segunda-feira, julho 15, 2013

O poste em curto-circuito - ROBERTO POMPEU DE TOLEDO

REVISTA VEJA


A crise da presidente Dilma Rousseff expõe os limites da teoria do poste. Não foi o ex-presidente Lula quem inventou o poste. Se a memória não falha, já nos idos de 1974, nas eleições para o Senado que determinaram o início da decadência da ditadura, colou-se o apelido de “postes” nos eleitos ao embalo da súbita e surpreendente onda oposicionista. O que Lula fez foi exacerbar a teoria e reivindicar sua aplicação como mágica pessoal. Nenhum poste gosta de ser chamado de poste, e a cortesia manda que os fazedores de postes não os chamem pelo desprestigioso apelido. No entanto, na euforia da vitória do prefeito Fernando Haddad em São Paulo, o ex-presidente disse que “de poste em poste” o Brasil se iluminaria. No caso da presente crise da presidente — porque a crise que começou nas ruas evoluiu, sim, para uma crise da presidente —, os efeitos perversos da eleição de um poste revelam-se nas seguintes evidências:

1 - O governo está sem rumo. Não é de hoje que a condução errática da economia, a demora em atacar os gargalos na infraestrutura, a nomeação e desnomeação de ministros e a dubiedade no combate à corrupção traem inexperiência que resulta em insegurança e indecisão. Nas duas últimas semanas, tais sintomas viraram febre com as sucessivas trapalhadas da Constituinte exclusiva e do plebiscito. A desconhecida Dilma, foi-nos apresentada como "gerentona”. Hoje é a gerente que não gerencia uma equipe balofa e incoerente. A dureza na cobrança e a minudência no acompanhamento do trabalho dos auxiliares eram exaltadas como qualidades. Revelaram-se defeitos. O reflexo condicionado é encobrir as insuficiências pondo a culpa na “articulação política”. A “articulação” e sua irmã gêmea, a "comunicação”, são dois gastos bodes expiatórios. Não há articulação nem comunicação que funcionem se a outra ponta não funciona. A outra ponta é o gabinete presidencial.

2 - Desaba o respeito ao governo. As vaias são o de menos. Pior é o misto de cinismo e traição que rodeia a presidente. A chamada “base aliada” esfarelou-se. Ao vácuo de liderança sucede-se a balbúrdia no Congresso. Com a esperteza de sempre, deputados investem contra o chamado “foro privilegiado” como se fosse medida moralizadora. quando o mensalão provou que o suposto “privilégio" na verdade lhes rouba o recurso às diversas instâncias e às infinitas chicanas do processo ordinário. Pior para o governo é a ameaça de se votar o tal “orçamento impositivo”, instituindo o escândalo da liberação obrigatória das já de si escandalosas emendas parlamentares. O desrespeito à presidente propicia a abertura da temporada de caça ao Erário.

3 - O poste foi feito refém. Outros postes, na política brasileira, tiveram melhor sorte. A este não se permite desligar-se do criador. Dilma já se entregou ao obrigatório ritual de encontrar-se com Lula duas vezes desde o início dos protestos. A relação ameaça assumir caráter patológico, se é quê já não assumiu. O ex-presidente não sossega de impor-se como patrono, mestre, guia e protetor. A sucessora se rende à sorte de patrocinada, discípula, guiada e protegida. É quase uma versão da “síndrome de Estocolmo”, pela qual o sequestrado acaba cativado pelo sequestrador. “Cativado” quer dizer enamorado, mas também prisioneiro. Tem-se urna presidente obrigada à reverência a uma instância superior.

O resultado é a perda da reverência que deveria inspirar.

***

Os cães, na política americana, servem para ressaltar o tipo “família”, e portanto bom caráter, de seu possuidor. Richard Nixon, acusado de apropriar-se indevidamente de fundos de campanha, em 1952, reagiu dizendo, num emotivo discurso, que o único presente recebido dos apoiadores fora o cãozinho chamado Checkers, alegria de suas filhas. O episódio passou a ser chamado de “o discurso de Checkers”. Obama, recém-eleito presidente, abriu debate público sobre que tipo de cão deveria ser dado às filhas. Ganhou o cãozinho batizado de Bo, desde então assíduo figurante nas fotos de família. No Brasil, a cachorra de Rogério Magri, ministro de Collor, ficou conhecida ao ser transportada ao veterinário em carro oficial. Agora, como revelado na VEJA da semana passada, o cachorro Juquinha, do governador Sérgio Cabral, entra no rol das celebridades caninas por pegar carona de helicóptero. Cães no Brasil denunciam caráter não tão bom de seus possuidores.


Eu ia falar de flores - LYA LUFT

REVISTA VEJA


Hoje eu ia falar de flores, pois nem só de indignação, por mais justa que seja, a gente vive. Que toda indignação, ainda que abençoada, seja na medida sensata quando é possível. E com a necessária dose de emoção, pois a emoção é um bom motor de boas causas, desde que não seja irracionalmente conduzida. Teremos ou não novas manifestações enormes; mas certamente teremos manifestações de vários grupos, profissões, indivíduos. Todo mundo quer que o Brasil melhore, e não vou mais uma vez enumerar itens como condições de trabalho, saúde, educação, segurança e dignidade — isso todos sabemos.

Mas nisso estoura a bomba: em lugar de melhorar as condições da saúde pública, com mais e melhores hospitais, melhores salários, melhores condições de trabalho e mais estímulo a quem diariamente salva vidas, eis que a classe médica é castigada — mais dois anos de estudo trabalhando obrigatoriamente no SUS (vai equivaler a uma residência?), e milhares de estrangeiros entrando sem revalidar seu diploma. “Serão supervisionados por médicos brasileiros”, dizem. Mas então nesses lugares remotos, para onde os estrangeiros serão mandados, existirão médicos brasileiros? E de onde virá a dinheirama para tudo isso — que poderia melhorar o que já existe e grita por socorro?

Mas hoje eu queria falar de flores: da solidariedade humana, por exemplo. Dos que acompanham um amigo em sua aflição; que doam parte de seus bens a causas boas; que trabalham cuidando dos aflitos, e doentes — mesmo ganhando mal, e sem o necessário para que tudo saia bem; os que pensam e refletem sobre o valor da vida. Falar sobre uma entrevista com o senador Pedro Simon, o Pedro, como dizemos por aqui, imagem do político honrado possível. Nesse mar de desalento atual, quando se mente e se promete em tamanha profusão, ver e ouvir essa entrevista foi um alento. Não convivo com ele, tenho vagos contatos com sua família, acompanhei um pouco suas tragédias pessoais e, com enorme admiração, também sua transformação numa pessoa ainda melhor. Sua carreira política é uma raridade, como poucos outros: um bom punhado deles poderia transformar este país.

Falar de flores é também falar nas amizades: algumas me ajudaram a sobreviver a dramas pessoais quando eu achava impossível, e combinava comigo mesma: “Só mais este dia. Só até a noite. Só mais 24 horas”, como os anônimos heróis do AA que às vezes levam essas 24 horas por uma vida inteira. Meus filhos, então já adultos, foram e são dessas amizades inestimáveis. Falar de flores é falar daqueles que, em qualquer profissão, estudo, ramo, buscam a excelência. Não para ser admirados, não para virar celebridade ou enriquecer, mas pelo amor ao que fazem, e porque a vida merece, eles mesmos merecem buscar o melhor. Sem esquecer o tempo de amar e curtir a vida, jamais sendo como alguém que me disse certa vez: “Eu não tenho tido nem o tempo de uma risada”, e me deu vontade de pegar no colo.

Falar de flores é falar das rosas do jardim de minha mãe, com nomes solenes e perfumes inesquecíveis. É falar de uma infância simples e protegida numa cidade entre morros azuis, onde todo mundo se conhecia, tudo parecia tão fácil, tão certo e definitivo: a ideia de perda e finitude não existia. Mas é também falar de coragem e coerência. Conheci pessoas que por suas ideias sacrificavam uma forma de vida que estava à sua disposição — porém elas preferiam a coerência: não o carrão do ano, não o hotel de luxo, não as festas mais chiques, não as gentes famosas, o dinheiro e o poder, mas o humano.

No meio dos milhares de brasileiros que nestes dias saem às ruas mostrando seu descontentamento, sua indignação ou sua esperança, a grande maioria é assim: busca o que é digno, e justo, o que foi prometido e não cumprido, o que é necessário para se orgulhar do país. para trabalhar com gosto e recompensa razoável, por tudo isso que faz a vida, o trabalho, a família, o cansaço, a honradez valerem a pena. E, mesmo mencionando algum desastre, eu afinal falei de flores.


O rosto da adúltera de Jesus - LUIZ FELIPE PONDÉ

FOLHA DE SP - 15/07

A agonia entre Deus e seus eleitos molda seus rostos marcados por uma tensão moral


Então, Jesus foi abordado por um grupo de pessoas muito preocupadas com a retidão da lei. Traziam consigo uma mulher em prantos que havia sido pega em adultério. Jogada ao chão, ela tremia de medo. O povo pedia para que Jesus fizesse valer a lei: morte da adúltera por apedrejamento.

Isso foi há 2.000 anos, mas ainda hoje, no mesmo Oriente Médio, tem gente que apedreja mulheres e acha (agora, no Egito) que violentá-las nas praças seja um "direito da soberania popular revolucionária", enquanto se matam, nas mesmas praças, pelo modo ocidental de vida ou por outra forma de lei (o fundamentalismo islamita).

E assim caminha a humanidade, em ciclos, para lugar nenhum, mas com festas e crenças diferentes no meio, e demagogos a cantar...

Mas voltemos a Jesus. Fatos como esses me fazem achar que Jesus era um cabra macho. Enfrentar o povo quando este se julga movido pelo correto modo de viver é algo que exige, como dizem los hermanos, "cojones". Jesus disse que quem tivesse livre de pecado que atirasse a primeira pedra. Todos foram embora.

