O GLOBO - 20/04/12
O clima da oposição com essa CPI do Cachoeira é animado, mesmo sabendo que o tucano Marconi Perillo, governador de Goiás, deve sofrer mais que sovaco de aleijado. Mais uma vez, Zé Dirceu foi escalado como Judas pela oposição por ter sido consultor da Delta e tido, lá atrás, um assessor, Waldomiro Diniz, flagrado pedindo propina a Cachoeira.
Fator Thomaz...
O temor da oposição é que Cachoeira, conhecedor como ninguém dos malfeitos de políticos de todos os lados, fale dos podres só dos oposicionistas. Com todo o merecido respeito a Márcio Thomaz Bastos, que cobrou R$ 15 milhões para defender o bicheiro, a oposição teme que o advogado instrua seu cliente, sem prejuízo de sua defesa, a construir alguma ponte com gente do governo.
Como se sabe...
Bastos foi ministro da Justiça de Lula.
Rádio Corredor
Padre Marcelo Rossi, sucesso em tudo que faz, estaria pensando em ter sua própria rádio. A conferir.
Dilma e Eike
Dilma vem ao Rio dia 26 agora para visitar as obras do Porto do Açu, de Eike Sempre Ele Batista, em São João da Barra. A presidente participará também da celebração do primeiro óleo da OGX.
Thalita infantil
Thalita Rebouças vai publicar seu primeiro título infantil. A escritora de 1,2 milhão de livros vendidos, que, até agora, escreveu só para adolescentes, publicará, ainda este ano, “Por que só as princesas se dão bem?”, dirigido aos miúdos.
PARATY, TERRA DA
Flip, no Rio, ganhou um riacho de... esgoto. Este vazamento enfeia a esquina das ruas da Prata e Comendador José Luiz, bem no centro histórico da cidade. No último dia 10, o secretário municipal de Obras, Walcimar Cunha Bastos, prometeu, por intermédio de uma assessora, resolver o problema ainda naquela semana. Mas, para a tristeza dos amantes de Paraty (a turma da coluna, inclusive), o riozinho de cocô teima em sujar as velhas ruas de pedra. Alô, prefeitura!
Roteiro global
A TAM Viagens e a Globo Marcas vão levar turistas a locações de programas da TV. Serão viagens para grupos de até 20 pessoas. Entre os roteiros, estão a Toscana, na Itália (novela “Passione”) e Pelotas, RS (“A casa das sete mulheres”).
Terra de Sarney
O Sebrae do Maranhão foi autorizado a captar R$ 5.567.940 pela Lei Rouanet para, entre outras ações, montar um espetáculo pelos 400 anos de São Luís.
São amigos
Cabral esclarece que não é padrinho das filhas gêmeas de Fernando Cavendish, dono da Delta, nem sua mulher, Adriana, é madrinha, como saiu aqui: — Nunca neguei ser amigo do Fernando. Mas não sou o padrinho. Apesar de termos enorme carinho pelas meninas.
É grave o mosquito I
O empresário Juracy Renaux Leite, 80 anos, morreu ontem após três dias de internação com diagnóstico de dengue no Hospital Getúlio Vargas, no Rio. Mas, em seu atestado de óbito, o hospital pôs “causa indeterminada”.
É grave o mosquito II
O mosquito da dengue causou um desfalque no elenco da peça “Emilinha e Marlene”, no Teatro Clara Nunes, na Gávea, no Rio. Um dos atores principais, Luiz Nicolau, caiu de cama. Sobrou para o produtor Anderson Muller, que, na emergência, teve de assumir o papel de Nicolau.
Mergulhão novo
A prefeitura do Rio vai gastar R$ 1.456.532,69 para reformar o Mergulhão da Praça Quinze. Lança hoje o edital de licitação, com previsão de que a obra dure 120 dias.
Rio partido
Pesquisa da agência de publicidade NBS diz que os moradores do Rio estão divididos sobre a preparação da cidade para a Copa de 2014 e os Jogos de 2016 — 45% acreditam que tudo estará pronto até lá, e outros 45% acham que não. Leia mais no site da coluna.
PP (Partido da Praia)
A Câmara do Rio aprovou lei do vereador Carlo Caiado que tomba a rede de vôlei Mackenzie, na Praia da Barra. A importância da rede para a cidade é... não sei.
sexta-feira, abril 20, 2012
Apito inicial - DENISE ROTHENBURG
Correio Braziliense - 20/04/12
Esta semana marca a largada oficial da política do ano. Se pensarmos bem, até aqui, nada de muito importante tinha ocorrido nessa seara, salvo a melhora de saúde do ex-presidente Lula. Nem mesmo a saída de Fernando Haddad ou o anúncio de José Serra como candidato a prefeito de São Paulo podem ser apontados como fatos que deram início à política nesse ano. Até aqui, a sensação que se tinha era a de que 2012 ainda não havia "acontecido" no meio político. Uma pasmaceira geral. E, pelo que se vê, a política versão 2012 chega mais perto daquilo que a sociedade deseja, em vários níveis.
Nas últimas 72 horas, tivemos a posse da presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministra Cármen Lúcia — a mulher que irá reger o processo eleitoral deste ano, o primeiro com a validade da Lei da Ficha Limpa. De quebra, liderar a sessão que decidirá o futuro próximo do PSD de Gilberto Kassab, um dos personagens políticos que merece ser acompanhado de perto por todos que se interessam pelo tema.
Ontem, outros dois eventos concluíram o que pode ser chamada a abertura oficial da temporada política deste ano. De manhã, a presidente em exercício do Congresso, deputada Rose de Freitas (PMDB-ES), declarou criada a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investigará as relações do empresário do jogo do bicho Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. À tarde, a posse do presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Carlos Ayres Britto, com a promessa de finalmente julgar o mensalão do PT.
Por falar em Ayres Britto...
O novo presidente do STF não está brincando quando diz que a Suprema Corte precisa julgar logo o mensalão. Ele já demonstrou não ter medo de polêmicas. Foi relator da liberação de pesquisas de células-tronco embrionárias e do reconhecimento da união estável entre pessoas do mesmo sexo.
E, se levarmos ao pé da letra o ditado de que se conhece o sujeito logo na chegada, pelo arriar da mala, Ayres Britto segue no sentido de aproximar o STF da população. Ao dizer que o Judiciário "é o poder que não pode jamais perder a confiança da coletividade, sob pena de esgarçar o próprio tecido da coesão nacional", o novo presidente do STF deixa claro por onde seguirá. Aliás, não será de todo ruim se todos os poderes se aproximarem mais dos cidadãos. A criação da CPI vai nesse sentido, assim como a Lei da Ficha Limpa.
Por falar em CPMI...
Quanto à CPMI, não tenha dúvidas, leitor, de que, antes das eleições municipais, os desdobramentos das ações dessa comissão darão o norte para aproximação e/ou o afastamento de aliados no dia-a-dia da política. Pelo andar da carruagem, o PMDB, por exemplo, pretende colocar ali personagens acostumados a jogar tanto na defesa quanto no ataque. Os parlamentares escolhidos farão um ou outro papel dependendo do que for mais proveitoso para o partido.
Inicialmente, os peemedebistas entrarão como zagueiros. Mas, se perceberem que Sérgio Cabral, governador do Rio de Janeiro amigo de Fernando Cavendish, dono da Delta, pode se enroscar ao ponto de eles não conseguirem tirá-lo das cordas, os peemedebistas estarão prontos a criar uma confusão capaz de enroscar personagens de outros partidos. O mais importante, leitor, é que, nesse jogo de vai e vem, não se perca o rumo de deixar o Poder Legislativo mais próximo da sociedade. E a sociedade quer mesmo é ver o seu imposto, que (ainda) é alto, transformado em serviços para a população e não em benefícios para alguns.
Por falar em imposto...
Depois da queda dos juros, grande bandeira do ex-vice-presidente José Alencar, já está em franca ascensão nas redes sociais uma pressão por menos impostos. Em tempos de acertar as contas com a Receita e entregar o Imposto de Renda, a tendência é esse movimento crescer.
O 2012 político começa hoje com as posses no Judiciário e a criação da CPMI, onde o PMDB colocará personagens acostumados a jogar tanto na defesa quanto no ataque. Eles farão um ou outro papel dependendo do que for mais proveitoso para o partido.
A inveja do rato! - TUTTY VASQUES
O ESTADÃO - 20/04/12
Por enquanto é só um tufo na nuca pelada de um ratinho de laboratório no Japão, mas dá uma olhadinha ao redor, e repara só: os carecas estão rindo à toa!.
Se a ciência já é capaz de fazer crescer cabelo em roedor, quem sabe, né não?
Tem careca que não liga pra isso, acha mesmo ridículo qualquer iniciativa de combate à calvície, mas há também aquele que procura pelo até em ovo.
Gente que já experimentou de tudo: de laser a xampu de esperma de baleia, de pai de santo a pequenas descargas elétricas no cocuruto, de massagem com a mulher do Cid Moreira ao método Eike Batista de adensamento capilar...
Para quem não acredita mais em milagres, a esperança terapêutica de topete cresce agora a olhos vistos no cangote das cobaias submetidas a tratamento com folículos criados a partir de células-tronco adultas.
É cedo ainda para se falar em cabelo na testa - a coisa tem ainda aspecto de crina -, mas não é intenção do colunista cortar o barato de ninguém.
Só acho que, com todo respeito ao leitor careca, não há vaidade que resista a essa pontinha de inveja dos camundongos despertada pelo noticiário da semana.
Mundo cãoSalvatore Cacciola está horrorizado com os escândalos financeiros do noticiário. O ex-banqueiro pensou até em recusar o indulto que extinguiu sua pena por se sentir mais seguro em cana. A família, entretanto, insistiu e ele resolveu aceitar a liberdade. Tomara que resista às tentações da vida aqui fora!
Ex-carecaJustiça seja feita a José Dirceu. O ex-ministro foi, muito antes dos ratos japoneses de laboratório, o primeiro experimento bem-sucedido contra a calvície no mundo. Com resultado, diga-se de passagem, muito mais satisfatório!
Praga portenhaCristina Kirchner mandou novo recado à Repsol: Messi só voltará a brilhar no Barcelona quando os espanhóis desistirem da indenização bilionária pela expropriação da YPF.
Jeitinho próprio
Um ano e meio após tomar posse no Ministério do Esporte, Aldo Rebelo continua usando capacete dois números menor que sua cabeça nas visitas que faz às obras dos estádios da Copa de 2014.
Vocação de fracassoComo toda grande reunião sobre a tragédia planetária do meio ambiente que se preze, a Rio+20 começou a dar errado meses antes de sua realização.
Melada básicaQuem nunca comprou uma lancha, quando compra 28 se lambuza! E aí, como diz o Chico Buarque, "lalari, liliri, larará, Ideli..."
Será?A advogada Flávia Coelho, mulher de Demóstenes Torres, foi assunto na última reunião de pauta da Playboy. Desde então, não se fala mais nisso na revista!
Tiroteio jurídicoEntreouvido nos corredores do STF: "La cosa se queda Peluso!"
Por enquanto é só um tufo na nuca pelada de um ratinho de laboratório no Japão, mas dá uma olhadinha ao redor, e repara só: os carecas estão rindo à toa!.
Se a ciência já é capaz de fazer crescer cabelo em roedor, quem sabe, né não?
Tem careca que não liga pra isso, acha mesmo ridículo qualquer iniciativa de combate à calvície, mas há também aquele que procura pelo até em ovo.
