quarta-feira, janeiro 26, 2011

RUY CASTRO

Benesses tardias
Ruy Castro
FOLHA DE SÃO PAULO - 26/01/11

RIO DE JANEIRO - Na chuva, quase desceu pela enxurrada a revelação de que ex-governadores estaduais, vivos ou mortos, efetivos ou suplentes, não importa que nem tenham esquentado o trono, ou seus filhos e viúvas, fazem jus a invejáveis pensões por "aposentadoria", mesmo que os vivos (muito vivos) as acumulem com seus salários de parlamentares.
Entre os beneficiados, contam-se conhecidos marotos, de que não se esperava outra coisa, e políticos em quem o manto da retidão parecia assentar tão bem -vê-se agora que era só uma capa, a se tirar do armário para usar no Congresso e devolver ao cabide ao fim do dia.
A última beneficiada a vir à tona é uma senhora de 89 anos, filha de um político que governou Santa Catarina nas décadas de 1890 e 1920 e, depois, tornou-se aeroporto, ponte, avenida, time e estádio de futebol. Bem, se o benefício abrange eras tão priscas, por que não recuá-lo aos primórdios?
Eu sugeriria uma pensão aos herdeiros de Martim Corrêa de Sá, o primeiro carioca nato a governar o Rio (1602-1607) e que doou aos franciscanos o morro de Santo Antônio para a construção de seu convento, o qual está lá até hoje. Idem, aos herdeiros de Luiz Vaía Monteiro, o "Onça" (1725-1732). Em seu tempo -"no tempo do "Onça"-, políticos, militares e padres corruptos, contrabandistas de ouro e de escravos e pilantras em geral não levaram boa vida.
Benesses também para os herdeiros de Gomes Freire de Andrada, que, por 30 anos (1733-1763), governou o Rio e o Brasil, construiu o aqueduto dos Arcos e o paço e retomou para o país o atual Rio Grande do Sul. E o mesmo para os do vice-rei d. Luiz de Vasconcellos (1779-1790), que, pelo amor (platônico) de uma plebeia, aterrou um pântano e construiu um jardim, o primeiro espaço público brasileiro: o Passeio Público, na Lapa. Estes, sim, mostraram serviço.

GOSTOSA

ALON FEUERWERKER

Gato por lebre 
ALON FEUERWERKER
CORREIO BRAZILIENSE - 26/01/11 

A boa notícia deste início de ano é que o governo Dilma Rousseff não se sente estimulado a lançar seus exércitos no pântano congressual das reformas. Mas é bom ficar de olho

A alardeada urgência de macrorreformas como a política e a tributária é uma verdade absoluta. Parece dispensar comprovação.
A tal verdade absoluta nasce de uma esperteza. Num país repleto de passagens reprováveis na vida política, quem poderia ser contra uma reforma política, que o público poderia "comprar" como uma reforma benigna "da" política?
E num país de carga tributária sempre descrita como alta, quem poderia se opor a uma reforma benigna do sistema de impostos? Mas desde que, naturalmente, o Estado continuasse a prover tudo que provê hoje. Ou mais.
Por motivos semelhantes, a maioria tenderá a inclinar-se para o "sim" se alguém propuser abstratamente uma reforma da segurança pública, ou da saúde, ou da educação, ou do transporte público nas metrópoles. E por que não dos aeroportos? Ou das rodoviárias?
O reformismo genérico ganhou corpo entre nós depois da última Constituinte por uma razão: segmentos da opinião pública preferiam uma Carta menos intervencionista, menos generosa no campo social. Daí o esforço ininterrupto para desidratá-la.
Na esfera trabalhista, por exemplo, o aceno permanente é por uma mudança que "facilite a contratação" de mão de obra. O próprio ex-presidente recém-saído andou no passado posando de bom moço em defesa da tese. Na passagem do primeiro para o segundo mandato falou longamente à The Economist sobre a ideia.
Mas sempre que a discussão desce para a vida prática do mundo do trabalho as medidas propostas visam facilitar a demissão, e não a contratação. E ainda está para ser provado que demissões mais fáceis gerariam mais contratações.
No começo do governo do PT, em 2003, tentou-se implantar um tal de "Programa Primeiro Emprego", prometido pelo candidato na campanha do ano anterior. A ideia era precisamente reduzir encargos para facilitar a absorção de mão de obra novata. O programa foi engavetado depois do completo fracasso.
Mas a geração de empregos nos últimos anos acabou sendo bastante satisfatória, e sem mexer em nenhum direito dos trabalhadores.
No debate recente sobre a prorrogação da Contribuição "Provisória" sobre Movimentação Financeira, havia o argumento de que, sem a CPMF, os preços cairiam por não mais carregarem as taxas cobradas ao longo de toda a cadeia produtiva. Alguém ouviu falar de algo que tenha ficado mais barato por causa do fim da CPMF?
Não aconteceu. Apenas cerca de R$ 50 bilhões anuais deixaram de ser recolhidos aos cofres da União.
A discussão aqui não é sobre a CPMF ou sobre o falecido Primeiro Emprego. É sobre a venda indiscriminada de gatos por lebres, com o bichano vindo embalado no papel de presente daquela reforma indispensável e inadiável que " finalmente " vai colocar o dedo nas grandes chagas nacionais.
Viu a lebre? Procure o gato. Na reforma política o que há até o momento é uma tentativa de abolir o voto direto na eleição proporcional (deputado, vereador). Chamam de "lista fechada".
Ela vem com a tentativa de impedir a oposição de se financiar na sociedade. Chamam de "financiamento exclusivamente público". Significaria dar ao(s) partido(s) no poder uma vantagem financeira estratégica e definitiva.
Ambas as medidas aumentariam ainda mais a força de quem está no governo, em qualquer governo, especialmente depois que a Justiça instituiu a fidelidade partidária estrita.
A boa notícia deste início de ano é que Dilma Rousseff não está muito a fim de lançar seus exércitos no pântano congressual das reformas. Mas é adequado ficar de olho.
E não é difícil monitorar. A cada situação ou proposta, basta procurar pelo detalhe que esconde a tentativa de retirar direitos e aumentar obrigações do cidadão comum.

Fraquezas
O governo brasileiro decidiu disputar o comando da agência da ONU que se ocupa das políticas relacionadas a agricultura e alimentos. Parece que o concorrente será espanhol. Terceiro Mundo contra Primeiro. Sempre simpático.
Entretanto, uma fragilidade da candidatura brasileira é representar o país que, em plena inflação mundial de alimentos, procura convencer o planeta da conveniência da produção de biocombustíveis.
O mesmo país, aliás, que recusa debater a formação de estoques internacionais reguladores da oferta de grãos, estoques essenciais para combater a especulação com comida
De embaixadores planetários contra a fome, convertemo-nos em embaixadores planetários da inflação e da especulação.

