quinta-feira, março 03, 2011

MONICA B. DE BOLLE

Biologia financeira
MONICA B. DE BOLLE
O Estado de S. Paulo - 03/03/2011

Gêiseres fumegantes, formações rochosas estranhas, lagos vulcânicos, o espetáculo das "luzes do norte". É com uma bela fotografia da paisagem da Islândia - cuja economia implodiu em 2008 - que se inicia o filme Inside Job, o documentário sobre a crise financeira global, vencedor do Oscar deste ano. O filme é tendencioso, com ares de Michael Moore, o polêmico cineasta americano. Mas, apesar da diatribe um tanto batida contra os banqueiros e financistas de Wall Street, o documentário é impactante. E força a uma reflexão renovada sobre o modelo que permitiu a expansão excessiva de uma indústria cujos benefícios parecem ter se resumido a ganhos extraordinários para alguns de seus personagens mais proeminentes, os executivos financeiros protagonistas da débâcle de três anos atrás.

Ideologias à parte, não se pode minimizar a importância do sistema financeiro para o crescimento e o desenvolvimento das economias modernas. Como disse Frederic Mishkin, ex-membro do Fed, o sistema financeiro está para a economia como o cérebro, para o corpo humano. Desde que não sofra de desequilíbrios capazes de provocar surtos psicóticos e alucinações megalomaníacas, um sistema financeiro sofisticado coordena e distribui os recursos responsáveis pelo bom funcionamento da economia. Sem ele não há a distribuição dos recursos que garantam os ganhos de renda, a produtividade e o bem-estar almejados pelas sociedades modernas.

O problema é que a expansão desenfreada e desregulada dos sistemas financeiros aumenta brutalmente o risco de crises com um altíssimo custo social, como retrata a experiência recente dos países avançados. A razão é que, diferentemente dos processos de evolução biológicas, a velocidade das mutações financeiras não permite que se construam as redundâncias que protegem os organismos das disfunções imprevisíveis. As redundâncias orgânicas, mesmo que aparentem resultar em uma perda de eficiência, são uma resposta evolutiva à presença de incerteza. O cérebro humano, para usar a imagem de Mishkin, possui uma plasticidade que permite que os prejuízos motores, sensoriais e cognitivos causados por danos localizados sejam compensados por alterações nas funções de outras áreas.

A evolução dos seres vivos não só favorece a criação de mecanismos protetores, como gera condições que estimulam uma maior diversidade dos organismos. Nos ecossistemas, a biodiversidade reduz a probabilidade de que o desaparecimento de algumas espécies gere extinções em cascata aniquiladoras. A evolução desregulada dos sistemas financeiros não progride do mesmo modo. Por causa da rapidez com que as inovações financeiras se multiplicam, há uma tendência tanto de valorizar a eficiência imediata em detrimento das redundâncias corretivas quanto de produzir instituições cada vez mais semelhantes entre si. Os conglomerados financeiros resultados da desregulamentação dos mercados ilustram o fenômeno. Essas características do processo evolutivo dos sistemas financeiros os tornam mais suscetíveis às convulsões paralisantes, como a crise de 2008.

Há modos de controlar a evolução financeira, garantindo a criação dos mecanismos de proteção e a maior diversidade das instituições, impedindo que todas exerçam atividades semelhantes, sem estancar o potencial inovador da indústria? Esse é o desafio a ser enfrentado para que a regulação reflita a realidade dos sistemas financeiros modernos. As novas leis e propostas de reforma que surgiram desde 2008 não resolveram os problemas da dinâmica evolutiva do sistema financeiro e, assim, não reduziram as chances de crises futuras.

No clássico de Joseph Schumpeter de 1942, Capitalismo, Socialismo e Democracia, o capitalismo industrial foi caracterizado como um processo evolutivo, marcado pela "destruição criativa". O capitalismo financeiro que o suplantou nas últimas décadas, fruto da grande desregulamentação americana, inverte a lógica schumpeteriana. Como ilustra o documentário vencedor do Oscar, abandonou-se a destruição criativa para dar lugar à criação destrutiva.

CONTARDO CALLIGARIS

Grandes e pequenos desejos
CONTARDO CALIGARIS
FOLHA DE SÃO PAULO - 03/03/11

Estamos tão acostumados a desejar pequeno que desejar grande nos parece ser uma patologia


OS ADOLESCENTES de hoje me parecem desejar de maneira tímida. Como já escrevi, surpreende-me que eles desejem pequeno.
De fato, poderia estender essa constatação aos adultos de hoje. Não que eles deixem de desejar (isso só acontece em raras depressões graves), mas há, aparentemente, uma preferência contemporânea generalizada pelos desejos pequenos. Cuidado: um desejo não é pequeno porque seu objeto seria pouco relevante.
Tomemos, por exemplo, "Maria está a fim de cerejas" e "Antônia quer o fim de todas as guerras". Será que o desejo de Antônia é grande e o de Maria pequeno? Nada disso.
Melhor nunca comparar desejos por sua suposta "nobreza" -até porque essa tal "nobreza" pode esconder motivações bem mais torpes do que uma saudável vontade de cerejas. Então, como diferenciar desejos grandes e pequenos?
Pois bem, há desejos fluidos, suscetíveis de infinitos deslizamentos, como se, de alguma forma, o objeto desejado fosse indiferente. Esses são desejos pequenos.
Por exemplo, estou a fim de uma calça nova. Entro na loja e o tamanho 39 está em falta. Olho ao redor de mim e acabo comprando duas camisas que não têm nada a ver com a calça que eu desejava.
Quero rever "Cisne Negro", mas a sessão está lotada; nenhum drama, compro ingresso para "Bruna Surfistinha" (incidentemente: me dei bem, amei o filme). Também posso querer o fim de todas as guerras e, ao ver na TV uma ação do Greenpeace, decidir que de agora em diante só me importa o destino das baleias. Nesse caso, por se revelar facilmente substituível, o fim de todas as guerras é um desejo pequeno.
Há um outro tipo de desejo, mais incômodo, que não admite a substituição. Quero circum-navegar a Terra de veleiro, quero vingar meu pai, quero produzir uma obra, construir um império, rezar em silêncio no deserto, comer cerejas a cada dia: se eles forem insubstituíveis, se sua insistência moldar nossa vida, esses desejos são grandes porque eles nos definem.
O desejo pequeno é ideal para uma sociedade que conta com o consumo para alimentar a produção e organizar as diferenças sociais. Desejos substituíveis garantem que a gente seja sempre levemente insatisfeito e levemente desejante, esvoaçando de objeto em objeto como uma abelha num campo de flores.
Quanto ao desejo grande, que já foi ideal dominante, ele é hoje raro na prática, mas (anúncio de uma mudança dos tempos?) a sedução que ele exerce está crescendo.
Como Mônica Waldvogel (no "Entre Aspas", da Globo News, na última quinta) e o crítico da Folha Inácio Araújo (na Ilustrada de domingo), reparei que a safra do Oscar deste ano é peculiar: quase todos os filmes indicados ilustram desejos grandes.
Estamos tão acostumados a desejar pequeno que desejar grande (e pagar o preço disso) nos parece ser um comportamento patológico (o cara enlouqueceu, está obcecado) ou, então, sinal de crise (os EUA devem estar muito mal se eles precisam idealizar esses heróis que desejam grande).
Penso o contrário: patológico é desejar pequeno. E, se os Estados Unidos estão gostando de heróis que sonham grande, talvez eles estejam saindo da futilidade dos anos 90: o sinal não seria de crise, mas de saída da crise.
Recentemente, vários leitores e leitoras me perguntaram por que não escrevi sobre "Cisne Negro", que (alguns notaram) é um prato cheio para um psicanalista. Pois é, amei o filme e concordo com a ideia do prato cheio, mas acontece que, no filme, o que me comoveu não foi tanto o desabrochar da loucura quanto o heroísmo do desejo de perfeição da protagonista -um desejo grande.
Falando em desejo grande, "Bruna Surfistinha", que estreou na última sexta, é outro exemplo. O filme de Marcus Baldini não é uma apologia nem uma crítica moralista da prostituição: é um filme sobre o difícil e tortuoso caminho de alguém que quis ser livre. É a história de um desejo grande.

