sábado, maio 01, 2010

FELIPE PATURY

REVISTA VEJA
Panorama

Holofote


Felipe Patury
Marcos Issa
O forró de Dilma
Para ganhar a eleição deste ano, a petista Dilma Rousseff precisa abrir uma ampla dianteira no Nordeste, um reduto governista. A fim de medir a permeabilidade dos eleitores locais ao discurso da candidata oficial, o Instituto Análise, de Alberto Carlos Almeida, identificou suas demandas. Entre os ouvidos, 44% dizem que a criação de empregos e o aumento dos salários na região deveriam ser as prioridades do próximo presidente. As obras de infraestrutura aparecem em segundo lugar, com 34%. Em terceiro, com 9%, vem a melhora da saúde. Os programas sociais e de combate à fome, duas peças de resistência do governo do PT, são mencionados por apenas 3% dos entrevistados, cada um.

Cristina Gallo/
Bg Presss
Deserto de ideias
O ministro da Ciência e Tecnologia, Sergio Rezende, teve uma iluminação no deserto. Em uma visita ao Irã e à Jordânia, decidiu identificar os cientistas brasileiros de origem árabe. Para agradar aos novos parceiros do Itamaraty, expediu ofícios para universidades, cobrando a informação. Os pedidos espantaram a academia, que teme misturar conhecimento com etnia 
e religião. Ainda assim, foram atendidos. Resultado: são dezoito os pesquisadores de origem árabe. Uma pequena informação ao ministro Rezende: iranianos não são árabes.

Roosewelt Pinheiro/ABR
A luta pela banda larga
A substituição de Hélio Costa por José Artur Filardi no Ministério das Comunicações deflagrou disputas por cargos na pasta. O PT requer a presidência da Telebrás, considerada estratégica para a execução do plano nacional de disseminação de banda larga. O candidato do partido é Rogério Santanna, secretário de Logística e Tecnologia da Informação do Ministério do Planejamento. Costa e Filardi arregimentam aliados no PMDB para barrar sua indicação e manter no posto o atual presidente da estatal, Jorge Motta.

Leo Drumond/
Ag Nitro
O time do candidato
Em 2007, o presidente mundial da Fiat, Sergio Marchionne, visitou o então governador paulista José Serra, do PSDB. Serra aproveitou a ocasião e pediu patrocínio a seu time, o Palmeiras. Há dois meses, o executivo voltou ao Brasil e perguntou pelo patrocínio. Ficou inconformado ao saber que o contrato só durara um ano. "Ele pode ser presidente!", reclamou. A Fiat, agora, propôs ao Palmeiras pagar 20 milhões de reais por ano até 2011, para anunciar na camisa de seus jogadores. O atual patrocinador, a Samsung, tem até esta semana para dizer se cobre ou não a proposta.

Marcia Gouther/
Folha Imagem
O clube dos petroleiros
Duas dezenas de países constroem petroleiros. Há dez anos, o Brasil não constava da lista. Em abril, tornou-se o quarto maior fabricante do mundo, de acordo com a empresa britânica Clarksons. A posição foi alcançada com 49 encomendas feitas aos estaleiros nacionais. A médio prazo, a indústria prevê fechar contratos para mais duas dezenas desses navios. Só a estatal Transpetro, presidida por Sergio Machado, planeja comprar dezenove. Galgar novas posições no ranking de construtores demandará um esforço ainda maior do país. A líder Coreia do Sul tem 650 barcos nos estaleiros. A China, segunda colocada, tem 460, e o Japão, 240.

Silvia Constanti/Folha Imagem
Eike está com fome de minério
Há dois meses, o bilionário Eike Batista vendeu 21% da mineradora MMX para a chinesa Wisco. Firmou um contrato que o obriga a fornecer minério de ferro para seu sócio até 2030. Problema: ele pode não ter produto suficiente para cumprir o acerto. A empresa de Eike depende de duas minas em Minas Gerais. A produção da Bom Sucesso deve se esgotar em três ou quatro anos. A outra, chamada Serra Azul, tem minério suficiente, mas não pertence à MMX. Ela foi arrendada e deve ser devolvida em 2021. Por causa dessa situação, Batista passou a assediar a CSN, a Usiminas e a Ferrous, detentoras de boas jazidas. As três estão dispostas a fazer negócio, mas por preços muito superiores aos de mercado.

JOSÉ SIMÃO

Ueba! Vai ter a Festa do Viagra!
JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SÃO PAULO - 01/05/10


O único que não precisa de Viagra é o técnico Dunga. Porque ele já é cabeça dura! Rarará!



BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto do País da Piada Pronta! E olha como o brasileiro é cordial: "Propriedade Particular! PITBULL COM AIDS!". Rarará!
E ainda tem gente com medo da Coreia da Norte! E do presidente do Irã! E diz que o Lula acordou superfeliz, dando pulinhos: "Galega, Galega, acorda, eu sou um dos mais infruentes do futebó. Saiu na revista "Time". Só não sou o número um porque não sou golero". Rarará!
"Semana Oficial do Sexo." Primeiro o ministro da Saúde, o Temporão: "Sexo combate a hipertensão". A hipertesão! E um leitor mandou avisar ao Temporão que faz um temporão que ele não faz sexo! E um outro disse que ele tá ótimo: deu uma 14/10 na patroa e uma 12/6 na vizinha.
E agora quebraram a patente do Viagra. Isso é o que eu chamo de ação casada! Viagra mais barato. Festa do Viagra. Festa da Uva, Festa do Figo e Festa do Viagra. Tava muito caro mesmo. Pagar 30 paus para levantar um? Rarará!
Viagra mais barato para quem tá duro! Genérico do Viagra é o milho: você bota o milho no umbigo e o pinto sobe para comer! E Viagra mais barato é superfundamental: um amigo diz que sem Viagra ele não consegue levantar nem falso testemunho! O único que não precisa de Viagra é o Dunga. Porque já é cabeça dura! Rarará!
E uma amiga minha disse que sua vida sexual tá tão chocha que, quando acontece alguma coisa, rola bolo e brigadeiro no final. Viagra mais barato. Mas não é por isso que precisa toma overdose. Olha o coração!
Senão vira manchete de jornal: "Tomou Viagra e caiu duro!". Rarará!
E mais uma piada pronta: "CBF quer restringir ação dos humoristas nos treinos da seleção". Medida apoiada pelo dirigente da ABI, Mauricio AZEDO. O Azedo não quer humor. Humoristas só em campo. O ataque da seleção já é um ataque de riso! É mole? É mole, mas sobe. Ou como disse aquele outro: é mole, mas rela para ver o que acontece.
Antitucanês Reloaded, a Missão. Continuo com a minha heroica e mesopotâmica campanha Morte ao Tucanês. É que em Pouso Alegre, Minas Gerais, o dono de um bar 24 horas estendeu a faixa: "Fechado por motivo de preguiça". Ueba! Mais direto, impossível. Viva o antitucanês. Viva o Brasil!
E atenção. Cartilha do Lula. O Orélio do Lula. Mais um verbete pro óbvio lulante. "Gramático":
companheiro viciado em comer grama. Tradução: DUNGA! O lulês é mais fácil que o ingrêis.