HÉLIO SCHWARTSMAN

Tiradentes e as boquinhas
Hélio Schwartsman
FOLHA DE SÃO PAULO - 26/01/11

SÃO PAULO - Agora são duas tetranetas de Tiradentes que estão pleiteando uma pensãozinha, pelos serviços prestados por seu antepassado. Faz sentido. Se a filha do Hercílio Luz, que foi eleito governador de Santa Catarina no século 19, faz jus a R$ 15 mil, por que as descendentes do herói do século 18 não teriam direito a modestos R$ R$ 727?
Nesse ritmo, logo chegaremos ao Pero Vaz de Caminha. Chegaremos? Talvez seja mais exato dizer que foi dali que partimos. É sempre bom lembrar que o escrivão real termina sua Carta do Achamento do Brasil intercedendo diante de Sua Majestade por um genro.
Com tantos antecedentes, não é difícil explicar coisas como superpassaportes, superaposentadorias etc. Na verdade, é fácil e gostoso atacar políticos e seus apaniguados, mas será que nosso comportamento privado é muito melhor?
Tramitam no Congresso dezenas de projetos de "regulamentação profissional", ou seja, para tornar uma determinada atividade exclusiva para os que já a praticam e de preferência obrigatória para a população. Todo sindicato, no fundo, almeja tornar-se uma OAB.
Na indústria, a situação não é diferente. A troca das tomadas, por exemplo, foi um golpe de mestre. Numa única canetada os fabricantes de plugues e adaptadores criaram "ex nihilo" um novo mercado de quase 200 milhões de usuários.
No mesmo nível de genialidade só me lembro da regra que, alguns anos atrás, obrigou todos os motoristas a adquirir e a carregar um pedaço de gaze, um rolo de esparadrapo e um par de luvas de látex. Era para garantir atendimento médico em emergências viárias.
O Brasil se tornou uma espécie de país da boquinha. Indivíduos, categorias profissionais e empresas, em vez de firmar-se pela excelência de seu trabalho, serviços ou produtos, tentam sequestrar a autoridade do Estado para impor-se a todos e garantir "o seu".
É um jogo no qual os bem relacionados ganham e a maioria perde.

GULOSO

ROBERTO DaMATTA

Legitimidades e vilezas
ROBERTO DaMATTA
O GLOBO - 26/01/11


Um traço visível, insofismável e indelével de nosso patriarcalismo escravista que curiosamente Gilberto Freyre não associava ao Estado, mas somente a sociedade, é - em toda tentativa de modernização - uma profunda crise de legitimidade. As regras não se encaixam aos comportamentos ou sequer com as suas implicações jurídicas. Essa incongruência surge em quase todos os domínios do chamado "estado", que confundimos (propositadamente ou não) com o seu lado mais personificado, o "governo" (que é sempre de alguém). O resultado é a vil transformação do legítimo em ilegítimo, tal como ocorre quando um tribunal condena um inocente. No momento chama atenção a questão da aposentadoria de governadores, um sistema que permite acumular múltiplos benefícios de tal sorte que os "patrões do estado" (relativamente eventuais, mas com um olho grande nas vantagens permanentes) transformam a administração pública num mecanismo de enriquecimento pessoal a competir com o seu lado altruístico e "social". Neste processo, o Estado deixa de ser um sistema destinado a prestar serviços à sociedade. Só há grana para pessoal, não há como investir em educação, saúde, transporte e segurança.

Estou convencido que tal modelo nasceu na matriz aristocrática imperial somada ao neo-stalinismo, tão popular entre os "desenhistas" que sucessivamente reformaram (com um extraordinário pendor para o pior) a nossa administração pública. Tais engenheiros, chamados nos governos militares de "tecnocratas", sempre foram travestis dos velhos letrados ibéricos, bacharéis em Coimbra, e crentes num platonismo jurídico que até hoje proclama a letra da lei como tendo o poder (tal qual uma formula mágica) de modificar a realidade, resolvendo suas contradições. Esse fetichismo jurídico-político tem sido dominante na política brasileira. É dele que vêm um brutal centralismo e o poder avassalador que faz com que um presidente tenha a capacidade de nomear milhares de pessoas e de distribuir para os ávidos comedores do bom presunto desse velho Reino de Jambon inúmeros cargos e instituições. Haja, porém, dinheiro para sustentar cada vez que tais mudanças sempre centralizadoras são feitas, causando roubos e rombos de todos os tipos. Numa fórmula, fizemos a república, mas jamais admitimos viver num sistema republicano. E os recursos da sociedade, furtados pelo Estado, são os construtores de uma curiosa dualidade: de um lados os milionários por ele vitaliciamente mantidos; do outro, os milhões de pobres e desvalidos que vibram quando recebem uma bolsa de pobreza! Tudo isso sob a égide de políticos bem vestidos e falantes, prontos para politizar tudo, até mesmo a política!

Um amigo faz o desabafo: minha filha separou-se! O marido deu-lhe um cartão vermelho e fugiu de casa como um foragido da lei.

- Sei como é difícil... Mas com diálogo e bom senso tudo se resolve - repliquei, sabendo do poder desse tipo de tempestade.

- Pois, professor, bom senso é justamente o que não há. O fdp recusa conversar. Sabe como tocar no coração da minha filha, que se casou novinha e o tinha como modelo e mentor. Procrastinador, ele adia tudo e recusa até mesmo os filhos que, moços, vão enxergando o pai como uma figura cada dia menor aos seus olhos. É de cortar o coração...

- Sabe qual é a última? Ele agora quer o seu nome de volta. Imagine, todos os documentos de minha filha têm o nome de casada e ele, sabendo como feri-la mortalmente, quer um pedaço daquilo que se incorporou à sua identidade. Na última conversa que tiveram, ela recusou e ele propôs, veja que vileza, vender o seu nome por algumas dezenas de milhares de reais. O senhor já viu isso alguma vez?

- Vi! - respondi com o coração partido pela contundência que a infâmia sempre produz.

É o Brasil moderno. Pelo partido come-se o Jambon, pelas ideologias fica-se rico, pelo nome de merda de uma família de bosta, um pobre diabo exige dinheiro da ex-companheira que o amou e que honrou esse mesmo nome que ele hoje desonra com todas as forças do seu mau caráter.

Que o leitor perdoe o mau humor do cronista que só não fala do flagelo dos deslizamentos e os comentários cretinos que provocam para não morrer do coração.

Mas onde a legitimidade transborda ilegitimidade, revelando o intestino do sistema, é quando ocorrem esses acidentes que reiteram não o trágico e o aleatório dedo da natureza, que não escolhe lugar ou pessoa, mas o uso do trágico para encobrir o descaso dos gestores públicos, no Brasil chamados eufemisticamente de "políticos", uma palavra que, sabemos todos, inclui tudo menos responsabilidade pública. E por isso eu proponho não mais usá-la e bani-la do nosso vocabulário, substituindo-a por gestor, gerente ou administrador público. Pois esses termos trazem à tona a dimensão de serviço e de desprendimento que os representantes desempenham nas democracias modernas como mediadores entre a sociedade e os seus grupos e o estado, por meio da governabilidade que exercem nos parlamentos e nas administrações coletivas.

ROBERTO DaMATTA é antropólogo.