Gente que já experimentou de tudo: de laser a xampu de esperma de baleia, de pai de santo a pequenas descargas elétricas no cocuruto, de massagem com a mulher do Cid Moreira ao método Eike Batista de adensamento capilar...
Para quem não acredita mais em milagres, a esperança terapêutica de topete cresce agora a olhos vistos no cangote das cobaias submetidas a tratamento com folículos criados a partir de células-tronco adultas.
É cedo ainda para se falar em cabelo na testa - a coisa tem ainda aspecto de crina -, mas não é intenção do colunista cortar o barato de ninguém.
Só acho que, com todo respeito ao leitor careca, não há vaidade que resista a essa pontinha de inveja dos camundongos despertada pelo noticiário da semana.
Mundo cãoSalvatore Cacciola está horrorizado com os escândalos financeiros do noticiário. O ex-banqueiro pensou até em recusar o indulto que extinguiu sua pena por se sentir mais seguro em cana. A família, entretanto, insistiu e ele resolveu aceitar a liberdade. Tomara que resista às tentações da vida aqui fora!
Ex-carecaJustiça seja feita a José Dirceu. O ex-ministro foi, muito antes dos ratos japoneses de laboratório, o primeiro experimento bem-sucedido contra a calvície no mundo. Com resultado, diga-se de passagem, muito mais satisfatório!
Praga portenhaCristina Kirchner mandou novo recado à Repsol: Messi só voltará a brilhar no Barcelona quando os espanhóis desistirem da indenização bilionária pela expropriação da YPF.
Jeitinho próprio
Um ano e meio após tomar posse no Ministério do Esporte, Aldo Rebelo continua usando capacete dois números menor que sua cabeça nas visitas que faz às obras dos estádios da Copa de 2014.
Vocação de fracassoComo toda grande reunião sobre a tragédia planetária do meio ambiente que se preze, a Rio+20 começou a dar errado meses antes de sua realização.
Melada básicaQuem nunca comprou uma lancha, quando compra 28 se lambuza! E aí, como diz o Chico Buarque, "lalari, liliri, larará, Ideli..."
Será?A advogada Flávia Coelho, mulher de Demóstenes Torres, foi assunto na última reunião de pauta da Playboy. Desde então, não se fala mais nisso na revista!
Tiroteio jurídicoEntreouvido nos corredores do STF: "La cosa se queda Peluso!"
Em busca dos amigos - RUY CASTRO
FOLHA DE SP - 20/04/12
RIO DE JANEIRO - Na terça-feira, as câmaras do Superior Tribunal de Justiça (STJ), em Brasília, flagraram uma onça-parda caminhando ao longo dos carros em seu estacionamento. Ela não tinha nada a fazer ali -onças não dirigem automóvel nem exercem funções no Judiciário. Mas não foi a onça que invadiu o estacionamento. O estacionamento é que vem tomando os seus domínios.
Sem saber que estava sendo observada, a onça seguia pacificamente a sua trilha, tentando se orientar em meio àqueles novos animais com garras de borracha, pele de lataria e expelindo roncos e gases diferentes dos de seus colegas no mato. Dias antes, ao sair em vão para caçar, já tinha ido parar num descampado entupido daqueles mesmos animais metálicos, só que ao redor de uma grande cabana cheia de comida congelada -um supermercado.
Para sorte da onça, ela não cruzou com ninguém no estacionamento. Não que, apanhado de surpresa, um homem pudesse fazer frente ao seu magnífico porte de até 2,4 m,75 kg e uma mordida capaz de atravessar crânios, cascos, ossos e levar a presa à morte em segundos. Mas, se houvesse ali um confronto, o maior ameaçado seria a onça.
Mesmo a proximidade de um tribunal de Justiça não a livraria do risco. Entre os juízes, há hoje trocas de graves acusações, ouvindo-se expressões como bandidos de toga, corregedores populistas e vendedores de sentenças. Mas, se saísse correndo, decepcionada, a onça cairia nas catacumbas do Executivo, onde se veria cercada por 37 ministérios e exposta a todo tipo de "malfeitos", a maioria, impróprios para onças menores de idade.
E, se, na busca dos amigos, adentrasse os territórios do Legislativo, aí, sim, é que a inocente onça não teria a menor chance. Ao se aproximar do Congresso, sucumbiria em segundos aos miasmas que exalam das duas Casas.
RIO DE JANEIRO - Na terça-feira, as câmaras do Superior Tribunal de Justiça (STJ), em Brasília, flagraram uma onça-parda caminhando ao longo dos carros em seu estacionamento. Ela não tinha nada a fazer ali -onças não dirigem automóvel nem exercem funções no Judiciário. Mas não foi a onça que invadiu o estacionamento. O estacionamento é que vem tomando os seus domínios.
Sem saber que estava sendo observada, a onça seguia pacificamente a sua trilha, tentando se orientar em meio àqueles novos animais com garras de borracha, pele de lataria e expelindo roncos e gases diferentes dos de seus colegas no mato. Dias antes, ao sair em vão para caçar, já tinha ido parar num descampado entupido daqueles mesmos animais metálicos, só que ao redor de uma grande cabana cheia de comida congelada -um supermercado.
Para sorte da onça, ela não cruzou com ninguém no estacionamento. Não que, apanhado de surpresa, um homem pudesse fazer frente ao seu magnífico porte de até 2,4 m,75 kg e uma mordida capaz de atravessar crânios, cascos, ossos e levar a presa à morte em segundos. Mas, se houvesse ali um confronto, o maior ameaçado seria a onça.
Mesmo a proximidade de um tribunal de Justiça não a livraria do risco. Entre os juízes, há hoje trocas de graves acusações, ouvindo-se expressões como bandidos de toga, corregedores populistas e vendedores de sentenças. Mas, se saísse correndo, decepcionada, a onça cairia nas catacumbas do Executivo, onde se veria cercada por 37 ministérios e exposta a todo tipo de "malfeitos", a maioria, impróprios para onças menores de idade.
E, se, na busca dos amigos, adentrasse os territórios do Legislativo, aí, sim, é que a inocente onça não teria a menor chance. Ao se aproximar do Congresso, sucumbiria em segundos aos miasmas que exalam das duas Casas.
ICMS e comércio eletrônico - CLÓVIS PANZARINI
O ESTADÃO - 20/04/12
A Constituição federal determina que, nas operações e prestações interestaduais que destinem bens e serviços a não contribuinte de ICMS (consumidor final, sob o ponto de vista da legislação daquele imposto), deve ser aplicada a alíquota interna vigente no Estado remetente.Daí resulta que, quando a mercadoria é vendida diretamente a consumidor final de outro Estado, a obrigação tributária fica plenamente satisfeita no Estado remetente, não restando margem de tributação para o Estado destinatário. E nem poderia ser diferente: se o destinatário, no caso, é caracterizado na norma constitucional como "não contribuinte" do ICMS, obrigá-lo a contribuir seria contradição em termos. Ele, de fato, já contribuiu, pois o imposto cobrado no Estado de origem compõe o custo (e o preço) da mercadoria. Ademais, não há agregação de valor no Estado de destino.
Nos EUA, por decisão de 1992 da Suprema Corte, simplesmente não há incidência do Retail Sales Tax nas vendas online a consumidor de outro Estado, a menos que lá o comerciante vendedor tenha presença física (nexus). Assim, esse moderno canal de comércio trouxe ganho tributário ao consumidor final americano. No Brasil, a regra constitucional de partilha do ICMS nas vendas interestaduais a consumidor final não vinha suscitando relevantes conflitos, à exceção na sua aplicação às saídas de materiais de construção diretamente a empresas de construção civil (não contribuintes de ICMS), que tem ensejado disputa entre os Fiscos do Estado remetente e do destinatário, sendo sempre a vítima óbvia o contribuinte: quando aplica a alíquota interestadual (mais baixa que a interna), é multado na origem; se aplica alíquota interna, seu cliente ou é bitributado ou multado no destino.
Entretanto, o crescimento exponencial do comércio eletrônico amplificou a sensação de perda dos Estados consumidores, que começaram a se insurgir contra a regra constitucional de partilha do ICMS incidente nas vendas interestaduais, e isso tem representado mais uma fonte de tensão federativa.
No ano passado, um grupo de 18 Estados, das Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, inconformado com tal regra, celebrou o Protocolo n.º 21/2011, em que "acordam em exigir, a favor da unidade federada de destino da mercadoria ou bem, a parcela do ICMS devida na operação interestadual em que o consumidor final adquire mercadoria ou bem de forma não presencial por meio de internet, telemarketing ou showroom". E prevê que o pagamento do ICMS será exigível a partir do momento do ingresso da mercadoria ou bem no território da unidade federada, quando procedente de Estados não signatários do protocolo (os tipicamente produtores, do Sudeste e do Sul). O ato só não é cômico - a "exposição de motivos" do protocolo o é - porque é trágico: afronta a regra constitucional de partilha do imposto e estabelece verdadeira "aduana" para exigir em duplicidade parcela do ICMS já paga na origem. Caos tributário e federativo! Esse protocolo é objeto de duas Ações Diretas de Inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal, interpostas por entidades representativas de contribuintes.
De outro lado, tramita no Senado uma Proposta de Emenda Constitucional para mudar essa regra de partilha do ICMS incidente nessas operações via internet, estabelecendo que parte do imposto pertence ao Estado da localização do consumidor. Mesmo que seja justa, essa repactuação da receita do ICMS, se aprovada, trará mais complexidade ao já confuso ICMS. Tendo em vista que, operacionalmente, o Estado destinatário não tem como cobrar o seu quinhão de imposto diretamente de seu consumidor, que não é contribuinte, deverá fazê-lo na fronteira. Ou então será imposta ao comerciante remetente a condição de contribuinte dos Estados destinatários de suas mercadorias: terá não só de recolher ICMS Brasil afora, como também se submeter à auditoria de 27 Fiscos estaduais. Simplificação do sistema tributário brasileiro? Esquece...
Quem desceu o rio com Ideli? - BARBARA GANCIA
FOLHA DE SP - 20/04/12
Veja como fala! O fofucho da mami é um senador da República diferenciado
OLÁ. Você não me conhece, meu nome é Barbara e eu sou a mãe do senador Demóstenes Torres.
Resolvi vir aqui hoje, egrégio leitor da Folha, para defender meu pimpo das acusações horrendas que lhe estão sendo imputadas. Povinho mais ingrato da onça da mão torta, vou contar. Na hora de ir lá se amontoar em cima dele para pedir favor, ninguém questionava o caráter do meu filhote. "Dedê, consegue para mim?", "Dezinho, descola aquela audiência, pelamor?", "Demô, e a nomeação?", era só esse tipo de recado que eu pescava quando esbarrava sem querer no botão da secretária eletrônica dele nas vezes em que passava espanador.
A Flávia não gosta, me considera um angu de sogra. Mas não fosse a mãe dedicada que sou, você acha que Dedoca teria saído esse primor de homem público? Bem-educado igual ao meu filho, modestamente, não tem nem Geraldo Alckmin. Meu filho tem berço, não aquela coisa esparramada que toma o ambiente todo como (que ninguém nos ouça) Pedro Simon (pronto, falei), não é mesmo? Vai dizer que um Valdemar Costa Neto ou um Agripino Maia tiveram uma mãe zelosa nos detalhes da etiqueta como euzinha? É claro que não.
