domingo, janeiro 31, 2010

DANUZA LEÃO

O preço a pagar

FOLHA DE SÃO PAULO - 31/01/10


Escolher entre os prazeres da mesa e a vaidade é de uma crueldade que deve ter sido inventada pelo demônio

UM DOS PRAZERES da vida é comer, comer o que a gente gosta; e depois que a gastronomia ficou na moda, difícil é decidir entre comer de tudo ou viver fazendo dieta a vida inteira. Pode parecer que este é um tema superficial, só que não é; implica fazer uma opção, o que é sempre um tormento.
As tentações estão em todos os lugares: nas fotos das revistas, nas vitrines, numa conversa no telefone. Onde vamos almoçar domingo, recebi um chouriço e aprendi uma receita nova, venha para cá, você traz o vinho, e quem resiste a um convite desses? E dizer não a troco de quê?
A vida é combate, como sabemos; mas escolher entre os prazeres da mesa e a vaidade de ter um corpinho esbelto é de uma crueldade que deve ter sido inventada pelo demônio. É sempre assim: a cada prazer vem imediatamente a conta, aliás, o castigo, como aprendemos com as freiras. Se num único dia você come tudo que não devia, vai precisar de dez a pão e água -aliás, só água- para voltar ao peso antigo, o que é a prova da injustiça da vida. Se viajou por duas semanas, quando chegar vai encontrar a TV sem funcionar, e se estiver tudo na mais santa paz, desconfie. Tem mais: quanto mais maravilhosa tiver sido a viagem, mais dramáticos serão os problemas; talvez o melhor seja filosofar, imaginando que este é o tal do equilíbrio fundamental da vida -dizem.
Estamos cansados de saber que é preciso comer com moderação, beber com moderação, ser sensata ao passar por uma vitrine, não tomar sol demais, não beber demais, não ler demais, para não cansar a vista, não rir demais -muito riso, pouco siso-, não amar demais para não cair do cavalo, não acreditar demais no ser humano para não se decepcionar, mas também não ser totalmente descrente, pois sem acreditar, a vida não tem sentido. Por sensatez, compreenda-se: o mundo quer que se viva de maneira média -e quando se fala em mundo, fala-se dos pais, dos irmãos mais velhos, das leis, das pessoas com juízo; crianças médias não ameaçam a estabilidade da família, esposas com desejos médios não põem em risco o casamento, cidadãos médios são mais fáceis de ser governados. Mas é possível ser sensata e feliz? É possível ficar na praia olhando o relógio para ver se já são 10h, já que a partir daí não se pode mais tomar sol?
Não, não é; viver medindo tudo, para não ser nem de menos nem de mais, ser equilibrada o tempo todo, a vida inteira, não dá. Às vezes é preciso ser radical, em qualquer dos sentidos, e escolher: ou come tudo que tiver vontade ou passa fome; ou bebe tudo que tiver vontade ou toma água. Água, essa coisa tão sem graça, não só pode, como deve.
Uma coisa é certa: seja qual for sua decisão, você vai pagar por ela. Deve haver um lugar no universo onde se possa ter tudo o que se quer ao mesmo tempo, sem precisar contar as calorias, pesar, medir os prós e os contras, e sem pagar o preço.
Tem alguma graça ganhar uma caixa de chocolates e comer civilizadamente só um ou dois? E sentir de repente uma paixão daquelas incontroláveis e se conter, quando sua vontade é ir para o fim do mundo, se fim de mundo houvesse, e fazer tudo, absolutamente tudo que tem vontade, mandando às favas a tradição, a família, a propriedade e o que mais for preciso? Qual a relação entre uma caixa de chocolates e uma paixão? Teoricamente, nenhuma. Só que as duas, depois que acabam, costumam deixar uma mulher devastada. No corpo ou na alma.

SERGIO FAUSTO

Liderança à altura

O ESTADO DE SÃO PAULO - 31/01/10


Desde que voltamos a elegê-los diretamente, o Brasil teve cinco presidentes. Dois resultaram de acidentes históricos: Sarney, pela morte de Tancredo, e Itamar, pelo impeachment. Outro, Collor, foi um aventureiro que surgiu do nada, criou um partido de ocasião e se elegeu em circunstâncias excepcionais. Dos cinco, somente dois, Fernando Henrique e Lula, são personagens centrais da trama histórica que se desenrola no Brasil a partir da luta contra o regime autoritário. O fato de serem líderes antes de serem presidentes deu-lhes condições diferenciadas para o exercício do poder, seja no âmbito da política interna ou externa, por meio da diplomacia. Além da legitimidade formal decorrente dos votos, contavam (Lula ainda conta) com a legitimidade substantiva que só a biografia política pode conferir. Elemento essencial para presidir um país das dimensões e da complexidade do Brasil, onde desafios do século 19 convivem com os do século 21, onde o presidente eleito não conta com maiorias parlamentares automáticas, onde os interesses de regiões e grupos dificilmente confluem, onde a sociedade é fragmentada, mas ativa e reivindicante.

Há quem atribua alternativamente mais méritos a Fernando Henrique ou a Lula por hoje nos vermos e sermos vistos como um país apto e relevante, além de democrático. É difícil, no entanto, negar, para dizer de forma neutra, que ambos ajudam a explicar o "sucesso do Brasil", tal como ele é percebido dentro e, sobretudo, fora do País. Sucesso sempre relativo, por isso as aspas. Ainda assim, reconhecendo que este não é um país para principiantes, frase famosa de Tom Jobim, e considerando as alternativas, é difícil não concluir que o Brasil se beneficiou, desde 1994, da disponibilidade de lideranças históricas com viabilidade eleitoral. E que tenham sido Fernando Henrique e Lula os eleitos, e não outros.

Em outubro haverá eleições novamente. Dos candidatos prováveis, apenas José Serra tem biografia equiparável à do atual presidente e à de seu antecessor. É o único entre os dois principais candidatos cuja liderança não terá de ser forjada a golpes de marketing eleitoral. Sua liderança precede a sua candidatura. Sua biografia se confunde com a construção da democracia e das políticas públicas que estão na base do desenvolvimento econômico e social do Brasil recente. Secretário de Planejamento do governo Montoro, deputado federal, senador, ministro do Planejamento e da Saúde, prefeito e governador de São Paulo, Serra deixou sua marca na Lei de Responsabilidade Fiscal, no programa de controle e prevenção da aids, na ampliação do programa de saúde da família, na introdução dos medicamentos genéricos, para ficar apenas em exemplos na órbita federal. Sua candidatura é o desdobramento natural de uma trajetória pessoal indissociável da história política do País, no que ela tem de melhor.

Quando se olha pelas mesmas lentes, sobressai o artificialismo da candidatura de Dilma, produto da vontade de Lula e da escassez de candidatos no campo do PT, depois que Dirceu e Palocci foram abatidos pelo escândalo do mensalão. Que cargos eletivos disputou? Que experiência parlamentar possui? De que movimentos participou no âmbito da sociedade civil? Quando e onde foi testada nas habilidades que se requerem de uma pessoa que almeja ocupar o principal cargo político do País? De destaque, em sua biografia, além do engajamento na luta armada - experiência existencialmente significativa, mas de pouca valia na formação para a política numa sociedade democrática -, há o exercício de cargos executivos no governo do Rio Grande do Sul e no governo federal, com Lula. Numa administração marcada pela lentidão operacional, ganhou fama de eficiente. Tal eficiência, ainda que os fatos a comprovassem, recomendaria seu nome para novo posto gerencial, não para um cargo eminentemente político.

Sem experiência e liderança próprias, nem sequer em seu próprio partido, Dilma corre o risco de ser refém de uma aliança política cujo único denominador comum, além do apetite por votos e cargos, é a desconfiança recíproca de seus principais componentes, PT e PMDB, já demonstrada na temporada pré-eleitoral. O fiador da aliança, Lula, estará, em tese, fora do poder, à espera de 2014. Ficará de fato afastado ou buscará suprir o déficit de liderança da eventual presidente eleita? Se ficar afastado, vislumbra-se um governo consumido pela disputa palmo a palmo pelo aparelho do Estado. Será grande a tentação de inchá-lo ainda mais - com cargos, empresas e gastos - para pacificar os interesses em conflito. Cenário propenso a curtos-circuitos políticos e escândalos político-empresariais (reais ou fabricados pelos interesses que se sentirem alijados na disputa interna ao governo). Não haverá então Lula para sobrenadar a tudo e a todos. Na segunda hipótese, o atual presidente retém o poder de fato, deixando à sua sucessora o poder de direito. Para a democracia seria um retrocesso, por reforçar o componente personalista da nossa cultura política e tornar ainda menos transparente o processo decisório.

