FOLHA DE SP - 08/06
RIO DE JANEIRO - Nelson Rodrigues ia todo domingo ao Maracanã. Era míope, não usava óculos, não enxergava o que se passava no gramado e, mesmo assim, ninguém escrevia sobre futebol como ele. Seu segredo: radiografar a alma dos jogadores. Daí porque suas crônicas podem ser lidas e saboreadas hoje, 50 anos depois, sem que os jogos que as inspiraram tenham qualquer importância.
Mas, se Nelson foi o maior cronista esportivo da língua, não foi o primeiro. Mario Filho, seu irmão, antecedeu-o por 20 anos e, a partir de memórias esgarçadas, construiu todo um passado de lenda para o futebol. Exemplo: foi Mario quem deu ao Fla-Flu as dimensões épicas que, depois, o clássico se viu obrigado a honrar. O perigo é quando tomamos Mario, o fabuloso cronista, pelo historiador que ele também queria ser.
Na esteira da recente reabertura do Maracanã, o cronista e blogueiro Eduardo Cyntrão me alerta para o fato de que um dos episódios mais dramáticos da saga do estádio, narrado por Mario Filho, pode não ter acontecido: a bofetada do uruguaio Obdulio Varela no brasileiro Bigode na final da Copa de 1950, entre Brasil x Uruguai, vencida pelos uruguaios por 2 x 1. Para Mario, ela determinou o resultado do jogo.
"Só Mario Filho viu essa bofetada", diz Cyntrão. "Não há uma foto, uma imagem, um registro original dessa suposta agressão. Segundo Mario, a bofetada ardeu no rosto da multidão'. Mas já imaginou as 200 mil pessoas presentes no Maracanã vendo um estrangeiro dar uma bofetada num brasileiro? A geral iria invadir o campo e linchar os uruguaios. Seria a maior tragédia do esporte em todos os tempos". E Cyntrão conclui: "Eu tinha 19 anos e estava lá --e também não vi nenhuma bofetada".
Mario Filho era craque em fazer da realidade lenda. Mas nesta, quem sabe, sua mão escorregou e ele tenha feito da lenda realidade.
sábado, junho 08, 2013
Gatsby - ZUENIR VENTURA
O GLOBO - 08/06
Ainda não vi e desconfio que não vá gostar de "O grande Gatsby", pelo menos não tanto quanto do livro, um dos mais fascinantes que li na juventude.
Segundo importantes críticos, é "uma obra prima", um clássico definidor dos anos 20, os "anos loucos", que o próprio Scott Fitzgerald chamou de "era do jazz" e da qual ele foi a voz e sua mulher, Zelda, o belo e atormentado rosto.
Sobre o período, ele escreveu: "Foi uma era de milagres, foi uma era de arte, foi uma era de excesso" - de excesso, dissipação e extravagâncias comportamentais. E foi também a era da Lei Seca, quando as pessoas se enfurnavam em bares clandestinos, as moças dançando charleston e mostrando as pernas, enquanto os homens se embriagavam de bebida contrabandeada.
Para o romancista, "foi a mais dispendiosa orgia da História", uma farra que acabou no crack da Bolsa de NY e na Grande Depressão.
O livro tem como dedicatória "Uma vez mais para Zelda", com quem o autor teve uma filha e uma relação turbulenta, tumultuada por frequentes brigas - ele era alcoólatra e ela sofria de esquizofrenia, tendo sido internada várias vezes com colapso nervoso. Formavam um casal jovem e lindo, excêntrico, perdulário e impaciente, com grande pressa de viver. A disputa entre si era tamanha que chegou a ponto de, reciprocamente, um/uma acusar o outro/outra de plágio. Uma confissão revela o grau de passionalismo que cercava essa tempestuosa história de amor e ciúme: "Eu não ligaria se ela morresse, mas não suportaria vê-la se casar com outro." No verão de 1924, na Riviera francesa, enquanto ele acabava de escrever "O grande Gatsby", o casamento foi outra vez abalado pelo envolvimento de Zelda com um aviador francês.
Escritora também, ela ficou mais famosa como ícone e precursora do feminismo do que como romancista. Foi, como classificou o marido, "a primeira melindrosa da América". Junto com Hemingway, entre outros, os dois pertenceram à "geração perdida", aquela que, como já se disse, viajou dez mil quilômetros para encontrar Paris e descobriu a América.
Assim como a década, o casal acabou mal. Já separados, Scott morreu em 1940, com 44 anos, sem dinheiro, fama e sem acreditar que um dia seu livro seria consagrado pela crítica e venderia 10 milhões de exemplares. Zelda morreu em 1948, aos 48 anos, quando o hospital em que estava internada pegou fogo, matando-a e a outras oito pacientes. No túmulo dos dois, estão inscritas as palavras que encerram "O grande Gatsby": "E assim prosseguimos, barcos contra a corrente, arrastados incessantemente para o passado."
Segundo importantes críticos, é "uma obra prima", um clássico definidor dos anos 20, os "anos loucos", que o próprio Scott Fitzgerald chamou de "era do jazz" e da qual ele foi a voz e sua mulher, Zelda, o belo e atormentado rosto.
Sobre o período, ele escreveu: "Foi uma era de milagres, foi uma era de arte, foi uma era de excesso" - de excesso, dissipação e extravagâncias comportamentais. E foi também a era da Lei Seca, quando as pessoas se enfurnavam em bares clandestinos, as moças dançando charleston e mostrando as pernas, enquanto os homens se embriagavam de bebida contrabandeada.
Para o romancista, "foi a mais dispendiosa orgia da História", uma farra que acabou no crack da Bolsa de NY e na Grande Depressão.
O livro tem como dedicatória "Uma vez mais para Zelda", com quem o autor teve uma filha e uma relação turbulenta, tumultuada por frequentes brigas - ele era alcoólatra e ela sofria de esquizofrenia, tendo sido internada várias vezes com colapso nervoso. Formavam um casal jovem e lindo, excêntrico, perdulário e impaciente, com grande pressa de viver. A disputa entre si era tamanha que chegou a ponto de, reciprocamente, um/uma acusar o outro/outra de plágio. Uma confissão revela o grau de passionalismo que cercava essa tempestuosa história de amor e ciúme: "Eu não ligaria se ela morresse, mas não suportaria vê-la se casar com outro." No verão de 1924, na Riviera francesa, enquanto ele acabava de escrever "O grande Gatsby", o casamento foi outra vez abalado pelo envolvimento de Zelda com um aviador francês.
Escritora também, ela ficou mais famosa como ícone e precursora do feminismo do que como romancista. Foi, como classificou o marido, "a primeira melindrosa da América". Junto com Hemingway, entre outros, os dois pertenceram à "geração perdida", aquela que, como já se disse, viajou dez mil quilômetros para encontrar Paris e descobriu a América.
Assim como a década, o casal acabou mal. Já separados, Scott morreu em 1940, com 44 anos, sem dinheiro, fama e sem acreditar que um dia seu livro seria consagrado pela crítica e venderia 10 milhões de exemplares. Zelda morreu em 1948, aos 48 anos, quando o hospital em que estava internada pegou fogo, matando-a e a outras oito pacientes. No túmulo dos dois, estão inscritas as palavras que encerram "O grande Gatsby": "E assim prosseguimos, barcos contra a corrente, arrastados incessantemente para o passado."
Ueba! Turcocircuito na Turquia! - JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SP - 08/06
E a Inglória Perez mandou os brasileiros pra Turquia na hora errada! Balão cai, estoura gás lacrimogêneo!
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! E um amigo postou no Twitter que: "o PMDB é o partido mais quenga da política desde os tempos de Salomé!".
E o Predestinado do dia! Síndico do Copan que multou um casal transando na escada: Affonso Celso Prazeres! Com esse nome, não tem direito de multar ninguém.
Affonso Celso Estraga Prazeres! Affonso Celso Prazeres Menos na Escada! Rarará!
E essa, direto de Salvador: "Ladrões são presos na Ladeira da Preguiça". Rarará!
E um amigo disse que só paga ônibus por R$ 3,20 se o ônibus vier pegar em casa. Com serviço de bordo e banheiro limpo! Rarará!
E atenção! Turcocircuito na Turquia! Como disse o chargista Dálcio: "Bósforo muda pra Fósforo!". E Erdogan pra Tobogan!
E a Inglória Perez mandou os brasileiros pra Turquia na hora errada! Balão cai, estoura gás lacrimogêneo!
Aliás, o gás lacrimogêneo é feito no Brasil. Deve ser made in Projac. Sobrou da novela. Aliás, diz que depois que fecharam a boate da Claudia Raia em Istambul, os turcos se revoltaram! Rarará!
Mas os brasileiros começaram ir pra Turquia depois daquela matéria do Amaury Jr. da Turkish Airlines.
Tanto que no bazar, se você falar que é amigo do Amaury Jr., ganha desconto no tapete!
E olha esse cartaz em Istambul: "A revolução não será televisionada, será tuitada".
Os grandes inimigos do Erdogan: Twitter e Facebook. E Erdogan é nome de xarope! Xarope turco!
E o horário do DEM no meio da novela? Um monte de homem branco. Não tem uma mulher, um negro, um jovem! Brasil colônia!
E DEM quer dizer Deu Em Merda! Foram todos pra outros partidos. Só sobrou o ACMeio Metro! Que subiu em oito engradados de cerveja pra gravar! E sempre com aquela polo toda arrumadinha. Parece feito de Lego. Prefeito Lego!
E o tuiteiro Fabriohabreu postou que "o ACM Neto tem cara de quem jogava bolinha de gude no carpete". Rarará!
E DEM quer dizer Democratas. E como eles vão conseguir transformar o Agripino Maia em democrata? Rarará! Missão Impossível! Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
E a Inglória Perez mandou os brasileiros pra Turquia na hora errada! Balão cai, estoura gás lacrimogêneo!
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! E um amigo postou no Twitter que: "o PMDB é o partido mais quenga da política desde os tempos de Salomé!".
E o Predestinado do dia! Síndico do Copan que multou um casal transando na escada: Affonso Celso Prazeres! Com esse nome, não tem direito de multar ninguém.
Affonso Celso Estraga Prazeres! Affonso Celso Prazeres Menos na Escada! Rarará!
E essa, direto de Salvador: "Ladrões são presos na Ladeira da Preguiça". Rarará!
E um amigo disse que só paga ônibus por R$ 3,20 se o ônibus vier pegar em casa. Com serviço de bordo e banheiro limpo! Rarará!
E atenção! Turcocircuito na Turquia! Como disse o chargista Dálcio: "Bósforo muda pra Fósforo!". E Erdogan pra Tobogan!
E a Inglória Perez mandou os brasileiros pra Turquia na hora errada! Balão cai, estoura gás lacrimogêneo!
Aliás, o gás lacrimogêneo é feito no Brasil. Deve ser made in Projac. Sobrou da novela. Aliás, diz que depois que fecharam a boate da Claudia Raia em Istambul, os turcos se revoltaram! Rarará!
Mas os brasileiros começaram ir pra Turquia depois daquela matéria do Amaury Jr. da Turkish Airlines.
Tanto que no bazar, se você falar que é amigo do Amaury Jr., ganha desconto no tapete!
E olha esse cartaz em Istambul: "A revolução não será televisionada, será tuitada".
Os grandes inimigos do Erdogan: Twitter e Facebook. E Erdogan é nome de xarope! Xarope turco!
E o horário do DEM no meio da novela? Um monte de homem branco. Não tem uma mulher, um negro, um jovem! Brasil colônia!
E DEM quer dizer Deu Em Merda! Foram todos pra outros partidos. Só sobrou o ACMeio Metro! Que subiu em oito engradados de cerveja pra gravar! E sempre com aquela polo toda arrumadinha. Parece feito de Lego. Prefeito Lego!
E o tuiteiro Fabriohabreu postou que "o ACM Neto tem cara de quem jogava bolinha de gude no carpete". Rarará!
E DEM quer dizer Democratas. E como eles vão conseguir transformar o Agripino Maia em democrata? Rarará! Missão Impossível! Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
No teto da meta - CELSO MING
ESTADÃO - 08/06
Se prosseguir na venda de ilusões, o governo Dilma dirá, como tem dito, que a inflação de maio (0,37%) foi mais baixa do que a de abril (0,55%); que a alta dos alimentos desacelerou com força e que, por isso, estamos melhorando e tal.
No entanto, a inflação em 12 meses (6,5%) está no gargalo da garrafa e vai saltar para cima desse nível pelo menos nos próximos três meses. Os efeitos da desoneração da cesta básica já não atuarão sobre a inflação e há os reajustes da condução que começam a pesar.
Embora um pouco mais contida, a alta continua espalhada demais, na medida em que 63% dos itens que compõem a cesta do custo de vida apresentaram elevação em maio. Enfim, como aponta o Banco Central, a inflação segue resistente, dizimando o poder aquisitivo.
Se estiver realmente empenhado em virar esse jogo agora adverso, o primeiro passo é admitir a deterioração da economia e tratar de colocar a composição nos trilhos.
Sempre há aqueles que argumentam que o setor fiscal (contas públicas) está melhor do que em tantos países modelos do mundo; que os juros básicos estão elevados demais quando se comparam com os praticados lá fora e, por isso, teriam de cair; que o Brasil estoca respeitável volume em reservas, de US$ 374 bilhões; e que, embora venha decepcionando, a atividade econômica avança mais do que na maioria dos países ricos, há cinco anos mergulhados na estagnação.
A atual combinação de políticas vem produzindo fiascos sucessivos quando comparados com os objetivos propostos: crescimento do PIB provavelmente na casa de 2% neste ano, em vez de 4% a 4,5% ao ano; inflação para além dos 6% ao ano, em vez do limite de 4,5%; derrubada do superávit primário (sobra de arrecadação para pagamento da dívida) em vez dos 3,1% do PIB; e rombo crescente nas contas externas (saldo nas Transações Correntes) em vez da relativa estabilidade.
As depredações de quinta-feira na Avenida Paulista em protestos contra a alta das tarifas da condução e o anúncio da perspectiva de rebaixamento da qualidade dos títulos de dívida do Brasil pela Standard & Poor’s são parte do mesmo quadro deteriorado que, felizmente, está longe do que acontece na Argentina, mas que, infelizmente, por lá começou também assim.
Por enquanto, apenas o Banco Central mudou de comportamento, antes complacente demais. O resto da administração Dilma parece paralisado, em parte porque não aprendeu a livrar-se dos mata-burros ideológicos e, pelos quatro cantos, vê a ação conspiratória dos neoliberais e “da finança internacional” e, em parte, porque não sabe ainda o que fazer.
Até que ponto o aperto da política monetária (política de juros) será capaz de conter a inflação? Se o Banco Central ficar sozinho na empreitada, poderá alcançar algum sucesso, mas terá de puxar os juros sabe-se lá para que alturas. Falta saber se o governo está disposto a calibrar sua política fiscal nessa direção.
Falsa impressão. Pode ficar a impressão de que esses números estão relativamente estabilizados. Não estão. É uma inflação muito alta e persistente, em parte porque não há como trazer do exterior a maioria dos serviços. Com isso, os mecanismos da concorrência demoram mais a entrar em ação. Nesse campo, as duas únicas forças capazes de conter a alta são a puxada dos juros e a própria inflação que corrói o poder aquisitivo.
Se prosseguir na venda de ilusões, o governo Dilma dirá, como tem dito, que a inflação de maio (0,37%) foi mais baixa do que a de abril (0,55%); que a alta dos alimentos desacelerou com força e que, por isso, estamos melhorando e tal.
No entanto, a inflação em 12 meses (6,5%) está no gargalo da garrafa e vai saltar para cima desse nível pelo menos nos próximos três meses. Os efeitos da desoneração da cesta básica já não atuarão sobre a inflação e há os reajustes da condução que começam a pesar.
Embora um pouco mais contida, a alta continua espalhada demais, na medida em que 63% dos itens que compõem a cesta do custo de vida apresentaram elevação em maio. Enfim, como aponta o Banco Central, a inflação segue resistente, dizimando o poder aquisitivo.
Se estiver realmente empenhado em virar esse jogo agora adverso, o primeiro passo é admitir a deterioração da economia e tratar de colocar a composição nos trilhos.
Sempre há aqueles que argumentam que o setor fiscal (contas públicas) está melhor do que em tantos países modelos do mundo; que os juros básicos estão elevados demais quando se comparam com os praticados lá fora e, por isso, teriam de cair; que o Brasil estoca respeitável volume em reservas, de US$ 374 bilhões; e que, embora venha decepcionando, a atividade econômica avança mais do que na maioria dos países ricos, há cinco anos mergulhados na estagnação.
A atual combinação de políticas vem produzindo fiascos sucessivos quando comparados com os objetivos propostos: crescimento do PIB provavelmente na casa de 2% neste ano, em vez de 4% a 4,5% ao ano; inflação para além dos 6% ao ano, em vez do limite de 4,5%; derrubada do superávit primário (sobra de arrecadação para pagamento da dívida) em vez dos 3,1% do PIB; e rombo crescente nas contas externas (saldo nas Transações Correntes) em vez da relativa estabilidade.
As depredações de quinta-feira na Avenida Paulista em protestos contra a alta das tarifas da condução e o anúncio da perspectiva de rebaixamento da qualidade dos títulos de dívida do Brasil pela Standard & Poor’s são parte do mesmo quadro deteriorado que, felizmente, está longe do que acontece na Argentina, mas que, infelizmente, por lá começou também assim.
Por enquanto, apenas o Banco Central mudou de comportamento, antes complacente demais. O resto da administração Dilma parece paralisado, em parte porque não aprendeu a livrar-se dos mata-burros ideológicos e, pelos quatro cantos, vê a ação conspiratória dos neoliberais e “da finança internacional” e, em parte, porque não sabe ainda o que fazer.
Até que ponto o aperto da política monetária (política de juros) será capaz de conter a inflação? Se o Banco Central ficar sozinho na empreitada, poderá alcançar algum sucesso, mas terá de puxar os juros sabe-se lá para que alturas. Falta saber se o governo está disposto a calibrar sua política fiscal nessa direção.