Esta é uma das passagens típicas do mundo bíblico na qual fica claro o tema da hipocrisia como motivação profunda daqueles que se acham arautos do bem, moral ou político.

Mas Jesus era um filósofo hebreu e estes filósofos eram diferentes dos filósofos gregos. O mundo bíblico é diferente da filosofia grega. Naquele, o "regime da verdade" (ou modo de busca da verdade) é interno e moral, na filosofia grega é externo e político.

O problema de saber se o que eu digo é verdade ou não, quando falo ou argumento, inexiste na Bíblia, porque o personagem principal do diálogo é Deus, e Ele sempre sabe de tudo, não há como mentir para Ele como há como mentir para outro homem ou para assembleia "soberana", como na filosofia ou democracia gregas. Segundo o crítico George Steiner, o Deus de Israel irrita porque está em toda parte e sabe de tudo.

Sabe-se que o advento da democracia grega levou muita gente a pensar sobre a diferença entre pura retórica, que visa o mero convencimento dos outros numa assembleia (eu acho que a democracia é 90% isso mesmo), e a verdade em si do que se fala.

O problema que nasce daí é a relatividade da verdade, dependendo do ponto de vista de quem fala e de quem ouve. Na Bíblia, o problema é se minto para mim mesmo ou não. Na esfera pública, é o tema da hipocrisia, na privada, o da verdade interior. A Bíblia criou o sujeito e as bases da psicologia profunda.

Na Bíblia, como o poder é sempre de Deus e ele é mais íntimo de mim do que sou de mim mesmo, o problema é como eu enfrento a mim mesmo. A preocupação com a lei é sempre acompanhada da atenção para com a falsidade de quem diz ser justo.

Por isso foram os hebreus que deram os primeiros passos para a descoberta do espaço interior onde vejo a distância entre mim e a verdade sobre mim mesmo, em vez de me preocupar com a verdade política, sofro com a mentira moral.

O crítico Erich Auerbach, no seu "A Cicatriz de Ulisses", parte da coletânea "Mímesis", reconhece este traço do texto hebraico: a relação de atenção e agonia entre Deus e seus eleitos molda o herói bíblico, dando a ele um rosto marcado por uma tensão moral.

Ainda na Bíblia hebraica, o rei David, o preferido de Deus, em seus belos "Salmos", O encanta justamente porque expõe seu coração sem qualquer tentativa de mentir para si mesmo.

Santo Agostinho com suas "Confissões" faz eco a David. A literatura monástica e mística medievais cultivou este espaço até seu ressurgimento no século 19 no pietismo alemão de gente como J.G. Hamann, o "mago do norte", ancestral direto do romantismo. Do romantismo e seu epicentro na verdade interior do sujeito, chegamos à psicologia profunda e à psicanálise.

A filosofia hebraica funda regimes de verdade que leva o sujeito a olhar para si mesmo ao invés de olhar para os outros. Em vez de cultivar uma filosofia política, ela cultiva uma filosofia moral da vida interior na qual não é barulho da assembleia que importa, mas o silêncio no qual os demônios desvelam nossa própria face.

Esquecer jamais - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 15/07

Terça, dia 23, quando a chacina da Candelária completa 20 anos, haverá um ato simbólico na Igreja de Santa Teresinha do Menino Jesus, em Botafogo, lembrando as oito crianças mortas no massacre.

O ato será feito, veja a coincidência, após a missa do Papa Francisco, ali perto, na Praia de Copacabana, abrindo a Jornada Mundial da Juventude.

Segue...

Além de uma procissão de jovens com cruzes e tochas, serão exibidos dois documentários sobre os meninos que viviam na Candelária.
O ato é organizado por Yvonne Bezerra de Mello, que na época fazia um trabalho social com as crianças, pela advogada Cristina Leonardo e pelo desembargador José Muiños Piñeiro Filho, que atuou como promotor no julgamento dos PMs.

Rio de fé

Aliás, Cacá Diegues vai dirigir o documentário "Rio de fé" sobre a Jornada Mundial da Juventude.
Serão cinco equipes de câmera, cada uma sob a direção de um jovem cineasta, cobrindo o encontro.

Veja só...

Um dos peregrinos que será filmado pela equipe de Cacá vem a pé, acredite, do Ceará ao Rio.
Mais de 2.500 km.

No mais

A luta pela moralidade pública é dura. Semana passada, o MP denunciou a Assembleia Legislativa de Alagoas, que depositou na conta de 61 servidores mais de 40 salários extras. Em 1989 a mesma Assembleia foi palco de escândalo semelhante: denúncias de salários de marajás, cujo combate projetou nacionalmente Collor. De lá pra cá, pouco mudou em Alagoas. É pena.

Cena carioca

Semana passada, um casal jantava no Complexo Lagoon, quando um smartphone foi arremessado da mesa em direção à Lagoa Rodrigo de Freitas.
Era o namorado indignado com a namorada que não largava o celular. O garçon correu e conseguiu resgatar o aparelho da moça.

Só que...

Tem hora que dá vontade de fazer igual a este namorado, quando uma pessoa com quem você está conversando fica mexendo no celular.
Cartas para a Redação.

Um homem carinhoso

A Ancine aprovou, semana passada, novo orçamento, de R$ 13 milhões, do filme "Um homem carinhoso", sobre Pixinguinha.
O produtor, Carlos Moletta, e a diretora, Denise Saraceni, planejam retomar as filmagens ainda este ano.

BBB do samba

A MGP Filmes, do ator Marcio Garcia, está produzindo um reality show sobre as escolas de samba do Rio.
O "Barracão S/A" vai descobrir novos carnavalescos entre candidatos de todo o Brasil.
A Grande Rio será a primeira escola a participar.

Os desenhos de Oscar

Mais de cinco mil desenhos e plantas do arquiteto Oscar Niemeyer serão digitalizados e colocados à disposição do público em quatro meses.
O trabalho, comandado pela Fundação Oscar Niemeyer, será bancado pelo Itaú Cultural e vai custar R$ 650 mil. Entre os documentos, estão as plantas (veja na ilustração), que Niemeyer fez para o projeto do Aeroporto de Brasília.

Mas...

O projeto do grande arquiteto para o aeroporto acabou não saindo do papel.
Apresentado em 1965, os militares acharam muito esquisito um aeroporto redondo.

Mercado da crise

A constatação é de um agitador da noite carioca. Antes da tragédia da boate Kiss, em Santa Maria, eram cobrados, no Rio, R$ 4 mil por um projeto de engenharia para legalizar uma casa noturna.
Agora que a fiscalização é mais rigorosa, não sai por menos de R$ 10 mil.

Susto na escada

O Ilha Plaza terá de indenizar uma criança em R$ 3 mil. A menina de 8 anos estava com a mãe no shopping quando um tranco na escada rolante prendeu seu tênis.
A decisão é da 11ª Câmara Cível do Rio.

Os quatro Franciscos

O Papa Francisco vai ganhar dia 24, quando visitar o Hospital São Francisco, na Tijuca, uma escultura de São Francisco com um doente no colo, feita pelo menor Carlos Francisco Brito.


Proibido obrigar - RUY CASTRO

FOLHA DE SP - 15/07

RIO DE JANEIRO - No Brasil, como se sabe, o que não é proibido é obrigatório. Veja a obrigatoriedade da tomada de três pinos. Até há pouco, parecia uma piada. Mas é para valer. Em breve, todas as tomadas domésticas terão de ser adaptadas para receber os fabulosos três pinos. Para ter uma ideia do alcance da medida, imagine um apartamento de quarto e sala. Entre computador, TV, geladeira, micro-ondas, liquidificador, secador de cabelo, carregador de celular, ferro de passar, ar-condicionado, abajures e repelente de pernilongo, ninguém vive sem pelo menos 30 tomadas em casa.

No Brasil, há 73 milhões de unidades consumidoras de energia. Se todas fossem quarto e sala --esqueça os escritórios, lojas e fábricas--, e à média de 30 tomadas em cada, o número de tomadas a adaptar passaria de dois trilhões. Pode-se avaliar a sensação de poder que deve estar embriagando o pai da tomada de três pinos no Brasil?

O mesmo quanto a uma medida mais antiga e já em circulação em muitos Estados: a proibição de saleiros nas mesas dos restauran- tes e sua obrigatória substituição por aqueles sachezinhos de sal. A cada 200 refeições servidas por um restaurante, 100 sachês são abertos pelos clientes, salpicados com culpa sobre a batata frita e deixados quase intatos sobre a mesa.

Agora multiplique o número de restaurantes em sua cidade pela média de refeições que eles servem por dia e, sendo generoso, divida o resultado por dois, se achar que em apenas metade delas se abrirá um sachê. O resultado será a monumental quantidade de sachês/lixo produzida por uma única cidade e cujo destino serão os lixões --ou os esgotos, os rios e o mar. E só porque alguém implicou com os saleiros.

No Brasil, por 21 anos, foi quase proibido votar. Hoje é obrigatório. Mas, com esses partidos e políticos, deveria ser proibido obrigar.

Volta, Barack - LÚCIA GUIMARÃES

O Estado de S.Paulo - 15/07

Acordei com uma certa nostalgia, presidente. Mais ou menos como a que vi nos seus olhos há dez dias, quando Malia fez 15 anos. Como crescem depressa, não? Sinto dizer que, aos 4 anos, seu governo encolheu.

A saudade do Barack original (ou imaginado?) me fez voltar às imagens arquivadas no computador. Estava plantada na mesma Times Square gelada, no momento das suas duas vitórias históricas, a câmera voltada para as expressões dos eleitores. A explosão de alegria e as lágrimas de redenção em rostos mais escuros que o seu, em novembro de 2008. O alívio, não a euforia, em 2012.

Onde foi parar o jovem ativista comunitário que andava em outra companhia em Chicago? Seus ex-colegas de Harvard hoje pedem perdão presidencial para Edward Snowden e estão mortificados com a sua coleção de siglas sombrias, PRISM, FISA, Nucleon.