Nenhuma das hipóteses é boa para o Brasil. O País tem grandes desafios para atender às expectativas que nós mesmos (e o mundo) temos a nosso respeito. Parte dos desafios refere-se a coisas que sabíamos que teríamos de fazer e não fizemos - a mais urgente delas, deter o crescimento do gasto público corrente, para abrir espaço ao investimento e à redução da carga tributária, sem o que não haverá crescimento sustentado. A outra parte dos desafios não sabíamos que teríamos de enfrentar, mas o sucesso nos obriga a fazê-lo - por exemplo, definir com clareza o perfil da liderança regional do Brasil e da sua participação nos grandes temas globais, nas finanças, no clima e na segurança.

São desafios que exigem liderança à altura.

Sergio Fausto, diretor executivo do iFHC, é membro do Grupo de Acompanhamento da Conjuntura Internacional (Gacint) da USP. E-mail: sfausto40@hotmail.com

GOSTOSA

GAUDÊNCIO TORQUATO

Fagulhas autoritárias

O ESTADO DE SÃO PAULO - 31/01/10


Fagulhas autoritárias espalham-se pelo tecido institucional, ameaçando queimar bandeiras erguidas com muito esforço pela sociedade brasileira ao correr das últimas quatro décadas. A ameaça de fogo, que pode ainda desfazer o pacto pela harmonia social acertado no início do ciclo da redemocratização, parece imperceptível quando se olha a paisagem geral, onde se distinguem margens sociais atendidas por braços do Estado, o dínamo de uma economia que recupera forças e avança, apesar de percalços, e um corpo político sob razoável controle do primeiro mandatário da Nação. Este, aliás, está no epicentro do cenário, escorado em ampla aprovação das massas e largo prestígio internacional. Se as centelhas são pouco visíveis é porque um gigantesco cobertor social tem o condão de amortecer o impacto de medidas e projetos de ranço autoritário. Não escapam a núcleos formadores de opinião as persistentes investidas patrocinadas pelo Poder Executivo contra o painel das liberdades. Por ser detectada pela lupa de setores do meio da pirâmide, a escalada autoritária passa a frequentar o fórum da opinião pública, abrindo polêmica, levantando versões e criando embaraços aos seus inspiradores.

A mais nova fagulha é a anunciada disposição do governo, produzida no laboratório do ministro da Justiça, Tarso Genro (e que teria saído da cabeça do ex-ministro de coisas estapafúrdias, Mangabeira Unger), de obrigar as empresas a distribuir 5% do lucro líquido a seus empregados. O caráter intervencionista da medida vem-se somar ao repertório de intenções, algumas manifestas e outras latentes, que a administração federal tem procurado semear em muitos terrenos, particularmente nas áreas férteis dos direitos humanos, relações trabalhistas e controle dos meios de comunicação. O nexo entre os compartimentos temáticos é a defesa quase extrema do intervencionismo governamental, voltado para a manutenção de um Estado patrimonial, irracional, centralizador e autoritário, conceito reforçado pela onda da crise financeira internacional. Nem bem a tempestade amainou para ouvirmos os surrados refrãos contra o neoliberalismo, que ressoam das trombetas de grupos radicais, bandos oportunistas e movimentos badernistas de plantão, embalados na utópica revolução socialista. Basta ver o ímpeto desbragado de João Pedro Stédile no recente Fórum Social de Porto Alegre, ameaçando jogar o Movimento dos Sem-Terra (MST) nas ruas para combater o eventual candidato das oposições, José Serra, carimbado por ele como ícone neoliberal. Que disparate. Ontem, o MST, farto de verbas federais, conformava-se com invasão de propriedades. Hoje, ainda farto, faz campanha política, ajudando quem o ajuda.

O sofisma corre solto. Enquanto o espírito democrático se espraia por palanques, sob o batismo de nomes como cidadania, participação, justiça, igualdade social, repartição de renda, liberdades e direitos humanos, a alma autoritária emite sinais de intensa atividade. Aqui e ali, aparece o dedo intervencionista. Veja-se o chamado projeto de Pacto da República, que cria a figura da execução prévia, ao atribuir à Procuradoria da Fazenda Nacional a atividade jurisdicional, dando-lhe a faculdade de penhorar bens dos contribuintes, até pela via da internet. Veja-se o polêmico 3º Programa Nacional dos Direitos Humanos, cujos aspectos positivos não podem servir de tapume para esconder a reabertura de feridas do passado. Atente-se para a persistente intenção de setores governamentais de amordaçar os meios de comunicação. Ora se defende a criação de um Conselho de Comunicação, cuja missão seria a de determinar diretrizes para a mídia; ora se prega a maluca ideia de um ranking de veículos comprometidos com os direitos humanos, algo que serviria de patrulha ideológica. O vasto campo das relações trabalhistas recebe sementes das centrais sindicais, que tentam engessar o mercado, restringindo as condições do trabalho terceirizado - tendência mundial - e concentrando massas trabalhadoras em espaços sob seu pleno domínio. O autoritarismo é a sombra de uma República sindicalista.

Como se explica o gradual desenvolvimento do laivo autoritário? Simples. O xis da equação é o próprio presidente da República. Luiz Inácio é um craque no drible do jogo democrático. Diz uma coisa e faz outra. Aclamado, prestigiado, com um governo sob imensa aprovação, Lula alimenta-se do próprio prestígio. Nele se processa um fenômeno psicológico. Olimpiano, eleva-se à condição de divindade. Imbui-se do direito à infalibilidade. Tudo sabe e tudo pode fazer. Até desafiar o Tribunal de Contas da União, mandando a formalidade das leis às favas e dando verbas para obras consideradas suspeitas. A Lei Maior é ele. O argumento, claro, tem lastro junto às massas. Diz que não pode parar obras que acarretariam a perda de 25 mil empregos. Quem do contra há de ser? A lei das conveniências dá o tom. O Estado? Ora, é a extensão do todo-poderoso. E, assim, convivemos com uma forma despótica de governar. O império cerca-se de uma corte. As esporádicas reações das oposições não abalam o comandante nem afetam seus exércitos. O escudo que amortece o tiroteio é a relação direta entre ele e o povo, sem intermediação de grupos. O escudo chama-se populismo.

Essa é a tessitura que acolhe fagulhas e faíscas autoritárias. Quando alguma delas prenuncia incêndio, o presidente dribla a própria identidade, troca de aura e intervém para administrar conflitos e ajustar as partes. Emerge, então, o perfil do bombeiro, o algodão entre cristais. Mas, se for preciso, a aura é retocada para dar lugar ao espírito guerreiro, treinado na arte de acertar os alvos. Agora, a figura que emerge é a do palanqueiro, que estilhaça adversários. E a linguagem? É tosca e contundente. Sérgio Guerra, presidente do PSDB? Ah, é um "babaca". Que ninguém espere reprovação às expressões de Sua Excelência. O povo entende seu vocabulário e aplaude a maneira de ser.

E assim, de tora em tora, a fogueira autoritária vai tomando forma.

