sábado, outubro 10, 2009

PARA....HIHIHIHI

ARGENTINOS

Na cidadezinha, bem na divisa Brasil/Argentina, a igreja enche para a missa das 10h.

Argentinos, brasileiros, o prefeito, a esposa, enfim...

O padre começa o sermão:

- Irmãos estamos hoje aqui reunidos para falar dos ''Fariseus. Aquele povo desgraçado como esses argentinos que estão aqui...
- Ohhhhhhh!
- Coro generalizado na igreja e logo depois, o maior tumulto.

Os argentinos saíram xingando o padre, houve briga na porta da igreja, o prefeito ficou indignado e foi falar com o padre na sacristia:
- Padre, pega leve! Os argentinos vêm para cá, gastam nas lojas, nos restaurantes, trazem divisas para a cidade. Não faça mais isto, por favor.

Durante toda a semana a cidade não falou de outra coisa senão do padre e o sermão do domingo.

Aquele zum zum zum todo foi deixando as pessoas curiosas para saber como seria no domingo seguinte.

Cá pra nós, é bem verdade, que uma parte estava até satisfeita... Mas...

Finalmente, chega o domingo, o prefeito vai à sacristia e recomenda:
- Padre, o senhor lembra da nossa conversa, não? Por favor, não arrume nenhuma encrenca hoje, certo?

Começa a missa e o padre chega ao sermão:
- Irmãos, estamos aqui reunidos hoje, para falar de uma pessoa da Bíblia: Maria Madalena. Aquela mulher, a prostituta que tentou Jesus, como essas argentinas que estão aqui.

Mal acabou de falar e não deu outra: pancadaria na igreja, algumas internações no pronto-socorro local e o prefeito novamente foi ao encontro do padre:
- Padre, pelo amor de Deus! o senhor não me disse que ia pegar leve? Se o senhor não parar com isso, vou ter que falar com o bispo e pedir a sua retirada imediata da paróquia.

Naquela semana, o zum-zum-zum foi maior ainda.

As conversas na cidade giravam em torno do sermão e ninguém perderia a missa do próximo domingo, nem por decreto!

Na manhã do domingo, a Igreja parecia Fla X Flu em final de Campeonato Brasileiro no Maracanã: não tinha lugar para ninguém.

Neguinho que há anos não pisava na igreja, parecia que era o mais devoto dos católicos.

O prefeito entra na sacristia escoltado pela polícia e adverte:
- Padre, pega leve, senão te levo em cana!

Quando o padre aparece, tensão generalizada... Bochichos... Até que ele começa o sermão:
- Irmãos, estamos aqui reunidos hoje, para falar do momento mais importante da vida de Cristo: a Santa Ceia.

O prefeito então respirou aliviado.
- Jesus, naquele momento disse aos apóstolos: 'Esta noite, um de vocês me trairá.'
- João pergunta: 'Mestre, sou eu?', e Jesus respondeu: 'Não, João, não será você.'
- Pedro pergunta: 'Mestre, serei eu?' E Cristo respondeu: 'Não, Pedro, não será você.'
- E então Judas pergunta: 'Miestre, soy yo?'



COLABORAÇÃO ENVIADA POR MARCOS

MERVAL PEREIRA

Nobel para uma visão

O GLOBO - 10/10/09


O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, foi premiado com o Nobel da Paz 2009 pelas mesmas razões por que foi eleito 11 meses atrás: sua visão de pretender, a partir da mudança da maior potência mundial, mudar também o mundo e a maneira como ele é governado. Embora não tenha havido mudança fundamental nas posições do governo americano, afinal o país ainda está metido em duas guerras, no que o Comitê norueguês aposta é na mudança fundamental de visão de mundo, que privilegia o diálogo no lugar da força, a visão multipolar no lugar da hegemonia.

Embora não tenha conseguido nesses nove meses de governo nenhuma vitória concreta que, na visão dos céticos, justificasse a premiação, são claras as demonstrações de que Obama continua fiel ao que prometeu em sua campanha.

No dia de sua vitória, escrevi aqui que ele tinha o entendimento de que no mundo moderno não é mais possível ser a primeira potência sem dar espaços para outras potências emergentes que têm papel importante em temas ou setores políticos e econômicos.

Nesse novo mundo diversificado e multipolar, será preciso dividir o poder e pensar políticas públicas que sejam boas para todos, e não apenas para um país.

Foi classificado de fraco quando anunciou o fim do escudo antimísseis projetado no governo Bush para proteger a Europa de eventuais ataques nucleares, especialmente do Irã.

A decisão da revisão desagradou Polônia e a República Checa, que viam a presença militar americana como um meio de proteção contra a Rússia, mas agradou Moscou, que considerava o plano de defesa americana uma ameaça direta, e abriu caminho para a inspeção nuclear no Irã.

Embora não tenha conseguido ainda uma aprovação do Congresso para um plano de redução de emissão de gases de efeito estufa que lidere o mundo na reunião de dezembro em Copenhague, a preocupação da administração Obama com a ecologia e com a utilização de combustíveis renováveis menos poluentes obedece a uma postura universalista, oposta ao egoísmo que prevalecia na política dos Estados Unidos, que levou o presidente Bush a não assinar o Tratado de Kioto, considerado prejudicial aos interesses das empresas americanas.

Esse mesmo egoísmo da sociedade americana faz com que a ampliação do programa de saúde oficial seja recebida com desconfiança por boa parte da população, que teme perder o que já tem com a inclusão de cerca de 25 milhões de pessoas que hoje não têm cobertura de saúde de nenhuma espécie.

Assim como na política interna defende a solidariedade da sociedade, Obama está convencido de que, no plano externo, os interesses americanos só serão atendidos se o interesse da comunidade internacional for também respeitado.

Obama quer mostrar as vantagens da democracia através do exemplo e do respeito ao outro, e não impô-la a outros países através de guerras, como a administração Bush alegava fazer.

O presidente do comitê do Nobel, Thorbjoern Jagland, ressaltou que “como presidente, Obama criou um novo clima na política internacional.

A diplomacia multilateral voltou a ocupar uma posição central, com enfoque no papel que as Nações Unidas e outras instituições internacionais podem desempenhar”.

Num de seus primeiros atos depois de assumir, Obama confirmou o fechamento da prisão de Guantánamo e proibiu formalmente o uso de torturas nas prisões americanas, na certeza de que não é possível defender a democracia e manter esse tipo de prisão, mesmo sob o pretexto de combater o terrorismo.

Transformar os Estados Unidos em um país amado, e não temido, pelo resto do mundo, parece ser a busca de sua gestão, e, no plano interno, ele vem tentando aprovar os principais pontos com o apoio de republicanos, em busca de um governo suprapartidário anunciado em seu discurso da vitória em Chicago.

A “visão” e os “esforços” de Obama em busca de um mundo sem armas nucleares também foram ressaltados pelo Comitê do Nobel, reforçando a relevância política da recente declaração do presidente dos Estados Unidos na ONU.

Os adversários de Obama, especialmente a direita mais conservadora, viram no Prêmio Nobel uma aprovação da “visão socialista” que ele teria levado para o governo dos Estados Unidos.

