PRESTÍGIO 
O Lincoln Center, templo da cultura em Nova York, faz em 2102 uma retrospectiva completa da obra do cineasta brasileiro Cacá Diegues.

ENCOXADA NO ÔNIBUS 
Nelson Motta conta, na biografia de Glauber Rocha que escreve para a Objetiva, a visita de Jean Paul Sartre nos anos 1960 a Salvador.
O filósofo viajou num ônibus lotado de gente suada e disse que aquilo era rituel de corps.

ATÉ QUANDO? 
No feriado do dia 7, um casal de moças estava no Forneria, na Aníbal de Mendonça, em Ipanema, e, num momento de afeto, se beijou rapidamente.
Logo surgiu um garçom pedindo que elas parassem com os carinhos, porque “estavam constrangendo as outras pessoas na casa”.

SEGUE... 
Uma das moças alertou que ele estava fazendo algo muito grave e proibido por lei.
O garçom, meio arrependido, ofereceu um licor para se retratar. Mas era tarde. As duas pagaram a conta e foram embora.

COCÔ LETRADO 
Carlos Minc, secretário do Ambiente, bateu o martelo ontem: serão investidos 
R$ 70 milhões em redes de água e esgoto e em prevenção de incêndios em Paraty.
Em 2009, em plena Flip, algumas fossas sépticas jorraram para todo lado cocô da turma letrada que estava na cidade.

INFLAÇÃO MALVADA 
De Moacyr Luz, o sambista, ontem, ao comentar, em pleno Dia Internacional da Cachaça, os rumos da economia:
– Jiló está o mesmo preço do caviar, e a malvada mais cara que muito escocês!

NO MAIS 
Concurso de miss é coisa meio demodé e pouco importante. Mas, ainda assim, a vitória da angolana Leila Lopes no Miss Universo representa a entrada de negros em mais um espaço até pouco tempo quase restrito aos brancos. Eu apoio.

TUTTY VASQUES - A derrota da empáfia!


A derrota da empáfia!
TUTTY VASQUES
O ESTADÃO - 14/09/11


Brasileiro adora esculachar técnico da seleção, mas é bem capaz de aliviar a cara do Mano Menezes em caso de derrota neste Brasil X Argentina meia-bomba de hoje à noite, lá. Por maior que seja o fiasco em Córdoba, o torcedor tem mais o que fazer: se é para cair de pau, nada lhe dá tanto prazer no papo da esquina quanto essa coincidência de sucessivos vexames de Vanderlei Luxemburgo e Luiz Felipe Scolari em seus respectivos clubes.

Com todo respeito à aflição momentânea das valorosas galeras do Flamengo e do Palmeiras, não vem ao caso aqui rivalidades esportivas. Está em jogo a derrota da empáfia! Com Luxa e Felipão ladeira abaixo no Brasileirão, o campeonato perde em arrogância, pavoneamento, soberba, grosseria e presunção, características pessoais que neles se evidenciam com o bom desempenho profissional.

É bom mesmo que a dupla de "professores" não esteja por aí arrotando vitórias nas mesas redondas da TV, ainda mais agora que a competição perdeu a elegância e a discrição de Ricardo Gomes à beira do campo.

Neste particular, justiça seja feita a Mano Menezes, se alguém na seleção sofre do mal da falta de educação, francamente, não é o técnico. Fora Ricardo Teixeira!!!

Desmotivação total
Amigos de Aécio Neves estão preocupados. Depois de perder inteiramente o gosto pelas noites no Leblon, o senador nem ligou a TV para assistir ao concurso de Miss Universo na Band.
Tomara que seja só uma fase, né?

Deusa negra
Miss são as outras! A angolana Leila Lopes é uma espécie de Madrinha de Bateria do Universo. Vai ter escola de samba disputando a tapa a beleza pura da eleita no concurso de segunda-feira. Um espetáculo!

Mal comparando

A volta da CPMF é como a estreia de Adriano no Timão: está sempre sendo adiada, mas um dia acontece!

Vice guloso

Que diabos Michel Temer andou comendo em Natal para chegar das férias naquele estado lastimável, caramba? Seja o que for, não dividiu o prato com dona Marcela.

A vice-primeira-dama estava linda, como sempre, quando precisou socorrê-lo no Albert Einstein. Precisa ver se a mãe dela também não voltou de viagem com piriri.

Nada a ver

Antes que a Patrícia Poeta pense naquilo, não rolou "toma lá dá cá" nenhum no papo sobre o Rodoanel que a presidente Dilma manteve com Geraldo Alckmin no Palácio dos Bandeirantes. E não se fala mais nisso, ok?!

Deixa que digam

O PMDB aprovará no fórum nacional que realiza amanhã, em Brasília, uma intransigente defesa da liberdade de imprensa. Isso quer dizer o seguinte: o partido está pouco se lixando para o que os jornais andam dizendo de seus parlamentares.

Ô, raça!

Já tem comentarista econômico por aí preocupado com a alta do dólar! Não dê ouvidos a essa gente! Ou vais enlouquecer!

GINO OLIVARES - Cortes em ritmo de samba


Cortes em ritmo de samba
GINO OLIVARES
Valor Econômico - 14/09/2011

Bom, agora ficou claro. Foi o samba o responsável pelo corte de juros da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). É o que aparece registrado na ata da reunião.

O SAMBA (assim, com maiúsculas) em questão é o modelo que foi utilizado pelo Banco Central (BC) para, sob certas hipóteses, quantificar os impactos da deterioração do cenário internacional sobre a economia brasileira. Avanços na modelagem são sempre bem-vindos, mas nesse tipo de modelo é sempre necessário ter em mente suas limitações. De modo geral, os resultados são extremamente sensíveis ao conjunto de parâmetros utilizados (nem sempre estimados) e às hipóteses sobre a evolução das variáveis exógenas ao modelo. Esperamos que no próximo Relatório de Inflação sejam oferecidos maiores detalhes sobre o exercício que fundamentou a decisão do Copom de agosto. Portanto, melhor focar a questão de fundo, isto é, no entendimento do colegiado de que o cenário internacional manifesta viés desinflacionário no horizonte relevante.

O raciocínio do Copom parece ser o seguinte: pelos diversos problemas já conhecidos, as principais economias crescerão pouco nos próximos trimestres e sendo assim, as pressões inflacionárias diminuirão sensivelmente, podendo até virar desinflacionárias. O argumento parece razoável. A realidade mostra que, de fato, essas economias já estão registrando baixo crescimento há algum tempo, mas ele não veio acompanhado de pressões desinflacionárias. Muito pelo contrário. O que se observa em muitas regiões do mundo, e não apenas nas principais economias, é que o "trade-off" entre crescimento e inflação piorou significativamente no período pós-crise de 2008. Resta entender o motivo dessa piora.

Se até agora a desaceleração não gerou desinflação, porque esperá-la no futuro próximo?

A deterioração do "trade-off" entre atividade e inflação é consequência direta das respostas de política econômica ao choque de 2008. As exuberantes expansões monetárias e fiscais que seguiram à crise, tanto nos desenvolvidos quanto nos emergentes, explicaram a recuperação da economia global já em 2009, mas deixaram como legado uma inflação que hoje se mostra menos sensível à diminuição do ritmo de crescimento global dos últimos trimestres.

Mas, se até agora a desaceleração não gerou desinflação, por que deveríamos esperar por ela no futuro próximo? Ainda segundo o Copom, porque nas principais economias haveria espaço limitado para a utilização da política monetária e restrições do lado fiscal. Há bons motivos para duvidar da efetividade de medidas adicionais, mas jamais se deveria apostar na inação das autoridades.

