O ESTADÃO - 24/10
Poucas vezes terá havido situação semelhante à deste nosso banquete de horrores no qual 90% dos comensais declaram-se com nojo da comida que lhes tem sido servida, mas são obrigados a continuar a tragá-la simplesmente porque não sabem pedir outro prato.
Na segunda-feira, 19, O Globo publicou nova reportagem da série Cofres Abertos, sobre a realidade do Estado petista. O título era Remuneração em ministério vai até R$ 152 mil. Eis alguns dados: Lula acrescentou 18,3 mil funcionários à folha da União em oito anos. Em apenas quatro Dilma enfiou mais 16,3 mil. Agora são 618 mil, só na ativa; 103.313 têm “cargos de chefia”. Os títulos são qualquer coisa de fascinante. Há um que inclui 38 palavras: “chefe de Divisão de Avaliação e Controle de Programas, da Coordenação dos Programas de Geração de Emprego e Renda...” e vai por aí enfileirando outras 30, com o escárnio de referir um acinte desses à “geração de emprego e renda”...
O “teto” dos salários é o da presidente, de R$ 24,3 mil. Mas a grande tribo só de caciques constituída não pelos funcionários concursados ou de carreira, mas pelos“de confiança”, com estrela vermelha no peito, ganha R$ 77 mil, somadas as“gratificações”, que podem chegar a 37 diferentes. No fim do ano tem bônus “por desempenho”. A Petrobrás distribuiu mais de R$ 1 bilhão aos funcionários em pleno “petrolão”, depois de negar dividendos a acionistas. A Eletronorte distribuiu R$ 2,2 bilhões em “participação nos lucros”, proporcionados pelo aumento médio de 29% nas contas de luz dos pobres do Brasil, entre os seus 3.400 funcionários. Houve um que embolsou R$ 152 mil.
A folha de salários da União, sem as estatais, que são 142, passará este ano de R$ 100 bilhões, 58% mais, fora inflação, do que o PT recebeu lá atrás.
Essa boa gente emite 520 novos “regulamentos” (média) todo santo dia. Existem 49.500 e tantas “áreas administrativas” divididas em 53 mil e não sei quantos“núcleos responsáveis por políticas públicas”! Qualquer decisão sobre água tem de passar pela aprovação de 134 órgãos diferentes. Uma sobre saúde pública pode envolver 1.385 “instâncias de decisão”. Na educação podem ser 1.036. Na segurança pública, 2.375!
E para trabalhar no inferno que isso cria? Quanto vale a venda de indulgências?
Essa conversa da CPMF como única alternativa para a salvação da pátria em face da “incompressibilidade” dos gastos públicos a favor dos pobres não duraria 10 segundos se fatos como esses fossem sistematicamente justapostos às declarações que 100 vezes por dia os jornais, do papel à telinha, põem no ar para afirmar o contrário. Se fossem editados e perseguidos pelas televisões com as mesmas minúcia, competência técnica e paixão com que seus departamentos de jornalismo fazem de temas desimportantes ou meramente deletérios verdadeiras guerras santas, então, a Bastilha já teria caído.
Passados 10 meses de paralisia da Nação diante da ferocidade do sítio aos dinheiros públicos e ao que ainda resta no bolso do brasileiro de 2.ª classe, com a tragédia pairando no ar depois de o governo mutilar até à paraplegia todos os investimentos em saúde, educação, segurança pública e infraestrutura, a série doGlobo é, no entanto, o único esforço concentrado do jornalismo brasileiro na linha de apontar com fatos e números que dispensam as opiniões de “especialistas”imediatamente contestáveis pelas opiniões de outros “especialistas” para expor a criminosa mentira de que este país está sendo vítima.
Nem por isso deixou de sofrer restrições mesmo “dentro de casa”, pois, apesar da contundência dos fatos, da oportunidade da denúncia e da exclusividade do que estava sendo apresentado, a 1.ª página do jornal daquele dia não trazia qualquer“chamada” para o seu próprio “furo” e nem as televisões da casa o repercutiram. O tipo de informação sem a disseminação da qual o Brasil jamais desatolará da condição medieval em que tem sido mantido tornou-se conhecido, portanto, apenas da ínfima parcela da ínfima minoria dos brasileiros alfabetizados que lê jornal que tenha folheado O Globo inteiro daquele dia até seus olhos esbarrarem nela por acaso e que se deixaram levar pela curiosidade página abaixo.
É por aí que se agarra insidiosamente ao chão essa cultivada perplexidade do brasileiro que, em plena “era da informação”, traga sem nem sequer argumentar aquilo que já não admitia que lhe impingissem 200 anos atrás mesmo que à custa de se fazer enforcar e esquartejar em praça pública.
Do palco à plateia, Brasília vive imersa no seu “infinito particular”. Enquanto o País real, com as veias abertas, segue amarrado ao poste à espera de que a Pátria Estupradora decida quem vai ou não participar da próxima rodada de abusos, os criminosos mandam prender a polícia e a plateia discute apaixonadamente quem deu em quem, entre os atores da farsa, a mais esperta rasteira do dia.
Deter o estupro não entra nas cogitações de ninguém. A pauta da imprensa – e com ela a do Brasil – foi terceirizada para as “fontes” que disputam o comando de um sistema de opressão cuja lógica opõe-se diametralmente à do trabalho. Os fatos, substância da crítica que pode demolir os “factoides”, esses todos querem ocultados.
Perdemos as referências do passado, terceirizamos a “busca da felicidade” no presente, somos avessos à fórmula asiática de sucesso quanto ao futuro. Condenamo-nos a reinventar a roda em matéria de construção de instituições democráticas porque a que foi inventada pela melhor geração da humanidade no seu mais “iluminado” momento e vem libertando povo após povo que dela se serve está banida das nossas escolas e da pauta terceirizada pela imprensa a quem nos quer para sempre amarrados a um rei e seus barões. Como o resto do mundo resolve os mesmos problemas que temos absolutamente não interessa aos “olheiros”dos nossos jornais e TVs no exterior, que, de lá, só nos mostram o que há de pior...
A imprensa nacional está devendo muito mais à democracia brasileira do que tem cobrado aos outros nas suas cada vez mais segregadas páginas de opinião.
* FERNÃO LARA MESQUITA É JORNALISTA
sábado, outubro 24, 2015
Prisioneiros do passado - MÍRIAM LEITÃO
O GLOBO - 24/10
A economia argentina está estagnada e com inflação de 25%, mas a taxa pode ser maior, já que o governo manipula os indicadores. A pobreza está aumentando, o déficit primário é de 6% do PIB, o Judiciário está tolhido, e o país, isolado internacionalmente. Ainda assim, o candidato apoiado por Cristina Kirchner está na frente nas pesquisas para as eleições de amanhã. O país vive ainda à sombra de Perón.
O Brasil enfrenta grave crise, mas o país não aceita certos absurdos. A presidente Dilma manipulou indicadores fiscais e está respondendo por isso com ameaça, inclusive, de perda de mandato; a inflação brasileira está perto de 10% e o nível é considerado intolerável. Na Argentina, convive-se há anos com uma taxa de dois dígitos e o fato de que o órgão oficial de estatística manipula ou omite indicadores. O percentual de pobres deixou de ser divulgado porque, segundo o governo, isso "estigmatiza" as pessoas de baixa renda. Um argumento falso, o que se quer é esconder o aumento da pobreza.
O governador da Província de Buenos Aires, Daniel Scioli, o candidato apoiado por Cristina Kirchner, está na frente neste primeiro turno. Se tiver 40% dos votos, ganha já no domingo. O candidato da oposição Mauricio Macri é o prefeito de Buenos Aires. Assim, a disputa volta a se dar em torno dos políticos da capital.
O pior lado da cultura política argentina é o incompreensível apego a uma liderança que surgiu nos anos 1940. É mais ou menos como se a sombra de Getúlio Vargas dominasse a política brasileira. Há vários candidatos peronistas e ainda em torno dessa figura completamente desatualizada é que o debate se dá no país, com os candidatos querendo provar que são mais genuinamente peronistas. Scioli inclusive já nomeou a sobrinha-neta de Eva Perón como ministra, caso se confirme sua eleição.
O período Cristina Kirchner chega ao fim deixando como legado uma devastação econômica, mas ela permanece com popularidade remanescente, tanto que o candidato que apoiou está na frente. Scioli faz aquele jogo de sempre: aceita o apoio, mas fala em renovação e dá sinais aos investidores que iniciará uma era de maior controle das contas públicas.
Os argentinos são o melhor exemplo do caminho econômico que o Brasil deveria evitar, mas o atual governo parece querer seguir. A inflação oscila entre 25% a 35% ao ano. Ninguém sabe ao certo. O que se tem certeza é que o número do órgão oficial de estatística, 15%, está subestimado.
O dólar por lá tem um mercado oficial, cotado a 9,5 pesos, e outros dois paralelos, um legal, e outro ilegal, onde se compra a moeda americana com preços em torno de 14 a 16 pesos. Com baixas reservas cambiais, o governo impõe à população e às empresas um regime de controle no câmbio. Para comprar moeda americana, é preciso enviar uma justificativa formal ao órgão responsável. O turista tem que mostrar a passagem comprada e dizer quantos dias pretende ficar no exterior. A empresa importadora tem que explicar a razão da compra, e muitas vezes fecha a encomenda, mas não consegue os dólares com o Banco Central. Fica inadimplente. Já as multinacionais têm dificuldade de enviar lucros para as matrizes fora do país.
O economista do Itaú Unibanco Juan Barboza, que acompanha a economia argentina, diz que o novo governo terá que enfrentar uma série de ajustes no ano que vem. Além disso, o país tem a pior classificação de risco pelas agências, CCC, porque não consegue chegar a um acordo com seus credores para pagar a dívida externa. Está banida do mercado internacional de crédito.
- Nossa projeção é de crescimento zero do PIB no ano que vem, com uma inflação de 35%. O novo governo terá que cortar subsídios e outros gastos, e também terá que elevar os juros e permitir a desvalorização do peso. Haverá uma forte perda na renda da população - disse Barboza.
A recessão no Brasil afeta os argentinos. O Brasil é o principal parceiro do país, mas produtos brasileiros enfrentam barreiras comerciais e cambiais. A corrente de comércio entre os dois países já está 18% menor de janeiro a setembro deste ano, em relação ao mesmo período do ano passado. Nós não estamos bem e sabemos disso, mas a Argentina continua sendo o caminho a ser evitado.
A economia argentina está estagnada e com inflação de 25%, mas a taxa pode ser maior, já que o governo manipula os indicadores. A pobreza está aumentando, o déficit primário é de 6% do PIB, o Judiciário está tolhido, e o país, isolado internacionalmente. Ainda assim, o candidato apoiado por Cristina Kirchner está na frente nas pesquisas para as eleições de amanhã. O país vive ainda à sombra de Perón.
O Brasil enfrenta grave crise, mas o país não aceita certos absurdos. A presidente Dilma manipulou indicadores fiscais e está respondendo por isso com ameaça, inclusive, de perda de mandato; a inflação brasileira está perto de 10% e o nível é considerado intolerável. Na Argentina, convive-se há anos com uma taxa de dois dígitos e o fato de que o órgão oficial de estatística manipula ou omite indicadores. O percentual de pobres deixou de ser divulgado porque, segundo o governo, isso "estigmatiza" as pessoas de baixa renda. Um argumento falso, o que se quer é esconder o aumento da pobreza.
O governador da Província de Buenos Aires, Daniel Scioli, o candidato apoiado por Cristina Kirchner, está na frente neste primeiro turno. Se tiver 40% dos votos, ganha já no domingo. O candidato da oposição Mauricio Macri é o prefeito de Buenos Aires. Assim, a disputa volta a se dar em torno dos políticos da capital.
