segunda-feira, março 16, 2009

EDITORIAL

Agora, não dá mais

O Estado de São Paulo - ontem

Não é de hoje que se sabe que a competência do governo Lula para tocar os seus projetos é inversamente proporcional à sua capacidade de falar deles como se fossem fatos consumados. Parafraseando um dito conhecido, estará no lucro quem comprar o governo pelas suas realizações e vendê-lo por suas promessas. É bem verdade que a distância entre intenções e resultados é um dado da realidade do setor público em geral, onde "tirar as coisas do papel" é uma dor de cabeça crônica para os governantes de todas as tendências. Mas não tem paralelo na crônica da administração federal brasileira o contraste, sob o lulismo, entre a celebração exacerbada dos seus programas e a sua efetiva materialização - salvo, justiça se lhe faça, no caso do Bolsa-Família. A retórica presidencial, cada vez mais compartilhada pela pré-candidata Dilma Rousseff, daria a um marciano recém-chegado à Terra a certeza de que nunca antes na história deste país houve um governo tão operoso.

A rigor, é o que parecem achar os muitos milhões de brasileiros que endeusam o presidente, porque o seu carisma e talento incomum para a comunicação os levaram a crer que a ele devem tudo o que melhorou nas suas vidas nos últimos anos. Vá-se explicar àqueles novos membros da classe média que os correspondentes estrangeiros vivem entrevistando para ilustrar as mudanças no País que o seu ídolo, como ele próprio já se permitiu admitir, teve a sorte de estar no lugar certo no período de maior bonança da economia mundial, cujos principais beneficiados foram as nações chamadas emergentes, como o Brasil. Enquanto durou a idade de ouro, a Lula praticamente bastava o palanque; o dinamismo da economia global, na qual estamos inseridos, se incumbia do resto. Agora que, da noite para o dia, as coisas mudaram dramaticamente de figura, quando a ação governamental se torna crucial, o que se vê é mais do mesmo: tapumes de palavras escondendo a inaptidão em levar as mãos à obra.

Tome-se o programa de construção de 1 milhão de moradias até 2010, imaginado como a iniciativa por excelência do Estado para ativar a economia, criar empregos e reduzir o déficit de habitações para a população de baixa renda, fazendo girar ao todo cerca R$ 70 bilhões. O formato do programa deveria ter sido apresentado em 20 de janeiro. Depois de sucessivos adiamentos, fala-se agora na última semana de março, "se todas as pendências forem resolvidas", algo altamente improvável, segundo especialistas familiarizados com a profusão de questões ainda em aberto. Mas desde quando isso é problema para o governo contar vantagem? Em uma das três palestras de cunho eleitoral que promoveu na quarta-feira - esta para políticos do Nordeste -, a ministra Dilma Rousseff prometeu que as novas casas - pelas quais os mais pobres entre os futuros proprietários pagarão apenas uma prestação simbólica - serão entregues em 11 meses, em vez dos habituais 33, a contar da compra do terreno. Faltou explicar como se chegará a essa proeza.

O Planalto comemora por antecipação, mas, como diria Garrincha, ainda não combinou "com os russos" - construtoras, Estados e municípios, instituições como a Caixa Econômica e o BNDES. E as dúvidas decorrentes dessa decisão de abreviar para 11 meses o prazo de construção são mais numerosas e complexas do que os "detalhes técnicos" a que as fontes do governo querem reduzi-las. Nem sequer está claro o nível de renda, medido em salários mínimos, até o qual as famílias beneficiadas farão jus aos robustos subsídios de mais de R$ 20 bilhões no total, de que fala a ministra. Além disso, a intenção é tolerar inadimplência de até 36 prestações, mas não se decidiu a origem dos recursos do fundo garantidor do crédito que cobrirá os pagamentos não efetuados. Permanecem também nebulosas questões como a do seguro dos financiamentos e a da linha especial de crédito para a infraestrutura das áreas onde serão erguidas as casas.