A crítica mais frequente é de que os europeus, através do Nobel da Paz, querem estimular políticos americanos que tenham ideias que se aproximam da social-democracia europeia, uma acusação a Obama muito comum durante a campanha eleitoral e que agora está sendo revivida com a tentativa de aprovar no Congresso a ampliação do sistema de saúde no país.

Perguntado sobre se também almejaria receber o Prêmio Nobel da Paz, o presidente Lula primeiro respondeu: “Essa coisa não se almeja.” E depois brincou: “O dia em que eu almejar, eu me inscrevo, ou peço um abaixo-assinado”.

Mesmo sem ter pedido, e embora não se tenha dado muito destaque ao fato, o presidente Lula mais uma vez era um dos concorrentes ao Prêmio Nobel da Paz que Obama acabou levando.

O norueguês Stein Tonnesson, diretor do Instituto Internacional para a Investigação da Paz, fez a indicação, fato que foi festejado na ocasião como um indício de que Lula poderia mesmo ganhar.

Lula já esteve cotado para o prêmio por causa do Fome Zero, mas o escândalo do “mensalão” tirou-o do páreo. Este ano, ao receber um dos mais importantes prêmios mundiais para a preservação da paz, dado pela Unesco, ele voltou a ser cogitado.

Outras personalidades que receberam a mesma homenagem, como Nelson Mandela, Yitzhak Rabin, Yasser Arafat e Jimmy Carter foram agraciadas depois com o Prêmio Nobel da Paz.

Lula hoje é uma “persona” política perfeitamente possível de ganhar um Nobel da Paz. Mas não foi desta vez.

GOSTOSA


COISAS DA POLÍTICA

A candidata oficial puxa a fila

JORNAL DO BRASIL - 10/10/09

A QUEDA DE QUATRO pontos nas últimas pesquisas e a euforia com o fim do tratamento do câncer linfático, carimbado com os 90% pela equipe médica, cutucaram o temperamento de lutadora, sem papas na língua, da candidata oficial, a ministra Dilma Rousseff, lançada pelo presidente Lula e engolida pelo PT com arranhões no gogó que se lançou ao tudo ou nada, na arrancada que contorna os prazos legais no anunciado esquema da segunda fase da pré-campanha.

Com a docilidade de quem obedece a quem manda, o enquadrado comando do Partido dos Trabalhadores trocou a água salobra pelo vinho e passou a defender a conveniência da antecipação da saída do governo da candidata Dilma, em meados de fevereiro, para dedicação em tempo integral às visitas aos estados, comparecendo e discursando nos comícios apelidados de reuniões. Nada de muito diferente do que vem fazendo, a desculpa de acompanhar as obras nas diversas frentes, agora inflada com a escolha do Rio para sede dos Jogos Olímpicos de 2016.

O prazo legal para as campanhas no início de abril já foi antecipado, e nada impede que o truque continue a ser aplicado. O roteiro acompanhará as frentes de obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do Minha Casa Minha Vida para a construção de 1 milhão de residências populares em todos os municípios e capitais, a transposição das águas do Rio São Francisco para a irrigação das áreas secas do Nordeste.

É comovedora a adesão maciça do PT, sem uma voz discordante, ao esquema de campanha da ministra-candidata. O presidente do partido, Ricardo Berzoini (SP), com medo de chegar atrasado, comunicou aos repórteres que Dilma deixará o governo em fevereiro, 40 dias antes do prazo final para a desincompatibilização, para se dedicar à campanha, após o lançamento oficial da sua candidatura, no último dia do 4º Congresso Nacional do PT, em 21 de fevereiro.

O que o presidente do PT anuncia como novidade é exatamente o que a ministra Dilma já vem fazendo por conta própria, desde que os médicos que a trataram do linfoma anunciaram a cura. A peruca é uma das marcas da retomada da campanha. Com gana e urgência.

Nos jantares com a bancada do PMDB e depois com a do PDT, as alianças foram celebradas com o tilintar das taças de champanhe. Os peemedebistas foram atendidos na reivindicação da Vice-Presidência, previamente acertada em muitos meses de articulação. E o candidato, como se sabe desde sempre, é o presidente da Câmara e do partido, o elegante e melífluo deputado Michel Temer (SP).

A única veneranda novidade é a oficialização do sabido. Com o ajuste às mudanças no cenário. A explosão de orgulho nacional com a escolha do Rio para sede da Olimpíada-2016, daqui a sete anos, vai ser um tema dominante na campanha de 2014 e não tem gás para a de 2018.

Dilma está fechando acertos para 2010. E aproveitando as hesitações da oposição, com outro tipo de embaraço. O candidato amplamente favorito para puxar a oposição, o governador paulista José Serra (PSDB), não deixará o cargo antes do prazo para a desincompatibilização. E até lá o presidente Lula tem muitos abacaxis para descascar. A gastança sem medida do governo, acelerada na pré-campanha eleitoral, cobra as contas que atazanam o ministro da Fazenda, Guido Mantega. E no corre-corre para garantir o quinhão no rateio do cofre da viúva não há limites à ganância. Os presidentes dos tribunais superiores, depois de garantirem o aumento de 9% em seus vencimentos, decidiram propor ao Congresso o aumento de 80% para os servidores do Judiciário. A proposta terá de ser aprovada pelos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) antes de ser encaminhada ao Congresso.

Se aprovada na Câmara e no Senado, o festival terá o seu ponto alto na mudança do cálculo da Gratificação Judiciária (GAJ) para todos os servidores, no salto olímpico de 50% para 135% do salário-base. A classe média está avisada de que pagará a conta da desatinada expansão das contas do governo, apesar da queda na arrecadação, no delírio da campanha oficial para a eleição da ministra Dilma Rousseff.

É imprevisível o que virá por aí em 2010, na reta de chegada da eleição do sucessor ou sucessora do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

BRASIL S/A

Ocaso de uma era?

CORREIO BRAZILIENSE - 10/10/09

Protesto saudita em reunião sobre o clima indica riscos para o petróleo. E para o pré-sal também

A enxurrada de informações e indícios nas últimas semanas sobre o início da decadência do petróleo como o principal insumo da matriz energética mundial por razões geológicas, econômicas e climáticas reúne, desta vez, elementos de convicção para o Congresso atrasar a discussão sobre o marco regulatório do pré-sal. Começam a surgir questões novas que atropelam a conveniência eleitoral do governo.

Não é a primeira vez que se anuncia, prematuramente, o enterro da mais valiosa e cobiçada commodity global, por conta da qual muitos países foram à guerra, uma continua em curso, no Iraque, diversas outras menores estão ativas, governos foram e são derrubados, os EUA patrulham os mares com uma frota de porta-aviões e submarinos maior que a soma de todas as forças navais. Mas agora é diferente.

Se até a Arábia Saudita, maior produtor, exportador e detentor da maior reserva de petróleo do mundo, já escancara preocupação com o futuro de sua única riqueza, não se pode ignorar o debate sobre o tal do “peak oil”. Não devido ao risco de esgotamento, a hipótese central dessa tese polêmica. Outras considerações a motivam.