O Brasil sempre teve orgulho do meu Demóstenes. E agora o tratam como se ele fosse uma espécie de canibal de Garanhuns, um comedor de empadas recheadas de Jéssica, um Jeffrey Dahmer do Centro-Oeste, um caça pataca, um pilha pilcha, um puxa tuncum, um degusta tusta qualquer que sai por aí correndo atrás de todo metal que reluz. Só está faltando dizer que nadou pelado com o Stepan Nercessian nas cataratas do Iguaçu e depois foi passear de lancha com a Ideli nas corredeiras do rio dos Bois, que passa aqui ao lado da nossa Anicuns, no coração de Goiás.
Já enxovalharam meu anjinho de tal forma que eu estou apenas esperando o dia da publicação da "Quem" trazendo fotos suas ao lado de um Cavendish, um Waterfall ou Westinghouse em alguma montagem tosca aos pés de Niagara Falls.
Quando não é Land Rover, é barco de pesca, passeio de helicóptero, carona em jatinho e agora mais essa de Delta. É asa-delta isso aí? Olha, meu filho foi escoteiro, coroinha e jogador de polo aquático. Na época, tinha uma cabeleira parecida com a da Rosana Garcia no "Sítio do Pica-Pau Amarelo", uma graça. Mas, de tanto contato com o cloro da piscina, caiu tudo. Foi um drama, em casa evitamos falar no assunto.
E agora o pessoal vem dizer que os amigos dele fazem conchavo em bar de hotel? Olha, não dá para engolir. Meu filho não se dá com esse tipo de gente. Até parece que ele tem a ver com o tipo de senhora colombiana que caiu no bunga-bunga com os seguranças do Obama na 6ª Cúpula das Américas de Cartagena. Estão achando que meu pimpolho é de trocar favor por iPhone?
Como assim? O que foi que eu fiz de errado? Educação ele tem, sempre olhei suas notas, mandei para a aula de inglês, tudo direitinho. Ainda esta semana fui entregar um pavê lá na casa dele (espero que Flávia não diga que foi ela que fez). Meu fofucho é um senador da República diferenciado, percebe?
Continuo desempenhando meu papel. Não vejo como possa ter falhado, procuro ser útil na medida do possível. Não vão nos acusar de falta de estrutura familiar como no caso do Marcola, sabe? Difícil é ver meu Demostinho cumprir o papel que lhe cabe quando a estrutura do teatro em que ele deveria atuar está corroída por cupins. Dói demais isto tudo que estamos passando.
Veja como fala! O fofucho da mami é um senador da República diferenciado
OLÁ. Você não me conhece, meu nome é Barbara e eu sou a mãe do senador Demóstenes Torres.
Resolvi vir aqui hoje, egrégio leitor da Folha, para defender meu pimpo das acusações horrendas que lhe estão sendo imputadas. Povinho mais ingrato da onça da mão torta, vou contar. Na hora de ir lá se amontoar em cima dele para pedir favor, ninguém questionava o caráter do meu filhote. "Dedê, consegue para mim?", "Dezinho, descola aquela audiência, pelamor?", "Demô, e a nomeação?", era só esse tipo de recado que eu pescava quando esbarrava sem querer no botão da secretária eletrônica dele nas vezes em que passava espanador.
A Flávia não gosta, me considera um angu de sogra. Mas não fosse a mãe dedicada que sou, você acha que Dedoca teria saído esse primor de homem público? Bem-educado igual ao meu filho, modestamente, não tem nem Geraldo Alckmin. Meu filho tem berço, não aquela coisa esparramada que toma o ambiente todo como (que ninguém nos ouça) Pedro Simon (pronto, falei), não é mesmo? Vai dizer que um Valdemar Costa Neto ou um Agripino Maia tiveram uma mãe zelosa nos detalhes da etiqueta como euzinha? É claro que não.
O Brasil sempre teve orgulho do meu Demóstenes. E agora o tratam como se ele fosse uma espécie de canibal de Garanhuns, um comedor de empadas recheadas de Jéssica, um Jeffrey Dahmer do Centro-Oeste, um caça pataca, um pilha pilcha, um puxa tuncum, um degusta tusta qualquer que sai por aí correndo atrás de todo metal que reluz. Só está faltando dizer que nadou pelado com o Stepan Nercessian nas cataratas do Iguaçu e depois foi passear de lancha com a Ideli nas corredeiras do rio dos Bois, que passa aqui ao lado da nossa Anicuns, no coração de Goiás.
Já enxovalharam meu anjinho de tal forma que eu estou apenas esperando o dia da publicação da "Quem" trazendo fotos suas ao lado de um Cavendish, um Waterfall ou Westinghouse em alguma montagem tosca aos pés de Niagara Falls.
Quando não é Land Rover, é barco de pesca, passeio de helicóptero, carona em jatinho e agora mais essa de Delta. É asa-delta isso aí? Olha, meu filho foi escoteiro, coroinha e jogador de polo aquático. Na época, tinha uma cabeleira parecida com a da Rosana Garcia no "Sítio do Pica-Pau Amarelo", uma graça. Mas, de tanto contato com o cloro da piscina, caiu tudo. Foi um drama, em casa evitamos falar no assunto.
E agora o pessoal vem dizer que os amigos dele fazem conchavo em bar de hotel? Olha, não dá para engolir. Meu filho não se dá com esse tipo de gente. Até parece que ele tem a ver com o tipo de senhora colombiana que caiu no bunga-bunga com os seguranças do Obama na 6ª Cúpula das Américas de Cartagena. Estão achando que meu pimpolho é de trocar favor por iPhone?
Como assim? O que foi que eu fiz de errado? Educação ele tem, sempre olhei suas notas, mandei para a aula de inglês, tudo direitinho. Ainda esta semana fui entregar um pavê lá na casa dele (espero que Flávia não diga que foi ela que fez). Meu fofucho é um senador da República diferenciado, percebe?
Continuo desempenhando meu papel. Não vejo como possa ter falhado, procuro ser útil na medida do possível. Não vão nos acusar de falta de estrutura familiar como no caso do Marcola, sabe? Difícil é ver meu Demostinho cumprir o papel que lhe cabe quando a estrutura do teatro em que ele deveria atuar está corroída por cupins. Dói demais isto tudo que estamos passando.
Cuidado com a taxa de câmbio - LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS
FOLHA DE SP - 20/04/12
Nos últimos dias, o objetivo do BC foi mostrar ao mercado que o governo quer enfraquecer o real
O governo passou das palavras à ação no mercado de câmbio e está provocando, via compras do BC, a desvalorização do real. Nos últimos 30 dias, a moeda brasileira perdeu mais de 4% em relação ao dólar norte-americano.
Nesse mesmo período, as outras moedas que fazem parte da cesta de moedas dos países emergentes também se desvalorizaram, mas a uma velocidade bem menor.
O dólar canadense ficou praticamente estável, o peso chileno perdeu 1,1% de seu valor, e o peso colombiano, pouco mais de 1%. Mesmo o dólar australiano, moeda identificada como um das mais sensíveis ao crescimento chinês, desvalorizou-se menos do que o nosso real (2%) nesses 30 dias.
Mas a atenção do analista foi para a nova forma de intervenção do BC nos mercados de câmbio. Até agora, as compras oficiais procuravam apenas retirar do mercado os dólares excedentes provenientes das contas comerciais e financeiras, evitando, com isso, o fortalecimento do real.
Nos últimos dias, o objetivo foi mostrar ao mercado que o governo quer enfraquecê-lo, levando a taxa de câmbio acima das previsões do mercado, para o restante de 2012 e mesmo 2013. O que não está claro é: qual é esse novo nível?
Assistimos a mais uma mudança importante na condução da política econômica no governo Dilma em relação aos oito anos do governo Lula. A primeira veio com a política monetária do BC consolidada na mais recente reunião do Copom, anteontem. O sistema de metas de inflação, implantado em 1999, segue agora um novo conjunto de prioridades e uma leitura da inflação, e suas consequências, com nuances diferentes.
O mercado se vê agora diante de outra mudança: uma nova política de administração da taxa de câmbio. Esperamos que o Ministério da Fazenda, via comunicação clara, esclareça seus novos contornos.
O que aparentemente mudou na gestão de um sistema de flutuação suja da taxa de câmbio, como é chamada pelos economistas a forma anterior de atuação do BC -no seu papel de agente do Ministério da Fazenda-, no mercado de câmbio.
Até agora, as intervenções do BC respeitavam alguns parâmetros do mercado, como os movimentos no exterior entre o dólar norte-americano e uma cesta de moedas de países emergentes com grande influência, em suas contas externas, das exportações de commodities. Essa ligação se dava em razão da movimentação dos preços em dólares desses produtos: quando eles aumentavam por questões de demanda, as taxas de câmbio desse grupo de países valorizavam-se, ocorrendo o movimento oposto quando as commodities se enfraqueciam.
Mais recentemente, esse mesmo vaivém entre preços em dólares das commodities e taxas de câmbio de moedas passou a responder às mudanças de percepção de riscos de natureza macro associados à crise na Europa e à desaceleração da economia chinesa.
Apesar desse vaivém imprevisível entre moedas e commodities nos mercados internacionais, seus efeitos sobre a inflação no Brasil sempre foram muito pequenos porque os preços de produtos importantes da cesta de consumo se mantinham constantes em reais.
É fácil entender essa afirmação, pois os movimentos se compensavam entre eles: dólar forte levava a preços menores de commodities, que compensavam a alta do dólar no Brasil, e, no caso oposto, dólar mais fraco levava a preços maiores de commodities, que eram compensados internamente por uma taxa de câmbio mais valorizada.
Foi esse mecanismo de compensação que funcionou durante anos e ajudou o BC no controle da inflação em momentos de preços internacionais em elevação.
Com as atuais mudanças na política cambial, com a volta de um sistema de câmbio fixo, perde-se esse instrumento de proteção dos preços internos dos produtos primários negociados no exterior, como soja, milho e outros. Se mais à frente houver um novo movimento de alta no mercado internacional, seu impacto sobre a inflação interna vai ser de outra natureza. Espero que o BC esteja atento a esse fato.
Nos últimos dias, o objetivo do BC foi mostrar ao mercado que o governo quer enfraquecer o real
O governo passou das palavras à ação no mercado de câmbio e está provocando, via compras do BC, a desvalorização do real. Nos últimos 30 dias, a moeda brasileira perdeu mais de 4% em relação ao dólar norte-americano.
Nesse mesmo período, as outras moedas que fazem parte da cesta de moedas dos países emergentes também se desvalorizaram, mas a uma velocidade bem menor.
O dólar canadense ficou praticamente estável, o peso chileno perdeu 1,1% de seu valor, e o peso colombiano, pouco mais de 1%. Mesmo o dólar australiano, moeda identificada como um das mais sensíveis ao crescimento chinês, desvalorizou-se menos do que o nosso real (2%) nesses 30 dias.
Mas a atenção do analista foi para a nova forma de intervenção do BC nos mercados de câmbio. Até agora, as compras oficiais procuravam apenas retirar do mercado os dólares excedentes provenientes das contas comerciais e financeiras, evitando, com isso, o fortalecimento do real.
Nos últimos dias, o objetivo foi mostrar ao mercado que o governo quer enfraquecê-lo, levando a taxa de câmbio acima das previsões do mercado, para o restante de 2012 e mesmo 2013. O que não está claro é: qual é esse novo nível?