O pior lado da cultura política argentina é o incompreensível apego a uma liderança que surgiu nos anos 1940. É mais ou menos como se a sombra de Getúlio Vargas dominasse a política brasileira. Há vários candidatos peronistas e ainda em torno dessa figura completamente desatualizada é que o debate se dá no país, com os candidatos querendo provar que são mais genuinamente peronistas. Scioli inclusive já nomeou a sobrinha-neta de Eva Perón como ministra, caso se confirme sua eleição.
O período Cristina Kirchner chega ao fim deixando como legado uma devastação econômica, mas ela permanece com popularidade remanescente, tanto que o candidato que apoiou está na frente. Scioli faz aquele jogo de sempre: aceita o apoio, mas fala em renovação e dá sinais aos investidores que iniciará uma era de maior controle das contas públicas.
Os argentinos são o melhor exemplo do caminho econômico que o Brasil deveria evitar, mas o atual governo parece querer seguir. A inflação oscila entre 25% a 35% ao ano. Ninguém sabe ao certo. O que se tem certeza é que o número do órgão oficial de estatística, 15%, está subestimado.
O dólar por lá tem um mercado oficial, cotado a 9,5 pesos, e outros dois paralelos, um legal, e outro ilegal, onde se compra a moeda americana com preços em torno de 14 a 16 pesos. Com baixas reservas cambiais, o governo impõe à população e às empresas um regime de controle no câmbio. Para comprar moeda americana, é preciso enviar uma justificativa formal ao órgão responsável. O turista tem que mostrar a passagem comprada e dizer quantos dias pretende ficar no exterior. A empresa importadora tem que explicar a razão da compra, e muitas vezes fecha a encomenda, mas não consegue os dólares com o Banco Central. Fica inadimplente. Já as multinacionais têm dificuldade de enviar lucros para as matrizes fora do país.
O economista do Itaú Unibanco Juan Barboza, que acompanha a economia argentina, diz que o novo governo terá que enfrentar uma série de ajustes no ano que vem. Além disso, o país tem a pior classificação de risco pelas agências, CCC, porque não consegue chegar a um acordo com seus credores para pagar a dívida externa. Está banida do mercado internacional de crédito.
- Nossa projeção é de crescimento zero do PIB no ano que vem, com uma inflação de 35%. O novo governo terá que cortar subsídios e outros gastos, e também terá que elevar os juros e permitir a desvalorização do peso. Haverá uma forte perda na renda da população - disse Barboza.
A recessão no Brasil afeta os argentinos. O Brasil é o principal parceiro do país, mas produtos brasileiros enfrentam barreiras comerciais e cambiais. A corrente de comércio entre os dois países já está 18% menor de janeiro a setembro deste ano, em relação ao mesmo período do ano passado. Nós não estamos bem e sabemos disso, mas a Argentina continua sendo o caminho a ser evitado.
Golpe na impunidade - EDITORIAL ZERO HORA
ZERO HORA - 24/10
A extradição do ex-diretor do Banco do Brasil Henrique Pizzolato, condenado por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e peculato no processo do mensalão, era uma questão de honra para a Justiça brasileira. Pizzolato foi, por algum momento, o único réu foragido do esquema montado pelo PT para comprar apoio no Congresso. Sua localização na Itália e, a partir daí, as iniciativas para que fosse extraditado são exemplos da capacidade de mobilização da polícia, do Ministério Público e da Justiça.
Todas as instituições contribuíram para o êxito da empreitada, que permite, finalmente, o retorno de Pizzolato, para que preste contas dos seus atos onde os cometeu. Já não cabe mais debater os argumentos do ex-dirigente do BB sobre a sua condenação e a decisão das autoridades de vê-lo cumprindo a pena em uma cadeia brasileira. Essas são questões superadas. O réu que burlou controles e afrontou a Justiça, ao tentar ficar impune na Europa, utilizando inclusive documentos de um irmão morto, finalmente foi encaminhado para onde deveria estar desde sua condenação.
O episódio Pizzolato é mais um caso exemplar de como o Brasil vem se livrando da impunidade de servidores e dos que contribuíram, como corruptores, para que os desmandos se propagassem nas últimas décadas. Hoje, estão na cadeia políticos, empresários, servidores de alta patente e vários criminosos do colarinho branco que foram investigados, julgados e punidos. Pizzolato era um símbolo da falsa esperteza. O Brasil moderno não pode mais tolerar esse tipo de conduta, e sua extradição deve servir de exemplo para outros espertalhões.
A extradição do ex-diretor do Banco do Brasil Henrique Pizzolato, condenado por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e peculato no processo do mensalão, era uma questão de honra para a Justiça brasileira. Pizzolato foi, por algum momento, o único réu foragido do esquema montado pelo PT para comprar apoio no Congresso. Sua localização na Itália e, a partir daí, as iniciativas para que fosse extraditado são exemplos da capacidade de mobilização da polícia, do Ministério Público e da Justiça.
Todas as instituições contribuíram para o êxito da empreitada, que permite, finalmente, o retorno de Pizzolato, para que preste contas dos seus atos onde os cometeu. Já não cabe mais debater os argumentos do ex-dirigente do BB sobre a sua condenação e a decisão das autoridades de vê-lo cumprindo a pena em uma cadeia brasileira. Essas são questões superadas. O réu que burlou controles e afrontou a Justiça, ao tentar ficar impune na Europa, utilizando inclusive documentos de um irmão morto, finalmente foi encaminhado para onde deveria estar desde sua condenação.
O episódio Pizzolato é mais um caso exemplar de como o Brasil vem se livrando da impunidade de servidores e dos que contribuíram, como corruptores, para que os desmandos se propagassem nas últimas décadas. Hoje, estão na cadeia políticos, empresários, servidores de alta patente e vários criminosos do colarinho branco que foram investigados, julgados e punidos. Pizzolato era um símbolo da falsa esperteza. O Brasil moderno não pode mais tolerar esse tipo de conduta, e sua extradição deve servir de exemplo para outros espertalhões.
Está (quase) tudo dominado - PLÁCIDO FERNANDES VIEIRA
CORREIO BRAZILIENSE - 23/10
Três episódios, ocorridos no Congresso em intervalo de poucas horas, evidenciam que o bateu levou entre Dilma Rousseff e Eduardo Cunha (PMDB-RJ) não passou de cortina de fumaça. Enquanto os dois trocavam ataques verbais sobre quem está mais enlameado no escândalo do petrolão - se o presidente da Câmara ou o governo dela -, os acontecimentos, estranhamente, tratavam de desmentir o tal arranca-rabo. Isso porque, na vida real, os acertos de bastidores comandados por Lula e caciques do PMDB para livrar o mandato tanto da petista quanto do peemedebista - conforme noticiados dias antes pelo Correio e pelo O Estado de S. Paulo - começavam a ser postos em prática e contrariavam a encenação.
Vamos a eles: logo cedo, na quarta-feira, o presidente do Senado, Renan Calheiros, iniciou a manobra - já cantada em verso e prosa pela imprensa - e estendeu de 15 para 45 dias o prazo de defesa do governo no caso das pedaladas, empurrando o desdobramento da questão para sabe-se lá quando. Já na madrugada da quarta para a quinta-feira, deputados governistas enterraram a CPI da Petrobras. Sem nenhum pudor, atropelaram a oposição e tiveram o duplo cuidado de livrar tanto Cunha quanto Dilma de qualquer constrangimento. Na quinta-feira de manhã, Cunha - já livre da CPI - devolveria a gentileza ao Planalto ao declarar que pedalada pode não ser motivo de impeachment.
Mas o gesto de "boa vontade" do deputado para o governo pode ter vindo tarde demais. Decisão do ministro Teori Zavascki, do STF, aponta para isso. Ele autorizou a repatriação de propinas do petrolão que estariam em contas secretas do parlamentar na Suíça. Com isso, fica mais complicada a sobrevivência dele no comando da Câmara. Sim, delatores contaram que dinheiro do bilionário esquema de corrupção foi para políticos do PT, PMDB, PP e ajudaram a financiar a reeleição de Dilma. No entanto, até agora, apenas as investigações contra Cunha avançam de forma célere.
Tudo acontece de maneira tão embaralhada - tudo ao mesmo tempo - que até a decretação da prisão de Cunha, pelo STF, é hipótese no tabuleiro da crise política. Um deputado governista entrou com o pedido no Ministério Público, que deve encaminhá-lo ao Supremo. Ou seja: não há saída para Cunha fora de um acerto com o Planalto. Afinal, a oposição - mesmo que quisesse - não tem força política para dar sustentação a ele. O que se pergunta é: uma vez salva de um processo de impeachment, Dilma jogará a boia salva-vidas para o então inimigo nº 1 do governo? Aguardem os próximos capítulos.
Três episódios, ocorridos no Congresso em intervalo de poucas horas, evidenciam que o bateu levou entre Dilma Rousseff e Eduardo Cunha (PMDB-RJ) não passou de cortina de fumaça. Enquanto os dois trocavam ataques verbais sobre quem está mais enlameado no escândalo do petrolão - se o presidente da Câmara ou o governo dela -, os acontecimentos, estranhamente, tratavam de desmentir o tal arranca-rabo. Isso porque, na vida real, os acertos de bastidores comandados por Lula e caciques do PMDB para livrar o mandato tanto da petista quanto do peemedebista - conforme noticiados dias antes pelo Correio e pelo O Estado de S. Paulo - começavam a ser postos em prática e contrariavam a encenação.
Vamos a eles: logo cedo, na quarta-feira, o presidente do Senado, Renan Calheiros, iniciou a manobra - já cantada em verso e prosa pela imprensa - e estendeu de 15 para 45 dias o prazo de defesa do governo no caso das pedaladas, empurrando o desdobramento da questão para sabe-se lá quando. Já na madrugada da quarta para a quinta-feira, deputados governistas enterraram a CPI da Petrobras. Sem nenhum pudor, atropelaram a oposição e tiveram o duplo cuidado de livrar tanto Cunha quanto Dilma de qualquer constrangimento. Na quinta-feira de manhã, Cunha - já livre da CPI - devolveria a gentileza ao Planalto ao declarar que pedalada pode não ser motivo de impeachment.
Mas o gesto de "boa vontade" do deputado para o governo pode ter vindo tarde demais. Decisão do ministro Teori Zavascki, do STF, aponta para isso. Ele autorizou a repatriação de propinas do petrolão que estariam em contas secretas do parlamentar na Suíça. Com isso, fica mais complicada a sobrevivência dele no comando da Câmara. Sim, delatores contaram que dinheiro do bilionário esquema de corrupção foi para políticos do PT, PMDB, PP e ajudaram a financiar a reeleição de Dilma. No entanto, até agora, apenas as investigações contra Cunha avançam de forma célere.
Tudo acontece de maneira tão embaralhada - tudo ao mesmo tempo - que até a decretação da prisão de Cunha, pelo STF, é hipótese no tabuleiro da crise política. Um deputado governista entrou com o pedido no Ministério Público, que deve encaminhá-lo ao Supremo. Ou seja: não há saída para Cunha fora de um acerto com o Planalto. Afinal, a oposição - mesmo que quisesse - não tem força política para dar sustentação a ele. O que se pergunta é: uma vez salva de um processo de impeachment, Dilma jogará a boia salva-vidas para o então inimigo nº 1 do governo? Aguardem os próximos capítulos.
Cerco ao Congresso - GUILHERME FIUZA
O GLOBO - 24/10
Dilma pediu à equipe econômica para flexibilizar a meta fiscal. Poderia aproveitar e pedir para flexibilizar o Código Penal
Quem roubou não pode chamar o PT de ladrão, disse Luiz Inácio da Silva. Ou seja: ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão, mas ladrão que xinga ladrão vai se ver com Lula. Até que enfim, uma medida moralizadora. O PT quer ser respeitado ao menos pelos bandidos — o que dentro da cadeia é uma coisa importante.