Era tudo sedução? Você planejava nos trocar por uma republicana popozuda de um metro e oitenta?

Sim, você teve a oposição no seu pé e jogando sujo, mal acabaram de varrer o papel picado do Grant Park de Chicago. Mas você contou com aliados que Bill Clinton não teve. Ele foi perseguido como um cão vadio (e, convenhamos, se comportou como um cão vadio no Salão Oval) pela mídia de direita. Você, Barack, chegou a Washington no colo de uma nova geração. Eles nunca tinham votado e lhe ensinaram a usar, pela primeira vez na história, a mídia social para quebrar um odioso tabu racial deste país. A mídia de Rupert Murdoch insuflou o Tea Party mas a contrapartida do jornalismo bombástico que os americanos insistem em chamar de esquerda já estava instalada. E, como a hipocrisia é humana, não partidária, aprenderam rápido a confundir opinião com fato. Fizeram vista grossa quando ficou claro que boa parte do aparato de segurança montado nos anos de chumbo de Bush continuava intacto. Já que a CIA não podia mais prender em segredo e torturar, o jeito foi fazer chover bombas de drones sobre civis em locais remotos.

Você foi canonizado, cantou blues em talk-shows, jogou basquete com os grandes. Seu exame de consciência, calculado ou não, que resultou na declaração de apoio ao casamento gay, já lhe garante uma vaga na galeria dos direitos civis. Sua briga pelo seguro saúde para todos, embora marcada por concessões aos variados lobbies corporativos, pode se revelar o seu maior legado.

Quando você disse que não ia se curvar ao ciclo de notícias de 24 horas, pensamos que preservava sua dignidade no circo em que se transformou parte do jornalismo. Não imaginávamos que ia usar uma lei criada na 1ª Guerra Mundial, o Ato de Espionagem, para ir atrás de 'whistleblowers', gente que vazou informação para jornalistas, seis vezes. Em toda a história americana, este ato só foi invocado três vezes. Quando foi que a alergia aos jornalistas se transformou em desprezo pelo jornalismo investigativo?

Sabe o que mais você tem em comum com seu antecessor? Bush também desperdiçou a solidariedade planetária com o povo americano, logo depois do 11 de Setembro. Graças ao pinga pinga de revelações sobre drones, à alimentação forçada de presos em Guantánamo e agora à temporada de revelações sobre a Agência de Segurança Nacional, o sentimento antiamericano é o mais alto desde a guerra no Iraque. Quem diz isso é o Financial Times, que está longe de ser um bastião de simpatizantes da Al-Qaeda.

E o vexame internacional com o avião de Evo Morales? Está contente, Barack? Agora, tiranos latinos que não toleram dissidência em casa se lambuzam na glória da opressão do Tio Sam. E qualquer um, no lugar da Dilma, estaria aliviado com a capa da revista Época de ontem, tuitada para milhões.

Em maio passado, você pediu um diálogo nacional sobre os limites do seu poder e admitiu que o país não pode ficar em estado permanente de guerra ao terrorismo. Por que, então, esta guerra a Edward Snowden que já lhe custou boa parte da confiança dos eleitores jovens?

Há três anos, 25% dos americanos diziam que o país tinha ido longe demais restringindo liberdades civis em nome da segurança. Na semana passada, 45% responderam que o governo já passou da conta. Quem diria que um nerd com seus pen drives, no setor de trânsito do aeroporto de Moscou, poderia provocar esta mudança? Yes, he can.

CÓDIGO ESTATAL - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 15/07

Depois de mais de uma década mofando em alguma gaveta do Congresso, será votado nesta semana o projeto que cria a lei de defesa dos usuários de serviços públicos. Será uma espécie de Código de Defesa do Consumidor específico para órgãos estatais e concessionários.

RESPONSÁVEL
O projeto define uma série de obrigações --e mais: prevê que os prestadores de serviços "responderão pelos danos que seus agentes causarem ao usuário". Até o STF (Supremo Tribunal Federal) já tinha dado prazo para que os parlamentares criassem a lei, prevista em emenda constitucional de 1998.

ESPECIAL
A aposentadoria especial para garçons também deve ser aprovada. O tempo obrigatório de contribuição ao INSS cai de 35 anos (homens) e 30 anos (mulheres) para 25 anos. Já a PEC das domésticas fica para agosto.

BRINDE
E o presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), vai se casar em setembro. Há dois anos, ele ficou noivo da blogueira potiguar Laurita Arruda Câmara.

Na festa de aniversário dela, colocou uma aliança Cartier dentro de uma taça de champanhe para fazer surpresa na hora do brinde.

BRINDE 2
Outro parlamentar do Rio Grande do Norte que está com casamento marcado é Felipe Maia (DEM-RN), filho do senador José Agripino Maia, presidente do DEM. Ele mandou fechar o resort Txai, na Bahia, para a festa. Seus convidados ficarão nos 40 bangalôs e suítes do lugar, onde já se hospedaram, por exemplo, o ex-presidente da França Nicolas Sarkozy e sua mulher, Carla Bruni.

BRINDE 3
Cada noite num bangalô do Txai sai por R$ 2.120, mais 15% de taxa de serviço. No apartamento mais simples, a diária é de R$ 1.140.

CINEBIOGRAFIA
Anna Muylaert e L.G. Bayão escreveram juntos o roteiro do filme "Irmã Dulce". Segundo a produtora Iafa Britz, 70% dos R$ 9 milhões orçados para o longa já foram captados e as filmagens ocorrem em novembro e dezembro. O filme, com direção de César Rodrigues ("Uma Professora Muito Maluquinha") deve estrear no segundo semestre de 2014.

VOZ DAS RUAS
Carta que será enviada à CNV (Comissão Nacional da Verdade) nesta semana critica as "divergências internas" e a "morosidade" dos trabalhos. O documento é assinado por vítimas da ditadura e por entidades como a Comissão de Familiares dos Mortos e Desaparecidos Políticos e o Comitê Paulista pela Memória, Verdade e Justiça.

VOZ DAS RUAS 2
Os autores pedem o retorno de Cláudio Fonteles, que deixou a comissão no mês passado, e a substituição de Gilson Dipp, afastado desde setembro por motivos de saúde. Querem ainda "a garantia de que todos os integrantes estejam voltados prioritária e realmente" para a CNV.

VOZ DAS RUAS 3
Rosa Cardoso, coordenadora da comissão, informa que "a CNV está sensível aos reclamos da sociedade civil". E que a carta será encaminhada a Dilma Rousseff. Afirma também concordar com outro pedido dos autores: a realização de mais audiências públicas para ouvir agentes da repressão e vítimas.

DUPLA JORNADA
Coautora de "Joia Rara", próxima novela das 6 da Globo, Thelma Guedes refaz a parceria de sucesso com Duca Rachid. Depois de "Cordel Encantando", a dupla mergulha agora no universo do budismo.

"A história começa com uma avalanche no topo do Everest", conta Thelma. Na companhia dos diretores Ricardo Waddington e Amora Mautner, as autoras passaram três semanas no Tibet.

O novo folhetim estreia em setembro e terá Bruno Gagliasso e Bianca Bin como protagonistas.

Thelma também trabalha no momento em um roteiro de um longa. Assina, em parceria com o marido, o escritor Eromar Bomfim, a adaptação para o cinema de "O Olho da Rua", primeiro romance dele.

CINEMA 'CALIENTE'
A abertura da 8ª edição do Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo, no Memorial da América Latina, reuniu o diretor de teatro e cinema Mauro Baptista Vedia, a cantora cubana Cucu Diamantes, o cineasta e homenageado da noite, Guido Araújo, e o crítico de cinema Celso Sabadin.

A ARTE IMITA A ARTE
Os atores Marisa Orth, Tuna Dwek, Ilana Kaplan, Alessandra Maestrini e Cláudio Curi foram ao CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil) para assistir à estreia da peça "Eu Não Dava Praquilo", de Cassio Scapin, baseada em Myrian Muniz.

CURTO-CIRCUITO
Os jornalistas Fernando Morais e Lira Neto falam sobre biografias, hoje, às 19h30, na Fnac Pinheiros.

A pré-estreia para convidados da comédia nacional "O Concurso" é hoje no Cinemark do shopping Eldorado, às 21h30. 14 anos.

O Bailinho da Bastille, promovido pelo Consulado da França, começa às 18h de hoje, no Sesc Pompeia. Só para convidados.

Nova reação de manada no horizonte - LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS

VALOR ECONÔMICO - 15/07

Um dos analistas das coisas da economia americana que mais respeito surpreendeu-me ao mudar recentemente sua posição em relação às próximas ações do Fed [o Banco Central americano]. Para ele, o Fed vai declarar o início do processo de redução dos estímulos monetários em sua próxima reunião, em setembro próximo. Até agora defendia que o Fomc - braço operacional da política monetária nos Estados Unidos - deveria esperar um pouco mais para tomar essa decisão. Seu argumento principal, na defesa da continuidade do chamado QE, é que o ajuste fiscal em andamento na terra do Tio Sam tem mantido o crescimento da economia bem abaixo do seu potencial. Reforçava essa sua posição o fato de que a inflação na maior economia do mundo está correndo abaixo da marca de referência para o Fed, que é de 2% ao ano.
Com a publicação, na última quarta feira, das minutas da reunião do Fomc - que trouxe mais dúvidas do que esclarecimentos sobre seus próximos movimentos - Ian Shepherdon mudou suas previsões. Mesmo usando a linguagem cifrada e hermética, tão comum a esses fóruns monetários oficiais, onde se misturam expressões como "muitos", "alguns" e a "maioria" sem uma sequência lógica, o relatório termina com uma decisão democrática: a maioria dos membros concorda em começar a redução dos estímulos monetários até o fim do ano, se a economia continuar a crescer na velocidade estimada pelo Fed.
Sacramentado - pelo menos para a maioria do mercado - o começo do fim dessa experiência monetária ímpar na maior economia do mundo, os investidores começam a se preparar para a volta à normalidade na estrutura de juros dos títulos denominados em dólares. E a grande questão do momento é exatamente o que representará essa volta do crescimento sustentado nos Estados Unidos para as outras economias, tanto no mundo emergente como no desenvolvido.
Para muitos essa normalização deve criar um novo Tsunami Monetário, com as águas que correram nos últimos anos atrás de títulos mais exóticos - leia-se mundo emergente - na busca de algum rendimento real voltando a seu leito normal de títulos em dólares. Reforça esse sentimento o fato de que, depois de anos de recessão no mundo desenvolvido, mesmo as economias emergentes mais pujantes estão vivendo um período de vacas magras e de perda de brilho. Uma situação típica para criar de forma irracional esse novo Tsunami Monetário às avessas.
Os movimentos dos mercados nas últimas semanas mostram que esta primeira leitura foi dominante logo de início até nos mercados do primeiro mundo. A força das águas foi tanta que - durante um curto período de dias - até mesmo as cotações das ações americanas caíram mais de 4%, pois os juros elevados tirariam os investidores de mercados de maior risco. Esse movimento durou uns poucos segundos de insanidade e logo Wall Street retomou seu movimento de alta, sobrando para os mercados de câmbio e ações no mundo emergente a fúria das vendas de investidores assustados. Ainda nesta semana, talvez assustado com a reação a seu discurso mais duro, o presidente do Fed, Ben Bernanke, veio a público qualificar suas palavras, no melhor estilo do "senta que o leão é manso".
Recentemente algumas vozes mais tradicionais começaram a refletir sobre outras consequências que a normalização da economia americana, depois de quase 6 anos de uma crise infernal, poderia trazer para o mundo. Algumas perguntas inteligentes começaram a ser ouvidas nas salas de operações das grandes e médias instituições financeiras espalhadas pelo mundo. Se foi a crise bancária americana a grande fagulha que levou o mundo todo a uma situação de quase catatonismo financeiro, não será possível que a volta do crescimento nos Estados Unidos se espalhe pelo mundo todo e recoloque de pé novamente outras economias?
Não será a força da economia americana suficiente para permitir que, mesmo a Europa doente e o Japão revivido pelo dólar valendo 100 yens, voltem a crescer? O mesmo não pode ocorrer com a China que vive agora um ajuste estrutural na sua economia, com o foco das ações do governo voltado para explorar um já gigantesco mercado interno? Com a demanda americana trazendo alguma recuperação a suas exportações do país de Mao, esse processo de reciclagem será facilitado e, talvez, aceito com maior credibilidade pelos mercados. Esta me parece ser uma forma realista e construtiva de encarar a mudança na política monetária americana como início de uma volta a um período em que o crescimento econômico era o padrão para todos nós.
Entendo que os últimos anos trouxeram uma nova geração de analistas e especuladores aos mercados, treinados a reagir com violentos movimentos de venda dos chamados ativos de risco a qualquer sinal de crise. Como citei acima e usando o índice FTSE 100 da Bolsa de Londres como referência, o mercado de ações caiu 5% ao ser divulgado o texto da última decisão do Fomc e na última sexta feira tinha subido mais de 8% superando em 2% o nível anterior. Uma oscilação dessa dimensão, em um mercado com a volatilidade do FTSE100 é um sinal claro dessa verdadeira "malaise" profissional que vivemos hoje. Por esta razão a volta a tempos mais normais nos mercados vai ter que passar ainda por muita gente perdendo muito dinheiro nesta corrida maluca de correr atrás do caos.

Preços de passagens punem o turismo - RONALD ÁZARO

O GLOBO - 15/07

Estamos assistindo a uma profunda transformação no setor da aviação comercial brasileira nos últimos doze meses. Forma-se uma perigosa equação: aumento de preços e redução da oferta. A nossa dependência do modal aéreo para o turismo doméstico de média e longa distâncias fez acender as luzes de perigo na última reunião do Fórum Nacional de Secretários e Dirigentes Estaduais de Turismo - Fornatur, realizada em Brasília no último dia 27 de junho. Com a presença do ministro do Turismo, Gastão Vieira, e do presidente da Embratur, Flavio Dino, os secretários de todo o Brasil revelaram a sua apreensão na perda de competitividade do destino Brasil por conta da disparada de preços do setor aéreo.

Ao contrário do que acham a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e a própria Secretaria Nacional de Aviação Civil, que classificam o atual período como reacomodação tarifária, o que assistimos é uma verdadeira formação de cartel do setor. As empresas líderes estão simultaneamente reduzindo a oferta e aumentando os preços de forma tão irracional que na véspera da final da Copa das Confederações um bilhete Brasília-Rio foi vendido a inacreditáveis R$ 3 mil. Um único trecho. A volta não saía por menos de R$ 1.500 na segunda-feira.

Os valores superiores a quatro dígitos, ou seja, acima de mil reais por trecho, já foram incorporados à realidade dos passageiros em rotas com duração máxima de uma hora e meia.

As companhias aéreas são concessionárias de um serviço público. Cabe, portanto, ao poder concedente zelar pelo equilíbrio econômico dos concessionários e pelo custo Brasil, apontado como vilão. Só que as empresas têm reagido de forma estranha a qualquer aceno de incentivo. O governo federal promoveu uma redução na folha de pagamento das aéreas, que deverá gerar uma economia de R$ 500 milhões só este ano, e nada aconteceu. Os estados, muitas vezes incentivados pelos secretários de Turismo, promoveram a redução do ICMS no combustível dos aviões. No entanto, além de não ter havido a queda das tarifas, estão sendo penalizados com redução de voos.

Infelizmente a nossa política para aviação parece que tem sido a de não ter política pública nenhuma para o setor. Aposta-se na liberdade tarifária, sem um teto racional. É como se vivêssemos em um "território de ninguém" onde cada um faz e cobra o que quer. Vale lembrar que no trem-bala a tarifa não poderá custar mais de R$ 250.

Nas ligações internacionais o problema é ainda mais grave. As empresas apostam no emissivo brasileiro que lota os aviões e são poucos os espaços comercializados do exterior para o Brasil. As grandes operadoras estrangeiras estão com dificuldades de bloquear lugares para o nosso país e, quando conseguem, as tarifas estão acima da média internacional. Estamos perdendo competitividade para outros destinos concorrentes.

Nas últimas semanas a mídia focou muito a subida das tarifas hoteleiras nas cidades-sede da Copa das Confederações. Um problema que está sendo equacionado com o aumento da oferta hoteleira nos próximos anos, especialmente no Rio, e com a identificação do verdadeiro vilão, já que o sobrepreço cobrado pela Fifa chegou a 45% do preço negociado pelos hotéis. O caso do gargalo aéreo é mais grave. Na pesquisa realizada com os participantes estrangeiros da Copa das Confederações, a maior queixa foi o custo das passagens de avião.

Terça-feira passada, a Embratur realizou um seminário para discutir a competitividade do setor de turismo e o impacto no turismo doméstico e internacional. Foi a oportunidade de se colocar o dedo na ferida e exigir medidas emergenciais para o setor aéreo. O turismo não pode ser simultaneamente coadjuvante e a maior vítima deste cenário tenebroso que, além de afastar as classes emergentes do transporte aéreo, começa agora a expulsar a própria classe média dos voos de carreira.

Empresas do setor elétrico: valor para quem? - CLAUDIO J. D. SALES

CORREIO BRAZILIENSE - 15/07
Ao contrário do que muitos pensam, a maior parte da riqueza gerada pelas concessionárias de energia não fica com seus investidores, nem seus credores, nem seus funcionários. O maior beneficiário é o governo.
Desde 2008, as demonstrações financeiras padronizadas requeridas pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) das companhias abertas incluem a seção Demonstração do Valor Agregado. O objetivo é calcular a riqueza gerada pela empresa e apresentar como essa riqueza é distribuída entre os diversos agentes: investidores, financiadores, trabalhadores e governo.

A Demonstração de Valor Agregado das empresas do setor elétrico revela que a riqueza gerada pelas empresas elétricas não é preponderantemente destinada aos agentes diretamente responsáveis pela produção de energia: investidores (que aportam o capital e assumem os riscos de negócio, esperando retornos futuros) e trabalhadores (que aportam seu trabalho em troca de remuneração) não são aqueles que mais se beneficiam. O maior beneficiário é o governo, que na média das 39 empresas de geração, transmissão e distribuição examinadas, abocanhou 68% do valor agregado em 2012. Os financiadores ficaram com 16% do valor agregado e os trabalhadores com 14%. Enquanto isso, os investidores amargaram perdas em 2013 equivalentes a 1% do valor agregado.

Aliás, esse é um ponto importante a ser ressaltado. Os investidores - com os trabalhadores - são os stakeholders que geralmente sentem os contratempos das empresas de forma mais aguda. É por isso que quando se analisa a rentabilidade dos investidores é essencial examinar o seu desempenho ao longo do tempo, pois os rendimentos são muito voláteis - períodos de alto rendimento geralmente são seguidos de períodos de baixos rendimentos ou de prejuízos.

Alguns poderão argumentar que a elevada parcela do valor agregado absorvida pelo governo foi fruto de uma anomalia de um ano atípico. Afinal, os resultados de 2012 foram impactados pelo arrocho capitaneado pelo governo na prorrogação de contratos de concessão sob a égide da Medida Provisória nº 579 e pela draconiana revisão tarifária realizada pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Certamente esses fatores tiveram um impacto muito negativo sobre as empresas, mas a distribuição do valor agregado de anos anteriores mantém o mesmo padrão. Em 2011, ano que não foi contaminado pelo intervencionismo governamental, mais que a metade do valor agregado (58%) foi absorvida pelo governo.

Tamanha apropriação governamental evidencia a elevada carga de tributos sobre a energia elétrica, fenômeno que distorce o processo produtivo e compromete a eficiência e a competividade da economia.