Assistimos a mais uma mudança importante na condução da política econômica no governo Dilma em relação aos oito anos do governo Lula. A primeira veio com a política monetária do BC consolidada na mais recente reunião do Copom, anteontem. O sistema de metas de inflação, implantado em 1999, segue agora um novo conjunto de prioridades e uma leitura da inflação, e suas consequências, com nuances diferentes.
O mercado se vê agora diante de outra mudança: uma nova política de administração da taxa de câmbio. Esperamos que o Ministério da Fazenda, via comunicação clara, esclareça seus novos contornos.
O que aparentemente mudou na gestão de um sistema de flutuação suja da taxa de câmbio, como é chamada pelos economistas a forma anterior de atuação do BC -no seu papel de agente do Ministério da Fazenda-, no mercado de câmbio.
Até agora, as intervenções do BC respeitavam alguns parâmetros do mercado, como os movimentos no exterior entre o dólar norte-americano e uma cesta de moedas de países emergentes com grande influência, em suas contas externas, das exportações de commodities. Essa ligação se dava em razão da movimentação dos preços em dólares desses produtos: quando eles aumentavam por questões de demanda, as taxas de câmbio desse grupo de países valorizavam-se, ocorrendo o movimento oposto quando as commodities se enfraqueciam.
Mais recentemente, esse mesmo vaivém entre preços em dólares das commodities e taxas de câmbio de moedas passou a responder às mudanças de percepção de riscos de natureza macro associados à crise na Europa e à desaceleração da economia chinesa.
Apesar desse vaivém imprevisível entre moedas e commodities nos mercados internacionais, seus efeitos sobre a inflação no Brasil sempre foram muito pequenos porque os preços de produtos importantes da cesta de consumo se mantinham constantes em reais.
É fácil entender essa afirmação, pois os movimentos se compensavam entre eles: dólar forte levava a preços menores de commodities, que compensavam a alta do dólar no Brasil, e, no caso oposto, dólar mais fraco levava a preços maiores de commodities, que eram compensados internamente por uma taxa de câmbio mais valorizada.
Foi esse mecanismo de compensação que funcionou durante anos e ajudou o BC no controle da inflação em momentos de preços internacionais em elevação.
Com as atuais mudanças na política cambial, com a volta de um sistema de câmbio fixo, perde-se esse instrumento de proteção dos preços internos dos produtos primários negociados no exterior, como soja, milho e outros. Se mais à frente houver um novo movimento de alta no mercado internacional, seu impacto sobre a inflação interna vai ser de outra natureza. Espero que o BC esteja atento a esse fato.
Juros não são a causa da apreciação do real - CLAUDIA SAFATLE
VALOR ECONÔMICO - 20/04/12
"As evidencias econométricas mostram que as condições internacionais têm sido mais determinantes do que a taxa de juros para a apreciação cambial, porque as condições externas têm flutuado mais do que a nossa taxa de juros", disse o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, ao Valor.
De 2006 para cá, segundo ele, começou a ficar claro que há outros elementos que concorrem com os juros na formação da taxa de câmbio, como os preços das commodities, os prêmios de risco e a situação internacional, tanto da economia americana quanto da crise na zona do euro.
A apreciação desde 2003 - parcialmente revertida nas últimas semanas, mais ainda acentuada - tem uma fatia que é "estrutural" e teve razões distintas, explicou ele em um trabalho que começou a ser desenvolvido no mês passado, quando Barbosa fez uma apresentação sobre as causas da valorização cambial no Brasil, na FGV/SP.
"Em 2003-2005, a valorização foi basicamente uma correção da forte depreciação em 2001-2003 e fortemente influenciada pela Selic. A partir de 2006, começou um boom no preço das commodities e isso influenciou muito o câmbio", explicou.
Se os preços das commodities se estabilizarem, ele acredita que não haverá uma nova onda de valorização do real. Mas a avaliação de especialistas é que ainda haverá uma ou duas décadas à frente em que esses preços tenderão a oscilar num patamar elevado.
Há, também como fator estrutural, a redução na fragilidade financeira do país, com a acumulação de reservas cambiais e a política de geração de superávit fiscal, ao mesmo tempo em que parte do mundo avançado viu essa em fragilidade se aprofundar. Isso por si só já levaria a uma apreciação da moeda, disse.
Outra particularidade que Barbosa identificou na trajetória da taxa de câmbio é que, quando ela entra num processo de apreciação, "chega a um ponto em que o real está tão apreciado que a expectativas dos agentes mudam. Aí ocorre uma depreciação e o processo começa novamente". É um padrão recorrente. Isso quando as expectativas do mercado não mudam antes, por fatores externos, como a crise de 2008 e as flutuações nos preços das commodities.
Assim, a tendência da taxa de câmbio de longo prazo é de apreciação, mas ela vem entrecortada por ciclos mais curtos de desvalorização e valorização. Nesses, o papel da Selic e das operações de "carry trade" são determinantes. "E os derivativos de alta alavancagem magnificam esses movimentos", sublinhou o secretário.
Considerando corretos os cálculos recentes do economista Jim O Neill, do Goldman Sachs, de que o real precisaria de uma desvalorização da ordem de 20% para ficar em um "nível sustentável", e tomando como referência que a moeda está cerca de 30% aquém do que estava quando da edição do Plano Real (em 1994), isso significaria que uns 10 a 15 pontos percentuais da sobrevalorização são estruturais e o restante, conjunturais. Parte da apreciação vem sendo anulada nas últimas semanas, com a desvalorização do real frente ao dólar. Ontem, o dólar encerrou o dia cotado a R$ 1,882.
Barbosa, em síntese, aponta quatro hipóteses para explicar a apreciação da taxa de câmbio. A taxa de juros, que ainda tem sua importância, mas não pode ser vista como a grande vilã da apreciação cambial; maior solidez financeira do país, com mais de US$ 360 bilhões de reservas cambiais e superávits primários ininterruptos; preços das commodities, que depois do choque de alta estão num período razoavelmente estável, e termos de troca; e o aumento do preço relativo dos serviços.
Ele ressalta, é claro, que os juros precisam cair por várias outras importantes razões - para reduzir o custo da dívida interna, permitir o desenvolvimento do mercado de capitais no país e tornar o crédito mais barato, dentre outras. Mas, ao contrário do que muitos ainda imaginam, derrubar a Selic para um padrão mais próximo dos juros internacionais não vai resolver a apreciação da taxa de câmbio nem os problemas dela decorrentes que preocupam o governo, dados os efeitos desse preço sobre a indústria local.
Desde o regime de metas para a inflação, em 1999, que o cumprimento da meta esteve ligado à apreciação cambial. "Historicamente a apreciação cambial foi um instrumento importante para cumprir a meta e este deve ser o primeiro ano que vamos cumprir a meta sem que tenha havido apreciação cambial. Estamos mudando o paradigma", ressaltou.
Outra questão instigante que Barbosa levanta é sobre a própria eficácia dos juros para conter uma expansão inadequada da atividade econômica. " O meu ponto é que o PIB responde mais à política fiscal do que aos juros. Essa é uma evidencia anedótica: mais importante do que a taxa Selic é a resposta da politica fiscal à elevação da Selic."
O aumento dos preços das commodities melhorou os termos de troca "e isso não é necessariamente ruim", salientou. "Em todos os períodos do passado, independentemente dos governos serem democráticos ou não, o Brasil aproveitou os termos de troca favoráveis para fazer mudanças positivas na economia." Foi o que permitiu, disse, a industrialização nos anos 50 a 79, a estabilização no periodo de 93 a 97 e o crescimento com distribuição de renda entre 2005 e 2011.
A partir dessas constatações, Barbosa indica o que considera que deve ser feito pelo governo. Primeiro, manter o regime de câmbio flutuante, que ajusta a economia a choques externos e internos; continuar com a acumulação de reservas, que, com juros mais baixos, terão custos menores de carregamento; e regular os fluxos de capitais.
Em outro front, o governo precisa trabalhar para ajudar a aumentar a competitividade da indústria local. "Hoje, temos que trabalhar não só com a taxa de juros, mas com os tributos, com o preço da energia, na infraestrutura."
Falha de comunicação - CELSO MING
O Estado de S. Paulo - 20/04/12
Uma correta administração das expectativas é essencial para evitar acidentes de trânsito. Por isso, o motorista deve sinalizar previamente seus próximos movimentos por meio de sinais do pisca-pisca, com gesticulação apropriada e, até mesmo, por redução da velocidade e por seu comportamento ao longo da pista.
Nesse ponto, o Banco Central do presidente Alexandre Tombini vem se mostrando displicente. Não liga muito para os sinais passados antes nem parece se importar com os movimentos reativos dos demais agentes econômicos ao longo da rodovia monetária.
Na ata da reunião do Copom ocorrida em março, ficou dito que "o cenário contempla a taxa Selic se deslocando para patamares ligeiramente acima dos mínimos históricos, e nesses patamares se estabilizando". Como o tal mínimo histórico foram os 8,75% em que a Selic estava entre julho de 2009 e o março de 2010, já havia ficado claro que, em abril, a Selic ficaria nos 9,0% ao ano e por aí permaneceria por certo tempo.
As principais razões para a baixa dos juros haviam sido apontadas pelo Banco Central: a melhora da qualidade da economia tinha derrubado os juros neutros (ou seja, o nível que não produz inflação); a queda relativa da atividade econômica interna; a estabilização das cotações das commodities... e outros fatores mais.
Mas o comunicado ontem divulgado logo após a reunião do Copom já não partia do pressuposto de que os juros cairiam em cumprimento aos sinais anteriormente emitidos. Precisou deixar claro que, "neste momento, permanecem limitados os riscos para a trajetória da inflação" e que os juros caem mais 0,75 ponto porcentual porque "até agora, dada a fragilidade da economia global, a contribuição do setor externo tem sido deflacionária".
As expressões "neste momento" e "até agora" mostram que o Banco Central já não sustenta o aparentemente forte compromisso anterior de manter os juros estabilizados em 9,0% ao ano. A qualquer momento, pode puxá-los novamente para cima ou prosseguir na trajetória baixista.
Além disso, colocou ênfase nas pressões deflacionárias que vêm de fora e não mais na queda do patamar dos juros neutros nem na desaceleração da atividade produtiva econômica, que o próprio Índice da Atividade Produtiva do Banco Central vem confirmando.
Enfim, o problema dos comunicados do Banco Central não está nas mudanças de avaliação e de procedimento – fatos normais numa situação de grave crise internacional como a de agora –, mas em ignorar o teor dos comunicados anteriores e, em seguida, puxar por novas justificativas que, por sua vez, podem ser ignoradas na próxima curva.
Ainda ontem, a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christiane Lagarde, entendeu que precisava carregar nas tintas: "Pairam nuvens negras sobre a economia global", disse. Talvez buscasse convencer os países-sócios do FMI a reforçar as linhas de socorro à sua disposição. Independentemente das razões práticas, sabemos que o rombo orçamentário (e com ele a dívida pública) dos Estados Unidos segue crescendo; que a encrenca não está resolvida na área do euro; que o sistema bancário da Espanha está vulnerável; e que tudo isso pode gerar ainda mais recessão e desemprego.
Mas do Banco Central do Brasil se espera que seja mais claro não só a respeito do que pretende, mas também do que deixou de pretender.