E por falar em bandido, roubo e cadeia, o delator Fernando Baiano disse que deu R$ 2 milhões do petrolão à nora de Lula. Enquanto isso, retorna à pátria (e à Papuda) Henrique Pizzolato, um dos heróis petistas do mensalão. As obras completas dos companheiros nestes 13 anos são realmente impressionantes. Se o governo do PT fosse um filme, seria o “Sindicato dos ladrões” — com todo o respeito. O mais curioso é como o Brasil se harmonizou bem com esse projeto criminoso de poder, na definição do ministro Celso de Mello (que não roubou, então pode dizer que o PT é ladrão).
Pizzolato esfaqueou o Banco do Brasil, Baiano esfolou a Petrobras — e esses são apenas dois agentes do maior sistema de corrupção da história, regido pelo PT de dentro do Palácio do Planalto. Agora tirem as crianças da sala para a notícia estarrecedora: o PT continua dentro do palácio.
Como escreveu Fernando Gabeira, o Brasil desmoralizou a instituição do batom na cueca. A mancha veio da lavanderia, o batom era progressista e a cueca era do bem. O ministro Gilmar Mendes disse que Dilma não precisa de um Fiat Elba como o de Collor para cair. Claro que não. Ela pode cair pedalando — o que seria inclusive menos poluente. As pedaladas fiscais que o TCU já condenou são crime de responsabilidade, e constituem uma fração do tal projeto criminoso — que não é feito só de mensalões e pixulecos, mas também de fraudes contábeis para maquiar o rombo.
Não deixem as crianças ouvirem: essa orgia companheira acaba de render ao Brasil o selo de país caloteiro. Agora sejam fortes: as pedaladas continuaram este ano, depois de flagradas e desmascaradas, e pelo menos uma das centrais de tramoias do petrolão continuou ativa depois da revelação do escândalo. Deu para entender? O PT é o cupim do Estado brasileiro, e não dá para pedir a ele: senhor cupim, por favor, poderia parar de devorar a mobília até 2018? O Brasil está esperando que os cupins passem a se alimentar de vento estocado e façam o ajuste fiscal.
Dilma Rousseff declarou na Finlândia que este governo não está envolvido com corrupção. É verdade. A corrupção, coitada, é que está envolvida com este governo. De cabo a rabo. A Lava-Jato já apresentou as evidências de que a própria reeleição de Dilma se alimentou do petrolão — e Vaccari, o ex-tesoureiro do PT, está preso por causa disso. Mas o governo promete tapar o rombo, e lá estão os brasileiros com os braços estendidos para a seringa da nova CPMF, ou bolsa cupim. Contando, ninguém acredita.
Nesse meio tempo, num lugar muito distante da Finlândia, o Banco Central informa que desistiu de cumprir a meta fiscal. Note bem: não foi uma frase de Mercadante, Mantega ou outra das nossas autoridades de picadeiro. O Banco Central do Brasil, espremido entre a inflação e a recessão, teve que largar no chão a arma da política monetária: simplesmente não há o que fazer para respeitar a meta fiscal em 2016. Dilma reagiu: pediu à sua equipe econômica para flexibilizar a meta fiscal. Nessa linha, poderia aproveitar e pedir para flexibilizar o Código Penal. Seria mais eficaz neste momento.
O governo parou. Dilma, a representante legal (sic) do projeto criminoso de poder, está morando de favor no palácio. Conta com a blindagem do STF aparelhado, do companheiro procurador Janot e de um bando de inocentes úteis que doam suas reputações em troca de uma fantasia progressista cafona (alguns perderam a inocência na tabela dos pixulecos). Quem pode descupinizar o palácio é o Congresso Nacional. O pedido de impeachment está nas mãos do presidente da Câmara, que um Brasil abobado transformou em inimigo público número um — porque aqui quem assalta com estrelinha no peito é herói. Eduardo Cunha pode ser cassado, condenado ou execrado, só não pode roubar a cena daqueles que roubaram o país inteiro.
Os brasileiros que estão autorizados por Lula a chamar o PT de ladrão estão chegando a Brasília, acampando em frente ao Congresso Nacional. Quando deputados e senadores estiverem devidamente cercados pela multidão, brotará num passe de mágica sua responsabilidade cívica. Aí os nobres representantes do povo farão, altivamente, a descupinização do palácio — sem traumas, em nome da lei. O resto é com a polícia.
Guilherme Fiuza é jornalista
Dilma pediu à equipe econômica para flexibilizar a meta fiscal. Poderia aproveitar e pedir para flexibilizar o Código Penal
Quem roubou não pode chamar o PT de ladrão, disse Luiz Inácio da Silva. Ou seja: ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão, mas ladrão que xinga ladrão vai se ver com Lula. Até que enfim, uma medida moralizadora. O PT quer ser respeitado ao menos pelos bandidos — o que dentro da cadeia é uma coisa importante.
E por falar em bandido, roubo e cadeia, o delator Fernando Baiano disse que deu R$ 2 milhões do petrolão à nora de Lula. Enquanto isso, retorna à pátria (e à Papuda) Henrique Pizzolato, um dos heróis petistas do mensalão. As obras completas dos companheiros nestes 13 anos são realmente impressionantes. Se o governo do PT fosse um filme, seria o “Sindicato dos ladrões” — com todo o respeito. O mais curioso é como o Brasil se harmonizou bem com esse projeto criminoso de poder, na definição do ministro Celso de Mello (que não roubou, então pode dizer que o PT é ladrão).
Pizzolato esfaqueou o Banco do Brasil, Baiano esfolou a Petrobras — e esses são apenas dois agentes do maior sistema de corrupção da história, regido pelo PT de dentro do Palácio do Planalto. Agora tirem as crianças da sala para a notícia estarrecedora: o PT continua dentro do palácio.
Como escreveu Fernando Gabeira, o Brasil desmoralizou a instituição do batom na cueca. A mancha veio da lavanderia, o batom era progressista e a cueca era do bem. O ministro Gilmar Mendes disse que Dilma não precisa de um Fiat Elba como o de Collor para cair. Claro que não. Ela pode cair pedalando — o que seria inclusive menos poluente. As pedaladas fiscais que o TCU já condenou são crime de responsabilidade, e constituem uma fração do tal projeto criminoso — que não é feito só de mensalões e pixulecos, mas também de fraudes contábeis para maquiar o rombo.
Não deixem as crianças ouvirem: essa orgia companheira acaba de render ao Brasil o selo de país caloteiro. Agora sejam fortes: as pedaladas continuaram este ano, depois de flagradas e desmascaradas, e pelo menos uma das centrais de tramoias do petrolão continuou ativa depois da revelação do escândalo. Deu para entender? O PT é o cupim do Estado brasileiro, e não dá para pedir a ele: senhor cupim, por favor, poderia parar de devorar a mobília até 2018? O Brasil está esperando que os cupins passem a se alimentar de vento estocado e façam o ajuste fiscal.
Dilma Rousseff declarou na Finlândia que este governo não está envolvido com corrupção. É verdade. A corrupção, coitada, é que está envolvida com este governo. De cabo a rabo. A Lava-Jato já apresentou as evidências de que a própria reeleição de Dilma se alimentou do petrolão — e Vaccari, o ex-tesoureiro do PT, está preso por causa disso. Mas o governo promete tapar o rombo, e lá estão os brasileiros com os braços estendidos para a seringa da nova CPMF, ou bolsa cupim. Contando, ninguém acredita.
Nesse meio tempo, num lugar muito distante da Finlândia, o Banco Central informa que desistiu de cumprir a meta fiscal. Note bem: não foi uma frase de Mercadante, Mantega ou outra das nossas autoridades de picadeiro. O Banco Central do Brasil, espremido entre a inflação e a recessão, teve que largar no chão a arma da política monetária: simplesmente não há o que fazer para respeitar a meta fiscal em 2016. Dilma reagiu: pediu à sua equipe econômica para flexibilizar a meta fiscal. Nessa linha, poderia aproveitar e pedir para flexibilizar o Código Penal. Seria mais eficaz neste momento.
O governo parou. Dilma, a representante legal (sic) do projeto criminoso de poder, está morando de favor no palácio. Conta com a blindagem do STF aparelhado, do companheiro procurador Janot e de um bando de inocentes úteis que doam suas reputações em troca de uma fantasia progressista cafona (alguns perderam a inocência na tabela dos pixulecos). Quem pode descupinizar o palácio é o Congresso Nacional. O pedido de impeachment está nas mãos do presidente da Câmara, que um Brasil abobado transformou em inimigo público número um — porque aqui quem assalta com estrelinha no peito é herói. Eduardo Cunha pode ser cassado, condenado ou execrado, só não pode roubar a cena daqueles que roubaram o país inteiro.
Os brasileiros que estão autorizados por Lula a chamar o PT de ladrão estão chegando a Brasília, acampando em frente ao Congresso Nacional. Quando deputados e senadores estiverem devidamente cercados pela multidão, brotará num passe de mágica sua responsabilidade cívica. Aí os nobres representantes do povo farão, altivamente, a descupinização do palácio — sem traumas, em nome da lei. O resto é com a polícia.
Guilherme Fiuza é jornalista
A conta do populismo fiscal - RONALDO CAIADO
FOLHA DE SP - 24/10
A reprovação das contas de 2014 da presidente Dilma Rousseff pelo TCU (Tribunal de Contas da União) serviu para legitimar aquilo que todo brasileiro já sabe: a presidente usou e abusou das contas públicas como ferramenta de sua reeleição. O que é preciso saber agora —e meu requerimento ao tribunal acaba de ser acatado nesse sentido— é detalhar as causas e as consequências desse aumento da dívida interna.
Logo nas primeiras semanas de mandato como senador ingressei com um requerimento ao TCU (RQS 35/2015) solicitando uma auditoria sobre o aumento da dívida interna brasileira no período entre 2011 e 2014. Também acresci ao pedido uma avaliação sobre o impacto das operações com títulos públicos emitidos diretamente ao BNDES de 2008 a 2014 nos custos da dívida pública mobiliária federal. Trata-se de dar transparência, ou melhor, de escancarar o uso desenfreado de recursos do Tesouro para financiar uma política econômica equivocada e que, no último ano eleitoral, tornou-se criminosamente irresponsável.
Já temos uma prévia: em resposta à minha solicitação, o relator e ministro do TCU, Raimundo Carreiro, divulgou que estudos semelhantes já estão em fase adiantada de apuração e que dados coletados na pesquisa confirmam o disparate que se tornaram os gastos públicos. "De fato, a dívida interna líquida do setor público cresceu 14,03% em 2014 em relação a 2013. Ela evoluiu de 45,39% do PIB em 2013 para 48,35%. Quanto à materialidade, importa ressaltar que o crescimento da dívida interna líquida do setor público em 2014 foi de R$ 328,5 bilhões em comparação ao exercício anterior."
Podemos encarar como uma síntese de quanto custou aos cofres públicos reeleger Dilma Rousseff: R$ 328,5 bilhões em cima de uma já considerada "política fiscal expansionista", como define o TCU. O tribunal também ressalta preocupação sobre o resultado da auditoria em um cenário de "crise de credibilidade da política econômica". Em outras palavras: o balanço será mais um duro golpe na confiança do mercado e da população sobre a capacidade —e a idoneidade— desse governo para propor qualquer ajuste. Antes de essa crise ser política e econômica, ela é moral.
A parte mais acintosa com a qual os recursos do Estado brasileiro foram pulverizados em prol de um projeto de perpetuação no poder está no BNDES. Estima-se que, da expansão da dívida pública de cerca de R$ 1,11 trilhão nos últimos dez anos, cerca de R$ 400 bilhões referem-se a emissões de títulos públicos para capitalizar o banco, o que corresponde a aproximadamente 30% do total. É um volume agressivo que estaria sendo usado arbitrariamente para beneficiar algumas empresas selecionadas, bem como obras em países governados por aliados ideológicos do PT.