O que ganha momento é o avanço de energias rivais ao petróleo, a disposição de vários governos de conter as emissões resultantes da queima de materiais fósseis e o interesse da indústria automotiva de se reinventar para ocupar a imensa capacidade ociosa no setor. E o faz anunciando lançamentos em escala de motores híbridos, meio elétrico, meio a gasolina ou diesel, ou 100% elétricos para 2011.

Ao Brasil, empenhado na bem-sucedida matriz energética do álcool, portanto, na vanguarda do fórum das Nações Unidas que vai discutir em dezembro, em Copenhague, com 190 países, um novo tratado global sobre clima, os riscos para o negócio do petróleo são imensos.

A descoberta do pré-sal é solução ou problema, dependendo do rumo que as contingências que hoje assaltam a atividade no mundo vierem a tomar. O governo levou ao Congresso um novo modelo de exploração que projeta investimentos de US$ 117 bilhões apenas pela Petrobras até 2020, além de US$ 400 bilhões para capacitar a indústria local como fornecedora de embarcações e equipamentos. É dinheiro demais para um negócio sujeito a tantas incertezas.

Opep quer compensação
O maior risco depende de quanta seriedade se atribui ao propósito das negociações para reforçar, prorrogar ou substituir o Protocolo de Kyoto, sobre a redução das emissões de carbono, que expira em 2012. O chefe da delegação saudita à reunião realizada esta semana em Bangcoc, Tailândia, a penúltima antes da cúpula de Copenhague, Mohammad al Sabban, não deu sinal de que seu governo tem dúvidas.

Al Sabban condicionou o apoio da Arábia Saudita ao pacto global sobre o clima ao pagamento de um tipo de compensação aos países produtores pela provável redução do consumo de petróleo de 2012 a 2030 — o período de vigência do novo acordo. Não o faria se fosse fantasiosa a redução estimada do consumo de petróleo no mundo.

EUA começam a ceder
As discussões no âmbito da conferência organizada pela ONU tomam como ponto de partida a necessidade de evitar que a temperatura da Terra aumente dois graus Celsius nas próximas décadas. Isso exigiria o corte de 25% a 40% das emissões de carbono em dez anos sobre os níveis de 1990. Os países ricos propõem até 23%. Nos EUA, o único que não ratificou o protocolo de Kyoto, o Senado discute projeto, apoiado pelo presidente Barack Obama, que reduz os gases-estufa em 20% até 2020 e 80% até 2050. E a Câmara aprovou outra versão, que prevê o corte de 17% em relação aos níveis de 2005. O grosso dessa economia seria em cima da queima de petróleo e carvão mineral.

“Peak Oil” até 2030
Estudo revelado em Bangcoc pela Agência Internacional de Energia, IEA, na sigla em inglês, estima que a aprovação de novas metas de emissões implicará ao cartel da Opep ainda um adicional de US$ 23 trilhões de receitas entre 2008 e 2030 em relação a 1985-2007. O saudita Al Sabban contestou. O estudo da IEA, disse à agência Associated Press, seria “tendencioso”. Cálculos próprios da Opep dariam apenas à Arábia Saudita uma perda anual de US$ 19 bilhões a partir de 2012. “Nós estamos entre os países mais vulneráveis’, Al Sabban se queixou. “Isto é muito sério. Estamos num processo de diversificar nossa economia, mas levará tempo.” A questão é essa, e domingo voltaremos ao tema: se o maior produtor de petróleo do mundo investe para cortar até 2030 a sua dependência, seria o caso de o Brasil se jogar de cabeça no pré-sal? E com dinheiro público?

Lobby das petroleiras
Estranho é que o estudo da Agência Internacional de Energia sobre o impacto da redução das emissões de gases-estufa sobre a economia do petróleo e os protestos do chefe da delegação saudita à cúpula climática das Nações Unidas, marcada para 7 a 18 de dezembro, não tiveram repercussão. Nos EUA se entende: lá, é intenso o lobby das petroleiras para barrar no Congresso as iniciativas mais radicais, como uma tributação punitiva da gasolina para custear os programas de substituição do petróleo importado. Mas também foram mínimas as repercussões aqui. O Congresso deveria ir fundo nessa questão.

GOSTOSA


CLÓVIS ROSSI

Nobel não dá paz a Obama

FOLHA DE SÃO PAULO - 10/10/09


Presidente americano precisa administrar o ódio da direita e o encolhimento dos Estados Unidos após crise financeira

BENFEITAS as contas, o presidente Barack Obama precisa é de paz, não de um Nobel da Paz, ainda que prêmio seja sempre bem-vindo, principalmente quando se trata do que é, talvez, o de maior prestígio internacional. Mas não será o Nobel que eliminará a assustadora campanha de ódio movida pela extrema direita contra o presidente.
Ficou ainda mais assustadora a partir do momento em que Thomas L. Friedman, colunista do "New York Times", escreveu faz pouco que "as críticas da extrema direita começam a roçar a deslegitimação e a criar o mesmo tipo de ambiente aqui [nos EUA] que existia em Israel na véspera do assassinato de Rabin" [Yitzhak Rabin, primeiro-ministro morto em 1995].
Friedman tem toda a autoridade para tocar nesse assunto, não apenas por ser um dos mais respeitados colunistas do planeta. Ele foi sucessivamente correspondente no Líbano e em Israel. Abre parêntesis: de sua experiência resultou um livro ("De Beirute a Jerusalém"), indispensável para qualquer jornalista que queira fazer coberturas internacionais.
Fecha parêntesis e voltemos a Friedman: ele foi testemunha ocular de como o ódio como alavanca da ação política leva ao horror. O exemplo de Rabin é suficiente para mostrar que o Nobel é incapaz de proteger seus detentores do ódio dos extremistas: foi assassinado um ano depois de levar o prêmio, por radicais judeus cuja cabeça não é diferente da mentalidade da extrema direita norte-americana.
Rabin foi companheiro de Nobel de Iasser Arafat, que continuou, ele também, exposto à ira dos inimigos, no caso o governo de turno de Israel. Morreu (em Paris) longe da paz, depois de sitiado por Israel em sua Mukata, a sede do governo palestino em Ramallah.
Ou, visto por outro ângulo, o Nobel da Paz não assegura que os premiados logrem, de fato, a paz. Convenhamos que, por mais simpatias que Obama desperte com suas iniciativas apontadas de fato nessa direção, a dura realidade é que nenhuma delas prosperou o suficiente para que o prêmio seja justo. É apenas prematuro. Pior: a herança que Obama recebeu de seu antecessor George Walker Bush tira a paz de espírito não só do próprio presidente mas também de uma parcela significativa dos seus governados.
Constrangido pelas circunstâncias, Obama abandonou ou, ao menos, mitigou a noção dos EUA como um poder excepcional, um farol para a humanidade, que sempre esteve no núcleo central da narrativa heroica norte-americana. Roger Cohen, outro dos grandes colunistas do "New York Times", citou anteontem frase de Tom Paine (1737-1809), um dos pais da pátria ("founding fathers") norte-americana, que é a seguinte: "A causa da América é, em grande medida, a causa de toda a humanidade".
Cohen termina seu artigo lembrando que "os americanos estão [depois da crise] em um lugar mental diferente" e que "a América odeia retroceder". Corolário: "O desafio que [Obama] enfrenta agora é como gerenciar expectativas reduzidas". Nada que o Nobel da Paz seja capaz de resolver.