LUIZ CARLOS AZEDO - BRASÍLIA-DF

O mágico
LUIZ CARLOS AZEDO
CORREIO BRAZILIENSE - 26/01/11

O deputado Sandro Mabel (GO), dono das famosas rosquinhas, resolveu se licenciar da liderança do PR e concorrer à Presidência da Câmara como candidato avulso, apesar de sua bancada ter declarado apoio à reeleição do deputado Marco Maia (PT-RS). É uma atitude fora de padrão para um parlamentar experiente e influente.

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Pelas contas de Maia, sua reeleição já contaria com o apoio de mais de 350 dos 513 deputados, a partir do compromisso formal de quase todos os partidos da Casa, inclusive os de oposição. As legendas que ainda negociam, como o pequeno PSol, o fazem para exigir alguns compromissos: respeito à minoria, ao regimento interno e às regras do jogo democrático.

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Qual é a carta que Mabel tem na cartola para concorrer à reeleição? Entraria na disputa com supostos 130 votos. Faltariam, portanto, 121 para se eleger. Precisará, pois, de muita prestidigitação para derrotar o atual presidente da Câmara, tomando-lhe os votos já prometidos. A não ser que haja uma conspiração silenciosa envolvendo líderes da base governista insatisfeitos e dispostos a organizar um motim na hora da votação. Nas eleições da Câmara, às vezes as coisas não são o que parecem. O voto é secreto.


A vice

A deputada capixaba Rose de Freitas (foto) é a candidata do líder da bancada do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN), à Primeira-Vice-Presidência da Câmara. Veterana na Casa, com grande atuação na Comissão de Orçamento, a deputada enfrenta uma oposição pulverizada. Na bancada, também são candidatos Edinho Bez (SC), Elcione Barbalho (PA), Almeida Lima (SE) e Gastão Vieira (MA).


Catacumba

A Editora Objetiva acaba de lançar o livro Segredo de Estado, de autoria do jornalista Jason Tércio. É uma obra de ficção baseada em fatos reais, a partir de entrevistas e pesquisas exaustivas sobre o sequestro e assassinato do ex-deputado do PTB Rubens Paiva, em janeiro de 1971, por agentes de segurança do regime militar. Seu corpo nunca apareceu.


Herança

O deputado Francisco Everardo Oliveira Silva, o Tiririca (PR-SP), herdou o gabinete do ex-deputado Raul Jungmann (PPS-PE), que antes da mudança esvaziou as gavetas e retirou seus livros da estante. Jungmann, porém, deixou um dicionário. Tiririca chegou a ser ameaçado de não assumir o mandato por ser considerado analfabeto pelo Ministério Público. O dicionário é da Câmara.

Tentou
O deputado federal Romário (PSB-RJ), ex-craque de futebol, tentou manter a mística da camisa 11 na política. Romário bem que tentou conseguir um gabinete que tivesse final 11 no número. Mas teve que se contentar com o 825


Tuiteiros

Titular da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante é o ministro com mais influência nas redes sociais, segundo pesquisa desenvolvida pela MITI Inteligência. No Twitter, o segundo ministro com mais seguidores é Paulo Bernardo (Comunicações). Depois, aparecem Alexandre Padilha (Saúde), Garibaldi Alves Filho (Previdência) e Fernando Pimentel (Desenvolvimento). Já no Orkut, duas mulheres são as mais ativas: Maria do Rosário Nunes (Secretaria de Direitos Humanos) e Iriny Lopes (Secretaria da Mulher).


Cadeira

O deputado Marco Maia (PT-RS), presidente da Câmara, esteve em Belo Horizonte ontem em busca de apoio. No gabinete do prefeito Marcio Lacerda (PSB), sentou-se na cadeira que era usada pelo ex-presidente Juscelino Kubitschek. Lacerda gosta de mimar os aliados com esse gesto.

Novo líder

A bancada do PSDB se reúne hoje para escolher seu novo líder. Uma mera formalidade. O deputado Duarte Nogueira (SP), ligado ao governador de São Paulo, o também tucano Geraldo Alckmin, é candidato único.

Toalha
Derrotado por antecipação, o candidato Marcos Montes (MG) retirou a candidatura à liderança da bancada do DEM. Decidiu apoiar Eduardo Sciarra (PR), que disputa o posto com ACM Neto (BA).

Ausente
Marcela Temer, a jovem esposa do vice-presidente Michel Temer, foi a ausência mais sentida nas comemorações dos 457 anos de fundação de São Paulo. Roubou a cena na posse da presidente Dilma Rousseff, mas já voltou à vida discreta e recatada de sempre.

Anunciado
O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PMDB), começou a se movimentar como candidato à reeleição. O contraponto com a administração do governador Sérgio Cabral (PMDB) na questão das chuvas, porém, já incomoda os aliados.

GOSTOSA

JOSÉ SIMÃO

Buemba! A bialgrafia do Bial! 
JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SÃO PAULO - 26/01/11

Tem um projeto de um deputado do Mato Grosso do Sul: gago paga metade da conta telefônica!


BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Piada Pronta direto de Salvador: "Mulher ateia fogo nos genitais do marido em PAU DA LIMA". Rarará. Acho que ela queria esquentar o relacionamento.
E uma amiga minha tá preocupada: "Nem o Lázaro Ramos e nem o Berluscomi me comeram ainda". A única! Rarará!
E o brasileiro é cordial. Olha o cartaz num poste: "Trago a pessoa amada na base da pancada. Ligue já". Rarará.
E esta: "Rato causa histeria na praça de alimentação do Iguatemi". Era o Ratatouille. Ratatouille 3D!
E o rato tava de Vuitton? Tava comemorando o aniversário de São Paulo!
E sabe como eu comemorei o aniversário de Sampa, a capital do Relaxa e Boia? Com Bolinho de Chuva! E aí pedimos uma pizza. E quem vai entregar a pizza? O comandante Hamilton do Datena! O comandante Hamilton devia virar entregador de pizza! Rarará!
E sabe como um casal amigo meu comemorou o aniversário de Sampa? No meio da enchente, subiram na capota do carro e fizeram a cena de "Titanic"! Os dois em cima da capota com os braços abertos! Lindo, romântico. Rarará!
E o Bial, hein? Acho que vou escrever a Bialgrafia do Bial chamada "OI, BIAL!".
E um gago no paredão. Protesto! Preconceito! Uma operada e agora um gago? E dançarino de axé! E como gago dança axé? Bobota a mão no jojoelho, aba-ba-ixxa, levan-ta-tá, empina-ná a bun-bun-bun-di-di-nha! Cu-cu-cu-cuidado! Rarará!
Tem um projeto de um deputado do Mato Grosso do Sul: gago paga metade da conta telefônica! Gago devia pagar meia conta em motel! Já imaginou um gago gozando: "Totototô quaquaquase gogogozando, pepeperaí". Duas horas no mínimo! Rarará!
O Brasileiro é Cordial! Mais uma do Gervásio. Esse Gervásio é um vulcão em erupção. Olha o cartaz que ele botou na empresa em São Bernardo: "Se alguém daqui tiver a ousadia de vir falar comigo do jeito que o Bial fala, só pra me ludibriar, vou amarrar o maldito falastrão dentro do canil no final de semana junto com aquele dobermann maluco. Conto com todos. Assinado: Gervásio". Rarará.
O Gervásio devia ser contratado pra receber os turistas na Copa de 2014. Ia ser um sucesso. Rarará. Nóis sofre, mas nóis goza.