Malfeitos, mal feitos e bem feitos - NELSON MOTTA
O Estado de S.Paulo - 20/04/12
Ao contrário de Lula, a oratória não está entre as qualidades da presidente Dilma. Suas dificuldades de expressão prejudicam a comunicação de suas ideias, planos e ações ao público. Não que a oratória seja uma qualidade em si, grandes canalhas e farsantes, como políticos palanqueiros e advogados safados, são os que melhor a usam com os piores objetivos. É como dizia o grande psicanalista e poeta mineiro Hélio Pellegrino (1924-1988), um dos fundadores do PT: a inteligência voltada para o mal é pior do que a burrice. Mas a avassaladora popularidade da presidente comprova que os brasileiros estão aprendendo a entender o intrincado dilmês.
Não se sabe se foi por falta de melhor expressão, se por imprecisão vocabular, ou se foi uma escolha consciente e bem pensada da presidente e do marqueteiro João Santana, mas a palavra "malfeito" se tornou uma marca de sucesso do governo Dilma. Mais leve, flexível e genérica do que corrupção, ladroeira, gatunagem, banditismo, falcatrua, rapinagem, maracutaia, que poderiam ser associadas ao governo anterior, onde se originaram muitos malfeitos ora condenados, serve na medida para a presidente designar qualquer coisa entre a incompetência, a lambança, o erro técnico, o tráfico de influência, a fraude, o suborno e o roubo de dinheiro público.
Projetos mal feitos não ficam de pé, mas não são necessariamente corruptos, embora com boas chances de sê-lo, se feitos em algum órgão público. O mensalão é um malfeito ou foi apenas mal feito, porque foi descoberto? E os aloprados, foram pilhados porque fizeram mal um malfeito? E os malfeitos de Durval Barbosa, não foram bem feitos? Arruda e Cachoeira foram para a cadeia? Bem feito! Receber por palestras que não foram dadas é um malfeito ou só um não feito?
Saudada por Hillary Clinton como exemplo global de luta pela transparência e contra a corrupção, Dilma respondeu que "quanto maior a transparência e os canais de interação, mais justa e forte a democracia", enquanto ecoava na memória nacional o histórico aforismo de seu correligionário Delúbio Soares: "Transparência demais é burrice".
Meritocracia só para maiores - HÉLIO SCHWARTSMAN
FOLHA DE SP - 20/04/12
SÃO PAULO - A Justiça confirmou. Escolas privadas não podem mesmo realizar "vestibulinhos" para escolher os alunos que serão aceitos no 1º ano do ensino fundamental.
Não é a primeira vez que o Judiciário se bate contra a física. Se um colégio tem mais candidatos a aluno do que vagas, precisa de uma regra para discriminar quem vai ser recusado. Isso vale tanto para faculdades como para o jardim da infância.
Aceita a ideia de que alguns terão suas expectativas frustradas, é preciso discutir quais os critérios da escolha. As possibilidades são muitas. Vão de sorteio a leilão, passando por avaliações pedagógicas.
Aqui as coisas podem ficar confusas. Nas séries mais elevadas, provas que medem o conhecimento do candidato são vistas como a materialização do ideal republicano da meritocracia. Quando se trata de crianças menores, porém, os testes despontam como uma espécie de estupro da infância. Submetê-las ao estresse do exame e ao trauma de uma rejeição seria ilegal e imoral.
Foi com base nessa percepção que o Ministério Público promove desde 2005 uma campanha, agora sancionada pela Justiça, contra as escolas que faziam "vestibulinhos".
Como ações judiciais não revogam as leis da matemática, a seleção continua ocorrendo, mas por meio de critérios não educacionais. O colégio Santa Cruz, por exemplo, um dos que foram processados em 2005, abandonou as provinhas, mas se tornou uma escola quase dinástica, à qual têm acesso privilegiado filhos de ex-alunos e irmãos de alunos. Outros optaram por sorteios, ordem de inscrição e os "dias de vivência", uma forma de fazer a apreciação pedagógica sem ferir suscetibilidades.
Parece-me uma bobagem. Dado que a discriminação é inevitável, faz muito mais sentido usar critérios pedagógicos do que apelar a disfarces ou delegar a tarefa ao acaso. Não dá para cultuar uma meritocracia apenas para maiores.
As paredes caem, uma a uma, em Pinheiros - IGNÁCIO DE LOYOLA BRANDÃO
O Estado de S.Paulo - 20/04/12
Quando cheguei a esta rua, João Moura, havia em frente do meu prédio uma vilazinha e nela uma fonte de água cristalina. Dizia-me seu Chico, com seus 80 anos, que a fonte existia desde que ele chegara, na altura dos anos 1930. E que muita gente ia buscar água fresca para encher talhas, potes e moringas.
Chico, meu vizinho, tinha um quintal que ia até quase a Rua Cristiano Viana. Nele coexistiam jabuticabeiras, bananeiras, pássaros, patos, galinhas. As jabuticabas, imensas, eram docíssimas.
Cada vez que o pé carregava e os galhos pretejavam de frutos, Chico me trazia uma vasilha cheia. Havia um tanto de interior, um tanto de bucolismo, outro de quietude, comunidade.
Chico se foi, mas sua casa, seu terreno ainda estão ali e cada um de nós prende a respiração, no temor de que vendam algum dia e tudo vá para o chão.
O galo garnizé que a vizinhança ouve habita esse terreno. Vez ou outra, acontece uma baladinha noturna, com violão e danças, há pessoas guardando a casa. Um citadino dia desses começou a espicaçar a galinha que tinha acabado de ter pintinhos.
Provocava e provocava a pobre ave que tentava proteger os filhotes e investia com o bico. Então, um dos convidados gritou:
- Pare com isso, por favor! Não perturbe! Não vê que a galinha ainda está amamentando?
Quando cheguei à rua, anos 90, do meu apartamento no 13.º andar minha vista alcançava o horizonte e eu podia ver as luzes do Morumbi, em noites de jogo. Ao fazer uma panorâmica, contemplava o verde por toda a parte.
Abaixo de mim podia contemplar os sobrados tão característicos de Pinheiros e Vila Madalena, cada um com seu quintal, suas árvores. Podia ver laranjeiras. Mangueiras e jabuticabeiras, flores.
Assim vinha sendo nossa vidinha com jeito provinciano, aqui em Pinheiros, dentro de São Paulo. Basta atravessar uma rua e estamos nos Jardins. Mas em geral ficamos no que chamamos o outro lado da Rebouças, o nosso.
Tão bom que as casas de decoração estão ocupando espaços, são várias e dá gosto olhar as vitrines. Uma delas, a do Teo, inclusive, reformou uma área imensa em frente da nova churrascaria Bovinu's, que, após quase um ano, abriu suas portas.
Nessa onda, na Rua Artur de Azevedo, a filha do Viana mudou o rumo dos negócios que eram do pai (materiais de construção) e agora o espaço se chama Vianarte, com objetos coloridos.
Jovens saem do cursinho e da faculdade (tudo aqui na rua) e lotam o bar do Pinguim e o novo boteco Leyseca na esquina da Artur de Azevedo. Há um tom alegre nos fins de tarde, ruidoso, agitado. Na CPL motoqueiros fazem point aos sábados.
Aqui temos nossos bares, nossos restaurantinhos, o Genova, o Buttina, o bistrô Vianna, o Wolf, nossos self-services, a padaria, o sapateiro, a quitanda, a farmácia, o supermercadinho, a acupuntura.
Os prédios existentes conviviam em harmonia com os sobrados, as lojas, com tudo, todos se ajeitando, se acomodando, amigavelmente. Uns prédios maiores, outros pequenos, de quatro, cinco andares.
Então, começaram a chegar. Ah, começaram! Em frente de casa subiram duas torres enormes, minha vista se foi, a fontezinha desapareceu no concreto. Sim, um dia reapareceu dentro da garagem de nosso prédio. Quem segura água?
A vilinha que havia desapareceu. Foi o primeiro aviso. O segundo foi na Rua Artur de Azevedo, quando um grupo de casinhas foi abaixo, entre elas a original videolocadora S'Different, um barzinho de happy hour e duas ou três residências.
As "bombas" caíam cada vez mais perto. Então, a notícia se espalhou: tudo viria abaixo na esquina da João Moura com a Teodoro Sampaio. Até a belíssima casa branca que ficava no alto de uma colina.
Histórica? Não sabíamos. Mas era linda, de uma São Paulo senhorial, elegante. Todos tremeram quando a proprietária, velhinha, morreu. Dali saiu seu funeral por determinação expressa. Ficamos todos na corda bamba.
Súbito, na calada da noite, porque eles não têm coragem, fazem na calada da noite, a casa desapareceu. Foi ao chão, como se tivesse passado um tsunami. A arte de demolir num instante tem seu auge em São Paulo.
A morte da casa branca da colina verde doeu em todos nós. Ali, dizem, vai ser um shopping. Na Artur, um grande complexo. A culpa é de quem, gente? Das construtoras? Não, elas querem construir. A culpa é de leis que cedem ante o poder do dinheiro sem medir consequências para a comunidade, o trânsito, a rede de águas e esgotos, e tudo que está implicado.
E as árvores do jardim? Vão para o chão? (Aliás, ali na esquina da Brasil com a Colômbia, a Kia não derrubou a imensa árvore, frondosa, para construir uma concessionária?) E como fazer, se ao lado da ex-casa branca da João Moura há um posto de gasolina? Terreno contaminado. Não existe um prazo de alguns anos para limpar tudo? Vão cumprir? Vão nada.
Junto da escola, outro edifício está subindo. Sobem, sobem, vão subir, e o bairro vai sendo desfigurado. Aliás, toda esta cidade foi, está sendo e será. Não existem planos diretores, nem políticos que se interessem por esta pobre São Paulo.
Assinei, vou participar, estou com o Movimento Contra a Verticalização. Não somos contra o progresso, somos contra as injúrias, a agressão à qualidade de nossas vidas, a entrega de tudo à especulação.
Vivi quase 20 anos nesta comunidade, faço parte dela, nos conhecemos todos, temos nossos hábitos e idiossincrasias, alegrias. Agora, temos medo, muito medo de que talvez tenhamos de procurar outro lugar para viver.
Eros Grau, que foi ministro do Supremo, é poeta, romancista, com expressiva bibliografia jurídica e membro da Academia Paulista de Letras, em seu mais recente livro, Paris, Quartier Saint-Germain, ao testemunhar a ação do "modernismo" que vem devastando edifícios, livrarias, pontos tradicionais em Paris, indaga:
"...E os seres humanos que davam vida a todas essas coisas? Onde está, para onde foi toda essa gente que integrava meu universo afetivo? Que diabo de método de produção social desagradável, sempre assumindo formas novas, engolindo o passado e os que faziam parte dele! Eles não percebem - os sujeitos da transformação econômica - que agridem bruscamente a nossa intimidade afetiva quando renovam o quartier e o mundo?"
Todos têm medo - ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 20/04/12
A CPI sobre o contraventor Carlos Cachoeira está sendo chamada de "metralhadora giratória". A CPI não tem foco, pois ela vai investigar políticos e pessoas ligadas aos partidos do governo e da oposição. Por isso, mesmo os líderes mais incendiários, como o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), estão pedindo serenidade. O líder do PMDB, Henrique Alves (RN), resume: "Esta CPI é um tiro no escuro e ninguém sabe o tamanho da escuridão".