DESPEDIDA
Quase na hora em que Moacyr Scliar estava nos deixando, alguém postou no Twitter uma frase minha: "A literatura é o catálogo das vidas possíveis". Pois bem, pensei, os escritores deveriam ter o direito de continuar vivendo em qualquer uma das histórias que estão sendo e serão escritas por outros até o fim dos tempos. Numa delas, um dia, aliás, espero me reencontrar com Moacyr, para rir, contar casos insólitos e evocar lembranças de Porto Alegre.

DEMÉTRIO MAGNOLI

Na tenda de Kadafi
DEMÉTRIO MAGNOLI
O Estado de S. Paulo - 03/03/2011

Muamar Kadafi foi muito mais longe que Hosni Mubarak em seus pronunciamentos desesperados, em meio à revolução. Ele se dirigiu aos líbios como faria uma potência ocupante descontrolada, ameaçando emitir uma ordem de extermínio geral. A queda dramática do tirano da Líbia tem importância geopolítica incomparavelmente menor que a do regime egípcio. Contudo, tem um inigualável cortejo de significados simbólicos.

O fim de Kadafi assinala a segunda, e definitiva, morte do nasserismo. "A revolução é o meio pelo qual a nação árabe pode libertar-se de seus grilhões." A Carta Nacional divulgada por Gamal Abdel Nasser em 1962 definia a doutrina do pan-arabismo, que deveria destruir as fronteiras interestatais criadas pelas potências europeias e propiciar a "restauração da ordem natural de uma única nação". O Egito de Nasser figuraria, nesse percurso, como uma entidade transitória: o instrumento para a edificação da "nação árabe". O jovem Kadafi formou-se na academia militar nos anos áureos do nasserismo e liderou o golpe antimonárquico de 1969 para inscrever a Líbia na moldura da revolução anunciada pelo Egito. A humilhação árabe na Guerra dos Seis Dias, em 1967, foi o estampido para o levante dos oficiais líbios do grupo de Kadafi.

Nasser morreu em 1970, mas o nasserismo prosseguiu, sob Anuar Sadat, ainda por alguns anos e uma nova guerra árabe-israelense. A primeira morte do nasserismo se deu pela ruptura do Egito com a URSS e o subsequente tratado de paz com Israel. Então, em 1977, Kadafi enrolou-se nos farrapos da bandeira do pan-arabismo e lançou um ataque militar contra o povoado egípcio fronteiriço de Sallum, sofrendo uma contraofensiva devastadora. Na década seguinte, enquanto no Egito a herança doutrinária de Nasser se dissolvia num antissemitismo caricato, a Líbia de Kadafi, o "cachorro louco", proclamava guerra ao "imperialismo" e organizava atos de terror contra interesses ocidentais ao redor do mundo. Agora, quando o tirano desaba, fecha-se de vez o ciclo inaugurado pela revolução pan-arabista.

O fim de Kadafi assinala o ocaso do longo período em que os povos árabes foram ofuscados pela invocação do espectro do "inimigo externo". A ditadura nasserista no Egito, como as ditaduras baathistas implantadas na Síria, em 1963, e no Iraque, em 1968, reclamavam uma legitimidade derivada da luta contra o imperialismo ocidental e sua suposta cabeça de ponte no mundo árabe, o Estado de Israel. A supressão dos partidos de oposição, a repressão à dissidência interna, a interdição do debate político eram justificadas pelo imperativo da unidade árabe. No caso da Líbia, agentes de Kadafi perpetraram assassinatos de dezenas de "cães vadios", na expressão usada pelo tirano para designar dissidentes exilados, na Europa, nos EUA e mesmo na Arábia Saudita. A nova revolução árabe não segue estandartes antiocidentais. A sua consigna é a liberdade, são os direitos de cidadania, não a utopia geopolítica da "nação única".

O fim de Kadafi assinala a desmoralização das tiranias personalistas que derivam de sistemas de partido único e acabam por lhes tomar o lugar. O modelo do regime de partido-Estado ancora-se no conceito de que o partido dirigente coagula uma verdade histórica superior. Os partidos comunistas se exibiam como locomotivas do "trem da História", em marcha rumo à estação terminal do socialismo. No mundo árabe, os regimes de partido único apresentavam-se como condutores de uma caravana que avançava rumo ao oásis da unidade pan-árabe. Invariavelmente, o modelo evoluía para ditaduras pessoais: Joseph Stalin, Mao Tsé-tung, Kim Il-sung, Fidel Castro, Gamal Abdel Nasser, Hafez Al-Assad, Saddam Hussein. A Líbia de Kadafi não passou pelo estágio primário, organizando-se desde o início como uma tirania pessoal.

O golpe de 1969 substituiu a monarquia liberal do rei Ídris, baseada na rede de poder tribal da região da Cirenaica, por um "Estado de massas" (Jamahiriya) - isto é, de fato, por um Estado de comitês submetidos ao controle do tirano. Kadafi não ocupava nenhum cargo formal no governo líbio, mas enfeixava o poder de fato, concentrado no Conselho de Comando da Revolução, e subordinava as Forças Armadas a milícias especiais. A nação líbia, destituída de contrato constitucional operante, identificava-se à figura de Kadafi, o "Irmão Fraternal e Guia da Revolução".

Mais que qualquer ideologia, essa redução da nação à imagem de um condottieri atraiu a admiração de Fidel Castro e, mais tarde, de Hugo Chávez. Um ano e meio atrás, Lula dirigiu-se a Kadafi como "meu amigo, meu irmão, meu líder", saltando a fronteira que separa a cortesia protocolar da apologia repugnante. O cumprimento representou mais que uma esperteza instrumental, destinada à conquista de votos árabes e africanos para a pretensão brasileira a uma cadeira no Conselho de Segurança da ONU. Ela evidenciou, ao lado da conhecida inclinação do ex-presidente por cortejar ditadores, uma ponta de inveja pelo estatuto de um líder não embaraçado por qualquer limite institucional.