Falsa impressão. Pode ficar a impressão de que esses números estão relativamente estabilizados. Não estão. É uma inflação muito alta e persistente, em parte porque não há como trazer do exterior a maioria dos serviços. Com isso, os mecanismos da concorrência demoram mais a entrar em ação. Nesse campo, as duas únicas forças capazes de conter a alta são a puxada dos juros e a própria inflação que corrói o poder aquisitivo.
Avançar ou retroceder? - KÁTIA ABREU
FOLHA DE SP - 08/06
Invasões indígenas são reflexo dos impasses de um país com dificuldade para seguir adiante
O país caminha célere rumo ao progresso e à modernidade neste início de século. Hoje, o agronegócio é o motor dessa nova trajetória nacional de sucesso, graças à sua visão, tecnologia, capacidade de inovação e desenvolvimento.
Já vai longe a época em que o setor era visto como símbolo do atraso e de incapacidade empresarial. Somos competitivos internacionalmente e por todos reconhecidos.
A política agrícola dos anos anteriores se resumia a uma disputa por anúncios de mais recursos, sem que os instrumentos estivessem adequados à realidade da produção.
Esse modelo serviu, durante anos, a uma agropecuária incipiente. O que se seguia a cada anúncio dos planos anuais era uma grita pelas infindáveis prorrogações de dívidas.
O seguro agrícola --instrumento eficaz utilizado há décadas no Primeiro Mundo-- era tratado como uma grande benesse aos produtores, quando, na verdade, ele protege um grande patrimônio do país: sua agricultura, que produz alimento de qualidade a preços baixos.
Nas duas mais recentes edições do Plano Agrícola e Pecuário (PAP) deste governo, houve mudança de paradigma.
No PAP 2011/2012, houve aumento de 40% nos valores do seguro e, no deste ano, o crescimento do montante foi de 70%.
Chegamos, enfim, ao bom senso: o seguro agrícola não é mais uma questão dos produtores, mas do Estado brasileiro. Mas ainda há muito a avançar, pois no patamar atual nem 40% da safra está coberta. Nos EUA, o seguro cobre 86% da área plantada.
O PAP 2012/2013 se diferencia também por incorporar, em grande medida, antigos pleitos dos produtores rurais, como programas para armazenagem, irrigação e agricultura de baixo carbono.
Em especial, o plano também abriu importante espaço ao apoiar a pesquisa e a inovação por parte da iniciativa privada.
Tudo isso foi possível pela parceria republicana de alto nível entre a representação dos produtores e o governo federal. Uma parceria baseada no diálogo, no conhecimento da realidade do setor agropecuário e na efetiva determinação de avançar.
Apesar de todo esse esforço, que colocou nossas cabeças no século 21, estamos com os pés ainda atados a um passado de conflitos e controvérsias que parecem intermináveis. O campo brasileiro continua sendo palco de embates medievais, que causam enorme dano à imagem internacional do país e da produção do país.
No que toca à questão indígena, eles são vítimas da colonização brasileira empreendida pelo Estado e pela Igreja, com situações trágicas e desestruturação cultural e religiosa.
Os empreendedores rurais não são os responsáveis por isso. São as novas vítimas.
É sabido que a Funai, órgão criado pelo Estado para tutelar o índio, não tem a isenção necessária a um ator que se propõe a mediar conflitos com justiça e equidade.
Visivelmente, atua como militante indigenista e radical, tendo como alvo o produtor rural.
Consta do Manual do Antropólogo-Coordenador da Funai que os relatórios antropológicos de identificação e demarcação devem estar direcionados à confirmação como indígena de uma determinada área sob exame.
O manual não dá brecha a uma atuação imparcial, que permita ao antropólogo de plantão questionar se a área é, ou não, efetivamente indígena.
E são nesses termos que o relatório deve ser elaborado, de modo que sirva para o "convencimento do juiz". Evidente, portanto, que a Funai não pode ter o monopólio nos processos de identificação e demarcação de terras indígenas. Falta-lhe a imparcialidade.
As invasões indígenas em vários Estados da União, ferindo o direito de propriedade e ameaçando a integridade física dos produtores, inclusive com uma morte dos próprios invasores ocorrida em Mato Grosso do Sul, são um reflexo dos impasses de um país que encontra dificuldade para seguir adiante.
A situação está fora de controle. O Estado democrático de Direito está em questão.
O Brasil precisa se libertar das amarras do seu passado, ingressando definitivamente no século 21. Passou da hora de se dar um basta nessa barbárie.
Invasões indígenas são reflexo dos impasses de um país com dificuldade para seguir adiante
O país caminha célere rumo ao progresso e à modernidade neste início de século. Hoje, o agronegócio é o motor dessa nova trajetória nacional de sucesso, graças à sua visão, tecnologia, capacidade de inovação e desenvolvimento.
Já vai longe a época em que o setor era visto como símbolo do atraso e de incapacidade empresarial. Somos competitivos internacionalmente e por todos reconhecidos.
A política agrícola dos anos anteriores se resumia a uma disputa por anúncios de mais recursos, sem que os instrumentos estivessem adequados à realidade da produção.
Esse modelo serviu, durante anos, a uma agropecuária incipiente. O que se seguia a cada anúncio dos planos anuais era uma grita pelas infindáveis prorrogações de dívidas.
O seguro agrícola --instrumento eficaz utilizado há décadas no Primeiro Mundo-- era tratado como uma grande benesse aos produtores, quando, na verdade, ele protege um grande patrimônio do país: sua agricultura, que produz alimento de qualidade a preços baixos.
Nas duas mais recentes edições do Plano Agrícola e Pecuário (PAP) deste governo, houve mudança de paradigma.
No PAP 2011/2012, houve aumento de 40% nos valores do seguro e, no deste ano, o crescimento do montante foi de 70%.
Chegamos, enfim, ao bom senso: o seguro agrícola não é mais uma questão dos produtores, mas do Estado brasileiro. Mas ainda há muito a avançar, pois no patamar atual nem 40% da safra está coberta. Nos EUA, o seguro cobre 86% da área plantada.
O PAP 2012/2013 se diferencia também por incorporar, em grande medida, antigos pleitos dos produtores rurais, como programas para armazenagem, irrigação e agricultura de baixo carbono.
Em especial, o plano também abriu importante espaço ao apoiar a pesquisa e a inovação por parte da iniciativa privada.
Tudo isso foi possível pela parceria republicana de alto nível entre a representação dos produtores e o governo federal. Uma parceria baseada no diálogo, no conhecimento da realidade do setor agropecuário e na efetiva determinação de avançar.
Apesar de todo esse esforço, que colocou nossas cabeças no século 21, estamos com os pés ainda atados a um passado de conflitos e controvérsias que parecem intermináveis. O campo brasileiro continua sendo palco de embates medievais, que causam enorme dano à imagem internacional do país e da produção do país.
No que toca à questão indígena, eles são vítimas da colonização brasileira empreendida pelo Estado e pela Igreja, com situações trágicas e desestruturação cultural e religiosa.
Os empreendedores rurais não são os responsáveis por isso. São as novas vítimas.
É sabido que a Funai, órgão criado pelo Estado para tutelar o índio, não tem a isenção necessária a um ator que se propõe a mediar conflitos com justiça e equidade.
Visivelmente, atua como militante indigenista e radical, tendo como alvo o produtor rural.
Consta do Manual do Antropólogo-Coordenador da Funai que os relatórios antropológicos de identificação e demarcação devem estar direcionados à confirmação como indígena de uma determinada área sob exame.
O manual não dá brecha a uma atuação imparcial, que permita ao antropólogo de plantão questionar se a área é, ou não, efetivamente indígena.
E são nesses termos que o relatório deve ser elaborado, de modo que sirva para o "convencimento do juiz". Evidente, portanto, que a Funai não pode ter o monopólio nos processos de identificação e demarcação de terras indígenas. Falta-lhe a imparcialidade.
As invasões indígenas em vários Estados da União, ferindo o direito de propriedade e ameaçando a integridade física dos produtores, inclusive com uma morte dos próprios invasores ocorrida em Mato Grosso do Sul, são um reflexo dos impasses de um país que encontra dificuldade para seguir adiante.
A situação está fora de controle. O Estado democrático de Direito está em questão.
O Brasil precisa se libertar das amarras do seu passado, ingressando definitivamente no século 21. Passou da hora de se dar um basta nessa barbárie.
Cinco boas novas, mas com muitas ressalva - ROLF KUNTZ
O ESTADO DE S. PAULO - 08/06
Junho começou com cinco notícias positivas - ataque mais firme à inflação, promessa de prioridade ao investimento, sinais de recuperação na indústria, melhora na balança comercial e pressão empresarial por mais e melhores acordos de comércio. Apesar disso, a Standard & Poors mudou de estável para negativa a perspectiva do País, alegando baixo crescimento e gasto público excessivo. Convém conferir as novidades positivas.
1) O Banco Central (BC) aumentou os juros, aparentemente com a concordância da presidente Dilma Rousseff. O novo aumento foi o dobro do anterior. O aperto pode ajudar a restabelecer a imagem de uma política autônoma e baseada em critérios técnicos. A noção de autonomia operacional do BC havia sido prejudicada nos últimos dois anos. A recuperação, se ocorrer, provavelmente ainda levará algum tempo, mas a primeira providência foi tomada.
Mas pode-se perguntar se o novo aperto, iniciado em abril, é justificável, quando o consumo das famílias parece estagnado. Afinal, cresceu no primeiro trimestre apenas 0,1% em relação aos três meses finais de 2012. Esse argumento é enganador.
Entre janeiro e março o consumo das famílias foi., 2,1% maior do que havia sido um ano antes, enquanto a produção industrial foi 1,4% menor. O consumo do governo superou por 1,6% o de janeiro a março de 2012. Bastariam esses dados para mostrar um grave desequilíbrio entre oferta e demanda no mercado interno.
A diferença resultou em aumentos de preços e de importações. Além disso, a expansão trimestral do consumo privado foi a 39.0 consecutiva, impulsionada pela expansão da massa de salários e do crédito. Em vista da demanda, a ação do BC é plenamente defensável. Mas a eficácia será prejudicada se a política fiscal continuar expansionis-ta. A perspectiva é de mais um ano sem realização integral do superávit primário e de novas transferências do Tesouro às estatais - como os novos aportes de R$ 15 bilhões para o BNDES e R$ 15 bilhões para a Valec.
2) A cúpula federal resolveu, segundo informação da última semana, atribuir ao investimento a função de motor principal do crescimento. Para isso será necessário, entre outras providências, apressar a execução do programa de concessões na área de infraestrutura, anunciado em agosto de 2012 e até agora empacado.
A revisão da estratégia, se for real, resultará do mero reconhecimento de um fato bem visível: embora ainda supere a capacidade interna de oferta, o consumo perdeu dinamismo. Seu papel como estimulante do crescimento esgotou-se - e provavelmente já estava esgotado em 2012. Além disso, o descompasso entre consumo e produção industrial era evidente há mais tempo, mas o governo desprezou esse dado.
A expansão do investimento dependerá tanto do governo quanto do setor privado. Do lado governamental, a tarefa só será cumprida se a administração de programas e projetos melhorar consideravelmente. Há muitos anos o governo mal consegue desembolsar 50% ou 60% das verbas orçamentárias previstas para investimento.
Entre as estatais, a Petrobrás tem sido responsável por uma fatia entre 80% e 90% do total investido. Mas também suas operações ficam menos bonitas quando examinadas de perto. Basta lembrar a queda de produção,"o aumento da importação de combustíveis e lubrificantes e o mau negócio da Refinaria Abreu e Lima. Daí o programa de desinvestimentos.
3) A produção industrial em abril foi 1,8% maior que em março e 8,4% superior à de um ano antes. De janeiro a abril, ficou 1,6% acima da registrada nos primeiros quatro meses de 2012. Em 12 meses, no entanto, ainda foi 1,6% menor que no período anterior. A melhor parte desse notícia é a evolução do setor de bens de capital. Em abril os fabricantes de máquinas e equipamentos produziram 3,2% mais do que em março e 24,4% maio do que um ano antes. Mas ainda houve uma queda de 4,4% no acumulado em 12 meses. O setor ainda nem se recuperou do tombo de 2012. A continuidade da recuperação dependerá da confiança dos empresários e, em proporção menor, das possibilidades de exportar. Somando-se os projetos públicos e privados, o investimento continuará, quase certamente, abaixo de 20% do PIB, uma miséria.
4) Há sinais de melhora na balança comercial, com superávit de US$ 760 milhões em maio, mas o acumulado no ano ainda foi um déficit de US$ 5,4 bilhões. Este resultado e o desempenho da indústria, ruim em 2012 e ainda em lenta melhora, estão claramente vinculados. E cedo para afirmar se o saldo continuará a crescer. De toda forma, o superávit de US$ 15 bilhões previsto pelo BC só será alcançado com um saldo mensal de US$ 2,9 bilhões até o fim do ano. Acredite quem quiser.
5) Setores da indústria começam a discutir e até a cobrar do governo medidas para uma inserção mais ampla do Brasil nos acordos bilaterais e interregionais de comércio. Reagem, finalmente, a eventos como a formação da Aliança do Pacífico, integrada por Chile, Peru, Colômbia e México, e às negociações das Parcerias Transpacífico e Transatlântica, ambas com participação dos Estados Unidos e de grandes e médias potências comerciais. Acordos parciais de comércio já aumentavam antes da interrupção da Rodada Doha e depois passaram a multiplicar-se mais velozmente, enquanto o Brasil continuou preso a um Mercosul estagnado e a alguns pactos pouco relevantes.
Para o Brasil, um resultado comercial relativamente modesto neste ano significará um déficit maior em transações correntes, provavelmente superior a 3% do PIB. Não será um desastre, mas a tendência é preocupante. Se o Banco Central continuar disposto a combater a inflação, os riscos à frente poderão ser menores, mas o aperto monetário dificilmente compensará o previsível desarranjo fiscal. O governo parece ter percebido o custo político da inflação, mas ainda se mostra disposto a pagar caro, por outros meios, pela reeleição.
1) O Banco Central (BC) aumentou os juros, aparentemente com a concordância da presidente Dilma Rousseff. O novo aumento foi o dobro do anterior. O aperto pode ajudar a restabelecer a imagem de uma política autônoma e baseada em critérios técnicos. A noção de autonomia operacional do BC havia sido prejudicada nos últimos dois anos. A recuperação, se ocorrer, provavelmente ainda levará algum tempo, mas a primeira providência foi tomada.
Mas pode-se perguntar se o novo aperto, iniciado em abril, é justificável, quando o consumo das famílias parece estagnado. Afinal, cresceu no primeiro trimestre apenas 0,1% em relação aos três meses finais de 2012. Esse argumento é enganador.
Entre janeiro e março o consumo das famílias foi., 2,1% maior do que havia sido um ano antes, enquanto a produção industrial foi 1,4% menor. O consumo do governo superou por 1,6% o de janeiro a março de 2012. Bastariam esses dados para mostrar um grave desequilíbrio entre oferta e demanda no mercado interno.
A diferença resultou em aumentos de preços e de importações. Além disso, a expansão trimestral do consumo privado foi a 39.0 consecutiva, impulsionada pela expansão da massa de salários e do crédito. Em vista da demanda, a ação do BC é plenamente defensável. Mas a eficácia será prejudicada se a política fiscal continuar expansionis-ta. A perspectiva é de mais um ano sem realização integral do superávit primário e de novas transferências do Tesouro às estatais - como os novos aportes de R$ 15 bilhões para o BNDES e R$ 15 bilhões para a Valec.
2) A cúpula federal resolveu, segundo informação da última semana, atribuir ao investimento a função de motor principal do crescimento. Para isso será necessário, entre outras providências, apressar a execução do programa de concessões na área de infraestrutura, anunciado em agosto de 2012 e até agora empacado.
A revisão da estratégia, se for real, resultará do mero reconhecimento de um fato bem visível: embora ainda supere a capacidade interna de oferta, o consumo perdeu dinamismo. Seu papel como estimulante do crescimento esgotou-se - e provavelmente já estava esgotado em 2012. Além disso, o descompasso entre consumo e produção industrial era evidente há mais tempo, mas o governo desprezou esse dado.
A expansão do investimento dependerá tanto do governo quanto do setor privado. Do lado governamental, a tarefa só será cumprida se a administração de programas e projetos melhorar consideravelmente. Há muitos anos o governo mal consegue desembolsar 50% ou 60% das verbas orçamentárias previstas para investimento.
Entre as estatais, a Petrobrás tem sido responsável por uma fatia entre 80% e 90% do total investido. Mas também suas operações ficam menos bonitas quando examinadas de perto. Basta lembrar a queda de produção,"o aumento da importação de combustíveis e lubrificantes e o mau negócio da Refinaria Abreu e Lima. Daí o programa de desinvestimentos.
3) A produção industrial em abril foi 1,8% maior que em março e 8,4% superior à de um ano antes. De janeiro a abril, ficou 1,6% acima da registrada nos primeiros quatro meses de 2012. Em 12 meses, no entanto, ainda foi 1,6% menor que no período anterior. A melhor parte desse notícia é a evolução do setor de bens de capital. Em abril os fabricantes de máquinas e equipamentos produziram 3,2% mais do que em março e 24,4% maio do que um ano antes. Mas ainda houve uma queda de 4,4% no acumulado em 12 meses. O setor ainda nem se recuperou do tombo de 2012. A continuidade da recuperação dependerá da confiança dos empresários e, em proporção menor, das possibilidades de exportar. Somando-se os projetos públicos e privados, o investimento continuará, quase certamente, abaixo de 20% do PIB, uma miséria.
4) Há sinais de melhora na balança comercial, com superávit de US$ 760 milhões em maio, mas o acumulado no ano ainda foi um déficit de US$ 5,4 bilhões. Este resultado e o desempenho da indústria, ruim em 2012 e ainda em lenta melhora, estão claramente vinculados. E cedo para afirmar se o saldo continuará a crescer. De toda forma, o superávit de US$ 15 bilhões previsto pelo BC só será alcançado com um saldo mensal de US$ 2,9 bilhões até o fim do ano. Acredite quem quiser.