Saia justa na posse de Ayres no STF
Na sala VIP, onde estavam reunidos ministros e autoridades, e antes de entrar no plenário para ser empossado presidente do STF, ontem à tarde, o ministro Carlos Ayres Britto pediu aos ministros Cezar Peluso e Joaquim Barbosa que parassem com a briga e apertassem as mãos. O cumprimento saiu, mas ambos estavam constrangidos e não trocaram uma só palavra. Durante a manhã, Peluso, que saiu da presidência do Supremo batendo na presidente Dilma, na presidente do Conselho Nacional de Justiça, Eliana Calmon, e em Joaquim Barbosa, tentou uma aproximação. Barbosa não atendeu aos apelos da turma do "deixa disso".
"Chamo a atenção da presidenta Dilma: sua articulação política é muito frágil. Estão lançando o Brasil numa grande guerra federativa. Isso é um escândalo!” — Lindbergh Farias, senador (PT-RJ)
RÉU E VERDUGO. Na CPI do Congresso, o governador Marconi Perillo será investigado por suas eventuais ligações com o contraventor Carlinhos Cachoeira. Por isso, para reduzir a pressão sobre ele, o PSDB vai criar uma CPI estadual para investigar as ligações de políticos goianos com a contravenção. A Assembleia de Goiás vai investigar desde 1995, pois pretende colocar o ex-governador Maguito Vilela (PMDB) no liquidificador.
Diferente de tudo
A criação da CPI do contraventor Carlos Cachoeira segue roteiro atípico: o Planalto não fez nada para impedi-la; a esmagadora maioria de deputados e senadores assinou o requerimento; e a oposição está nervosa e encabulada.
Enchendo a bola
Mantendo política do ex-presidente Lula, de paparicar o governador Sérgio Cabral (PMDB-RJ), a presidente Dilma volta ao Rio na próxima semana. Ela fará a entrega solene do cartão um milhão do programa federal "Brasil Sem Miséria".
Brasil vai financiar o Aero-Mujica
O Brasil vai financiar a reforma e a venda de um moderno avião da Embraer para ser usado como aeronave presidencial do Uruguai. A presidente Dilma fez a oferta ontem e o presidente José Mujica aceitou. O avião oficial da presidência do Uruguai é um velho Brasília da Embraer. Ontem, Mujica teve que se deslocar para Brasília em um Legacy da FAB. O aparelho oferecido a ele é uma moderna aeronave da Embraer, do lote que será devolvido pela falida American Airlines.
Comigo não
O secretário da Receita, Arno Augustin, cancelou na véspera, sem explicações, almoço combinado com os governadores Tarso Genro (RS) e Jaques Wagner (BA), para debater mudanças na correção e no pagamento da dívida dos estados.
Internacional liberal
O Secretário de Relações Internacionais do PP da Espanha, José Ramón García, será a estrela de reunião que o DEM promove segunda-feira, em São Paulo, com políticos liberais latino-americanos para debater a política externa do Brasil.
CASO O CONGRESSO aprove a redução do comprometimento da receita corrente líquida de 13% para 9%, para fins de pagamento da dívida dos estados com a União, o Rio terá R$ 760 milhões/ano para novos investimentos.
QUANDO o senador Romero Jucá (PMDB-AP) era o líder do governo no Senado, assumiu a relatoria da CPI da Petrobras. Um líder tem que botar a cara.
O PRESIDENTE do STF, Ayres Britto, errou ontem ao anunciar a senadora Marta Suplicy (PT-SP) como presidente do Congresso. O cargo é do presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), durante a licença do presidente de fato, senador José Sarney (PMDB-AP).
O pântano político - MERVAL PEREIRA
O Globo - 20/04/12
Em tempos de CPI e às vésperas do julgamento do mensalão, o clima político em Brasília, como não poderia deixar de ser, é efervescente, e as posses dos ministros Ayres Britto, como presidente do Supremo Tribunal Federal, e Cármen Lúcia, a primeira mulher a presidir o Tribunal Superior Eleitoral, serviram de pano de fundo para manifestações de cunho político nos discursos, mas, sobretudo, para conversas de bastidores.
Depois desses dois dias de conversas, fiquei com a sensação de que o processo do mensalão deve entrar mesmo em pauta ainda no primeiro semestre, e que a CPI do Cachoeira ainda está causando perplexidade na classe política, especialmente em setores petistas que não estão envolvidos diretamente na disputa congressual.
Os governadores petistas, por exemplo, não entendem o que está acontecendo. O de Sergipe, Marcelo Déda, analisa a questão do ponto de vista político, sem entrar no mérito das acusações: "CPI é um instrumento da oposição, da minoria. Nenhum governo gosta de CPI pelo simples fato de que o ambiente político fica descontrolado e o Congresso paralisado".
O governador da Bahia, Jaques Wagner, que já foi ministro das Relações Institucionais no governo Lula, me disse que não compreendia a estratégia de provocar uma CPI: "Se tivessem me consultado eu diria que não é uma boa estratégia. Governo precisa de calmaria".
Com relação ao mensalão, tudo parece caminhar para que o processo entre em pauta ainda no primeiro semestre, como quer o novo presidente do STF.
O ministro revisor, Ricardo Lewandowsky, já está trabalhando no seu voto, agora liberado das tarefas do TSE que presidia, e segundo relato de familiares tem varado a noite consultando o processo e o Código Penal.
Os demais ministros também já estão trabalhando em cima do processo que foi disponibilizado depois que o presidente anterior, Cezar Peluso, deu ordens para apressar os procedimentos.
Nos discursos dos dois novos presidentes, o papel da liberdade de informação para fortalecer a democracia foi enfatizado.
O ministro Ayres Britto salientou que "o mais refinado toque de sapiência da nossa última Assembleia Constituinte" foi eleger a democracia como a sua maior força. "Democracia que mantém com a liberdade de informação jornalística uma relação de unha e carne, olho e pálpebra, veias e sangue".
Na noite anterior, a ministra Cármen Lúcia, ao assumir a presidência do TSE, mandou um recado direto aos meios de comunicação, pedindo sua colaboração: "A imprensa livre é inseparável da democracia. É parceira do Judiciário na concretização da Justiça".
Essa presença é ainda maior na Justiça Eleitoral, disse ela, para quem "os jornalistas não só acompanham os feitos. Participam do processo, ajudando a promover o interesse público na divulgação dos fatos, na fiscalização permanente do processo e da atuação da Justiça Eleitoral".
Para a nova presidente do TSE, "não há eleições seguras e honestas sem a ação livre, presente e vigilante da imprensa, a cumprir papel determinante em benefício do poder político".
Cármen Lúcia pediu, ressaltando "o respeito absoluto à liberdade de opinião", que a imprensa livre "ajude este Tribunal a exercer plenamente a sua missão. Afirmo-lhes que ele será transparente em seus atos, pelo que rogo aos profissionais de comunicação que sejam atentos a tudo que possa causar dano ao processo eleitoral, informando, com clareza, à opinião pública os fatos a serem conhecidos".
O novo presidente do STF não fez referências, nem mesmo indiretas, ao processo do mensalão, que ele já classificou em entrevistas como o mais importante processo político a ser julgado. Mas deixou claro que, na sua visão, os juízes devem promover "a abertura da janela dos autos para o mundo circundante, a fim de conhecer a realidade dos jurisdicionados e a expectativa social sobre a decisão".
Ayres Britto, que abusou no seu discurso da veia poética e de imagens de retórica - ele é autor de vários livros de poesia -, disse que "Juiz não é traça de processo, não é ácaro de gabinete, por isso, sem fugir dos autos nem se tornar refém da opinião pública, tem que levar ao cumprimento das leis e conciliar a macrofunção de combinar o direito com a vida".
Quem tratou diretamente da questão foi o presidente da OAB, Ophir Cavalcante, que falou sobre o processo do mensalão em seu discurso.
Referindo-se ao período de sete meses que Ayres Britto terá na presidência, pois se aposenta em novembro por atingir a idade limite de 70 anos, afirmou: "O tempo não será curto para levar adiante processos sobre casos de corrupção que marcaram a nossa História recente. E digo ao novo presidente da Suprema Corte brasileira que a sociedade espera que esse tema não seja mais postergado, e que haja a punição exemplar dos culpados pelos crimes que cometeram contra o patrimônio público".
Para ele, somente eliminando qualquer ideia de impunidade "podemos combater a corrupção, uma das maiores mazelas do nosso país".
Referindo-se ao mais recente escândalo envolvendo as relações promíscuas do bicheiro Carlinhos Cachoeira com políticos e empresários, Ophir Cavalcante disse que é digno de reflexão o fato de que "na origem de todos os casos de corrupção, está o modelo de financiamento privado da política, que permite o caixa 2, ou entre outras palavras, o relacionamento promíscuo entre os interesses privados e a coisa pública".
Para definir os estragos que essa relação espúria provoca na política brasileira, Cavalcante descreveu: "quando um cai, arrasta junto de si bicheiros, falsificadores, policiais, governadores, parlamentares, projetos, obras e, o que é pior, a própria credibilidade das instituições".
Viveu-se nesses dias em Brasília um ambiente no Judiciário claramente favorável ao reforço da moralidade e da impessoalidade no serviço público, e uma clara rejeição ao patrimonialismo que ainda impera nas nossas relações políticas, enquanto no Congresso as escaramuças partidárias continuavam dentro dos mesmos parâmetros que nos levaram ao "pântano", como definiu o presidente da OAB nosso ambiente político.
UMA IDEIA NA CABEÇA - MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 20/04/12
O movimento Viva Rio fará concurso que selecionará uma agência de publicidade para criar uma campanha defendendo a descriminalização do uso de drogas. A escolhida ganhará
R$ 20 mil e não deverá cobrar pelos anúncios.
TRATAMENTO
A ONG defenderá que o consumo abusivo não seja tratado como questão de polícia, para impedir prisões de usuários como traficantes -e de pessoas eventualmente próximas a eles como cúmplices. E não teme que o tema controverso impeça a veiculação da campanha na mídia.
BASEADO NA LEI
Além dos anúncios, será feita uma coleta de 1,3 milhão de assinaturas para apresentar, até março de 2013, um projeto de lei para tentar mudar a legislação sobre drogas no país.
COMITÊ ARTÍSTICO
O ator Wagner Moura convidou o pré-candidato do PSOL à Prefeitura do Rio, Marcelo Freixo, para um debate com alguns artistas em sua casa, anteontem. Estiveram presentes Caetano Veloso, Renata Sorrah, Drica Moraes, Mariana Ximenes, Marcelo Madureira e Vanessa da Mata.
PARCERIA
E Freixo critica a relação do governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), com Fernando Cavendish, da construtora Delta. "A relação do Cavendish com o Cabral mostra como é o modelo atual de parcerias público-privadas, onde as relações públicas se misturam com as privadas."
PARCERIA 2
A assessoria de Cabral diz que o governador já declarou que não mistura relações públicas e privadas e que o governo abriu uma comissão de sindicância para rever os contratos com a Delta.
NOSSO PRÓPRIO TEMPO
Um pouco mais de Wagner Moura: o show em que ele cantará o repertório do Legião Urbana ao lado de Marcelo Bonfá e Dado Villa-Lobos, ex-integrantes da banda, teve a data alterada. A apresentação, na qual será gravado o especial "MTV ao Vivo", será no dia 29 de maio, no Espaço das Américas, em São Paulo. Os ingressos custarão R$ 200.