Basta revisar o noticiário de 8 de setembro. Nos Estados Unidos, o presidente do Federal Reserve (Fed, banco central americano), Ben Bernanke, reafirmou que a instituição tem instrumentos para estimular a economia e que estaria pronto para utilizá-los já na sua próxima reunião, ainda neste mês. Da mesma forma, o presidente americano, Barack Obama, anunciou um novo pacote fiscal de US$ 450 bilhões. Já na Europa, Jean-Claude Trichet informou que o Banco Central Europeu (BCE) reavaliou o balanço de riscos para a atividade e a inflação na zona do euro, o que foi considerado sinal de que o banco pode cortar juros no futuro próximo. Aparentemente faltou alguém avisar às autoridades econômicas americanas e europeias que estão sem margem de manobra.

Adicionalmente, reiteradas citações da crise de 2008 por parte do governo ilustram que a leitura desse episódio está influenciando muito as atuais decisões. Fala-se muito que o objetivo é evitar o "erro" de demorar em cortar juros naquele ano. O Valor publicou, segunda-feira, que hoje se sabe que o atual presidente do Banco Central se posicionou desde o início da referida crise a favor da redução dos juros. Ao contrário do que avalia o atual governo, não houve erro na ação do Banco Central. A ação do banco na crise foi impecável. Os erros na condução da política econômica, cujos custos pagamos até hoje, não foram do Banco Central. Como falar de erro de política monetária se o melhor resultado de inflação no acumulado de 12 meses no período posterior à pior crise financeira mundial dos últimos 70 anos foi uma inflação apenas 0,3 ponto percentual inferior à meta de 4,5%?

Por último, e não menos importante, apostas do Copom em contribuições positivas para a inflação brasileira advindas do cenário externo não têm bom retrospecto. Por exemplo, em meados de 2007, e com base nesse tipo de argumentos, o colegiado acelerou o ritmo de cortes para, poucos meses depois, verificar não só que tal contribuição não aconteceu, como também que suas decisões agravaram o cenário inflacionário. Desta vez será diferente? A conferir.

Enfim, estamos vivendo tempos novos; tempos de política monetária em ritmo de samba. Só nos resta torcer para que o samba não se transforme em choro.

Gino Olivares doutor em economia pela PUC-Rio, é economista da Brookfield Gestão de Ativos.

ZUENIR VENTURA - Eixo do mal


Eixo do mal
ZUENIR VENTURA
O GLOBO - 14/09/11

Houve um tempo em que a rivalidade Rio-SP incluía a comparação dos índices de violência. Meus amigos paulistas fingiam preocupação com a situação do "balneário decadente". Nós os acusávamos de omitir ocorrências policiais. Dizíamos que os jornais paulistanos noticiavam o que de ruim acontecia no Rio com mais destaque do que o que se passava na sua capital. Num desses últimos fins de semana em Sampa, constatei que o jogo está empatado. O recepcionista do hotel foi quem me chamou a atenção: "Nós somos vocês ontem", comentou, ao me ver lendo o noticiário sobre a onda de arrastões a bares e restaurantes que varre a cidade desde o início do ano.

"De junho para cá, nove bares e restaurantes foram assaltados na região da Chácara Santo Antonio e Granja Julieta", dizia uma matéria. "Tiroteio em Moema acaba com dois ladrões baleados", informava outra. "No Morumbi, duas mulheres foram presas por assalto." E mais: "Na Chácara Santo Antonio, na Zona Sul, registrou-se o segundo arrastão em 24 horas. Um dia após a invasão de um restaurante italiano, três criminosos renderam 20 pessoas no bar Sem Stress." Eu mesmo quase fui testemunha de uma ocorrência perto do hotel em que me hospedava na Rua Hadock Lobo, quando de manhã cedo um rapaz foi baleado durante um assalto. Em matéria de violência, Sampa parecia estar ganhando mesmo da Cidade Maravilhosa.

Viajei de volta dizendo como Ancelmo: "Deve ser terrível viver numa cidade assim." Até que fiquei sabendo o que ocorrera enquanto eu estivera fora. Perto de casa, às 11h30m da manhã, um arquiteto fora assassinado junto ao bar Garota de Ipanema, um dos mais movimentados do bairro, aquele onde Vinicius e Tom compuseram sua famosa música num tempo em que "Ipanema era só felicidade", como Vinicius cantou em outra canção. Foi o desfecho trágico de uma onda de assaltos no bairro, executados por ladrões em motocicleta ou por pivetes a pé e de bicicleta. Derrubam a vítima, arrancam o celular ou o relógio e saem correndo. Quando há resistência, matam.

Isso deve preocupar mais do que os incidentes nos morros: volta dos traficantes ao Alemão, desentendimento com moradores, casos de corrupção, que são desvios graves, mas cujo combate está no rumo certo. Não se conhece no país política de segurança tão consistente quanto a das UPPs. Já esse varejo que inferniza o cotidiano dos moradores do eixo Rio-SP, é de difícil solução.

Enigma do "país que não gosta de ler". A 15ª Bienal do Livro do Rio terminou com a presença recorde de 670 mil visitantes. No mesmo domingo, terminava também a XV Feira Pan-Amazônica do Livro, em Belém, frequentada por 500 mil pessoas, um terço da população local. Estive nas duas, e a do Pará ainda me surpreendeu mais. Em um só dia, houve o comparecimento de 65 mil pessoas - público de um estádio de futebol.

GOSTOSA


MARTHA MEDEIROS - Eu não sou passarinho

Eu não sou passarinho
 MARTHA MEDEIROS
ZERO HORA - 14/09/11

Convencionou-se que pessoas de boa índole gostam da natureza. Bom, eu gosto muito da natureza, ainda que não seja a candidata ideal para me exilar num sítio ou numa praia deserta por um tempo que exceda o período de férias. Além disso, tenho uma relação pouco amistosa com passarinhos, logo com eles, os representantes oficiais da vida ao ar livre. Se o quesito for esse, não sei se minha índole poderá ser bem avaliada.

Quando criança, os contos de fada tentaram me convencer da prestatividade dos passarinhos. Quando a Gata Borralheira resolveu que iria ao baile no castelo do príncipe mesmo sem ter um trapo decente para vestir, foram os passarinhos que a ajudaram a se transformar numa Cinderela, providenciando tecidos coloridos e customizando as peças. Eles praticamente inventaram a profissão de personal stylist.

No desenho da Branca de Neve, foram ainda mais prestigiosos. Conduziram a mocinha, perdida na floresta, até a casa dos anões, que ela jamais encontraria sem um GPS. E, depois, quando a bruxa malvada a envenenou com a maçã, foram eles que correram até a mina e alertaram os anões para o que estava acontecendo. Twitter pra quê?

Enquanto escrevo esta crônica, às 9h, escuto pássaros. É encantador, se levarmos em conta que estou instalada no 10º andar de um prédio num bairro movimentado da cidade. Como a rua é arborizada e há um parque quase em frente, a passarinhada está garantida. Só que eles não começaram a cantar agora. Estão cantando desde cedo. Bem cedo. Desde as quatro da manhã, pra ser exata. Eu adoraria acordar com o canto dos pássaros às quatro da manhã se tivesse que levantar para ordenhar vacas, cortar lenha e assar o pão em minha casinha romântica instalada no cenário idílico do campo, mas não levo uma vida romântica: me deixem dormir.