Desde 2009, quando o ex-ministro Guido Mantega abriu o caixa do banco por ordem do então presidente Lula, o volume total de empréstimos do Tesouro saltou de cerca de R$ 40 bilhões para R$ 455 bilhões. Se esses números assustam, cabe ainda calcular o impacto real das operações com títulos públicos emitidos ao BNDES nos custos da dívida pública, motivo de nosso requerimento.
Fazer auditoria na dívida interna é dar transparência e subsídios para que possamos tomar medidas efetivas que impeçam a falência do Brasil. Ao lado da questão política e das implicações que devem culminar no afastamento da presidente, é importante saber o real impacto do lulopetismo na economia brasileira. Que dessa auditoria seja criado um marco para nunca mais repetirmos na história esse populismo fiscal que quebrou o país.
A reprovação das contas de 2014 da presidente Dilma Rousseff pelo TCU (Tribunal de Contas da União) serviu para legitimar aquilo que todo brasileiro já sabe: a presidente usou e abusou das contas públicas como ferramenta de sua reeleição. O que é preciso saber agora —e meu requerimento ao tribunal acaba de ser acatado nesse sentido— é detalhar as causas e as consequências desse aumento da dívida interna.
Logo nas primeiras semanas de mandato como senador ingressei com um requerimento ao TCU (RQS 35/2015) solicitando uma auditoria sobre o aumento da dívida interna brasileira no período entre 2011 e 2014. Também acresci ao pedido uma avaliação sobre o impacto das operações com títulos públicos emitidos diretamente ao BNDES de 2008 a 2014 nos custos da dívida pública mobiliária federal. Trata-se de dar transparência, ou melhor, de escancarar o uso desenfreado de recursos do Tesouro para financiar uma política econômica equivocada e que, no último ano eleitoral, tornou-se criminosamente irresponsável.
Já temos uma prévia: em resposta à minha solicitação, o relator e ministro do TCU, Raimundo Carreiro, divulgou que estudos semelhantes já estão em fase adiantada de apuração e que dados coletados na pesquisa confirmam o disparate que se tornaram os gastos públicos. "De fato, a dívida interna líquida do setor público cresceu 14,03% em 2014 em relação a 2013. Ela evoluiu de 45,39% do PIB em 2013 para 48,35%. Quanto à materialidade, importa ressaltar que o crescimento da dívida interna líquida do setor público em 2014 foi de R$ 328,5 bilhões em comparação ao exercício anterior."
Podemos encarar como uma síntese de quanto custou aos cofres públicos reeleger Dilma Rousseff: R$ 328,5 bilhões em cima de uma já considerada "política fiscal expansionista", como define o TCU. O tribunal também ressalta preocupação sobre o resultado da auditoria em um cenário de "crise de credibilidade da política econômica". Em outras palavras: o balanço será mais um duro golpe na confiança do mercado e da população sobre a capacidade —e a idoneidade— desse governo para propor qualquer ajuste. Antes de essa crise ser política e econômica, ela é moral.
A parte mais acintosa com a qual os recursos do Estado brasileiro foram pulverizados em prol de um projeto de perpetuação no poder está no BNDES. Estima-se que, da expansão da dívida pública de cerca de R$ 1,11 trilhão nos últimos dez anos, cerca de R$ 400 bilhões referem-se a emissões de títulos públicos para capitalizar o banco, o que corresponde a aproximadamente 30% do total. É um volume agressivo que estaria sendo usado arbitrariamente para beneficiar algumas empresas selecionadas, bem como obras em países governados por aliados ideológicos do PT.
Desde 2009, quando o ex-ministro Guido Mantega abriu o caixa do banco por ordem do então presidente Lula, o volume total de empréstimos do Tesouro saltou de cerca de R$ 40 bilhões para R$ 455 bilhões. Se esses números assustam, cabe ainda calcular o impacto real das operações com títulos públicos emitidos ao BNDES nos custos da dívida pública, motivo de nosso requerimento.
Fazer auditoria na dívida interna é dar transparência e subsídios para que possamos tomar medidas efetivas que impeçam a falência do Brasil. Ao lado da questão política e das implicações que devem culminar no afastamento da presidente, é importante saber o real impacto do lulopetismo na economia brasileira. Que dessa auditoria seja criado um marco para nunca mais repetirmos na história esse populismo fiscal que quebrou o país.
Um preço alto demais - MARCO AURÉLIO NOGUEIRA
O ESTADO DE S. PAULO - 24/10
Treze anos depois da posse de Lula, o medo está vencendo a esperança. Houve importantes avanços sociais, mas eles não se mostraram sustentáveis. A correlação de forças não se alterou, mudanças estruturais não se realizaram e o conjunto das políticas de Estado mal saiu do lugar. O País continua patinando em termos de saúde, educação e infraestrutura. O prometido “espetáculo de crescimento” não passou de um jargão solto no ar e o governo Dilma está na ponta do precipício.
Como foi possível que tudo desse tão errado? Há diagnósticos parciais, quase sempre envenenados pela luta político-partidária que engessou a sociedade desde que Lula foi eleito presidente. A polarização dos últimos anos afastou o debate público do fundamental.
Na economia, por exemplo, a corrente mais liberal afirma que houve descuido com as contas públicas e excesso de intervenção estatal, que os gastos não levaram em conta a capacidade de arrecadação do Estado. A crise externa desempenhou um papel, mas o problema principal foi interno, pois o governo abandonou os “fundamentos econômicos” e trouxe de volta a inflação e a “irresponsabilidade fiscal”. Optou-se pela continuidade dos gastos públicos sem o devido cuidado com as receitas e a estabilidade. A única saída é um aperto fiscal duro.
Os economistas mais alinhados com o governo e o PT, por sua vez, não concordam com esse diagnóstico. Eles se subdividem em duas correntes: os “novos desenvolvimentistas”, mais tradicionais, e os “social-desenvolvimentistas”, que defendem a combinação de políticas sociais ativas com investimentos em infraestrutura energética e logística. Ainda que seja favorável a medidas anticíclicas, esta segunda corrente não as vê como algo permanente. Tem pontos de contato com a “nova matriz econômica”, mas não a endossa como coisa sua. Não é tão “estatista” e “intervencionista” quanto ela, por exemplo. Nem aplaude a opção pelo consumo como impulsionador do crescimento. Para ela, a orientação geral beneficiou os setores sociais mais fragilizados, mas os erros de gestão e algumas escolhas equivocadas foram tão graves que tornaram inevitável um ajuste. Os “social-desenvolvimentistas”, porém, opõem-se ao que chamam de “austericídio”, defendendo um ajuste calibrado para recompor a capacidade de financiamento do Estado.
No fundo desse debate, está a questão do Estado, verdadeiro divisor de águas no mundo contemporâneo. Mas do mesmo modo que os liberais entendem o valor da regulação e sabem que é insensato discutir se o Estado deve ou não intervir na economia, os “social-desenvolvimentistas” entendem que as contas públicas precisam de equilíbrio e hoje o ajuste é inevitável. Uns e outros aceitam que os setores público e privado precisam trabalhar juntos. Sabem, também, que cortar gastos públicos tem efeitos perversos no emprego e na renda. E que um aperto duro demais pode fazer a recessão se estender no tempo e ser mais profunda.
Ambas as correntes são críticas do governo atual. Deveriam dialogar mais entre si. A contraposição dogmática das visões, porém, bloqueia a formação de uma agenda econômica. O debate gira em torno de dois polos incomunicáveis, que se comportam com autossuficiência, como se não existissem mais alternativas.
A saída mais sensata e inteligente seria o entendimento entre governo, trabalhadores e empresários, em nome de um ajuste que não dizime a sociedade. Mas ninguém patrocina isso.
O calcanhar de Aquiles dos governos petistas tem sido a política de coalizões, ou seja, o modo como o partido buscou compensar a falta de maioria parlamentar e de condições de governabilidade. Recusando-se a investir numa frente social-democrata que reunisse PT e PSDB, a opção petista foi buscar o “baixo clero” do Congresso Nacional, ou seja, os partidos menores. Uma opção de risco, porque o preço cobrado pelo apoio foi alto e teve de ser pago em moeda, não só com cargos e favores. O episódio do “mensalão” escancarou o procedimento, que espalhou seus venenos pelo sistema. O partido recompôs sua base, aliou-se ao PMDB e passou a fazer vista grossa para o crescimento da corrupção, agora praticada mediante empreiteiras e empresas públicas, como a Petrobrás. Ainda que não tenha impedido que Lula e Dilma se reelegessem em 2006, 2010 e 2014, tal política amarrou e enfraqueceu o PT, forçando seus governos a uma entrega ao PMDB, que, aos poucos, foi engolindo o partido e a agenda governamental.
A política de coalizões se articulou com uma política de “aliança de classes” por meio do Estado. Lula atraiu o apoio do grande empresariado e dos setores organizados da classe trabalhadora em nome de uma política expansionista que anunciava ganhos para todos, beneficiando os mais pobres com políticas assistencialistas e de transferência de renda. O Estado converteu-se no grande articulador político do País. Para manter os inúmeros aliados, Lula, Dilma e o PT concederam todos os anéis, viraram as costas para a esquerda democrática e passaram a tratar os adversários como inimigos. Cortaram o País em duas metades. Ajudaram a alimentar o “ódio” de que tanto reclamam hoje.
Com o fracasso da política econômica, a difícil reeleição em 2014 e a falta de molejo político da presidente, o governo Dilma passou a perder apoios em cascata. Deixou de coordenar até mesmo as próprias bases. Nada do que tenta fazer funciona.
Sem forças para repor a política de alianças e coalizões, o governo ficou sem capacidade de agendamento e ação. Abriu-se, assim, o cenário surreal em que nos encontramos, no qual um governo recém-empossado parece prematuramente envelhecido e caminha para o ostracismo, ameaçando arrastar a sociedade consigo.
A gritaria é geral, mas pouco se faz para que se reponham as bases da convivência civilizada e produtiva entre os que pensam diferentemente.
* MARCO AURÉLIO NOGUEIRA É PROFESSOR TITULAR DE TEORIA POLÍTICA E COORDENADORDO NÚCLEO DE ESTUDOS E ANÁLISES INTERNACIONAIS (NEAI) DA UNESP
Treze anos depois da posse de Lula, o medo está vencendo a esperança. Houve importantes avanços sociais, mas eles não se mostraram sustentáveis. A correlação de forças não se alterou, mudanças estruturais não se realizaram e o conjunto das políticas de Estado mal saiu do lugar. O País continua patinando em termos de saúde, educação e infraestrutura. O prometido “espetáculo de crescimento” não passou de um jargão solto no ar e o governo Dilma está na ponta do precipício.
Como foi possível que tudo desse tão errado? Há diagnósticos parciais, quase sempre envenenados pela luta político-partidária que engessou a sociedade desde que Lula foi eleito presidente. A polarização dos últimos anos afastou o debate público do fundamental.
Na economia, por exemplo, a corrente mais liberal afirma que houve descuido com as contas públicas e excesso de intervenção estatal, que os gastos não levaram em conta a capacidade de arrecadação do Estado. A crise externa desempenhou um papel, mas o problema principal foi interno, pois o governo abandonou os “fundamentos econômicos” e trouxe de volta a inflação e a “irresponsabilidade fiscal”. Optou-se pela continuidade dos gastos públicos sem o devido cuidado com as receitas e a estabilidade. A única saída é um aperto fiscal duro.