'DETESTAVA MEU BUMBUM'
Sharon Stone, 53, é capa da próxima "Vogue" brasileira. Ela fotografou em Los Angeles. "Não me achava bonita em 1992", disse à revista. "Era insegura, detestava meu bumbum -e é claro que devia ser bonito. Já hoje adoro o que vejo no espelho, mas evito me comparar com a Sharon jovem. Estou fantástica, e isso basta."
TURBINADO
Ricardo Gobbetti, presidente da Global Aviation, recebeu convidados para a festa de lançamento do novo hangar da empresa no Campo de Marte. José Alcides Munhoz, diretor vice-presidente do Bradesco, o empresário Gilberto Zaborowsky, a apresentadora Luisa Mell e o piloto Emerson Fittipaldi passaram por lá anteontem.
TODOS OS TIMES
A Secretaria Municipal de Esportes convidou o ministro Aldo Rebelo (Esporte) para debater o futuro do estádio do Pacaembu, no próximo dia 7, no Museu do Futebol. O secretário Bebetto Haddad defende que ele se transforme em arena multiuso. Além do prefeito Gilberto Kassab, devem participar da discussão os presidentes de Santos, Corinthians e Palmeiras e o empresário Walter Torre, que confirmaram presença.
BANDA
O ex-baixista do Asa de Águia Levi Pereira quer músicos da banda como testemunhas no processo trabalhista em que cobra R$ 10 milhões de empresas do vocalista Durval Lelys. Seu advogado, Willer Tomaz, convocou o tecladista Ricardo Ferraro e o percussionista Bajara Carvalho. A defesa de Lelys diz que Pereira não era empregado do grupo e que descumpriu acordo extrajudicial entre as partes.
JAZZ NA ORLA
Hermeto Pascoal é o homenageado do Santos Jazz Festival, que acontece de 14 a 17 de junho na cidade litorânea. Ele se apresentará na abertura do evento, para o qual compôs uma música de 20 minutos, chamada "Do Brasil para o Mundo". Também participam do festival André Christovam, Heraldo do Monte, Yamandu Costa e John Berman.
BOLA NA REDE
Flávia Kurtz, filha de Pelé, foi à sessão de autógrafos do livro "Santos FC - 100 Anos de Futebol Arte", de Odir Cunha. Os ex-jogadores Edu e Dorval circularam pelo evento, na Fnac de Pinheiros.
CURTO-CIRCUITO
A Ediouro vendeu 1,5 milhão de exemplares de revistinhas com a personagem Luluzinha, em 2011, no Brasil.
O Centro Ruth Cardoso promove no dia 24 o seminário "Feminismos, política e cultura: mudanças no Brasil contemporâneo".
O médico Sérgio Timerman participa hoje de Congresso Mundial de Cardiologia, em Dubai.
com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY
Argentina! Cristina Kitchenete! - JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SP - 20/04/12
Sabe por que nacionalizou a petroleira? Porque é mais fácil invadir um posto de gasolina do que uma ilha!
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto do planeta da piada pronta: "Casal planta maconha em Plant City!".
E o predestinado do dia! É que em Natal tem o geólogo: Alexandre Magno ROCHA DA ROCHA! Para garantir! Pra não ter erro!
E a Cristina Kirchner? A Dona Quiche! "Cristina Kirchner nacionaliza petroleira espanhola." E eu entendi pistoleira! Cristina Kirchner nacionaliza pistoleira! Rarará!
E aí, em represália, a Espanha vai nacionalizar o Messi! E, como dizia aquela bibinha de língua "plesa": "'Messeu' com o Messi, 'messeu' comigo!". E a Cristina Kirchner tá a cara da bispa Sônia.
E o porteiro aqui do prédio chama a Cristina Kirchner de Cristina Kitchnete! Rarará!
E o Eramos6 mostra duas fotos: "1982! Las Malvinas son argentinas". "2012! Las gasolinas son argentinas." E eu digo: las pistoleiras son argentinas. Rarará! Só para zoar os hermanos!
E sabe por que a Cristina nacionalizou a petroleira? Porque é mais fácil invadir um posto de gasolina do que uma ilha! Rarará! E adoro o nome do vice da Cristina: Amado Boudou. O único argentino que é amado. Rarará.
E a Cia. do Ridículo revela uma camiseta para os argentinos indo à Espanha a negócios ou a turismo: "Hermanos españoles! Gracias por lo petroleo!".
E as relações da Cristina com a imprensa são azedas. Mas, também, olha como a imprensa noticiou a vitória da Kirchner: "Vence Cristina Kirchner, apesar de a Argentina ainda ser uma democracia". Só é democracia quando ganha quem eles querem. Rarará.
E o Sarney? O Sarney veio substituir o Maluf no imaginário político. Eu postei no Twitter: "Confirmado! Sarney tem coração". E aí veio a gritaria: "Cobra também tem!". "Urso também tem!". "Tem, mas não usa!". "Fizeram cateterismo com britadeira!". Ô, povo sem coração. Rarará! É mole? É mole, mas sobe!
E adorei o nome do presídio em que o Cachoeira está preso em Brasília: Papuda! E olha o que uma menina escreveu no meu Twitter: "É DEMdo que se recebe". Rarará!
E tão dizendo que essa CPI do Cachoeira vai virar a CPI da Goteira! Diz que a empreiteira Delta transforma goteira em cachoeira! Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
Ares argentinos - MIRIAM LEITÃO
O GLOBO - 20/04/12
Empresários brasileiros já estão repensando os investimentos na Argentina. Não exatamente porque houve a expropriação da YPF, nem mesmo pela maneira como aconteceu, mas porque o ambiente para negócios é cada vez mais hostil. Tudo pode acontecer a partir de uma ordem de Guillermo Moreno ou por algum rompante da presidente Cristina Kirchner. A incerteza jurídica é um ambiente onde o investimento não prospera.
Brasil e Argentina estão unidos pela geografia e separados pelo temperamento. Certa vez, um ministro argentino me disse que a distância entre um e outro é a mesma que existe entre o tango e o samba. Os dois países enfrentaram problemas muito parecidos ao longo da sua história, com reações diferentes, pelo menos na intensidade.
A hiperinflação deles elevou os preços a níveis muito mais altos do que no Brasil. Eles fizeram um plano que era baseado no câmbio fixo. Só que era rígido. Uma lei proibia a desvalorização da moeda. Nós fizemos um plano que usou o câmbio quase fixo por algum tempo. As duas políticas cambiais entraram em colapso depois de alguns anos. Aqui, houve alguma confusão, mas a inflação foi controlada rapidamente ao custo de um ano sem crescimento. Na Argentina, tudo acabou em queda de governo e longa recessão. O Brasil aprendeu a lição e nada alterou o compromisso com as bases da estabilidade, nem mesmo a alternância de partidos adversários na Presidência da República. A Argentina volta a brincar com o mesmo animal, permitindo que ele se aproxime cada vez mais da economia.
Há artificialismos assim: a presidente visita uma empresa e pergunta por que certo produto não está sendo vendido no mercado. O empresário responde que não é do gosto argentino, por isso ele é feito apenas para exportação. No dia seguinte, o empresário recebe um telefonema de Moreno, que o manda pôr no mercado o tal produto e informa a que preço deve ser vendido. O empresário avisa que aquele preço dá apenas para cobrir o custo da embalagem. Moreno liga então para a empresa fornecedora e dita o preço que ele vai fornecer a embalagem. A empresa pede desconto no custo da energia. E recebe. Isso é fato real. Aconteceu com empresa brasileira. Moreno, para quem não sabe, é quem manda chover e parar de chover no país, por ordem da presidente. É secretário da Indústria e Comércio, mas é como se fosse primeiro-ministro. Houve um tempo em que ele despachava com revólver em cima da mesa. Hoje, já o recolheu à gaveta, ainda que ameace com outras armas os empresários que não o obedecem.
Ele ligou para um empresário brasileiro estabelecido no país e determinou que suspendesse as exportações. Quando o executivo disse que tinha contratos a cumprir, ele respondeu que não os cumprisse porque aquele produto tinha que ficar no mercado interno.
No Brasil, há também decisões controversas. Aqui foi elevado o imposto interno para carro importado, apesar do alerta de especialistas de que isso fere regras da Organização Mundial do Comércio. Na Argentina, o governo suspendeu a licença automática de importação e isso está criando problemas concretos para exportadores brasileiros que não podem embarcar mercadorias já vendidas.
Inúmeras empresas brasileiras estão na Argentina vivendo situações em que o voluntarismo substitui leis de mercado. O Brasil é visto hoje como uma economia mais organizada e mais previsível, o que pode, num primeiro momento, nos favorecer, mas os descaminhos do vizinho não nos ajudam. Para o Brasil, o ideal é que a Argentina tenha sucesso, porque o comércio entre os dois países é pujante, e os interesses comuns se adensaram muito nos últimos anos. O problema é que acordos comerciais negociados pelo bloco com alguns países ou regiões podem emperrar a partir de agora. O acordo Mercosul-União Europeia, por exemplo, é melhor deixar para outra oportunidade.
Atualmente há muito ruído em torno da decisão tomada pelos argentinos. O "Wall Street Journal" pediu em editorial a expulsão da Argentina do G-20, a Espanha ameaça parar de comprar grãos do país e pressiona a União Europeia a retaliar também, as ações da YPF despencam, e diversas autoridades do mundo fazem admoestações ao governo. Tudo isso pode passar, mas ficará a cicatriz.
Cartazes pregados nos muros argentinos dizem que CFK enfrentou YPF e que agora as petrolíferas "são nossas". Isso pode soar aos brasileiros de forma simpática pela lembrança da campanha do "petróleo é nosso". É bem diferente. A empresa argentina tinha sido privatizada, aliás com o apoio dos K. Claro que o país pode mudar de ideia, mas tudo seria aceito se fosse dentro da lei e com indenização negociada aos donos da companhia. O governo Lula também reclamou que a Vale não investia em siderúrgica no Brasil. A briga foi pública. Os acionistas, entre eles fundos de pensão de estatais e o BNDES, trocaram o presidente da Vale. O mercado não gostou e as ações da mineradora perderam valor, mas a empresa não foi ameaçada de expropriação.
Decisões governamentais controversas existem de um lado e outro da fronteira, mas o que a Argentina fez foi quebrar o cristal da confiança do investidor. Isso produz consequências difíceis de mensurar, mas que se prolongam pelo tempo.
Os juros no Brasil chegaram a 8,75% em julho de 2009, e não pouco antes da crise de 2008, como foi registrado na coluna de ontem "Próximo passo".
Empresários brasileiros já estão repensando os investimentos na Argentina. Não exatamente porque houve a expropriação da YPF, nem mesmo pela maneira como aconteceu, mas porque o ambiente para negócios é cada vez mais hostil. Tudo pode acontecer a partir de uma ordem de Guillermo Moreno ou por algum rompante da presidente Cristina Kirchner. A incerteza jurídica é um ambiente onde o investimento não prospera.
Brasil e Argentina estão unidos pela geografia e separados pelo temperamento. Certa vez, um ministro argentino me disse que a distância entre um e outro é a mesma que existe entre o tango e o samba. Os dois países enfrentaram problemas muito parecidos ao longo da sua história, com reações diferentes, pelo menos na intensidade.