A menção das dificuldades a superar não pretende sugerir que o programa seja necessariamente fantasioso ou inexequível. O ponto, que o retrospecto da era Lula obriga a ressaltar, é a desenvolta, irresponsável ligeireza com que os seus integrantes "inauguram" obras cuja concretização depende de um insumo notoriamente escasso nesse governo: competência.

Antes do tombo de 3,6% essa escassez era disfarçada com discurso. Agora, não dá mais.

PAINEL

Classificados Infraero


Folha de S. Paulo - 16/03/2009
 

Superavitária pela primeira vez em anos e dona de generosos recursos para reformar aeroportos, a Infraero entrou na mira do PMDB. A presidência ficará vaga em julho, quando o brigadeiro Cleonilson Nicácio voltará para a FAB -movimento obrigatório para que ele fique em condição de suceder o comandante Juniti Saito em 2010.
Nicácio defende uma blindagem da cúpula da estatal, vetando indicações políticas para quatro de suas cinco diretorias. A proposta será analisada pelo Conselho de Administração. Em 2008, a Infraero teve R$ 400 milhões para investimentos.

Alhos e ....
Causou mal-estar entre jornalistas no encontro Lula-Obama a presença do grupo humorístico do "CQC", credenciado pelo Itamaraty. No hotel Four Seasons, em Washington, eles atrapalharam os repórteres ao entregar a Lula camisa de basquete com as cores da seleção e o nome de Obama. 

...bugalhos
Na entrevista coletiva na residência do embaixador do Brasil, foi deles a última pergunta, sobre a volta à cena política de Collor, com ajuda de Sarney. Lula respondeu: "As pessoas que são eleitas precisam ser respeitadas porque os eleitores delas têm a mesma importância dos que votaram em mim." 

Freezer
Vendido meses atrás como ideia genial, o programa Bolsa-Geladeira patina no governo. Os ministros Edison Lobão (Minas e Energia) e Carlos Minc (Meio Ambiente) não se entendem. 

Sem rastro
Investigado na Corregedoria da Câmara por suspeita de uso irregular da verba indenizatória, Edmar Moreira, o deputado do "castelo", desde janeiro não declara seus gastos à Casa. 

Prêmio
José Serra (PSDB) anunciará na quarta que mais de 70% das escolas da rede paulista cumpriram em 2008 as metas da política de bônus por mérito. Professores e funcionários das escolas que atingiram as metas receberão 2,4 salários a mais até o final do mês. Nas que superaram, o bônus será de 2,9 salários.

Patamar
Além de pedir a entrada da Polícia Federal no caso, a bancada do PT na Assembleia gaúcha levará as denúncias de escutas ilegais no governo para a CPI dos Grampos, onde, acredita-se, Yeda Crusius (PSDB) não teria como interferir na investigação. 

Memória
Em 2008, quando se filiou ao PSDB, o então ouvidor da Segurança Pública do RS, Adão Paiani, afirmou: "Yeda tem coragem para enfrentar os problemas e dá espaço para o cidadão". Foi ele quem apontou um esquema de grampos no governo. 

Baralho
A súbita convergência de petistas em torno da pré-candidatura a governador do prefeito de Osasco, Emídio de Souza, indica que o PT-SP não quer jogar com uma carta só. Caso a opção Antonio Palocci não se materialize, o partido evita ficar refém de uma indicação "vinda de cima". Como Fernando Haddad. 

Heterodoxo
Enquanto o partido discute nomes, o prefeito de São Bernardo do Campo, Luiz Marinho, defende que o PT analise a hipótese de abrir mão de encabeçar uma chapa se os aliados viabilizarem um candidato. 

Tudo por ela
Marinho sugere que se faça uma pesquisa para testar a ideia e que o PT priorize a formação de um palanque robusto para Dilma Rousseff no Estado. "O partido poderia abrir mão de ter candidato em São Paulo, se houver um nome aliado que o eleitorado aprove." 