Também não preciso levantar às quatro da manhã para preparar o almoço das crianças e então pegar três ônibus para chegar ao trabalho. Tivesse essa vida sacrificada que tantos têm, acordar com os passarinhos seria menos aflitivo do que acordar com um estridente despertador. Mas não levo essa vida sofrida, o horário que devo sair da cama é exatamente 6h50min. Só que abro os olhos bem antes disso. Muito antes. Por obra e graça você sabe de quem.

A primavera está chegando e isso é uma notícia alvissareira depois de um inverno tão castigante. É o momento de recepcionar com alegria os inofensivos e belos cantantes matinais, que tanta poesia conferem ao nosso cotidiano. Pena que eu não seja assim tão nobre. Tenho vontade de abater um por um durante sua sinfonia da madrugada. Só gosto de passarinho em estampas, selos, quadros e fotos (mentira, mentira, nem isso, só estou querendo angariar sua simpatia). Índole nota 7,5.

ILIMAR FRANCO - O Rio vai pagar


O Rio vai pagar
ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 14/09/11
O ministro Guido Mantega (Fazenda) apresentou ontem à noite, para um grupo de senadores, sua proposta para atender os estados não produtores na distribuição dos royalties do petróleo. Esses estados dividirão uma receita de R$3,75 bilhões. A União vai abrir mão de apenas R$1,4 bi de suas receitas. O peso maior recairá sobre os estados produtores, R$1,26 bi; municípios produtores, R$582 milhões; e municípios afetados, R$513 milhões.
Equilibrismo na incerteza
Todos os governadores envolvidos no debate dos royalties do petróleo consideram que a União deveria ser mais generosa e abrir mão de uma parcela maior da receita em favor dos estados e municípios não produtores. O maior temor dos atores políticos é que o veto do ex-presidente Lula seja derrubado no Congresso, em sessão marcada para o dia 5 de outubro. Se isso ocorrer, o tema vai para a Justiça. A decorrência imediata do desacordo federativo será bater às portas do STF. A pendência é ruim para todos, pois vai jogar na incerteza ou travar a exploração do pré-sal. No caso do Rio, colocará em risco seu equilíbrio financeiro.
"Não queremos reabrir feridas, mas temos a obrigação de mostrar à juventude como se passou nossa História, mostrar os erros para que não sejam repetidos" - José Gregori, secretário de Direitos Humanos no governo FH, sobre a criação da Comissão da Verdade
ESTADO DE ALERTA. Os principais líderes petistas se reuniram de forma reservada, na segunda-feira à noite, na casa da ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann. Na pauta, viabilizar a aprovação da DRU, ameaçada pela calendário, e o financiamento da Saúde. Estavam lá os ministros Aloizio Mercadante, Ideli Salvatti e Paulo Bernardo, os líderes do governo, Cândido Vaccarezza (PT-SP), do PT na Câmara, Paulo Teixeira (SP), e no Senado, Humberto Costa (PE).
No rumo
Depois de levantar cerca de 40 projetos de combate à corrupção, o senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES) quer a criação de comissão especial para apresentar uma proposta em 90 dias. Ele diz: "Chega de bravata, e vamos ao concreto!"
Na festa
O plenário do Senado virou palco para um grupo de Marabaixo, dança negra típica do Amapá. Foi durante sessão, comandada pelo presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), em homenagem aos 68 anos de criação do Amapá.
PSD vê manobra para inviabilizá-lo
A cúpula do PSD interpretou o pedido de diligências, no processo de formação do partido, da procuradora eleitoral, Sandra Cureau, como uma manifestação de desconfiança nos cartórios eleitorais e nos TREs. Se seu pedido fosse acatado, o PSD não seria criado em tempo hábil para disputar as eleições municipais. Eles também consideram excessivo o prazo de dez dias que a relatora no TSE, ministra Nancy Andrighi, concedeu para que o Ministério Público Eleitoral reexamine o caso.
Contestando
O governador Marcelo Déda (SE) nega que tenha sido ouvido pelo PT do Rio sobre a presença de organizações sociais na gestão da Saúde. Diz que, lá, a gestão é diferente. Ela é compartilhada com fundações públicas de direito privado.
Chalita na TV
Começaram a ser veiculadas ontem as inserções na TV do PMDB paulista. O deputado Gabriel Chalita (PMDB-SP), pré-candidato à prefeitura de São Paulo, será a estrela de 80% das inserções. O restante ficará com os líderes do interior.
ALIADO da candidatura da deputada Ana Arraes (PSB-PE) acredita que o líder do PTB, Jovair Arantes (GO), ao se retirar, deve apoiá-la. Mas prevê que os ruralistas que estavam com ele devem aderir à candidatura do deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP).
O SENADOR Flecha Ribeiro (PSDB-PA) anda ameaçando deixar o partido. Ele vive cobrando do presidente do partido, deputado Sérgio Guerra (PE), uma intervenção no Diretório Regional do Pará.
A OEA fechou acordo de cooperação com a Polícia Federal. A parceria prevê capacitação de agentes com foco em eventos como Olimpíadas e Copa.

MARCELO COELHO - Sexo, bombas e choque elétrico


Sexo, bombas e choque elétrico
MARCELO COELHO
FOLHA DE SP - 14/09/11 

"A gente se beijava e corria uma eletricidade incrível [...] Nós estávamos tomando choque molhados!"