Os economistas mais alinhados com o governo e o PT, por sua vez, não concordam com esse diagnóstico. Eles se subdividem em duas correntes: os “novos desenvolvimentistas”, mais tradicionais, e os “social-desenvolvimentistas”, que defendem a combinação de políticas sociais ativas com investimentos em infraestrutura energética e logística. Ainda que seja favorável a medidas anticíclicas, esta segunda corrente não as vê como algo permanente. Tem pontos de contato com a “nova matriz econômica”, mas não a endossa como coisa sua. Não é tão “estatista” e “intervencionista” quanto ela, por exemplo. Nem aplaude a opção pelo consumo como impulsionador do crescimento. Para ela, a orientação geral beneficiou os setores sociais mais fragilizados, mas os erros de gestão e algumas escolhas equivocadas foram tão graves que tornaram inevitável um ajuste. Os “social-desenvolvimentistas”, porém, opõem-se ao que chamam de “austericídio”, defendendo um ajuste calibrado para recompor a capacidade de financiamento do Estado.
No fundo desse debate, está a questão do Estado, verdadeiro divisor de águas no mundo contemporâneo. Mas do mesmo modo que os liberais entendem o valor da regulação e sabem que é insensato discutir se o Estado deve ou não intervir na economia, os “social-desenvolvimentistas” entendem que as contas públicas precisam de equilíbrio e hoje o ajuste é inevitável. Uns e outros aceitam que os setores público e privado precisam trabalhar juntos. Sabem, também, que cortar gastos públicos tem efeitos perversos no emprego e na renda. E que um aperto duro demais pode fazer a recessão se estender no tempo e ser mais profunda.
Ambas as correntes são críticas do governo atual. Deveriam dialogar mais entre si. A contraposição dogmática das visões, porém, bloqueia a formação de uma agenda econômica. O debate gira em torno de dois polos incomunicáveis, que se comportam com autossuficiência, como se não existissem mais alternativas.
A saída mais sensata e inteligente seria o entendimento entre governo, trabalhadores e empresários, em nome de um ajuste que não dizime a sociedade. Mas ninguém patrocina isso.
O calcanhar de Aquiles dos governos petistas tem sido a política de coalizões, ou seja, o modo como o partido buscou compensar a falta de maioria parlamentar e de condições de governabilidade. Recusando-se a investir numa frente social-democrata que reunisse PT e PSDB, a opção petista foi buscar o “baixo clero” do Congresso Nacional, ou seja, os partidos menores. Uma opção de risco, porque o preço cobrado pelo apoio foi alto e teve de ser pago em moeda, não só com cargos e favores. O episódio do “mensalão” escancarou o procedimento, que espalhou seus venenos pelo sistema. O partido recompôs sua base, aliou-se ao PMDB e passou a fazer vista grossa para o crescimento da corrupção, agora praticada mediante empreiteiras e empresas públicas, como a Petrobrás. Ainda que não tenha impedido que Lula e Dilma se reelegessem em 2006, 2010 e 2014, tal política amarrou e enfraqueceu o PT, forçando seus governos a uma entrega ao PMDB, que, aos poucos, foi engolindo o partido e a agenda governamental.
A política de coalizões se articulou com uma política de “aliança de classes” por meio do Estado. Lula atraiu o apoio do grande empresariado e dos setores organizados da classe trabalhadora em nome de uma política expansionista que anunciava ganhos para todos, beneficiando os mais pobres com políticas assistencialistas e de transferência de renda. O Estado converteu-se no grande articulador político do País. Para manter os inúmeros aliados, Lula, Dilma e o PT concederam todos os anéis, viraram as costas para a esquerda democrática e passaram a tratar os adversários como inimigos. Cortaram o País em duas metades. Ajudaram a alimentar o “ódio” de que tanto reclamam hoje.
Com o fracasso da política econômica, a difícil reeleição em 2014 e a falta de molejo político da presidente, o governo Dilma passou a perder apoios em cascata. Deixou de coordenar até mesmo as próprias bases. Nada do que tenta fazer funciona.
Sem forças para repor a política de alianças e coalizões, o governo ficou sem capacidade de agendamento e ação. Abriu-se, assim, o cenário surreal em que nos encontramos, no qual um governo recém-empossado parece prematuramente envelhecido e caminha para o ostracismo, ameaçando arrastar a sociedade consigo.
A gritaria é geral, mas pouco se faz para que se reponham as bases da convivência civilizada e produtiva entre os que pensam diferentemente.
* MARCO AURÉLIO NOGUEIRA É PROFESSOR TITULAR DE TEORIA POLÍTICA E COORDENADORDO NÚCLEO DE ESTUDOS E ANÁLISES INTERNACIONAIS (NEAI) DA UNESP
Violência banalizada - LUIZ FERNANDO JANOT
O GLOBO - 24/10
Assegurar o convívio pacífico nos espaços públicos vai muito além do imediatismo preconizado por aqueles que julgam ser tudo apenas um caso de polícia
Basta abrir o jornal ou assistir ao noticiário pelos meios virtuais de comunicação para constatar que no Brasil se mata desvairadamente, se rouba sem o menor escrúpulo e se mente com a mais absoluta desfaçatez. Reverter esse estado de coisas vem esbarrando na atitude indiferente de uma boa parte da população que parece estar pouco se lixando para o que acontece ao seu redor. Alguns chegam ao cúmulo de reverenciar bandidos, especialmente aqueles que cometem os indefectíveis crimes de colarinho branco.
Em sociedades marcadas por grandes desigualdades, a violência apresenta características, muitas vezes, difíceis de serem compreendidas. Independentemente dessa particularidade, é preciso dizer, em alto e bom tom, que sem segurança dificilmente uma cidade conseguirá prosperar condignamente. Assegurar o convívio pacífico nos espaços públicos, respeitando as leis e os costumes vigentes, vai muito além do imediatismo preconizado por aqueles que julgam ser tudo apenas um caso de polícia.
Na verdade, qualquer modelo de segurança pública só será eficaz se for compreendido, assimilado e compartilhado solidariamente por toda a sociedade. Apesar de algumas críticas feitas ao modo de agir das polícias de Nova York, Barcelona ou Londres, não se pode negar que essas grandes cidades conseguiram acabar, efetivamente, com os graves problemas de segurança que atormentavam a vida cotidiana das suas populações. A presença ostensiva do policiamento nas ruas e a aplicação rigorosa das leis contra delitos de diferentes naturezas trouxeram, de fato, resultados extraordinários para elevar a tranquilidade nos seus espaços urbanos.
Não há a menor dúvida de que os assaltos recorrentes a pedestres e a passageiros de transportes coletivos provocam, além das perdas materiais, inúmeros problemas de ordem comportamental e psicológica. Quando tais ações adquirem um caráter generalizado, elas expõem a incapacidade das autoridades constituídas de fazer valer o ordenamento jurídico, os direitos dos cidadãos e os interesses da própria sociedade.
No Brasil, lamentavelmente, faltam recursos e planejamento integrado para reverter, no curto prazo, o quadro de violência que assola a maioria das nossas cidades. Diante desta situação, despontou o rentável negócio da segurança privada. A participação de policiais nessas empresas particulares gera uma promiscuidade difícil de ser evitada. Nessa circunstância, não faltam exemplos de policiais que agem ao arrepio da lei. Entre os seus desvios de conduta, destaca-se a formação de milícias como a sua mais nítida expressão.
As Unidades de Polícia Pacificadora, implantadas em diversas comunidades do Rio com o objetivo de libertá-las do controle dos traficantes e dos milicianos, se veem ameaçadas pela inépcia do Estado em cumprir as suas obrigações sociais para complementar e consolidar esse programa inovador de segurança pública. Ao relegar tal iniciativa ao segundo plano, o poder público ignorou a necessidade urgente de promover melhorias urbanas e habitacionais nas comunidades pacificadas. Era óbvio que a presença isolada da polícia não seria suficiente para alterar o quadro desolador verificado nesses territórios da cidade. Se não adotarem medidas abrangentes para suprir a falta de infraestrutura urbana em nossas favelas, dificilmente será alcançada a pacificação desejada.
É bom que se diga que os altos índices de criminalidade no Brasil não se devem exclusivamente à presença dos escandalosos contrastes sociais, econômicos e culturais. Devem-se, também, à degradação dos espaços públicos, à falta de policiamento nas ruas, à morosidade da Justiça na aplicação das leis, à certeza da impunidade, às péssimas condições dos presídios e dos abrigos para jovens infratores, ao despreparo da grande maioria dos policiais e à corrupção generalizada que se disseminou por todos os cantos do país. Reverter essa situação é fundamental para evitar que as nossas cidades, com o passar do tempo, incorporem certas mazelas que atualmente se encontram espalhadas pelo planeta.
Luiz Fernando Janot é arquiteto e urbanista
Assegurar o convívio pacífico nos espaços públicos vai muito além do imediatismo preconizado por aqueles que julgam ser tudo apenas um caso de polícia
Basta abrir o jornal ou assistir ao noticiário pelos meios virtuais de comunicação para constatar que no Brasil se mata desvairadamente, se rouba sem o menor escrúpulo e se mente com a mais absoluta desfaçatez. Reverter esse estado de coisas vem esbarrando na atitude indiferente de uma boa parte da população que parece estar pouco se lixando para o que acontece ao seu redor. Alguns chegam ao cúmulo de reverenciar bandidos, especialmente aqueles que cometem os indefectíveis crimes de colarinho branco.
Em sociedades marcadas por grandes desigualdades, a violência apresenta características, muitas vezes, difíceis de serem compreendidas. Independentemente dessa particularidade, é preciso dizer, em alto e bom tom, que sem segurança dificilmente uma cidade conseguirá prosperar condignamente. Assegurar o convívio pacífico nos espaços públicos, respeitando as leis e os costumes vigentes, vai muito além do imediatismo preconizado por aqueles que julgam ser tudo apenas um caso de polícia.
Na verdade, qualquer modelo de segurança pública só será eficaz se for compreendido, assimilado e compartilhado solidariamente por toda a sociedade. Apesar de algumas críticas feitas ao modo de agir das polícias de Nova York, Barcelona ou Londres, não se pode negar que essas grandes cidades conseguiram acabar, efetivamente, com os graves problemas de segurança que atormentavam a vida cotidiana das suas populações. A presença ostensiva do policiamento nas ruas e a aplicação rigorosa das leis contra delitos de diferentes naturezas trouxeram, de fato, resultados extraordinários para elevar a tranquilidade nos seus espaços urbanos.
Não há a menor dúvida de que os assaltos recorrentes a pedestres e a passageiros de transportes coletivos provocam, além das perdas materiais, inúmeros problemas de ordem comportamental e psicológica. Quando tais ações adquirem um caráter generalizado, elas expõem a incapacidade das autoridades constituídas de fazer valer o ordenamento jurídico, os direitos dos cidadãos e os interesses da própria sociedade.
No Brasil, lamentavelmente, faltam recursos e planejamento integrado para reverter, no curto prazo, o quadro de violência que assola a maioria das nossas cidades. Diante desta situação, despontou o rentável negócio da segurança privada. A participação de policiais nessas empresas particulares gera uma promiscuidade difícil de ser evitada. Nessa circunstância, não faltam exemplos de policiais que agem ao arrepio da lei. Entre os seus desvios de conduta, destaca-se a formação de milícias como a sua mais nítida expressão.
As Unidades de Polícia Pacificadora, implantadas em diversas comunidades do Rio com o objetivo de libertá-las do controle dos traficantes e dos milicianos, se veem ameaçadas pela inépcia do Estado em cumprir as suas obrigações sociais para complementar e consolidar esse programa inovador de segurança pública. Ao relegar tal iniciativa ao segundo plano, o poder público ignorou a necessidade urgente de promover melhorias urbanas e habitacionais nas comunidades pacificadas. Era óbvio que a presença isolada da polícia não seria suficiente para alterar o quadro desolador verificado nesses territórios da cidade. Se não adotarem medidas abrangentes para suprir a falta de infraestrutura urbana em nossas favelas, dificilmente será alcançada a pacificação desejada.