BRASÍLIA - DF

Andarilho

CORREIO BRAZILIENSE - 10/10/09


O vice-governador de Minas Gerais, Antônio Anastasia (PSDB), percorreu 86 municípios, nos últimos três meses, para construir sua candidatura ao Palácio da Liberdade. Nas próximas semanas, o número de cidades visitadas pelo escolhido do governador Aécio Neves chegará a 104 cidades.

Saia justa

A ministra Dilma Rousseff (PT) ficou na maior saia justa, ontem, na Bahia, por causa do ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima (PMDB), candidato ao governo da Bahia. Convidada do governador petista Jaques Wagner, que mandou rezar uma missa para Dilma na Igreja do Bonfim, a ministra teve que dar carona para Geddel voltar à Bahia. Para não acender uma vela pra Deus e outra pro Diabo, Dilma largou Geddel no aeroporto e foi ao Palácio de Ondina, onde se reuniu por duas horas com Wagner antes de ir para a festa do presidente da Agência Nacional do Petróleo, Haroldo Lima. Quem estava lá? Geddel Vieira Lima.


Lula e “El Gorilette”

O presidente Lula usa todo o peso de seu prestígio internacional para isolar Honduras, mas o Itamaraty sabe que a volta do ex-presidente Manoel Zelaya ao poder é quase inviável. No plano interno, como foi constatado pela delegação de parlamentares que visitou o país, o presidente golpista Roberto Micheletti tem o controle da situação. “El Gorilette” conta com o apoio das demais instituições do país — Congresso, Judiciário e Forças Armadas —, que não querem a volta de Zelaya. A oposição, alicerçada nos movimentos sociais e nos partidos de esquerda, não tem como promover uma insurreição e tomar o poder a curto prazo, apesar do apoio externo. É uma questão de conjuntura e correlação de forças.

Apesar das retaliações diplomáticas e comerciais sofridas pelo governo de Honduras, como as eleições presidenciais estão previstas para novembro, o presidente de fato pode resistir no cargo até que elas ocorram. Ou seja, como a intervenção do presidente Lula se deu apenas no plano diplomático — é política, não é militar —, com o transcorrer do tempo, a equação cada vez mais passa a ser a volta de Zelaya ou a eleição de novo presidente no prazo constitucional.



Pinel

Ontem, Dia Mundial da Saúde Mental, o Ministério da Saúde liberou uma verba para apoio a iniciativas de cultura, arte e geração de renda para pessoas com transtornos psíquicos, usuários de álcool e drogas:
R$ 1,8 milhão



Disciplina

O ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci (foto) trabalha para ser candidato a governador pelo PT em São Paulo, unificando as correntes da legenda. Porém, garantiu ao presidente Lula que não é obstáculo ao acordo com Ciro Gomes. A cautela do ministro abriu espaço para o surgimento de outros pretendentes, como o prefeito de Osasco, Emídio de Souza, e o senador Eduardo Suplicy (PT-SP). O ministro da Educação, Fernando Haddad, também pretendia entrar na disputa, mas foi abatido na pista pelo furto e vazamento da prova do Enem.


Reeleição

Em tempo: Zelaya foi destituído porque quis mudar a Constituição para se candidatar à reeleição e convocou um plebiscito com esse objetivo, estimulado pelo presidente da Venezuela, Hugo Chávez. Se desistisse de disputar as eleições, talvez conseguisse voltar ao cargo, mas não é esse o seu objetivo. Quer voltar ao poder para disputar as eleições. Esse é o impasse. “A única solução é a realização das eleições previstas para novembro, com Zelaya e Micheletti fora da disputa”, aposta o deputado Raul Jungmann (foto), do PPS-PE, que chefiou a delegação de seis deputados que esteve em Honduras.



Limpeza/ O Executivo deflagrou esforço para descongestionar a pauta da Câmara dos Deputados para evitar atrasos na votação dos projetos do pré-sal, que vão à pauta daqui a cinco semanas. Ontem, o Palácio do Planalto retirou o regime de urgência constitucional de um projeto de lei que prevê a ampliação de uma reserva extrativista na Bahia. Texto idêntico fora inserido na MP 462, aprovada há duas semanas.

Pacote/ Além de pedir o mandato por infidelidade partidária, o PDT quer tirar do deputado Severiano Alves (PMDB-BA) a presidência da Comissão de Relações Exteriores e entregar o comando ao vice-presidente, Damião Feliciano (PDT-PB). Os pedetistas defendem que o colegiado foi dado ao partido na distribuição proporcional das comissões.

Cerca/ Terra da mais infiel entre as bancadas federais, a Bahia se destacou também pelo troca-troca partidário em sua Assembleia Legislativa. Dos 63 deputados estaduais, 10 mudaram de legenda. O PDT foi o mais beneficiado: abocanhou para a base do governador Jaques Wagner (PT) quatro parlamentares da oposição.

Atrasado/ De chegada inicialmente prevista para o início de setembro, o novo embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Thomas Shannon, ainda não desembarcou em Brasília. Seu nome precisa ser aprovado pelo Senado americano, imerso na discussão da reforma no sistema nacional de saúde proposto pelo presidente Barack Obama.

JAPA GOSTOSA

J. R. GUZZO

REVISTA VEJA
J. R. Guzzo

A capital perdida

"Não foi o Rio de Janeiro que perdeu o direito de ser
a capital do Brasil. Foi o Brasil que perdeu o direito de
ter sua capital no Rio de Janeiro. Isso não tem conserto"

Dentro de alguns meses, em abril de 2010, vão se completar cinquenta anos do ato de agressão mais perverso que já se cometeu, em toda a história nacional, contra uma grande cidade brasileira: a expropriação da capital do país, tomada do Rio de Janeiro e transferida para Brasília. A data vai ser motivo de festa oficial de primeira categoria, com desfile, show e missa; deveria ser um dia de luto fechado. Até abril de 1960, o Brasil tinha o que poderia haver de mais próximo, no mundo inteiro, a uma capital perfeita. A partir dali, perdeu-a para sempre. Até hoje não dá para entender por que um país abençoado pela existência de um prodígio como o Rio de Janeiro, uma das cidades que a natureza e o gênio humano colocaram entre as mais brilhantes do planeta, decidiu que ela não servia mais para ser sua capital. Nada, nem ninguém, forçou o Brasil a sofrer essa perda. Nenhuma vantagem trazida pela nova capital compensou, nem de longe, o desmanche do patrimônio incomparável que a nação havia construído no Rio – e que hoje, com o progresso geral dos últimos cinquenta anos, sabe-se lá em que alturas poderia estar.