O fim de Kadafi joga mais um facho de luz sobre a facilidade com que o Ocidente imola posições de princípio no altar das conveniências geopolíticas circunstanciais. O tirano operou como elo de articulação logística de variados grupos terroristas, ordenou a explosão do voo da Pan Am em Lockerbie, financiou milícias de mercenários no Chade e no Sudão, ajudou a montar as máquinas genocidas de Idi Amin, em Uganda, e Mengistu Mariam, na Etiópia, treinou o sanguinário exército de Charles Taylor na Serra Leoa. Nada disso evitou uma ignóbil "reabilitação", negociada pela CIA em 2003, na moldura da "guerra ao terror", e conduzida por Washington, Londres e Roma. Há, mesmo pequena, uma chance de Kadafi se sentar no banco dos réus de um tribunal para crimes contra a humanidade. Ele teria histórias interessantes a contar.

GOSTOSA

SÉRGIO VALE

Timidez na área fiscal gera pressão sobre BC
SÉRGIO VALE
Folha de S. Paulo - 03/03/2011

Anúncio envergonhado de corte de despesas reforça dúvidas sobre a orientação da política econômica do governo

Apesar dos esforços do governo em fazer um ajuste fiscal, ele parece cada vez mais envergonhado quando toca no assunto.
O anúncio do detalhamento do corte feito esta semana não ajudou a demonstrar que o governo acredita de fato na necessidade de uma mudança de longo prazo na condução da política fiscal e continua colocando sobrepeso nas decisões que o Banco Central terá que tomar sobre o aumento da Selic.
Isso me faz lembrar de Herman Melville, que criou um dos personagens mais estranhos da literatura.
Quando demandado para algum trabalho, Bartleby respondia com a mesma frase: prefiro não fazê-lo. Mas, ao mesmo tempo, parecia ser o melhor dos trabalhadores, porque ficava de segunda a segunda no escritório.
O governo passa por uma síndrome de Bartleby e o ajuste fiscal é exemplo disso. Muito se falou dele nos últimos dois meses, com várias reuniões e muito suspense.
Um trabalho que parecia ser extenuante de segunda a segunda. Mas, indagado sobre fazer um ajuste fiscal forte, o recado ficou parecido com o personagem de Melville.
O anúncio de um corte de R$ 50 bilhões no Orçamento parece ainda uma carta de intenções, daquelas que escrevíamos à exaustão na década de 80 para o FMI, para nunca ser cumprida.
Os cortes redondos das despesas obrigatórias sugerem a ideia de "chute" mais do que análise criteriosa.
Os cortes nas despesas discricionárias deverão afetar investimentos, apesar de o governo negar. Cortes nos Ministérios do Turismo e dos Esportes me parecem um compasso de espera para remanejamento de verbas para a Autoridade Olímpica.
Muitos dos cortes foram, na verdade, diminuição na expectativa de crescimento dos gastos, mas, ainda assim, serão fortes expansões na comparação com 2010, como na pasta das Cidades.
O que era para ser um detalhamento continua deixando incerto o que será a política fiscal em 2011. Aquele velho controle na boca do caixa deverá dar o tom do ajuste.
Como um bom Bartleby, o governo prefere não fazer o que lhe é demandado e o resultado acabará sendo inflação acima da meta até o final do governo Dilma.

SÉRGIO VALE, é economista-chefe da MB Associados

ALBERTO TAMER

Juro ajuda mas não segura a inflação
ALBERTO TAMER
O Estado de S. Paulo - 03/03/2011

A elevação dos juros aprovada ontem pelo Banco Central (BC) pode conter a inflação? Alguns economistas afirmavam que não, outros que mais ou menos. Poucos diziam que sim. Uma discussão quase acadêmica, que contaminou até a equipe econômica. Ela não discute mais o assunto em público, por determinação da presidente, mas as pressões internas continuam.

Juro alto provoca distorções no câmbio, eleva o custo da dívida, ajuda pouco e o saldo final acaba sendo negativo, argumentam os críticos da atual política do governo que se vê às voltas com uma inflação acima de 6%.

O Banco Central não se impressionou pelo debate e decidiu continuar agindo para conter a demanda com os instrumentos monetários que dispõe. Juros mais altos sozinhos não resolvem, mas sem eles a pressão inflacionária seria maior.

Além disso, não está restringindo sua ação apenas sobre o custo do crédito, mas na liquidez no sistema financeiro. Está retirando mais dinheiro do mercado que injetou no estouro da crise financeira.

Deu certo, então. Mas é preciso um ajuste fiscal mais severo por parte do governo e que traga efeitos mais rápido. A associação desses fatores - juros temporariamente mais elevados, redução da liquidez, da oferta de crédito, ajuste fiscal, mais investimento em produção - formam peças interligadas de uma política econômica consistente de médio prazo. Ninguém espera resultados imediatos.

Não olham o todo. E é isso o que o BC e a equipe econômica estão fazendo. A distorção dos analistas é olhar só para um lado, e tirar conclusões precipitadas. Só veem o juro sem avaliar as outras medidas já colocadas em prática. Remédio demais, mata, dizem eles, mas a inflação não mata mais? É como ver o pé do elefante e concluir que, afinal, ele não é tao grande.

Não é bem assim. O argumento mais repetido é que a redução da liquidez não pode ser usada para conter a demanda. O respeitadíssimo Affonso Celso Pastore defende que seu objetivo é evitar bolhas que estariam sendo provocadas pela entrada de investimentos financeiros externos.

Pastore não acredita que essa bolha exista, mas alerta que não será contendo o volume de recursos no mercado que se irá impedir a alta da inflação. Há outros fatores que independem da liquidez.

Certo, mas mesmo o Pastore, que realizou um trabalho heroico quando era presidente do BC, nos anos de tormenta (eu estava em Londres e vi como ele sofreu com as dezenas de credores desconfiados do Brasil), deixa de assinalar um ponto importante em seu artigo de domingo no Estado. É que menos liquidez no sistema - o BC retirou mais de R$ 100 bilhões -, juros mais altos e prazos de financiamento menores podem desacelerar a demanda e reduzir as pressões inflacionárias.

Mas tem o BNDES. O governo não entra em contradição ao praticar essa política e, ao mesmo tempo, manter e até aumentar os recursos para que o BNDES financie os investimentos necessários das empresas a juros subsidiados? Isso vai pressionar a inflação no curto prazo, analisa o economista Luís Otavio Leal.

Curioso. Todos querem mais investimentos na indústria e na agricultura para aumentar a oferta que cresce menos do que a demanda - inflação -, mas acham que o BNDES não deve oferecer isso pelo menos agora. Fica a pergunta, se não se investe, quem investe?

Todos querem melhor infraestrutura, mas não querem que se invista nela para reduzir o custo Brasil, que onera as exportações e os preços internos, ajudando a conter a inflação.