5) Setores da indústria começam a discutir e até a cobrar do governo medidas para uma inserção mais ampla do Brasil nos acordos bilaterais e interregionais de comércio. Reagem, finalmente, a eventos como a formação da Aliança do Pacífico, integrada por Chile, Peru, Colômbia e México, e às negociações das Parcerias Transpacífico e Transatlântica, ambas com participação dos Estados Unidos e de grandes e médias potências comerciais. Acordos parciais de comércio já aumentavam antes da interrupção da Rodada Doha e depois passaram a multiplicar-se mais velozmente, enquanto o Brasil continuou preso a um Mercosul estagnado e a alguns pactos pouco relevantes.
Para o Brasil, um resultado comercial relativamente modesto neste ano significará um déficit maior em transações correntes, provavelmente superior a 3% do PIB. Não será um desastre, mas a tendência é preocupante. Se o Banco Central continuar disposto a combater a inflação, os riscos à frente poderão ser menores, mas o aperto monetário dificilmente compensará o previsível desarranjo fiscal. O governo parece ter percebido o custo político da inflação, mas ainda se mostra disposto a pagar caro, por outros meios, pela reeleição.
Jornalismo patrocinado - ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
FOLHA DE SP - 08/06
Até o venerando "New York Times" fala em aceitar que propaganda seja incorporada a reportagens
TV ligada, concentração, vai começar mais um "Horizons", programa de prestígio da BBC internacional. É uma série sobre novas fronteiras no mundo dos negócios. Quando acaba o primeiro bloco, entra a propaganda de uma multinacional de química. É um comercial diferente. Longo, dois minutos, com a mesma linguagem visual e o mesmo tema do programa. É como se o "Horizons" e a propaganda formassem um todo sem costuras.
Vejo uma série de reportagens da revista "Vice", publicação de vanguarda que também tem braços muito fortes na internet e um programa no canal a cabo HBO. O tema são os trailers que vendem comida de rua, os chamados "food trucks".
Os menus variam, mas todas as histórias têm um laço comum: várias menções a uma conhecida marca de maionese. Não é o "merchandising" da ficção, que vemos em novelas, por exemplo. As alusões à maionese estão incorporadas à narrativa jornalística.
Agora, internet. Olho a homepage do site "BuzzFeed", merecidamente reconhecido como bíblia dos modernos. Em meio às notícias curiosas e boas sacadas de pauta de sempre, uma reportagem parece deslocada. Ela faz muitos elogios a um antigo serviço de mensagens instantâneas, que já foi dominante mas hoje anda esquecido. Não era um anúncio --era uma reportagem entremeada de propaganda.
Os três exemplos fazem parte de uma nova tendência, vamos chamar assim, em alguns meios de comunicação. É o chamado "branded content". Conteúdo patrocinado, na falta de tradução melhor. No mundo estritamente publicitário, não chega a ser uma supernovidade. O dado novo é que, agora, está chegando ao jornalismo tradicional.
E que chegada! Esta semana, a agência Bloomberg anunciou que ninguém menos que o "New York Times" estuda aderir ao modelo.
O sacrossanto "NYT" adotar o "jornalismo patrocinado" equivale ao ateu militante Richard Dawkins pedir perdão ao papa e receber a hóstia das mãos do próprio Francisco; ou Fidel Castro, aos prantos, depositar um ramalhete de cravos brancos nos túmulos de Ronald Reagan e Margaret Thatcher.
É uma atitude extrema: o jornal mais prestigioso do mundo busca novos meios de viabilizar sua operação on-line.
Como se sabe, a migração de leitores do papel para a web foi brutal, principalmente nos países desenvolvidos. Mas a essa fuga não se seguiu um grande aumento de publicidade na internet. Ou seja: os leitores zarparam em massa para a rede; os anunciantes, bem menos.
Para complicar, a economia da rede segue um modelo cada vez mais concentrador. Segundo um livro recém-lançado, "Who Owns the Future" ("A Quem Pertence o Futuro"), do visionário Jaron Lanier, o discurso democrático e libertário dos gurus da internet é só isso: discurso.
Segundo a análise prodigiosa de Lanier, a web é hoje terreno de uns poucos conglomerados, como Google e Facebook, que concentram ferozmente o bolo publicitário on-line. Donos de servidores computacionais poderosos, que só megacorporações são capazes de manter, os gigantes da web atraem anunciantes porque sabem tudo sobre seus usuários. Os anúncios são perfeitamente direcionados. Sites "generalistas", como o do venerando "New York Times", ficam em má situação.
Assim, produtores de jornalismo de qualidade vivem um pesadelo, porque lá atrás, quando a internet foi concebida, a palavra de ordem era que a "informação deve ser grátis" (ou livre, "free"). Resta buscar receita na publicidade. Mas os anunciante só querem saber dos já citados Google e Facebook.
O "Times" implantou há algum tempo, com relativo sucesso, o chamado "modelo poroso", em que, a partir de um certo número de matérias, começa a cobrar do usuário. Trouxe alívio, mas não resolveu. Fala agora em aceitar propaganda incorporada a algumas reportagens.
É que o já fazem, entre outros, a BBC internacional (a britânica não tem comerciais), a modernex revista "Vice" e o mais modernex ainda "BuzzFeed". Ironicamente, foi o sucesso do "BuzzFeed" que inspirou o "New York Times" a entrar nessa (quem diria: um site tão jovem apontando o caminho para uma instituição da "velha mídia").
A separação entre interesses comerciais e princípios editoriais é a última fronteira do jornalismo de qualidade. Não se sabe o que existe do outro lado. Talvez sejam tempos novos e radiosos. Talvez seja um abismo.
Até o venerando "New York Times" fala em aceitar que propaganda seja incorporada a reportagens
TV ligada, concentração, vai começar mais um "Horizons", programa de prestígio da BBC internacional. É uma série sobre novas fronteiras no mundo dos negócios. Quando acaba o primeiro bloco, entra a propaganda de uma multinacional de química. É um comercial diferente. Longo, dois minutos, com a mesma linguagem visual e o mesmo tema do programa. É como se o "Horizons" e a propaganda formassem um todo sem costuras.
Vejo uma série de reportagens da revista "Vice", publicação de vanguarda que também tem braços muito fortes na internet e um programa no canal a cabo HBO. O tema são os trailers que vendem comida de rua, os chamados "food trucks".
Os menus variam, mas todas as histórias têm um laço comum: várias menções a uma conhecida marca de maionese. Não é o "merchandising" da ficção, que vemos em novelas, por exemplo. As alusões à maionese estão incorporadas à narrativa jornalística.
Agora, internet. Olho a homepage do site "BuzzFeed", merecidamente reconhecido como bíblia dos modernos. Em meio às notícias curiosas e boas sacadas de pauta de sempre, uma reportagem parece deslocada. Ela faz muitos elogios a um antigo serviço de mensagens instantâneas, que já foi dominante mas hoje anda esquecido. Não era um anúncio --era uma reportagem entremeada de propaganda.
Os três exemplos fazem parte de uma nova tendência, vamos chamar assim, em alguns meios de comunicação. É o chamado "branded content". Conteúdo patrocinado, na falta de tradução melhor. No mundo estritamente publicitário, não chega a ser uma supernovidade. O dado novo é que, agora, está chegando ao jornalismo tradicional.
E que chegada! Esta semana, a agência Bloomberg anunciou que ninguém menos que o "New York Times" estuda aderir ao modelo.
O sacrossanto "NYT" adotar o "jornalismo patrocinado" equivale ao ateu militante Richard Dawkins pedir perdão ao papa e receber a hóstia das mãos do próprio Francisco; ou Fidel Castro, aos prantos, depositar um ramalhete de cravos brancos nos túmulos de Ronald Reagan e Margaret Thatcher.
É uma atitude extrema: o jornal mais prestigioso do mundo busca novos meios de viabilizar sua operação on-line.
Como se sabe, a migração de leitores do papel para a web foi brutal, principalmente nos países desenvolvidos. Mas a essa fuga não se seguiu um grande aumento de publicidade na internet. Ou seja: os leitores zarparam em massa para a rede; os anunciantes, bem menos.
Para complicar, a economia da rede segue um modelo cada vez mais concentrador. Segundo um livro recém-lançado, "Who Owns the Future" ("A Quem Pertence o Futuro"), do visionário Jaron Lanier, o discurso democrático e libertário dos gurus da internet é só isso: discurso.
Segundo a análise prodigiosa de Lanier, a web é hoje terreno de uns poucos conglomerados, como Google e Facebook, que concentram ferozmente o bolo publicitário on-line. Donos de servidores computacionais poderosos, que só megacorporações são capazes de manter, os gigantes da web atraem anunciantes porque sabem tudo sobre seus usuários. Os anúncios são perfeitamente direcionados. Sites "generalistas", como o do venerando "New York Times", ficam em má situação.
Assim, produtores de jornalismo de qualidade vivem um pesadelo, porque lá atrás, quando a internet foi concebida, a palavra de ordem era que a "informação deve ser grátis" (ou livre, "free"). Resta buscar receita na publicidade. Mas os anunciante só querem saber dos já citados Google e Facebook.
O "Times" implantou há algum tempo, com relativo sucesso, o chamado "modelo poroso", em que, a partir de um certo número de matérias, começa a cobrar do usuário. Trouxe alívio, mas não resolveu. Fala agora em aceitar propaganda incorporada a algumas reportagens.
É que o já fazem, entre outros, a BBC internacional (a britânica não tem comerciais), a modernex revista "Vice" e o mais modernex ainda "BuzzFeed". Ironicamente, foi o sucesso do "BuzzFeed" que inspirou o "New York Times" a entrar nessa (quem diria: um site tão jovem apontando o caminho para uma instituição da "velha mídia").
A separação entre interesses comerciais e princípios editoriais é a última fronteira do jornalismo de qualidade. Não se sabe o que existe do outro lado. Talvez sejam tempos novos e radiosos. Talvez seja um abismo.
Justino e seus companheiros mártires - D. ODILO P. SCHERER
O ESTADO DE S. PAULO - 08/06
No dia 1° de junho, a Igreja Católica recordou os mártires São Justino e seus companheiros. Nascido na Palestina de época romana, na hodiema Nablus, Justino foi um filósofo eclético que, na juventude, migrou por várias correntes filosóficas. Finalmente, abraçou a fé cristã, entendendo ter encontrado nela a verdade, que tanto buscava. No ano 165, sob o imperador Marco Aurélio, foi martirizado em Roma, onde abrira uma escola filosófica, com vários companheiros. As Atas dos Mártires narram seu martírio.
Presos sob a acusação de "heresia", por se recusarem a adorar o imperador e seus deuses oficiais, Justino e seus companheiros foram interrogados por Rústico, prefeito da cidade. Depois de arguir os acusados quanto às suas convicções, Rústico os ameaçou: "Agora vamos ao que interessa, aproximai-vos e, todos juntos, sacrificai aos deuses. Se não o fizerdes, sereis torturados sem compaixão". Diante da recusa firme dos cristãos, o prefeito sentenciou: "Os que não quiseram sacrificar aos deuses e obedecer à ordem do imperador, depois de flagelados, sejam levados para sofrer a pena capital". E* assim,: Justino ,e seus companheiros foram torturados e decapitados.
O Cristianismo conheceu perseguição e martírio desde a sua primeira hora. O. próprio Jesus Cristo morreu mártir e seus apóstolos, da mesma forma. Esclareço que, no sentido cristão, não é "mártir" quem se auto imola por uma causa, mas quem é morto por outros, por causa da sua fé. Foram muitos os mártires ao longo da história da Igreja. O papa João Paulo II constatava, na virada do milênio, que o século 20 foi o que teve o maior número de mártires.
Os cristãos continuam sendo o grupo religioso mais perseguido çm todo o mundo. Se aqui me refiro apenas aos cristãos, não é por desconhecer que existem discriminações e violências também contra outros grupos religiosos. Há poucos dias, Silvano Maria Tomasi, observador permanente da Sana Sé na ONU, em Genebra, fez uma denúncia alarmante: mais de 100 mil cristãos têm sido assassinados anualmente em todo o mundo por razões ligadas, de alguma maneira, à sua fé.
De 196 países avaliados recentemente, 131 não apresentaram sinais de perseguição religiosa em outros 49 países, porém, verificaram-se muitos episódios de perseguição e violência contra os cristãos. Chama a atenção que essa violência acontece, geralmente, onde o Estado não é "laico" e deixa de assegurar a liberdade religiosa a todos os seus cidadãos, ou até impõe uma religião oficial a toda a população.
Esses dados impressionantes foram, de alguma forma, também trazidos a público e confirmados em recentes manifestações da Associação Internacional pela Liberdade Religiosa (Iria, na sigla em inglês), que realizou em São Paulo, entre os dias 23 e 25 de maio, um Festival Mundial de Liberdade Religiosa. Estranhamente, esses fatos graves têm escassa ressonância e espaço na opinião pública ocidental.
O artigo 18 da Declaração Universal dos Direitos Humanos dispõe que toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião. Este direito inclui também a liberdade de mudar de religião ou de crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença pelo ensino, pela prática, pelo culto e pela observância, isolada ou coletivamente, em público ou em privado.
Se Justino vivesse hoje, ainda correria o risco de perder a cabeça por causa de suas convicções religiosas e de ver crescendo o número de seus companheiros... Lamentavelmente, 65 anos depois da Declaração da ONU, o direito à liberdade religiosa ainda não é respeitado em muitas partes do mundo. Pelo contrário, adotam-se novas leis severamente restritivas, até mesmo contra a liberdade de consciência, que vetam a mudança de crença ou religião, sob a ameaça de pesadas sanções, inclusive a pena de morte.
Não cessou o cerceamento à liberdade religiosa com a superação dos regimes totalitários e antirreligiosos que, sobretudo no século 20, impediram a livre manifestação da fé religiosa de cristãos e não cristãos e tentaram manipular ou erradicar a religião, promovendo a perseguição e até a eliminação sistemática de quem ousasse professar publicamente a fé.
E comum que ideologias e regimes totalitários tendam a instrumentalizar a religião em seu proveito, ou a restringir a liberdade religiosa dos cidadãos, por considerá-la um empecilho aos seus propósitos.
Uma das formas sutis de perseguição religiosa é o tratamento preconceituoso e discriminatório dos praticantes de alguma fé religiosa, como se fossem cidadãos "desqualificados", com menos direitos e credibilidade, cujas convicções não devem ser levadas em consideração, ainda que não sejam sobre questões religiosas. Toleram-se até as convicções religiosas nos espaços da vida privada, mas nega-se a sua contribuição para o convívio social e a cultura.
Essa forma velada de preconceito e discriminação ocorre também em países do Ocidente, onde pessoas aderentes à fé religiosa precisam lutar por seus direitos civis e pelo respeito aos mais primários direitos humanos.
Por vezes, atribui-se de maneira primária à religião a culpa de conflitos e guerras e sugere-se a sua supressão, como fórmula para alcançar a paz. Não se percebe, neste caso, que muitos conflitos ditos "religiosos", de fato, não são motivados por questões religiosas, mas por ideologias políticas que instrumentalizam a religião para alcançar seus objetivos.
A liberdade religiosa e de consciência é um direito humano fundamental, que pode ser assegurado somente quando a postura do Estado é pautada pela verdadeira laicidade, que não é de intolerância nem discriminação, mas de garantia para que todos os cidadãos exerçam, sem impedimento, suas escolhas em relação à religião.
Presos sob a acusação de "heresia", por se recusarem a adorar o imperador e seus deuses oficiais, Justino e seus companheiros foram interrogados por Rústico, prefeito da cidade. Depois de arguir os acusados quanto às suas convicções, Rústico os ameaçou: "Agora vamos ao que interessa, aproximai-vos e, todos juntos, sacrificai aos deuses. Se não o fizerdes, sereis torturados sem compaixão". Diante da recusa firme dos cristãos, o prefeito sentenciou: "Os que não quiseram sacrificar aos deuses e obedecer à ordem do imperador, depois de flagelados, sejam levados para sofrer a pena capital". E* assim,: Justino ,e seus companheiros foram torturados e decapitados.
O Cristianismo conheceu perseguição e martírio desde a sua primeira hora. O. próprio Jesus Cristo morreu mártir e seus apóstolos, da mesma forma. Esclareço que, no sentido cristão, não é "mártir" quem se auto imola por uma causa, mas quem é morto por outros, por causa da sua fé. Foram muitos os mártires ao longo da história da Igreja. O papa João Paulo II constatava, na virada do milênio, que o século 20 foi o que teve o maior número de mártires.
Os cristãos continuam sendo o grupo religioso mais perseguido çm todo o mundo. Se aqui me refiro apenas aos cristãos, não é por desconhecer que existem discriminações e violências também contra outros grupos religiosos. Há poucos dias, Silvano Maria Tomasi, observador permanente da Sana Sé na ONU, em Genebra, fez uma denúncia alarmante: mais de 100 mil cristãos têm sido assassinados anualmente em todo o mundo por razões ligadas, de alguma maneira, à sua fé.
De 196 países avaliados recentemente, 131 não apresentaram sinais de perseguição religiosa em outros 49 países, porém, verificaram-se muitos episódios de perseguição e violência contra os cristãos. Chama a atenção que essa violência acontece, geralmente, onde o Estado não é "laico" e deixa de assegurar a liberdade religiosa a todos os seus cidadãos, ou até impõe uma religião oficial a toda a população.
Esses dados impressionantes foram, de alguma forma, também trazidos a público e confirmados em recentes manifestações da Associação Internacional pela Liberdade Religiosa (Iria, na sigla em inglês), que realizou em São Paulo, entre os dias 23 e 25 de maio, um Festival Mundial de Liberdade Religiosa. Estranhamente, esses fatos graves têm escassa ressonância e espaço na opinião pública ocidental.