CELSO MING

A Petrobrás chama capital
Celso Ming 
O ESTADO DE SÃO PAULO - 01/05/10

A Petrobrás decidiu não esperar mais. Vai realizar a operação de capitalização da ordem de R$ 110 bilhões (ou US$ 60 bilhões)até o fim de julho. Em entrevista exclusiva a esta Coluna,o diretor financeiro, Almir Barbassa, avisa que a Petrobrás está segura de que, até o fim de maio, sairá a aprovação do Congresso
para o projeto de lei que garante a operação de cessão onerosa de 5 bilhões de barris de petróleo de propriedade da União à estatal.“Se, apesar de nossa aposta, essa aprovação não sair, teremos de fazer a capitalização de outro jeito.”
A cessão onerosa é a maneira pela qual aUnião vai transferir à Petrobrás os 5 bilhões de barris que se encontram nas jazidas do pré-sal (in situ). Esse volume de petróleo corresponderá à parcela que o Tesouro subscreverá no capital da empresa, não em dinheiro, mas em petróleo.O projeto do governo federal prevê que a cessão onerosa se faça primeiramente com o repasse de títulos de dívida pública, que,em seguida, servirão para a Petrobrás pagar o petróleo que receberá da União.
Barbassa explica que a decisão tomada ontem não é um plano B. “É o mesmo plano,com algumas modificações.”
Uma dessas modificações tem a ver com o preço (de referência) do barril pelo qual será feita a transferência. Ele será determinado pela certificação a ser
apresentada nas próximas semanas pela consultoria americana especializada
DeGolyer&MacNaughton, já contratada pela Petrobrás.
Na semana passada, a Agência Nacional do Petróleo(ANP)abriu licitação para uma certificação oficial que deverá ser contratada no final de maio. Como o resultado dessa certificação só sairá em setembro ou outubro e a Petrobrás tem
pressa, o Conselho de Administração da empresa autorizou ontem a capitalização
nas condições de preço a serem definidas pela DeGolyer.
Barbassa não acredita em que haja diferença relevante entre os resultados da
avaliação dos preços do petróleo da União a serem apresentados pelas duas
consultorias.“Um dos principais fatores que poderia determinar diferenças significativas seria o risco de reservatório, ou seja, a existência ou não do volume pretendido(5 bilhões de barris). Mas esse risco não existe,porque,em caso de insuficiência de volume, a União se comprometerá a fornecer petróleo de outro reservatório. Se houver diferença,faremos um ajuste”, disse. Do ponto de vista do preço de subscrição das ações, a diferença a ser ajustada é pouco relevante. Ela só teria importância no acerto do preço final dos 5 bilhões de barris que a Petrobrás terá de pagar à União.
Mais mudanças. Outra novidade na decisão da Petrobrás é o tratamento a ser dado aos direitos de subscrição que não vierem a ser exercidos pelos atuais acionistas. A decisão é abrir a subscrição das sobras a qualquer interessado,
dando-se, no entanto, prioridade de exercício para os acionistas. A subscrição
adicional será feita, portanto, por oferta pública, assegurada a prioridade
para quem já possui ações da estatal.
Embora essa deva ser a maior operação de capitalização de uma única empresa em todos os tempos, Barbassa avisa que a Petrobrás tem certeza do seu sucesso: “Basta ver o entusiasmo suscitado no exterior pela capitalização do
Banco do Brasil.”
Se a Petrobrás fosse esperar pelos resultados da certificação do petróleo a
ser encomendada pela ANP,a capitalização teria de ser feita em duas etapas,
a primeira, imediata, sem a cessão onerosa, de US$20 bilhões a US$25 bilhões; e a outra, a da cessão onerosa, no valor de US$ 30 bilhões a US$ 40 bilhões. “Mas o risco de desgaste seria alto e a primeira etapa do processo poder ia ser fortemente prejudicada pelas dúvidas que se levantariam em relação à segunda etapa.”
Barbassa não entende que a queda de preços das ações na Bolsa (neste ano, de 11%, no caso das ordinárias,e de 10%,no caso das ações preferenciais) atrapalhe a operação de capitalização. “É normal que os preços sejam jogados para baixo antes do encerramento do processo. Pode até ser um estímulo adicional para
a subscrição.”
O diretor afirma que a disposição do Tesouro é a de subscrever todas as sobras que eventualmente não tiverem interessados, inclusive as ações preferenciais(sem direito a voto).
Somente a subscrição da Petrobrás pelos acionistas estrangeiros poderá trazer cerca de US$ 20 bilhões para o Brasil. Esse é um volume que deverá alterar as projeções de entrada de investimentos estrangeiros no País.

BANDIDOS

UM PARTIDO SUJO

MERVAL PEREIRA

Touraine: Serra é continuidade

Merval Pereira
O GLOBO -01/05/10

O sociólogo francês Alain Touraine, diretor de estudos da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais de Paris, foi professor do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e conhece o presidente Lula há bastante tempo, a ponto de ter atuado para que a transição de poder entre os dois se desse da maneira como ocorreu, que ele classifica de “generosa” por parte do tucano.

O sucesso do país, inclusive no campo internacional, Touraine atribui justamente a uma continuidade de projeto político, já que, numa análise mais aprofundada, ele está convencido, não é de hoje, de que os períodos de Fernando Henrique Cardoso e de Lula são parte de um mesmo projeto.

Aqui em Córdoba, onde participou da Conferência da Academia da Latinidade, Touraine me disse que o Brasil está encontrando uma maturidade como nação, com um mercado interno forte e elementos de economia avançada.

O consenso entre as forças políticas sobre a necessidade de combinar políticas realistas na economia e preocupação com a melhoria social tem prevalecido nestes últimos 15 anos, e a isso o professor francês atribui a continuidade dos avanços.

Mas Touraine acha que depois de um presidente com tanta força pessoal como Lula, “há uma certa necessidade de se retomar um processo político mais substancial”.

Ele comenta que não conhece “essa senhora” (referindo-se à candidata Dilma Rousseff), “mas dizer apenas que é a candidata do Lula é uma definição vazia, é preciso preencher com uma ação política”.

Pelo que tem acompanhado, Touraine acha que a figura pública de Dilma está sendo apagada pela de Lula, e não acha que essa seja uma crítica a Lula: “Ele é muito bom para ter um sucessor”.

O professor francês ressalta que no Chile aconteceu a mesma coisa, Bachelet saiu com 80% de popularidade, e “o outro lado ganhou porque teve uma ação política mais substancial”.

Na análise de Alain Touraine, o Brasil vem desenvolvendo um processo muito bem sucedido de ampliar seu espaço, de construir não mais um EstadoNação, “mas um Estado no mundo”.