É hora de repensar a tributação sobre a conta de luz. O governo federal é a esfera que mais contribuiu para o aumento da carga tributária sobre a energia nos últimos anos, ao elevar as alíquotas de PIS/Pasep e da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins). Os estados também precisam fazer a sua parte e diminuir o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), tributo que mais onera a tarifa elétrica.

A análise agregada de arrecadação ao longo de 2012 divulgada pelo Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz) revela que os cofres estaduais receberam mais de R$ 325 bilhões em ICMS, sendo que, desse total, a energia elétrica respondeu por R$ 27,4 bilhões, o equivalente a 8,4% do total. A participação de energia elétrica na arrecadação do ICMS é uma gritante distorção se lembrarmos que o setor elétrico responde por apenas 2,2% do PIB. Em outras palavras, os fiscos estaduais estão sobretaxando o setor elétrico.

As recentes manifestações que invadiram as ruas evidenciam um clima de insatisfação. Faz parte desse sentimento a percepção de que pagamos muitos impostos e que essa montanha de dinheiro não é bem empregada.

Desonerar a energia elétrica por meio da redução do PIS/Cofins e do ICMS incidentes na conta de luz é uma resposta objetiva ao clamor das ruas e teria efeitos positivos imediatos para toda a população e toda a economia.

O esgotamento do modelo energético mundial - JOSÉ GOLDEMBERG

ESTADÃO - 15/07

Há uma forte analogia entre a inquietação da sociedade que se manifesta hoje nas ruas das cidades brasileiras, na Turquia e em outros países com o que está acontecendo na área de energia.

Característica geral dessas manifestações é o inconformismo com a estagnação do progresso, a indignação com a transformação da política em balcão de negócios e vantagens pessoais e a ausência do otimismo que galvaniza as pessoas em torno dos seus governos. Problemas análogos ocorrem há anos no setor de energia baseado no uso de combustíveis fósseis (carvão, petróleo e gás), que permitiram um desenvolvimento técnico e econômico sem precedentes na História da humanidade, mas, após mais de um século de grandes avanços, dá claramente sinais de exaustão.

As razões para tal são basicamente as seguintes:

O esgotamento progressivo dos combustíveis fósseis. Exemplo desse fato é o que está acontecendo com os poços petrolíferos da Bacia de Campos depois de 25 anos de produção. Essa é uma característica geral da exploração do petróleo e do gás natural em todos os países produtores, com a exceção dos do Oriente Médio.

As reservas excepcionais de petróleo e gás dessa região aumentaram a dependência mundial das exportações da Arábia Saudita, do Iraque, do Irã e outros, criando graves problemas geopolíticos que têm dado origem a instabilidades políticas e até guerras.

A poluição ambiental que tem origem no uso dos combustíveis fósseis e sufoca as grandes cidades da China, do México e outras. Não se trata apenas de poluição local, mas também da emissão de gases de efeito estufa, que provocam o aquecimento global. Esse é um problema que afeta a todos, mesmo fora dos locais e das cidades onde se origina.

Diversos governos têm procurado, ativamente, soluções novas que lhes permitam enfrentar essas questões.

Os Estados Unidos estão atacando os problemas de duas maneiras. A primeira delas é a busca frenética por gás de xisto para produzir mais energia, apesar das inquietações a respeito de que o sucesso dessa tecnologia não seja uma solução duradoura. Tanto é assim que outros países - como a França, por exemplo - não estão apostando nessa opção. Por outro lado, o presidente Barack Obama decidiu enfrentar a oposição republicana no Congresso e poderosos grupos econômicos e está tomando medidas administrativas para reduzir as emissões resultantes da queima de combustíveis fósseis, principalmente do carvão mineral.

Na Europa é a adoção de metas - e um calendário para cumpri-las - de redução das emissões de gases-estufa, quer por meio de maior eficiência no uso de energia ou no uso de energias renováveis, que tem sido amplamente beneficiado por instrumentos fiscais.

Na China é um amplo programa de redução da poluição, que deve ser incorporado no próximo plano quinquenal. O problema nesse país é que a maior parte da eletricidade é gerada em usinas termoelétricas que queimam carvão de baixa qualidade. Ao melhorar a eficiência dessas usinas ou optar por gerar eletricidade com energias renováveis, pode resolver dois problemas: o da poluição local, que é muito sério na China, e o da poluição global.

E o que está fazendo o governo brasileiro para enfrentar esses problemas?

Ação mais visível do governo federal ocorre no setor de petróleo, com a exploração do pré-sal, no qual o governo está jogando todas as suas fichas, apesar dos enormes desafios técnicos e econômicos envolvidos. Pior ainda, desperdiçou cinco anos sem a realização de leilões que poderiam atrair sócios estrangeiros que dividiriam os investimentos e os riscos com os quais a Petrobrás não consegue arcar sozinha.

No setor de eletricidade, o sistema adotado de leilões - baseado numa duvidosa teoria de "modicidade tarifária" - pode ser atraente como diretriz política para conseguir popularidade e votos, mas não é racional. Diferentes formas de energia têm custos e características diferentes e devem ser tratadas de maneira distinta. Se isso fosse feito corretamente, milhões de quilowatts de energia elétrica estariam sendo produzidos usando bagaço das usinas de açúcar e álcool. Como isso não foi feito, a eletricidade passou a ser gerada usando gás e carvão, com custos elevados que, na prática, tornam inviável a tentativa de baratear o custo da energia elétrica. Este verdadeiro "tiro no pé" acabou por, praticamente, inviabilizar também a Eletrobrás, cujas ações despencaram em queda livre. Além disso, o gerenciamento dos parques de geração eólica demonstraram falhas, bem como a construção de usinas hidrelétricas sem reservatórios.

O governo cogita agora de estimular o uso do carvão em usinas termoelétricas - na contramão do que estão fazendo a China e os Estados Unidos - e até energia nuclear!

O fato de os Estados Unidos e a China - que juntos emitem mais de 50% dos gases poluentes - decidirem unilateralmente adotar medidas para reduzir tais emissões prenuncia um acordo entre eles, que vai deixar o Brasil isolado na sua política climática, a qual tem sido sempre a de se recusar a tomar medidas sérias nessa área, usando o argumento de que elas impediriam o crescimento econômico do País.

Exceto pela redução do desmatamento na Amazônia, a política climática brasileira está paralisada. Até mesmo a liderança que o Estado de São Paulo assumiu nessa área está encontrando resistências da indústria, que assim adia mais ainda a sua modernização e o aumento da produtividade, essenciais para competir no mercado internacional.

Antes que seja tarde seria bom que se ouvisse, nessas questões, a voz de técnicos independentes, que neste caso representa a "voz das ruas", para evitar repetir o que está acontecendo em outras áreas.

O plebiscito e a democracia - LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA

FOLHA DE SP - 15/07

A reforma não resolverá a desmoralização política brasileira, mas responde às manifestações


O governo da presidente Dilma Rousseff enfrenta momentos difíceis, definidos pelo baixo crescimento com aumento da inflação e pelas manifestações da classe média contra a classe política, que colocaram em cheque seu governo e causaram queda da sua popularidade.

Diante desse quadro, a presidente reagiu bem. Entre outras medidas, propôs um plebiscito para saber se o povo quer que o financiamento de campanhas eleitorais seja público ou privado e se quer manter o voto proporcional ou mudá-lo para distrital ou misto. Essa é uma resposta direta ao centro das manifestações populares.

Uma assembleia constituinte convocada exclusivamente para emendar a Constituição nessas questões é uma boa iniciativa. Há muito são discutidas pelos políticos, mas eles não se mostram capazes de respondê-las. Não é surpreendente que os conservadores e os políticos a tenham rejeitado. Para os conservadores é uma ameaça à sua capacidade de "comprar" os políticos ao financiá-los, e, para os políticos, é uma mudança no jogo eleitoral que poderá afetá-los.

Quando cai a popularidade de um presidente, cai também o seu poder. Não o seu poder formal, mas seu poder efetivo, sua liderança. Parte dessa popularidade será recuperada, porque os ativos da presidente --sua firmeza, seus padrões éticos, seu bom conhecimento de economia e dos problemas da infraestrutura brasileira-- continuam a jogar a seu favor, mas agora parecem insuficientes para ela superar a crise política e os resultados econômicos medíocres.

Esses resultados não poderiam ser diferentes, dado o fato de que herdou uma taxa de câmbio altamente sobreapreciada, incompatível com a retomada do crescimento.

No primeiro ano de governo, a presidente tentou enfrentar esse problema, mas de maneira insuficiente. Levou a taxa de câmbio de R$ 1,65 para R$ 2,00 por dólar, quando a taxa de câmbio "necessária" (aquela que garante competitividade para as empresas industriais competentes) é de cerca de R$ 2,75 por dólar.

Não foi além na depreciação porque tanto os economistas identificados com a ortodoxia liberal quanto os identificados com o keynesianismo vulgar, que, juntos, dominam amplamente a definição de políticas econômicas no Brasil, embora se critiquem mutuamente, deram-se por satisfeitos com a depreciação alcançada. Os dois apoiam a "preferência pelo consumo imediato" e o baixo nível de investimento que resultam de uma taxa de câmbio apreciada.

Dado esse acordo, no primeiro ano de seu governo não havia condições para a presidente fazer a mudança de matriz macroeconômica necessária para a retomada do desenvolvimento; muito menos há agora.

Que fazer então? De imediato, a melhor coisa é retomar o ajuste fiscal. O desajuste fiscal não é o problema básico do Brasil, mas a política fiscal é o único espaço de política econômica que está hoje aberto para o governo.

E lutar pelo plebiscito. A reforma política não resolverá a desmoralização a que foi sujeita a política brasileira nos últimos dez anos. Mas é uma resposta objetiva às manifestações. E uma tentativa séria de aperfeiçoar o sistema eleitoral.