O artigo 18 da Declaração Universal dos Direitos Humanos dispõe que toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião. Este direito inclui também a liberdade de mudar de religião ou de crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença pelo ensino, pela prática, pelo culto e pela observância, isolada ou coletivamente, em público ou em privado.
Se Justino vivesse hoje, ainda correria o risco de perder a cabeça por causa de suas convicções religiosas e de ver crescendo o número de seus companheiros... Lamentavelmente, 65 anos depois da Declaração da ONU, o direito à liberdade religiosa ainda não é respeitado em muitas partes do mundo. Pelo contrário, adotam-se novas leis severamente restritivas, até mesmo contra a liberdade de consciência, que vetam a mudança de crença ou religião, sob a ameaça de pesadas sanções, inclusive a pena de morte.
Não cessou o cerceamento à liberdade religiosa com a superação dos regimes totalitários e antirreligiosos que, sobretudo no século 20, impediram a livre manifestação da fé religiosa de cristãos e não cristãos e tentaram manipular ou erradicar a religião, promovendo a perseguição e até a eliminação sistemática de quem ousasse professar publicamente a fé.
E comum que ideologias e regimes totalitários tendam a instrumentalizar a religião em seu proveito, ou a restringir a liberdade religiosa dos cidadãos, por considerá-la um empecilho aos seus propósitos.
Uma das formas sutis de perseguição religiosa é o tratamento preconceituoso e discriminatório dos praticantes de alguma fé religiosa, como se fossem cidadãos "desqualificados", com menos direitos e credibilidade, cujas convicções não devem ser levadas em consideração, ainda que não sejam sobre questões religiosas. Toleram-se até as convicções religiosas nos espaços da vida privada, mas nega-se a sua contribuição para o convívio social e a cultura.
Essa forma velada de preconceito e discriminação ocorre também em países do Ocidente, onde pessoas aderentes à fé religiosa precisam lutar por seus direitos civis e pelo respeito aos mais primários direitos humanos.
Por vezes, atribui-se de maneira primária à religião a culpa de conflitos e guerras e sugere-se a sua supressão, como fórmula para alcançar a paz. Não se percebe, neste caso, que muitos conflitos ditos "religiosos", de fato, não são motivados por questões religiosas, mas por ideologias políticas que instrumentalizam a religião para alcançar seus objetivos.
A liberdade religiosa e de consciência é um direito humano fundamental, que pode ser assegurado somente quando a postura do Estado é pautada pela verdadeira laicidade, que não é de intolerância nem discriminação, mas de garantia para que todos os cidadãos exerçam, sem impedimento, suas escolhas em relação à religião.
Mistérios turcos. E nossos - ALBERTO DINES
GAZETA DO POVO - PR - 08/06
Para muitos, mero cenário de telenovela; para outros, destino turístico onde se passeia de balão e, eventualmente, deles se despenca. Para poucos é o ponto de encontro entre o Oriente e o Ocidente onde está ocorrendo uma perigosa experiência de volatilidade política.
A Turquia é a herdeira direta do Império Otomano, um dos mais extensos e estáveis do Velho Mundo (623 anos) e que, em determinado momento, estendia-se de Gibraltar ao Mar Cáspio, na Ásia, e descia até o coração da África. Sede do mundo islâmico, seus califas, sultões e grão-vizires montaram um eficaz sistema de convivência multiétnico e multirreligioso que se impôs às diversidades e até hoje é estudado por politólogos e historiadores.
Da repente, alguém ou alguma circunstância aproximou um fósforo do barril de pólvora turco e o que parecia estabilizado e controlado está prestes a explodir. O previsível caminha rapidamente para o imprevisível e, o que é pior, está ao lado de outro barril de pólvora, enorme, mais perigoso e já detonado: a Síria.
O que aconteceu com o premiê Recep Erdogan, há dez anos no poder? Estava em conversas adiantadas para pacificar os rebeldes curdos; seu islamismo “moderado” parecia ainda mais contido pela necessidade de não agravar as desconfianças da União Europeia e, assim, facilitar sua adesão ao bloco. Recentemente aceitou as desculpas do governo de Israel pela interceptação de um comboio que levava suprimentos para a Faixa de Gaza e, mais importante, a cada dia aumenta a sua oposição ao ditador sírio, Bashar al-Assad.
Difícil acreditar que o incêndio turco tenha como causa única a reação dos ambientalistas contra a urbanização do pequeno Parque Gezi, em Istambul, ou mesmo as medidas governamentais para restringir o uso de bebidas alcoólicas, atendendo às pressões dos islâmicos mais radicais. São ainda cautelosas as manobras do premiê Erdogan para candidatar-se à Presidência e transformar a república num regime mais centralizado e forte; dificilmente poderiam ser apontadas como as responsáveis pelo atual terremoto.
Também não se deve descartar a possibilidade de uma interferência externa – russa ou dos aiatolás iranianos – para desestabilizar um país que assume um papel cada vez mais destacado na região. E contra os seus respectivos interesses.
O que efetivamente nos empurra em direção à situação turca é a sua inesperada volatilidade, a surpreendente reviravolta. É verdade que a mídia do país, embora não controlada pelo governo (como aconteceu em passado recente), faz exatamente o que interessa aos estrategistas oficiais e, assim, não se apressou em apontar os indícios de uma forte insatisfação. Apelos consumistas e a distração com mundanidades têm um terrível efeito deletério, são capazes de desativar ou atenuar legítimas revoltas e resistências.
Nada disso deve nos afastar da inquietação com a atual conjuntura mundial – movediça, vocacionada para a trepidação e naturalmente inclinada para produzir surpresas. Confrontos entre índios e ruralistas acontecem há décadas; violentos protestos contra os aumentos das tarifas nos transportes públicos são ainda mais antigos.
O problema de hoje é que os pavios ficaram mais curtos e as cargas explosivas, mais disseminadas.
Para muitos, mero cenário de telenovela; para outros, destino turístico onde se passeia de balão e, eventualmente, deles se despenca. Para poucos é o ponto de encontro entre o Oriente e o Ocidente onde está ocorrendo uma perigosa experiência de volatilidade política.
A Turquia é a herdeira direta do Império Otomano, um dos mais extensos e estáveis do Velho Mundo (623 anos) e que, em determinado momento, estendia-se de Gibraltar ao Mar Cáspio, na Ásia, e descia até o coração da África. Sede do mundo islâmico, seus califas, sultões e grão-vizires montaram um eficaz sistema de convivência multiétnico e multirreligioso que se impôs às diversidades e até hoje é estudado por politólogos e historiadores.
Da repente, alguém ou alguma circunstância aproximou um fósforo do barril de pólvora turco e o que parecia estabilizado e controlado está prestes a explodir. O previsível caminha rapidamente para o imprevisível e, o que é pior, está ao lado de outro barril de pólvora, enorme, mais perigoso e já detonado: a Síria.
O que aconteceu com o premiê Recep Erdogan, há dez anos no poder? Estava em conversas adiantadas para pacificar os rebeldes curdos; seu islamismo “moderado” parecia ainda mais contido pela necessidade de não agravar as desconfianças da União Europeia e, assim, facilitar sua adesão ao bloco. Recentemente aceitou as desculpas do governo de Israel pela interceptação de um comboio que levava suprimentos para a Faixa de Gaza e, mais importante, a cada dia aumenta a sua oposição ao ditador sírio, Bashar al-Assad.
Difícil acreditar que o incêndio turco tenha como causa única a reação dos ambientalistas contra a urbanização do pequeno Parque Gezi, em Istambul, ou mesmo as medidas governamentais para restringir o uso de bebidas alcoólicas, atendendo às pressões dos islâmicos mais radicais. São ainda cautelosas as manobras do premiê Erdogan para candidatar-se à Presidência e transformar a república num regime mais centralizado e forte; dificilmente poderiam ser apontadas como as responsáveis pelo atual terremoto.
Também não se deve descartar a possibilidade de uma interferência externa – russa ou dos aiatolás iranianos – para desestabilizar um país que assume um papel cada vez mais destacado na região. E contra os seus respectivos interesses.
O que efetivamente nos empurra em direção à situação turca é a sua inesperada volatilidade, a surpreendente reviravolta. É verdade que a mídia do país, embora não controlada pelo governo (como aconteceu em passado recente), faz exatamente o que interessa aos estrategistas oficiais e, assim, não se apressou em apontar os indícios de uma forte insatisfação. Apelos consumistas e a distração com mundanidades têm um terrível efeito deletério, são capazes de desativar ou atenuar legítimas revoltas e resistências.
Nada disso deve nos afastar da inquietação com a atual conjuntura mundial – movediça, vocacionada para a trepidação e naturalmente inclinada para produzir surpresas. Confrontos entre índios e ruralistas acontecem há décadas; violentos protestos contra os aumentos das tarifas nos transportes públicos são ainda mais antigos.
O problema de hoje é que os pavios ficaram mais curtos e as cargas explosivas, mais disseminadas.
Funai, uma raposa no galinheiro - RICARDO BACHA
FOLHA DE SP - 08/06
Os atuais mecanismos do processo demarcatório da Funai devem ser modificados com urgência. O órgão padece de estrutura operacional e recursos orçamentários adequados, ficando à mercê de ONGs que lhe fornecem, além de ajuda financeira, uma forte sustentação ideológica, de resto altamente deslocada nesse período de globalização da economia.
As ações da Funai têm gerado insegurança no campo, prejudicando um dos setores vitais da economia brasileira. Mesmo porque há imensas suspeitas de que os laudos antropológicos que amparam as decisões demarcatórias são anticientíficos e fraudulentos.
O caso dos conflitos na fazenda Buriti é emblemático. Fui vice-presidente do Movimento pela Anistia e Direitos Humanos em Mato Grosso do Sul, lutei contra a ditadura e sonhei com a volta da ordem democrática no país. Enfrentei os arreganhos do Estado de exceção. Fui relator da constituinte estadual e comemorei o Estado democrático de Direito.
Nesse aspecto, sinto-me frustrado porque jamais imaginei que pudesse um dia me sentir vítima dos instrumentos de liberdade que ajudei a conquistar.
Não cabe mais na lógica do exercício da cidadania um órgão como a Funai, que formula, identifica e delimita áreas indígenas, julgando inclusive as contestações dos produtores, que devem ser apresentadas no prazo exíguo de 90 dias.
A PEC 215, em tramitação no Congresso Nacional, por outro lado, não soluciona o fulcro dessa questão, embora tente criar um critério democrático de consulta num espaço que atualmente está vazio.
A Funai tem todo o tempo do mundo disponível para elaborar seus relatórios antropológicos "técnico-científico", mas não admite que o contraditório seja estabelecido dentro das mesmas regras. Daí, a partir desse modelo, além da falta de transparência e autoritarismo, o estopim da crise é aceso, fomentando lutas desnecessárias.
Nesse aspecto, a Funai tornou-se uma instituição obsoleta. A legislação que ampara e regulamenta suas ações tornou-se anacrônica porque ela não conduz à paz no campo e sim aos conflitos permanentes.
Não há como um produtor de alimentos que tem a posse legal de suas terras, reconhecida pelo Estado, escriturada em cartório, mediante atos jurídicos perfeitos, aceitar que deva sair de suas terras, no bojo do qual ele é julgado pelo próprio órgão que o demanda juridicamente.
Ora, o Estado democrático de Direito pressupõe garantias à posse legal da terra, rechaçando o esbulho e sua tomada pela força e violência.
Quando invadiram a fazenda Buriti --propriedade de 302 hectares que minha família adquiriu em 1927-- e reagiram violentamente a uma ordem de reintegração de posse, queimando casas, roubando gado, matando animais, enfim, transformando-a em escombros, vi ali a esvair-se a história política da minha vida.
Lamentei que isso tenha custado a vida de um brasileiro, o índio Oziel Gabriel, pois sei que aqueles que tombam numa luta inglória entregam o fardo da responsabilidade para os companheiros que permanecem na empreitada.
Que esse conflito sirva para provocar uma inflexão no eixo político, alterando o papel da Funai na definição das políticas demarcatórias, estabelecendo critérios justos e objetivos na identificação das terras indígenas.
Caso contrário, a raposa continuará tomando conta do galinheiro, e as galinhas continuarão sendo vítimas, sem poder reclamar para um governo que não ouve, não enxerga e prefere continuar tergiversando diante de tão grave questão.
Os atuais mecanismos do processo demarcatório da Funai devem ser modificados com urgência. O órgão padece de estrutura operacional e recursos orçamentários adequados, ficando à mercê de ONGs que lhe fornecem, além de ajuda financeira, uma forte sustentação ideológica, de resto altamente deslocada nesse período de globalização da economia.
As ações da Funai têm gerado insegurança no campo, prejudicando um dos setores vitais da economia brasileira. Mesmo porque há imensas suspeitas de que os laudos antropológicos que amparam as decisões demarcatórias são anticientíficos e fraudulentos.
O caso dos conflitos na fazenda Buriti é emblemático. Fui vice-presidente do Movimento pela Anistia e Direitos Humanos em Mato Grosso do Sul, lutei contra a ditadura e sonhei com a volta da ordem democrática no país. Enfrentei os arreganhos do Estado de exceção. Fui relator da constituinte estadual e comemorei o Estado democrático de Direito.
Nesse aspecto, sinto-me frustrado porque jamais imaginei que pudesse um dia me sentir vítima dos instrumentos de liberdade que ajudei a conquistar.
Não cabe mais na lógica do exercício da cidadania um órgão como a Funai, que formula, identifica e delimita áreas indígenas, julgando inclusive as contestações dos produtores, que devem ser apresentadas no prazo exíguo de 90 dias.
A PEC 215, em tramitação no Congresso Nacional, por outro lado, não soluciona o fulcro dessa questão, embora tente criar um critério democrático de consulta num espaço que atualmente está vazio.
A Funai tem todo o tempo do mundo disponível para elaborar seus relatórios antropológicos "técnico-científico", mas não admite que o contraditório seja estabelecido dentro das mesmas regras. Daí, a partir desse modelo, além da falta de transparência e autoritarismo, o estopim da crise é aceso, fomentando lutas desnecessárias.
Nesse aspecto, a Funai tornou-se uma instituição obsoleta. A legislação que ampara e regulamenta suas ações tornou-se anacrônica porque ela não conduz à paz no campo e sim aos conflitos permanentes.
Não há como um produtor de alimentos que tem a posse legal de suas terras, reconhecida pelo Estado, escriturada em cartório, mediante atos jurídicos perfeitos, aceitar que deva sair de suas terras, no bojo do qual ele é julgado pelo próprio órgão que o demanda juridicamente.
Ora, o Estado democrático de Direito pressupõe garantias à posse legal da terra, rechaçando o esbulho e sua tomada pela força e violência.
Quando invadiram a fazenda Buriti --propriedade de 302 hectares que minha família adquiriu em 1927-- e reagiram violentamente a uma ordem de reintegração de posse, queimando casas, roubando gado, matando animais, enfim, transformando-a em escombros, vi ali a esvair-se a história política da minha vida.
Lamentei que isso tenha custado a vida de um brasileiro, o índio Oziel Gabriel, pois sei que aqueles que tombam numa luta inglória entregam o fardo da responsabilidade para os companheiros que permanecem na empreitada.
Que esse conflito sirva para provocar uma inflexão no eixo político, alterando o papel da Funai na definição das políticas demarcatórias, estabelecendo critérios justos e objetivos na identificação das terras indígenas.
Caso contrário, a raposa continuará tomando conta do galinheiro, e as galinhas continuarão sendo vítimas, sem poder reclamar para um governo que não ouve, não enxerga e prefere continuar tergiversando diante de tão grave questão.
Use a cabeça, senhor juiz - GUILHERME FIUZA
O GLOBO - 08/06
Enfim, uma unanimidade. A escolha do novo ministro do Supremo Tribunal Federal, o advogado Luís Roberto Barroso, que pode dar o voto decisivo sobre o mensalão, agradou a todos - governistas e opositores, comentaristas e críticos, simpatizantes da defesa e da acusação. Dilma teria resistido à tentação de inocular na Corte mais uma carta marcada petista, como Lewandowski e Toffoli. O juízo geral parece ser de que Barroso é politicamente equilibrado e seu julgamento será sóbrio e técnico. Sendo isso mesmo, fica difícil entender o falatório do novo ministro nos últimos dias.
Em plena sabatina no Senado, Luís Roberto Barroso achou que devia opinar sobre o processo do mensalão, julgado por seus futuros colegas. E declarou que o Supremo "endureceu" nesse caso. Com seu palpite, Barroso julgou de uma vez só o jogo jogado, os juízes do jogo e o prognóstico para o resultado final. Depois ressalvou que não estudou nada do processo e só estava dizendo isso porque já tinha dito antes. O problema é que antes o palpite era só um palpite. Agora ele estava apenas esperando a toga para entrar em campo como juiz.
Com uma pitada da sobriedade que lhe atribuem, Barroso poderia ter dito que suas opiniões como advogado sobre um processo onde agora será juiz, naturalmente, não vêm ao caso.
São papéis completamente diferentes, e a primeira responsabilidade de um alto magistrado a serviço do Estado é mostrar, justamente, que não será na Corte um advogado de suas opiniões pregressas. Quem quiser conhecê- las que vá ao Google.
Na sabatina, Barroso ressalvou que aquele era o único momento em que falaria livremente, pois em seguida mergulharia na discrição do cargo.
Ora, ele já estava virtualmente no cargo.
Todos sabiam que suas chances de aprovação beiravam os 100%. Evidentemente, suas declarações foram para as manchetes não como opiniões de um jurista, mas como o pensamento do novo ministro do STF. O que provocou repercussões imediatas - inclusive com declaração de outro ministro do STF encampando a tese do julgamento "duro" no caso do mensalão.
Em bom português, o sóbrio, equilibrado e técnico Luís Roberto Barroso inaugurou sua carreira de juiz fazendo política. O que significa sua declaração de que o Supremo endureceu? Significa que no seu voto ele vai amolecer? E se não for isso, por que não simplesmente se calar e ir estudar o processo? É bom não perder de vista o que significa o STF amolecer nas decisões sobre os recursos dos réus do mensalão.