MERVAL PEREIRA

Agricultura em xeque
 Merval Pereira
O GLOBO - 26/01/11

O Fórum Econômico Mundial começa hoje em Davos, na Suíça, tendo como um dos temas principais o apoio à agenda do G-20 - grupo que reúne as principais economias do mundo, entre as quais a do Brasil -, e como principal orador o presidente da França, Nicolas Sarkozy, que também preside o G-20. Ele apresentou na segunda-feira, em Paris, uma agenda de discussão que nos interessa diretamente, pois tem como objetivo central a regulação do mercado internacional de commodities, especialmente os produtos agrícolas.

A economia brasileira tem apresentado bons resultados principalmente devido ao apetite da China por commodities, o que tem feito os preços subirem.

Além do mais, o Brasil é dos maiores exportadores de produtos agrícolas, e teria seus interesses atingidos por uma regulação mundial de preços. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, já afirmou que o país não aceita nenhuma regulação que vise a controlar os preços.

O presidente francês está centrando seu programa de ação no G-20 no apoio dos países europeus, e designou três líderes para coordenarem os trabalhos.

O presidente da Rússia, Dmitri Medvedev - que seria o orador da abertura do Fórum e cancelou sua viagem devido ao atentado no aeroporto de Moscou -, vai coordenar o grupo de trabalho sobre o mercado de matéria-prima, com especial atenção aos produtos agrícolas.

Um dos objetivos seria organizar uma estatística mais transparente sobre os estoques e o consumo, a fim de evitar especulações que elevam os preços.

Essa tarefa ficaria a cargo da FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação). A Índia e a China resistem a divulgar informações que consideram "estratégicas", ao mesmo tempo em que Brasil e Estados Unidos se preocupam com movimentos que podem produzir críticas à produção dos biocombustíveis, acusada de ocupar terras que poderiam ser usadas para produção destinada à alimentação.

O primeiro-ministro da Inglaterra, James Cameron, será o coordenador do grupo que vai analisar a governança internacional e o papel do G-20, e a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, vai coordenar o grupo que estudará a reforma do sistema monetário internacional.

O Fórum de Davos tem este ano o tema genérico de "Normas compartilhadas para uma nova realidade", que procura refletir a preocupação da maioria dos líderes de um mundo cada vez mais interconectado - e por isso mais complexo - e que, ao mesmo tempo, experimenta a erosão de valores e princípios, o que, na visão dos organizadores do Fórum, reduz a confiança da opinião pública nas lideranças, provocando instabilidade econômica e social.

O tema central foi dividido em quatro subtemas relacionados entre si - entre eles "Respondendo a uma nova realidade"; "Definição de políticas para um crescimento inclusivo"; "Criar uma rede de respostas a riscos" -; e o apoio à agenda do G-20, que é o que interessa mais de perto ao Brasil neste momento.

Para organizadores do Fórum, a importância do G-20 dependerá da habilidade para criar bases para um crescimento sustentável, equilibrado e inclusivo, depois que a recuperação da crise financeira estiver garantida, com um sistema financeiro mais resistente a crises. Já há uma concordância sobre o papel do G-20, hoje considerado o instrumento mais promissor para definir a nova governança num modelo multinacional de liderança, mesmo que sua legitimidade ainda seja questionada por alguns países.

A agenda do G-20, segundo o Fórum, inclui ainda a necessidade de uma maior interdependência entre os negócios e os governos, considerada fundamental para que os negócios continuem inovadores e ajudem a criar mais empregos, permitindo que os governos não se vejam tão sobrecarregados com os problemas internos e possam se dedicar mais às tarefas políticas de liderança nesse novo mundo multipolar.

Essa foi uma maneira sutil que os organizadores do Fórum Econômico encontraram para colocar em discussão a intervenção dos governos nas economias, o que provocou um problema fiscal na maior parte dos países, e o aumento da inflação mundial.

Fundamental para enfrentar essa nova realidade mundial será a busca de normas compartilhadas que possam ser utilizadas num mundo multipolar tanto por governos quanto por corporações multinacionais, permitindo que comportamentos inaceitáveis sejam vistos como tal em todos os mercados.

Essa seria a base para uma discussão mais ampla sobre a reforma do sistema monetário, que a chanceler alemã Angela Merkel vai coordenar a pedido de Sarkozy. Já está sendo organizado um seminário internacional que será realizado, não por acaso, na China.

O Fórum Econômico pretende ser o catalisador das discussões que dominarão o G-20 com relação à agenda do presidente francês para seu mandato na presidência do organismo, e estarão presentes nos debates de Davos todos os líderes europeus nela envolvidos, antecipando as posições que estarão em análise nos próximos meses, inclusive a regulação do mercado internacional de commodities.

A representação brasileira não terá a presença nem do ministro da Fazenda, Guido Mantega, nem do ministro da Agricultura, Wagner Rossi. Deverá caber ao chanceler Antonio Patriota a discussão política sobre o papel do G-20.

Também o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, e o do BNDES, Luciano Coutinho, terão papel importante na definição das posições brasileira com relação à exportação de matérias-primas.

Nesse contexto, ganhará maior importância a candidatura, já oficializada pelo Itamaraty, de José Graziano para a direção-geral da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO).

Graziano, que já representa o Brasil na FAO, é homem de confiança do PT, tendo sido ministro responsável pelo programa Fome Zero, que acabou sendo substituído, no início do governo Lula, pelo Bolsa Família.

Diante da tentativa dos países desenvolvidos de controlar o mercado internacional de commodities, especialmente os produtos agrícolas, o cargo na FAO será um posto estratégico.

O governo brasileiro tem um histórico de insucessos na tentativa de ocupar cargos relevantes nos organismos internacionais, e é provável que mais uma vez se veja diante de uma reação à sua pretensão.

GOSTOSA

MÍRIAM LEITÃO

Por dentro do déficit
Míriam Leitão
O GLOBO - 26/01/11

O Brasil fechou 2010 com um déficit em transações correntes que, em valor, é recorde, mas que poderia ser até pior. O superávit comercial reduziu o déficit, porque ficou acima do esperado, em US$20 bilhões. Olhando por dentro, no comércio brasileiro há muitas surpresas. Uma delas: o saldo comercial de uma única empresa, a Vale, foi de US$23 bilhões, maior do que o do Brasil.

Antigamente, qualquer déficit na conta corrente levava, depois de alguns anos, a uma crise cambial. Desta vez, o Brasil tem reservas enormes, uma dívida externa pequena, e a situação é bem diferente. Mas o país depende demais de alguns produtos e a alta das exportações aconteceu muito mais pelo aumento dos preços do que pelo volume exportado.

O país exportou US$201 bilhões em 2010. Em valor, foi um crescimento de 31%. Mas em volume, a alta foi de 14,2%. A exportação de açúcar subiu 50%, de US$8,6 bilhões para US$13 bilhões. Mas os preços foram negociados com alta de 31% e o volume cresceu 15%. A venda externa de carne teve alta de 15%, mas os preços subiram 13,9% e o volume, apenas 1,66%.