Todos, absolutamente todos, reclamam que se investe pouco no País, cerca de 18% do PIB, que é preciso 20% ou mais para ter um crescimento equilibrado, sem maior inflação, mas condenam a política de que o incentiva, oferecendo financiamento de longo prazo a juros menores.

Poucos duvidam que o País possa crescer mais de 5% de forma sustentada - no ano passado, o crescimento deve ter ficado em 7,5% ou mais (o IBGE divulga hoje os dados) -, mas reclamam quando o BNDES dá recursos para produzir e melhorar a infraestrutura. Haja contradição.

A conta que fecha. O que a equipe econômica está fazendo é buscar equilíbrio entre esses fatores, com uma política coerente até agora. E vem conseguindo nestes dois meses e pouco de governo Dilma Rousseff.

Mais juros (paciência), menor prazo de financiamento para o consumo, ajuste fiscal, mesmo com o atual e ainda tímido investimento na agricultura e na indústria. O que veio ainda é pouco.

O que falta para consolidar uma política anti-inflacionária realista é aumentar os investimentos em tecnologia, inovação a fim de reduzir custos que serão repassados para o preço final aos consumidores e tornarão as exportações mais competitivas.

Não se trata de fatos isolados, mas de uma política coerente em que subsídios temporários ao setor produtivo não devem ser considerados heresias antiortodoxas. Afinal, não foi Keynes quem disse isso? O mesmo Keynes que os economistas estão redescobrindo agora?

ROBERTO MACEDO

O shop-shop de turistas brasileiros
ROBERTO MACEDO
O Estado de S. Paulo - 03/03/2011

Já sabia de várias fontes e de observações pessoais que a gastança de brasileiros em suas viagens ao exterior vem aumentando fortemente. Mesmo em viagens por aqui, como nos cruzeiros marítimos em fashion, nossos patrícios estão a gastar lá fora com o fretamento de navios, que também se prestam ao shop-shop (compra-compra).

As estatísticas confirmam a ocorrência do chamado shopping spree, um período de forte gastança, às vezes sem maior reflexão ou mesmo marcado por irresponsabilidade. Conforme dados do Banco Central divulgados em janeiro, em 2010 a conta de viagens internacionais do balanço de transações correntes do País teve um déficit de US$ 10,5 bilhões (!), um valor 88% (!) maior que o saldo negativo ocorrido em 2009, de US$ 5,6 bilhões. Foi o maior déficit desde o início da série de dados, em 1947 (!). Conforme números mais recentes, em janeiro houve outro recorde pós-1947, um déficit de R$ 1,2 bilhão.

A recuperação da nossa economia em 2010 trouxe mais empregos e maiores rendimentos, e também ampliou o desequilíbrio. Mas, mesmo em 2009, no ano mais forte da crise, quando o PIB caiu, o déficit não retrocedeu. Até subiu um pouco, passando de US$ 5,2 bilhões, em 2008, para os já citados US$ 5,6 bilhões, em 2009.

Além de impulsos consumistas e dessa recuperação, há outras razões para o enorme e crescente buraco na conta de viagens. A mais evidente é a taxa de câmbio entre o real e o dólar, que há tempos revela uma grande valorização da nossa moeda. Como resultado, os preços de bens e serviços adquiridos no exterior - em particular nos EUA, onde o shop-shop de brasileiros é mais evidente - atingiram valores mais baratos do que aqui. Há também a sequência de estações do ano, marcadas naquele país por fortes liquidações ao final de cada uma, que estimulam os visitantes brasileiros a comprar. Por exemplo, agora é época das sales de inverno, da qual os brasileiros se aproveitam para se agasalharem para o que aqui vai chegar.

Acrescente-se a escala de produção e comercialização, muito maior naquele país - o que reduz custos -, e também sua maior abertura às importações, com destaque para as chinesas, que com seus preços atraentes e qualidade aprimorada reduziram a antiga resistência ao hoje onipresente "made in China", que nos EUA alcança até cartões de Natal. Aqui, já não escapam nem mesmo as imagens de Nossa Senhora Aparecida. Como medida protecionista não tarifária, seria o caso de exigir certificação de sua capacidade de também fazer milagres.

Um segundo fator a impulsionar os brasileiros, este pouco percebido, são as diferentes estruturas tributárias do Brasil e dos EUA. Lá preponderam impostos diretos, como os de renda e sobre imóveis. Aqui, os indiretos são dominantes, como o IPI e o ICMS, que (principalmente o segundo) claramente oneram fortemente os preços ao consumidor.

Como resultado, o cidadão que sai daqui para comprar lá está na situação de um "ótimo tributário", pois em comparação leva uma renda menos tributada aqui para adquirir produtos menos tributados lá.

Outro fator é que, nos seus ciclos produtivos e de comercialização, as inovações tecnológicas aparecem primeiro no exterior. Além de atraírem o interesse dos turistas brasileiros, estes também levam listinhas de encomendas de parentes e amigos, quando não de clientes informais.

Para sintetizar os dois últimos fatores, lembrei-me de uma história que circula na internet, que como piada diz que nos EUA há várias inovações que começam com a letra i, como iPod, iPad, iTunes e o iTech em geral, enquanto no Brasil o que temos é iPI, iPVA, iPTU, iSS, iCMS etc. Depois de refletir, deixei de ver nisso uma piada, pois é mais um sintoma do nosso subdesenvolvimento. Cada um inventa o que pode. Às vezes, até o que não deve.

Voltando ao shop-shop, ele alcança tal proporção que se tornou um turismo em si mesmo. Demonstra-o uma pesquisa sobre motivação de viagens realizada entre turistas brasileiros e objeto de matéria publicada no Diário do Comércio de 25/5/2010. Nos resultados, apareceram as compras como motivo mais importante, ficando em posição secundária passeios e visitas a museus.

Seria criticável o comportamento dos turistas? Examinado à luz do enfoque tradicional das finanças pessoais - o de que os consumidores são racionais, bem informados e buscam tirar o máximo proveito dos recursos de que dispõem e dos bens e serviços que adquirem -, eles se comportam como tais. Buscam inovações e decidem com base em comparações de preços. Se por trás destes há distorções de câmbio e de estrutura tributária, não se pode esperar que em lugar de comprar passem a denunciá-las.

Contudo, no enfoque das finanças comportamentais, que aponta equívocos dessa análise tradicional, nossos turistas são vulneráveis a críticas. Entre outros aspectos, por seguirem o que esse enfoque aponta como "comportamento de manada", correndo sem maior reflexão atrás de modismos, de marcas e do "not made in Brazil". Isso além de nem sempre avaliarem adequadamente os custos em que incorrem. Entre eles o da viagem, pois, se a preocupação predominante é o shop-shop, deveriam incluir o custo dela no de aquisição dos produtos com que enchem suas malas e sacolas. Se fizessem isso, não enfatizariam tanto as "pechinchas" de que se gabam.