Significa desde o abrandamento de penas até a possibilidade de os chefes do esquema escaparem da prisão.
O novo ministro disse que o rigor da Corte no mensalão foi "um ponto fora da curva". O que quer dizer isso? Barroso está dizendo que o Supremo Tribunal Federal se excedeu? Ou que o Supremo errou? Sim, porque não existe mulher meio grávida, nem sentença meio certa. Existe sentença meio mozarela e meio calabresa - e essas são muito comuns. Estará o STF, com sua nova formação, se encaminhando para uma dessas, no julgamento político mais importante da República? Depois da grande catarse nacional no ano passado, o caso esfriou e a opinião pública não mais voltará a olhá-lo com a mesma atenção. Isso é um fenômeno tipicamente brasileiro, uma espécie de habeas corpus natural, com o qual os delinquentes contam fervorosamente. Mas se o novo ministro do STF acha que o julgamento do mensalão foi um ponto fora da curva, é importante lembrar ao ministro que o escândalo do mensalão também foi um ponto fora da curva.
Seria o caso de perguntar ao ministro Barroso se ele tem notícia de outra quadrilha, na história deste país, que tenha criado um duto entre os cofres públicos e o partido do presidente da República. Não para um desvio fortuito, mas para diversas operações, devidamente comprovadas, que levaram o dinheiro do contribuinte para o caixa do PT.
Seria também interessante lembrar ao novo ministro que o grupo político que pariu e operou esse esquema continua governando o Brasil. Os réus do mensalão não estão no governo, mas a tecnologia está. Talvez o ministro ainda não tenha tido que andar um quilômetro entre os terminais 1 e 2 do aeroporto do Galeão, por conta de uma esteira que não funciona às vésperas da Copa das Confederações.
Pois bem: a agência reguladora que deveria garantir a dignidade dos passageiros é aquela transformada em bazar por Rosemary Noronha - a protegida de Lula que Dilma segurou até onde pôde.
Seria bom lembrar que o PAC, que ostenta níveis ridículos de investimento e planejamento em infraestrutura, tinha como empreiteira campeã a Delta - uma central de negociatas revelada pela CPI do Cachoeira (asfixiada pelo governo Dilma). São cachoeiras de parasitas atarraxados ao Estado pelo governo popular, alguns mais aberrantes, como o ex-ministro Carlos Lupi. Demitido sob acusação de usar ONGs para desviar dinheiro do Ministério do Trabalho, menos de um ano depois ele já dava as cartas no governo novamente.
Dizendo que, no STF, vai fazer apenas o que acha certo, Luís Roberto Barroso disse que seguirá seu coração.
Não, ministro. Siga sua cabeça.
Estude bem o que essa quadrilha fez ao Brasil, e use a cabeça.
Em plena sabatina no Senado, Luís Roberto Barroso achou que devia opinar sobre o processo do mensalão, julgado por seus futuros colegas. E declarou que o Supremo "endureceu" nesse caso. Com seu palpite, Barroso julgou de uma vez só o jogo jogado, os juízes do jogo e o prognóstico para o resultado final. Depois ressalvou que não estudou nada do processo e só estava dizendo isso porque já tinha dito antes. O problema é que antes o palpite era só um palpite. Agora ele estava apenas esperando a toga para entrar em campo como juiz.
Com uma pitada da sobriedade que lhe atribuem, Barroso poderia ter dito que suas opiniões como advogado sobre um processo onde agora será juiz, naturalmente, não vêm ao caso.
São papéis completamente diferentes, e a primeira responsabilidade de um alto magistrado a serviço do Estado é mostrar, justamente, que não será na Corte um advogado de suas opiniões pregressas. Quem quiser conhecê- las que vá ao Google.
Na sabatina, Barroso ressalvou que aquele era o único momento em que falaria livremente, pois em seguida mergulharia na discrição do cargo.
Ora, ele já estava virtualmente no cargo.
Todos sabiam que suas chances de aprovação beiravam os 100%. Evidentemente, suas declarações foram para as manchetes não como opiniões de um jurista, mas como o pensamento do novo ministro do STF. O que provocou repercussões imediatas - inclusive com declaração de outro ministro do STF encampando a tese do julgamento "duro" no caso do mensalão.
Em bom português, o sóbrio, equilibrado e técnico Luís Roberto Barroso inaugurou sua carreira de juiz fazendo política. O que significa sua declaração de que o Supremo endureceu? Significa que no seu voto ele vai amolecer? E se não for isso, por que não simplesmente se calar e ir estudar o processo? É bom não perder de vista o que significa o STF amolecer nas decisões sobre os recursos dos réus do mensalão.
Significa desde o abrandamento de penas até a possibilidade de os chefes do esquema escaparem da prisão.
O novo ministro disse que o rigor da Corte no mensalão foi "um ponto fora da curva". O que quer dizer isso? Barroso está dizendo que o Supremo Tribunal Federal se excedeu? Ou que o Supremo errou? Sim, porque não existe mulher meio grávida, nem sentença meio certa. Existe sentença meio mozarela e meio calabresa - e essas são muito comuns. Estará o STF, com sua nova formação, se encaminhando para uma dessas, no julgamento político mais importante da República? Depois da grande catarse nacional no ano passado, o caso esfriou e a opinião pública não mais voltará a olhá-lo com a mesma atenção. Isso é um fenômeno tipicamente brasileiro, uma espécie de habeas corpus natural, com o qual os delinquentes contam fervorosamente. Mas se o novo ministro do STF acha que o julgamento do mensalão foi um ponto fora da curva, é importante lembrar ao ministro que o escândalo do mensalão também foi um ponto fora da curva.
Seria o caso de perguntar ao ministro Barroso se ele tem notícia de outra quadrilha, na história deste país, que tenha criado um duto entre os cofres públicos e o partido do presidente da República. Não para um desvio fortuito, mas para diversas operações, devidamente comprovadas, que levaram o dinheiro do contribuinte para o caixa do PT.
Seria também interessante lembrar ao novo ministro que o grupo político que pariu e operou esse esquema continua governando o Brasil. Os réus do mensalão não estão no governo, mas a tecnologia está. Talvez o ministro ainda não tenha tido que andar um quilômetro entre os terminais 1 e 2 do aeroporto do Galeão, por conta de uma esteira que não funciona às vésperas da Copa das Confederações.
Pois bem: a agência reguladora que deveria garantir a dignidade dos passageiros é aquela transformada em bazar por Rosemary Noronha - a protegida de Lula que Dilma segurou até onde pôde.
Seria bom lembrar que o PAC, que ostenta níveis ridículos de investimento e planejamento em infraestrutura, tinha como empreiteira campeã a Delta - uma central de negociatas revelada pela CPI do Cachoeira (asfixiada pelo governo Dilma). São cachoeiras de parasitas atarraxados ao Estado pelo governo popular, alguns mais aberrantes, como o ex-ministro Carlos Lupi. Demitido sob acusação de usar ONGs para desviar dinheiro do Ministério do Trabalho, menos de um ano depois ele já dava as cartas no governo novamente.
Dizendo que, no STF, vai fazer apenas o que acha certo, Luís Roberto Barroso disse que seguirá seu coração.
Não, ministro. Siga sua cabeça.
Estude bem o que essa quadrilha fez ao Brasil, e use a cabeça.
Os impasses no Rio - ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 08/06
A exemplo de PT e PMDB, o PSDB e o DEM estão estremecidos. Os tucanos resistem a apoiar o vereador Cesar Maia ao governo. A indefinição reduz a desenvoltura de Maia. No DEM, onde há muita irritação, o que se diz é que o candidato tucano ao Planalto, Aécio Neves, está se deixando usar pelo governador Sérgio Cabral (PMDB) na pressão para que o PT apoie o vice Luiz Fernando Pezão.
O pesadelo e a realidade
O PMDB fez um pente-fino da situação eleitoral dos estados. Os presidentes da Câmara, Henrique Alves (RN); e do Senado, Renan Calheiros (AL), reunidos com dirigentes do partido, anteontem, concluíram que os problemas com o PT estão sendo amplificados. Avaliaram que há dois casos graves: Rio e Bahia. O drama no Ceará é com o governador Cid Gomes (PSB). Mato Grosso do Sul caminha para a chapa Delcídio Amaral (PT) para o governo e André Puccinelli (PMDB) para o Senado. Sobre o Rio, um dos presentes comentou: “O que a gente vai fazer? Uma hora o PT iria querer ter candidato! Eles já apoiaram o Sérgio Cabral duas vezes e o Eduardo Paes uma vez”.
“Se auxílio-alimentação é para alimentar, como pode ser pago retroativo a nove anos, a pessoas vivas e, ainda, com altos salários?”
Cristovam Buarque
Senador (PDT-DF), sobre o auxílio aos ministros do TCU
Os herdeiros
O deputado Renan Filho, filho do presidente do Senado, Renan Calheiros, será o candidato do PMDB ao governo de Alagoas. O ex-prefeito Helder Barbalho, filho do senador Jader Barbalho, será o candidato do PMDB ao governo do Pará.
Batendo cabeça
O vice-presidente da Câmara, André Vargas (PT-PR), reagiu à entrevista do líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), à Folha de S.Paulo, dizendo que só 150 deputados (do PT, PSB, PDT e PCdoB) são fiéis ao governo. O PMDB foi excluído. “Impressionante sinceridade. Mas qual a utilidade deste reconhecimento?”
Ajeitando a bola
Apesar da pressão para que seja votado veto da presidente Dilma à MP dos Portos, nada pode ser feito imediatamente. O presidente do Senado, Renan Calheiros, precisa definir o rito de votação dos milhares de vetos que trancam a pauta.
Não foram os banqueiros
A despeito da crítica de petistas e empresários, o presidente da CNI, Robson Andrade, justifica a decisão do Copom do Banco Central, que aumentou os juros em 0,5 ponto percentual. Argumentou que há uma inflação de demanda, puxada pelo setor de serviços, que precisa ser contida para manter a inflação no centro da meta.
Pronto, falei
Ministro e vice-governador de São Paulo, Afif Domingos protestou contra decisão da Comissão de Ética do governo, que acha “inconveniente” a dupla função. “Inconveniente para quem? Não sirvo a interesses de um ou de outro partido.”
Trégua trabalhista
Ex-marido da presidente Dilma, Carlos Araújo voltou ao PDT. O presidente do partido, Carlos Lupi, autorizou a executiva gaúcha a refiliá-lo como “gesto de cortesia” com Dilma e para virar página de problemas entre o PDT e a presidente.
OS PRESIDENTES DO TCU, Augusto Nardes, e da Comissão Europeia, Durão Barroso, vão acertar intercâmbio para difundir boas práticas de governança.
O pesadelo e a realidade
O PMDB fez um pente-fino da situação eleitoral dos estados. Os presidentes da Câmara, Henrique Alves (RN); e do Senado, Renan Calheiros (AL), reunidos com dirigentes do partido, anteontem, concluíram que os problemas com o PT estão sendo amplificados. Avaliaram que há dois casos graves: Rio e Bahia. O drama no Ceará é com o governador Cid Gomes (PSB). Mato Grosso do Sul caminha para a chapa Delcídio Amaral (PT) para o governo e André Puccinelli (PMDB) para o Senado. Sobre o Rio, um dos presentes comentou: “O que a gente vai fazer? Uma hora o PT iria querer ter candidato! Eles já apoiaram o Sérgio Cabral duas vezes e o Eduardo Paes uma vez”.
“Se auxílio-alimentação é para alimentar, como pode ser pago retroativo a nove anos, a pessoas vivas e, ainda, com altos salários?”
Cristovam Buarque
Senador (PDT-DF), sobre o auxílio aos ministros do TCU
Os herdeiros
O deputado Renan Filho, filho do presidente do Senado, Renan Calheiros, será o candidato do PMDB ao governo de Alagoas. O ex-prefeito Helder Barbalho, filho do senador Jader Barbalho, será o candidato do PMDB ao governo do Pará.
Batendo cabeça
O vice-presidente da Câmara, André Vargas (PT-PR), reagiu à entrevista do líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), à Folha de S.Paulo, dizendo que só 150 deputados (do PT, PSB, PDT e PCdoB) são fiéis ao governo. O PMDB foi excluído. “Impressionante sinceridade. Mas qual a utilidade deste reconhecimento?”
Ajeitando a bola
Apesar da pressão para que seja votado veto da presidente Dilma à MP dos Portos, nada pode ser feito imediatamente. O presidente do Senado, Renan Calheiros, precisa definir o rito de votação dos milhares de vetos que trancam a pauta.
Não foram os banqueiros
A despeito da crítica de petistas e empresários, o presidente da CNI, Robson Andrade, justifica a decisão do Copom do Banco Central, que aumentou os juros em 0,5 ponto percentual. Argumentou que há uma inflação de demanda, puxada pelo setor de serviços, que precisa ser contida para manter a inflação no centro da meta.
Pronto, falei
Ministro e vice-governador de São Paulo, Afif Domingos protestou contra decisão da Comissão de Ética do governo, que acha “inconveniente” a dupla função. “Inconveniente para quem? Não sirvo a interesses de um ou de outro partido.”
Trégua trabalhista
Ex-marido da presidente Dilma, Carlos Araújo voltou ao PDT. O presidente do partido, Carlos Lupi, autorizou a executiva gaúcha a refiliá-lo como “gesto de cortesia” com Dilma e para virar página de problemas entre o PDT e a presidente.
OS PRESIDENTES DO TCU, Augusto Nardes, e da Comissão Europeia, Durão Barroso, vão acertar intercâmbio para difundir boas práticas de governança.
Alô, Bolsa Família - VERA MAGALHÃES - PAINEL
FOLHA DE SP - 08/06
Assim que for aprovada a medida provisória que regulamenta pagamentos através de celulares, grande parte dos beneficiários do Bolsa Família poderá receber por esse mecanismo. Técnicos dos ministérios das Comunicações e do Desenvolvimento Social já discutem a implementação do sistema. A nova modalidade facilitará o acesso das 13 milhões de famílias aos recursos, sem necessidade de o beneficiário ir ao banco. Para o governo, a vantagem será a diminuição de custos.
Como faz 1
O serviço previsto na MP, que deverá ser aprovada pelo Congresso até o fim do ano, funcionará por meio da criação de uma conta bancária vinculada à linha telefônica.
Como faz 2
Com crédito em conta, o beneficiário poderá pagar, por exemplo, taxistas e pequenas compras. O governo estuda com o Banco Central fixar um valor máximo para essas operações.
Sob nova...
A nova gestão da Funai (Fundação Nacional do Índio) terá como prioridade a melhora na qualidade de vida dentro das reservas indígenas, e não a ênfase em novas demarcações.
...direção
O modelo é similar ao adotado por Dilma Rousseff no Incra, quando foi reduzido o número de novos assentamentos em relação ao governo Lula, mas liberados mais recursos para projetos de lavoura dentro dos já existentes.
SOS
Além disso, segundo interlocutores do Planalto, o órgão terá como missão melhorar a questão da saúde indígena, o que reforçará o papel do Ministério da Saúde dentro das reservas.
Recordar...
Auxiliares do governo lembram que a ordem de Dilma a José Eduardo Cardozo para demitir Marta Azevedo da Funai ocorreu algumas vezes, como em reunião no Palácio do Alvorada para debater cenários eleitorais, há mais de um mês.
...é viver
Na ocasião a presidente argumentou, segundo relatos, que a Funai não poderia ter exclusividade nas demarcações de terras de agricultores, e o ministro da Justiça sugeriu mudanças por decreto, sob responsabilidade da Casa Civil. A petista pediu que ele resolvesse a questão internamente.
Nunca antes
O deputado estadual Campos Machado, maior líder do PTB paulista, selou apoio à reeleição de Dilma Rousseff em 2014, em jantar com o presidente nacional da sigla, Benito Gama. Em SP, manterá aliança com Geraldo Alckmin (PSDB).
Me dê...
O parecer do Ministério Público favorável à perda do cargo de vice-governador por Guilherme Afif (PSD) vai acelerar o processo que corre na Assembleia Legislativa, segundo avaliação do governo de São Paulo.
... motivo
O Palácio dos Bandeirantes espera que os deputados da base alckmista sigam a recomendação.
Lá e cá
Dias depois de participar da Parada Gay, o prefeito Fernando Haddad (PT) foi convidado para a Marcha para Jesus, no dia 29. Foi chamado pessoalmente pelo apóstolo Estevam Hernandes, líder da Igreja Renascer, que organiza o evento.
Delete
Em carta à bancada, o líder do PT na Câmara, José Guimarães (CE), recomenda que nenhum deputado assine a CPI dos Planos de Saúde. "Se alguém tiver assinado por engano, favor entrar em contato para sua retirada'', diz o texto.
SOS
O pedido de CPI foi protocolado na quinta-feira pelo deputado Ivan Valente (PSOL-SP), com 192 assinaturas (o mínimo necessário para criar uma comissão são 171). A carta chegou a outros partidos da base governista.
com ANDRÉIA SADI e BRUNO BOGHOSSIAN
tiroteio
"Com esses protestos, o prefeito Fernando Haddad vai sentir na pele o que o PT sempre fez com os governos de outros partidos."
DO VEREADOR ANDREA MATARAZZO (PSDB-SP), sobre as manifestações feitas em São Paulo contra o aumento do preço das passagens de ônibus e metrô.
contraponto
Apenas coadjuvante
O ministro Aguinaldo Ribeiro (Cidades) se preparava para dar entrevistas para rádios e TVs sobre nova campanha publicitária da pasta, com foco na redução de acidentes entre motoristas profissionais, como caminhoneiros e taxistas. Diante do banner da campanha, o ministro foi solicitado por cinegrafistas a fazer um pequeno movimento, deixando livre para as câmeras a imagem da protagonista da peça, a cantora Paula Fernandes.
--Entendi quem eles vão focar --disse uma assessora.
--A imagem dela é muito melhor, né? --brincou o ministro com os cinegrafistas.
