O GLOBO - 15/07
Em artigo publicado neste jornal, no dia 8 de março, intitulado "Fim de ciclo", enfatizava a urgente necessidade de mudança de foco da política econômica alicerçada no estímulo ao consumo, com resultados pífios do ponto de vista do crescimento e preocupantes com relação à inflação e ao emprego. Argumentava que um novo ciclo de crescimento, necessariamente, teria que basear-se nos investimentos autônomos na infraestrutura.
As recentes manifestações populares indicam, claramente, que o modelo redistributivo adotado no último decênio, embora houvesse guindado expressivos contingentes para as classes médias, carecia da sustentabilidade que só o capital social básico consegue dar. E é desse capital que o Brasil precisa desesperadamente neste momento de inflexão: portos eficientes, ferrovias, rodovias e aeroportos decentes, mobilidade urbana, educação de qualidade, serviços de saúde eficazes, segurança pública etc., além, é claro, de profundas mudanças comportamentais na prática política e melhoria no funcionamento das instituições republicanas.
Está comprovado que o setor público federal não está aparelhado financeira e administrativamente para atender a essas ingentes demandas. Hipertrofiado, ineficiente e gastador, cuja burocracia, segundo o Tesouro Nacional, consumiu R$ 236,7 bilhões, em 2012, contra R$ 129,3 bilhões, em 2007, portanto uma expansão de gastos correntes de 83% em apenas cinco anos, precisa de reformas modernizantes já que se transformou num empecilho ao desenvolvimento do país, quando deveria ser o indutor. E, por falar em reformas, talvez fosse este o momento adequado para se colocar em pauta não apenas a reforma política, mas a tributária, a trabalhista e a previdenciária, absolutamente fundamentais para a elevação da competitividade e modernização da economia brasileira.
Resta, pois, o investimento privado como instância derradeira para dinamizar as atividades econômicas no curto prazo, dotar o país da infraestrutura indispensável para a redução do custo Brasil e assegurar o crescimento continuado no longo prazo. Para tanto, aguarda-se que pacote de concessões e privatizações a ser lançado pelo governo nos próximos meses consiga atrair os investidores depois da elevação das taxas de retorno. Certamente o congelamento e a redução das tarifas do transporte urbano como resposta apressada dos governos para conter as manifestações e os próprios protestos de rua elevaram o nível das apreensões dos investidores no que se refere à segurança na execução dos contratos.
De qualquer forma, essas privatizações e concessões a serem leiloadas são o último e decisivo round da luta quase perdida do governo da presidente Dilma para colocar o país na trajetória do crescimento econômico. Sem dúvida, será um teste para a credibilidade deste governo, que, paralelamente, deverá adotar rigorosas medidas de austeridade fiscal e monetária de combate à escalada inflacionária que já ultrapassou o topo da meta, atingindo 6,7% ao ano, de acordo com o IBGE.
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