Nos principais produtos da pauta brasileira, o valor subiu mais que o volume. No minério de ferro, que sozinho representou 16,35% de nossas exportações, os preços subiram 75%, em média, enquanto o volume cresceu 18,16%.

O Brasil depende muito das matérias-primas e elas dependem da China. Do que a Vale produz, 87% são exportados, e desse total, 45% vão para a China. E o salto dos últimos anos foi dado basicamente pela elevação dos preços puxados pelos chineses. Nossas exportações ainda se concentram em matérias-primas para os países mais ricos e bens de capital para os latino-americanos. Da pauta de exportações, apenas 10% foram de bens de capital, e dos US$19,7 bilhões exportados nessa categoria, 46,8% foram para a América Latina. A China sozinha comprou US$30 bilhões de produtos brasileiros (13,72% do total), principalmente minério de ferro, petróleo e derivados, e soja.

O peso do minério de ferro fica mais evidente quando se olha para os resultados da Vale, que foi a empresa que mais exportou em 2010, à frente da Petrobras.

O diretor-executivo de finanças e RI da Vale, Guilherme Cavalcanti, diz que as exportações de matéria-prima são importantes para o financiamento do déficit em conta corrente, até para cobrir o rombo da necessidade de importação de máquinas e equipamentos.

- A Vale importa pouco e exporta muito. Então nosso superávit é importante para o país. A indústria brasileira precisa de tempo para aumentar a competitividade, com importação de bens de capital. O pré-sal também terá um período de forte importação de equipamentos até conseguir exportar. Então, o superávit que o minério de ferro está promovendo dará fôlego a esse processo. Não fosse o minério, teríamos déficit na balança comercial e um déficit em conta corrente maior. Não podemos desprezar a exportação de matéria-prima, mas também não podemos esquecer de investir numa indústria forte. Para que esse processo aconteça, o superávit do minério de ferro é fundamental - disse Cavalcanti.

O problema é que quando o país depende muito do preço em alta dos seus produtos fica mais vulnerável. Qualquer crise, o preço despenca. Vejam no gráfico abaixo.

Cláudio Alves, diretor de estratégia da Vale, acha que a demanda asiática por minério continuará forte nos próximos anos, com o crescimento de outros países, como Vietnã, Camboja e Indonésia:

- Todo o sudeste asiático tem um potencial de consumo muito forte nesta década. Países como Vietnã, Indonésia, Camboja estão começando um processo de industrialização que vai consumir muito minério de ferro. Além disso, eles também investem em infraestrutura, vão passar pelo mesmo processo que hoje vive a China. Estamos falando de países com população somada de mais de 500 milhões de pessoas. Nossa maior preocupação não é a queda de preços, mas sim conseguir aumentar a produção para atender essa demanda - explicou.

O déficit em transações correntes dobrou de um ano para o outro, em valor, e saiu de 1,5% do PIB para 2,3%. Para 2011, o Banco Central está prevendo outro aumento do déficit, dos atuais US$47,5 bilhões para US$64 bilhões. No mercado financeiro, a convicção é que o déficit pode ser maior.

O risco aumenta porque o crescimento econômico fará crescer as importações. A própria Vale foi obrigada a encomendar 23 navios de estaleiros chineses e coreanos para conseguir aumentar sua carga exportada. Isso porque a indústria naval do país já está no limite de produção.

O déficit, para ser financiado, precisa de mais investimento externo e preços altos de matéria-prima. Não há crise à vista, mas é melhor monitorar os dados, porque o Brasil é gato escaldado.

MÔNICA BERGAMO

AGNELLO VIRA PRACINHA
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SÃO PAULO - 26/01/11

Mal terminou a novela "Passione", na qual viveu o italiano Agnello, e o ator Daniel de Oliveira embarcou, no sábado, para a Itália; ele será um soldado no filme "A Montanha", de Vicente Ferraz, sobre a atuação dos pracinhas brasileiros na Segunda Guerra Mundial

ESTOURO NA FATURA

Os paulistanos começaram o ano no vermelho, segundo a Fecomercio (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de SP). O nível de endividamento subiu de 45,7%, em dezembro, para 51,2%, em janeiro, de acordo com a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor. O total de famílias endividadas aumentou de 1,639 milhão no mês passado para 1,836 milhão neste mês. O pagamento da fatura do cartão de crédito com as compras de Natal, o IPTU e o IPVA são os fatores que levaram ao endividamento, diz a pesquisa.

ESTOURO NA FATURA 2
E o número de famílias com contas atrasadas em SP pulou de 13% em dezembro para 15% em janeiro. Esse atraso é maior nos lares com renda de até dez salários mínimos (17%). A elevação dos níveis de endividamento é reflexo da confiança que o consumidor expressou em dezembro e do uso de financiamentos nos gastos do fim de ano, avalia a Fecomercio.

EM CASA A primeira-dama baiana, Fátima Mendonça, credita a amigos o balão de ensaio do seu nome para a Prefeitura de Salvador em 2012. "Eles ficam nessa onda. Deixo na brincadeira, mas não quero, não, pelo amor de Deus. Político basta um", diz a mulher do governador Jaques Wagner (PT), em meio à crise da gestão do prefeito João Henrique Carneiro. "Tá uma loucura essa cidade. O povo diz que precisa de uma mulher."

ANOS 80 EM CENA
A diretora Lucia Segall e o ator Márcio Américo estrearam "Corações Under Rocks", no Centro Cultural São Paulo. A peça trata do reencontro de dois amigos que não se viam desde os anos 1980. Na plateia, a atriz Bárbara Paz, Myra Babenco e o escritor Lourenço Mutarelli, entre outros.

CLASSIFICADOS
Síndico de um edifício na superquadra 109 Sul, em Brasília, onde há sete apartamentos funcionais, o advogado Januncio Azevedo ameaça ir para aJustiça contra a União por taxas e condomínios em atraso. O débito chegaria a R$ 23 mil. A União diz que o valor não passa de R$ 10 mil, dos quais R$ 1.561 serão pagos hoje. O restante será liquidado conforme liberação do Orçamento.

CLASSIFICADOS 2
Entre os apartamentos, um foi desocupado em 2008 pela ex-ministra Matilde Ribeiro, da Igualdade Racial, quando exonerada do cargo.

PEÇA DE MUSEU

A Fundação Mario Covas planeja criar um Museu da Democracia em São Paulo. A ideia é contar a história da participação popular desde a Grécia Antiga até a Constituição de 1988. Uma versão virtual deve ser lançada até 2012, e a galeria Prestes Maia chegou a ser cogitada como sede, mas o prefeito Gilberto Kassab (DEM-SP) disse já ter outro projeto para o espaço.

A fundação quer transferir a gestão do museu para outra entidade, para evitar a pecha de iniciativa tucana.

À MEXICANA
Gilberto Gil embarca em 7 de fevereiro para o México. O cantor se apresenta ao lado de Carlinhos Brown no aniversário da cidade de Guadalajara, no dia 10.