Os espiões que entraram na internet - SÉRGIO LEO

VALOR ECONÔMICO - 15/07

Uma verdade inconveniente voltou ao debate público com o escândalo de espionagem que escancarou um segredo de polichinelo: o da vigilância exercida sobre a internet e comunicações digitais pelos organismos de inteligência dos Estados Unidos (e de outros países).
A denúncia de que órgãos de inteligência se dedicavam também a espionar conversas sobre temas comerciais e econômicos chamou a atenção, no Congresso brasileiro, para a relação íntima entre interesses dos Estados nacionais e as empresas que têm sede em seus países. No mundo globalizado, o nacionalismo continua pesando nos negócios.
Diferentemente de países como o Brasil, que na gestão dos investimentos externos não costumam guiar-se nesses temas por considerações de segurança nacional, os Estados Unidos, por exemplo, submetem planos de investimento estrangeiro ao Comitee on Foreign Investment in the US (CFIUS), presidido pelo secretário do Tesouro, e que tem, entre seus integrantes, autoridades do Pentágono e do Departamento de Estado.
Com base em recomendações desse comitê, o presidente Barack Obama vetou, em 2012, a compra de uma usina eólica em território americano por cidadãos de origem chinesa, alegando razões de "segurança nacional".
Foi a primeira vez, em 22 anos, que um presidente americano exerceu esse direito de veto. O argumento foi a proximidade da usina com bases de treinamento naval, que realiza testes de ataques de drones, entre outros, mas a disputa de liderança entre China e EUA no setor de energia limpa deixou desconfianças de que foram outras as motivações.
Em 2011, a chinesa Huawei desistiu de comprar a companhia americana 3Leaf Systems, após ter a operação desaconselhada pelo CFIUS por temor de transferência de tecnologia às Forças Armadas chinesas. O diretor de Inteligência Nacional dos EUA, James Clapper, chegou a dizer ao Congresso que o negócio atentaria contra a segurança nacional, ao aumentar a dependência em relação a estrangeiros para "componentes-chave" do sistema de telecomunicações.
O caso mais famoso do gênero foi a oposição nos EUA ao esforço da chinesa CNOOC, em 2005, para comprar a petroleira americana Unocal, vista pelos políticos americanos como uma tentativa do governo chinês de controlar um ativo estratégico no país. Menos conhecido, porém, era o papel das companhias americanas de alcance global no sistema de segurança, que ficou evidente com as denúncias do ex-agente de inteligência Edward Snowden, e motivo até de piada das autoridades brasileiras, como a do ministro Paulo Bernardo, em comissão do Senado: "Mandar pelo Gmail? Já vai cópia para quem estiver bisbilhotando".
Apesar das preocupações, o Windows, da Microsoft, ainda tem franca presença em computadores públicos de Brasília, e não se fala em veto a empresas americanas ou de outra nacionalidade no futuro investimento em cabos de fibra óptica a serem instalados para ligar o Brasil à Europa, África e a países sul-americanos. Razoável. Classificar as preocupações levantadas pelo Congresso e pelo Executivo como "patriotada" seria demonstrar, porém, pouca compreensão, tanto da ação do governo quanto do que está em jogo.
Mais interessado em estreitar laços com os EUA que em aumentar o tamanho das divergências com um dos principais parceiros comerciais e de investimento do país, o governo brasileiro reagiu em tom até mais moderado que o de europeus, que chegaram a falar em ameaça ao acordo de livre comércio entre os americanos e a União Europeia. Dilma Rousseff condenou, como devia, a espionagem com ares de crime sob as leis nacionais, mas trabalhou com os países do Mercosul e da Unasul, por exemplo, para evitar declarações de excessivo conteúdo ideológico e pouco resultado prático.
A reação da equipe de Dilma dividiu-se em três frentes. Na primeira, diplomática, além de buscar um difícil apoio na ONU para uma censura aos maus feitos americanos, quer aproveitar a desmoralização de argumentos dos Estados Unidos, que, paradoxalmente, sempre se opuseram à democratização na gestão da internet, alegando risco de que certos países a usassem para vigiar o fluxo de informações.
Nas audiências realizadas na Comissão de Relações Exteriores no Senado, os ministros insistiram no fato de que a internet é gerida por uma instituição privada americana, a Icann, submetida a leis dos Estados Unidos. No ano passado, foi frustrada uma tentativa, no congresso da União Internacional de Telecomunicações (UIT), de mudar essa situação, mas o escândalo de espionagem poderá alterar o quadro.
A segunda frente de ação do governo, segundo um assessor de Dilma, será a investigação sobre eventual colaboração de empresas brasileiras com a espionagem, punível em lei. Trabalho da Polícia Federal. E, finalmente, discutem-se medidas preventivas. O presidente da Comissão de Assuntos Externos e Defesa Nacional do Senado, Ricardo Ferraço (PMDB-ES), crê que o escândalo facilitará a aprovação de verbas para os sistemas de defesa. Ele, como outros parlamentares, cobrou do governo medidas para evitar acesso, via espionagem, a informações privilegiadas em operações estratégicas do governo, como os leilões dos campos de petróleo do pré-sal.
A descoberta de que motivações comerciais e econômicas influem nas ações de espionagem não é nova, já na década passada foi objeto de interessante estudo e recomendações no Parlamento Europeu (relatório no site defesanet.com.br/docs/echelon). As denúncias de Snowden deram, porém, maior legitimidade às preocupações atuais com a nacionalização de equipamentos em sistemas sensíveis do setor público. O que ainda não está claro é o efeito que o caso terá sobre as empresas globais de software e hardware, agora suspeitas, nos EUA, de colaborar além do aceitável com a vigilância dos cidadãos e empresas, por difusos interesses de segurança nacional.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

FOLHA DE SP - 15/07

Lei de terceirização deve atrair capital estrangeiro
O projeto de lei que regulamenta a mão de obra terceirizada (sobre o qual trabalhadores dizem que irá precarizar as condições de emprego) deve atrair investimentos estrangeiros ao Brasil, segundo advogados da área.

O texto está em análise na Câmara dos Deputados e poderá colocar fim à determinação do Tribunal Superior do Trabalho que proíbe a terceirização de funcionários para exercer a função principal (atividade fim) da empresa.

"Isso está gerando uma insegurança jurídica, porque não há uma definição do que é atividade fim e atividade meio", diz o advogado Renato Canizares, sócio do escritório Demarest.

"Uma companhia elétrica, por exemplo, pode terceirizar o trabalho de manutenção de postes de energia elétrica? Depende da interpretação do juiz", afirma Rodrigo Takano, do Machado Meyer.

Grupos dos setores de call center e de administração já desistiram do mercado brasileiro por não saberem qual será a interpretação do Judiciário, segundo Canizares.

"Uma empresa com mais de 15 mil funcionários está aguardando a aprovação da lei para se instalar no país", diz.

"O projeto traz segurança para as companhias quanto à contratação e cria um melhor ambiente de negócios", afirma Takano, que acrescenta que terceirização não significa precarização das condições de trabalho.

Sumiço de cartas enviadas pelos Correios é maior no Maranhão
O Maranhão liderou, em números proporcionais, os extravios de correspondências dos Correios no ano passado, segundo dados obtidos pela coluna por meio da Lei de Acesso à Informação.

A cada 100 mil objetos entregues em 2012, 29 sumiram no Estado. A ECT (Empresa Brasileira dos Correios) não divulgou a quantidade total.

Rio de Janeiro foi o segundo colocado, com 23 extravios a cada 100 mil objetos, seguido de Pernambuco (19). São Paulo teve seis, e não houve registro no Amapá e em Mato Grosso do Sul.

A média brasileira foi de 54, o que representa 0,05% das cartas e encomendas enviadas no ano passado.

Dentre todos os extravios registrados no período, 50 tiveram suspeitas de participação de empregados da ECT. Foram 31 casos em 2011, de acordo com a empresa.

Em bairros com altos índices de furtos e roubos de correspondências, é adotado um modelo de "entrega diferenciada", segundo os Correios.

A ECT não informa quais localidades compõem essa lista, alegando questões de segurança.

Em nota, a empresa afirmou que, para proteger seus funcionários e os objetos encaminhados, investe em tecnologias de rastreamento e serviços de escolta armada.

Desembarque internacional
A marca americana de decoração de luxo Holly Hunt vai abrir as portas no Brasil em agosto. A loja, que ficará em São Paulo, será a primeira da empresa fora dos Estados Unidos.

Em 2010, a grife expôs seus móveis no país para fazer um teste de mercado.

Com a boa repercussão, decidiu iniciar seus planos de expansão internacional pelo Brasil.

"Nos próximos cinco anos, o objetivo da empresa será ter lojas em outros países", diz Antonio da Motta, diretor da marca no Brasil. "As próximas inaugurações vão ser em Londres e Paris, mas ainda não temos datas definidas", afirma.

Os preços dos artigos de decoração irão variar de R$ 300 a R$ 100 mil. "Inicialmente, todos os itens serão importados, mas vamos identificar brasileiros para fazer coleções nacionais."

R$ 249 milhões
foi o faturamento da Holly Hunt em 2012

300
são os funcionários nos EUA

7
são as lojas da marca em solo americano

Queda de braço
Apenas 10% dos executivos brasileiros entrevistados pela consultoria de carreiras LHH/DBM afirmam achar que seus chefes são melhores que eles próprios em hábitos de liderança.

Os demais se consideram melhores (37%) ou pelo menos iguais (53%) aos seus superiores, mostra a pesquisa.

A diferença entre como os executivos se veem e avaliam seus chefes causa impacto significativo nos resultados operacionais das empresas, segundo Cláudio Garcia, presidente da consultoria.

"Pessoas que acham que são melhores não discutem suas ideias e acabam enviesando as decisões da companhia", afirma.

Garcia também destaca que o número de profissionais entre 30 e 38 anos que se avaliam melhor que o chefe é mais elevado (47%) em comparação com os mais velhos (31% entre 55 e 62 anos).