Depois de Lula ter dado ao povo a sensação de que estava realmente no poder, depois de um governo tão popular, há que se tratar de outros problemas, adverte Touraine, que defende que é preciso retomar o projeto exitoso de reorganização do país.

Ele admite que substituir um líder carismático como Lula “por um político do tipo sério como o Serra” pode ser um problema, se bem que ressalva que seu amigo Serra está menos sério do que nos primeiros anos de carreira política como economista.

Sobretudo Touraine acha que é importante retomar um projeto de institucionalização da democracia no país, e isso compreende reforçar a organização do Estado, que ele considera que foi relegada a segundo plano por Lula.

“Agora no segundo governo houve menos PT e mais Lula, e deu mais certo do que antes. Com Lula fora do governo, é um perigo o PT voltar a ter poder.

Seria melhor que ganhasse o Serra, que tem mais experiência, mais pulso forte”, comenta Touraine.

O sociólogo francês continua preocupado com a reforma do Estado, que considera que avançou com Fernando Henrique e sofreu um retrocesso com o clientelismo e o empreguismo para “os companheiros” do PT.

Touraine acha que é hora de retomar as reformas estruturais de modernização do Estado brasileiro para atingir uma capacidade administrativa que ele vê no Estado chileno, para dar o exemplo regional.

Na visão de Touraine, o sentido de continuidade das políticas públicas tem marcado os últimos anos, mas os governantes não podem se satisfazer em apenas acelerar as reformas sociais que foram feitas.

O próximo governo teria que fazer reformas de estruturas nas grandes cidades, sobre o transporte, habitação, medidas que Touraine já cobrava do atual governo Lula, e Serra está mais capacitado para essa tarefa depois de ter sido governador de São Paulo.

O Brasil, após a fase que ele já chamou de “socialdemocrata moderada” e o êxito de Lula na sucessão de Fernando Henrique, está entrando na modernidade, o que permitirá uma continuidade de políticas em um ambiente institucional organizado.

Alain Touraine está convencido de que tanto Fernando Henrique quanto Lula usaram o conjunto de forças de centro-direita para organizar um sistema político que está funcionando muito bem.

A continuidade dessa política, mesmo que com diferenças de estilo de agir, é o que garante o sucesso do país, e ele considera que o candidato tucano, José Serra, pode perfeitamente representar essa continuidade mesmo sendo de oposição.

Ele acha que, já desde o governo de Fernando Henrique, o Brasil viu ampliarse sua ação no mundo, colocando-se como um dos protagonistas da nova estrutura de poder internacional.

Ele vê o Brasil como uma exceção na América Latina, mas cita o Chile e a Colômbia como países da região que estão bem colocados no novo mundo globalizado, embora não tenham a dimensão política nem econômica do Brasil, que, por isso, surge como a grande potência regional. (Amanhã, o Brasil e o mundo)