Existem os loucos e existem também aqueles que querem ser loucos sem serem loucos de fato.
Qualquer que seja o caso, não faltaram loucuras na vida do poeta Roberto Piva (1937-2010) e dos seus amigos (Cláudio Willer, Rodrigo de Haro, Roberto Bicelli). Alguns exemplos.
Na década de 70, Piva e Bicelli davam aulas num colégio público. "Um dia", conta Bicelli, "o Piva chegou atrasado porque ficou bebendo com a professora de geografia. Entrou bêbado na classe, fez a chamada e falou: 'Estou de saco cheio do bom comportamento de vocês'".
Ato contínuo, "subiu na mesa, baixou as calças e mostrou a pica para os garotos da quinta série! Ainda correu atrás de um japonesinho que havia se mandado da sala! A inspetora, que era nosso anjinho, transferiu-o de escola e ficou tudo bem".
O caso é lembrado em "Os Dentes da Memória", livro de Camila Hungria e Renata D'Elia, que acaba de ser lançado pela Azougue Editorial.
Acompanhado por uma breve antologia desses poetas (a geração dos "novíssimos" da década de 60), o livro é composto exclusivamente dos depoimentos, habilmente entrelaçados, dos principais membros do grupo.
Cláudio Willer é o protagonista de outra aventura.
"Eu e um amigo pretendíamos explodir uma bomba na casa de um desafeto nosso, na rua Tupi com a avenida Pacaembu. Então, prendemos a bomba com pólvora enrolada em fita adesiva. Quando fomos testar a bomba, esse meu amigo teve a genial ideia de enfiá-la no escapamento do carro e acender!"
Enquanto a bomba não estourava, continua Willer, "resolvi brincar com uma pistola Browning 7.65, que tinha ganhado de presente num breve período de gostar de armas. Ficamos tentando acertar os lampiões e a iluminação da Pacaembu!".
Erraram todos os tiros, mas a polícia apareceu. "Quando chegou a polícia, a bomba do carro explodiu!" Novamente, nada mais sério aconteceu. "Depois demos uma grana para o delegado sumir com as provas, e fui inocentado perante o juiz."
Já Roberto Bicelli se lembra de uma transa incomum. "Fui ao banheiro, passando meio mal. Lá, peguei a minha namorada e dei um cato nela. A gente se beijava e corria uma eletricidade que era uma coisa incrível! A gentia sentia choques pelo corpo todo."
Não era paixão. "Quando percebi, a pia tinha quebrado fragorosamente e tinha um fio solto no chão! Nós estávamos tomando choque molhados!"
Choques elétricos, bombas caseiras, subversão estudantil: nesses episódios, é como se tivéssemos a história da ditadura militar traduzida em outros termos, transportada numa viagem de LSD.
No começo da década de 60, o grupo de Roberto Piva tratava de romper com o formalismo vigente e seguir, nos moldes dos surrealistas e dos beatniks, a ideia de que não pode haver separação entre a arte e a vida.
As fotos reproduzidas no livro, assim como o documentário de Ugo Giorgetti sobre o grupo ("Uma Outra Cidade", de 2001), não deixam dúvidas. Roberto Piva, na juventude, era bonito a mais não poder, e seus amigos não ficavam muito atrás.
Álcool, drogas e o passar do tempo foram minando essa beleza. A partir do AI-5, as bombas e pistolas já não podiam ser usadas com tanta impunidade. A transgressão foi sendo abandonada por alguns dos membros do grupo, que casaram, tiveram filhos e arranjaram emprego.
A heterossexualidade pode ser uma vigorosa fonte de caretice. Roberto Piva não conheceu essa ameaça.
Se escapou, na época, de ser preso ou internado por homossexualidade, hoje seria provavelmente acusado de pedofilia. No fim da vida, contou-me que alguns dos seus amantes adolescentes tornaram-se, com o tempo, bons amigos heterossexuais. Piva chegou a ser padrinho do filho de um deles.
O artigo vai acabando e não tenho espaço para comentar a poesia dessa geração. Mas, afinal, quando se rompem as fronteiras entre vida e literatura, os lances biográficos desses poetas ganham seu próprio interesse estético.
Por outro lado, na medida em que se entrega ao fluxo das associações livres, à "paranoia" e ao "delírio", essa poesia corre o risco de se tornar monótona. A loucura funciona quando feita de flashes e inspirações súbitas; mas é difícil sustentá-la para sempre. Isso exige muito voluntarismo e militância.
Como se sabe, as décadas de 60 e 70 estavam aí para isso mesmo.

ANTONIO PRATA - Rebobine, por favor


Rebobine, por favor
ANTONIO PRATA 
FOLHA DE SP - 14/09/11

Se eu batesse as botas agora, meu filme talvez começasse com um momento desses que a gente não se dá conta



Não acredito em Deus nem em qualquer bônus ou penalidade para além do último suspiro. Como diria meu tio Carlão, botafoguense e, portanto, homem desprovido de ilusões: "Acabou, já era". A frase pode não ser das mais líricas, mas tampouco o é a morte, caro leitor, e envolvê-la em fumos literários serve apenas, como as flores sobre a cova, para disfarçar o mau cheiro que exala do assunto. Melhor é tomar o fim pelo que é: prosaico cessar de reações químicas e impulsos elétricos; bug derradeiro, tão certo quanto irreversível.
Mesmo não tendo a menor esperança de acréscimos ao tempo regulamentar, devo admitir que alimento uma expectativa, não diria "post-mortem", mas "in-mortem": gostaria muito que fosse verdade aquele papo de que, no instante em que se fecham as cortinas, a vida inteira passa na tela do pensamento, em marcha a ré, como uma fita sendo rebobinada.
Tal acontecimento nada teria de metafísico, seria apenas uma reação de nosso cérebro ao apagar das luzes, como um sonho, um delírio. E, como todo sonho, este REM final não primaria pela linearidade, indo de uma ponta a outra de nossa existência aos rodopios.
Se eu batesse as botas agora, meu filme talvez começasse com um momento de prazer corriqueiro, desses de que a gente nem se dá conta, ocupado por alguma tarefa tão urgente quanto desimportante. O calor do sol no rosto, por exemplo, ao abrir a porta pela manhã, para pegar o jornal. O sol, quem sabe, me remeteria a uma tarde da adolescência, na Bahia. O som do mar, a brisa, uma garota me fazendo um cafuné, depois de anos de batalha para que uma garota me fizesse um cafuné -y otras cositas más... Do calor da Bahia ao inverno paulistano, não faz muito tempo: estou sendo apresentado a meu amor. Eu a beijo. Surjo num bar com três amigos queridos, duas e meia da manhã: temos 25 anos e, aos brados, resolvemos todos os problemas da humanidade, anotando as soluções em guardanapos que, logo mais, esqueceremos sobre a mesa. Agora vejo a multidão de cima dos ombros do meu pai, na comemoração de uma vitória do Corinthians, na Paulista. Dou uma cambalhota na piscina de um sítio e a coisa vai ficando abstrata. Há uma sucessão de sabores e cheiros. Boio em brigadeiro, nado em vinho. Refogue alho e cebola, inconsciente! Traga-me uma picanha, exijo cheiro de jasmim! Beatles! Quero ouvir Blackbird mais uma vez! Veja só, minha avó. Três pedaladas na sequência, na bicicleta sem rodinhas. Agora um peito: quando menos espero, surge o útero -e o resto é silêncio.
(Claro, haveria tristezas, também, neste crepúsculo boreal. Pés na bunda ou na quina do móvel, solidão e medo: mas no cômputo geral, uma aflição seria consolada por um pomar, o tédio por um Mark Twain, uma angústia pela visão de minha mulher, de manhã cedinho, passando hidratante nas pernas.)
Talvez, durante esta última sessão de cinema, ter vivido uma boa vida, afinal de contas, fizesse sentido, e o prazer do resumo seria uma espécie de brinde, de bem-casado que se come na saída da festa -mas, infelizmente, não se leva nos bolsos, pois levar é verbo transitivo e mortos, que pena, não transitamos mais.

ROBERTO DaMATTA - Dez do onze



Dez do onze
ROBERTO DaMATTA
O Estado de S.Paulo - 14/09/11


Dez anos depois do brutal ataque terrorista aos Estados Unidos, a nossa consciência ainda se agita revendo as imagens da destruição das torres. Como todo mundo, quando vi as cenas das torres, pensei num erro ou num filme para, lamentavelmente, constatar como o "real" (aquilo que ocorre fora do nosso controle e a despeito de nossa vontade) podia assumir formas impensáveis, superando o meu mais radical surrealismo.

Imediatamente dei-me conta da espessura do mundo em que vivemos. O planeta fica mais cada vez menor, mas torna-se mais complexo e mais difícil de entender. Apesar de toda a nossa onipotência ideológica, científica e tecnológica - desse fantástico conjunto de certezas que nos fez destruir culturas, estigmatizar credos religiosos, chamar sem pensar duas vezes sociedades e etnias de "selvagens" e "primitivas", roubar e repartir continentes como foi o caso da America Pré-Colombiana, da África e do Oriente Médio -, eis que, de modo insuspeito, somos feridos por dentro.

O atentado - como em Pearl Harbor - vinha do ar, mas com aviões de passageiros e em pleno território americano. Havia um ataque sem declaração de guerra. Os inimigos não queriam tomar coisa nenhuma. Lutavam contra um modo de vida e por valores religiosos numa guerra que, sendo santa, não era um mero prolongamento da política por outros meios como manda o nosso figurino.

