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Ex-presidente da Câmara nega que Michel Temer tenha tentando comprar o seu silêncio e diz ser isso apenas parte da trama para derrubar o presidente da República
O ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) prestou depoimento, nesta segunda, na 10ª Vara Federal de Brasília, cujo titular é o juiz Vallisney de Souza Oliveira, em interrogatório que integra a ação penal derivada da Operação Sépsis. Vallisney é um dos Três Mosqueteiros (que eram quatro; ainda há vaga para mais uma estrela togada) da Justiça Federal: os outros são Sérgio Moro, da 13ª Vara, o inigualado, inigualável e inigualante (palavra não está no Houaiss, mas podem procurar no VOLP: Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa), e Marcelo Bretas, da 7ª. É aquele que queria mandar Sérgio Cabral, em prisão preventiva (sim, mesmo condenado, é preventiva), para um presídio de segurança máxima sem que se saiba até agora o motivo, a não ser o alegado. Como? Você acha que a prisão perpétua ainda estaria pequena para Cabral? Posso até concordar. Nas democracias, no entanto, cumprem-se leis. E Justiça não se confunde com vingança, assim como um preso não pode ser o troféu de um juiz. Se não for assim, a democracia vai para o vinagre. São apenas três varas, mas poderiam valer por onze mil! Eu me alonguei demais. Quero voltar a Cunha. Mas, antes, vou ter de falar um pouco sobre o presidente Michel Temer e um pedaço da imprensa.
Também nesta segunda, Temer fez um pronunciamento público (ainda voltarei ao tema) apontando a existência de uma trama para derrubá-lo, urdida na Procuradoria Geral da República. Tem razão. Aconteceu, todos sabem, mas, infelizmente, setores da imprensa se recusam a reconhecer porque seriam obrigadas a admitir que dão como verdade o que verdade não é, a saber: na tal gravação que Joesley Batista fez no Palácio do Jaburu, o presidente teria condescendido com a compra do silêncio de Eduardo Cunha. ~´E mentira! Ora, quando reportagens se sustentam numa farsa, e tendo havido uma trama para derrubar o presidente (e houve), então os que assim procedem são cúmplices. Vamos mais um pouco nessa digressão.
Sim, eu ainda falarei sobre Cunha.
A capa da primeira edição da revista Época, versão impressa semanal do grupo Globo, depois que a segunda denúncia contra Temer foi derrotada, traz o presidente de costas e um elíptico “Ele venceu.” Sim, com ponto final. Como a dizer: “ele venceu e ponto.” Só faltou a confissão: “Nós perdemos e ponto.” Mas o segundo tempo do título vai na reportagem: “E o Brasil?” A sugestão de que a vitória do presidente implicou a derrota do país é evidente. O texto tenta demonstrá-lo, sem conseguir. Fosse um campeonato, eu desafiaria aqui a turminha a demonstrar que esse governo, no tempo em que ficou enfrentando a fúria dos “white walkers”, permaneceu parado, limitando-se a comprar deputados. Isso também é falso, como assevera o noticiário econômico do grupo nos seus mais diversos veículos. Mas, para noticiar os dados virtuosos da economia, a personagem sempre foi Henrique Meirelles. Ou por outra: tinham um Temer para derrubar e uma equipe econômica para a manter!
Será que essa equação era possível? Como se equipes econômicas se sustentassem sem a necessária articulação no Congresso, que é política. Não fosse só um cálculo ruim, seria um raciocínio infantil, próprio de um tempo em que a maior referência de quem cobre política é “Game of Thrones”, onde estão os… “white walkers”… Ou Caetano Veloso — o dos últimos cinco anos, não o que existiu anteriormente. O que esperar de uma imprensa que põe as emendas liberadas pelo governo na cota da compra de consciências? Mas que se note: merecem essa denominação apenas aquelas que destinadas a parlamentares da base. Quando vão para oposicionistas, aí o governo apenas cumpre uma obrigação. Entenderam?
Mas volto à revista Época para voltar a Michel Temer e, assim, voltar a Eduardo Cunha. Na mesma edição em que confessa, sem querer, uma derrota, a revista faz um quadro intitulado “Eles não quiseram ver”, que traz, numa coluna, as acusações feitas por delatores, expressas nas denúncias, e, na outra, o que chama “evidências”. Chega a ser espantoso. Quando há a referência à acusação de que Temer teria incentivado Joesley Batista a comprar o silêncio de Eduardo Cunha, escreve a revista: “Na conversa no Palácio do Jaburu, no dia 7 de março, Joesley falou da mesada e ouviu de Temer a famosa frase: ‘Tem de manter isso, viu?”