Questões ligadas ao consumidor dizem respeito ao varejo. No atacado do problema, quem fica mal é a política econômica do governo, à qual cabem a questão cambial e a tributária. Na primeira, ele mostra alguma ação, mas sem ir a fundo. Na segunda, acena com a ameaça de outra i-novação, a de substituir a finada cPMF por um iMF, por tabela estimulando ainda mais o deslumbrante shop-shop de nossos turistas.

MINHA CASA

CELSO MING

Estabilização cambial 
CELSO MING

O Estado de S.Paulo - 03/03/2011

A custos crescentes e desgastes não desprezíveis, o Banco Central conseguiu, nos dois primeiros meses deste ano, estabilizar a cotação do dólar em torno de R$ 1,66 (veja gráfico).

Apesar da alta volatilidade da economia mundial, o mercado vai acreditando nessa estabilidade. A Pesquisa Focus, do Banco Central, por exemplo, indica que consultores, bancos e instituições apostam em que, ao final deste ano, a cotação do dólar estará em R$ 1,70 e, no fim de 2012, em R$ 1,79.

A indústria e os exportadores continuam achando um resultado medíocre. Estão insatisfeitos com o que entendem por excessiva valorização do real e perda de competitividade ante a concorrência estrangeira. Mas, afora as reclamações, não conseguem apontar nenhuma providência eficaz que possa virar esse jogo quase perdido.

As compras de dólares com o objetivo de criar demanda para uma oferta cada vez mais forte continuam no mercado à vista e no mercado futuro. Apenas em fevereiro (até dia 25), o Banco Central havia comprado US$ 7,2 bilhões no mercado à vista e US$ 973 milhões no mercado a termo. Nos dois primeiros meses do ano, as reservas externas saltaram 6,6%, de US$ 288,6 bilhões para US$ 307,5 bilhões.

O custo de carregamento dessas operações de compra, ou seja, a diferença entre o rendimento que o Banco Central obtém com os títulos comprados por essas reservas e o que paga pelos títulos que injeta no mercado para esterilizar os reais emitidos com as compras, deve ultrapassar este ano os R$ 40 bilhões, como já fora avaliado por esta Coluna no dia 25 de fevereiro.

A criação de novas demandas para o forte afluxo de moeda estrangeira esbarra em obstáculos técnicos. O primeiro deles é a inflação interna alta demais. Forçar a desvalorização do real significaria aumentar os preços dos produtos importados. O segundo obstáculo é o avanço do rombo do País em Conta Corrente que, pelas razões já conhecidas, convém evitar que se alastre. Se, por exemplo, fosse incentivado crescimento ainda maior das importações, não só a indústria instalada no Brasil enfrentaria aumento da concorrência, como também o déficit externo, que se quer conter, seria alargado.

A nova rodada de aperto monetário (alta dos juros) tende a trazer mais capitais e a evitar que muitos saiam. Os partidários da desvalorização do real gostariam que o governo coibisse a entrada tanto de capitais financeiros como boa parte dos Investimentos Estrangeiros Diretos (IED). Essas operações não são de fácil execução porque a liquidez opera em esquema de vasos comunicantes. E não é só isso. Mais do que nunca, o governo está sedento de mais capitais para o pré-sal, para as obras da Copa do Mundo e da Olimpíada, para o PAC, para o BNDES, para financiamento de capital de giro das empresas brasileiras e para tanta coisa mais.

Por isso, nas circunstâncias, a estabilização da cotação do dólar no patamar de R$ 1,66 aqui apontada não pode ser considerada resultado desprezível. Mas ninguém se iluda. O crescimento das reservas é, por si só, fator de mais entrada de dólares, como outras vezes esta Coluna apontou. E o fato de que o Banco Central atua como comprador firme de moeda estrangeira é fator de segurança para quem traz recursos de fora, porque reduz o risco cambial.

CONFIRA

A dose prevista
O aumento da Selic em meio ponto porcentual, para 11,75% ao ano, ficou na proporção esperada. Não se confirmou o que alguns analistas previam: a divulgação de um comunicado duro que tirasse as dúvidas sobre a continuidade do ajuste.

Ficou para a ata
Os analistas vão tentar agora garimpar na ata do Copom, a ser divulgada na próxima quinta-feira, o que acontecerá nos próximos meses.

DORA KRAMER

PDB mostra sua face 
DORA KRAMER

O Estado de S.Paulo - 03/03/2011

Desfeito o namoro com o PMDB, praticamente selado o divórcio com o DEM e acertado um noivado com promessa de casamento com o PSB, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, já começa a reunir adesões ao partido que pretende criar a partir dos idos de abril próximo.

No dia 19 de março Kassab irá a Manaus a convite do governador Omar Aziz (PMN), que na oportunidade pretende anunciar seu apreço à criação da legenda e anunciar filiação tão logo se concretize o projeto. Junto com ele, o prefeito de Manaus, Amazonino Mendes (PTB), e o senador pelo Acre Sérgio Petecão (PMN).

No dia seguinte, Gilberto Kassab estará em Salvador para ouvir o mesmo, em público, do vice-governador Otto Alencar (PP) e mais cinco deputados federais. Note-se: sem qualquer obstáculo imposto pelo governador petista, Jaques Wagner.

O vice-governador de São Paulo, Guilherme Afif Domingos (DEM), também seguirá Kassab, mas outras figuras de destaque de seu atual partido, como o governador de Santa Catarina, Raimundo Colombo, e a senadora Kátia Abreu (TO), se mudarem para o PDB será mais adiante.

Por enquanto ficam, atendendo aos apelos de Marco Maciel, Jorge Bornhausen e José Agripino Maia, que também pediram ao prefeito de São Paulo que reconsiderasse a decisão. Marcaram com ele uma conversa para depois do dia 15, quando o DEM fará uma convenção extraordinária.

Numa escala de zero a 10, a chance de Kassab mudar de ideia é 1. Por essa mesma régua a junção do prefeito ao PMDB que já foi 8 caiu para 2. A hipótese mais provável é a de que se confirmem os entendimentos com o PSB: uma futura fusão, na qual seria mantida a sigla do partido presidido pelo governador de Pernambuco, Eduardo Campos, ou alguma outra forma de parceria: coligação ou bloco parlamentar.

A razão da troca do PMDB pelo PSB é muito simples, o primeiro rejeitou e o segundo aceitou as condições de Kassab: o comando do processo de sucessão municipal em São Paulo no ano que vem e independência para apoiar quem quiser (leia-se José Serra) na eleição de 2014.

O PMDB, que para os planos de Kassab seria mais interessante por causa da densidade e amplitude do partido, achou o preço caro demais. Já Eduardo Campos foi totalmente permeável à proposta cujo invólucro é a criação de uma força política alternativa à supremacia do trio PT, PMDB e PSDB.

O discurso que o prefeito de São Paulo tem feito nessas conversas é o de que não pretende alinhar-se automaticamente ao governo federal. Mas registre-se que todos os partidos e políticos com os quais Kassab tem se articulado pertencem à base governista.