E para demonstrar essa subversão da racionalidade da "arte da guerra", essa criação do Ocidente europeu na sua imensa e inigualável experiência com todos os tipos de conflito (só entre 1500 e 1914 ocorreram mais de 140 conflitos de todos os tipos na Europa supercivilizada e inventora, entre outras maravilhas, da música sinfônica e do romance), o 11 de Setembro passa por cima de todas convenções que tornam o matar e o destruir atos obrigatórios de patriotismo, justificando a barbárie.

Aqui não tínhamos a recorrente idiotice de uma "guerra que iria acabar com todas guerras", mas um ato não previsto. David contra um Golias que caía estrondosamente. E para provar isso, seus autores não estavam neste mundo, mas no outro. Morreram com a destruição que fabricaram, colocando na vasta arena dos conflitos inventados pelo homem o elemento religioso que é, sem nenhuma dúvida, o centro paradoxal das mais contundentes arrogâncias humanas.

Essa foi a minha primeira leitura.

Testemunhávamos um conflito sem uma "terra de ninguém" e sem soldados devidamente uniformizados, arregimentamos em exércitos embandeirados e tocados a marchas militares. Seus mentores não eram figuras públicas que dominavam "a teoria da guerra" (como Leônidas, Alexandre, Napoleão, Nelson, Washington, Montgomery, Rommel, Koniev, Patton, etc., etc., etc.), mas seres invisíveis operando em rede e atuando de dentro para fora.

Eis o opróbrio deste nosso tempo de liberdade e de busca de felicidade - de uma modernidade em que a parte domina e tem precedência sobre o todo. Quanto mais individualismo, mais agressivas são as manifestações do todo que cobra pelos limites ultrapassados pelo uso abusivo da liberdade individual por grupo, indústria, país ou pessoa. Seja pelo desastre ecológico, seja como prova o terrorismo, pela destruição do velho código segundo o qual nenhum homem deve pagar pelos erros cometidos por outro homem.

Minha outra perturbação foi dada pelo sobressalto do ataque. Lembrei-me das vezes em que fui agredido inesperadamente. Uma vez, por um tapa na cara; noutro, por ter sido chamado na televisão de "proxeneta de índio"; doutra feita, por terem duvidado do meu amor. A violência que, como sabem os seus agentes, requer coragem, dinamita pontes e suprime mediações - as explicações, as desculpas, as contradições e as perspectivas que nos tornam humanos -, mobiliza o que há de pior no agredido que, imediatamente, se sente no dever de revidar na mesma moeda. Quando, porém, ele sucumbe ao mesmo tipo de reação e deseja beber sangue com sangue, ele vive a mesma loucura dos seus atacantes. Assim agindo, como ocorreu nessa desafortunada América contemporânea sob a égide da doutrina Bush, ele abandona os seus valores e repete - eis a contradição - a lógica do terrorismo que combate. Pois, como dizia Rousseau, só pode haver guerra entre países. Usar a força das armas contra o pecado ou contra o terrorismo não é fazer guerra, é praticar um exorcismo religioso dos mais arriscados. Antigamente isso era chamado de Inquisição.

Finalmente - se é que existe nesse episódio um ponto final -, jamais vi melhor comprovação do pessimismo de Schopenhauer quando ele dizia que este nosso mundo é pior do que o inferno. No inferno, você sabe por que sofre. Há um elo entre o que se fez o que se paga. Mas neste mundo, não há como saber os motivos do sofrimento recebido. O coração não desaba porque, mesmo sendo insignificante e muitas vezes covarde, contraditório, pecador e temeroso, mesmo sendo feito de carne e sangue, ele continua batendo esperançoso. Orgulhoso de si mesmo e de sua finitude.

MÔNICA BERGAMO - ARENA PAULISTA



ARENA PAULISTA
MÔNICA BERGAMO 
FOLHA DE SP - 14/09/11

O São Paulo FC está negociando com as maiores empresas promotoras de shows do Brasil para vender a elas os direitos de exploração do nome e da programação da nova arena que pretende construir no estádio do Morumbi. O clube quer R$ 120 milhões por um contrato de dez anos.

ARENA 2
De acordo com diretor do clube, já foram entabuladas negociações com Time For Fun, GEO e XYZ, que já trouxeram ao Brasil shows como os de Madonna, U2, Eminem.

ARENA 3
A ideia do SPFC é construir uma cobertura sobre os assentos da arquibancada que ficam atrás do gol de entrada do estádio. Em dias de show, uma "cortina" desceria e o local se transformaria numa arena de 25 mil lugares. A cidade tem hoje casas de espetáculos de 5.000 a 10 mil lugares, ou estádios para megashows.

PARABÉNS
Dom Paulo Evaristo Arns chega hoje aos 90 anos. Ele dispensou cerimônias públicas de celebração da data. Vai confraternizar com amigos na chácara em que vive, em Taboão da Serra. E, no dia 1º de outubro, deve aparecer no convento de São Francisco, no largo de mesmo nome, para abençoar quem estiver na praça para festejá-lo.

TOCHA OLÍMPICA
E o arcebispo de São Paulo, dom Odilo Scherer, confirmou à coluna que o papa Bento 16 vem ao Brasil em 2013, para a Jornada Mundial da Juventude. Na sexta, no Campo de Marte, o religioso recebe a cruz peregrina, que correrá o Brasil deste mês até o evento.

VITROLA
O recém-lançado álbum de Chico Buarque ganhará versão em vinil.

Serão 500 exemplares à venda a partir do dia 20 deste mês, com preço sugerido de R$ 79,90.

BLUES
O guitarrista americano Gary Clark Jr., apontado pela crítica como o novo Jimi Hendrix, fará os shows de abertura da turnê de Eric Clapton no Brasil, em outubro.

REI NO ITAQUERÃO
Roberto Carlos já está recebendo convites para fazer shows de inauguração dos estádios de futebol que estão em obras para sediar a Copa do Mundo em 2014, no país. Uma das possibilidades é cantar no Itaquerão.

REI NO ITAQUERÃO 2
E já existe o movimento "Roberto no Itaquerão" para que o Rei se apresente no futuro estádio do Corinthians. A iniciativa é encabeçada pelo escritor Marciano Vasques. "Vamos adorar receber o convite", diz Dody Sirena, empresário do cantor. "Já existe muita sintonia entre o Roberto e a nação corintiana, desde que ele liberou o uso da música 'O Portão' quando o Corinthians saiu da segunda divisão do Brasileiro."

LINHA DO TEMPO
O cirurgião Adib Jatene e o ministro Alexandre Padilha, da Saúde, autografam amanhã livro que reproduz diálogo entre os dois sobre os últimos 40 anos da saúde pública no Brasil. A conversa, promovida pela editora Saberes, será publicada sob o título "Adib Jatene e Alexandre Padilha - 40 anos de Medicina - O que Mudou". Às 19h, na Fnac da avenida Paulista.

ARTE FINAL
Deve acontecer em novembro a inauguração da filial paranaense da Livraria Cultura. A abertura estava prevista inicialmente para o mês de agosto. A reforma do shopping Curitiba, onde será a loja, atrasou, segundo Pedro Herz, dono da Cultura.

CURTO-CIRCUITO

Reinaldo Miguel Messias, do Sebrae, faz palestra, hoje, na sede da Apemec (Associação de Pequenas e Médias Empresas de Construção Civil de SP).