RUTH DE AQUINO

REVISTA ÉPOCA
RUTH DE AQUINO
Dilma precisa decidir quem ela é de verdade

Revista Época
RUTH DE AQUINO
é diretora da sucursal de ÉPOCA no Rio de Janeiro
raquino@edglobo.com.br
Eleitores são seres humanos. e, como tais, sujeitos à sedução e ao carisma dos candidatos. A maioria dos eleitores não é politizada, ao contrário do que se desejaria num pleito consciente. Muitos votam por simpatia ou pelo bolso, e não por ideologia ou plataforma. Como tudo é relativo, na comparação direta entre os sisudos Dilma e Serra, o tucano começou a parecer doce, risonho e autêntico. Sua imagem mudou. Serra é o favorito entre as mulheres, segundo as pesquisas.
A não ser que Lula desenvolva talento de ventríloquo, coloque Dilma no colo e sopre as palavras tocantes do dia a dia, nenhum bruxo marqueteiro poderá fazer com que ela galvanize as massas ou provoque risadas. Parece irônico – e é. Quem tem sido comparado com Lula não é Serra, mas a ministra de ferro. Como criador e criatura não desgrudam, o brasileiro olha para um, olha para a outra, e não acredita que Lula hoje será Dilma amanhã. O eleitor se pergunta: quero ser governado por ela nos próximos quatro anos, depois que Lula sumir para descansar e se divertir?
Sem voto no currículo, sem traquejo de palanque, chamando geladeira de “linha branca” e falando em “tecniquês”, Dilma até agora não tem competido com Serra, mas com o fantasma de seu cabo eleitoral: o presidente onipresente, que não larga de seu pé. E que a repreende por ser pouco objetiva e por “falar difícil”. Lula apregoa que a ministra do pré-sal, transformada em candidata por imposição sua, representa a continuidade de seu governo. Dilma projeta a imagem de uma gerenta que pisa forte, mas carece de flexibilidade, sensibilidade e espírito de equipe. Qualidades associadas ao estilo feminino de liderança, justa ou injustamente.
“Não adianta mudar a Dilma. Tem de deixar a Dilma continuar a ser como ela é”, disse em palestra na Casa do Saber, no Rio, o publicitário Duda Mendonça, o mesmo que recebeu R$ 10,5 milhões do PT numa conta no exterior e foi aclamado no partido como o guru do Lulinha paz e amor de 2002. “Pegá-la e fazer outra pessoa... Vai ficar numa vestimenta desconfortável... Vai fazer com que ela volta e meia dê uma escorregada.” Duda acha que a chance de Dilma, filha instruída de um rico empreiteiro húngaro, é se desvencilhar da armadura populista do PT.
A foto de Norma Bengell deu confusão? Mas por que o PT não usou uma foto de Dilma guerrilheira no blog?
O blog oficial da candidata fez uma lambança ao postar três fotos no painel “Minha Vida”. A primeira foto era da Dilminha bebê, com franja. A última era recente, com cabelos curtos e avermelhados. A foto do meio mostrava passeata nos anos 60 “contra a censura e pela cultura”. E uma mulher em primeiro plano com cabelos curtos. Todos pensaram ser Dilma. Mas era a atriz Norma Bengell, na Passeata dos 100 Mil, no Rio, em 1968. Na época, Dilma militava em dois grupos de luta armada, Colina (Comando de Libertação Nacional) e VAR-Palmares. O efeito de ilusão pegou mal. Mas o blog culpou quem se enganou. Disse que a interpretação foi equivocada e que confundir a candidata com a atriz seria “estapafúrdio”. Mas quem associou não foi o PT, ao compor o painel virtual? Por que não há fotos de Dilma guerrilheira no blog? Afinal, o PT se orgulha ou se envergonha do passado de sua candidata?
Dilma precisa fazer as pazes com a linguagem da internet. Mestrado é mestrado, passeata é passeata, na vida real e na virtual. Não se trata de Second life, aquele mundo de fantasia onde inventamos para nós mesmos um personagem. Blogs de políticos podem ser armas poderosas, se forem honestos e claros. Caso contrário, as redes sociais funcionarão como bumerangues contra os candidatos. Isso vale tanto para Dilma quanto para Serra. “O Serra é um baita governador. Mas acho que Dilma ganha a eleição. (...) Se não fosse o Lula, seria a vez do Serra. (...) Mas Lula é igual a Padre Cícero ou está ali perto”, disse Duda Mendonça.
Dilma terá na televisão 48% mais tempo que Serra, se forem confirmadas as tendências de alianças. Talvez fosse melhor para ela ter menos tempo. Antes que a campanha comece para valer, Dilma precisa decidir quem ela é, na verdade. Ninguém engana todos todo o tempo.

GOSTOSAS

MÔNICA BERGAMO

Ainda em alta
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SÃO PAULO  - 01/05/10

