REVISTA VEJA
1 - O governo está sem rumo. Não é de hoje que a condução errática da economia, a demora em atacar os gargalos na infraestrutura, a nomeação e desnomeação de ministros e a dubiedade no combate à corrupção traem inexperiência que resulta em insegurança e indecisão. Nas duas últimas semanas, tais sintomas viraram febre com as sucessivas trapalhadas da Constituinte exclusiva e do plebiscito. A desconhecida Dilma, foi-nos apresentada como "gerentona”. Hoje é a gerente que não gerencia uma equipe balofa e incoerente. A dureza na cobrança e a minudência no acompanhamento do trabalho dos auxiliares eram exaltadas como qualidades. Revelaram-se defeitos. O reflexo condicionado é encobrir as insuficiências pondo a culpa na “articulação política”. A “articulação” e sua irmã gêmea, a "comunicação”, são dois gastos bodes expiatórios. Não há articulação nem comunicação que funcionem se a outra ponta não funciona. A outra ponta é o gabinete presidencial.
2 - Desaba o respeito ao governo. As vaias são o de menos. Pior é o misto de cinismo e traição que rodeia a presidente. A chamada “base aliada” esfarelou-se. Ao vácuo de liderança sucede-se a balbúrdia no Congresso. Com a esperteza de sempre, deputados investem contra o chamado “foro privilegiado” como se fosse medida moralizadora. quando o mensalão provou que o suposto “privilégio" na verdade lhes rouba o recurso às diversas instâncias e às infinitas chicanas do processo ordinário. Pior para o governo é a ameaça de se votar o tal “orçamento impositivo”, instituindo o escândalo da liberação obrigatória das já de si escandalosas emendas parlamentares. O desrespeito à presidente propicia a abertura da temporada de caça ao Erário.
3 - O poste foi feito refém. Outros postes, na política brasileira, tiveram melhor sorte. A este não se permite desligar-se do criador. Dilma já se entregou ao obrigatório ritual de encontrar-se com Lula duas vezes desde o início dos protestos. A relação ameaça assumir caráter patológico, se é quê já não assumiu. O ex-presidente não sossega de impor-se como patrono, mestre, guia e protetor. A sucessora se rende à sorte de patrocinada, discípula, guiada e protegida. É quase uma versão da “síndrome de Estocolmo”, pela qual o sequestrado acaba cativado pelo sequestrador. “Cativado” quer dizer enamorado, mas também prisioneiro. Tem-se urna presidente obrigada à reverência a uma instância superior.
O resultado é a perda da reverência que deveria inspirar.
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Os cães, na política americana, servem para ressaltar o tipo “família”, e portanto bom caráter, de seu possuidor. Richard Nixon, acusado de apropriar-se indevidamente de fundos de campanha, em 1952, reagiu dizendo, num emotivo discurso, que o único presente recebido dos apoiadores fora o cãozinho chamado Checkers, alegria de suas filhas. O episódio passou a ser chamado de “o discurso de Checkers”. Obama, recém-eleito presidente, abriu debate público sobre que tipo de cão deveria ser dado às filhas. Ganhou o cãozinho batizado de Bo, desde então assíduo figurante nas fotos de família. No Brasil, a cachorra de Rogério Magri, ministro de Collor, ficou conhecida ao ser transportada ao veterinário em carro oficial. Agora, como revelado na VEJA da semana passada, o cachorro Juquinha, do governador Sérgio Cabral, entra no rol das celebridades caninas por pegar carona de helicóptero. Cães no Brasil denunciam caráter não tão bom de seus possuidores.