Rose Marie Muraro, Eva Blay e a reitora da FMU, Labibi Elias Alves da Silva, entre outras, recebem hoje da OAB-SP o Prêmio Maria Immaculada Xavier da Silva. Às 19h, na Câmara.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE


Auto mecenas
SONIA RACY
O ESTADÃO - 14/09/11

A falta de profissionalização do setor fez a Associação Brasileira de Arte Contemporânea se mobilizar. Trinta galerias de seis Estados se uniram, via ABACT, e conseguiram apoio da Apex, agência federal de incentivo à exportação. Agora, vão mapear o segmento. A ideia é catalogar obras e galerias no País; organizar informações para consulta de logística de exportação e importação e dar visibilidade aos artistas no mercado.

Também pretende-se aumentar o diálogo com o MinC. E pressionar por legislação favorável ao mercado de arte - que hoje sofre com altos impostos para exportar e com a burocracia do processo. Exemplo? São necessárias 16 assinaturas para mandar uma única obra para fora do Brasil.

Auto mecenas 2

A primeira grande iniciativa será um leilão, em 3 de outubro, na Pinacoteca. Obras foram doadas pelas galerias para arrecadar recursos que patrocinarão projetos desenvolvidos pela associação.

Exemplos? Cursos profissionalizantes em parceria com Sebrae e Escola São Paulo e a ocupação de 30 praças públicas brasileiras com arte contemporânea.

Regras

Pedro Tobias, presidente estadual do PSDB, deve regulamentar, segunda-feira, as prévias do partido em São Paulo. Pelo texto, poderão votar todos os filiados.

A data-limite para realização das primárias no Estado será março de 2012. E, na capital, a previsão é de que aconteça no fim de janeiro.

Outros planos

David Uip, diretor do hospital Emílio Ribas, apesar de lisonjeado, recusará convite dos tucanos para lançá-lo candidato à prefeitura do Guarujá.

Vai se dedicar a outra disputa: uma cadeira de professor titular da Faculdade de Medicina da USP. Geralmente, a titularidade prevê cargo de direção em hospital ligado à universidade. Mas isso ainda não foi definido pela instituição.

Indiana

Em noite só de VIPs, os VIPs sofreram. Anteontem, na festa de 100 anos do Teatro Municipal de SP, quase todos pegaram fila para retirar ingressos. Casos de Rubens Barbosa e Maria Bonomi. Com exceções, como Eva Wilma.

Na página 205

Aprendi Fazendo, livro de Luiz Sandoval, traz versões sobre a crise no Banco Panamericano. O ex-presidente do Grupo Silvio Santos afirma que, ao questionar o contador, Marco Pereira da Silva, sobre se sabia da gravidade de maquiar balanços da instituição obteve um sonoro "sim".

E mais: estaria agindo "por ordem do Wilson de Aro", então diretor financeiro do banco.

Estaleiro

Anderson Silva lutou o UFC do Rio já com o ombro lesionado. É que o contrato do lutador prevê de dois a três combates por ano e ele só havia entrado no octógono uma vez em 2011.

Midnight in Rio

Woody Allen não desistiu de filmar no Brasil. Apesar de Alemanha e Itália serem prioridades do diretor, sua equipe continua em contato com a Rio Filmes. Letty Aronson, irmã do cineasta, esteve por aqui para a negociação - que anda a passos lentos.

Lá e cá

A miss Angola encantou brasileiros, mas o intercâmbio cultural entre os dois países deixa a desejar. O déficit foi apontado por Artur Pestana dos Santos, autor angolano, durante a Bienal do Livro do Rio, semana passada. Principalmente do lado brasileiro que, segundo ele, não olha como deveria para a produção angolana.

Na frente

As 73 esculturas de Degas, pertencentes ao acervo do Masp, levaram público recorde à abertura de exposição no Museu de Belas Artes de Santiago, no Chile. A mostra recebeu 4.300 visitantes no sábado e domingo, recorde da casa nos últimos três anos em um final de semana.

Paulo Markun lança segunda o site Brado Retumbante, sobre a história das Diretas Já. No MIS.

Roberto Livianu ministra hoje a aula Controle da Corrupção. Na Faculdade de Direito da USP.

Maria Cecília Naclério Homem lança o livro Higienópolis - Grandeza de um Bairro Paulistano. Amanhã, na Livraria da Vila do Shopping Higienópolis. Naclito
É hoje a festa em homenagem ao centenário de Carybé. No Espaço JRJ.

Interinos: Débora Bergamasco, Marilia Neustein e Paula Bonelli.

FERNANDO DE BARROS E SILVA - Copa e cozinha


Copa e cozinha
FERNANDO DE BARROS E SILVA
FOLHA DE SP - 14/09/11

SÃO PAULO - Quando deputado, Pedro Novais (PMDB) pagou uma festinha num motel nos arredores de São Luís, no Maranhão, com verba de seu gabinete. Meses depois, quando o caso veio à luz, em dezembro, devolveu o dinheiro. Não deveria ter assumido o Turismo.
Dilma manteve sua indicação pelas conveniências que se conhece. Tem agora mais uma oportunidade de manifestar o pudor republicano que lhe faltou lá atrás e dizer: dá cá o ministério, toma lá o olho da rua.
A alternativa é agir como fez a Câmara, com a ajuda de petistas, no caso Jaqueline Roriz: delitos anteriores ao cargo estão anistiados.
Doralice Bento de Sousa trabalhou entre 2003 e 2010 como governanta (ou doméstica) no apartamento de Novais. Recebia como secretária parlamentar da Câmara.
Este que a Folha revelou ontem é mais um caso miúdo, mas de nenhuma forma irrelevante, de mentalidade senhorial e patrimonialismo explícito. Outros deputados já haviam sido flagrados pagando empregadas com dinheiro público.
Conhecemos em 2009 a história de "Secreta", corruptela de "secretário", como era chamado um agregado da família Sarney que prestava serviços domésticos variados ao clã, mas recebia salário do Senado.
Afilhado de uma oligarquia que dispõe até do helicóptero da polícia para passear na sua ilha privada, Novais mostrou ser um fomentador do turismo de negócios (dele).
Este representante menor do atraso será a próxima vítima da faxina quase involuntária da presidente. Mas e o Turismo, como fica?
Parece mais fácil levantar a ficha corrida da pasta do que enumerar os serviços prestados por ela ao país. Alvo de operação recente da PF, o Turismo se tornou o paraíso das falcatruas envolvendo os tais "convênios para capacitação de mão de obra" e outros trambiques.
Temos a Copa e a Olimpíada pela frente. Mas o Turismo tem as suas próprias prioridades, enroscado entre prontuários policiais e os desmandos do patrão de Doralice.

GOSTOSA


ROLF KUNTZ - Uma lição na Ata do Copom


Uma lição na Ata do Copom
ROLF KUNTZ
O Estado de S.Paulo - 14/09/11

Certo ou errado, o corte de juros anunciado há duas semanas pelo Banco Central (BC) foi pelo menos apresentado numa embalagem com o desenho correto. O governo está empenhado em arrumar as contas públicas e isso abre espaço para uma redução da taxa Selic, segundo a explicação oferecida pelo Copom, o Comitê de Política Monetária. Em outras palavras: para bem administrar a moeda e o crédito, é melhor ficar de olho na política fiscal. A recíproca também vale: se o governo quiser juros mais baixos, será conveniente cuidar de sua contabilidade. Nos Estados Unidos e na Europa esses cuidados foram esquecidos. Isso explica boa parte dos mais graves problemas da economia global, neste momento.