Apesar de queda acentuada em relação a março, em que foram vendidos 355 mil carros no país, os números deste mês devem fechar entre os melhores já registrados nos meses de abril. Os dados preliminares da Anfavea, a associação nacional dos fabricantes de veículos, mostram que foram comercializados cerca de 280 mil automóveis nos últimos 30 dias.
DESCONTO 
O bom resultado ainda reflete a corrida às compras por causa das isenções de impostos que o governo manteve até o mês passado para incentivar a venda de carros. Entre outros fenômenos, as concessionárias, aproveitando os preços mais baixos de março, fizeram estoques para continuar oferecendo os veículos, em abril, com os mesmos descontos que davam até então à clientela.
GRÁFICO 
Outra boa notícia: o emprego no setor, que começou a aumentar em junho do ano passado, continua crescendo, mesmo com o fim das isenções e a queda nas vendas de veículos.
TURBINA 
Andrea Matarazzo vai se encontrar com João Sayad nos próximos dias -ele substituirá o atual secretário no comando da Secretaria da Cultura. A ideia é que Matarazzo tome posse no dia 11 de maio.
MELHOR AMIGO 
Paulo Maluf (PP-SP) fez questão de ressaltar as afinidades e a proximidade histórica com alguns tucanos paulistas no jantar em que confraternizou com o senador Sergio Guerra (PSDB-PE), coordenador da campanha de José Serra (PSDB-SP) à Presidência, em Brasília, há dois dias. Entre os amigos citados por ele está, aliás, Matarazzo. Maluf é um dos maiores defensores da aliança do PP com Serra, tendo Francisco Dornelles (PP-RJ) como vice.
PINGO D'ÁGUA 
Apesar da adesão de grande parte da bancada de deputados federais do PP à ideia de fechar aliança com o PSDB e de indicar o vice de Serra, o próprio Dornelles tem se mantido "na zona de neutralidade. Pessoalmente, ele não nos dá pista de nada", diz um dirigente tucano. "Não é por acaso que é considerado o parlamentar mais esperto de todo o Congresso."
EU SOZINHO 
Pré-candidato ao governo de SP pelo PP, o deputado Celso Russomanno já foi procurado para conversar sobre a possibilidade de retirar a candidatura e até ser vice de Geraldo Alckmin (PSDB-SP) caso vingue a aliança do partido com o PSDB no plano federal. "Não quero ser vice de ninguém. O PP me liberou para ter candidatura independente em São Paulo, mesmo que feche com um dos lados na coligação nacional."
PONTA DOS DEDOS 
A Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência vai entregar edições em braile da Bíblia para sete bibliotecas públicas de SP. A primeira a receber será a biblioteca Louis Braille, do Centro Cultural SP, hoje. Cada exemplar custa R$ 1.501 e tem 33 mil páginas. Uma lei de 2003 exige que as bibliotecas públicas tenham no acervo pelo menos uma Bíblia em braile. A pasta também pretende distribuir, até o final de 2010, 520 audiolivros e outras 520 obras em alto-relevo.
I WILL SURVIVE 
A cantora Gloria Gaynor, considerada musa dos gays, desembarca mais uma vez no Brasil. Ela se apresenta no dia 9 de junho no HSBC Brasil.
SERTÃO NA MODA 
A Villa Country, casa noturna focada em música sertaneja, será o local do desfile da grife Do Estilista, de Marcelo Sommer, no dia 13 de junho, na São Paulo Fashion Week. "Escolhi o lugar porque se parece com Las Vegas. É supertemático. Tem rio, cachoeira, é todo feito de madeira", diz Sommer, que afirma que a coleção não terá estilo sertanejo, mas "tem a ver com nômade".
TELA MUTANTE 
As obras do músico Arnaldo Baptista, ex-Mutantes, que trabalha há anos com desenhos e pinturas e agora é oficialmente representado por uma galeria, estão à venda na feira SP Arte até amanhã. Custam de R$ 1.400 a R$ 2.100.
CURTO-CIRCUITO 
O ATOR PAULO JOSÉ dirige a peça "Um Navio no Espaço ou Ana Cristina Cesar", com Ana Kutner, que estreia no dia 8, às 21h, no Sesc Santana. Classificação etária: 14 anos.O LIVRO "Bienvenido - Um Passeio pelos Quadrinhos Argentinos", de Paulo Ramos, tem lançamento hoje, às 19h30, na HQMix Livraria, na praça Roosevelt.A CANTORA Leila Pinheiro interpreta canções de Renato Russo hoje e amanhã, às 18h, no Sesc Pompéia. 12 anos.A FESTA Robbie acontece amanhã, a partir das 22h, no hotel Cambridge, com performance de Nany People. 18 anos.O BAR ASTOR inaugura filial na praia de Ipanema, no Rio de Janeiro, hoje, às 21h, com festa para convidados.
com DIÓGENES CAMPANHALEANDRO NOMURA e LÍGIA MESQUITA

ROBERTO POMPEU DE TOLEDO

REVISTA VEJA
Roberto Pompeu de Toledo


O pai do Neymar

"Neymar, o velho, é uma esperança contra a ansiedade 
que surge tão logo desponta um talento, mesmo quando 
bem inferior ao de Neymar, o moço: até quando o teremos 
no Brasil?"

