Nada muito diferente do que acontece em outros países latino-americanos. A Venezuela é um bom exemplo. Por sinal, uma vez Lula afirmou que preferia propaganda a notícias
O trecho que segue, extraído de uma das mais recentes resoluções aprovadas pelo comando nacional do PT, deixou perplexos chefes militares e políticos minimamente responsáveis (sim, eles existem, mas são poucos no Congresso):
“Fomos igualmente descuidados com a necessidade de reformar o Estado, o que implicaria impedir a sabotagem conservadora nas estruturas de mando da Polícia Federal e do Ministério Público Federal; modificar os currículos das academias militares; promover oficiais com compromisso democrático e nacionalista; fortalecer a ala mais avançada do Itamaraty e redimensionar sensivelmente a distribuição de verbas publicitárias para os monopólios da informação”.
É a confissão de um projeto golpista. Ou não é? Vejamos.
Onde se leu: “impedir a sabotagem conservadora nas estruturas de mando da Polícia Federal e do Ministério Público Federal”, pode-se muito bem ler: controlar as ações da Polícia Federal e do Ministério Público Federal, que não são órgãos do governo, mas do Estado, dotados de autonomia garantida pela Constituição.
Onde se leu: “modificar os currículos das academias militares” e “promover oficiais com compromisso democrático e nacional”, pode-se muito bem ler: adequar os currículos das academias militares à ideologia do PT, interferindo no sistema de promoção das Forças Armadas para beneficiar oficiais comprometidos com tal ideologia.
O mesmo tipo de interferência serviria no Itamaraty para “fortalecer” sua “ala mais avançada”. Avançada no quê? Avançada em qual direção? Só poderia ser na direção julgada mais acertada pelo PT.
Por fim, onde se leu: “redimensionar sensivelmente a distribuição de verbas publicitárias para os monopólios da informação”, pode-se muito bem ler: reduzir os gastos do governo com propaganda nos chamados grandes veículos de comunicação, priorizando aqueles alinhados com o projeto do PT de se eternizar no poder. De certa forma, isso já vinha sendo feito.
Diga-se a favor do PT que ele jamais escondeu sua pretensão de “regular os meios comunicação”, ou seja: de domesticá-los e de, com isso, limitar sua liberdade de informar e de criticar. Nada muito diferente do que acontece em outros países latino-americanos. A Venezuela “bolivariana” é um bom exemplo. Por sinal, uma vez Lula afirmou que preferia propaganda a notícias.
Mais uma vez a favor do PT, diga-se que o tratamento transparente conferido por ele a objetivos que se frustraram fará bem aos eleitores dispostos a conceder-lhe seu voto e àqueles igualmente dispostos a negar-lhe o seu. De resto, fará bem aos eleitores que votaram no PT apenas encantados com sua pregação por mais justiça social e mais democracia, sem se indagar sobre a natureza de tal democracia ao fim e ao cabo.