ACONTECE, MEUS CAROS, QUE, DO QUE VAI ACIMA, ESTÁ NA GRAVAÇÃO APENAS O “TEM DE MANTER ISSO, VIU?” NÃO HÁ QUALQUER REFERÊNCIA A UMA MESADA. JOESLEY DIZIA ALI QUE CULTIVAVA UM BOM RELACIONAMENTO COM CUNHA. Transcrevo:
JOESLEY: [inaudível]. Como é que eu… Que que eu mais ou menos dei conta de fazer até agora. Eu tô de bem com o Eduardo…
TEMER: Tem que manter isso, viu?
A afirmação de que o trecho se referia a dinheiro e à compra de silêncio é de Joesley não está na fita, como sustenta a revista.
Ninguém mais duvida da imoralidade do acordo celebrado entre Joesley Batista e Rodrigo Janot, homologada por Edson Fachin. Aqueles senhores da JBS, sem querer, confessaram a urdidura criminosa da tal trama a que se refere o presidente. Já sabemos mais: o MPF mandou a lei às favas, mais uma vez, e participou das negociações prévias para se chegar a uma delação. Marcelo Miller, então procurador e auxiliar direto de Janot, já confessou a sua atuação, ainda que a minimize. Os próprios delatores admitiram ter mantido reuniões com membros do gabinete de Janot, incluindo o ser. Eduardo Pelella, que era seu chefe de gabinete do procurador-geral.
Agora, de fato, Cunha
Muito bem! Eduardo Cunha sabe que está bem enrolado. Poderia ter disputado com Lúcio Funaro, esse grande patriota, o galardão: aquele que acusar o presidente Michel Temer livra a cara. Por que o ex-deputado não poderia perseguir tal benefício? Porque, acredito, ficaria difícil evidenciá-lo. No seu depoimento desta segunda, no entanto, o ex-presidente da Câmara afirmou com todas as letras, ao se referir à suposta compra de seu silêncio:
“Queriam atribuir isso para justificar uma denúncia que pegasse o mandato do senhor Michel Temer. Prova forjada, deram uma forjada, e o senhor Joesley foi o cúmplice dessa forjada. Ele está pagando por isso o preço agora”.
Pois é… Cunha disse a um dos Três Mosqueteiros que Temer não era o seu Cardeal Richelieu.
Aí alguém poderia objetar: “Você está me pedindo que acredite em alguém como Eduardo Cunha, Reinaldo?” Ao que respondo: “Bem, então acredite em alguém como Lúcio Funaro”. Que tal? Nesse ponto, alguém poderia propor um empate: “Então que não se creia nem num nem noutro” . Bem, meus caros, como se estivéssemos num jogo de truco, sou obrigado a chamar “seis!” (é a tréplica) e lembrar: “Calma lá! A acusação contra Temer deve render a liberdade ou uma pena bem reduzida ao sr. Lúcio Funaro”. Em casos assim, é preciso que a gente pergunte se o “lucro” está em contar a verdade ou a mentira. E a resposta me parece óbvia. Afinal, Janot buscava, e ele deixou isso claro, de quem? O que ele queria ouvir?
Cunha negou também outras acusações que lhe faz Funaro. Confrontado com uma planilha de pagamentos de que faria parte, na qual haveria uma anotação feita de próprio punho, o ex-deputado desafiou, dirigindo-se ao procurador Anselmo Lopes, que o inquiria:
“Vossa Excelência faça a perícia e comprove que é minha a letra. Vamos representar à PGR [Procuradoria-Geral da República] para fazer reexame na delação do senhor Lúcio Funaro.”
Bem, dizer o quê? Sua Excelência, o procurador, tem de aceitar o desafio. Aliás, Aramis (ops! o juiz Vallisney) tem de determinar o exame do documento — e não deixa de ser espantoso que isso não tenha sido solicitado pela própria acusação. Se a letra na tal planilha for de Cunha, cabe ainda o exame das outras supostas evidências apresentadas por Funaro. Se não for, é claro que a delação do doleiro tem de ser anulada, que ele tem de ficar na cadeia e de ser denunciado por mais um crime.