É bom que se diga que os altos índices de criminalidade no Brasil não se devem exclusivamente à presença dos escandalosos contrastes sociais, econômicos e culturais. Devem-se, também, à degradação dos espaços públicos, à falta de policiamento nas ruas, à morosidade da Justiça na aplicação das leis, à certeza da impunidade, às péssimas condições dos presídios e dos abrigos para jovens infratores, ao despreparo da grande maioria dos policiais e à corrupção generalizada que se disseminou por todos os cantos do país. Reverter essa situação é fundamental para evitar que as nossas cidades, com o passar do tempo, incorporem certas mazelas que atualmente se encontram espalhadas pelo planeta.
Luiz Fernando Janot é arquiteto e urbanista
Procura-se um mocinho - CARLOS EDUARDO NOVAES
O GLOBO - 24/10
Ed Cunhado tornou-se o bandido mais procurado (pela mídia) e já declarou que não deixa a presidência nem morto. Quer ser enterrado debaixo de sua cadeira
Houve um tempo em que os pacatos e bem informados cidadãos de Braziville conheciam os mocinhos e os bandidos do condado, sabiam como separar o joio do trigo. Foi na reeleição da governadora que as cartas começaram a ser embaralhadas. Descobriu-se que Calamity Vana mentiu adoidado na campanha, iludindo os honestos e ingênuos eleitores, que a escolheram a mocinha de Braziville. Acrescente-se às tais mentiras as manobras ilegais — as ditas “galopadas” — que Calamity utilizou para anunciar ao povo que as contas do governo não poderiam estar melhores.
Os cidadãos de bem se reuniram na igreja e entenderam que, nessas condições, a governadora não deveria permanecer no cargo. O que fez então, Calamity? Convidou um banqueiro neoliberal para conduzir a diligência da economia. Com isso, aplacou a ira dos barões do gado, mas, em contrapartida, deixou os índios de sua tribo em pé de guerra. Não foram poucas as vezes em que o cacique Quatro Dedos foi ao jornalzinho local denunciar Calamity pela escolha de Joachim Levytrás. A mocinha de ontem tornou-se a decepção de hoje.
As pessoas, então, passaram a procurar pela cidade alguém confiável para o papel de mocinho. Logo, três nomes poderosos saltaram na frente, todos da maior tribo do condado, tribo essa que se notabilizou por reunir gente das mais diferentes correntes de ação e pensamento, vaqueiros, trapaceiros, ameríndios, garimpeiros, renegados e criminosos processados pela Justiça. Um saco de gatos, enfim, que oficialmente apoiou a reeleição de Calamity.
Por que não fazer de Michael Temeroso, vice de Calamity, o novo mocinho de Braziville? Temeroso era um cidadão educado e equilibrado, mas, reconhecidamente, sem gana para salvar uma cidade em conflito. Além do que, caso Calamity caísse, havia a possibilidade de ele cair junto. Pensou-se então em Ren Milheiros, presidente da Câmara Alta do condado. Milheiros, porém, tinha um currículo que mais parecia uma folha corrida, com cinco ou seis ações penais nas costas. Sua foto — com e sem cabelo — aparecia sempre na galeria dos bandidos da cidade e não seria de uma hora para outra que viraria mocinho.
Restou, dos três, o presidente da Câmara Baixa, Ed Cunhado, que abandonou o barco de Calamity — de quem era aliado — tão logo ele começou a fazer água. Ao ser eleito presidente, Cunhado entrou no saloon, ofereceu bebida para todos, e logo um monte de puxa-sacos o ergueu nos ombros, apontando-o como o verdadeiro mocinho de Braziville. Índios das mais variadas tribos, indiferentes ao passado obscuro de seu líder, não estavam nem aí para o fato de Cunhado ter sido citado na Operação Ferradura, que investiga a corrupção na Corrida do Ouro Negro. Diziam não haver provas concretas contra “o nosso John Wayne”.
O xerife Rod Yannot entrou em ação e botou as provas na mesa. Denunciou Ed Cunhado por manter um rebanho secreto no México, com mais de dez mil cabeças de gado, todos marcados com as iniciais “EC”. Ed reagiu dizendo que nem sabia onde ficava o México, mas perdeu parte de seus seguidores, que trataram de tirar seus cavalinhos da chuva (de denúncias). Riscado do mapa, Ed Cunhado tornou-se o bandido mais procurado (pela mídia) e já declarou que não deixa a presidência nem morto. Quer ser enterrado debaixo de sua cadeira.
Descartados os três nomes, os cidadãos do condado correram a procurar o mocinho do outro lado da cerca, na oposição. Acontece que a tribo da oposição, chefiada pelo cacique Aedes Snows, havia entregado sua alma ao diabo de Ed Cunhado. Aedes até admitia que Cunhado não fosse flor que se cheirasse, mas só iria deixar de cheirá-la depois que ele apeasse Calamity Vana do poder. Positivamente, não é o tipo de comportamento que se espera de um mocinho.
Abatida e confusa, a população admitiu que Braziville era uma cidade sem mocinhos, entregue à sanha dos bandoleiros. Até que alguém se lembrou de um jovem juiz que trabalha com seu grupo para trazer de volta a moralidade e os bons costumes. Renasciam as esperanças de Braziville ter seu mocinho! Quando, porém, uma comissão de cidadãos de bem selou seus cavalos para buscar o magistrado, um forasteiro chegou a galope, invadiu o saloon e anunciou que a tribo dos becas pretas iniciara um cerco a casa do juiz Morroy.
Era uma vez no Centro-Oeste...
Carlos Eduardo Novaes é escritor
Ed Cunhado tornou-se o bandido mais procurado (pela mídia) e já declarou que não deixa a presidência nem morto. Quer ser enterrado debaixo de sua cadeira
Houve um tempo em que os pacatos e bem informados cidadãos de Braziville conheciam os mocinhos e os bandidos do condado, sabiam como separar o joio do trigo. Foi na reeleição da governadora que as cartas começaram a ser embaralhadas. Descobriu-se que Calamity Vana mentiu adoidado na campanha, iludindo os honestos e ingênuos eleitores, que a escolheram a mocinha de Braziville. Acrescente-se às tais mentiras as manobras ilegais — as ditas “galopadas” — que Calamity utilizou para anunciar ao povo que as contas do governo não poderiam estar melhores.
Os cidadãos de bem se reuniram na igreja e entenderam que, nessas condições, a governadora não deveria permanecer no cargo. O que fez então, Calamity? Convidou um banqueiro neoliberal para conduzir a diligência da economia. Com isso, aplacou a ira dos barões do gado, mas, em contrapartida, deixou os índios de sua tribo em pé de guerra. Não foram poucas as vezes em que o cacique Quatro Dedos foi ao jornalzinho local denunciar Calamity pela escolha de Joachim Levytrás. A mocinha de ontem tornou-se a decepção de hoje.
As pessoas, então, passaram a procurar pela cidade alguém confiável para o papel de mocinho. Logo, três nomes poderosos saltaram na frente, todos da maior tribo do condado, tribo essa que se notabilizou por reunir gente das mais diferentes correntes de ação e pensamento, vaqueiros, trapaceiros, ameríndios, garimpeiros, renegados e criminosos processados pela Justiça. Um saco de gatos, enfim, que oficialmente apoiou a reeleição de Calamity.
Por que não fazer de Michael Temeroso, vice de Calamity, o novo mocinho de Braziville? Temeroso era um cidadão educado e equilibrado, mas, reconhecidamente, sem gana para salvar uma cidade em conflito. Além do que, caso Calamity caísse, havia a possibilidade de ele cair junto. Pensou-se então em Ren Milheiros, presidente da Câmara Alta do condado. Milheiros, porém, tinha um currículo que mais parecia uma folha corrida, com cinco ou seis ações penais nas costas. Sua foto — com e sem cabelo — aparecia sempre na galeria dos bandidos da cidade e não seria de uma hora para outra que viraria mocinho.
Restou, dos três, o presidente da Câmara Baixa, Ed Cunhado, que abandonou o barco de Calamity — de quem era aliado — tão logo ele começou a fazer água. Ao ser eleito presidente, Cunhado entrou no saloon, ofereceu bebida para todos, e logo um monte de puxa-sacos o ergueu nos ombros, apontando-o como o verdadeiro mocinho de Braziville. Índios das mais variadas tribos, indiferentes ao passado obscuro de seu líder, não estavam nem aí para o fato de Cunhado ter sido citado na Operação Ferradura, que investiga a corrupção na Corrida do Ouro Negro. Diziam não haver provas concretas contra “o nosso John Wayne”.
O xerife Rod Yannot entrou em ação e botou as provas na mesa. Denunciou Ed Cunhado por manter um rebanho secreto no México, com mais de dez mil cabeças de gado, todos marcados com as iniciais “EC”. Ed reagiu dizendo que nem sabia onde ficava o México, mas perdeu parte de seus seguidores, que trataram de tirar seus cavalinhos da chuva (de denúncias). Riscado do mapa, Ed Cunhado tornou-se o bandido mais procurado (pela mídia) e já declarou que não deixa a presidência nem morto. Quer ser enterrado debaixo de sua cadeira.
Descartados os três nomes, os cidadãos do condado correram a procurar o mocinho do outro lado da cerca, na oposição. Acontece que a tribo da oposição, chefiada pelo cacique Aedes Snows, havia entregado sua alma ao diabo de Ed Cunhado. Aedes até admitia que Cunhado não fosse flor que se cheirasse, mas só iria deixar de cheirá-la depois que ele apeasse Calamity Vana do poder. Positivamente, não é o tipo de comportamento que se espera de um mocinho.
Abatida e confusa, a população admitiu que Braziville era uma cidade sem mocinhos, entregue à sanha dos bandoleiros. Até que alguém se lembrou de um jovem juiz que trabalha com seu grupo para trazer de volta a moralidade e os bons costumes. Renasciam as esperanças de Braziville ter seu mocinho! Quando, porém, uma comissão de cidadãos de bem selou seus cavalos para buscar o magistrado, um forasteiro chegou a galope, invadiu o saloon e anunciou que a tribo dos becas pretas iniciara um cerco a casa do juiz Morroy.
Era uma vez no Centro-Oeste...
Carlos Eduardo Novaes é escritor
A insensata criação de mais uma estatal - EDITORIAL O GLOBO
O GLOBO - 24/10
Apesar da longa experiência negativa com a estatização, pensa-se em criar empresa pública para ajudar nos projetos de infraestrutura. Um erro
Um governo petista propor a fundação de mais uma estatal não é novidade. Faz parte de uma visão ideológica de mundo. Segundo ela, será pelas mãos do Estado que o povo chegará ao paraíso — algo jamais realizado em qualquer parte do planeta. A excentricidade está em a ideia surgir em meio a uma das mais severas crises fiscais da história da economia brasileira, situação em que se deve fazer o oposto: vender estatais. E outro aspecto curioso é a sugestão partir de uma comissão criada pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, economista sabedor dos malefícios da estatização.
Conclui-se, então, que devem ser convincentes as justificativas para a fundação da Estruturadora Pública Nacional, a ser chamada de EPN. A área de atuação da possível nova estatal é mesmo estratégica: elaboração de projetos de infraestrutura (portos, aeroportos, ferrovias, rodovias), à margem da Lei de Licitações, para serem entregues à iniciativa privada. Portanto, é uma forma de se ganhar tempo e supostamente eficiência num elo de fato complexo em qualquer investimento do tipo com alguma ingerência do Estado.
Infelizmente, mesmo que a ideia conte com o aval de Levy, o histórico centenário do Estado brasileiro garante de antemão o fracasso para o empreendimento.