Assim que for aprovada a medida provisória que regulamenta pagamentos através de celulares, grande parte dos beneficiários do Bolsa Família poderá receber por esse mecanismo. Técnicos dos ministérios das Comunicações e do Desenvolvimento Social já discutem a implementação do sistema. A nova modalidade facilitará o acesso das 13 milhões de famílias aos recursos, sem necessidade de o beneficiário ir ao banco. Para o governo, a vantagem será a diminuição de custos.
Como faz 1
O serviço previsto na MP, que deverá ser aprovada pelo Congresso até o fim do ano, funcionará por meio da criação de uma conta bancária vinculada à linha telefônica.
Como faz 2
Com crédito em conta, o beneficiário poderá pagar, por exemplo, taxistas e pequenas compras. O governo estuda com o Banco Central fixar um valor máximo para essas operações.
Sob nova...
A nova gestão da Funai (Fundação Nacional do Índio) terá como prioridade a melhora na qualidade de vida dentro das reservas indígenas, e não a ênfase em novas demarcações.
...direção
O modelo é similar ao adotado por Dilma Rousseff no Incra, quando foi reduzido o número de novos assentamentos em relação ao governo Lula, mas liberados mais recursos para projetos de lavoura dentro dos já existentes.
SOS
Além disso, segundo interlocutores do Planalto, o órgão terá como missão melhorar a questão da saúde indígena, o que reforçará o papel do Ministério da Saúde dentro das reservas.
Recordar...
Auxiliares do governo lembram que a ordem de Dilma a José Eduardo Cardozo para demitir Marta Azevedo da Funai ocorreu algumas vezes, como em reunião no Palácio do Alvorada para debater cenários eleitorais, há mais de um mês.
...é viver
Na ocasião a presidente argumentou, segundo relatos, que a Funai não poderia ter exclusividade nas demarcações de terras de agricultores, e o ministro da Justiça sugeriu mudanças por decreto, sob responsabilidade da Casa Civil. A petista pediu que ele resolvesse a questão internamente.
Nunca antes
O deputado estadual Campos Machado, maior líder do PTB paulista, selou apoio à reeleição de Dilma Rousseff em 2014, em jantar com o presidente nacional da sigla, Benito Gama. Em SP, manterá aliança com Geraldo Alckmin (PSDB).
Me dê...
O parecer do Ministério Público favorável à perda do cargo de vice-governador por Guilherme Afif (PSD) vai acelerar o processo que corre na Assembleia Legislativa, segundo avaliação do governo de São Paulo.
... motivo
O Palácio dos Bandeirantes espera que os deputados da base alckmista sigam a recomendação.
Lá e cá
Dias depois de participar da Parada Gay, o prefeito Fernando Haddad (PT) foi convidado para a Marcha para Jesus, no dia 29. Foi chamado pessoalmente pelo apóstolo Estevam Hernandes, líder da Igreja Renascer, que organiza o evento.
Delete
Em carta à bancada, o líder do PT na Câmara, José Guimarães (CE), recomenda que nenhum deputado assine a CPI dos Planos de Saúde. "Se alguém tiver assinado por engano, favor entrar em contato para sua retirada'', diz o texto.
SOS
O pedido de CPI foi protocolado na quinta-feira pelo deputado Ivan Valente (PSOL-SP), com 192 assinaturas (o mínimo necessário para criar uma comissão são 171). A carta chegou a outros partidos da base governista.
com ANDRÉIA SADI e BRUNO BOGHOSSIAN
tiroteio
"Com esses protestos, o prefeito Fernando Haddad vai sentir na pele o que o PT sempre fez com os governos de outros partidos."
DO VEREADOR ANDREA MATARAZZO (PSDB-SP), sobre as manifestações feitas em São Paulo contra o aumento do preço das passagens de ônibus e metrô.
contraponto
Apenas coadjuvante
O ministro Aguinaldo Ribeiro (Cidades) se preparava para dar entrevistas para rádios e TVs sobre nova campanha publicitária da pasta, com foco na redução de acidentes entre motoristas profissionais, como caminhoneiros e taxistas. Diante do banner da campanha, o ministro foi solicitado por cinegrafistas a fazer um pequeno movimento, deixando livre para as câmeras a imagem da protagonista da peça, a cantora Paula Fernandes.
--Entendi quem eles vão focar --disse uma assessora.
--A imagem dela é muito melhor, né? --brincou o ministro com os cinegrafistas.
Tempos estranhos - MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 08/06
Outro dia, um amigo comentou, desconfiado a propósito dos últimos acontecimentos, que o país está "meio estranho". Em situação mais formal, coube ao ministro do Supremo Tribunal Federal Marco Aurélio Mello dizer, num julgamento em que o STF negou recurso sobre a morte em trote da USP, mantendo a decisão do STJ que encerrou a ação penal, que "tudo é possível porque os tempos são muito estranhos" Ainda não estamos nos "tempos interessantes" da maldição atribuída a Confúcio, tempos em que os riscos e os sofrimentos não cessam, impedindo a tranquilidade. Mas, pelo andar da carruagem, chegaremos lá.
Bastaria o caso da controvérsia causada pela declaração do ministro Gilberto Carvalho a um grupo de índios, revelando que a presidente havia dito que a ordem judicial de reintegração de posse da fazenda Buriti, em Mato Grosso do Sul, não deveria ter sido cumprida, para exemplificar os tempos estranhos que vivemos.
Dilma, evidentemente, garantiu em público que o governo brasileiro cumpre as leis. Carvalho soltou uma nota dizendo que fora um equívoco dele, que queria apenas demonstrar o sentimento da presidente pela morte de um índio no conflito.
Das duas, uma: ou Carvalho disse a verdade inconveniente, que não podia ser revelada, ou mentiu para os índios na tentativa de acalmá-los. Nas duas hipóteses, seria um auxiliar ineficiente, mas em Brasília acredita-se mais na primeira, o que desvenda mais uma vez a alma autoritária da presidente Dilma.
E é essa índole autoritária que vem sendo posta à prova nestes tempos conturbados que vivemos.
Quando afirmou, por exemplo, que não sacrificaria o desenvolvimento para conter a inflação, deixou no mercado a certeza de que aceitaria um pouquinho de inflação para aumentar o PIB, o que colocou todo mundo em alerta, com efeitos óbvios.
Mais adiante, disse que o país não tinha meios de controlar a subida do dólar, e mais uma vez o mercado se alterou.
A confusão em torno dos saques antecipados do Bolsa Família é mais um exemplo de como um governo descoordenado pode se machucar por conta própria. Diante do tumulto provocado por um suposto boato de que o programa iria acabar, Dilma disse que aquele era um ato "desumano".
O ex-presidente Lula lamentou a existência de pessoas "capazes de fazer tanto mal" aos mais pobres. E a ministra Maria do Rosário apressou-se pelo Twitter a insinuar que a origem dos boatos era a oposição.
Logo ficou claro que o erro fora cometido pela própria Caixa Econômica Federal, que liberou o pagamento do Bolsa Família sem obedecer ao calendário que ela própria estabelecera desde sempre.
Com isso, pessoas que foram ao banco fazer outras transações descobriram que o dinheiro já estava lá, e começou o boca a boca sobre a liberação antecipada.
Muitos entenderam que aquele era um sinal de que o programa iria acabar, outros acharam que era um bônus pelo Dia das Mães, o que marca bem o maternalismo que domina nossa política. Não se fala mais do tal call center do Rio de Janeiro que supostamente espalhara o boato. O presidente da Caixa teve de admitir o erro depois de tentar escondê-lo, e só o fez porque a "Folha de S. Paulo" denunciou que os pagamentos haviam sido antecipados.
Junto a essas trapalhadas, vêm as notícias ruins da economia, que resultam em advertência da agência Standard & Poor's de que o grau de investimento que o Brasil ganhou no governo Lula pode ser cassado se nos próximos dois anos a economia continuar demonstrando tamanha fraqueza e, sobretudo, problemas de inconsistência como inflação alta e déficits.
Já há quem mais uma vez sugira tirar o B do acrônimo Brics.
Nenhum dos programas oficiais está com seu cronograma em dia, seja o PAC, seja o Telefone Para Todos, seja o Minha Casa Minha Vida, ou as obras para a Copa do Mundo. Ou a queda forçada dos juros, que agora está tendo que ser revertida, ou a redução do custo da energia elétrica, que não chega aos 20% prometidos na televisão.
Todos têm a mesma característica: saem mais caro do que o anunciado e atingem menos pessoas.
Simplesmente porque não correspondem a nenhum planejamento, são fruto de um voluntarismo que não se baseia na realidade.
Algo assim como querer tirar da rota do avião presidencial as nuvens turbulentas.
Outro dia, um amigo comentou, desconfiado a propósito dos últimos acontecimentos, que o país está "meio estranho". Em situação mais formal, coube ao ministro do Supremo Tribunal Federal Marco Aurélio Mello dizer, num julgamento em que o STF negou recurso sobre a morte em trote da USP, mantendo a decisão do STJ que encerrou a ação penal, que "tudo é possível porque os tempos são muito estranhos" Ainda não estamos nos "tempos interessantes" da maldição atribuída a Confúcio, tempos em que os riscos e os sofrimentos não cessam, impedindo a tranquilidade. Mas, pelo andar da carruagem, chegaremos lá.
Bastaria o caso da controvérsia causada pela declaração do ministro Gilberto Carvalho a um grupo de índios, revelando que a presidente havia dito que a ordem judicial de reintegração de posse da fazenda Buriti, em Mato Grosso do Sul, não deveria ter sido cumprida, para exemplificar os tempos estranhos que vivemos.
Dilma, evidentemente, garantiu em público que o governo brasileiro cumpre as leis. Carvalho soltou uma nota dizendo que fora um equívoco dele, que queria apenas demonstrar o sentimento da presidente pela morte de um índio no conflito.
Das duas, uma: ou Carvalho disse a verdade inconveniente, que não podia ser revelada, ou mentiu para os índios na tentativa de acalmá-los. Nas duas hipóteses, seria um auxiliar ineficiente, mas em Brasília acredita-se mais na primeira, o que desvenda mais uma vez a alma autoritária da presidente Dilma.
E é essa índole autoritária que vem sendo posta à prova nestes tempos conturbados que vivemos.
Quando afirmou, por exemplo, que não sacrificaria o desenvolvimento para conter a inflação, deixou no mercado a certeza de que aceitaria um pouquinho de inflação para aumentar o PIB, o que colocou todo mundo em alerta, com efeitos óbvios.
Mais adiante, disse que o país não tinha meios de controlar a subida do dólar, e mais uma vez o mercado se alterou.
A confusão em torno dos saques antecipados do Bolsa Família é mais um exemplo de como um governo descoordenado pode se machucar por conta própria. Diante do tumulto provocado por um suposto boato de que o programa iria acabar, Dilma disse que aquele era um ato "desumano".
O ex-presidente Lula lamentou a existência de pessoas "capazes de fazer tanto mal" aos mais pobres. E a ministra Maria do Rosário apressou-se pelo Twitter a insinuar que a origem dos boatos era a oposição.
Logo ficou claro que o erro fora cometido pela própria Caixa Econômica Federal, que liberou o pagamento do Bolsa Família sem obedecer ao calendário que ela própria estabelecera desde sempre.
Com isso, pessoas que foram ao banco fazer outras transações descobriram que o dinheiro já estava lá, e começou o boca a boca sobre a liberação antecipada.
Muitos entenderam que aquele era um sinal de que o programa iria acabar, outros acharam que era um bônus pelo Dia das Mães, o que marca bem o maternalismo que domina nossa política. Não se fala mais do tal call center do Rio de Janeiro que supostamente espalhara o boato. O presidente da Caixa teve de admitir o erro depois de tentar escondê-lo, e só o fez porque a "Folha de S. Paulo" denunciou que os pagamentos haviam sido antecipados.
Junto a essas trapalhadas, vêm as notícias ruins da economia, que resultam em advertência da agência Standard & Poor's de que o grau de investimento que o Brasil ganhou no governo Lula pode ser cassado se nos próximos dois anos a economia continuar demonstrando tamanha fraqueza e, sobretudo, problemas de inconsistência como inflação alta e déficits.
Já há quem mais uma vez sugira tirar o B do acrônimo Brics.
Nenhum dos programas oficiais está com seu cronograma em dia, seja o PAC, seja o Telefone Para Todos, seja o Minha Casa Minha Vida, ou as obras para a Copa do Mundo. Ou a queda forçada dos juros, que agora está tendo que ser revertida, ou a redução do custo da energia elétrica, que não chega aos 20% prometidos na televisão.
Todos têm a mesma característica: saem mais caro do que o anunciado e atingem menos pessoas.
Simplesmente porque não correspondem a nenhum planejamento, são fruto de um voluntarismo que não se baseia na realidade.
Algo assim como querer tirar da rota do avião presidencial as nuvens turbulentas.
O futuro do dilmismo - FERNANDO RODRIGUES
FOLHA DE SP - 08/06
BRASÍLIA - Como política e ansiedade andam de mãos dadas, há uma onda de especulações sobre qual será a feição de um eventual segundo mandato de Dilma Rousseff. Será igual ao Lula 2 ou um período melancólico e sem brilho?
A história tem sido cruel com reeleitos. Que o digam Fernando Henrique Cardoso, aqui no Brasil, e agora Barack Obama, nos Estados Unidos.
O sucesso de um segundo mandato depende das realizações do primeiro. Vista em retrospecto, a política de Lula com os programas sociais de inclusão e ampliação do mercado interno acabaram salvando o Brasil mais adiante. Além disso, ele criou uma legião de admiradores políticos e ampliou suas alianças partidárias.
Os resultados de Dilma são incertos nas duas áreas. Não está claro se a sua política econômica fragmentada funcionará. Não por causa das piadas da revista britânica "Economist" com Guido Mantega, mas porque qualquer pessoa de bom-senso andando pelo país nota como a infraestrutura andou de maneira muito mais lenta do que exige a demanda do mercado de novos consumidores.
Dilma também tem sido malsucedida no manejo da micro e da macropolítica. Como se sabe desde sempre, um governante pode errar em tudo, menos na política. O preço algum dia acabará sendo cobrado. Como a atual presidente segue forte e popular, essa conta talvez não seja apresentada em 2014. Só que em 2015 vai aparecer com certeza absoluta.
Vivo em Brasília há alguns anos por dever de ofício. Falo com políticos do governo e da oposição. Exceto por alguns ministros, nunca encontrei gente de relevância entusiasmada com a atual presidente. Não existem dilmistas. Há lulistas. Na oposição é possível encontrar saudosistas de FHC. Mas Dilma tem escassos torcedores reais a seu favor.
Todos esses elementos somados são um prenúncio ruim para o futuro do dilmismo. Embora dilmismo, como se observa, nem exista de fato.
BRASÍLIA - Como política e ansiedade andam de mãos dadas, há uma onda de especulações sobre qual será a feição de um eventual segundo mandato de Dilma Rousseff. Será igual ao Lula 2 ou um período melancólico e sem brilho?
A história tem sido cruel com reeleitos. Que o digam Fernando Henrique Cardoso, aqui no Brasil, e agora Barack Obama, nos Estados Unidos.
O sucesso de um segundo mandato depende das realizações do primeiro. Vista em retrospecto, a política de Lula com os programas sociais de inclusão e ampliação do mercado interno acabaram salvando o Brasil mais adiante. Além disso, ele criou uma legião de admiradores políticos e ampliou suas alianças partidárias.
Os resultados de Dilma são incertos nas duas áreas. Não está claro se a sua política econômica fragmentada funcionará. Não por causa das piadas da revista britânica "Economist" com Guido Mantega, mas porque qualquer pessoa de bom-senso andando pelo país nota como a infraestrutura andou de maneira muito mais lenta do que exige a demanda do mercado de novos consumidores.
Dilma também tem sido malsucedida no manejo da micro e da macropolítica. Como se sabe desde sempre, um governante pode errar em tudo, menos na política. O preço algum dia acabará sendo cobrado. Como a atual presidente segue forte e popular, essa conta talvez não seja apresentada em 2014. Só que em 2015 vai aparecer com certeza absoluta.
Vivo em Brasília há alguns anos por dever de ofício. Falo com políticos do governo e da oposição. Exceto por alguns ministros, nunca encontrei gente de relevância entusiasmada com a atual presidente. Não existem dilmistas. Há lulistas. Na oposição é possível encontrar saudosistas de FHC. Mas Dilma tem escassos torcedores reais a seu favor.
Todos esses elementos somados são um prenúncio ruim para o futuro do dilmismo. Embora dilmismo, como se observa, nem exista de fato.
A mensagem dada pelo rebaixamento do Brasil - EDITORIAL O GLOBO
O GLOBO - 08/06
O viés de baixa carimbado no país pela S&P é sinal do fim de um ciclo. Inflação, baixo crescimento, gastança são problemas a serem combatidos para valer
A agência de avaliação de risco Standard & Poor’s (S&P) concedeu o “grau de investimento” ao Brasil em 2008. Fato inédito, acompanhado de merecidas comemorações. O país entrava no clube restrito frequentado pelo Primeiro Mundo, por economias de ilibada reputação, emissoras de títulos seguros para o investidor. Nada mal para quem já dera vários calotes externos.
Puxada pelas crescentes importações chinesas de minérios e alimentos, a balança comercial brasileira passou a acumular grandes superávits. O país chegou ao ponto de pagar a dívida externa, e a União a emprestar dinheiro ao Fundo Monetário, supremo motivo de orgulho nacional. Lula e Dilma souberam aproveitar o bom momento. A presidente até deu temerárias lições públicas de economia à Europa em mergulho rumo à recessão. Pois na quinta-feira a mesma S&P carimbou um viés de baixa no Brasil. Primeiro passo para reduzir a classificação do país. Fecha-se um ciclo.
Na justificativa da decisão, a agência cita o baixo crescimento, inflação, política fiscal expansionista e, em geral, perda de credibilidade da política econômica. Nenhuma novidade. A persistência deste quadro é que leva a S&P a ser a primeira das agências a mostrar o cartão amarelo ao país.