MINHA HISTÓRIA
A atriz Cibele Dorsa decidiu contar no livro "5:00 da Manhã" como superou o grave acidente de carro que sofreu em 2008, após sair de uma balada. A ex-modelo chegou a ficar sem o movimento das pernas e os médicos previam que teria graves sequelas. "Me disseram que eu iria arrastar a perna e nunca mais usaria um salto alto. Hoje eu sambo", diz. No livro, que será lançado amanhã, em SP, ela ainda conclui que "ninguém precisa aceitar o que não quer".

CURTO-CIRCUITO

O cantor e compositor Marco André se apresenta hoje, às 21h, no Centro Cultural Rio Verde. O local também terá, hoje e amanhã, oficinas de percussão amazônica. Livre.

A galeria Mezanino fará mostra coletiva de seus artistas, a partir de hoje, às 15h, na galeria Mundo Mix.

A pizzaria Mercatto e associações de moradores do Portal do Morumbi realizam hoje uma pizza solidária para arrecadar fundos para concluir a reforma da base móvel da Polícia Militar instalada no bairro.

com ELIANE TRINDADE (interina), DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY

PENSÃO

DORA KRAMER

Tensão necessária
Dora Kramer
O ESTADO DE SÃO PAULO - 26/01/11

Nota-se um evidente desconforto. No caso das centrais sindicais é mais do que isso: o presidente da Força Sindical, deputado Paulo Pereira da Silva, com a grosseria que o notabiliza, desafiou a presidente da República.

Fez advertências públicas a Dilma Rousseff ("cuidado, Fernando Henrique começou assim"), reclamou do tratamento considerado "distante" por parte dela aos companheiros sindicalistas e considerou "nefasta" a proposta do governo de reajustar a tabela do Imposto de Renda em troca de um salário mínimo de R$ 545 ou, no máximo, R$ 550.

Em outras entidades representativas do movimento social, como MST e UNE, para citar as mais visíveis, há uma inquietação para saber como Dilma vai se relacionar com um pessoal a quem o antecessor abriu as portas e, sobretudo, os cofres do governo.

Querem se articular com os sindicatos para organizar uma agenda com a qual possam influenciar nas decisões de governo.

Dizem auxiliares da presidente que a relação vai mudar bastante. Não informam como, quando nem em qual direção será a mudança. Mas as organizações já dão sinais claros de que não estão confortáveis com o gestual do início, expresso nas negociações do novo salário mínimo.

Para lidar com eles Dilma escalou o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho. Anteriormente essa interlocução também era feita na secretaria, mas por um chefe com muito menos prestígio e força política: Luiz Dulci, o redator dos discursos nunca lidos por Lula.

Resultado, o interlocutor era o próprio presidente. Agora não. Já se nota que o reforço no anteparo significa que será a secretaria-geral e não o gabinete da Presidência, a instância máxima de recurso.

Durante a campanha, sempre que lhe perguntavam o que achava da jornada de trabalho de 40 horas e outras reivindicações trabalhistas, Dilma respondia que essas eram questões importantes, mas não eram assuntos de governo.

Ou seja: deixou claros os limites e avisou aos navegantes que uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Governos cuidam dos interesses gerais da sociedade e os segmentos, aí incluídas categorias profissionais, cuidam de suas respectivas reivindicações.

No governo anterior é que ocorreu a distorção: movimentos todos cooptados por meio de doação de verbas federais de diferentes maneiras e, por isso, usados na política como tropas de defesa do governo. Além dos partidos aliados, havia os movimentos coligados. E sustentados. Na nova administração, têm receio de perder espaço ou de precisar ocupá-lo da maneira adequada: do outro lado do balcão.

Afinal de contas movimentos de reivindicação não existem para atuar como tropas de defesa governista, mas para cobrar melhores ações de governos.

Uma tensão natural e até necessária para o bem de uma sociedade pluralista.

Cenografia. Pode falar o presidente da Itália, pode se manifestar o Parlamento europeu, podem os italianos ameaçar ir à Corte de Haia, mas nada disso tem o condão de fazer a presidente Dilma Rousseff mudar a decisão do antecessor de negar extradição a Cesare Battisti.

Seria admitir que Lula e parte dos atuais ministros - como o da Justiça - se equivocam ao considerar a permanência do italiano no Brasil uma questão de "soberania nacional". Seria, sobretudo, uma briga interna muito mais difícil de administrar que quaisquer protestos internacionais.

É possível que Battisti saiba muito bem disso pelas declarações que, da prisão, tem dado recentemente. Na última disse que quem se opõe à sua presença no País se opõe também ao ex-presidente Lula.

Correção. O ex-governador de Minas Aécio Neves pede para ser excluído da lista dos beneficiários de aposentadorias estaduais. "Nunca requeri nem vou requerer", informa.

Feita a justa correção, uma indagação: por que não usar sua força política no Estado para ajudar a revogar a lei que proíbe a divulgação dos nomes dos pensionistas em Minas?

CELSO MING

 O rombo aumenta 
Celso Ming
O Estado de S. Paulo - 26/01/11


As Contas Externas de 2010 ontem divulgadas pelo Banco Central apresentaram resultados contraditórios e crescimento do risco de descontrole.

O rombo (déficit em transações correntes) está crescendo e as projeções do Banco Central apontam um aumento de 25% em 2011. A maior preocupação não é com o tamanho do déficit, mas com a velocidade do aumento. Antes de seguir, vamos aos conceitos.

As Contas Correntes (ou Transações Correntes) englobam três subcontas do fluxo geral de pagamentos e recebimentos para/do exterior: balança comercial (exportações e importações); balança de serviços (juros, transporte, turismo, royalties, aluguéis, lucros e dividendos); e as transferências unilaterais (o dinheiro remetido para os familiares que estudam lá fora ou os recursos que os brasileiros que trabalham no exterior mandam para suas famílias).

Esse rombo saltou de US$ 24,4 bilhões (1,52% do PIB) em 2009 para US$ 47,5 bilhões (2,28% do PIB) em 2010. Para 2011, o Banco Central prevê um rombo de US$ 64,0 bilhões (2,84% do PIB). Como as reservas estão crescendo, o déficit está sendo mais do que compensado com a entrada de capitais. Os Investimentos Estrangeiros Diretos (IED) surpreenderam. Cresceram US$ 15,4 bilhões apenas em dezembro, acumulando uma entrada líquida no ano de US$ 48,5 bilhões, aumento de 86,8%. Como se trata de produção futura, a chegada desses recursos é bem-vinda, embora concorra para achatar as cotações do dólar aqui dentro (valorização do real) e, em certa medida, tire competitividade do setor produtivo.

Mas, afinal, o forte aumento do déficit externo é ou não preocupante e por quê? A principal fonte de preocupações está nas causas desse rombo. Quase sempre, como agora, é resultado de uma disparada do consumo. E a disparada do consumo tem a ver tanto com a valorização do real (que eleva o salário em dólares) e com o avanço das despesas públicas, que aumenta as importações (mais 41,7% em 2010) e os gastos nas viagens internacionais (mais 87,7%).