Bendita Olimpíada de 2016, portanto. Já estava mais do que na hora de ser tomada alguma grande decisão em favor do Rio de Janeiro, e sua escolha como sede dos Jogos Olímpicos pode ser um momento de virada; é, certamente, a maior oportunidade de reação oferecida ao Rio desde o atentado que sofreu meio século atrás. Não se trata, nesta questão, de fazer pouco de Brasília, ignorar quanto ajudou para irradiar progresso no centro do país ou negar o muito que foi construído ali. O comentário é sobre a calamidade que o poder público impôs a uma cidade que vive no coração de todos os brasileiros capazes de admirar seu próprio país; ao cassar do Rio a condição de capital, matou uma parte de sua alma. A perda, no fundo, vai muito além dos limites da geografia carioca. Pois a verdade é que não foi o Rio de Janeiro que perdeu o direito de ser a capital do Brasil. Foi o Brasil que perdeu o direito de ter sua capital no Rio de Janeiro. Isso não tem conserto.

Nenhum exército de ocupação estrangeiro conseguiria fazer tanto mal ao Rio quanto os próprios governos brasileiros fizeram; comparado ao presidente Juscelino Kubitschek, em termos de estrago a longo prazo, o corsário Duguay-Trouin parece um benemérito. Perdida a capital, foi imposta à cidade, tempos depois, uma fusão irresponsável, inepta e ruinosa com o antigo estado do Rio, numa operação que conseguiu apenas somar vícios e subtrair virtudes. Nos anos seguintes, o Rio de Janeiro se viu castigado por alguns dos piores governos já registrados na história humana. A certo momento, por decisão de Brasília, chegou-se pura e simplesmente, em 1976, à demolição física do Palácio Monroe, um dos principais monumentos da arquitetura carioca e antiga sede do Senado Federal. Talvez nada tenha servido tão bem como símbolo do rancor e despeito dos governantes brasileiros pelo Rio quanto esse feito do presidente Ernesto Geisel, baseado no argumento de que o Monroe atrapalhava o trânsito e um túnel do metrô – que já estava pronto quando o palácio foi demolido. (Presidentes da República, naquela época, podiam fazer essas coisas. Não havia liminares, relatórios de impacto ambiental ou procuradores – ou melhor, até havia procuradores, mas estavam procurando outras coisas e, sobretudo, outras pessoas.)

A Olimpíada de 2016 não pode ressuscitar o que foi destruído, assim como não pode fazer, nos próximos sete anos, a maior parte do que deveria ter sido feito nos últimos cinquenta. Além disso, não temos um histórico bom quando se colocam na mesma frase as palavras governo, verbas e obras – daqui até a cerimônia de abertura dos Jogos, o público vai se cansar de ouvir notícias sobre obras erradas, obras malfeitas, obras atrasadas, obras abandonadas, obras caras demais e, até, verbas sem obra. Mas tudo terá valido a pena, certamente, se na cerimônia de encerramento o Rio estiver melhor do que está hoje.

O Brasil, que já fez um plebiscito para decidir se queria voltar à monarquia ou continuar sendo república, não perguntou à população do Rio, ou a qualquer outro brasileiro, se concordava com a mudança da capital. Hoje não tem mais nada a perguntar sobre o assunto, mas tem a obrigação de reparar ao máximo o mal já feito. O Rio de Janeiro continua vivo, é claro, pois cidades são coisas duras de destruir – não é fácil nem com bomba atômica, como comprovam Hiroshima e Nagasaki. Mas merece muito mais do que sobreviver.

PANORAMA POLÍTICO

RENOVAÇÃO

ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 10/10/09

O DEM quer se livrar do estigma de partido de direita. Sua cúpula articula um movimento à esquerda, inspirado no recente Congresso do Partido Conservador inglês. A ordem é renovação. Seus dirigentes avaliam que o partido não terá futuro se nas próximas eleições representar o passado. Às suas posições de defesa da livre iniciativa e contra governos perdulários, vão agregar o compromisso de manter os programas sociais existentes.

Dilma e seus dois maridos

Durante sua estada na Bahia, ontem, a ministra Dilma Rousseff andou com o governador Jaques Wagner (PT) e o ministro Geddel Vieira Lima (PMDB) a tiracolo. Geddel viajou para a Bahia, na noite de quinta-feira, no avião da ministra.

Sua equipe de filmagem os aguardava na Base Aérea de Salvador, onde Wagner não apareceu. De lá, Dilma foi para o Palácio de Ondina para seguir com Wagner até a festa do presidente da ANP, Haroldo Lima, onde Geddel também estava.

No avião, Geddel disse que sua candidatura ao governo é irreversível. No carro, Wagner afirmou que não trabalha mais com uma recomposição.

Uma saia justa.

É um tiro no coração da classe média. O adiamento da despesa não compensa o desgaste” — Francisco Dornelles, senador (PP-RJ), sobre o governo adiar o pagamento das restituições do Imposto de Renda

ATO FALHO. O governo do Distrito Federal, do DEM, está fazendo propaganda de obra executada em conjunto com o governo Lula, mas usando o slogan “Avança Brasil”, do governo FH. A placa está à beira da BR-020, na cidade satélite de Sobradinho.

Governadores e prefeitos costumam não dar crédito ao governo federal em obra com verbas federais, mas esta é a primeira vez que a paternidade é atribuída a um governo anterior.

Cobrança

Na véspera da divulgação da Síntese dos Indicadores Sociais de 2008, mostrando que só 36,8% dos jovens têm o ensino médio completo, o presidente Lula mostrou preocupação, na reunião ministerial, com as políticas para essa faixa.

Dá um dinheiro aí

O Greenpeace está arrecadando dinheiro para uma enorme faixa, que será estendida na Esplanada dos Ministérios, cobrando do presidente Lula ações ambiciosas na Convenção da ONU para o Clima. A cota individual é de R$ 15.

Agenda de candidato

O governador José Serra (SP) chega hoje a Pernambuco. Vai à Feira do Vinho e da Uva, no Vale do São Francisco. “Vamos levá-lo a umas obras de irrigação inacabadas do governo Lula”, contou o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE). Na agenda também tem um almoço no “bodódromo”. Précandidato à Presidência da República, Serra esteve no estado há dois meses, quando visitou o museu de Luiz Gonzaga.

Uma dinheirama

O diretor-geral da empresa binacional Cyclone, Roberto Amaral, sugeriu aos deputados da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional que convidem um representante do Ibama para falar do custo de um licenciamento ambiental.

Segundo ele, o custo do estudo para a construção do sítio de lançamento de foguetes em Alcântara (MA) será de US$ 20 milhões. “Não tem sentido um investimento desse para um licenciamento estatal”, disse o presidente da Cyclone.

O PRÓXIMO partido médio a se reunir com a ministra Dilma Rousseff, depois do PR, será o PP.

CANDIDATO ao Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE) quer manter em casa sua cadeira na Câmara. O presidente da Funasa, Danilo Forte, será o candidato.

DEU UM JEITO? Na edição da internet da revista de política externa americana “Foreign Policy”, o colunista David Rothkopf publicou o artigo “The World’s Greatest Foreign Minister”, sobre Celso Amorim.