O conjunto da obra não é de fato animador. A inflação deve voltar a romper o limite superior da meta, de 6,5%, e encerrará também 2014 longe do centro do alvo, de 4,5%. A elevação de tom da ata do Copom demonstra que até o paciente BC mudou de humor — como expresso no 0,5 ponto percentual de aumento da taxa básica de juros.
Do quadro traçado pela agência de risco, um dos quesitos mais preocupantes é o fiscal. Numa tentativa de resposta à S&P, o secretário de Política Econômica da Fazenda, Márcio Holland, deu a cândida explicação de que a política fiscal é “anticíclica”. Balela. Desde a troca de Antonio Palocci por Guido Mantega, no Ministério da Fazenda, ela é “cíclica”, monotônica: só aumenta os gastos. Na quinta, por sinal, o governo criou mais um ente estatal, a Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (Anater), com 130 funcionários e R$ 1,3 bilhão em despesas já espetadas no Orçamento de 2014. O diagnóstico da agência é prova cabal de que a “contabilidade criativa” e seus alquimistas alocados no Tesouro e na Fazenda, capazes de transformar endividamento em receita primária, não enganam mesmo os analistas mais atentos. A criatividade faz com que repasses do Tesouro a bancos públicos não apareçam na dívida líquida pública. Mas elas têm impulsionado a dívida bruta. O desregramento deixa pistas.
Dilma dá demonstrações de buscar alteração de curso. A luta em torno da nova lei dos portos, para melhorar a infraestrutura, é um exemplo. Os cuidados com a inflação, outro. Mas não há sinais à vista de mudança na política fiscal. O rebaixamento de classificação feito pela S&P mostra que este ponto fraco da política econômica entrou nos radares dos analistas internacionais. Começa a se fechar um ciclo da economia brasileira.
O viés de baixa carimbado no país pela S&P é sinal do fim de um ciclo. Inflação, baixo crescimento, gastança são problemas a serem combatidos para valer
A agência de avaliação de risco Standard & Poor’s (S&P) concedeu o “grau de investimento” ao Brasil em 2008. Fato inédito, acompanhado de merecidas comemorações. O país entrava no clube restrito frequentado pelo Primeiro Mundo, por economias de ilibada reputação, emissoras de títulos seguros para o investidor. Nada mal para quem já dera vários calotes externos.
Puxada pelas crescentes importações chinesas de minérios e alimentos, a balança comercial brasileira passou a acumular grandes superávits. O país chegou ao ponto de pagar a dívida externa, e a União a emprestar dinheiro ao Fundo Monetário, supremo motivo de orgulho nacional. Lula e Dilma souberam aproveitar o bom momento. A presidente até deu temerárias lições públicas de economia à Europa em mergulho rumo à recessão. Pois na quinta-feira a mesma S&P carimbou um viés de baixa no Brasil. Primeiro passo para reduzir a classificação do país. Fecha-se um ciclo.
Na justificativa da decisão, a agência cita o baixo crescimento, inflação, política fiscal expansionista e, em geral, perda de credibilidade da política econômica. Nenhuma novidade. A persistência deste quadro é que leva a S&P a ser a primeira das agências a mostrar o cartão amarelo ao país.
O conjunto da obra não é de fato animador. A inflação deve voltar a romper o limite superior da meta, de 6,5%, e encerrará também 2014 longe do centro do alvo, de 4,5%. A elevação de tom da ata do Copom demonstra que até o paciente BC mudou de humor — como expresso no 0,5 ponto percentual de aumento da taxa básica de juros.
Do quadro traçado pela agência de risco, um dos quesitos mais preocupantes é o fiscal. Numa tentativa de resposta à S&P, o secretário de Política Econômica da Fazenda, Márcio Holland, deu a cândida explicação de que a política fiscal é “anticíclica”. Balela. Desde a troca de Antonio Palocci por Guido Mantega, no Ministério da Fazenda, ela é “cíclica”, monotônica: só aumenta os gastos. Na quinta, por sinal, o governo criou mais um ente estatal, a Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (Anater), com 130 funcionários e R$ 1,3 bilhão em despesas já espetadas no Orçamento de 2014. O diagnóstico da agência é prova cabal de que a “contabilidade criativa” e seus alquimistas alocados no Tesouro e na Fazenda, capazes de transformar endividamento em receita primária, não enganam mesmo os analistas mais atentos. A criatividade faz com que repasses do Tesouro a bancos públicos não apareçam na dívida líquida pública. Mas elas têm impulsionado a dívida bruta. O desregramento deixa pistas.
Dilma dá demonstrações de buscar alteração de curso. A luta em torno da nova lei dos portos, para melhorar a infraestrutura, é um exemplo. Os cuidados com a inflação, outro. Mas não há sinais à vista de mudança na política fiscal. O rebaixamento de classificação feito pela S&P mostra que este ponto fraco da política econômica entrou nos radares dos analistas internacionais. Começa a se fechar um ciclo da economia brasileira.
Chavismo lá, petismo cá - EDITORIAL O ESTADÃO
O ESTADO DE S. PAULO - 08/06
Não faz muito tempo, o PT preconizava o "controle social da mídia". Mas a ideia de "controle" assusta um pouco e não tem lá grande apelo motivacional. Os marqueteiros entraram em ação e a palavra de ordem mudou então para "democratização da mídia". Afinal, "democratização" o tipo ideal de ideia-ônibus: todo mundo embarca nela. Só que, como é da natureza das proposições populistas - muito apelo e pouco conteúdo nunca ficou claro o que vinha a ser exatamente a "democratização" preconizada, de que modo ela se aplicaria ao cotidiano dos veículos de comunicação, no que ela mudaria de fato para melhor a vida dos brasileiros, Agora, finalmente, o grande enigma parece desvendado. Por analogia.
O finado general Hugo Chávez acaba de ser agraciado, na Venezuela, com o Prêmio Nacional de Jornalismo Simón Bolívar, pelos relevantes serviços prestados à causa da "democratização da mídia" em seu país. Como até as maçanetas do Instituto Lula sabem, Hugo Chávez é a segunda grande figura da política latino-americana a quem as lideranças petistas, Lula à frente, prestam fervorosa reverência. A primeira é Fidel Castro. Não há bom petista que não inveje os poderes de que Chávez logrou se investir para implantar "democraticamente" o "socialismo bolivariano" na Venezuela.
A instituição que outorgou a láurea póstuma a Chávez é uma fundação vinculada à vice-presidência da República. Estatal, portanto. E a justificativa do prêmio chega a ser comovente: "Decidimos outorgar o prêmio extraordinário ao comandante Hugo Chávez porque ele devolveu a palavra aos oprimidos do mundo (.sic) em seu papel de comunicador social, em sua constante batalha contra a mentira midiática".
O panorama do jornalismo que hoje existe na Venezuela ainda não chegou à perfeição daquele que vigora há mais de meio século em Cuba, pois ainda sobrevivem alguns veículos não estatais. Em 13 anos de governo, Chávez desenvolveu um meticuloso e eficiente trabalho de neutralização dos jornais, revistas e emissoras de rádio e televisão que ousavam manifestar discordância com as políticas oficiais. Apelou para todos os tipos de recursos, desde os embargos de um Poder Judiciário completamente subjugado até os obstáculos econômicos e financeiros, passando pela intimidação e o empastelamento.
As emissoras de televisão, pela extensão de sua audiência, foram as mais perseguidas. As duas maiores redes, por insistirem no jornalismo não alinhado com a política chavista, acabaram subjugadas. Em 2007, a RCTV teve a renovação da concessão simplesmente negada, sob o argumento de que teria participado do golpe de Estado que apeou Chávez do poder por dois dias, em 2002. Este ano, a Globovisión, depois de ter sido financeiramente exaurida pela imposição de pesadas multas, foi vendida para um grupo empresarial aliado do governo e está mudando radicalmente sua linha editorial.
Diante dessa realidade na qual praticamente já não se pode falar em liberdade de imprensa, o Sindicato Nacional de Jornalistas da Venezuela protestou contra a homenagem ao caudilho: "Repudiamos o prêmio dado ao falecido presidente Chávez, responsável pelo fechamento de grande número de veículos de comunicação durante seu governo: além da RCTV, 33 emissoras de rádio".
No Brasil, sob o pretexto da urgente necessidade de um novo marco regulatório das comunicações (o atual tem mais de meio século), o PT promove deliberadamente a confusão entre o verdadeiro objetivo desse marco, que é regular o funcionamento de uma concessão pública - as emissoras de rádio é TV -, com o controle da mídia impressa, cujo funcionamento não depende de concessão. Para ambos os casos, aliás, prevalecem o fundamento constitucional da liberdade de expressão e o veto a qualquer tipo de censura à atividade jornalística, cujos eventuais abusos são tipificados e têm punição prevista na lei ordinária.
Mas o modelo dos sonhos do lulopetismo é aquele que a Venezuela e outros governos bolivarianos estão tentando copiar de Cuba.
O finado general Hugo Chávez acaba de ser agraciado, na Venezuela, com o Prêmio Nacional de Jornalismo Simón Bolívar, pelos relevantes serviços prestados à causa da "democratização da mídia" em seu país. Como até as maçanetas do Instituto Lula sabem, Hugo Chávez é a segunda grande figura da política latino-americana a quem as lideranças petistas, Lula à frente, prestam fervorosa reverência. A primeira é Fidel Castro. Não há bom petista que não inveje os poderes de que Chávez logrou se investir para implantar "democraticamente" o "socialismo bolivariano" na Venezuela.
A instituição que outorgou a láurea póstuma a Chávez é uma fundação vinculada à vice-presidência da República. Estatal, portanto. E a justificativa do prêmio chega a ser comovente: "Decidimos outorgar o prêmio extraordinário ao comandante Hugo Chávez porque ele devolveu a palavra aos oprimidos do mundo (.sic) em seu papel de comunicador social, em sua constante batalha contra a mentira midiática".
O panorama do jornalismo que hoje existe na Venezuela ainda não chegou à perfeição daquele que vigora há mais de meio século em Cuba, pois ainda sobrevivem alguns veículos não estatais. Em 13 anos de governo, Chávez desenvolveu um meticuloso e eficiente trabalho de neutralização dos jornais, revistas e emissoras de rádio e televisão que ousavam manifestar discordância com as políticas oficiais. Apelou para todos os tipos de recursos, desde os embargos de um Poder Judiciário completamente subjugado até os obstáculos econômicos e financeiros, passando pela intimidação e o empastelamento.
As emissoras de televisão, pela extensão de sua audiência, foram as mais perseguidas. As duas maiores redes, por insistirem no jornalismo não alinhado com a política chavista, acabaram subjugadas. Em 2007, a RCTV teve a renovação da concessão simplesmente negada, sob o argumento de que teria participado do golpe de Estado que apeou Chávez do poder por dois dias, em 2002. Este ano, a Globovisión, depois de ter sido financeiramente exaurida pela imposição de pesadas multas, foi vendida para um grupo empresarial aliado do governo e está mudando radicalmente sua linha editorial.
Diante dessa realidade na qual praticamente já não se pode falar em liberdade de imprensa, o Sindicato Nacional de Jornalistas da Venezuela protestou contra a homenagem ao caudilho: "Repudiamos o prêmio dado ao falecido presidente Chávez, responsável pelo fechamento de grande número de veículos de comunicação durante seu governo: além da RCTV, 33 emissoras de rádio".
No Brasil, sob o pretexto da urgente necessidade de um novo marco regulatório das comunicações (o atual tem mais de meio século), o PT promove deliberadamente a confusão entre o verdadeiro objetivo desse marco, que é regular o funcionamento de uma concessão pública - as emissoras de rádio é TV -, com o controle da mídia impressa, cujo funcionamento não depende de concessão. Para ambos os casos, aliás, prevalecem o fundamento constitucional da liberdade de expressão e o veto a qualquer tipo de censura à atividade jornalística, cujos eventuais abusos são tipificados e têm punição prevista na lei ordinária.
Mas o modelo dos sonhos do lulopetismo é aquele que a Venezuela e outros governos bolivarianos estão tentando copiar de Cuba.
Crescimento com efeitos colaterais - EDITORIAL GAZETA DO POVO - PR
GAZETA DO POVO - PR - 08/06
A agropecuária ganhou crédito para cumprir suas metas. Agora o país precisa dar lastro a esse crescimento com investimentos em infraestrutura
O Brasil usa o agronegócio como uma carta na manga para a sustentação do crescimento econômico. Dias atrás, o governo ampliou a oferta de crédito e espera estimular a produção de alimentos e de produtos de exportação como soja e milho. Mais que uma manobra econômica, no entanto, a estratégia reforça a contínua expansão do setor e, automaticamente, aumenta a pressão sobre a infraestrutura de armazenagens, rodovias e portos.
O crescimento rápido da produção é apontado como principal causa da sobrecarga nas linhas de escoamento das commodities enfrentada nos últimos anos. Os investimentos em silos, estradas e corredores portuários chegam tardiamente. Com o crédito extra e a demanda internacional sustentada, a produção brasileira deve crescer novamente em 2013/14, passando de 185 milhões para mais de 190 milhões de toneladas de grãos.
O quadro reforça a necessidade de ampliação contínua também da infraestrutura. Ainda não há previsão de quando o escoamento da safra vai ocorrer sem filas de caminhões e navios. Também não há prazo para que os portos consigam cumprir a agenda de embarque. O tempo que os navios importadores esperam na costa paranaense, por exemplo, é maior que a duração de uma viagem de ida e volta para a China pelo Oceano Atlântico.
Evidentemente, a falta de infraestrutura não deve impedir a agropecuária de elevar sua produtividade e renda. A ampliação do crédito para a produção com juros subsidiados é benéfica por uma série de motivos. Aumenta a competitividade do agronegócio brasileiro, estimula a profissionalização do setor, faz girar a economia da maior parte das cidades, fortemente ligadas à economia rural.
Mas a revisão dos investimentos estruturais torna-se uma necessidade constante quando se atinge os limites da logística. No pacote que ampliou o crédito rural, só o déficit da armazenagem teve atenção – com promessa de R$ 25 bilhões a juros de 3,5% ao ano para que a iniciativa privada elimine a falta de armazéns ainda nesta década, e de R$ 500 milhões para a estrutura pública, que é subutilizada por estar obsoleta. O atraso nas obras de estradas e ferrovias e os percalços da reforma do sistema portuário ficaram de lado, como se a tática fosse resolver um problema de cada vez.
O governo elevou o orçamento do Plano Agrícola e Pecuário (PAP), destinando R$ 136 bilhões para financiar a agropecuária comercial em 2013/14, valor 18% maior que o da temporada anterior. Espera reflexos positivos no Produto Interno Bruto (PIB) e na balança comercial de 2013 e 2014. A estratégia vem sendo usada há uma década e, neste ano, ganha importância decisiva na positivação dos indicadores.
A produção de grãos vem batendo recorde atrás de recorde e não será difícil passar de 185 milhões para 190 milhões de toneladas. Houve crescimento de 18 milhões de toneladas na temporada 2012/13, conforme os números da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). As exportações do agronegócio, que atingiram US$ 99,5 bilhões nos últimos 12 meses, tendem a superar esse valor dentro de um ano com o aumento do volume embarcado e os reajustes esperados para produtos como as carnes. Esse quadro mostra que estimular o setor é optar por uma aposta que dá certo.
O Plano Safra da Agricultura Familiar, também anunciado recentemente, confirma a busca por equilíbrio econômico no campo. A elevação do orçamento do Pronaf em R$ 3 bilhões (para R$ 21 bilhões) e a ampliação da abrangência do programa tornam acessíveis financiamentos com juros baixos – de 3,5% ao ano – às unidades que faturam anualmente até R$ 360 mil. O limite, que era de R$ 160 mil ao ano, foi mais que dobrado. A expectativa é de que aumente a oferta de alimentos como leite, feijão, arroz, batata, e que haja maior equilíbrio nas tabelas dos supermercados.
A agropecuária, que projeta expansão de 9% em seu Produto Interno Bruto (PIB) em 2013, ganhou crédito para cumprir suas metas. Agora o país precisa dar lastro a esse crescimento com investimentos concretos em infraestrutura.
A agropecuária ganhou crédito para cumprir suas metas. Agora o país precisa dar lastro a esse crescimento com investimentos em infraestrutura
O Brasil usa o agronegócio como uma carta na manga para a sustentação do crescimento econômico. Dias atrás, o governo ampliou a oferta de crédito e espera estimular a produção de alimentos e de produtos de exportação como soja e milho. Mais que uma manobra econômica, no entanto, a estratégia reforça a contínua expansão do setor e, automaticamente, aumenta a pressão sobre a infraestrutura de armazenagens, rodovias e portos.
O crescimento rápido da produção é apontado como principal causa da sobrecarga nas linhas de escoamento das commodities enfrentada nos últimos anos. Os investimentos em silos, estradas e corredores portuários chegam tardiamente. Com o crédito extra e a demanda internacional sustentada, a produção brasileira deve crescer novamente em 2013/14, passando de 185 milhões para mais de 190 milhões de toneladas de grãos.
O quadro reforça a necessidade de ampliação contínua também da infraestrutura. Ainda não há previsão de quando o escoamento da safra vai ocorrer sem filas de caminhões e navios. Também não há prazo para que os portos consigam cumprir a agenda de embarque. O tempo que os navios importadores esperam na costa paranaense, por exemplo, é maior que a duração de uma viagem de ida e volta para a China pelo Oceano Atlântico.
Evidentemente, a falta de infraestrutura não deve impedir a agropecuária de elevar sua produtividade e renda. A ampliação do crédito para a produção com juros subsidiados é benéfica por uma série de motivos. Aumenta a competitividade do agronegócio brasileiro, estimula a profissionalização do setor, faz girar a economia da maior parte das cidades, fortemente ligadas à economia rural.
Mas a revisão dos investimentos estruturais torna-se uma necessidade constante quando se atinge os limites da logística. No pacote que ampliou o crédito rural, só o déficit da armazenagem teve atenção – com promessa de R$ 25 bilhões a juros de 3,5% ao ano para que a iniciativa privada elimine a falta de armazéns ainda nesta década, e de R$ 500 milhões para a estrutura pública, que é subutilizada por estar obsoleta. O atraso nas obras de estradas e ferrovias e os percalços da reforma do sistema portuário ficaram de lado, como se a tática fosse resolver um problema de cada vez.
