A crise fabricada
Por Luiz Carlos Azedo
CORREIO BRAZILIENSE - 08/01/10
Presidente da Frente Parlamentar de Defesa Nacional, o deputado federal Raul Jungmann (PPS-PE) teve uma longa conversa por telefone com o secretário especial de Direitos Humanos, ministro Paulo Vannucchi, sobre a crise militar causada pela criação da Comissão da Verdade, no âmbito do Plano Nacional de Direitos Humanos. O relato da conversa revela como o governo Lula é capaz de criar problemas políticos a si próprio, à falta de uma oposição que lhe dê mais o que fazer.
Segundo Vannucchi disse a Jungmann, quando o presidente Lula fez escala em Natal, rumo a Copenhague, em 15 de dezembro, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, disse-lhe que a expressão “repressão política” deveria ser complementada com a referência a “conflitos políticos”, para que o documento contemplasse o ponto de vista dos militares. Ou seja, que além dos militares e civis que participaram da repressão, deveriam ser objeto de investigação os militantes da esquerda que pegaram em armas. Lula concordou e mandou fazer a mudança, mas, quando a ordem chegou, o material já estava impresso.
Cadafalso
A comissão de sindicância que apura supostas irregularidades cometidas pelo ex-diretor-geral do Senado, Agaciel Maia, só tem ferrabrás. Proporá que Agaciel seja demitido. A decisão, porém, caberá ao presidente do Senado, José Sarney (PMDB/AP).
Gráfica
“Gilberto Carvalho me ligou de madrugada no mesmo dia pra avisar que teria de mudar o texto do III PNDH. Falei que não dava mais. O material já estava na gráfica, o lançamento estava atrasado e a modificação poderia ser feita mais adiante, quando do envio do projeto de lei”, justificou Vannuchi. O ministro reconhece que a fórmula não agradava, mas o motivo da não inclusão da emenda na versão final do texto foi burocrático.
Interativo
O tucano José Aníbal (SP), líder da bancada do PSDB na Câmara no ano passado, foi o recordista de ligações telefônicas do serviço Disque-Câmara: seu gabinete foi contatado 22.187 vezes pelo 0800. O serviço da Câmara registrou um total de 3 milhões de mensagens.
Memória
Pivô da confusão com Jobim e os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, que chegaram a colocar os cargos à disposição, Vannucchi reiterou que não tem a intenção de revogar a anistia. “Isso quem vai decidir, repito, é o Judiciário, o STF. Agora, direito à verdade, à memória, a saber o que se passou, isso é inegociável e todas as nações que passaram por isso, por esse processo, fizeram. Até para que tais fatos não se repitam”, justifica.
Acordo
Segundo Vannucchi, até ali, tudo tinha sido negociado com a Defesa.
Em setembro, pessoalmente, recebeu de Jobim o texto com três mudanças. “Foi uma luta com o pessoal dos direitos humanos, mas aceitamos tudo; então, por que aquela mudança de última hora?”, questiona. Vannuchi, porém, deixou claro para Jungmann que não é obstáculo à mudança. “Não criarei problema para a inserção da expressão proposta pelo ministro Jobim. Não tivemos intenção de promover essa crise, muito menos traímos ou rompemos pacto algum”, garante.
Disputa O deputado Fernando Coruja (SC), que unificou a bancada do PPS, deixa a liderança da legenda na Câmara. O paulista Arnaldo Jardim (PPS), vice-líder, é o mais cotado para substituí-lo.
Moda O economista carioca Mauro Osório comemora o boom de imagem do Rio de Janeiro na Europa, onde imagens do Cristo Redentor e do Pão de Açúcar aparecem até em cartões de telefone público. Estudioso da economia fluminense, é um dos que defendem mais investimentos na cadeia produtiva do turismo, do entretenimento e do lazer.
Patrimônio A propósito, é trágico o abandono do velho Santos Dumont, que virou uma mera área de desembarque depois da construção da nova estação de embarque, com sua arquitetura modernista descaracterizada por puxadinhos feitos para servir à burocracia da aviação. Os banheiros vivem sem água ou entupidos e falta lugar até para guardar as bagagens dos passageiros, pois os armários rotativos vivem ocupados por funcionários e o depósito existente é um vão de escada.
Gelo
Prestes a assumir o governo de Honduras, o presidente eleito Porfírio “Pepe” Lobo busca o apoio político internacional. Por causa do golpe de Estado, em 28 de junho, o Brasil não reconhece o novo presidente. Nem pretende fazê-lo tão cedo. Para o presidente Lula, Honduras agora é um problema dos Estados Unidos.