Gaudêncio Torquato, jornalista, é professor titular da USP, consultor político e de comunicação

CLÓVIS ROSSI

Porto Alegre em Davos

FOLHA DE SÃO PAULO - 31/01/10


DAVOS - Eis que o "filho do Brasil", um certo Luiz Inácio Lula da Silva, transformou-se em pai do mundo. Seu discurso em Davos, ao receber o título de "Estadista Global" conferido pelo Fórum Econômico Mundial, é um Sermão da Montanha ao mundo (Davos está encravada nos Alpes, a 1.542 metros de altitude).
Se fosse necessário resumi-lo a duas frases, seriam estas: eu fiz tudo certo e o mundo continuou fazendo tudo errado.
Daí vem, inexoravelmente, a proposta de reinventar o mundo. Ótimo. Gostaria até de ser o primeiro a assinar um eventual manifesto a favor. Mas chego tarde: o povo de Porto Alegre, como se chamava o conglomerado que se reunia inicialmente na capital gaúcha, já está na fila faz tempo ao pregar, sempre, que "outro mundo é possível".
Pena que nem Lula nem o povo de Porto Alegre puseram de pé, até agora, como exatamente se chega a esse outro mundo. Lula produziu uma frase que é a quintessência do vácuo: "Precisamos de um novo papel para os governos. E digo que, paradoxalmente, este novo papel é o mais antigo deles: é a recuperação do papel de governar".
Faz muito tempo, antes mesmo de ser criado o Fórum Social Mundial, que observo os movimentos críticos à forma como o mundo caminha e digo que é preciso ir além das intermináveis discussões entre os convertidos e apresentar uma plataforma concreta com a qual disputar o voto do eleitorado. É a única maneira (democrática) até agora inventada de se obter um mandato para construir outro mundo.
Aí, leio que o povo do Fórum Social ovacionou Lula quando o presidente a ele compareceu.
Bom, se o projeto que esse povo quer ver implementado é esse que Davos acaba de premiar, então Porto Alegre perdeu o sentido. É melhor vir todo mundo para os Alpes. A vista é magnífica e é dela que saio hoje de férias.

O ABILOLADO

ELIANE CANTANHÊDE

Montando o circo

FOLHA DE SÃO PAULO - 31/01/10


BRASÍLIA - O Congresso reabre na terça com uma pauta fraca, baseada na regulamentação do pré-sal, e as energias políticas estarão voltadas para três questões: o destino de Ciro Gomes na campanha, o imbróglio do vice de Dilma e a ansiedade da oposição pelo sim de Aécio Neves para a chapa de Serra.
Se depender de Ciro, ele vai ser candidato a tudo. Se depender do PT, não vai ser candidato a nada. Ciro estava assanhado para disputar a Presidência enquanto à frente de Dilma nas pesquisas, mas isso é coisa do passado desde o Datafolha de dezembro. Serra se mantém na liderança, Dilma se isolou no segundo lugar, e simplesmente não há espaço para Ciro.
Se insistir, ele vai sem as bênçãos de Lula, sem alianças partidárias, sem financiadores e sem tempo na TV. Ou seja, para o buraco. Se desistir, vai para onde? Lula estimulou Ciro a mudar o domicílio eleitoral para São Paulo, mas o PT não quer nem ouvir falar na candidatura dele ao Bandeirantes. Seria perder a eleição por WO e jogar fora a chance de apresentar um nome em 2010 para ter um candidato petista de fato em 2012 e 2014.
Ciro está no limbo, e Michel Temer não está melhor. Esfomeado para ser vice de Dilma, já teve de digerir o Sapo Barbudo cobrando uma lista tríplice do PMDB, e agora engole um sapo atrás do outro: o PT lança nos jornais o nome de Sérgio Cabral num dia; o de Henrique Meirelles no outro; o de Hélio Costa no seguinte. Para bom entendedor, basta. Para políticos experientes como Temer, é demais.
E o PSDB está naquela: é Aécio ou Aécio para vice de Serra. Se ele bater pé que não, vai ser até engraçado -mas engraçado para nós, da plateia. Para quem está no picadeiro da oposição, um drama.
Essas três questões estarão na superfície do debate político, ao lado da tensa montagem dos palanques estaduais. Nas profundezas, a questão é outra: a explosiva atração de financiadores de campanha.

ZANDER NAVARRO

Quem tem medo da democracia?

FOLHA DE SÃO PAULO - 31/01/10


Direitos humanos não se tornam práticas sociais em função de planos e leis. É o ideal democrático, quando existente, que cria direitos


O EPISÓDIO do terceiro Plano Nacional de Direitos Humanos encerra outras lições, além da ruidosa polêmica recente. Sugere também existir um imenso fosso político, talvez ainda ignorado. Refiro-me à insuficiente qualidade da democracia brasileira e ao desinteresse, generalizado entre os atores políticos, em aperfeiçoá-la.
Uma ordem democrática não se define somente por diversos procedimentos instituídos, como o são, por exemplo, as eleições regulares.
Primeiro, uma "democracia realmente democrática" floresce quando anima um jogo político que gradualmente entranha mais tolerância em relação aos conflitos sociais, cuja resolução assim delimitará o espaço fundador mais decisivo da política.
Define-se também pela produção irrestrita de conhecimento e informação pelos e para os cidadãos.
Sobretudo, esse ideal democrático precisa produzir sempre diversos direitos sob processos políticos que tendem a ser evolutivos. Não por outra razão, fala-se em "gerações de direitos", uma evidência do adensamento democrático contemporâneo na maior parte das nações.
A concretização desses três eixos centrais, contudo, requer outra afirmação histórica que é rara: a crescente inclusão social, ou plebeísmo, não pode abafar, de um lado, a necessidade de assegurar o pluralismo das opiniões, decorrente da diversidade organizativa e dos interesses distintos, muitas vezes opostos; de outro, não pode constranger uma cidadania virtuosa e republicana que só o enraizamento do civismo poderá ver nascer.
Essa segunda tríade -plebeísmo, pluralismo e comportamentos cívicos, quando juntos- configura a primavera democrática e a virtualidade da sociedade ideal, sob a qual se debatem racionalmente as escolhas sociais, se impede a ditadura da maioria e se limita a manipulação opressora dos fatos.
Infelizmente, o PNDH-3, não podendo se opor à infantil estridência ideológica e ao arcaísmo político de alguns, ignorou tais premissas e permitiu o contrabando, para o texto, de várias promessas absurdas, assim iludindo até mesmo quem, em posição de autoridade, deveria denunciá-las.
Um exemplo típico é a inclusão, no plano, da exigência de audiências públicas para os processos de desapropriação de terras. Ainda que existam casos experimentais promissores, a novidade, se tornada rotineira, necessariamente ameaçará a democracia, ao contrário do que tem sido dito.
A razão é simples: a democratização brasileira, especialmente nas duas últimas décadas, observou a aceleração do plebeísmo, mas em claro detrimento do pluralismo e, especialmente, da qualidade democrática expressa no civismo. Nessa equação desequilibrada, todos perdem, pois as chances de produção da "boa sociedade" se esvaem nessa incerta trajetória na qual prevalece, sobretudo, o peso de quem grita mais -nunca a racionalidade argumentativa.
Se o sumo do plano e a ampliação plebeia devem ser saudados, com entusiasmo, pelos verdadeiros democratas, o rebaixamento das outras faces compromete o futuro político.
Nesse sentido, não é ridículo, como foi pressurosamente indicado neste mesmo espaço, acentuar que aquela proposta produz mais insegurança no campo, quando os atos de desapropriação de terras já seguem minucioso ritual legal e mais não se faz porque a demanda social por terras desabou, e não por alguma inaudita violência que caracterizaria as áreas rurais.
É falso insistir que em tais situações prevalecerá a mediação serena da Justiça, e não a força díspare derivada da mobilização de organizações políticas que hoje atuam em áreas rurais. O proprietário ameaçado, incapaz de mobilizar força social equivalente para contrapor-se, simplesmente submergirá ante o poder da maioria e a nova versão plebeia de realizar a Justiça pela vontade de assembleias, como na Grécia antiga.
Essa é a intenção contida no plano, e não apontar esse desenlace decorre de inconfessáveis objetivos. Sejamos claros: se uma autoridade ministerial foi incapaz de perceber que a correlação de forças no campo inverteu-se e a ideia das audiências espelha a vontade do MST e seus acólitos, trata-se de profundo desconhecimento sobre os processos sociais rurais ou de pueril tergiversação.
Direitos humanos não se transformam em práticas sociais em função de planos e leis. Somente são concretizados se a densidade democrática se enraizar em sua plenitude, em todos os poros da sociedade, e o delicado balanço político sugerido acima se tornar realidade. O ideal democrático, quando existente, é que cria direitos, e não o inverso. Não perceber tal fato apenas ilumina intenções subterrâneas ou algum viés autoritário daqueles que desejam mudanças sem o crivo livre dos cidadãos.