O governo elevou o orçamento do Plano Agrícola e Pecuário (PAP), destinando R$ 136 bilhões para financiar a agropecuária comercial em 2013/14, valor 18% maior que o da temporada anterior. Espera reflexos positivos no Produto Interno Bruto (PIB) e na balança comercial de 2013 e 2014. A estratégia vem sendo usada há uma década e, neste ano, ganha importância decisiva na positivação dos indicadores.
A produção de grãos vem batendo recorde atrás de recorde e não será difícil passar de 185 milhões para 190 milhões de toneladas. Houve crescimento de 18 milhões de toneladas na temporada 2012/13, conforme os números da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). As exportações do agronegócio, que atingiram US$ 99,5 bilhões nos últimos 12 meses, tendem a superar esse valor dentro de um ano com o aumento do volume embarcado e os reajustes esperados para produtos como as carnes. Esse quadro mostra que estimular o setor é optar por uma aposta que dá certo.
O Plano Safra da Agricultura Familiar, também anunciado recentemente, confirma a busca por equilíbrio econômico no campo. A elevação do orçamento do Pronaf em R$ 3 bilhões (para R$ 21 bilhões) e a ampliação da abrangência do programa tornam acessíveis financiamentos com juros baixos – de 3,5% ao ano – às unidades que faturam anualmente até R$ 360 mil. O limite, que era de R$ 160 mil ao ano, foi mais que dobrado. A expectativa é de que aumente a oferta de alimentos como leite, feijão, arroz, batata, e que haja maior equilíbrio nas tabelas dos supermercados.
A agropecuária, que projeta expansão de 9% em seu Produto Interno Bruto (PIB) em 2013, ganhou crédito para cumprir suas metas. Agora o país precisa dar lastro a esse crescimento com investimentos concretos em infraestrutura.
Portos abertos à vista - EDITORIAL FOLHA DE SP
FOLHA DE SP - 08/06
Vetos da presidente Dilma restauram espírito original da medida provisória, mas o inconfiável aliado PMDB já ameaça derrubá-los
Foram coerentes e providenciais os vetos da presidente Dilma Rousseff à Lei dos Portos votada pelo Congresso Nacional no mês passado. Serviram para desbastar arestas corporativistas e benesses empresariais que haviam restado no texto aprovado.
Reforçou-se, com isso, o fulcro da medida provisória que lhe deu origem: abrir o setor à concorrência e a novos investimentos, contra os interesses estabelecidos.
O veto à prorrogação automática dos contratos de arrendamento de áreas em portos públicos anteriores a 1993 --quando entrou em vigor a legislação ora revisada-- é acertado. Contraria, porém, operadores de ao menos 54 terminais, que queriam a garantia de renovação.
A prorrogação, argumentam, seria a forma mais rápida de destravar investimentos, ao invés de licitar tudo novamente. Os operadores já teriam R$ 10 bilhões para desembolsar.
Tal argumento é duvidoso. O governo manteve a liberdade do poder concedente de fazer renovações, se convencido de que o faria nas melhores condições possíveis. Fica, assim, em posição de vantagem para negociar melhorias com o interessado na prorrogação.
Quanto aos terminais públicos arrendados após 1993, o governo vetou a renovação antecipada --por 25 anos. A lógica é a mesma: dar força ao poder concedente para exigir mais investimentos.
A nova lei, na prática, acaba com a distinção entre carga própria e de terceiros. Com isso, dá mais liberdade de movimentação às empresas de transporte e aumenta a concorrência entre terminais.
Do lado da gestão, a MP já trazia melhorias, com regras menos cartoriais para a contratação de mão de obra nos terminais privados. A presidente, agora, completou o polimento e eliminou algumas rebarbas. Caiu com os vetos a obrigatoriedade de inscrição de trabalhadores avulsos no cadastro de portuários gerido pelo Órgão Gestor de Mão de Obra (Ogmo), assim como sua intermediação para contratação de pessoal para embarcações de navegação interior.
Se acerta agora nos vetos, o governo errou do começo ao fim na tramitação da MP que acabou aprovada pelo Congresso. Os espíritos seguem exaltados. Membros da base de apoio parlamentar do Planalto, PMDB à frente, já acusam a presidente de desrespeitar os acordos feitos para a aprovação da medida.
Os setores empresariais que dependem dos portos aguardam com ansiedade a análise dos vetos presidenciais pelo Congresso. Seria péssimo ver uma lei boa para o país ruir sob o peso de interesses paroquiais e mesquinhos.
Vetos da presidente Dilma restauram espírito original da medida provisória, mas o inconfiável aliado PMDB já ameaça derrubá-los
Foram coerentes e providenciais os vetos da presidente Dilma Rousseff à Lei dos Portos votada pelo Congresso Nacional no mês passado. Serviram para desbastar arestas corporativistas e benesses empresariais que haviam restado no texto aprovado.
Reforçou-se, com isso, o fulcro da medida provisória que lhe deu origem: abrir o setor à concorrência e a novos investimentos, contra os interesses estabelecidos.
O veto à prorrogação automática dos contratos de arrendamento de áreas em portos públicos anteriores a 1993 --quando entrou em vigor a legislação ora revisada-- é acertado. Contraria, porém, operadores de ao menos 54 terminais, que queriam a garantia de renovação.
A prorrogação, argumentam, seria a forma mais rápida de destravar investimentos, ao invés de licitar tudo novamente. Os operadores já teriam R$ 10 bilhões para desembolsar.
Tal argumento é duvidoso. O governo manteve a liberdade do poder concedente de fazer renovações, se convencido de que o faria nas melhores condições possíveis. Fica, assim, em posição de vantagem para negociar melhorias com o interessado na prorrogação.
Quanto aos terminais públicos arrendados após 1993, o governo vetou a renovação antecipada --por 25 anos. A lógica é a mesma: dar força ao poder concedente para exigir mais investimentos.
A nova lei, na prática, acaba com a distinção entre carga própria e de terceiros. Com isso, dá mais liberdade de movimentação às empresas de transporte e aumenta a concorrência entre terminais.
Do lado da gestão, a MP já trazia melhorias, com regras menos cartoriais para a contratação de mão de obra nos terminais privados. A presidente, agora, completou o polimento e eliminou algumas rebarbas. Caiu com os vetos a obrigatoriedade de inscrição de trabalhadores avulsos no cadastro de portuários gerido pelo Órgão Gestor de Mão de Obra (Ogmo), assim como sua intermediação para contratação de pessoal para embarcações de navegação interior.
Se acerta agora nos vetos, o governo errou do começo ao fim na tramitação da MP que acabou aprovada pelo Congresso. Os espíritos seguem exaltados. Membros da base de apoio parlamentar do Planalto, PMDB à frente, já acusam a presidente de desrespeitar os acordos feitos para a aprovação da medida.
Os setores empresariais que dependem dos portos aguardam com ansiedade a análise dos vetos presidenciais pelo Congresso. Seria péssimo ver uma lei boa para o país ruir sob o peso de interesses paroquiais e mesquinhos.
COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO
“O quadro brasileiro, se não é positivo, nos entusiasma”
Antonio Anastasia (PSDB), governador de Minas, e o sistema aeroportuário nacional
LULA TEM VISITADO MÉDIUM FAMOSO
O ex-presidente Lula tem se consultado com o médium João Teixeira de Faria, o “João de Deus”, da Casa Dom Inácio de Loyola, que atrai enfermos de todo o mundo a Abadiânia (GO), a 78 km de Brasília, em busca de suas cirurgia espirituais. Lula esteve com o médium há três semanas, mas não há informações sobre a natureza da visita. O ex-presidente é esperado novamente nos próximos dias.
EM DOMICÍLIO
Quando se submeteu a cirurgia para tratamento de câncer, Lula recebeu João de Deus no Hospital Sírio-Libanês.
AGRADECIMENTO
Amigos de Lula acham que ele tem ido a Abadiânia apenas para agradecer o empenho do médium na sua recuperação.
CELEBRIDADE
Após entrevistá-lo há um ano, a famosa apresentadora de TV Oprah Winfrey, dos EUA, disse ter ficado “maravilhada” com João de Deus.
NO EXTERIOR
O médium de Abadiânia atende em outros Estados e no exterior. Entre 19 e 21 de julho, ele atuará em Basel, na Suíça.
RECURSO MENSALEIRO A CAMINHO DA OEA
Eleito para a Comissão de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA), o ex-ministro Paulo Vannuchi já pode contar com um “pepino” pela frente: o possível recurso do dono do Partido da República (PR), Valdemar Costa Neto (SP), mensaleiro condenado no Supremo Tribunal Federal. Ele ameaça com um recurso alegando “cerceamento de defesa” no julgamento do mensalão.
EXPERTISE
Integrante da ala esquerdopata do primeiro governo Lula, Vannuchi foi secretário de Direitos Humanos.
INTERLOCUÇÃO
A deputada Fátima Bezerra (PT-RN) ajudou na negociação entre Prefeitura de Natal e professores para encerrar a greve da categoria.
ROLETA
A Petrobras sairá do Peru para fazer caixa, investindo mais na produção de petróleo no Brasil. É o tal medo de morrer de véspera.
VIDA NOVA
A França indicou o novo embaixador no Brasil, Denis Pietton. A mulher dele estava entre os 90 mortos num acidente aéreo da Ethiopian Airlines, em 2010 no Mediterrâneo, quando era embaixador no Líbano.
AS VOLTAS DO MUNDO
Foragido da Interpol há três anos por tráfico de órgãos entre África do Sul, Israel e Pernambuco, o israelense Gedalya Tauber, 77 anos, foi preso no aeroporto de Roma. Pagava US$ 10 mil a pobres de Recife, onde morava, diz a France Presse. Israel quer condená-lo à prisão perpétua.
A PONTE QUE PARTIU
Lula se vangloriou do “pito” em Dilma sobre o atraso na ponte entre Brasil e Guiana Francesa. A coluna avisou em 2011 que faltava acesso do lado brasileiro. Franceses atravessam de barco e jet-ski alugados.
PEQUENO NOTÁVEL
Até o minúsculo Vietnã festeja o salto de sua balança comercial com o Brasil, que aumentou 48,5% com exportações de pescado, sapatos, celulares, telefones e tecidos, superando a antes imbatível China.
REBELIÃO
O deputado João Arruda (PMDB-PR) critica que o único foco do PMDB é fazer o vice-presidente da República: “O projeto pessoal se sobrepõe ao coletivo. Assim, não elegeremos nem um terço da bancada federal”.
BRIGA INTERNA
Apesar de o vice Eduardo Pinho ser do PMDB, o governador catarinense Raimundo Colombo (PSD) terá trabalho para impedir a candidatura de Mauro Mariani (PMDB) ao governo estadual, em 2014.
CENÁRIO DIFÍCIL
Com poucas opções na Bahia, o PSDB cogita lançar ao governo, em 2014, o empresário João Gualberto, ex-prefeito de Mata de São João. O deputado Antônio Imbassahy já informou que está fora do pleito.
PELA TRANSPARÊNCIA
Abarrotada de pedidos de informação sobre o uso da cota parlamentar, a primeira-secretaria da Câmara vai capacitar os gabinetes a cadastrar as notas fiscais dos deputados. Em onze meses, dos 27,9 mil pedidos de informação, 7 mil foram sobre o chamado “cotão”.
FALA QUE EU TE ESCUTO
O presidente Barack Obama, dos EUA, garante que “ninguém ouve os telefonemas” que o governo grampeou. Dilma diz que só ouve Lula.
PODER SEM PUDOR
PALAVRA DE SEQUESTRADOR
Aspone para assuntos internacionais aleatórios do então presidente Lula, Marco Aurélio Garcia certa vez foi convidado a explicar, na Comissão de Relações Exteriores da Câmara, por que o governo não considerava terroristas os narcoguerrilheiros das Farc. O tucano Luiz Carlos Hauly (PR) provocou: "são bandidos, sequestradores e traficantes". O deputado Fernando Gabeira (RJ) pediu um aparte:
- Preciso ouvir o convidado sobre isso, mas se ele disser que não fala com sequestrador, tenho que ir embora.
Todos caíram na gargalhada: é que Gabeira participou do grupo que sequestrou o embaixador americano, nos anos 1960, durante a ditadura.
Antonio Anastasia (PSDB), governador de Minas, e o sistema aeroportuário nacional
LULA TEM VISITADO MÉDIUM FAMOSO
O ex-presidente Lula tem se consultado com o médium João Teixeira de Faria, o “João de Deus”, da Casa Dom Inácio de Loyola, que atrai enfermos de todo o mundo a Abadiânia (GO), a 78 km de Brasília, em busca de suas cirurgia espirituais. Lula esteve com o médium há três semanas, mas não há informações sobre a natureza da visita. O ex-presidente é esperado novamente nos próximos dias.
EM DOMICÍLIO
Quando se submeteu a cirurgia para tratamento de câncer, Lula recebeu João de Deus no Hospital Sírio-Libanês.
AGRADECIMENTO
Amigos de Lula acham que ele tem ido a Abadiânia apenas para agradecer o empenho do médium na sua recuperação.
CELEBRIDADE
Após entrevistá-lo há um ano, a famosa apresentadora de TV Oprah Winfrey, dos EUA, disse ter ficado “maravilhada” com João de Deus.
NO EXTERIOR
O médium de Abadiânia atende em outros Estados e no exterior. Entre 19 e 21 de julho, ele atuará em Basel, na Suíça.
RECURSO MENSALEIRO A CAMINHO DA OEA
Eleito para a Comissão de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA), o ex-ministro Paulo Vannuchi já pode contar com um “pepino” pela frente: o possível recurso do dono do Partido da República (PR), Valdemar Costa Neto (SP), mensaleiro condenado no Supremo Tribunal Federal. Ele ameaça com um recurso alegando “cerceamento de defesa” no julgamento do mensalão.
EXPERTISE
Integrante da ala esquerdopata do primeiro governo Lula, Vannuchi foi secretário de Direitos Humanos.
INTERLOCUÇÃO
A deputada Fátima Bezerra (PT-RN) ajudou na negociação entre Prefeitura de Natal e professores para encerrar a greve da categoria.
ROLETA
A Petrobras sairá do Peru para fazer caixa, investindo mais na produção de petróleo no Brasil. É o tal medo de morrer de véspera.
VIDA NOVA
A França indicou o novo embaixador no Brasil, Denis Pietton. A mulher dele estava entre os 90 mortos num acidente aéreo da Ethiopian Airlines, em 2010 no Mediterrâneo, quando era embaixador no Líbano.
AS VOLTAS DO MUNDO
Foragido da Interpol há três anos por tráfico de órgãos entre África do Sul, Israel e Pernambuco, o israelense Gedalya Tauber, 77 anos, foi preso no aeroporto de Roma. Pagava US$ 10 mil a pobres de Recife, onde morava, diz a France Presse. Israel quer condená-lo à prisão perpétua.
A PONTE QUE PARTIU
Lula se vangloriou do “pito” em Dilma sobre o atraso na ponte entre Brasil e Guiana Francesa. A coluna avisou em 2011 que faltava acesso do lado brasileiro. Franceses atravessam de barco e jet-ski alugados.
PEQUENO NOTÁVEL
Até o minúsculo Vietnã festeja o salto de sua balança comercial com o Brasil, que aumentou 48,5% com exportações de pescado, sapatos, celulares, telefones e tecidos, superando a antes imbatível China.
REBELIÃO
O deputado João Arruda (PMDB-PR) critica que o único foco do PMDB é fazer o vice-presidente da República: “O projeto pessoal se sobrepõe ao coletivo. Assim, não elegeremos nem um terço da bancada federal”.
BRIGA INTERNA
Apesar de o vice Eduardo Pinho ser do PMDB, o governador catarinense Raimundo Colombo (PSD) terá trabalho para impedir a candidatura de Mauro Mariani (PMDB) ao governo estadual, em 2014.
CENÁRIO DIFÍCIL
Com poucas opções na Bahia, o PSDB cogita lançar ao governo, em 2014, o empresário João Gualberto, ex-prefeito de Mata de São João. O deputado Antônio Imbassahy já informou que está fora do pleito.
PELA TRANSPARÊNCIA
Abarrotada de pedidos de informação sobre o uso da cota parlamentar, a primeira-secretaria da Câmara vai capacitar os gabinetes a cadastrar as notas fiscais dos deputados. Em onze meses, dos 27,9 mil pedidos de informação, 7 mil foram sobre o chamado “cotão”.
FALA QUE EU TE ESCUTO
O presidente Barack Obama, dos EUA, garante que “ninguém ouve os telefonemas” que o governo grampeou. Dilma diz que só ouve Lula.
PODER SEM PUDOR
PALAVRA DE SEQUESTRADOR
Aspone para assuntos internacionais aleatórios do então presidente Lula, Marco Aurélio Garcia certa vez foi convidado a explicar, na Comissão de Relações Exteriores da Câmara, por que o governo não considerava terroristas os narcoguerrilheiros das Farc. O tucano Luiz Carlos Hauly (PR) provocou: "são bandidos, sequestradores e traficantes". O deputado Fernando Gabeira (RJ) pediu um aparte:
- Preciso ouvir o convidado sobre isso, mas se ele disser que não fala com sequestrador, tenho que ir embora.
Todos caíram na gargalhada: é que Gabeira participou do grupo que sequestrou o embaixador americano, nos anos 1960, durante a ditadura.
SÁBADO NOS JORNAIS
- Globo: Tensão fundiária: Embrapa acusa Funai de demarcar terra sem índio
- Folha: Obama defende vigiar usuários de internet e ligações
- Estadão: Protesto fecha a Marginal e lentidão chega a 226 km
- Correio: Obama diz que terror justifica “Big Brother”
- Estado de Minas: Cofins em obras por mais de 30 anos
- Zero Hora: Após alerta de agência de risco, bolsa cai e dólar tem nova alta
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