Pode-se imaginar os sentimentos de que um pai brasileiro é tomado quando pela primeira vez se dá conta de que, com a bola nos pés, seu rebento é um prodígio. A palavra "prodígio", tal qual "profético" e "presságio", indica uma conexão com o divino. Revelar-se um prodígio nos campos de futebol significa que um sopro dos deuses moldou aqueles pés. Para o pai, dar-se conta de que tem um filho desses é como se um anjo lhe baixasse na humilde morada e anunciasse que seu menino, entre todos os outros, é o escolhido do céu. Na conexão direta com a terra, quando o pai vai dormir, naquele dia, repassa as promessas com que lhe acenam os próximos anos. Misturam-se todas, das mais modestas às mais gloriosas – comida garantida, bons médicos, mudança para um bairro decente, adeus aos malditos ônibus, e logo empregados, mansões, piscinas, viagens, férias, Real Madrid, euros.
A esta altura, não há mais dúvida de que o menino Neymar, do Santos, é um prodígio. Não é que, com 18 anos recém-completados, sua vida esteja a ponto de mudar. Já mudou. O pai, que também foi jogador de futebol, chegou ao fim de uma carreira que o empurrou de time pequeno para time pequeno com um patrimônio que se resumia a um terreno, segundo reportagem da jornalista Débora Bergamasco publicada na semana passada no jornal O Estado de S. Paulo. O filho já acumulou dinheiro suficiente para acomodar a família num apartamento tríplex com piscina e sauna e manter um carro Volvo XC-60 na garagem.
O pai de Neymar também se chama Neymar. Tem 45 anos, cursa faculdade de educação física e administra a vida do filho, do dinheiro e dos contratos à hora em que deve voltar para casa. Neymar, o filho, tem família estruturada, com pai, mãe e irmã sob o mesmo teto. Nisso se diferencia de tantos de seus companheiros de bola. Claro que o pai não terá outra coisa a fazer na vida, nos próximos anos, senão cuidar dos interesses do filho, que são também seus interesses. E claro que, quando não tiver nem mesmo de cuidar dos interesses do filho, não terá outra coisa a fazer senão gozar as delícias de ter sido premiado com a visita do anjo. Mas engana-se quem pensa em Neymar, o velho, como um desfrutador do baú do filho. Suas entrevistas à imprensa revelam uma pessoa com a cobiça sob controle, e cuidados que vão além da vil matéria.
Neymar, o velho, é uma esperança contra uma ansiedade que toma conta de quem gosta de futebol tão logo desponta um talento, mesmo quando bem inferior ao de Neymar, o moço: até quando o teremos nos gramados brasileiros? Sabe-se que é por pouco tempo. O Brasil entregou-se gostosamente à condição de exportador de matéria-prima. A volúpia da volta ao passado colonial impôs-se com sobras à potência incrustada na mente do atual primeiro mandatário da nação. Neymar, o pai, não nega que o filho vai acabar num grande clube europeu. Mas diz que há etapas a cumprir, e que não tem pressa. Quer ver o filho amadurecer e conquistar títulos no Brasil.
Quando Neymar Jr. tinha 13 anos, o pai aceitou um convite do Real Madrid para ir à Espanha. Pensava que era só para conhecer o clube. Lá puseram o filho para treinar e lhe ofereceram um contrato. O menino, depois de três semanas, declarou-se farto e quis voltar. O pai deu-lhe razão. Numa entrevista à TV ESPN, no ano passado, ao relembrar o episódio, Neymar pai disse que, seja onde for, quer o filho jogando futebol com alegria, e não de forma "mecânica" (a palavra é dele).
Eis uma declaração que, além de enaltecê-lo como pai, enche de esperança os admiradores do futebol. Praticá-lo com alegria, como Pelé e Garrincha, é a condição primeira para alçá-lo à condição daquele esplêndido espetáculo que se convencionou chamar de futebol-arte. É futebol-arte, tangido pela necessária alegria, como não se via pelo menos desde Robinho, o que Neymar tem apresentado. Ele é o condutor de uma volta à inocência perdida que contaminou o time do Santos e até, para quem reparar bem, transbordou para alguns adversários. Para que não seja por pouco tempo, só confiando no paizão.
***
E os estudos? Neymar parou cedo, e nesse ponto não há notícia de empenho do pai em sentido contrário. O jogador Henry, da seleção francesa, disse uma vez que a grande vantagem dos jogadores brasileiros é que desde meninos eles não têm outra coisa a fazer senão jogar bola, na rua, nas praias ou nos campos, enquanto os europeus passam o dia na escola. O argumento leva à conclusão de que o sucesso do futebol brasileiro se deve ao fracasso do sistema escolar do país.

GOSTOSA

BRASIL S/A

A Selic por dentro
Antonio Machado

CORREIO BRAZILIENSE - 01/05/10

Se o BC acertar, juros de prazo curto vão subir, os longos, cair, e a inflação voltará à meta 


Ainda que muita gente não visse razão alguma para a Selic subir, decisão, segundo o presidente da Federação das Indústrias de São Paulo, Paulo Skaf, tomada “por um Banco Central acuado, refém de certos setores do mercado”, o fato é que a inflação acumulada em doze meses até março, de 5,17%, e a projetada para 2010, de 5,41%, eram como se o governo tivesse sido apeado do controle da situação.

A inflação é sempre a que resulta do aumento de preços promovido pelas empresas e, nesse sentido, se compreende a bronca de Skaf — hoje dublê de político, já que tenta sair candidato ao governo de São Paulo pelo PSB. Para ele, a capacidade instalada da indústria pode atender a demanda “sem que aconteça pressão sobre os preços”.