ZANDER NAVARRO, 58, sociólogo, é professor associado da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e pesquisador visitante do Instituto de Estudos sobre o Desenvolvimento da Universidade de Sussex (Inglaterra). Atualmente integra a Assessoria de Gestão Estratégica do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

GOSTOSA

LUIS PARDO SAÍNZ

O orgulho ferido de Chávez

FOLHA DE SÃO PAULO - 31/01/10


Esperamos que esse novo golpe à liberdade de expressão na Venezuela consiga comover os líderes democráticos da região

QUANDO O presidente Hugo Chávez fechou de forma arbitrária a Rádio Caracas Televisão (RCTV), em maio de 2007, estava enviando uma mensagem inequívoca a todos os meios de comunicação venezuelanos: não há lei nem direitos constitucionais que valham para aqueles que não se subordinam ao discurso oficial.
A lei venezuelana estabelece claramente que, não havendo sentença judicial executada contra um concessionário, este tem direito à renovação automática de sua concessão.
A RCTV, mais antiga televisão venezuelana e líder em audiência, não tinha sentença ou processo aberto contra si. Apenas acusações de "golpismo" proferidas por Chávez, sem fundamento nem prova, que serviram de pretexto para não renovar a concessão da emissora.
Simultaneamente, em uma ação igualmente arbitrária, o governo ocupou militarmente suas unidades transmissoras e se apropriou ilegalmente de suas instalações e equipamentos, o que acontece até hoje.
Minutos depois daquele fatídico 27 de maio de 2007, pelo Canal 2 -que até então e por meio século levava a milhões de venezuelanos a programação da RCTV-, começou a transmitir-se o sinal oficial do governo chavista, anunciado com fanfarra. Porém, para vergonha de seu principal promotor e incentivador, sua audiência nunca superou 2%.
De sua parte, a Rádio Caracas TV, privada de seu direito de seguir transmitindo como televisão aberta, iniciou transmissões por cabo, como canal internacional, gerando um aumento exponencial, sem antecedentes, das conexões domiciliares no país. Com isso, a emissora voltou a ocupar os primeiros lugares da audiência venezuelana.
Toda a verborragia, todos os mitos e os slogans bolivarianos depararam-se contra uma realidade inabalável: os venezuelanos desprezaram o canal oficial e até as populações mais humildes buscaram acesso a conexões a cabo para ver seu canal preferido. (O livre arbítrio de cada indivíduo, chave na construção das sociedades mais desenvolvidas.)
Por isso, era previsível que o orgulho "revolucionário" ferido buscasse uma forma de matar, pela segunda vez e de forma simultânea, um incômodo canal de expressão para seu projeto totalitário e, pela mesma razão, a teimosa capacidade do cidadão de fazer escolhas por si mesmo.
Assim, o governo criou uma nova classificação para os sinais internacionais e locais, à margem da lei vigente, impondo novas regras aos canais de cabo nacionais, como a transmissão das criticadas cadeias obrigatórias às quais diariamente são submetidos os meios de comunicação e os cidadãos venezuelanos.
De nada serviu à RCTV ter adequado imediatamente sua programação para continuar a ser considerada um canal internacional. Sem processo judicial, ordenou-se a retirada do sinal de todas as operadoras de cabo venezuelanas que deixaram de transmitir mensagem em cadeia presidencial.
A nova normativa tem nome e sobrenome evidentes. Esse novo atentado contra a liberdade de expressão se verifica no momento em que se mantêm ameaçadas de cancelamento de concessão centenas de emissoras de rádio por suspeita de irregularidades administrativas, depois de ter fechado 30 delas, e em meio à feroz perseguição contra o canal independente Globovisión e seus executivos.
Tudo isso faz parte do cenário "institucional" no qual Hugo Chávez se prepara para as eleições legislativas de setembro, com sua popularidade despencando pelos estragos de uma administração desastrosa, apesar de sua permanente tentativa de controlar a opinião pública.
A resistência do governo bolivariano em autorizar a visita ao país da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, para conhecer in loco as gravíssimas violações à liberdade de expressão e aos direitos fundamentais, amplamente denunciadas na Venezuela, evidencia a falta de vontade para fazer do sistema interamericano um instrumento efetivo de promoção e fortalecimento da democracia.
Esperamos que esse novo golpe à liberdade de expressão, com suas ilegalidades e inconstitucionalidades implícitas, consiga comover os líderes e governos democráticos da região.

LUIS PARDO SAÍNZ, 48, administrador de empresas, é presidente da Associação de Radiodifusores do Chile e da Associação Internacional de Radiodifusão, entidade que representa 17 mil emissoras de rádio e televisão nas Américas, na Ásia e na Europa.

CLÁUDIO HUMBERTO

“O mundo fechou olhos e ouvidos para o Haiti”
PRESIDENTE LULA, EM SUA MENSAGEM DE AGRADECIMENTO AO PRÊMIO “ESTADISTA GLOBAL”

MÁGOA DE CIRO NO CONGELADOR. POR ENQUANTO
É um poço de mágoa o quase talvez candidato à Presidência Ciro Gomes, que “sumiu” em viagem de férias a Portugal. Não admite o ostracismo imposto por Lula e o PT, nem a declarada antipatia da pré-candidata Dilma. Nem esquece os “serviços” prestados aos petistas e a defesa do presidente na crise do mensalão. Ministro de Lula, rompeu com o PPS e “apanhou” do PT. O PSB teme que a mágoa descongele.
FIEL DA BALANÇA?
Pesquisa Vox Populi indica que a desistência de Ciro Gomes beneficiaria mais o tucano José Serra que a petista Dilma Rousseff.
ELE É O CARA
Analistas políticos acham que, apoiado por Lula, Ciro Gomes tem potencial de crescimento para presidente maior que o de Dilma.
LOUCOS POR MEDALHA
O Itamaraty vai gastar R$ 734 mil em medalhas e colares da Ordem do Rio Branco para civis e militares por “serviços inestimáveis ao País”.
PERGUNTAR NÃO DÁ IBOPE
Seguindo o exemplo de outros filmes brasileiros, será que Lula, o Filho do Brasil vai virar uma minissérie da Globo?
ENGENHEIRO TEM SOLUÇÃO PARA ENCHENTE EM SP
O engenheiro paranaense Thomas Fendel, criador do primeiro carro movido a óleo vegetal – copiado agora por montadoras – aponta solução simples e barata contra as enchentes em São Paulo: pequenas hidrelétricas. O Rio Pinheiros, diz ele, está a menos de 40km do mar, a represa Billings, a 10km e a 750m acima do nível. Uma queda de 700m gera energia, e limpa a calha do Tietê e do Pinheiros. Grátis.
O MICRO NO MACRO
Para o engenheiro Thomas Fendel, piscinões paulistanos “são inúteis, consomem energia e trabalho demais. A solução: “microhidrelétricas”.
VERGONHA
O Brasil teve 32 mil casos de lepra em 2009, diz o Ministério da Saúde. Menos que em 2008, mas um número muito alto. Pior, só na Índia.
ALÔ, ANAC
A Anac vai gastar R$ 5,5 milhões para “atualizar” seus telefones. Quem sabe agora vai escutar os maltratados clientes de empresas aéreas.
FAZ SENTIDO
A equipe de limpeza do Senado resolveu dar um “trato” no Salão Azul. Alguns funcionários que já voltaram ao trabalho reclamaram do mau cheiro. Elementar: tem muita sujeira acumulada debaixo do tapete...
ZELAYA É CARMA
Coitado do diplomata brasileiro Francisco Catunda: após aturar Manuel Zelaya por 128 dias refestelado na embaixada do Brasil em Tegucigalpa, ele foi transferido para Santo Domingo, na República Dominicana. Mesma cidade onde o mala-sem-alça agora vive.
TEMPO FECHADO
Nem tudo são flores nas relações do presidente Lula com sua mulher, d. Marisa. Os amigos andam muito preocupados com as discussões cada vez mais frequentes – e mais ásperas – do casal.
É GRAVE A CRISE
É queixa recorrente dos médicos: muitos pacientes deixam de tomar hipertensivo ou tomam ocasionalmente, temendo impotência. Além de ignorância machista, é morte certa.
ELE MERECE
O documentário Perdão, Mister Fiel, de Jorge Oliveira, sobre o operário comunista Manoel Fiel Filho, torturado e morto no DOI-Codi, foi muito aplaudido 7º Festival de Cinema de Campo Grande.
VOLTA PARA O FUTURO
O maior sucesso nas discotecas da Europa é a versão “techno” do célebre “Caminhando”, de Geraldo Vandré, cantado por Simone no Canecão, em 1979. O DJ autor do “mix” vai mostrá-la no Rio, dia 10.
TUDO AZUL
A delegada Martha Vargas, que investigou o assassinato do ex-ministro do TSE José Guilherme Villela em Brasília, reapareceu após as férias usando lentes de contato azuis. Ela agora preside o inquérito sobre a morte da jornalista Lanusse Martins, durante uma “lipoescultura”.
O TRIUNFO DE MORFEU
Maldade na internet: Lula e d. Marisa assistem ao “Lago dos cisnes”, num compromisso oficial. Cansada, ela dorme. Acorda sem graça: “Será que alguém notou?”. Lula responde: “Na plateia, não sei, mas os bailarinos estão há horas na ponta dos pés, para não te acordar.”
PENSANDO BEM...
Chegará o dia em que políticos inaugurarão até pedra nos rins.