GOSTOSA DO TEMPO ANTIGO

DIOGO MAINARDI

REVISTA VEJA
Diogo Mainardi

Do Kotscho à Chaui

"Depois que Lula foi eleito, Marilena Chaui deu uma
amostra de seu rigor intelectual, tornando-se imediatamente
'verde-amarelista'. Plínio Salgado - o Ricardo Kotscho
integralista - inaugurou o 'verde-amarelismo'"

Ricardo Kotscho foi assessor de imprensa de Lula por dois anos, no primeiro mandato. Agora ele tem um blog. Eu sei, é triste: do Palácio do Planalto ao iG. Mas é só o que lhe resta. Na última semana, Ricardo Kotscho deu o tom da propaganda patrioteira de seu partido. De acordo com ele, Lula derrotou Obama, debelou o H1N1, descobriu petróleo, garantiu a democracia em Honduras e domou a economia mundial. Nós, por outro lado, "os célebres 6% que reprovam o governo Lula", somos apenas uma "urubuzada" agourenta que pretende minar a alegria dos brasileiros. O lulismo já tem seu Plínio Salgado: é Ricardo Kotscho.

Em Mito Fundador e Sociedade Autoritária, Marilena Chaui fez um apanhado de nosso imaginário nacionalista. O ensaio foi publicado no ano 2000. Quem o editou? Marco Aurélio Garcia, atual coordenador do programa de Dilma Rousseff. A meta de Marilena Chaui era contrastar a propaganda patrioteira de Fernando Henrique Cardoso, na festa dos 500 anos de Descobrimento do Brasil. De "semióforo" em "semióforo" - sim, Marilena Chaui interpreta semióforos -, ela argumentou que nosso chauvinismo "verde-amarelista" sempre foi usado pela classe dominante para manter o poder, esmagando "aqueles célebres 6%" de impatriotas que insistiam estupidamente em ignorar a grandeza do governante de turno.

De Pero Vaz de Caminha a Amaral Netto, passando pelo fascismo getulista e pelo regime militar, Marilena Chaui indicou algumas das patifarias nacionalistas marteladas no decorrer dos séculos. A primeira delas foi perfeitamente resumida por Afonso Celso, mais de 100 anos atrás: nossa riqueza natural é uma dádiva de Deus, e, se Deus "aquinhoou o Brasil de modo especialmente magnânimo, é porque lhe reserva alevantados destinos". Lula recorreu à mesma impostura determinista quando estatizou o pré-sal, dizendo tratar-se de "uma dádiva de Deus e um passaporte para nosso futuro". Marilena Chaui analisou também a imagem alegre e fraternal dos brasileiros, que a "cultura senhorial" disseminou a fim de domesticá-los. Mas foi nessa imagem alegre e fraternal que se baseou a mitografia petista, segundo a qual Lula condensaria as melhores características dos brasileiros - Lula, o Filho do Brasil.

Marilena Chaui fazia parte da "urubuzada" agourenta. Depois que Lula foi eleito, ela deu uma amostra de seu rigor intelectual, tornando-se imediatamente "verde-amarelista", alinhada à fanfarronice do Brasil Grande. Plínio Salgado - o Ricardo Kotscho integralista - inaugurou o "verde-amarelismo". Alguns anos mais tarde, seu movimento totalitário teve uma segunda etapa. Nome? "Revolução da Anta". Os célebres 6% que reprovam o governo Lula acreditam estar em plena "Revolução da Anta".

ARI CUNHA

Destruindo coisas úteis

CORREIO BRAZILIENSE - 10/10/09


Membros do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) invadiram terras produtivas da Cutrale, em Borebi, São Paulo. Tomaram conta das terras, saquearam e destruíram. Tratores da empresa, dirigidos pelos revoltosos, derrubavam o laranjal sem dó nem piedade. Depois eram inutilizados, quebrados e abandonados nas estradas da propriedade. Invasores instalaram-se, destruíram, saquearam e roubaram. A violência só terminou quando a Justiça determinou a entrega da fazenda a quem produziu e fez bem ao Brasil, exportando suco de laranja. A responsabilidade não pode ser debitada ao MST, já que não possui personalidade jurídica, mas aos baderneiros. Recebem dinheiro do governo e ficam impunes.


A frase que não foi pronunciada

“Oportunidade perdida é aquilo que você pratica quando não vota com consciência.”
» Conselho de dona Dita, quando explica que a reforma eleitoral começa no cidadão.




Carvoeirinho
Por volta das 16h de hoje, a Livraria Cultura será movimentada pelo lançamento do livro Carvoeirinho. Trata-se de trabalho de Róger Mello, ilustrador e escritor premiado oito vezes com o Jabuti e autor consagrado com o livro Meninos do mangue, que todas as crianças deveriam ler. Vale comparecer e levar crianças.

Decepção
Cláudio Lottenberg manifesta na Folha decepção porque o presidente Lula apertou a mão de Mahmoud Ahmadinejad, que afirma jamais haver acontecido o holocausto, a maior tragédia imposta aos judeus. Para melhor lembrar, um embaixador brasileiro concedeu vistos irregulares para que muitos judeus chegassem à América do Sul. Com o gesto, salvou a vida de muita gente, que conseguiu vir morar em um lugar de paz.

Racismo
Embora sejamos um país mameluco, praticamos o pior racismo do mundo. É que julgamos o povo pela cor da pele. Privilegiamos negros em detrimento dos demais cidadãos. Isso quando o país oferece vantagens nos estudos com criação de bolsas especiais. Afinal, todos os cidadãos são iguais perante a lei.

Incentivo
Presidente do Banco do Brasil e do Conselho de Administração, Aldemir Bendine começou no banco quando era jovem e aprendiz. Tempos depois voltou, e hoje é o presidente. Incentiva a melhoria dos esportes. Além disso, abriu crédito para as empresas do país, popularizando o trabalho no exterior e dentro das nossas fronteiras. Para as Olimpíadas, é responsável pelas novas lideranças infantis.

Água do céu
Chuvas alteram clima em Brasília. Melhoram a umidade da terra. É hora de quem planta deixar o regador para usar a enxada. As plantas necessitam da limpeza no mato para produzirem alimentos de consumo e exportação. É assim que a cada ano as produções aumentam a renda do país e a alegria de quem vive da terra. O governo Lula tem ajudado pequenos produtores, como a defesa de comunidades que cuidam do próprio sustento.

Inspeção
Automóveis, caminhões, ônibus que compõem a frota paulistana serão obrigados à inspeção para se calcular o estado de funcionamento. Apenas os veículos produzidos a partir de 2009 estarão isentos dessa obrigação. As novas regras custarão R$ 3,5 milhões para inspeção dos carros produzidos até 2002, o grupo que mais polui, segundo os técnicos.

Obras públicas
BNDES libera R$ 6 bilhões para sustentar os investimentos no ano que vem. O prazo para contratar empréstimos termina a 30 de junho do próximo ano, por imposição da Lei Eleitoral.