A hiperinflação deles elevou os preços a níveis muito mais altos do que no Brasil. Eles fizeram um plano que era baseado no câmbio fixo. Só que era rígido. Uma lei proibia a desvalorização da moeda. Nós fizemos um plano que usou o câmbio quase fixo por algum tempo. As duas políticas cambiais entraram em colapso depois de alguns anos. Aqui, houve alguma confusão, mas a inflação foi controlada rapidamente ao custo de um ano sem crescimento. Na Argentina, tudo acabou em queda de governo e longa recessão. O Brasil aprendeu a lição e nada alterou o compromisso com as bases da estabilidade, nem mesmo a alternância de partidos adversários na Presidência da República. A Argentina volta a brincar com o mesmo animal, permitindo que ele se aproxime cada vez mais da economia.
Há artificialismos assim: a presidente visita uma empresa e pergunta por que certo produto não está sendo vendido no mercado. O empresário responde que não é do gosto argentino, por isso ele é feito apenas para exportação. No dia seguinte, o empresário recebe um telefonema de Moreno, que o manda pôr no mercado o tal produto e informa a que preço deve ser vendido. O empresário avisa que aquele preço dá apenas para cobrir o custo da embalagem. Moreno liga então para a empresa fornecedora e dita o preço que ele vai fornecer a embalagem. A empresa pede desconto no custo da energia. E recebe. Isso é fato real. Aconteceu com empresa brasileira. Moreno, para quem não sabe, é quem manda chover e parar de chover no país, por ordem da presidente. É secretário da Indústria e Comércio, mas é como se fosse primeiro-ministro. Houve um tempo em que ele despachava com revólver em cima da mesa. Hoje, já o recolheu à gaveta, ainda que ameace com outras armas os empresários que não o obedecem.
Ele ligou para um empresário brasileiro estabelecido no país e determinou que suspendesse as exportações. Quando o executivo disse que tinha contratos a cumprir, ele respondeu que não os cumprisse porque aquele produto tinha que ficar no mercado interno.
No Brasil, há também decisões controversas. Aqui foi elevado o imposto interno para carro importado, apesar do alerta de especialistas de que isso fere regras da Organização Mundial do Comércio. Na Argentina, o governo suspendeu a licença automática de importação e isso está criando problemas concretos para exportadores brasileiros que não podem embarcar mercadorias já vendidas.
Inúmeras empresas brasileiras estão na Argentina vivendo situações em que o voluntarismo substitui leis de mercado. O Brasil é visto hoje como uma economia mais organizada e mais previsível, o que pode, num primeiro momento, nos favorecer, mas os descaminhos do vizinho não nos ajudam. Para o Brasil, o ideal é que a Argentina tenha sucesso, porque o comércio entre os dois países é pujante, e os interesses comuns se adensaram muito nos últimos anos. O problema é que acordos comerciais negociados pelo bloco com alguns países ou regiões podem emperrar a partir de agora. O acordo Mercosul-União Europeia, por exemplo, é melhor deixar para outra oportunidade.
Atualmente há muito ruído em torno da decisão tomada pelos argentinos. O "Wall Street Journal" pediu em editorial a expulsão da Argentina do G-20, a Espanha ameaça parar de comprar grãos do país e pressiona a União Europeia a retaliar também, as ações da YPF despencam, e diversas autoridades do mundo fazem admoestações ao governo. Tudo isso pode passar, mas ficará a cicatriz.
Cartazes pregados nos muros argentinos dizem que CFK enfrentou YPF e que agora as petrolíferas "são nossas". Isso pode soar aos brasileiros de forma simpática pela lembrança da campanha do "petróleo é nosso". É bem diferente. A empresa argentina tinha sido privatizada, aliás com o apoio dos K. Claro que o país pode mudar de ideia, mas tudo seria aceito se fosse dentro da lei e com indenização negociada aos donos da companhia. O governo Lula também reclamou que a Vale não investia em siderúrgica no Brasil. A briga foi pública. Os acionistas, entre eles fundos de pensão de estatais e o BNDES, trocaram o presidente da Vale. O mercado não gostou e as ações da mineradora perderam valor, mas a empresa não foi ameaçada de expropriação.
Decisões governamentais controversas existem de um lado e outro da fronteira, mas o que a Argentina fez foi quebrar o cristal da confiança do investidor. Isso produz consequências difíceis de mensurar, mas que se prolongam pelo tempo.
Os juros no Brasil chegaram a 8,75% em julho de 2009, e não pouco antes da crise de 2008, como foi registrado na coluna de ontem "Próximo passo".
Impulsividade argentina custa caro - EDITORIAL O GLOBO
O Globo - 20/04/12
A Argentina vê-se numa posição desconfortável, no plano internacional, com sua decisão de expropriar a empresa petrolífera YPF, cujo controle acionário pertencia aos espanhóis da Repsol. Em seu confronto com o país sul-americano, o governo espanhol recebeu apoio inequívoco da União Europeia. O "Wall Street Journal" fez editorial muito duro contra "um ato que o mundo civilizado está qualificando como roubo".
O Brasil manteve uma cautelosa posição de neutralidade, que tem caracterizado, nesses casos, sua política internacional. Mas o presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, por natureza um homem equilibrado, não teve cerimônias ao receber o chefe do governo espanhol, Mariano Rajoy. "Aqui não expropriamos, presidente Rajoy", foi o seu comentário, depois de afirmar que as empresas espanholas não encontrarão surpresas na Colômbia porque "aqui se cumprem as regras do jogo".
Assim se delineia uma situação em que a Argentina pode encontrar-se numa posição de isolamento. Na memória de possíveis investidores, ainda está presente a grande moratória de 2001, em que o país decretou o default na maior parte de suas dívidas. Aquele era um momento dramático na história argentina, em que tanto a política quanto a economia tinham chegado ao fundo do poço - como se viu com a rápida sucessão de três presidentes. Ali começou a dinastia Kirchner, com uma dose de audácia que surpreendeu o mundo, mas que, para os próprios argentinos, correspondia a uma recuperação de parte do seu orgulho ferido.
Dali em diante, a Argentina manteve-se à margem, com satisfações apenas parciais a seus credores; mas foi beneficiada (assim como o Brasil) por um período excepcionalmente favorável de trocas comerciais - commodities como a soja alcançando valorização inédita. Por vários anos seguidos, o país chegou a crescer a taxas asiáticas.
Seria o momento de ter lançado as bases para o futuro, para um relativo retorno à realidade.
Mas logo começou a funcionar uma síndrome que vem dos tempos de Perón - um tipo de política demagógica cujo objetivo quase único é a perpetuação no poder. Em vez de caminhar na direção das realidades econômicas e políticas, o kirchnerismo de Néstor, sucedido pelo de Cristina, apostou numa persistente negação dos fatos. Ignorou-se a ameaça da inflação. O governo praticou uma política de subsídios que, se lhe rendia dividendos políticos, solapava os alicerces da economia.
Assim se chega ao quadro de agora. Substancialmente enfraquecido o "vento de cauda" que ativava o crescimento econômico, desfeitos os superávits da balança comercial, fica claro que o modelo kirchnerista não se sustenta nas bases em que estava colocado. Mas em vez de praticar o necessário mea culpa, o governo da sra. Kirchner dobra a aposta: cria adversários internos e externos, ao comportar-se com uma impulsividade que passa ao largo de avaliações racionais. O preço será pago pelos próprios argentinos.
MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO
FOLHA DE SP - 20/04/12
Movimento de contêiner registra recorde em 2011
A movimentação de contêineres nos portos brasileiros registrou recorde no ano passado, segundo levantamento da Abratec, associação que reúne terminais de uso público no país.
Foram 5,2 milhões de unidades, que representaram aumento de 9% ante 2010.
Para 2012, a estimativa é de nova alta, de 10%, segundo Sérgio Salomão, presidente-executivo da entidade.
Os resultados do comércio exterior e as ampliações dos terminais para comportar mais contêineres contribuíram, segundo Salomão.
"Os acessos rodoviários e ferroviários aos terminais são ainda precários. Isso impacta negativamente, gera dificuldades em receber e retirar os contêineres. O gargalo não está no próprio terminal."
Uma nova exigência alfandegária, para fiscalização com scanners, que passa a valer em 2013, deve agilizar embarques, segundo Antonio Carlos Sepúlveda, presidente da Santos Brasil, empresa do setor.
"Será possível vistoriar mais contêineres em menos tempo e com menor uso da área", diz. A empresa está investindo mais de R$ 20 milhões na compra de cinco scanners que serão usados em diferentes portos. Um deles já começou a operar.
A Abratec informa que pelos menos 13 aparelhos serão adquiridos pelo setor por cerca de US$ 40 milhões.
números
5,2 milhões foi o volume de unidades movimentadas em 2011
9% foi o crescimento registrado no ano passado
10% é a estimativa para 2012
LONGE DO IDEAL
São Paulo e Rio de Janeiro estão entre as cidades consideradas ruins para expatriados europeus viverem.
Levantamento da Eca International, empresa especializada em gestão de expatriação, coloca as cidades empatadas na 135ª posição no ranking dos melhores lugares para europeus morarem fora de seus países.
As questões de segurança e poluição são apontadas como os principais problemas das cidades, de acordo com a pesquisa.
Berna, na Suíça, e Copenhague, na Dinamarca, estão em primeiro lugar na lista.
A infraestrutura, os serviços de saúde, a baixa poluição do ar e a pequena taxa de criminalidade as colocam no topo.
No ranking elaborado para expatriados asiáticos, as duas cidades ficam na 11ª posição, enquanto Cingapura aparece em primeiro lugar.
Bagdá e Cabul estão no 264º e no 263º lugar, respectivamente, e são consideradas as piores para os europeus.
SUPERLATIVO ITALIANO
Uma das maiores missões empresariais do ano será recebida em maio em São Paulo, São José dos Campos, Curitiba, Belo Horizonte e Santos. Serão cerca de 250 companhias italianas de diversos setores.
O grande número de executivos juntos em uma missão é a nova estratégia do Ministério do Desenvolvimento italiano, da Embaixada e de empresários de 16 regiões do país.
Antes, cada região organizava sua própria viagem.
ECOLÓGICOS
Quatro em cada dez americanos (41%) estão dispostos a pagar mais por um produto que seja menos ofensivo ao ambiente, aponta pesquisa da consultoria Ipsos.
O estudo ouviu cerca de mil pessoas e também mostrou que as mulheres têm mais preocupação ecológica na hora de comprar (45%) do que os homens (36%).
MORADOR DE MUDANÇA
As ações de despejo de inquilinos por falta de pagamento na cidade de São Paulo atingiram em março o maior nível em 14 meses.
Foram 1.816 no total, segundo levantamento do grupo Hubert. A alta em relação ao mês anterior é de 49%. Na comparação com março do ano passado, houve incremento de 45%.
Em 2011, porém, o volume de ações havia sido o menor desde 1995.
A expansão no número de despejos é explicada pelo interesse dos locadores em aproveitar o mercado aquecido para trocar o inquilino e aumentar o valor do aluguel, segundo o diretor da empresa responsável pela pesquisa, Hubert Gebara.
Piso digital
A Villagres, empresa que atua no mercado cerâmico, investiu R$ 50 milhões para criar a sua nova coleção de revestimentos.
Os produtos foram feitos através de impressão digital Full HD, que permite reproduzir a aparência de materiais como cimento, rocha, granito e madeira.
"Há uma grande demanda por este tipo de produto por casais jovens, que preferem espaços menores, mas confortáveis", diz o diretor comercial da empresa, Ernani Cotrim.
De acordo com ele, o atrativo da coleção é dar ao imóvel a aparência de um material diferente com maior praticidade, sem precisar extraí-lo da natureza.
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