Enquanto for coberto com entrada de capitais de boa qualidade (especialmente investimentos), o rombo nas Contas Correntes até ajuda a puxar o crescimento e o emprego. As altas reservas internacionais (perto de US$ 300 bilhões) ajudam a manter o clima de confiança. No entanto, o grande risco é o de que o déficit aumente tanto e tão rapidamente que as reservas comecem a baixar e se levantem dúvidas quanto à capacidade futura de pagamento do Brasil.

Se e quando isso acontecer, em pouco tempo a entrada de capitais pode estancar, o que seria desastroso se ocorrer no momento em que o País mais precisa de investimentos estrangeiros para dar conta dos projetos de desenvolvimento do PAC, do pré-sal, das obras para a Olimpíada e a Copa do Mundo.

É por isso que, apesar das críticas daqueles que pedem maior valor agregado aos produtos brasileiros, o forte aumento das exportações de commodities (especialmente alimentos e minério de ferro) ajuda a manter o clima externo de confiança. Mas é claro que alguma coisa tem de ser feita para segurar o excesso de despesas públicas e a disparada do consumo.

CONFIRA

Hablas guarani?
O leitor Alberto Martinet criticou a pretensão do Paraguai de adotar o guarani como língua oficial do Mercosul. Ele lembra que o excesso de respeito pelas etnias conduziu a União Europeia ao colapso burocrático. Emplacou 23 línguas oficiais, todas com direito a documentos oficiais e traduções simultâneas.

Estoniano e maltês
"Como não existem intérpretes capazes de traduzir diretamente, por exemplo, do estoniano para o maltês, a translação tem de ser feita em duas etapas: do estoniano para o inglês, em seguida do inglês para o maltês. Com toda a perda de qualidade que isso implica."

Quíchua e aimará
Se o guarani for aceito como língua oficial estará criado um precedente. Quando o Peru e a Bolívia entrarem no Mercosul, vão exigir que o quíchua e o aimará tenham o mesmo tratamento. Afora isso, os etnólogos catalogam 180 línguas indígenas faladas apenas no Brasil. Vão todas para o Mercosul?

GOSTOSA

ROLF KUNTZ

 Emergentes têm destaque no plano de executivos
Rolf Kuntz

O Estado de S. Paulo - 26/01/11


Preocupação com os governos endividados faz contraponto com o otimismo dos 1291 dirigentes entrevistados em 69 países

Executivos de todo o mundo voltam a apostar na expansão dos negócios, depois de se ocupar durante dois anos, principalmente, com a sobrevivência, segundo pesquisa da PricewaterhouseCoopers (PwC) com 1201 dirigentes de empresas (CEOs)de 69 países.

O otimismo quase voltou ao nível de antes da crise: 48% se disseram muito confiantes no crescimento da atividade nos próximos 12 meses, de acordo com entrevistas conduzidas no trimestre final de 2010. Em 2007, quando começou o estouro da bolha de crédito, 50% deram essa resposta. O grupo dos otimistas encolheu para 21% em 2008 e não passou de 31% no ano passado.

A disposição melhorou de forma geral, mas é mais acentuada nos países emergentes e muito menos na Europa Ocidental, onde os alemães aparecem como a exceção. Mas a confiança dos dirigentes de empresas do mundo rico depende em boa parte da expectativa de ganhar dinheiro nos países em desenvolvimento. O país mais importante para o crescimento será a China, segundo 39% dos CEOs. Os Estados Unidos ficaram em segundo lugar, com 21% das citações, o Brasil em terceiro, com 19%, e a China em quarto, com 18%.

O maior envolvimento com os emergentes é uma das mudanças estratégicas apontadas pelos dirigentes como parte de suas novas políticas. A inovação também deve ter um papel central, e também, nesse caso, poderá haver uma nova orientação. Passar a produzir tecnologia mais voltada para os mercados "locais", incluídos os emergentes, é uma das tendências captadas pela pesquisa.

"A economia pós-recessão está-se recuperando em dois níveis. Economias emergentes como China, Índia e Brasil crescem a taxas muito maiores que as dos países desenvolvidos. A mudança no equilíbrio de poder impõe aos CEOs o desafio de decidir quando e onde investir em instalações, pessoas e inovação. Companhias capazes de entender e de capitalizar os padrões divergentes de crescimento das economias desenvolvidas e emergentes serão as vencedoras nos próximos anos", disse o presidente da PwC, Dennis M. Nally.

"Qualquer companhia industrial, se quiser ser líder global, deve ter uma ampla presença em mercados emergentes", avaliou Ed Breen, presidente e CEO do conglomerado americano Tyco International, um dos grupos incluídos na pesquisa.

Vantagens. Quando se trata, no entanto, de pesar as vantagens comparativas dos países fornecedores, dois países desenvolvidos aparecem na lista dos cinco primeiros colocados. A China aparece em primeiro lugar, seguida por EUA, Índia, Alemanha e Brasil. A vantagem chinesa decorre, principalmente, de sua liderança em matéria de custos. O principal atributo da economia americana é a inovação. A da Alemanha, a qualidade.

O entusiasmo com os países em desenvolvimento vai além das economias maiores e mais avançadas na industrialização. O crescimento não está limitado ao Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) e a alguns poucos países em desenvolvimento, mas tem-se espalhado também por outras áreas, incluída a África. E o interesse, de acordo com o relatório, não é restrito ao aproveitamento de matérias-primas.

O otimismo é temperado com algumas preocupações. Pela da primeira vez, os problemas fiscais das economias desenvolvidas apareceram no alto da lista. O crescimento nos próximos anos dependerá em grande parte de como os governos vão cuidar de suas contas e enfrentar o problema do alto endividamento. Os CEOs americanos dão como quase certo um aumento de impostos para ajudar no reequilíbrio das finanças oficiais. O excesso de regulação continua entre os principais fatores de risco. Mas há uma novidade de outro tipo na avaliação de como empresas e governos poderão relacionar-se nos próximos anos: há interesses partilhados - como a arrumação financeira - e os governos podem contribuir de forma importante para atender a uma das principais carências apontadas pelos entrevistados - a de mão de obra de alta qualidade.

Essa foi a 14.ª pesquisa anual da PwC sobre as expectativas de executivos de todo o mundo. A divulgação do resultado, com uma entrevista do presidente do grupo, normalmente antecede a abertura da reunião do Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

Aluguel de imóveis corporativos de alto padrão tem valorização de 14% em SP
MARIA CRISTINA FRIAS
FOLHA DE SÃO PAULO - 26/01/11

Os preços dos aluguéis dos escritórios de alto padrão subiram, em média, 14% no ano passado na cidade de São Paulo.
O valor médio cobrado pelo metro quadrado atingiu R$ 112 -um dos maiores valores da história já cobrados na cidade-, segundo a consultoria Binswanger Brazil.
A valorização é reflexo do excesso da demanda e da falta de oferta.
"Nos últimos quatro anos, poucos imóveis corporativos novos foram entregues no município. E, do outro lado, muitas empresas procuraram novos espaços", diz Rafael Camargo, sócio-diretor da Binswanger.
A oferta, porém, deve aumentar nos próximos anos. A consultoria projeta que até 2012 serão entregues cerca de 500 mil metros quadrados de edifícios de alto padrão, sendo 293 mil ainda neste ano.
Esses números estão acima da média histórica, de 120 mil metros quadrados ao ano, segundo Camargo.
"Com essa retomada, os preços de locação devem sofrer um pequeno ajuste para baixo, de 10% a 15%, no segundo semestre do ano que vem", afirma.
A taxa de vacância (relação entre o número de imóveis disponíveis e o volume total construído) de edifícios de alto padrão fechou o ano passado em 5,7%, abaixo dos 6,4% em 2009, de acordo com a consultoria.
A região da cidade com o valor do aluguel mais alto no ano passado foi a Faria Lima, que registrou R$ 180 pelo metro quadrado. A Berrini ficou em segundo lugar, com valores de até R$ 130.