Prêmio Nobel
Barack Obama, presidente dos Estados Unidos, recebeu o Prêmio Nobel da Paz pelo esforço desempenhado em favor da tranquilidade dos povos. A distinção ressalta o reconhecimento pelo trabalho em benefício das nações e a repulsa ao uso de algemas sob a alegação de operar pela paz. O Nobel de Literatura premiou Herta Müller, de origem romena. É reconhecida com distinção em âmbito universal.

Investimento
Ao atingir 50 milhões de veículos, o Brasil não está preparado para o conforto do cidadão. Falta transporte popular. A União Europeia tinha 50 mil, e hoje tem apenas 30 mil veículos em circulação com apenas uma pessoa dirigindo cada unidade. Transporte público confiável faz a população se mover em trens, metrôs ou veículos leves de superfície.

Trem-bala
Ilusão criar estradas para trem-bala entre Rio e São Paulo. O trajeto é pequeno. Para iniciar, o número de pontes e túneis vai tornar impossível a construção da via férrea. Ideal seria usar terras planas para baixar o preço. É necessário o uso de computadores para controlar ventos, chuvas e curvas nas longas distâncias.



História de Brasília

O pessoal da Imprensa Nacional está muito satisfeito, ao ver um seu colega no Senado. É que o senador Venâncio Igrejas, suplente do sr. Afonso Arinos, é revisor do Diário Oficial, e ontem esteve em confraternização com os seus colegas do Setor de Indústrias Gráficas. (Publicado em 11/2/1961)

ASSIM CAMINHA SUA RESTITUIÇÃO

RUTH DE AQUINO

REVISTA ÉPOCA
As madames e suas mucamas
Das brasileiras que trabalham, 16% são domésticas – e menos de 25% têm carteira assinada
RUTH DE AQUINO
Revista Época
RUTH DE AQUINO
é diretora da sucursal de ÉPOCA no Rio de Janeiro
raquino@edglobo.com.br

A gente pensa que sabe. Mas os números teimam em nos surpreender. Qual é a maior ocupação profissional da mulher no Brasil? Doméstica. Também espanta saber que menos de 25% das domésticas têm carteira assinada. Não há nenhum direito trabalhista ou benefício para quase 5,5 milhões de empregadas em casas de família, embora seja ilegal. Seus patrões serão os mesmos que se indignam com a falta de ética dos políticos?

De todas as brasileiras que trabalham, 15,8% são domésticas. Nos países desenvolvidos, essa profissão – do jeito como a conhecemos, a “criada para todo tipo de serviço”, que cozinha, limpa, passa e lava em tempo integral – acabou há muito tempo. Mas, no Brasil, nos últimos dez anos, as domésticas aumentaram de 5 milhões para 6,6 milhões. E três quartos desse total são invisíveis em nossa economia.

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) acaba de divulgar esses dados, com base em pesquisa de 2008 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A escolaridade das empregadas é muito baixa. A média não chega a seis anos de estudos. Piora no interior. Se, no Sudeste, temos 5,8% de analfabetos, no Nordeste são 19,4%. Nas áreas urbanas, há 4,3% de analfabetos. Nas áreas rurais, o índice é assustador: 23,5%.

Não sou fã de estatísticas e porcentagens. Elas normalmente não têm cara nem coração. Mas essas pesquisas radiografam a alma nacional.

As madames e seus maridos já tentaram saber até que ano suas empregadas estudaram? Sabem onde moram? Quanto tempo levam para chegar, a que horas acordam para trabalhar? Ou importa apenas se o feijão está bem temperado e se a carne assada passou do ponto?

Das brasileiras que trabalham, 16% são domésticas –
e menos de 25% têm carteira assinada

“Lamento, mas quem consegue pagar um salário mínimo e mais todos os encargos?”, argumentam, em sua defesa, patrões relapsos. Se não conseguem, então fiquem sem empregada. Deveria ser simples. Mas, no Brasil, as classes média e alta são exigentes. Nos países desenvolvidos do Hemisfério Norte, “doméstica” não existe. O luxo máximo costuma ser a diarista uma vez por semana – a cerca de R$ 40 por hora.

As diaristas na Europa e nos Estados Unidos são imigrantes, muitas delas clandestinas. Quem faz faxina ou cuida das crianças dos outros são as latino-americanas, as africanas, as asiáticas, ou as europeias do Leste, romenas, russas, polonesas. Nunca as nativas.

Essa mordomia no Brasil, com origem na tradição escravagista, é alimentada pela profunda disparidade de renda. O trabalho manual não é reconhecido como deveria. Quem vive fora aprende a valorizar o privilégio de dispor de alguém que ajude nas tarefas de casa. Paga mais, trata melhor.

“Na Itália, políticas públicas adotadas há 20 anos mudaram tanto a condição das domésticas que o nome passou a ser outro. Viraram ‘colaboradoras familiares’ para acabar com a conotação pejorativa”, diz o economista André Urani, do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets). “Não existem nos países do Norte essas senzalinhas domésticas que encontramos no Brasil, com quartos de empregada que são uma vergonha em condomínios luxuosos.”

Domésticas de uniforme e touca servindo cafezinhos, almoço e jantar ainda são muito comuns em casas afluentes em nosso país. “Não basta mudar a lei para mudar o comportamento”, diz Urani. “O brasileiro médio não está preparado para viver sem empregada e cuidar ele mesmo da casa. Não é educado assim. Nossa sociedade mantém a cisão entre a classe média e o resto do povo. Exceto na praia ou no Carnaval, não há contato nem integração com pessoas de baixa renda.”

É verdade que muitas empregadas não querem ter carteira assinada para evitar o desconto do INSS. Elas alegam ganhar mais na informalidade, fazendo bicos. Mas, atenção, patrões: isso é ilegal.

A empregada “libera” a patroa para trabalhar fora. No caso de uma minoria muito rica, a doméstica permite que a madame viva sua rotina de massagens, salões de beleza, ginásticas, chás e shoppings. Na raiz desse estilo de vida bem tropical, está algo pernicioso, que corrói as relações humanas e sociais. Chama-se subdesenvolvimento.

DIRETO DA FONTE

Light é nossa

SONIA RACY

O ESTADO DE SÃO PAULO - 10/10/09

A compra da Light pela Cemig está quase lá. Os sócios Andrade Gutierrez e Pactual acertaram: vão receber, cada um, R$ 770 milhões por suas respectivas participações no grupo carioca, dando à mineira Cemig, que já é dona de 25% da empresa, o controle da ex-estatal.
A Light, acreditem, vai voltar a ser do Estado. Só que do Estado de Minas.

Light 2

De Dubai, Aécio Neves confirma negociações avançadas mas não fala sobre valores. No entanto, em conversa por telefone, fez observação importante, que certamente será usada pelo PSDB em 2010:
"Com mais esta compra, demonstramos claramente que uma empresa pública bem gerida, e com estratégia profissional, traz excelentes resultados tanto para a população como para seus investidores privados."
Em resumo, o PSDB também é nacionalista.