Se tudo sair como pretende o prefeito, o novo partido poderia obter o registro definitivo num prazo de três meses e aí estaria apto para fazer a fusão com o PSB, cujo resultado inicial já seria uma expressiva "bancada" de sete governadores.

O que farão com esse capital é impossível antecipar. Mas que farão algo não há a menor dúvida.

Ladeira abaixo. O que dizer de Tiririca na Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados, diante de João Paulo Cunha na presidência da Comissão de Constituição e Justiça (presidida em 2009 pelo notório Eduardo Cunha) e de Paulo Maluf, Valdemar da Costa Neto e Newton Cardoso na Comissão de Reforma Política?

Apenas lamentar que o eleitor (todos passaram recentemente pelo crivo das urnas) e os partidos com suas escolhas confiram tanto menosprezo ao Parlamento.

Carochinha. A presidente Dilma Rousseff diz que o governo não fez política com o programa Bolsa Família na eleição. E a fada do dente informa que também não.

Nas ostras. O deputado e presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, mandou o PT para aquele lugar. Disse em público com sua habitual rispidez o que o PMDB cansa de dizer em particular com sua proverbial perfídia.

ANCELMO GÓIS

Pouso forçado
ANCELMO GÓIS
O GLOBO - 03/03/11

Rossano Maranhão, ex-presidente do Banco do Brasil, recusou o convite de Dilma para assumir a nova Secretaria da Aviação Civil, ligada à Presidência da República, com status de ministro. Em 2007, Maranhão já havia recusado o comando da Infraero e preferido, como agora, continuar na diretoria do Banco Safra. 

Aliás...
O tempo passa, o tempo voa, e encurta o espaço de manobra do governo para preparar os aeroportos para a Copa de 2014 e os Jogos de 2016. Fertilizante com X Eike Sempre Ele Batista está de olho numa mina de fosfato em Goiás, na fronteira com a Bahia.

Passo errado 
O mestre-sala da Beija-Flor, Claudinho, foi expulso do Corpo de Bombeiros do Rio, acusado de fraude em concurso público. Selminha Sorriso, porta-bandeira da escola, que também é bombeira, é investigada. 

Omelete na política

Na reunião do Conselho Político de Dilma, o assunto mais comentado foi a entrevista da presidente para Ana Maria Braga, na TV Globo. 

Copa verde 
Sete dos 12 estádios da Copa de 2014 terão o selo Leed — ou seja, serão neutros em emissão de carbono.
No mundo inteiro, só cinco estádios têm o tal selo.

Caetano na Sapucaí
Caetano Veloso confirmou sua presença no desfile do Paraíso do Tuiuti, terça de carnaval, na Sapucaí. Homenageado no enredo
“O mais doce bárbaro”, o baiano virá no último carro, que representa o morro do Tuiuti.

Democracia na África
Roger Agnelli, presidente da Vale, desembarca em Londres, no fim de semana, para encontrar George Soros. O tema do encontro são os investimentos da mineradora na Guiné-Conacri, cuja democracia vem sendo apoiada pela Open Society Foundation, do megaespeculador, com a eleição do presidente Alpha Condé, 72 anos, ex-professor de ciência política na Universidade de Paris.

Segue...
A Vale pretende investir US$ 861 milhões só este ano na Guiné, entre ferrovia e mina de minério de ferro. 

Cirurgia bariátrica
A 4a- Turma do STJ decidiu que a cirurgia bariátrica (redução de estômago) não é estética, mas necessária à sobrevida do paciente. Os planos de saúde não poderão mais recusar a cobertura. O relator foi o ministro Luís Felipe Salomão.

Evasão escolar

Pousaram ontem na mesa de Cláudia Costin, secretária de Educação de Eduardo Paes, dados que mostram, viva!, queda da evasão nos colégios do projeto Escolas do Amanhã. São 151 escolas em favelas dominadas pelo tráfico, embora algumas comunidades já tenham ganhado UPPs. 

Veja só...
Em 2008, estas 151 escolas apresentaram evasão escolar de 5,1% (acima da média na rede municipal, de 2,6%). Em 2010, o índice caiu para 3,26%, um pouco acima da média na rede no ano, de 2,35%. 

A fila anda
Nívea Stelmann, a linda atriz, está namorando Elano, o jogador do Santos. 

De mãos dadas 
Vanessa da Matta assinou contrato com a Plan Music, de Luiz Oscar Niemeyer. 

Croquete cresce
A Casa do Alemão, altar sagrado dos croquetes, vai abrir em junho sua décima filial. Ficará na Via Lagos, no acesso a Búzios e às demais praias da Região dos Lagos, no Rio.

Cena carioca
Terça, por volta de meio-dia, na Praça Saens Peña, na Tijuca, um senhorzinho e um guarda municipal batiam boca, quando o primeiro, exaltado, bradou: “Rapaz, eu pago seu ordenado!” O guarda respondeu: — Olha, vou aproveitar, então, para falar que o senhor me paga muito mal! Há testemunhas.

GOSTOSAS

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

Vale e GM estão entre convidados de Dilma e Obama
MARIA CRISTINA FRIAS
FOLHA DE SÃO PAULO - 03/03/11

Entre as empresas que serão recebidas pela presidente Dilma Rousseff e por seu colega dos EUA, Barack Obama, para um almoço em Brasília no dia 19 estão Vale, Odebrecht, GM e outras.
Participarão 20 altos executivos de companhias brasileiras e norte-americanas.
A coordenação do lado brasileiro está a cargo de Josué Gomes da Silva, da Coteminas (empresa do setor têxtil). Josué é filho do ex-vice-presidente José Alencar.
Além da Coteminas, devem estar presentes à mesa representantes das seguintes empresas: Aracruz, Camargo Corrêa, Cutrale, Embraer, Gerdau, Odebrecht, Stefanini, Vale e Votorantim.
De todas essas companhias, a menos conhecida é a Stefanini, que atua na área tecnologia da informação.
Do lado norte-americano, a reportagem apurou a presença de cinco das dez convidadas: Citibank, Coca-Cola, GM, Intel e Motorola.
Os empresários chegam a Brasília no dia 18, que será uma sexta-feira, quando terão um jantar entre si.
No dia seguinte, participam de uma reunião de trabalho antes de se encontrarem com Obama e Dilma para o almoço no Itamaraty, a sede do Ministério das Relações Exteriores.
Nas discussões preparatórias para o evento, diplomatas já manifestaram uma preocupação: se pode dominar o encontro uma retórica anti-China. O país é visto como grande adversário comercial de empresas brasileiras e norte-americanas.

AÇO PETROLEIRO

A distribuidora Aços F. Sacchelli investirá R$ 33 milhões neste ano para abrir quatro unidades no Estado de São Paulo e desenvolver materiais para exploração de petróleo do pré-sal.
A companhia antecipou em quatro meses a abertura do centro de distribuição em Santos, que começará a funcionar na próxima semana.
"O petróleo corresponde a cerca de metade do nosso faturamento, então precisamos desenvolver peças de aço que aguentem a altíssima pressão de 7.000 metros de profundidade para a extração", diz o presidente da empresa, Wagner Sacchelli.
A distribuidora tem clientes dos setores de agronegócio e bens de capital.
As outras unidades são em Jacareí, aberta na semana passada, São Paulo, prevista para abril, e São Carlos, no segundo semestre.
Até o final do mês, a companhia também aprovará a liberação de R$ 60 milhões para a aquisição de empresas do setor, diz Sacchelli.