Em tempo
O
s apoiadores do presidente da Fiesp, Paulo Skaf, em vias de se filiar ao PSB, vendem sua pré-candidatura como "segundo palanque da Dilma em São Paulo". 

Tiroteio

"O PSDB trata o PT como quem acredita que se der alface o leão vira vegetariano. Quando abrir a jaula, o animal engole o dono sem cerimônia." 
Do deputado 
RONALDO CAIADO (GO), líder do DEM na Câmara, criticando o que chama de "cardápio light" da oposição tucana.

Contraponto

Modéstia à parte

Congressistas do DEM e do PSDB chegaram a Brasília empolgados, na terça, depois de assistirem em São Paulo a uma palestra do neurocientista norte-americano Drew Westen, autor do best-seller "O Cérebro Político" e um dos consultores de Barack Obama na campanha.
-Foi ótimo! Ele explica erros e acertos com exemplos muito concretos-, elogiou o "demo" José Carlos Aleluia.
Aloizio Mercadante (PT-SP) entrou na conversa:
-Esse livro é realmente imperdível! Mas a melhor parte é a apresentação da edição brasileira...
Os repórteres que estavam por perto quiseram saber de quem era a introdução, e Mercadante, solícito, informou:
-Minha! Espero que os tucanos tenham gostado...

CARLOS ALBERTO SARDENBERG

É a política, estúpido!


O Estado de S. Paulo - 16/03/2009
 

Na primeira eleição de Bill Clinton, em 1994, quando perguntavam ao seu principal assessor, James Carville, qual o mote da campanha, ele repetia: "É a economia, estúpido!".

Os EUA estavam em recessão, com perdas de emprego, era fácil atacar o Bush pai por isso.

Em 2008, Obama também se elegeu principalmente com a economia. Se os eleitores americanos tinham alguma dúvida sobre a necessidade de mudança, a crise econômica acabou com ela.

A diferença é que, na era Clinton, a recessão era muito branda e, para falar a verdade, a recuperação já estava a caminho no momento do voto. Poderosas forças da economia real começavam a agir, como a tecnologia da informação (com seus ganhos de produtividade), a ampliação da globalização (com a entrada dos ex-países socialistas no capitalismo e no comércio mundial), a expansão da China e, claro, o sistema financeiro que espalhava capitais abundantes e baratos pelo mundo todo. Tanto que Clinton pôde forçar as agências hipotecárias a relaxar os critérios de concessão de empréstimo para a compra da casa própria, política que, antes de gerar o crash do subprime turbinado no sistema financeiro, promoveu anos de crescimento da construção civil.

Ou seja, Clinton assumiu no início de um fantástico ciclo de prosperidade. 

Obama topa com um problema de dimensões inimagináveis até bem pouco tempo atrás, e com um enorme obstáculo político: ele sabe que a solução passa pelo resgate do sistema financeiro com dinheiro público, mas sabe também que o público americano está farto dessas ajudas aos bancos.

Na mídia e na política, frequentemente a coisa aparece como "dinheiro do contribuinte para salvar banqueiros inescrupulosos e ladrões". E não é mesmo assim? - dizem todos diante da condenação de Madoff.

Aliás, na última sexta-feira, em meio à cobertura desse caso, o New York Times notava que os tabloides americanos, normalmente dedicados à vida das celebridades, estavam ocupando suas páginas com histórias da farra da "América corporativa e financeira". 

Tudo isso adiciona obstáculos à política de resgate do sistema financeiro. Torna-se difícil distinguir entre gastar dinheiro público para colocar em funcionamento bancos e sistemas financeiros, dos quais depende toda a atividade econômica, e doar dinheiro do contribuinte que perdeu o emprego para banqueiros bandidos.