O Federal Reserve (Fed, o banco central americano) manteve por muitos anos uma política de juros baixos, enquanto o Executivo se esbaldava em gastos crescentes e deixava expandir-se a dívida federal. Na zona do euro, as normas fiscais comuns foram amplamente violadas nos últimos anos. Isso decorreu em parte das políticas adotadas a partir de 2008, quando foi preciso socorrer os bancos e tomar medidas contra a recessão. Mas a disciplina fiscal nunca foi realmente completa e as políticas sociais adotadas pelas economias menos avançadas acabaram sendo insustentáveis. Isso tornou muito mais difícil, politicamente, executar programas de estabilização.

As autoridades monetárias podem ter cometido outros erros. Um dos mais graves, tanto nos Estados Unidos quanto na Europa, foi o desleixo na regulação dos mercados financeiros. Esse descuido facilitou a formação da grande bolha de crédito e criou condições para a quebradeira iniciada em 2007 e transformada em catástrofe um ano depois. Mas bastaria o desacerto entre política monetária e política fiscal para a geração de graves problemas, tanto nos Estados Unidos quanto na Europa.

Nesta terça-feira a chanceler alemã, Angela Merkel, expressou confiança no Banco Central Europeu (BCE). Sua missão é clara, disse ela: administrar a moeda. E a instituição, acrescentou, tem realizado essa tarefa com mais sucesso do que o Banco Central da Alemanha nos últimos dez anos do marco.

O BCE pode merecer esses e outros elogios. Sua administração tem sido mais ágil que a dos governos da zona do euro nos momentos de crise mais aguda. O banco tem comprado títulos públicos nos momentos de maior pressão. Já comprou papéis italianos e espanhóis, além, naturalmente, de bônus emitidos pelos governos já envolvidos em programas de estabilização.

Mas o BCE talvez tenha feito mais do que devia. Não basta um banco central para garantir a estabilidade econômica. Isso é verdadeiro tanto num Estado nacional quanto numa união monetária. Neste caso, a questão é mais grave e mais complicada. É evidente, na zona do euro, a carência de um mecanismo de coordenação fiscal. Já foi esboçado um sistema de gestão orçamentária conjunta, mas falta complementar politicamente essa decisão. Há pouco tempo surgiu a ideia de uma administração econômica - ou pelo menos fiscal - para os 17 países da zona do euro. A proposta foi lançada, mas a discussão não avançou, pelo menos publicamente.

A sugestão de lançamento do eurobônus, para enfrentamento conjunto da crise das dívidas soberanas, obviamente remete à ideia de um fundo fiscal comum. Mas o lançamento do eurobônus só será possível se a soberania fiscal for abandonada, disse nesta terça-feira o presidente do BC alemão, Jens Weidmann. O Fundo de Estabilidade Financeira Europeia é suficiente e apropriado para lidar com a crise, acrescentou Weidmann, também membro da diretoria do BCE. Mas falta à união monetária, admitiu, a estrutura institucional necessária para garantir responsabilidade e compromisso.

O discurso pode variar, mas o núcleo do problema é inconfundível. A união monetária só pode funcionar com segurança, a longo prazo, se houver uma coordenação fiscal sustentada por um mecanismo político mais forte que o atual. De alguma forma cada Estado terá de ceder um pouco mais de soberania.

Durante anos, governantes do Brasil e dos países vizinhos têm repetido a ladainha: a solução para o Mercosul é mais Mercosul. Pode até não ser. No atual estágio, há quem recomende um abandono da união aduaneira e um retorno à condição de área de livre comércio. Na zona do euro, a situação é diferente. A experiência foi muito longe e a solução para a união monetária deve ser uma união mais completa. Mas isso requer mais liderança e mais coragem do que têm mostrado os políticos das maiores economias do euro. Líderes mais fortes provavelmente já teriam articulado um calote grego - uma renegociação planejada, mais prática e mais barata que uma crise prolongada e de altíssimo potencial destrutivo.

MERVAL PEREIRA - Contraponto

Contraponto
MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 14/09/11

O PMDB está fazendo um movimento em direção à classe média em oposição ao PT, anunciando a divulgação de um documento no seu fórum nacional ainda esta semana onde se posicionará contra a criação de um imposto semelhante à CPMF para financiar a Saúde, e também contra qualquer tentativa de controle da mídia.

Com isso, o PMDB resgata o compromisso que assumiu com seu eleitorado quando fechou um acordo político com o PT para ter seu presidente nacional, Michel Temer, como vice na chapa de Dilma Rousseff.

O ex-presidente Lula montou toda sua estratégia para eleger Dilma com base no apoio do PMDB, embora a princípio não quisesse que o vice fosse Michel Temer. O PMDB, por seu lado, queria fazer parte da chapa presidencial, sem dúvida, mas para apagar sua imagem fisiológica, baseou sua adesão a compromissos com os valores democráticos, colocando-se como um contraponto ao radicalismo do PT que parecia àquela altura, final do segundo governo Lula, querer tomar conta do futuro governo com uma linha mais à esquerda.

Quando o ex-deputado José Dirceu, em uma palestra para sindicalistas, disse que o governo Dilma seria o governo do PT, porque Lula era maior que o partido e Dilma teria que governar com ele, ficou claro que a direção petista se preparava para imprimir sua marca no futuro governo.

No decorrer da campanha presidencial, enquanto Lula levava sua candidata pelo braço nos palanques nacionais, o PMDB tinha conversas estratégicas com setores da sociedade se comprometendo a atuar como um anteparo a eventuais manobras radicais que setores petistas porventura pudessem querer ressuscitar, como o controle dos meios de comunicação ou uma revisão da lei da anistia, dois temas que estiveram na ordem do dia no final do governo Lula por conta de um recrudescimento da atividade da ala mais esquerdista do PT.

Nos dois casos, foi o PMDB que conseguiu reverter a situação, especialmente em relação à anistia. O então ministro da Defesa Nelson Jobim negociou muito com os militares e com o governo até chegar a uma formatação aceita por todos para a instalação da Comissão da Verdade que, na versão aprovada e que precisa ser ratificada pela nova cúpula da Defesa, não contempla a revisão da Lei de Anistia.

Será apenas um fórum para recuperar a memória dos tempos de chumbo, sem efeitos retroativos de punição a quem quer que seja.

O caso do controle dos meios de comunicação, que o PT vem tentando aprovar desde o primeiro governo Lula, é outra questão que encontra no PMDB um firme adversário já antes de o acordo político abrangente que levou o partido ao centro da decisão federal, posição reafirmada agora.

A intenção do partido é, no documento do fórum nacional, definir uma posição clara a favor da liberdade de imprensa, contra qualquer restrição ou constrangimento dos meios de comunicação.

Na interpretação do PMDB, adiantada pelo deputado Elizeu Padilha, presidente do instituto de estudos políticos do partido, "regulação de mídia não se incorpora às práticas das modernas democracias".

A negativa à criação de uma nova CPMF tem a ver com a proximidade que o PMDB quer ter com a nova classe média, para neutralizar a imagem de fisiológico que o prejudica junto a esse mesmo setor do eleitorado.

Um dos ministros do PMDB, Moreira Franco, da Secretaria de Ação Estratégica, está coordenando um amplo trabalho de pesquisa e análise para definir o perfil dessa nova classe média, para que o governo - e obviamente o PMDB - tenha estratégias para esse novo nicho social e eleitoral.

Mesmo com a presidente Dilma a princípio tendo incentivado o movimento dos governadores para a defesa do novo imposto, o partido não endossou a tese, deixando que seus governadores assumissem o ônus de defender o aumento da carga tributária em caráter individual.

Foi o que aconteceu com o governador do Rio de Janeiro que, provavelmente estimulado pela presidente, saiu de um encontro com ela defendendo enfaticamente o novo imposto, chegando a dizer que foi "uma maldade" o fim da CPMF.