MOTOR LIGADO
A Kawasaki Motores do Brasil vai ampliar a atuação de sua fábrica em Manaus com a nacionalização de novos modelos neste ano.
A rede de concessionárias autorizadas, atualmente 45, deve ser expandida para cerca de 70 lojas até o fim de 2011. A empresa também vai abrir um centro de treinamento. Entre os projetos que fazem parte dos investimentos da planta de Manaus, que foi inaugurada no final de 2009, estão previstos quatro novos modelos de motos nacionalizados neste ano.
Há também planos de curto prazo para a ampliação do portfólio de produtos da empresa, com a introdução de "jetskis" no mercado brasileiro, segundo a Kawasaki.

Idiomas A rede CNA pretende abrir cerca de 25 escolas neste ano nas regiões Centro-Oeste, Nordeste e Sul e nos Estados de Minas Gerais, São Paulo e Espírito Santo.

Algodão 
O segmento de cama, mesa e banho registrou queda de 3,5% nas vendas em fevereiro, na comparação com janeiro, segundo o Sindicato do Comércio Atacadista de Tecidos de São Paulo. A alta do algodão está entre as causas da queda, segundo a entidade.

Visita 
O líder global de metalurgia da PwC, Jim Forbes, vem ao país neste mês para lançar pesquisa sobre transações mundiais e perspectivas do setor em 2011. Apresentará a participação dos concorrentes do mercado e uma análise dos negócios por região.

Sol 
A Hotelera Posadas iniciará operação do Caesar Business Salvador Bahia. O empreendimento, construído com a Fator Realty, envolve investimentos de R$ 75 milhões.

LIVROS
A retomada do crescimento econômico do país, em 2010, favoreceu também o mercado editorial.
A editora Universo dos Livros teve crescimento de 220% nas vendas.
Contribuíram para a alta os mais de 100 mil exemplares do livro "O Homem que Falava com Espíritos", biografia de Chico Xavier.
Em relação a 2009, a editora Ediouro teve um crescimento de 15% nas vendas.
Em 2011, o grupo pretende lançar 270 livros, 20 a mais do que no ano passado.
"Vamos investir em projetos de autores nacionais, "e-books" e audiolivros", diz Alexandre Mathias, diretor-executivo da editora.
Também em relação a 2009, a editora Record cresceu 22%. Para este ano, a empresa estima um aumento de 16% nas vendas.

Em ritmo menor, emprego cresceu 13% na construção em 2010

A construção civil brasileira abriu 319 mil novas vagas com carteira assinada no ano passado. O nível de emprego no setor cresceu cerca de 13% no acumulado de 2010, segundo o SindusCon-SP (Sindicato da Indústria da Construção Civil de São Paulo).
No fim do ano, o total de empregados formais ficou em 2,78 milhões.
Apesar da elevação acumulada, o emprego perdeu ritmo. Foram fechados 84,5 mil postos de trabalho em dezembro.Todas as regiões fecharam vagas no mês.
Na capital paulista, foram desligados cerca de 6.000 trabalhadores em dezembro.
No interior do Estado, houve demissões em todas as regiões administrativas, exceto na de Bauru.

Negócios... As regiões do médio e baixo rio Madeira, em Porto Velho (RO), têm potencial para desenvolver 13 agroindústrias, segundo estudo da Santo Antônio Energia, responsável pela construção e pela futura operação da hidrelétrica de Santo Antônio.

...da floresta 
Extração do óleo de babaçu para cosméticos e produção de polpa de frutas nativas são algumas das atividades indicadas no estudo, de 2010. O objetivo é incentivar a cadeia produtiva em áreas próximas à hidrelétrica.

Ilha 
Em visita ao Brasil em fevereiro para se reunir com operadores de viagem, o ministro do Turismo, Transporte e Trabalho de Aruba, Otmar Oduber, falou sobre a expansão do número de voos, com interesse em uma frequência direta de São Paulo a Oranjestad, capital de Aruba. O ministro visitou representantes de empresas aéreas.

Doce 
A marca de "cupcakes" Wondercakes abrirá suas primeiras lojas fora do Estado de SP. Estão previstas cidades como Recife, Rio e Salvador.

INTERNACIONAL
A feira do setor ceramista, Expo Revestir, registra um aumento do número de expositores estrangeiros neste ano. Serão 40 estandes, sendo 23 italianos, ante os 30 expositores do ano passado.
A Anfacer (associação do segmento), organizadora do evento, espera 40 mil visitantes de 60 países.
Não é uma feira apenas da indústria de cerâmica, mas também de diferentes revestimentos internos, como pisos laminados, rochas ornamentais e pisos de madeira, diz Antonio Carlos Kieling, presidente da Expo Revestir.
O setor projeta crescimento de 6,23%, em 2011.
"Deve movimentar R$ 8 bilhões, sendo US$ 256 milhões de exportações, o que representa 8% da produção. Já chegamos a exportar 30%, mas, hoje, os mercados mudaram", afirma. A feira ocorre entre os dias 22 e 25, em São Paulo.

com JOANA CUNHA, ALESSANDRA KIANEK, VITOR SION, ANDRÉA MACIEL e FERNANDO RODRIGUES

VINICIUS TORRES FREIRE

O governo morde e assopra
VINICIUS TORRES FREIRE

FOLHA DE SÃO PAULO - 03/03/11

No dia seguinte à alta do "juro do BC", governo deve anunciar mais crédito barato por meio do "juro do BNDES"