"Os executivos com mais tempo de trabalho passaram por mais experiências e são mais humildes", diz.

Questionados sobre o que é mais importante para um líder, os entrevistados citaram cumprimento de metas (61%), harmonização de grupo (51%) e influência (50%).

Para realizar a pesquisa, a LHH/DBM ouviu 373 pessoas.

Segmento de remédios genéricos cresce 15,3% em maio
A indústria de medicamentos genéricos registrou alta de 15,3% na venda de unidades em maio, na comparação com o mesmo mês de 2012, segundo a PróGenéricos (associação nacional do setor).

Apesar do crescimento, o número é bem mais modesto que os resultados dos meses de 2011, quando as elevações chegavam a 30%.

"A expansão de maio não é a ideal. Precisamos trabalhar a ampliação do acesso [de remédios] aos mais pobres", diz a presidente da entidade, Telma Salles.

"Os medicamentos que têm mantido o crescimento são os usados em tratamento de doenças crônicas, como diabetes e hipertensão."

Genéricos que correspondem a remédios de marcas famosas entre o consumidor brasileiro também têm impulsionado o segmento.

Do comercializado em maio, quase 5% foram de dipirona sódica, o genérico da Novalgina. O citrato de sildenafila, correspondente ao Viagra, ficou com 3,7% das vendas e o paracetamol (Tylenol) teve 2,9% de participação.

Sem... O número de cheques protestados na capital paulista cresceu 5% em junho, na comparação com o mês anterior: passou de 5.528 para 5.806, de acordo com dados do Instituto de Estudos de Protesto de Títulos.

...fundos Os cheques representaram quase 8% dos 74 mil títulos protestados no mês passado nos dez tabeliões da cidade que cuidam da área. No geral, a alta foi de 13,7%. Os cancelamentos de protestos caíram 4,5%.

O marciano, o Brasil e Aristóteles - DENIS LERRER ROSENFIELD

ESTADÃO - 15/07

Um marciano desembarcou há dias no planeta Terra e optou por conhecer o Brasil. Muito tempo atrás, antepassados dele visitaram a Grécia clássica e lá tomaram conhecimento da filosofia de Aristóteles, que os apaixonou. Levaram os manuscritos mais elaborados para Marte, deixando para os terráqueos o duro trabalho de edição de suas obras por séculos a fio. Haviam sido atraídos, particularmente, pelo princípio de não contradição, que passou a ser ensinado em todas as escolas. Mais especificamente, qualquer político deveria fazer provas duríssimas aplicando esse princípio aos assuntos públicos. Afinal, tratava-se de algo maior: a prevalência do bem comum.

Pois nosso amigo marciano ficou surpreso com o que estava acontecendo em nosso país, porque tudo o que via ele percebia como uma infração das regras mais elementares da lógica e, nesse sentido, de como entendia a política. Nas manifestações da última quinta-feira, anunciadas como "greve geral" ou como Dia Nacional de Lutas, ele não conseguia compreender o que poderia significar uma greve de movimentos sociais "organizados", como CUT e MST, aparelhados pelo PT e financiados pelos governos petistas, contra o próprio governo petista. Trocando em miúdos, isso significava uma greve do PT contra o PT. O princípio de não contradição estaria sendo infringido!

Como podia ser que, no 13.º ano de um governo petista, o PT se sentisse tão incomodado com seu próprio governo? Cansado de si mesmo? Desorientado consigo? O que diriam, então, os cidadãos confrontados com tal confusão? Como pode alguém fazer auto-oposição?

Ficou intrigado em especial ao se inteirar de uma expressão de muito uso no governo Lula e posta à prova no da presidente Dilma: a tal de "herança maldita". Não conseguia perceber bem o que significava. Em sua formação intelectual, além de Aristóteles, lera muito Descartes, quando de outra incursão de seus antepassados ao nosso planeta. Aprendera com o filósofo francês um critério de verdade baseado na clareza e distinção das ideias. Lógico como era, tratou de aplicar esse critério à expressão "herança maldita".

Qual não foi a sua estupefação ao constatar que a herança do antecessor, considerada "maldita" pelo ex-presidente Lula, fora "bendita", assegurando-lhe o êxito de seu primeiro mandato. Ficou sabendo que o primeiro governo petista mantivera as linhas básicas de sua política econômica e até social. Tinha tucanado. A lógica do governo teria sido uma e a retórica, outra. Isto é, fazia uma coisa e dizia o oposto. Não há princípio de não contradição que resista, além do problema de ordem propriamente moral de não reconhecimento.

Perseguindo ainda a clareza e a distinção das ideias, terminou por se compadecer da presidente Dilma, pois ela se viu numa sinuca de bico. Do ponto de vista moral, teve uma atitude digna ao qualificar a herança de seu próprio antecessor como "bendita", quando, na verdade, é "maldita". Está agora recolhendo seus frutos, que crescem nas ruas em manifestações autônomas. Seu discurso está, nesse sentido, impregnado de contradições, apesar de no início de seu mandato ter mantido a coerência ao reconhecer o legado de Fernando Henrique Cardoso. Aliás, de sua própria iniciativa, fez uma "faxina ética", mas depois recuou ao seguir novamente o seu antecessor.

Mas os dilemas do nosso marciano não pararam por aí. Seus princípios e critérios não cessavam de ser postos à prova - e que provação! Não conseguia atinar com o que o governo e o PT entendem por "movimentos sociais" quando confrontou duas manifestações, a monstro de semanas atrás e a esquálida de quinta-feira, esta uma caricatura daquela.

Ele mesmo, poucas décadas atrás, entrara em contato com outro grego, naturalizado francês, de nome Cornelius Castoriadis. Em privado era chamado Corneille, porém isso também o confundia por lembrar o célebre dramaturgo francês. O problema, todavia, não era esse. O que estava em questão era a distinção feita por esse filósofo entre "autonomia" e "heteronomia". Autonomia designava movimentos populares autônomos, genuínos, que brotavam da sociedade por ela mesma, lutando contra governos que os oprimiam ou não atendiam às suas reivindicações; heteronomia significava movimentos controlados por aparatos partidários e burocráticos, de uso corrente na esquerda, cujo objetivo consistia em substituir e aniquilar manifestações independentes da sociedade civil.

Ora, as manifestações de junho caracterizaram-se precisamente por ser autônomas, nascidas no seio da sociedade civil, ultrapassando qualquer "aparelho" que tenha procurado controlá-las. Foi um espetáculo de liberdade. Uma expressão da mais legítima indignação com distintos governos de diferentes partidos, sejam eles do PT, do PMDB ou do PSDB, tanto no nível federal quanto estadual e municipal.

Numa manobra de grande inabilidade, o governo federal e o PT, em vez de procurar atender à indignação generalizada dos cidadãos brasileiros, partiram para uma tentativa de cooptar e burocratizar movimentos autônomos. Puseram em pauta a heteronomia. Sindicatos financiados com recursos públicos e movimentos sociais organizados também custeados pelo governo, como o MST, usurparam a bandeira da liberdade e da moralidade. O resultado foi um fiasco total: ruas comparativamente vazias, burocratização das marchas, uniformização dos discursos e indignação fingida.

A presidente, com humildade, deveria ter reconhecido desde o início os seus erros e os de seu antecessor, resgatando o princípio de não contradição e a clareza e a distinção de ideias. Poderia ter aberto um novo caminho. Nosso amigo marciano, por sua vez, confuso, preferiu voltar ao seu planeta. Pelo menos lá reinam a coerência e a racionalidade.

Nunca antes - PAULO GUEDES

O GLOBO - 15/07
Com a economia voando, o problema da corrupção na política era simplesmente irrelevante para a maioria da população. A razoável qualidade da política econômica era como uma blindagem para malfeitos do governo. Abusos, tanto no Poder Executivo como no Congresso, foram tolerados pela grata complacência de uma nova classe média emergente.

O histórico julgamento do mensalão foi como um despertar da opinião pública, graças ao brilhante desempenho de Joaquim Barbosa à frente do Supremo Tribunal Federal. Agora, com a forte desaceleração da economia de um lado e recorrentes manifestações disparadas por redes sociais de outro, inaugura-se uma fase de baixa tolerância da opinião pública com as nossas obscuras práticas políticas.

O medíocre desempenho da economia transformou a indiferença popular em irritação incontida. A perda do poder de compra dos salários com a inflação ascendente foi como um nervo exposto tocado pela elevação das tarifas de transporte urbano. Mas a verdade é que sobem também as mensalidades escolares, os aluguéis, as despesas com alimentos, em uma alta generalizada e perversa de preços, ao mesmo tempo em que ocorre a desaceleração do crescimento, configurando a ameaça da "estagflação".

Prisioneiros da armadilha social-democrata do baixo crescimento, temos enorme dificuldade em perceber que a estagflação na economia e a corrupção na política são as duas faces de um mesmo fenômeno: um Estado hipertrofiado e disfuncional. Suas digitais são visíveis em toda parte pela ininterrupta escalada dos gastos públicos como porcentagem do PIB. Sua arquitetura pertence ao Antigo Regime, mas foi preservada por sucessivos governos de uma social-democracia obsoleta, mas hegemônica por viciosas alianças com o fisiologismo de políticos conservadores. Tiveram o mérito de democratizar os orçamentos públicos com os programas sociais de transferência de renda, mas não ousaram enfrentar os privilégios, os subsídios e as estruturas ineficientes do Antigo Regime.

A contínua expansão dos gastos públicos sob os governos militares e social-democratas causou outras dificuldades além da corrupção e do baixo crescimento. Nunca houve na História da humanidade um programa de combate à inflação que levasse tanto tempo.

Dinheiro de volta - VERA MAGALHÃES - PAINEL

FOLHA DE SP - 15/07

A Advocacia-Geral da União (AGU) ajuíza hoje uma ação contra os sócios da boate Kiss, que pegou fogo em Santa Maria (RS), em janeiro. O objetivo é o ressarcimento de R$ 1,5 milhão que deverá ser gasto pelo governo com o pagamento de benefícios previdenciários às vítimas da tragédia. Até o momento, R$ 68 mil foram destinados a 17 funcionários. Para recuperar valores já pagos aos clientes, a Procuradoria-Geral Federal agora estuda entrar com outras ações do gênero.