PODER SEM PUDOR
ESTADO “TOLERANTE”
O deputado Armando Monteiro Neto (PTB-PE), presidente da Confederação Nacional das Indústrias, certamente não se inspirou no avô para quando opinou sobre o polêmico controle externo do Judiciário. Ex-deputado e ex-ministro, Monteiro proclamava, nos tempos de Getúlio Vargas:
– A Justiça é uma tolerância do Estado Novo...

GOSTOSA

BRASÍLIA -DF

Dilema dos distritais

Luiz Carlos Azedo

CORREIO BRAZILIENSE - 31/01/10


Um dos teoremas mais badalados da Teoria dos Jogos é o chamado “dilema do prisioneiro”. De biólogos a militares, muitos analistas recorrem ao teorema para estudar situações de competição ou conflito. Como o nome sugere, a mesma estratégia é muito utilizada por advogados criminalistas. Políticos enrolados, à sua maneira, também recorrem ao “dilema do prisioneiro”. É o que acontece na Câmara Legislativa do Distrito Federal, às voltas com uma CPI para apurar o chamado “mensalão do DEM”.

Qual é o teorema? Numa situação hipotética, dois prisioneiros incomunicáveis podem confessar o crime ou negar sua autoria; acusar o outro prisioneiro ou não traí-lo. Na teoria dos jogos, negar a autoria e acusar o outro prisioneiro só pode ser vantajoso a curtíssimo prazo; a médio prazo, porém, é melhor negar a autoria e não acusar ninguém. Na pior das hipóteses, isso resultará numa pena branda. Essa é a estratégia dos deputados distritais flagrados em vídeo recebendo propina. Como os envolvidos são oito titulares e dois suplentes(*), é fácil entender por que a CPI empacou.

(*) Aylton Gomes (PR), Benedito Domingos (PP), Benício Tavares (PMDB), Eurides Brito (PMDB), Júnior Brunelli (PSC), Leonardo Prudente (sem partido), Rogério Ulysses (sem partido), Rôney Nemer (PMDB), além dos suplentes Berinaldo Pontes (PP) e Pedro do Ovo (PRP).

Cacife
Muito esperto o PDT ao sair na frente no apoio à candidatura de Dilma Rousseff (PT) a presidente da República, decisão que nem sequer foi formalizada pelo PT. O encontro da petista com o ministro do Trabalho, Carlos Luppi, e o presidente em exercício da legenda, Vieira da Cunha (RS), abriu caminho, em São Paulo, para a ressurreição da candidatura a governador do prefeito de Campinas, Hélio Santos, com apoio dos petistas de São Paulo.

Oitenta
Velho maragato, o senador Pedro Simon, do PMDB-RS, comemora hoje 80 anos. Em grande estilo, comanda encontro estadual do PMDB na praia de Capão da Canoa, no litoral gaúcho, no qual lançará as pré-candidaturas do governador Roberto Requião (PR) a presidente da República, e de José Fogaça, prefeito de Porto Alegre, a governador do Rio Grande do Sul. O governador de Santa Catarina, Luiz Henrique (PMDB), confirmou presença.

Refluxo
O Fórum Social Mundial (FSM) de Porto Alegre terminou ontem, depois de uma semana de debates que avaliaram os 10 anos do evento. O fórum já chegou a reunir 100 mil pessoas de todos os continentes para pensar “um outro mundo possível”, mas neste ano a participação foi de apenas 35 mil militantes

Base
O deputado federal Tadeu Filippelli está só esperando a poeira baixar para colocar o bloco na rua. Cacique do PMDB-DF, foi o grande responsável pela exclusão do ex-governador Joaquim Roriz (PSC) da legenda. Trabalha para ser vice do candidato a governador do PT, seja ele o ex-ministro do Esporte Agnelo Queiroz ou o deputado Geraldo Magela, não importa. Mas não pretende atirar pedras no governador José Roberto Arruda (sem partido).

Furgão
O senador Cristovam Buarque(PDT-DF) é quase uma unanimidade. Estimula todos os candidatos a governador que o procuram a pôr o nome na rua, do deputado distrital José Antônio Reguffe (PDT), seu correligionário, ao senador Gim Argelo (PTB), colega de Congresso. Ao mesmo tempo, reitera que não pretende voltar ao Buriti de jeito nenhum. Busca o segundo voto dos eleitores (são duas vagas) para continuar mais oito anos no Senado.


Aterrissar O presidente da Infraero, Murilo Barboza, prepara o velho prédio da Transbrasil no Aeroporto de Brasília para receber a sede do órgão, que hoje funciona no Setor Bancário Sul de Brasília. “Quanto mais perto dos aeroportos e dos aviões, melhor”, explica. A mudança também representará economia com aluguéis de dois imóveis.

Candidato O secretário do Trabalho do DF, Bispo Rodovalho (DEM), entrou na disputa para ser candidato da legenda a governador. Concorre com a deputada distrital Eliana Pedrosa, ex-secretária de Desenvolvimento Social do GDF. Rodovalho tem esperança de receber o apoio do governador José Roberto Arruda.

Sem-terra O deputado Rogério Marinho (RN) critica o governo federal por financiar a Associação Regional de Cooperativa Agrícola da Reforma Agrária (Acar), por meio de dois convênios de R$ 222 mil com o Incra. Seu principal dirigente, Miguel da Luz Serpa, comandou os integrantes do MST que invadiram a fazenda da Cutrale, a maior produtora de suco de laranja do país.


Pito
A liminar do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Cezar Peluso suspendendo os efeitos da decisão do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) sobre os cartórios enfraquece o órgão. Vem aí uma enxurrada de ações contra os concursos para preenchimento das vagas de cartorário e tabelião.