Para a Fiesp, haveria uma capacidade “escondida” de 15% acima do nível de produção medido em março, da ordem de 69,2%, considerada uma amostra de 247 empresas. A tanto se chegaria com horas extras, turnos adicionais e a ativação de novas máquinas. É possível, mas isso é o que as empresas já fazem e está dentro do índice medido.

O quadro da oferta pela chamada “economia real”, o contraponto de tijolo e aço ao mundo virtual das finanças, está em crescimento em duas frentes: da ocupação da capacidade instalada, tornada ociosa pela recessão breve do ano passado, e expansão da produção física, resultado de investimentos que tem feito do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) o endereço mais quente da praça, complementado pela tomada de recursos externos.

Entre a ativação do maquinário existente e novas instalações, há um atraso em processo, que chega, em média, a 18 meses, segundo as estimativas usuais, com ambos, além disso, correndo atrás do ritmo da demanda impulsionada pelo aumento da renda, emprego e crédito.

Seria um quadro administrável em termos de controle inflacionário se não estivesse a demanda agregada também vitaminada pelos gastos fiscais do governo em expansão acelerada. E isso em meio a um dado pouco falado da realidade empresarial brasileira: a oligopolização da maioria dos setores, com poucas e grandes empresas com poder de mercado para impor preços — além de favorecidas por uma estrutura tarifária protecionista de uma época em que o dólar era escasso e a substituição de importações, uma política de governo.
Pragmatismo sindical
Com inflação ninguém brinca, nem os sindicalistas que também, a cada reunião do BC para discutir a Selic, unem-se aos industriais para criticar em coro a decisão, seja ela qual for. Confiantes de que o BC, escorado no presidente Lula, que é do meio e conhece as manhas de seus pares, jamais deixará o balde entornar, eles falam grosso contra os juros altos. Mas mudarão o disco, se precisarem.

Como? À menor cobrança das suas “bases”, se o salário começar a terminar antes que o mês acabe. É o que já está acontecendo.
Salário já é corroído
Conforme a Pesquisa Mensal do Emprego do IBGE relativa a março, a massa de rendimento real cresceu 5,2% em relação a março de 2009, quando aumentou mais, 5,8% sobre 2008. Foi a menor expansão para o mês de março desde 2006, segundo análise da consultoria LCA.

“A aceleração da inflação corrente tem mitigado em alguma medida a evolução dos ganhos reais dos salários”, diz. “Não por acaso, o rendimento médio real registrou alta interanual de 1,5% em março contra 5% nessa mesma comparação em março de 2009.” Inflação bate direto no bolso. Mas o mercado financeiro a pressente bem antes.
A mecânica dos juros
O aumento dos juros no interbancário já estava consolidado antes de o BC elevar a Selic de 8,75% ao ano para 9,5%. Como parâmetro do espectro dos juros, conforme o prazo de vencimento dos papéis de dívida de emissão de bancos, empresas e do Tesouro, a Selic já mal dava para repor o capital aplicado, abatida a inflação realizada. E o levava ao prejuízo, se descontado também o Imposto de Renda.

Os juros no Brasil são dos mais altos no mundo. Mas também são a carga tributária e a inflação, 2ª maior do mundo nos últimos vinte anos até 2008. Para a Selic ser contracionista, objetivo do ciclo iniciado quarta-feira, quando passou de 8,75% para 9,5% — ou 4,1%, abatida a inflação e antes do IR —, ela precisa alinhar-se à taxa do interbancário, 11,5% na mesma data. Assim era como reflexo da inflação então prevista. O interbancário é que impacta a inflação.

Se a Selic for competitiva, a banca estaciona mais que de hábito suas disponibilidades na manjedoura do BC e começa o aperto. Os juros de prazo curto sobem, os longos caem e a inflação tenderá à meta definida pelo governo (4,5%). Para ser diferente, o governo deveria contribuir com o lado fiscal. Mas isso não vai acontecer.
Caos na fila do gasto
A política fiscal, no Brasil, é rígida para baixo e elástica para cima. Sua contribuição para a estabilidade tem sido nula. E quando tudo expande a demanda, não acompanhada pela oferta crescendo a um ritmo maior — fruto do investimento que enquanto em curso também a impulsiona —, abre-se um buraco nas contas externas, decorrente da importação avançar sobre a exportação. E muitos ficam com vontade, das grandes empresas às bibocas da esquina, de faturar em cima da vontade do consumidor de gastar. A política econômica deveria dar ordem ao gasto conforme prioridades, que por ora é o investimento. Como não tem feito isso, todo o peso do ajuste recai sobre o BC.