O bilionário Warren Buffet, eleitor, amigo e colaborador de Obama, disse em entrevista recente à TV CNBC: "Há mensagens confusas e o público americano não entende... Eles sentem que não sabem o que está acontecendo e sua reação é a de se retrair... (a saída) depende enormemente não apenas da sabedoria das políticas do governo, mas da maneira pela qual são comunicadas adequadamente".

Em São Paulo, na semana passada, um ex-diretor do Fed (o banco central americano), Frederic Mishkin, disse que o governo Obama, por medo da reação popular à ajuda aos bancos, está atrasando movimentos mais firmes. E se arrisca a cair em medidas que simplesmente empurram o problema para a frente (impedem a quebra dos bancos, mas não resolvem a falta de capital). Foi o que o Japão fez nos anos 90. Levou mais de dez anos para resolver a crise bancária, um período todo de recessão.

É como se o Obama soubesse o que tem de fazer, mas não faz por temor da reação popular. Logo, é a política, estúpido - ou é a comunicação, estúpido. 

Obama obviamente sabe desse obstáculo. Há poucos dias, apresentou desculpas antecipadas por "ser obrigado" a resgatar os bancos. Disse que era penoso ajudar um setor que ganhara tanto dinheiro e causara tantos problemas, disse que compreendia o mal-estar dos contribuintes, mas o que se vai fazer? 

Políticos frequentemente topam com esses dilemas: as políticas cujos resultados positivos aparecem a médio e a longo prazo e cujos efeitos imediatos são ou parecem danosos.

Não precisa ir longe para encontrar exemplos. Eles sobram aqui no Brasil. Hoje, todo mundo diz que o sistema financeiro brasileiro é sólido, bem regulado e capitalizado, por isso suporta a crise. O presidente Lula alardeia isso mundo afora. Mas procurem no Google o que o mesmo Lula dizia do Proer, o programa que, nos anos 90, salvou os bancos e o sistema. 

Hoje, todo mundo alardeia as forças modernas da economia brasileira, como telecomunicações e companhias exportadoras (Vale, Embraer, por exemplo). Mas procurem lá atrás o que se dizia da privatização desses setores e empresas.

Aliás, na semana passada, saiu a primeira sentença absolvendo Luiz Carlos Mendonça de Barros, ex-ministro das Comunicações, e outros executivos que haviam comandando a privatização da Telebrás. Diz a sentença que todos agiram em nome do interesse público e acrescenta que nem os denunciantes, os petistas Aloizio Mercadante e Ricardo Berzoini à frente, nem o Ministério Público apresentaram provas.

Na verdade, os denunciantes não estão mais interessados nisso. No governo, estão mais ocupados em gerir o setor e ajudar a montar grandes companhias.

Alguns dirão que a força do sistema financeiro brasileiro está nos bancos públicos que FHC não conseguiu privatizar. Falso. Assim como o Proer arrumou o setor privado, outro programa, o Proes, reformou e capitalizou os bancos públicos (R$ 8 bilhões, dinheiro de 10 anos atrás, só para o Banco do Brasil), deixando-os prontos para a atuação atual.

Mas Gustavo Loyola, que, como presidente do Banco Central, pilotou essas políticas, ainda tem um caminhão de processos a responder.

Sempre se comentou que o governo FHC não conseguiu comunicar suas políticas. Warren Buffet está dizendo coisa semelhante para Obama.

O IDIOTA


SEGUNDA NOS JORNAIS

Globo: Presidência gasta 405% mais com cartões

 

Folha: Chávez manda Exército ocupar portos da oposição

 

Estadão: Após corte de juro, BC força baixa no spread bancário

 

JB: Zona Norte mais verde

 

Correio: Brasiliense já enfrenta 60km de engarrafamento diariamente

 

Valor: Governo prepara pacote de ajuda aos frigoríficos

 

Gazeta Mercantil: Petróleo deixa o Brasil mais próximo dos EUA