A História é sábia professora. Por isso cabe relembrar a criação da Infraero relatada pelo seu próprio avalista, o ex-ministro Delfim Netto. Então poderoso dono da pasta da Fazenda, no governo militar do presidente Médici, Delfim foi convencido pelos próprios militares que os aeroportos precisavam de uma estatal para administrá-los. Seria uma empresa “enxuta”, ágil, eficiente. Décadas depois, diante de uma paquidérmica Infraero, ineficiente, loteada por partidos políticos, aparelhada, Delfim registraria o arrependimento público.
O enredo se repete com esta tal EPN. Também é anunciada como uma estatal “enxuta” — na verdade, uma contradição em termos.
Outro aspecto negativo da proposta é que já existe a Empresa de Projetos e Logística (EPL), também estatal e com atribuições semelhantes. Não se tem notícia de grandes avanços na infraestrutura depois de sua criação. Nem assim e mesmo que venha a ser fundada a nova empresa, a EPL seria extinta, um outro erro.
Existem 143 estatais controladas pela União, das quais 18 são dependentes do Tesouro. Não se afasta a possibilidade de a EPN ser mais uma.
Se em geral a experiência de empresas estatais é negativa, na infraestrutura não se tem notícia de êxito. A Valec, por exemplo, criada como subsidiária de engenharia da Vale, passou a tratar de ferrovias. Nada produziu de importante, a não ser pelo menos um escândalo de corrupção, em que foi preso seu presidente, José Francisco das Neves, o Juquinha, apadrinhado pelo PR.
Se o governo quer dar velocidade aos projetos de infraestrutura, proponha mudanças na legislação e melhore a qualidade da gestão nas áreas devidas. Fundar estatal é mais do mesmo.
Apesar da longa experiência negativa com a estatização, pensa-se em criar empresa pública para ajudar nos projetos de infraestrutura. Um erro
Um governo petista propor a fundação de mais uma estatal não é novidade. Faz parte de uma visão ideológica de mundo. Segundo ela, será pelas mãos do Estado que o povo chegará ao paraíso — algo jamais realizado em qualquer parte do planeta. A excentricidade está em a ideia surgir em meio a uma das mais severas crises fiscais da história da economia brasileira, situação em que se deve fazer o oposto: vender estatais. E outro aspecto curioso é a sugestão partir de uma comissão criada pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, economista sabedor dos malefícios da estatização.
Conclui-se, então, que devem ser convincentes as justificativas para a fundação da Estruturadora Pública Nacional, a ser chamada de EPN. A área de atuação da possível nova estatal é mesmo estratégica: elaboração de projetos de infraestrutura (portos, aeroportos, ferrovias, rodovias), à margem da Lei de Licitações, para serem entregues à iniciativa privada. Portanto, é uma forma de se ganhar tempo e supostamente eficiência num elo de fato complexo em qualquer investimento do tipo com alguma ingerência do Estado.
Infelizmente, mesmo que a ideia conte com o aval de Levy, o histórico centenário do Estado brasileiro garante de antemão o fracasso para o empreendimento.
A História é sábia professora. Por isso cabe relembrar a criação da Infraero relatada pelo seu próprio avalista, o ex-ministro Delfim Netto. Então poderoso dono da pasta da Fazenda, no governo militar do presidente Médici, Delfim foi convencido pelos próprios militares que os aeroportos precisavam de uma estatal para administrá-los. Seria uma empresa “enxuta”, ágil, eficiente. Décadas depois, diante de uma paquidérmica Infraero, ineficiente, loteada por partidos políticos, aparelhada, Delfim registraria o arrependimento público.
O enredo se repete com esta tal EPN. Também é anunciada como uma estatal “enxuta” — na verdade, uma contradição em termos.
Outro aspecto negativo da proposta é que já existe a Empresa de Projetos e Logística (EPL), também estatal e com atribuições semelhantes. Não se tem notícia de grandes avanços na infraestrutura depois de sua criação. Nem assim e mesmo que venha a ser fundada a nova empresa, a EPL seria extinta, um outro erro.
Existem 143 estatais controladas pela União, das quais 18 são dependentes do Tesouro. Não se afasta a possibilidade de a EPN ser mais uma.
Se em geral a experiência de empresas estatais é negativa, na infraestrutura não se tem notícia de êxito. A Valec, por exemplo, criada como subsidiária de engenharia da Vale, passou a tratar de ferrovias. Nada produziu de importante, a não ser pelo menos um escândalo de corrupção, em que foi preso seu presidente, José Francisco das Neves, o Juquinha, apadrinhado pelo PR.
Se o governo quer dar velocidade aos projetos de infraestrutura, proponha mudanças na legislação e melhore a qualidade da gestão nas áreas devidas. Fundar estatal é mais do mesmo.
Uma ruína em construção - IGOR GIELOW
Folha de SP - 24/10
BRASÍLIA - A crise política passa por um momento de paralisia sob tensões contraditórias, se é que esta é uma imagem adequada para ilustrar o bizarro peso conferido às ações de um único homem, Eduardo Cunha, para determinar seu pretenso desfecho.
Uma esperança de resolução de resto vã, porque o país vai lentamente se esfarelando. Nem cito aqui as estripulias do mercado. Deixemos as Moody’s da vida de lado.
Falemos de Francisca, típica cidadã que viveu a ascensão ilusória dos anos Lula, devidamente hagiografada pelo Ipea e por viúvas do petista.
Ela trabalha como diarista no Plano Piloto da capital. Cobra R$ 120 por dia e descarta buscar a formalização. “Assinar carteira prende. Prefiro controlar meus horários”, diz.
Seu filho mais velho mal se formou em uma faculdade paga, com auxílio federal, e foi dispensado do estágio em um escritório de administração de imóveis em que trabalhava.
Ingressou, sem entrar na estatística formal, no contingente de desempregados cujos números tenebrosos revelados pelo Ministério do Trabalho na sexta (23) insinuam um monstrengo de dois dígitos a assombrar o país ao lado de sua coirmã de mesmo vulto, a inflação.
“Agora acho que ele vai ajudar o tio numa oficina, enquanto não arranja emprego. E eu vou abrir dois dias na semana para trabalhar”, conta Francisca, que trocou a “marca boa” de arroz que comprava por uma mais barata —de R$ 10,50, e não mais R$ 13, o pacote de cinco quilos.
Dilma ocupa seu terceiro mandato, contado a partir de uma reforma ministerial que já dá sinais de cansaço, quase exclusivamente de uma dança da morte com o Cunha para evitar seu impeachment. O presidente da Câmara, por sua vez, só trata de como permanecer na cadeira.
O que pensa Francisca disso tudo? “A Dilma e o Lula são culpados pela desgraceira toda. Esse Cunha eu vi na TV, tem algum problema, né?”.
BRASÍLIA - A crise política passa por um momento de paralisia sob tensões contraditórias, se é que esta é uma imagem adequada para ilustrar o bizarro peso conferido às ações de um único homem, Eduardo Cunha, para determinar seu pretenso desfecho.
Uma esperança de resolução de resto vã, porque o país vai lentamente se esfarelando. Nem cito aqui as estripulias do mercado. Deixemos as Moody’s da vida de lado.
Falemos de Francisca, típica cidadã que viveu a ascensão ilusória dos anos Lula, devidamente hagiografada pelo Ipea e por viúvas do petista.
Ela trabalha como diarista no Plano Piloto da capital. Cobra R$ 120 por dia e descarta buscar a formalização. “Assinar carteira prende. Prefiro controlar meus horários”, diz.
Seu filho mais velho mal se formou em uma faculdade paga, com auxílio federal, e foi dispensado do estágio em um escritório de administração de imóveis em que trabalhava.
Ingressou, sem entrar na estatística formal, no contingente de desempregados cujos números tenebrosos revelados pelo Ministério do Trabalho na sexta (23) insinuam um monstrengo de dois dígitos a assombrar o país ao lado de sua coirmã de mesmo vulto, a inflação.
“Agora acho que ele vai ajudar o tio numa oficina, enquanto não arranja emprego. E eu vou abrir dois dias na semana para trabalhar”, conta Francisca, que trocou a “marca boa” de arroz que comprava por uma mais barata —de R$ 10,50, e não mais R$ 13, o pacote de cinco quilos.
Dilma ocupa seu terceiro mandato, contado a partir de uma reforma ministerial que já dá sinais de cansaço, quase exclusivamente de uma dança da morte com o Cunha para evitar seu impeachment. O presidente da Câmara, por sua vez, só trata de como permanecer na cadeira.
O que pensa Francisca disso tudo? “A Dilma e o Lula são culpados pela desgraceira toda. Esse Cunha eu vi na TV, tem algum problema, né?”.
Antes que a fonte seque - FELIPE SANTA CRUZ E FLÁVIO AHMED
O GLOBO - 24/10
Sofremos efetivamente com a crise ambiental. Se até algum tempo atrás os problemas decorrentes da poluição se limitavam a restritos grupos de discussão, agora essa percepção foi ampliada. A crise hídrica denota um descompromisso com a preservação dos recursos naturais que confronta os princípios constitucionais do meio ambiente sadio e da dignidade da pessoa humana.
O Rio de Janeiro já viveu um episódio que vale preciosa lição. No século XIX, a Floresta da Tijuca teve sua vegetação devastada para a ocupação de cafezais. O resultado foi dramático: o desmatamento secou as fontes de água da cidade. Foi necessária a visão de Dom Pedro II, que, em 1861, incumbiu o major Archer e poucos escravos de restaurá-la com o plantio de cem mil mudas ao longo de 26 anos. O esforço salvou a maior reserva florestal urbana do mundo. Mais que isto: com a vegetação, o povo voltou a ter água.
Pelo visto, a lição não foi assimilada. Vítima do desmatamento de antigas fazendas cafeeiras, o Rio Paraíba do Sul e seus afluentes — a bacia que abastece nosso estado — passam por estresse hídrico. Desordenadamente, cidades se estabeleceram em suas margens sem o devido saneamento. Os reservatórios agonizam. A poluição contamina as águas e a supressão contínua de vegetação afeta o ciclo hidrológico, o que se agrava com as mudanças climáticas.
E pouco se faz para reverter essa realidade. Patrimônio natural e histórico, o Paraíba do Sul é a motriz do sistema Guandu, criado em 1963 e até hoje a nossa principal fonte de abastecimento. Sem qualquer obra que amplie o fornecimento desde então, o Guandu opera no limite para atender mais de seis milhões de cariocas — o dobro de seu início. Além disso, dois terços da água gerada são destinados à indústria e agricultura. Em matéria de economia, o Rio seria reprovado: lideramos o consumo de água per capita no país e somos o segundo no ranking do desperdício.
A água é bem ambiental, de uso comum do povo, cuja gestão deve ser “descentralizada e contar com a participação do poder público, dos usuários e das comunidades”, como define a Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei nº 9433/97). A pauta também é econômica, já que da preservação do Paraíba do Sul dependem não só a vida saudável da população, mas a produção industrial e agrícola.
Diante deste quadro, a OAB-RJ lançou um amplo programa para desenvolver atividades que visam a estimular a cooperação na gestão dos recursos hídricos no estado. Recuperação florestal de pontos degradados, mobilização dos setores jurídicos das empresas, interlocução com o poder público e propostas e acompanhamento de ações no Poder Judiciário constam do projeto. O objetivo é incluir o tema na pauta da entidade, mobilizando advogados e cidadãos, com discussões e acolhimento dessas medidas.
Se, por um lado, somos vítimas diretas do descaso de nossos antepassados, por outro, temos a responsabilidade e o dever de lutar pela reversão deste quadro, de modo a assegurar melhor qualidade de vida às futuras gerações. Dever este que envolve um compromisso ético, ampla mobilização social e ações concretas que evitem o agravamento da crise ambiental.