JANIO DE FREITAS

Os mísseis em viagem

FOLHA DE SÃO PAULO - 31/01/10

Tecnologia de mísseis e enriquecimento de urânio trouxeram Ahmadinejad ao Brasil e devem levar Lula ao Irã

AINDA que não se discuta se o Brasil deve se tornar um arsenal, como fruto das ideias estratégicas do governo Lula, ao menos as iniciativas para tentá-lo mereceriam alguma consideração. Acima dos interesses políticos e da preguiça mental que se associam contra contra todo tema sério.
Os sombrios negócios concluídos, uns, e pretendidos outros com a França, já se mostraram discutíveis nos pretensos fundamentos militares e, de outra parte, conduzidos muito mais à maneira de regimes autoritários que de democracias.
Nesse túnel de obscuridades o governo põe mais uma presença, sempre com os indícios de uma ótica estreita e alcance curto.
Lula programou para março uma viagem ao Irã. Não uma viagem de cortesias mútuas, mas também de discussão em torno de altas transações. As relações fraternais que o governo brasileiro desenvolve com o governo de Ahmadinejad -exemplo de arbitrariedade inadmissível, cuja oposição é respondida por bala ou pela forca- só se destina a contestar os Estados Unidos como efeito indireto. Os motivos imediatos estão nas tais concepções estratégicas do governo Lula.
Desde que os Estados Unidos fizeram do Irã uma potência militar, ao tempo do Xá e da Guerra Fria, os iranianos dedicam grande parte de sua fortuna petrolífera a se desenvolverem militarmente. Antes, em aquisições e em quantidade; nos tempos mais recentes, em tecnologia. Um dos frutos dessa persistência, acelerada pela política de Israel, foi exibido no final de 2009 como resultado de um projeto aprimorado no decorrer do ano: o Irã está na arena, cujos confrontos nada têm do tão falado clube, dos detentores de mísseis de grande alcance. O Sajjil-2 já chega a alvos a 2.000 km. E, se pode alcançar desde partes da Europa até o ocidente da China, tudo indica que o progresso tecnológico do Irã não tardará a levá-lo ainda mais longe.
Mísseis foram os grandes figurantes militares da Guerra Fria em seu lado de confrontação entre Estados Unidos e União Soviética; no presente são uma preciosidade também de avanços científicos e tecnoeconômicos; e são parte essencial do futuro. Vaga embora, uma noção do que está no interior disso tudo o Brasil tem, mesmo que sua tal estratégia não chegue a mais do que intenções militares. E o Brasil está mal, muito mal, em relação a mísseis.
Além do acidente que incinerou o foguetinho brasileiro e várias das personagens mais importantes do setor, nas vésperas do lançamento em Alcântara, nenhum dos compromissos de empenho então assumidos por Lula se cumpriu. Na era dos mísseis, o Brasil está enrolado em discussão para concluir se a área de uma base está afeta à Aeronáutica ou pertence a quilombolas (claro que é deles).
A Folha de sexta-feira trouxe uma notícia exclusiva de Clóvis Rossi sobre uma conversa entre os ministros do Exterior de Brasil e Irã, em Davos. Nela, disse Celso Amorim, seu colega apresentou o que denominou "novas ideias" para o enriquecimento de urânio iraniano no exterior, no grau necessário aos fins pacíficos que o governo do Irã atribui ao seu projeto nuclear. O Brasil poderia fazer esse enriquecimento, que o governo Ahmadinejad considerou inconfiável se feito na França ou na Rússia, como lhe foi proposto. Por isso mesmo as ideias podem ser novas quanto a modalidades, mas não quanto negociados enlaçamentos de Brasil e Irã.
Tecnologia de mísseis e enriquecimento de urânio trouxeram Ahmadinejad ao Brasil e devem levar Lula ao Irã. A permuta de viagens quer antecipar outras permutas. A custo internacional, para o Brasil, e institucional para a sonhada democracia brasileira, que não se pode prever em sua possível dimensão. Só em sua certa ocorrência.

GOSTOSA DO TEMPO ANTIGO

SUELY CALDAS

Mistério na Petrobrás

O ESTADO DE SÃO PAULO - 31/01/10


Há um mistério encobrindo fraudes em grandes obras da Petrobrás, e o governo Lula nunca teve consideração nem respeito pelos brasileiros de vir a público esclarecê-lo e responder às acusações do Tribunal de Contas da União (TCU) de práticas de superfaturamento e gestão temerária. O que fez, até agora, foi dar explicações vagas e fajutas, rejeitadas pelo TCU. Até mesmo o Congresso - abalado por tantas denúncias de corrupção - se envergonhou com o exagero de gastos não explicados e vetou a liberação de recursos em 2010 para parte de quatro bilionárias obras da estatal, até que as irregularidades sejam corrigidas.

Mas a obsessão do governo em esconder os fatos e seguir com as obras suspeitas levou o presidente Lula, na quarta-feira, a suspender o veto, liberar dinheiro para as obras, assumir pessoalmente o ônus político de desautorizar o Poder Legislativo e o TCU e ainda ser visto como cúmplice de aplicações indevidas de dinheiro da Petrobrás.

Espanta a omissão do governo em não apurar as denúncias do TCU. Seu papel deveria ser investigar, identificar e punir responsáveis, corrigir os valores fraudados e vir a público pedir desculpas e se explicar ao País. O assombro aumenta diante da grandiosidade dos números: por que razão, sem nenhuma explicação convincente, o orçamento da Refinaria Abreu Lima, em Pernambuco (PE), triplicou, saltando de US$ 4,05 bilhões para US$ 12 bilhões? Como responder à perícia dos técnicos do TCU, que identificaram o superfaturamento absurdo de 1.490% no pagamento de verbas indenizatórias nas obras do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro?

Um ano passou desde a conclusão de auditoria do TCU que identificou as fraudes. Em vez de criar uma comissão de inquérito na empresa para apurar as denúncias, a direção da Petrobrás tratou de construir explicações frágeis, vagas, genéricas e sem fundamentos, que não convenceram ninguém, muito menos os conselheiros e auditores do tribunal. Depois de ouvir argumentos da empresa, o TCU continuou reafirmando as fraudes.

As restrições do TCU foram conhecidas em março de 2009, mas só em 26 de agosto a direção da Petrobrás divulgou ao público sua versão. Preferiu o monólogo da nota oficial em vez de uma entrevista à imprensa em que poderia mostrar planilhas, notas fiscais, números, responder a questionamentos sem medo e não deixar dúvidas. A nota apontava quatro razões para o orçamento da Refinaria Abreu Lima ter triplicado: 1) a capacidade de refino aumentou de 200 mil para 230 mil barris/dia; 2) a variação da taxa de câmbio; 3) a adoção de um novo sistema de tratamento de gases tóxicos; e 4) o aquecimento da indústria de petróleo. Mesmo considerando que variáveis como o câmbio são estimadas e previstas no cálculo de qualquer projeto de longo prazo, seria razoável se o novo preço aumentasse em 10%, 20%, mas triplicar, sem explicar detalhes, sem apresentar provas convincentes?

Em novembro de 2009, em resposta a questionamentos da imprensa, a direção da estatal resumiu em seu blog: "Não há superfaturamento, sobrepreço ou qualquer outra irregularidade nas obras. O que se verifica nos casos apontados pelo TCU são formulações e interpretações divergentes daquelas adotadas pela Companhia." Interpretações diferentes justificam triplicar o preço? Generalidades e ausência de provas deram o tom sistemático das versões da empresa.

Depois de persistente resistência do governo e de partidos aliados, finalmente, em maio de 2009, o Senado criou uma CPI para apurar irregularidades na Petrobrás. A manipulação e o domínio do governo nos rumos da CPI, com o relator Romero Jucá (PMDB-RR) à frente, representaram a desmoralização política do Senado, humilhado e submisso aos interesses do governo de nada apurar e tudo esconder. A ponto de o ex-presidente Fernando Collor, aliado do governo, apresentar relatório paralelo reclamando por graves e sérias investigações que não foram feitas.

O Senado foi um fiasco. Mas, no papel de fiscalizador da aplicação de dinheiro público, o TCU fez o seu trabalho: identificou irregularidades nas Refinarias Abreu Lima (PE) e Presidente Vargas (PR), no Terminal Portuário de Barra do Riacho (ES) e no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro. Ouviu os argumentos da empresa, não foi convencido e recomendou o veto de verbas às obras suspeitas. Mas Lula derrubou o veto e as obras suspeitas continuarão desviando dinheiro. Este é o mistério da Petrobrás: por que não investigar as fraudes? Para onde vai o dinheiro desviado?

Suely Caldas, jornalista, é professora de Comunicação da PUC-Rio

JOSÉ SIMÃO

Socuerro! Tô com o Peru tremendo!

FOLHA DE SÃO PAULO - 31/01/10


O Peru tremeu e encheu; São Pedro tá lavando o peru! Daria pra chover água mineral?


BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto do País da Piada Pronta!
Direto do Espírito Santo: "Com 35 pontos na carteira, diretor do Detran deixa o cargo!". E direto de Campina Grande: "Homem é acusado de praticar sexo com nove galinhas e um galo". O apelido dele? RAPOSA! E sabe o que ele fez? Vestiu as galinhas com as calcinhas das primas que tavam no varal. Galinhas Vitoria Secret! Sensacional!
E a novela do Manoel Carlos? Só tem desgraça! MORRER EM VIDA! E o "BBB10"? As Big Bibas do Bial. O único hétero da casa é a sapata! E as antices antalógicas? Uma baranga para um rinoceronte de sunga: "Acho que você é bissexual". E a anta: "O que é bissexual?". Bissexual é aquilo que você pratica, mas não sabe o nome. Bissexual é fazer sexo com o bíceps. E a dlag de língua plesa: "Eu acho engraçado esse nome, pinacoteca". E outra anta: "E o que é pinacoteca?". E a dlag: "Pinacoteca é uma coleção de livros". Ah, é? E biblioteca é o quê? Coleção de bíblias? Por isso que eu digo que eles só usam o cérebro pra virar cerebridades. Cerebridades instantâneas!
E o Chávez? Chávez tira do ar seis emissoras de TV! Elas não passavam o "Chapolin". Agora na Chavezuela só vai ter a TV Chávez: "Chávez Rural", "Chávez Esporte", "Sítio do Chávez Amarelo" e "Big Chávez Brother"! E aquele emissora RCTV? Retruque o Chávez e Tente Viver!
O Peru tremeu. E encheu. São Pedro tá lavando até o peru! E um amigo tinha uma viagem marcada pra Angra. Aí o agente de viagem sugeriu como opção: Macchu Picchu. E lá ficou ele, ILHADO! Ilhado em Águas Calientes. Em São Paulo é Águas Fedentes. Daria pra chover água mineral? A música símbolo de São Paulo não é mais "Sampa" nem "Trem das Onze". É "Alagados", dos Paralamas. E o site Eramos6 lançou uma versão de "Sampa": "Alguma coisa acontece no meu piscinão/ que só quando fico ilhado na avenida São João/ é que quando cheguei comprei um jet ski".
Paulista engarrafado na enchente fica jogando batalha naval. Cada jogador tem uma cartela com um Kassab, duas Martas, três Serras e quatro Malufs. Errou, gritou "ÁGUA"!
Ops, engoliu água! E sabe qual é o novo programa de paulista? Convidar os amigos pra assistir à chuva em casa! Um amigo me disse que o Kassab tá mais perdido que capivara no Tietê. Jacques Costeau para prefeito. E atenção! Cartilha do Lula. O Orélio do Lula. Mais um verbete pro óbvio lulante. "Fraldário": local onde os companheiros cometem fraudes. O lulês é mais fácil que o ingrêis.
Nóis sofre, mas nóis goza. Hoje, só amanhã. Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

JAPA GOSTOSA

ARI CUNHA

Dinheiro da campanha

CORREIO BRAZILIENSE - 31/01/10


O ex-deputado José Dirceu, antigo chefe da Casa Civil, é a força do dinheiro que se pode pensar no governo federal. José Genoino e João Paulo fazem coro com a liderança de José Dirceu. São, por conseguinte, os responsáveis pelo mensalão que atormenta o Congresso, mas dá os votos que o presidente Lula deseja. A volta do trio financeiro arrepia os cabelos da Câmara. Ninguém pode falar do outro. Todos beneficiados. Lula, quando era constituinte, falava dos 300 picaretas da Câmara. Mas, calado, hoje não trata do assunto. Apenas confidencia que eram mais de 500. A volta dos três “mosqueteiros do Rei” dá a entender que Lula ainda é o maestro e tem a batuta na mão. Precisando de dinheiro para a eleição, já sabe a quem procurar.


A frase que não foi pronunciada

“Se você não precisa dela, pode contratar.”
Dona Dita, comparando a ajudante inútil com a Câmara Legislativa.


Pessoal qualificado
Débito do Ceará é de 166 mil profissionais com habilitação nos setores da indústria do petróleo, mineração, construção civil, naval, tecnologia da informação, siderúrgica, confecções, varejo, alimentos e bebidas. Copa do Mundo e Olimpíadas marcam as necessidades de gente qualificada.

Automóveis
Seguindo a tradição do Brasil, Fortaleza tem problemas com automóveis importados, impostos altos. A cidade não tem asfalto de boa qualidade, o que deixa deficientes os automóveis com tecnologia avançada, assim passíveis de acidentes ou dificuldades no manuseio.

Pirenópolis
Os morros de Pirenópolis estão escavados para que sejam retiradas peças de pedra arenosa, especialidade da área. Se houver chuva forte na cidade, poderão se formar lagoas no alto das serras. A tendência, nesse caso, poderá ser o esfacelamento dos morros. Como a natureza não suporta agressão, é melhor prevenir.

Câmara Legislativa
O deputado Cabo Patrício, do PT, convocou a CPI e marcou a eleição dos deputados que deveriam compô-la. A denúncia de que representantes haviam recebido importância em dinheiro, fez o presidente da Câmara Legislativa mudar de opinião. Abandonando a realidade política, desfez a convocação e marcou uma nova para outro dia. Notícia tanto pode ser verdadeira quanto maliciosa. Faltou investigar, antes, do que se tratava.

Sem preocupação
O deficit externo do Brasil está em US$ 5,91 bilhões. Empresas aumentam o lucro e os dólares vão para praças fora do Brasil. Altamir Lopes, chefe do Departamento Econômico do Banco Central, é otimista: “Não há razão para preocupações”.

Álcool
Em sendo dos grandes produtores de álcool do mundo, o Brasil amanheceu diferente. O preço subiu sob a alegação de redução de estoques. Esta coluna entende que a maneira de se desligar dos produtores é mudando o sistema até então escravagista. Entregá-lo à Bovespa será solução pacífica e longe das influências dos usineiros.

Raios
Cinquenta milhões de raios caem por ano em Brasília. É o cume de uma área sujeita às intempéries. Só o Ministério de Minas e Energia não adota providências. O número de aparelhos domésticos inutilizados é enorme. Ninguém pode pedir indenização, mesmo oferecendo a nota fiscal.

Cidade
Deixando a política, o vice-governador Paulo Octávio não quis dar muitas explicações aos jornalistas. “A cidade não pode parar”. Entendam que quem está em jogo é a cidade.

Transporte gratuito
A UnB, que possui outros câmpus, atende bem aos alunos. Adquiriu micro-ônibus para transportar gratuitamente os jovens estudantes. O reitor José Geraldo da Silva Júnior. mantém a preocupação de atender os estudantes dando-lhes condições de transporte grátis e confortável.

Estrume
A calçada da Câmara Legislativa amanheceu coberta de estrume. É a revolta dos eleitores. Jurado não pode ser réu. A organização partidária não pode estar acima da ética. Questionável a necessidade dessa Câmara na capital da República.

História de Brasília

O prefeito Paulo de Tarso recebeu um pedido importante de seu filhinho, e pôs, no pregador da gravata, uma linha de cor diferente, para não esquecer. Uma das pessoas recebidas em audiência, para ser agradável, retirou a linha do pregador de gravata do prefeito, que, assim, esqueceu do pedido de seu filho. Difícil, agora, é convencer o garoto disso. (Publicado em 24/2/1961)

REGINA ALVAREZ

Brasil na mídia

O GLOBO - 31/01/10


Que o Brasil teve grande espaço na mídia internacional em 2009 já sabemos, mas a consultoria Imagem Corporativa foi mais fundo. Quantificou e qualificou essa performance. Pesquisadores analisaram o conteúdo de 3.675 reportagens em 14 grandes publicações e a conclusão é que 81% tiveram teor positivo, mas velhos problemas como a violência e a corrupção continuam a arranhar nossa imagem. Se já sabíamos, temos agora a confirmação em números.

Primeiro, as boas notícias.

O jornalão inglês “Financial Times ” deu o maior espaço ao Brasil, entre as publicações pesquisadas, seguido do argentino “Clarín” e do espanhol “El País”. Os principais destaques foram para o Brasil como player internacional (26%); como opção de investimentos (18%); e como protagonistana América Latina (15%). Entre todos os temas abordados, a economia ocupou, com larga vantagem, o maior espaço dedicado ao país.