Logo se viu que o governador que estava sintonizado com a opinião pública era o de Pernambuco, Eduardo Campos, do PSB, que rejeitou liminarmente o novo imposto, defendendo uma gestão pública mais eficiente como remédio para a melhoria da saúde no país.

Mais adiante, ficou demonstrado que os governadores que defenderam em manifesto a Contribuição Social para a Saúde (CSS) eram justamente os que menos investiam no setor, ficando fora do mínimo que a lei exige.

A própria presidente Dilma, depois de incentivar a criação da CSS - que teve o apoio explícito da ministra das Relações Institucionais Ideli Salvatti e do líder Cândido Vaccarezza - recuou enfaticamente, enterrando a ideia com declarações definitivas a Patrícia Poeta no "Fantástico".

Mais uma vez ficou demonstrado que nenhuma ação mais radical, seja na área política, seja na criação de novos impostos que imponham à sociedade mais um ônus, terá espaço político para prosperar.

O impostômetro da Associação Comercial de São Paulo chegou a 1 trilhão ontem, marcando um novo recorde de recolhimento mais cedo do que aconteceu no ano passado, indicando que o ritmo de crescimento da cobrança de imposto está aumentando.

Não é, definitivamente, um tema palatável para a classe média, que hoje já representa mais da metade da população brasileira, ainda mais com a proximidade de uma crise econômica que pode afetar o atual estado de bem-estar que ela experimenta, com o dólar barato e a inflação baixa, situações que estão se invertendo perigosamente.

JOSÉ NÊUMANNE - Por que a PF não busca quem matou Toninho?


Por que a PF não busca quem matou Toninho?
JOSÉ NÊUMANNE 
 O Estado de S.Paulo - 14/09/11

No sábado passado, enquanto o mundo inteiro se preparava para prantear as quase 3 mil vítimas do terrorismo fundamentalista em Nova York, outra efeméride fúnebre passou em brancas nuvens pelos céus deste nosso Brasil varonil. Os dez anos da execução do então prefeito de Campinas, Antônio da Costa Santos, não foram lembrados com a indignação com que deveriam tê-lo sido, neste momento em que até a presidente Dilma Rousseff definiu como "positiva" (a seu assessor palaciano Gilberto Carvalho) a mobilização popular contra a corrupção, no Dia da Pátria. A omissão passou a ser mais uma evidência acumulada de que os antigos romanos tinham razões de sobra para constatar que sic transit gloria mundi (assim passa a glória mundana).

Afinal, a vítima não era um anônimo qualquer. O compositor e intérprete de sucessos musicais Chico César, seu amigo pessoal e testemunha de muitos dos comícios e outras manifestações de apreço dos campineiros, garante nunca ter visto amor tão genuíno como o que estes demonstravam explicitamente pelo líder, baleado na noite de 10 de setembro de 2001 quando manobrava à saída do estacionamento de um shopping center. A cidade que ele administrava não é propriamente um vilarejo insignificante, o que poderia justificar a lápide fria que foi posta não apenas sobre seu corpo, mas também sobre a obra de um dirigente político que denunciou, com coragem, o banditismo em suas mais diversas formas, entre as quais as da política e da governança pública. É possível até argumentar que seus assassinos se beneficiaram do fato de a execução ter ocorrido justamente na véspera dos atentados contra as torres do World Trade Center. Mas mesmo essa desculpa é pálida, para não dizer amarela, como definia minha avó Nanita, que pontificava do alto de sua vetusta sabedoria doméstica: "Desculpa de cego é feira ruim e saco furado".

O certo é que só o acaso não justificaria ou, em última instância, perdoaria o silêncio de cemitérios que se impôs sobre o assassínio do líder que teria acrescido ao apelido familiar Toninho a expressão "do PT" para não ficar dúvida quanto ao partido a que pertencia o mártir na luta contra o crime. Nem para deixar que os dez anos de negaças e incúria das autoridades públicas os despejem no oblívio.

Toninho 13, assim conhecido por causa do número de suas postulações a cargos no Executivo municipal de sua cidade, não era decerto um militante apreciado e totalmente aprovado pelo comando do partido, como o era outra vítima de morte dada como acidental, nunca devidamente esclarecida, Celso Daniel. O campineiro chegou a ser demitido da Secretaria de Obras de Jacó Bittar, amigo do padim Lula e pai dos sócios do filho do profeta de Garanhuns, a exemplo do que também ocorreu com o ex-guerrilheiro Paulo de Tarso Venceslau, que não chegou a ser morto pelas denúncias que fez, mas sobreviveu a dois atentados na Rodovia do Trabalhador. E não escapou do expurgo partidário por insistir em não compactuar com a omissão cúmplice da direção partidária.

Quando Celso Daniel foi baleado, quatro meses depois de Toninho, tinha saído da prefeitura de Santo André para coordenar o programa presidencial na campanha, que terminaria vitoriosa, de Luiz Inácio Lula da Silva. Com sua morte, o posto foi ocupado por Antônio Palocci, abatido dos mais altos postos da Esplanada dos Ministérios não por balas de pistoleiros, mas por acusações de agressões à ética que iam desde a invasão do sigilo bancário de um pobre caseiro até a multiplicação do patrimônio pessoal sem renda que a justificasse. Só por aí já dá para imaginar o destino glorioso que poderia ter tido o moço do ABC, se não houvesse morrido.

De qualquer maneira, há semelhanças entre as vítimas. O amado e corajoso líder campineiro denunciara grupos poderosos de corruptos públicos e privados na comissão parlamentar de inquérito (CPI) que investigava o narcotráfico. E o preparado quadro de Santo André também protagonizava um escândalo em que o produto da propina, segundo dois irmãos dele, fora transportado em malas entregues ao mesmo Gilberto Carvalho que acabou de ouvir Dilma elogiar as manifestações contra o esbulho, tendo como destinatário o então presidente nacional petista, José Dirceu. Todos os personagens dos casos citados, é claro, negam envolvimento e este último tem negado muito mais, de vez que é acusado de chefiar um bando organizado que movimentava recursos públicos e privados na compra de apoio parlamentar.

A Polícia Civil, chefiada por adversários do PT no poder no Estado de São Paulo, logo incriminou o sequestrador Andinho, dado como o matador de Toninho. Da mesma forma, concluiu que um menor teria acertado a testa de Daniel a oito metros de distância no escuro da madrugada numa mata em Itapecerica da Serra. Em ambos os casos, o comando petista não discutiu a conclusão dos subordinados de tucanos e contestou familiares dos mortos, indignados com as óbvias falhas nas investigações.

Há pouco tempo, um júri popular começou a condenar alguns participantes da execução do prefeito sequestrado. A promessa feita por Lula, candidato no palanque, em Campinas, em 2002, de mandar a Polícia Federal (PF) investigar o assassinato do prefeito baleado na direção do carro nunca foi cumprida. Márcio Thomaz Bastos, indicado para assessorar juridicamente a família do morto, Tarso Genro, Luiz Paulo Barreto e José Eduardo Martins Cardoso, no comando da pasta à qual está subordinada a PF, não moveram uma palha para cumprir essa vã promessa de seu líder supremo.

O mínimo que se pode questionar neste décimo aniversário da execução de Toninho do PT é por que nunca ninguém das cúpulas petista e federal se interessou em saber se tem razão a polícia paulista, que acusa Andinho, ou o sequestrador, que sempre negou a autoria do crime.