Exemplo Para o procurador-geral federal, Marcelo Siqueira, a importância não é só financeira. "Vamos defender que qualquer comerciante que abre seu estabelecimento ao público tem a obrigação de garantir a segurança dos frequentadores". Caso contrário, terá de arcar com as indenizações.

Jogada Deputados da base aliada querem modificar texto do Senado aprovado na semana passada que acaba com a vaga de segundo suplente de parlamentares, além de impedir que suplentes sejam parentes.

Onde pega A ideia inicial no Senado era acabar com os dois suplentes, mas, com a pressão, houve recuo e os senadores também excluíram a mudança que previa nova eleição em caso de renúncia ou morte do titular.

Apelo O ator global e "marinista" Wagner Moura gravou um vídeo amador para estimular a coleta de mais 40 mil assinaturas para a Rede Sustentabilidade. Moura diz aos espectadores que o novo partido de Marina Silva está "em sintonia com o que se tem visto nas ruas do Brasil".

Preferência O PMDB está defendendo Candido Vaccarezza (PT-SP) no comando da reforma política, e não Henrique Fontana (PT-RS). Parlamentares alegam que Fontana teve meses para colocar o projeto de pé, mas não avança por ser mais "inflexível" nas negociações.

Sinal vermelho Alguns dos principais gestores de investimento no país já projetam aumento do desemprego a partir do terceiro trimestre.

Sinal vermelho 2 Para eles, que não abrem os números, isso será um problema para a reeleição de Dilma Rousseff, que, até o momento, está lidando com PIB em baixa, mas emprego em alta.

Plano B Conglomerados da área de infraestrutura com obras no Rio intensificaram as conversas com o senador Lindbergh Farias (PT-RJ). Eles apostam que Luiz Fernando Pezão (PMDB-RJ), candidato do governador Sérgio Cabral, ficará fora do segundo turno e que, nesse caso, o PMDB apoiará Farias.

Tudo aqui A presidente Dilma Rousseff pediu que o Ministério das Comunicações encontre formas, via Marco Civil da Internet, de obrigar empresas estrangeiras como Google a armazenarem os dados de brasileiros no Brasil e não em servidores nos EUA.

Pelos ares Com o BNDES operando com o freio de mão puxado na liberação de recursos a campeões nacionais, muitas empresas estão procurando a Caixa Econômica Federal.

Pelos ares 2 O setor aéreo foi um dos que, recentemente, pediram financiamento ao banco estatal. Mas os pedidos de TAM, Gol, Avianca e Azul foram negados pelo conselho. O setor foi considerado de alto risco.

Em casa A deputada Mara Gabrilli (PSDB-SP) pedirá ao ministro Alexandre Padilha (Saúde) a alteração de uma portaria para que pacientes que respiram por aparelhos possam ser internados em domicílio. Segundo ela, isso evita gastos desnecessários com UTIs.

tiroteio
De meio expediente ele entende. No governo de Minas Gerais já era assim e, no Senado, passa metade da semana no Rio de Janeiro
DO DEPUTADO ANDRÉ VARGAS (PT-PR), ironizando declaração do senador Aécio Neves (PSDB-MG) sobre a ausência do ministro Mercadante (Educação)

Contraponto


Fracasso de público
A Câmara dos Deputados decidiu aprovar a toque de caixa projeto de lei que muda a maneira de gerir os direitos autorais de obras sonoras no país.

Na semana passada, o texto foi votado no Senado de forma acelerada, depois de forte lobby de artistas brasileiros de peso, que acompanharam a votação no plenário da Casa.

Diante da falta de público na Câmara, o deputado Francisco Escórcio (PMDB-MA) bradou inconformado:

-Eu quero saber por que o Roberto Carlos foi para o Senado e aqui nem tocador de viola veio!

Quando promessas viram dividas - GIL CASTELO BRANCO

O ESTADO DE S. PAULO - 15/07

Faz muito tempo que o que Mantega diz ninguém escreve. Em relação aos investimentos públicos, por exemplo, o ministro desde o ano passado vislumbra perspectivas de crescimento que não se concretizam. Em abril deste ano afirmou que "os investimentos irão bombar em 2014", sugerindo que o governo "jogou a toalha" em relação a 2013 e vai tentar uma revanche no próximo ano.

Em relação à administração federal direta, os resultados deste ano são pífios. No primeiro semestre de 2013 foram empenhados para investimentos R$ 19 bilhões, montante inferior em 11% ao compromissado em valores correntes no período de janeiro a junho do ano passado. O valor empenhado neste semestre representa só 21% da dotação autorizada para o exercício (R$ 90,2 bilhões).

Se considerarmos somente os valores pagos com o Orçamento da União/2013, excluídos os restos a pagar,foram desembolsados R$ 3,7 bilhões, enquanto no ano passado, no mesmo período, R$ 4,8 bilhões foram pagos. A situação só não é pior graças à quitação dos restos a pagar, que neste ano somaram R$ 16,8 bilhões ante R$ 14,1 bilhões do ano passado.

Em valores constantes, os investimentos deste semestre totalizaram R$ 20,5 bilhões, montante maior em apenas 1% do que as aplicações de 2012. Em relação a 2010, os investimentos recuaram 13%. Assim sendo, andamos de lado, em relação ao ano passado, e para trás, se a referência for 2010.

Vale observar que, dos R$ 20,5 bilhões pagos neste ano, R$ 4,6 bilhões (22,6%) foram destinados a "equipamentos e material permanente", cuja aquisição é menos complexa do que a realização de obras de infraestrutura. No Ministério da Defesa foi investido R$ 1 bilhão em aeronaves, embarcações, veículos e carros de combate. No Ministério da Educação, quase meio bilhão foi destinado a ônibus escolares. No Ministério do Desenvolvimento Agrário, foram pagos R$ 376,3 milhões em caminhões, escavadeiras, tratores, colhedeiras, etc. A compra direta desses bens - ainda que necessária - não significa que foram desatados alguns nós dos investimentos públicos relacionados à elaboração e à execução de projetos, a desapropriações e indenizações,à obtenção de licenças ambientais e toda a burocracia inerente às obras.

No Ministério dos Transportes ainda são sentidos os efeitos da chamada "faxina", promovida pela presidente Dilma em 2011, apesar de o grupo alvo da limpeza já ter retornado à Esplanada. Até junho, a pasta investiu R$ 3,9 bilhões, o que representou crescimento real de 0,4% em relação ao mesmo período de 2012. Esse acréscimo diminuto deve ser creditado à Valec, que ampliou as aplicações em R$ 325,3 milhões. O Dnit, ao contrário, reduziu os investimentos em R$ 62,3 milhões, tornando pior o que já estava ruim.

Além disso, quase R$ 1 bilhão dos investimentos da União neste semestre foi efetuado no exterior, já excluídos pagamentos às subsidiárias da Embraer, sem gerar efeitos diretos na indústria brasileira. Paralelamente, estão incluídos nos investimentos itens curiosos tais como instrumentos musicais para universidades, pagamento de IPVA, serviços de cópias e reprodução de documentos, obras de arte e até taxas por excessos de bagagens, que, além de discutíveis quanto à classificação, não geram maiores efeitos na cadeia econômica.

Na realidade, as dificuldades para investir são históricas. Conforme estudo da Associação Contas Abertas, nos últimos 10 anos R$ 160 bilhões deixaram de ser investidos nas áreas de educação, saúde, transportes, cidades e segurança pública, que constituíram as principais reivindicações das manifestações populares. Considerando as dotações autorizadas para investimentos no período de 2003 a 2012, do total de R$ 333,8 bilhões previstos apenas R$ 174,5 bilhões (52,3%) foram aplicados. Em suma, o orçamento é fictício e mal executado.

As promessas do governo também parecem longe da realidade. A presidente Dilma anunciou novos R$ 50 bilhões para obras de mobilidade urbana. Porém, historicamente, os recursos destinados para o setor não são gastos. Nos últimos 11 anos (2002 a 2012), em valores constantes, R$ 6,8 bilhões foram autorizados para mobilidade urbana, porém apenas R$ 1,3 bilhão foi efetivamente pago (19,1%).

De fato, são muitos os entraves para os investimentos da administração pública, a partir do planejamento inadequado. Em 2009, estudo do Banco Mundial constatou que o Brasil apresentava fragilidades em praticamente todas as fases de planejamento e execução. O diagnóstico abrangeu desde a definição do problema a ser resolvido e a seleção preliminar dos projetos que podem contorná-lo até a fase de operação do empreendimento e sua manutenção. A análise do Banco Mundial elencou e avaliou etapas consideradas essenciais, tais como refinamento do projeto inicial,licitação, execução e revisão por auditoria independente, entre outras. Das oito etapas analisadas, em apenas uma delas o Brasil obteve um bom conceito.

As apostas para o crescimento sustentável da economia brasileira estão nas concessões de ferrovias, rodovias, aeroportos e portos, mas existem inúmeras dúvidas se diante das condições impostas haverá interessados e se os cronogramas serão cumpridos.

Enquanto as concessões não chegam, estamos fabricando dinheiro e maquiando resultados. Daqui a 15 dias, quando da divulgação do Resultado do Tesouro Nacional de junho, os investimentos estarão, como sempre, inflados pelos subsídios ao programa Minha Casa, Minha Vida. Além disso, prossegue a "roda da fortuna" por meio do endividamento do Tesouro que transfere recursos para os bancos públicos que antecipam dividendos. O jogo de empurra já responde por um quarto da meta fiscal, apesar de o truque só servir para desmoralizar ainda mais a contabilidade oficial brasileira. Em síntese, a dívida pública cresce, mas os investimentos continuam entre as promessas.