A crise internacional, que abalou profundamente os países ricos, deu voz aos emergentes. E o Brasil, ao lado de China e Índia, passou a ser visto com outros olhos pela imprensa internacional.

—A pesquisa mostra a consistência da imagem do Brasil lá fora e também deixa claro que o país se distanciou de seus vizinhos, principalmente Argentina e Venezuela, tornando-se protagonista na América Latina — destaca Ciro Dias dos Reis, presidente da Imagem Corporativa.

Sozinho na AL

Com alguns dos vizinhos afundando em crises políticas e econômicas, o Brasil passou a ser visto como líder isolado na região. O bom desempenho das empresas brasileiras também contribuiu para reforçar a imagem positiva. A exploração da camada do pré-sal; o empréstimo de US$ 4,5 bilhões ao FMI; e a forte recuperação da Bovespa reforçaram a indicação do Brasil para investimentos.

Visibilidade crescente


No quarto trimestre, o espaço dedicado ao Brasil aumentou muito. A participação na Conferência do Clima, Cop-15, em Copenhague, mereceu 163 reportagens na mídia internacional.

E a escolha do Rio de Janeiro como sede das Olimpíadas de 2016 rendeu 65 registros, sendo 92% positivos. Nos últimos três meses do ano, a exposição do país na mídia cresceu 67%. Foram 1.308 reportagens contra 783 do terceiro trimestre.

Em novembro, o “Financial Times” produziu um caderno especial sobre “Investing in Brazil”, dando ênfase às oportunidades de investimento em diversos setores, e a revista “The Economist” deu capa ao país com o título “Brazil takes off” (O Brasil decola).

As publicações que mais ampliaram o espaço com notícias do país foram “The Economic Times of India” (300%), “The New York Times” (223,5%) e “The Economist” (215,8%).

Velhos problemas

Em outubro, a derrubada do helicóptero da polícia por traficantes no Rio foi parar nas páginas do jornal japonês “Asahi Shimbun”, ganhando destaque no “New York Times” e no “El País”. Os escândalos do Senado também ocuparam espaço na mídia estrangeira, vinculando, mais uma vez, o país à corrupção. A visita do presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, ao Brasil também foi noticiada, com enfoque negativo.

O apagão de energia, que deixou o Brasil perplexo, repercutiu lá fora. O argentino “Clarín” registrou com ceticismo as explicações do governo, duvidando, assim como nós, que a natureza era a única culpada. A boa notícia é que as notícias ruins foram perdendo espaço na mídia internacional, ao longo do ano: de 27% no primeiro trimestre, caíram para 17% no último.

COM ALVARO GRIBEL

UM PUTEIRO CHAMADO BRASIL

MERVAL PEREIRA

Um processo virtuoso

O GLOBO - 31/01/10


DAVOS. Ao contrário do governo brasileiro, que faz questão de ressaltar os avanços alcançados no desenvolvimento do país a partir dos resultados obtidos nestes sete anos, sem olhar o que foi feito anteriormente, a visão generalizada aqui em Davos é que o país está em um processo de desenvolvimento contínuo que pode ser contado em duas décadas, o que só dá solidez às conquistas.

O professor John Coatsworth, reitor da escola de Negócios Internacionais da Universidade Columbia, em Nova York, um historiador especializado em economia da América Latina, ressaltou essa continuidade do processo de desenvolvimento do Brasil chamando a atenção para os fatores que, na sua opinião, impediram que o país continuasse seu ritmo de crescimento registrado no início do século 20.

Para Coatsworth, o Brasil parou seu crescimento, obtido ao longo dos 80 anos iniciais do século 20, devido basicamente ao protecionismo adotado como política de governo nos anos 1930, e ao descontrole da inflação durante décadas seguidas.

Sem dizer claramente, o professor de Columbia situou o encontro do Brasil com seu futuro em decisões de governos recentes: a abertura da economia, iniciada no governo Collor e aprofundada na gestão de Fernando Henrique, e no controle da inflação obtido com o Plano Real.

O Brasil, na verdade, já teve crescimentos sustentados do PIB de níveis asiáticos: de 1950 a 1959, média de 7,15%; de 1960 a 1969, média de 6,12%; e de 1970 a 1979, de 8,78%.

Ao analisar o crescimento de nossa renda per capita, o empresário Paulo Cunha mostra num estudo que, até 1980, o Brasil cresceu mais que a média mundial: de 1900 a 1980, a renda per capita brasileira cresceu em média 3,04%, enquanto a renda mundial cresceu 1,92%.

O período de maior crescimento foi o de 1950 a 1980, quando o país cresceu em média 4,39% sua renda per capita, para um crescimento médio mundial de 2,83%.

Nesse período, o Brasil figurou entre os dez países mais dinâmicos do mundo.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, para tentar rebater elegantemente uma provocação em um dos debates sobre ser a política econômica do governo Lula uma mera repetição da do governo de Fernando Henrique Cardoso, apresentou números do crescimento da economia nos últimos anos.

Disse que a média dos oito anos do governo Fernando Henrique foi de 2,5% de crescimento do PIB, enquanto o governo Lula caminha para o dobro.

Há, no entanto, nuances nesses números. O crescimento médio da economia brasileira nos cinco primeiros anos do governo Lula, por exemplo, foi de 3,8%, colocando o Brasil em 35olugar em uma relação com 39 países emergentes feita pela Austin Ratings.

A partir de 2007, o Brasil entrou em um crescimento anual em torno de 5%, mas outra vez há que se relativizar esse sucesso. Mesmo o crescimento de 6,1% de 2007 coloca o Brasil em desvantagem se considerados todos os países do mundo.

Em 2008, o país cresceu 5,1%, mas, em 2009, o crescimento será próximo de zero, ou mesmo negativo. Se se confirmar a previsão do governo de crescer 6% este ano, é possível que a média final de crescimento do governo Lula seja próxima de 4%.

Um crescimento menor, por volta de 5%, por exemplo, levaria a média do governo Lula para um patamar por volta de 3,5%, que esteve sempre abaixo da média do crescimento mundial, com o agravante de que os primeiros anos do governo Lula, antes da crise internacional, foram os mais prósperos do mundo nos últimos anos.

Um ponto positivo, que foi destacado pelo presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, é o de que o “crescimento potencial” do Brasil, que, no início do governo Lula, era de cerca de 1,5%, hoje já está por volta de 5%, o que mostra a evolução dos investimentos públicos e privados, e a melhoria dos fundamentos econômicos.

Outra questão importante que foi levantada nos debates das perspectivas futuras do Brasil foi a competitividade da economia em relação ao mundo globalizado.

O Fórum Econômico Mundial, como faz todos os anos, lançou um ranking de competitividade dos países. A China continua predominando entre as grandes economias em desenvolvimento, se posicionando entre as 30 economias mais competitivas do mundo.

Entre os outros Brics, Brasil e Índia também registraram avanços, enquanto a Rússia perdeu nada menos que 12 posições. O Brasil ganhou oito posições, ultrapassando o México pela primeira vez no relatório, depois de ter superado a Rússia no ano anterior.

A melhora na competitividade brasileira, segundo o estudo do Fórum, embora o país esteja em 56o, superado na América Latina pelo Chile e pela Costa Rica, é fruto do setor empresarial “inovador e sofisticado”, do tamanho de seu mercado interno e da melhora na estabilidade macroeconômica.

Outras características vantajosas do Brasil são ter um dos mercados financeiros mais desenvolvidos na região e um setor de negócios diversificado, com significativo potencial para a inovação.

O estudo do Fórum Econômico Mundial aponta falhas que precisam ser corrigidas: o ambiente institucional, a estabilidade macroeconômica, a eficiência dos produtos e os mercados de trabalho.

Além, é claro, do sistema educacional precário.

Ricardo Hausmann, venezuelano e ex-ministro de governos da era antes de Chávez, e opositor claro do atual regime, hoje professor na Universidade Harvard, cobrou uma posição do Brasil em defesa dos princípios democráticos na região.

Uma consequência do reconhecimento do aumento da capacidade de influência do Brasil no mundo, a partir do princípio de que o país tornou-se, de fato, o líder regional indiscutível.

Mas isso traz também responsabilidades políticas que muitas vezes não têm correspondência nas atitudes do governo.