ESTÁ QUASE certo que o governo federal, via Tesouro da União, vai emprestar mais R$ 50 bilhões ao BNDES a juros baixinhos, dinheiro que o banco estatal de desenvolvimento emprestará a projetos de investimento de empresas.
Na mesma tacada, a equipe econômica do governo Dilma Rousseff vai aumentar as taxas de juros de uma linha de crédito, o Plano de Sustentação do Investimento (PSI).
O PSI foi lançado em julho de 2009, uma das medidas do governo do Lula 2 que tinham com objetivo aliviar a seca de crédito devido ao estouro final da crise financeira em 2008. Os juros do PSI vão subir três pontos percentuais.
O aumento dos juros, porém, não deve fazer quase coceira na procura por crédito do PSI. Em parte, o aumento apenas corrige a taxa real de juros, pois, desde que o programa foi lançado, as expectativas de inflação pularam mais de um ponto percentual. O resto, quase dois pontos percentuais, não deve afugentar a clientela do BNDES, que, aliás, já faz fila pelos novos empréstimos. O governo, enfim, quer só diminuir a conta do subsídio que dá ao dinheiro emprestado pelo BNDES.
Boa parte dos empréstimos do Tesouro para o BNDES alimenta os fundos do PSI. O bancão estatal já recebeu R$ 180 bilhões em empréstimos do Tesouro, desde 2009. O PSI emprestou uns R$ 120 bilhões.
As taxas de juros do PSI, ora entre 3,5% e 8%, são ainda menores que as taxas convencionais do BNDES para grandes empresas, em torno de 11%, 12%, as menores que as empresas brasileiras conseguem pegar, no mercado daqui ou de fora.
Agora, as taxas do PSI irão de 6,5% a 11%. O programa financia bens de capital (máquinas, veículos de transporte pesado, locomotivas e guindastes, por exemplo), inovação tecnológica e a produção de bens para exportação.
O PSI, o aumento do crédito nos bancos públicos comerciais, a diminuição dos dinheiros que os bancos têm de deixar parados no BC ("compulsórios") e o aumento de gastos públicos em geral foram vendidos em 2009 como meios de evitar uma recessão excessiva no Brasil. Deu certo. Até demais.
Quando o dinheiro do governo começou a entrar nos canos da economia, o país já saía da recessão. Decerto, em parte porque havia a expectativa de que o governo não deixaria a peteca cair. Isto é, as empresas não cortaram mais investimentos e não demitiram mais porque sabiam do impulso que o governo daria na economia.
Em 2010, a economia superaqueceu, a inflação subiu. No final do ano passado, o governo, via BC, enxugou dinheiro (aumentou compulsórios) e dificultou o crédito. O BC começou a elevar os juros. Até a equipe econômica de Dilma dizia, entre dezembro e janeiro, que seria preciso conter gastos públicos a fim de evitar mais inflação e, assim, evitar pauladas maiores nas taxas de juros do BC.
O governo anunciaria hoje as novidades do programa, que, em suma, aumenta a dívida pública, o gasto público e estimula a economia num período que deveria ser de ajuste. Isso um dia depois da decisão do BC sobre a nova taxa de juros "básica" da economia, a Selic. Três dias depois do anúncio da contenção de gastos federais, um corte meio fajuto, mas alguma coisa.
O governo morde e assopra.

DUAS ABILOLADAS

RENATA LO PRETE - PAINEL DA FOLHA

Sem pai nem mãe
RENATA LO PRETE
FOLHA DE SÃO PAULO - 03/03/11

Sob forte pressão da Receita Federal, o Palácio do Planalto resolveu abandonar à própria sorte a medida provisória que prevê punições mais rigorosas para servidores que cometerem quebra irregular de sigilo.
Editado pelo então presidente Lula, em meio à campanha de 2010, para aplacar a ira da oposição diante da violação de dados de dirigentes do PSDB e familiares do candidato José Serra, o texto, aprovado anteontem pela Câmara, perderá a validade se não for apreciado até o próximo dia 15 pelo Senado. Com o Carnaval à frente, o tempo para a votação é tão escasso quanto a vontade do governo de ver a MP aprovada.

Oops! 
Miriam Belchior (Planejamento) atribuiu o corte de R$ 5 bi no "Minha Casa, Minha Vida" ao fato de a segunda parte do programa ainda não ter sido "aprovada pelo Congresso". Ocorre que se trata de MP, em vigor desde o momento de sua edição.

Mortal 
De um auxiliar da presidente, sobre o descarte de Emir Sader, que perdeu a Casa de Rui Barbosa depois de atacar a ministra Ana de Hollanda (Cultura): "Ele fez o que Dilma mais detesta". A saber, brigar via imprensa.

Grandes chefes 
De Jovair Arantes (PTB-GO), aproveitando visita de deputados a Dilma para comentar a aparição da presidente no "Mais Você": "Difícil foi comer a omelete que a minha secretária preparou depois de ver a senhora cozinhando".

Deixa estar 
Do gaúcho Vieira da Cunha, lamentando a exclusão do PDT, um tanto infiel na votação do salário mínimo, da reunião no Planalto: "Estamos no início de um governo de quatro anos. Daqui a pouco, eles vão olhar para o lado, e os aliados estarão afastados".

Escravos... 
O ex-deputado Cláudio Vignatti (PT-SC), de início cotado para presidir a Eletrosul, será secretário-executivo das Relações Institucionais. Luiz Azevedo, hoje nesse posto, será o "homem das emendas".

...de Jó 
O PT agora tenta emplacar Ronaldo dos Santos Custódio, diretor de engenharia, na presidência da Eletrosul. No comando da Eletronorte, o PMDB gostaria de colocar Tito Cardoso de Oliveira Neto, atual diretor de gestão corporativa. Ele é ligado a Jader Barbalho.

Câmbio 
Se no Brasil Lula poderá receber até R$ 200 mil por palestra, no exterior, segundo petistas, o valor seria outro: US$ 200 mil.

Chega mais 
De novo mencionado como possível nome do PT para a sucessão de Gilberto Kassab (DEM), o ministro Fernando Haddad (Educação) foi anfitrião, ontem, de almoço com deputados do partido em São Paulo.

A ver 
Embora declare a intenção de seguir Kassab no novo partido, o vice Guilherme Afif tem repetido a Geraldo Alckmin que não pretende se candidatar à prefeitura.

Canja 
Marta Suplicy (PT-SP), que no comando da Mesa do Senado tem sido implacável com o tempo dos colegas, foi generosa ontem com Armando Monteiro Neto (PTB-PE), que estreava na tribuna: deu-lhe dois acréscimos de três minutos cada.

Visita à Folha 
Mauro Munhoz, diretor-geral da Flip (Festa Literária Internacional de Paraty) e presidente da Associação Casa Azul, organizadora do evento, visitou ontem a Folha, onde foi recebido em almoço. Estava com Izabel Cermelli, diretora-executiva da Casa Azul, Josephine Bourgois, coordenadora do núcleo de literatura, Lucia Rodrigues, coordenadora de desenvolvimento institucional, e Manuel da Costa Pinto, curador da Flip.
com LETÍCIA SANDER e FABIO ZAMBELI

tiroteio

"Vaccarezza se credencia para ser o primeiro convocado pela CPI do Alcoolismo. Lá ele poderá explicar melhor essa lógica."
DO DEPUTADO VANDERLEI MACRIS (PSDB-SP) sobre o líder do governo, segundo quem se cada família beneficiada por programas sociais "comprar uma cachaça por mês, são 11 ou 12 milhões de garrafas", e "isso ajuda toda a economia".

Contraponto

Almas gêmeas


Ao acompanhar, na terça-feira, a sessão na qual foi instalada a comissão de reforma política da Câmara, José Sarney (PMDB-AP) afirmou, em tom eloquente:
-Tenho com o presidente Marco Maia (PT-RS) a mais total, intensa e firme unidade de propósitos!
O deputado Ivan Valente (PSOL-SP) comentou:
-Se com essa identidade toda eles não conseguiram criar uma única comissão, mista, nem se acertaram nos prazos, com 45 dias para a do Senado e 180 para a da Câmara, imagine se houvesse desavenças!