Light 3

Aecio teve conversa, nesta semana, com ninguém menos que o xeque Ahmed bin Zayed al Nahyan, irmão do príncipe de Abu Dhabi, Mohammed.
Quem é ele? Ahmed é dirigente da Abu Dhabi Investment Authority, um "pequenino fundo" que tinha, em março, US$ 890 bilhões investidos pelo mundo - mais da metade do PIB brasileiro. Trata-se do maior fundo soberano existente hoje.
A Cesp que se cuide.

Zé 1

Zé Dirceu encontrou-se com Eric Hobsbawm, com quem trocou ideias em Bosco Moreno, na Itália. "Falamos de Lula, Brasil e Cuba" diz o ex-ministro à coluna.
Tudo em espanhol.

Zé 2

Zé Genoino assumiu o comando da tropa de choque que quer emplacar Ciro Gomes como candidato do PT em São Paulo.
A missão, com aval da bancada petista no Congresso, é desconstruir as opções Fernando Haddad e Emídio de Souza.
A preocupação geral é que a decisão saia logo, para se mobilizar a militância.

Um no cravo, outro no Cultura

Adélia Sampaio Dias Baptista, há 40 anos assinante da Sociedade de Cultura Artística, resolveu doar seu cravo modelo Pascal Tasquin, construído pelo luthier Abel Vargas, para a SCA.
O incêndio de 2008 queimou o que havia no teatro.

Stand-by

Para maximizar o anúncio da Indy no Brasil, decidiram esperar uns dias mais. Afinal, o País faturou a Olimpíada há uma semana.

Sem amarras

Passou na Assembleia e está na mesa de José Serra a lei que proíbe as seguradoras de impor aos segurados uma relação de oficinas credenciadas, para o conserto dos veículos.
Norma que foi discutida na CPI das Seguradoras.

Canteiro

Foi na casa de Luiz Nascimento, da Camargo Corrêa, que Eike Batista jantou na quinta à noite.
Da entrada à sobremesa, obras, obras e mais obras...

Só love

Marta Suplicy e Márcio Toledo completavam o clima "caliente" do jantar em torno dos noivos Sabrina Gasperin e Ara Vartanian. Quinta-feira, no Maritaca, em Trancoso.

Na Frente

Jorge Takla acaba de dar o start no processo seletivo para os profissionais interessados em participar do musical O Rei e Eu. Com estreia em fevereiro, no Teatro Alfa.

Vai ter representante brasileiro na publicação do Museu do Design de Londres, que elege os 50 sapatos que mudaram o mundo. Os modelos assinados por Vivienne Westwood e Zaha Hadid, para a Melissa.

Mariana Ximenes volta à telinha em meados do ano que vem. No papel de vilã, em Passione, de Silvio de Abreu, que vem depois de Viver a Vida.

Recém-chegado de Ibiza, o DJ João Neto anima hoje festão em Trancoso.

Tom Zé aceitou o convite e vai dar uma de professor, na Casa do Saber. Participa, com Zé Miguel Wisnik e Antonio Cícero, do curso sobre música brasileira, Palavra (En)cantada. Em novembro.

Lygia Fagundes Telles, Mario Prata, Santiago Nazarian e o português José Luís Peixoto já deram a palavra. Participam, em novembro da Balada Literária.

A pré-estreia de Coco Avant Chanel acontece dia 27, no Cidade Jardim. Só para convidados, a exibição começa na loja da grife e, em seguida, vai para a Sala Première.

O livro de memórias de John Neschling já tem data de lançamento: 9 de novembro, em SP.

Além de ganhar ontem o Nobel da Paz, Obama foi agraciado com a medalha Leonel Brizola. Atribuída pela Câmara de... São Gonçalo.

GOSTOSA

BETTY MILAN

REVISTA VEJA
Betty Milan

O que as mulheres querem

"Uma verdade que não é datada sobre o desejo feminino: ele é tão
indissociável da liberdade quanto o masculino. Esse é o motivo pelo
qual só há entendimento verdadeiro entre os dois sexos quando
o fato de um ser livre é decisivo para o outro"


VEJA TAMBÉM

O que significa fazer um consultório sentimental? Mais de uma vez eu me fiz essa pergunta, embora tenha certeza da necessidade desse espaço em VEJA.com pelo número de e-mails endereçados a ele. Recentemente, uma leitora me escreveu dando uma boa resposta para a questão. Diz que sempre lê a coluna porque se vale das histórias das pessoas e das minhas considerações para tentar resolver as dificuldades da sua vida, "os percalços".

Patty Ridenour/Getty Images


O consultório sentimental tem, hoje, uma das funções que a literatura tinha no passado e ainda tem em alguns países, como França ou Inglaterra, onde o hábito da leitura resiste. Porque a literatura também instiga o indivíduo a ter curiosidade pelo outro, a debruçar-se sobre a sua história e, a partir disso, a tecer relações com sua própria existência. Essa experiência literária, propiciada em especial pelos romances, foi relevante até para que a sociedade ocidental se constituísse como a sociedade dos direitos do homem – uma sociedade que pressupõe a observância dos limites de cada um, por meio de um fluxo constante de subjetividades.

Os ensinamentos da literatura para a nossa vida sentimental são infindáveis. A título de exemplo, focalizo Os Contos de Canterbury, do inglês Geoffrey Chaucer, que deu origem ao filme do italiano Pier Paolo Pasolini. Num dos contos, Chaucer não só aborda aquela que viria a ser uma das principais questões de Freud como lhe dá uma resposta da maior atualidade, o que é surpreendente tendo em vista que a obra foi escrita no século XIV. Chaucer conta a história de um rapaz que violou uma jovem e escapou da morte imediata graças à rainha. Ela decidiu que comutaria a pena capital se, no prazo de um ano, ele respondesse à seguinte pergunta: "O que as mulheres mais querem?". O rapaz, então, saiu pelo mundo propondo a questão a todas as mulheres, sem encontrar duas que lhe dissessem a mesma coisa. Até deparar com uma senhora que parecia ter mais de 100 anos e que lhe deu uma resposta convincente: "O que as mulheres mais desejam é a liberdade. Querem ser livres para fazer o que bem entenderem". Quando o rapaz reproduziu essa resposta para a rainha, o silêncio tomou conta do salão. Como nenhuma das mulheres presentes – solteiras, casadas ou viúvas – discordou dessa afirmativa, a pena de morte foi definitivamente suspensa.

O conto permanece moderno, pois encerra uma verdade que não é datada sobre o desejo feminino: ele é tão indissociável da liberdade quanto o masculino. Esse é o motivo pelo qual só há entendimento verdadeiro entre os dois sexos quando o fato de um ser livre é decisivo para o outro. Nesse caso, e só nele, existe a afinidade sentimental verdadeira. "Vá em frente, não tenha medo, faça o que você quer" é a fala amorosa que deveria uni-los. E um caminho, assim, poderia ser trilhado sem maiores "percalços".

A psicanalista e escritora Betty Milan assina a coluna Consultório Sentimental em VEJA.com.
Uma vez por mês, ela publica em VEJA um artigo especialmente escrito para a revista impressa