Felipe Santa Cruz é presidente da OAB/RJ e Flávio Ahmed é presidente da Comissão de Direito Ambiental da OAB/RJ
Sofremos efetivamente com a crise ambiental. Se até algum tempo atrás os problemas decorrentes da poluição se limitavam a restritos grupos de discussão, agora essa percepção foi ampliada. A crise hídrica denota um descompromisso com a preservação dos recursos naturais que confronta os princípios constitucionais do meio ambiente sadio e da dignidade da pessoa humana.
O Rio de Janeiro já viveu um episódio que vale preciosa lição. No século XIX, a Floresta da Tijuca teve sua vegetação devastada para a ocupação de cafezais. O resultado foi dramático: o desmatamento secou as fontes de água da cidade. Foi necessária a visão de Dom Pedro II, que, em 1861, incumbiu o major Archer e poucos escravos de restaurá-la com o plantio de cem mil mudas ao longo de 26 anos. O esforço salvou a maior reserva florestal urbana do mundo. Mais que isto: com a vegetação, o povo voltou a ter água.
Pelo visto, a lição não foi assimilada. Vítima do desmatamento de antigas fazendas cafeeiras, o Rio Paraíba do Sul e seus afluentes — a bacia que abastece nosso estado — passam por estresse hídrico. Desordenadamente, cidades se estabeleceram em suas margens sem o devido saneamento. Os reservatórios agonizam. A poluição contamina as águas e a supressão contínua de vegetação afeta o ciclo hidrológico, o que se agrava com as mudanças climáticas.
E pouco se faz para reverter essa realidade. Patrimônio natural e histórico, o Paraíba do Sul é a motriz do sistema Guandu, criado em 1963 e até hoje a nossa principal fonte de abastecimento. Sem qualquer obra que amplie o fornecimento desde então, o Guandu opera no limite para atender mais de seis milhões de cariocas — o dobro de seu início. Além disso, dois terços da água gerada são destinados à indústria e agricultura. Em matéria de economia, o Rio seria reprovado: lideramos o consumo de água per capita no país e somos o segundo no ranking do desperdício.
A água é bem ambiental, de uso comum do povo, cuja gestão deve ser “descentralizada e contar com a participação do poder público, dos usuários e das comunidades”, como define a Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei nº 9433/97). A pauta também é econômica, já que da preservação do Paraíba do Sul dependem não só a vida saudável da população, mas a produção industrial e agrícola.
Diante deste quadro, a OAB-RJ lançou um amplo programa para desenvolver atividades que visam a estimular a cooperação na gestão dos recursos hídricos no estado. Recuperação florestal de pontos degradados, mobilização dos setores jurídicos das empresas, interlocução com o poder público e propostas e acompanhamento de ações no Poder Judiciário constam do projeto. O objetivo é incluir o tema na pauta da entidade, mobilizando advogados e cidadãos, com discussões e acolhimento dessas medidas.
Se, por um lado, somos vítimas diretas do descaso de nossos antepassados, por outro, temos a responsabilidade e o dever de lutar pela reversão deste quadro, de modo a assegurar melhor qualidade de vida às futuras gerações. Dever este que envolve um compromisso ético, ampla mobilização social e ações concretas que evitem o agravamento da crise ambiental.
Felipe Santa Cruz é presidente da OAB/RJ e Flávio Ahmed é presidente da Comissão de Direito Ambiental da OAB/RJ
COLUNA DE CLÁUDIO HUMBERTO
PALOCCI É O PERSONAGEM MISTERIOSO DO CASO ITAÚSA
Todo mercado sabia que houve rolo para que o fundo Petros, dos funcionários da Petrobras, comprasse por R$ 3 bilhões algo que ninguém queria: a participação na Camargo Corrêa na Itaúsa, holding do banco Itaú. Agora se sabe o nome da fera que “armou” a operação, segundo acredita a CPI dos Fundos de Pensão: Antônio Palocci, ex-ministro de Lula e Dilma. O negócio foi desastroso para o Petros.
GRANDE PREJUÍZOS
A manipulação dos recursos, no negócio do Itaúsa, causou grandes prejuízos aos segurados do Petros, no período de 2003 a 2015.
DUPLA DINÂMICA
Atuando fortemente, inclusive no Instituto Lula, Palocci é conhecido no mercado como parceiro de negócios e soluções do ex-presidente Lula.
A TOQUE DE CAIXA
A compra da participação da Camargo na Itaúsa foi fechada à revelia do Comitê de Investimentos da Petros, com prejuízo para os fundos.
O ‘INVESTIGADOR’
O deputado Raul Jungmann (PPS-PE) descobriu o papel de Palocci no caso Itaúsa, e o convocou para depor na CPI dos Fundos de Pensão.
VOLTA DE EMÍLIO SELA SAÍDA DE MARCELO ODEBRECHT
Não fosse Marcelo Odebrecht membro da família, certamente já teria sido demitido da gigante de construções. Sua ausência, decorrente da prisão, é lamentada apenas pelos problemas que continua causando à corporação. Diretores e funcionários demonstram alívio com a saída de Marcelo, conhecido pelo estilo seco, invasivo e agressivo, e felicidade com o retorno ao comando do pai, Emílio Odebrecht, muito estimado.
RETORNO
Além de Emílio, outros dois ex-dirigentes que faziam parte do conselho de administração, retornaram a funções executivas na Odebrecht.
FASCÍNIO PELO PODER
A avaliação interna é que Marcelo Odebrecht não se contentava em dirigir uma das maiores empresas do mundo: ele queria poder político.
DESLUMBRAMENTO
Marcelo é criticado na Odebrecht pela obsessão em ser espécie de “ministro sem pasta” de todos os governos, ser influente, reconhecido.
MEDO DE MORO
A maior preocupação de Eduardo Cunha em relação à Operação Lava Jato é o envolvimento da filha e da mulher, que, como Lula, devem ser julgadas em Curitiba pelo implacável juiz federal Sérgio Moro.
MUITO ESTRANHO
O deputado Roberto Freire (PPS-SP), que defende o impeachment de Dilma, acha muito estranho que não exista na Procuradoria-Geral da República qualquer investigação contra ela, apesar das denúncias.
AZUL, NÃO
O Palácio do Planalto não entrou na onda de homenagens pelo Dia da ONU, ontem, no aniversário de 70 anos da instituição, por motivo óbvio: a orientação era iluminar prédios e monumentos de azul.
INSATISFAÇÃO GERAL
O senador Valdir Raupp (PMDB-RO) teme pressão dos presidentes estaduais do seu partido para o rompimento com o governo. “Há insatisfação com o descumprimento de demandas prometidas”, diz.
SEM FUNDAMENTO
Jerônimo Goergen (PP-RS) cobra explicação do Contran sobre a medida que proibiu extintores em carros: “Essa medida não apresentou fundamento técnico”. Haverá audiência na Câmara sobre o assunto.
TERRA ARRASADA
É consenso na Câmara: a crise política não se resolverá neste ano. Não há previsão de melhoras, sobretudo porque a situação econômica tende a piorar, deixando a população insatisfeita.
MUDANÇA
Veneziano Vital do Rêgo (PMDB-PB) pode deixar a Câmara para entrar na briga por uma prefeitura em 2016. O parlamentar está de olho no Executivo de Campina Grande, município paraibano.
FIM DE RELACIONAMENTO
A senadora Fátima Bezerra (PT-RN) ameaça romper com o governador do Rio Grande do Norte, Robinson Faria. Ela pretende concorrer ao governo potiguar em 2018 e alega falta de apoio de Robinson.
TÁ RUIM PRA TODO MUNDO
As redes sociais notam que é grave a crise de quem vive dos assaltos do tipo “saidinha de banco”: além da crise, bancários estão de greve.
Todo mercado sabia que houve rolo para que o fundo Petros, dos funcionários da Petrobras, comprasse por R$ 3 bilhões algo que ninguém queria: a participação na Camargo Corrêa na Itaúsa, holding do banco Itaú. Agora se sabe o nome da fera que “armou” a operação, segundo acredita a CPI dos Fundos de Pensão: Antônio Palocci, ex-ministro de Lula e Dilma. O negócio foi desastroso para o Petros.
GRANDE PREJUÍZOS
A manipulação dos recursos, no negócio do Itaúsa, causou grandes prejuízos aos segurados do Petros, no período de 2003 a 2015.
DUPLA DINÂMICA
Atuando fortemente, inclusive no Instituto Lula, Palocci é conhecido no mercado como parceiro de negócios e soluções do ex-presidente Lula.
A TOQUE DE CAIXA
A compra da participação da Camargo na Itaúsa foi fechada à revelia do Comitê de Investimentos da Petros, com prejuízo para os fundos.
O ‘INVESTIGADOR’
O deputado Raul Jungmann (PPS-PE) descobriu o papel de Palocci no caso Itaúsa, e o convocou para depor na CPI dos Fundos de Pensão.
VOLTA DE EMÍLIO SELA SAÍDA DE MARCELO ODEBRECHT
Não fosse Marcelo Odebrecht membro da família, certamente já teria sido demitido da gigante de construções. Sua ausência, decorrente da prisão, é lamentada apenas pelos problemas que continua causando à corporação. Diretores e funcionários demonstram alívio com a saída de Marcelo, conhecido pelo estilo seco, invasivo e agressivo, e felicidade com o retorno ao comando do pai, Emílio Odebrecht, muito estimado.
RETORNO
Além de Emílio, outros dois ex-dirigentes que faziam parte do conselho de administração, retornaram a funções executivas na Odebrecht.
FASCÍNIO PELO PODER
A avaliação interna é que Marcelo Odebrecht não se contentava em dirigir uma das maiores empresas do mundo: ele queria poder político.
DESLUMBRAMENTO
Marcelo é criticado na Odebrecht pela obsessão em ser espécie de “ministro sem pasta” de todos os governos, ser influente, reconhecido.
MEDO DE MORO
A maior preocupação de Eduardo Cunha em relação à Operação Lava Jato é o envolvimento da filha e da mulher, que, como Lula, devem ser julgadas em Curitiba pelo implacável juiz federal Sérgio Moro.
MUITO ESTRANHO
O deputado Roberto Freire (PPS-SP), que defende o impeachment de Dilma, acha muito estranho que não exista na Procuradoria-Geral da República qualquer investigação contra ela, apesar das denúncias.
AZUL, NÃO
O Palácio do Planalto não entrou na onda de homenagens pelo Dia da ONU, ontem, no aniversário de 70 anos da instituição, por motivo óbvio: a orientação era iluminar prédios e monumentos de azul.
INSATISFAÇÃO GERAL
O senador Valdir Raupp (PMDB-RO) teme pressão dos presidentes estaduais do seu partido para o rompimento com o governo. “Há insatisfação com o descumprimento de demandas prometidas”, diz.
SEM FUNDAMENTO
Jerônimo Goergen (PP-RS) cobra explicação do Contran sobre a medida que proibiu extintores em carros: “Essa medida não apresentou fundamento técnico”. Haverá audiência na Câmara sobre o assunto.
TERRA ARRASADA
É consenso na Câmara: a crise política não se resolverá neste ano. Não há previsão de melhoras, sobretudo porque a situação econômica tende a piorar, deixando a população insatisfeita.
MUDANÇA
Veneziano Vital do Rêgo (PMDB-PB) pode deixar a Câmara para entrar na briga por uma prefeitura em 2016. O parlamentar está de olho no Executivo de Campina Grande, município paraibano.
FIM DE RELACIONAMENTO
A senadora Fátima Bezerra (PT-RN) ameaça romper com o governador do Rio Grande do Norte, Robinson Faria. Ela pretende concorrer ao governo potiguar em 2018 e alega falta de apoio de Robinson.
TÁ RUIM PRA TODO MUNDO
As redes sociais notam que é grave a crise de quem vive dos assaltos do tipo “saidinha de banco”: além da crise, bancários estão de greve.
Assinar:
Postagens (Atom)