CAMINHO DA BOLSA
O advogado Luiz Leonardo Cantidiano, ex-presidente da CVM e sócio do Motta, Fernandes Rocha, vai assumir a presidência da recém-criada Câmara Consultiva da Bovespa, para mandato de dois anos.
O objetivo da entidade será discutir formas de atuação da Bolsa para estimular a listagem de empresas de diferentes tamanhos e segmentos, segundo Cantidiano.
"Hoje existem setores que há algum tempo não tinham participação forte no mercado. A área de infraestrutura deve caminhar para essa direção com mais força. Vamos verificar as regras e propor algum aperfeiçoamento", afirma.
Também será debatido o desenvolvimento do Bovespa Mais, para companhias que queiram adotar uma estratégia gradual de acesso ao mercado de capitais.

INVESTIMENTO

O Brasil será um dos países que vão oferecer as melhores oportunidades de investimento durante o ano. É o que revela pesquisa feita pela Bloomberg com mil tomadores de decisões financeiras.
O país ficou em terceiro lugar, apontado por 23% dos investidores. Com 37%, os EUA ficaram no topo, seguidos pela China (26%).
A União Europeia foi vista por 40% dos entrevistados como o mercado que oferecerá os piores retornos.
Segundo a pesquisa, 45% estão otimistas com o governo de Dilma Rousseff. Outros 22% estão pessimistas.

Capital... 
A Agência de Fomento Paulista/Nossa Caixa Desenvolvimento quer ampliar a atuação nos Fundos de Capital Semente, com apoio a pequenas companhias.

...criativo
Terão prioridade as empresas que usem tecnologias inovadoras em biotecnologia, nanotecnologia, TI e manejo de resíduos.

Construção...
 
Para suprir a demanda das construtoras por material reciclado, a Alcoa começou a produzir perfis extrudados de alumínio com 80% de metal reaproveitado.

...sustentável 
A empresa prevê para 2011 um aumento de mais de 50% no número de toneladas de perfis verdes usadas no país. Foram vendidas 600 toneladas em 2010.

NO CARTÓRIO
O volume de títulos protestados ficou em 720.611 em 2010 em São Paulo. O número é mais de 20% inferior ao registrado em 2009.
Em dezembro, foram protestados 59.207 títulos, alta de 2,95% em relação ao mês anterior, segundo levantamento do Instituto de Estudos de Protesto de Títulos da Seção São Paulo junto aos dez tabeliães da capital.
Dos títulos protestados em dezembro, 14,3% foram cheques. As duplicatas aumentaram e as notas promissórias caíram.
"O resultado pode ser considerado uma expressão de que a economia vai bem e que as pessoas estão pagando", diz José Carlos Alves, presidente do instituto.

com JOANA CUNHA, ALESSANDRA KIANEK e VITOR SION

CORRUPTO

ALOÍSIO DE TOLEDO CÉSAR

O efeito Tiririca no Supremo
Aloísio de Toledo César 
O Estado de S.Paulo - 26/01/11

As instituições às vezes refletem contradições capazes de deixar atordoado o mais sereno dos brasileiros. Uma delas, bastante recente, está na circunstância de o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Cezar Peluso, detentor de linda carreira, com quase 40 anos de magistratura sem a mais leve mancha, a partir de 1.º de fevereiro passar a receber subsídios iguais aos do comediante Tiririca, eleito deputado federal.

O País acompanhou o fenômeno Tiririca, o mais votado de todos os tempos, apesar de sua claudicante alfabetização, tão controversa que tornou duvidosa a conclusão final do Judiciário a respeito de ser ele alfabetizado ou não. É pessoa simpática e detentora de talento próprio para as graças que costuma fazer e das quais se alimenta. Mas, sem dúvida alguma, a equiparação assusta.

A imagem do comediante não se confunde com a do Congresso Nacional, integrado por muitas pessoas de bom nível intelectual e cultural. Mas, com a decisão do final do ano passado, que vinculou os vencimentos dos deputados federais e senadores aos recebidos pelos ministros do STF, Tiririca e Cezar Peluso estarão empatados nos respectivos contracheques.

Em verdade, é pior do que isso, porque os deputados federais e senadores, por força daquelas vantagens extraordinárias para pagamento de despesas pessoais e de assessores, acabam recebendo bem mais do que um ministro do Supremo.

Isso tende a criar situação bastante constrangedora. Os representantes do povo detêm o poder de aprovar as leis e por isso lhes é dado decidir se portadores de mandatos eletivos devem receber subsídios iguais ou maiores que os dos ministros do STF e vice-versa.

O que não parece adequado é a equiparação, porque representa o risco de se perpetuar, ou seja, cada vez que houver aumento dos subsídios dos ministros do STF, o precedente poderá levar os congressistas e votarem nova lei em causa própria, promovendo outra vez a equiparação.

A Constituição federal, em seu artigo 37, inciso XI, determinou com toda a clareza que os subsídios dos ministros do Supremo devem ser os mais elevados, tanto que representam o valor máximo para cálculo dos demais. A equiparação levada a efeito no final de 2010 introduziu um aleijão na Carta Magna, ou seja, fez surgir um arremedo de paradigma, representado pelos valores que serão recebidos por deputados federais e senadores.

Sem nenhuma dúvida, não foi isso o que pretendeu o legislador constituinte de 1988 ao colocar o STF no topo da escala de vencimentos dos agentes do Estado. Se a moda pega, outros ocupantes de cargos, funções e empregos públicos, na administração direta e indireta, poderão postular a mesma equiparação a ministros e congressistas, uma vez que o precedente está cristalizado.

Após seguidas eleições, pacificamente realizadas, a democracia brasileira mostra-se efetivamente consolidada, sobretudo com a escolha, agora, de uma mulher para presidente da República. Mas todos sabemos que a democracia tem os seus inimigos. A equiparação de vencimentos de deputados federais, senadores e ministros, dando a ideia de uma nobreza intocável e favorecida, será sempre um prato cheio para aqueles que gostariam de estatizar até mesmo os banhos de praia.

Os vencimentos dos subsídios dos ministros do STF são fixados por lei federal. A última, de 2005, fixou-os em R$ 21.500, com elevação ao patamar de R$ 24.500 a partir de 1.º de janeiro de 2006. Pela Resolução n.º 423, legalmente prevista, esses valores foram elevados pelo STF para R$ 26.723,13. Com base neles são calculados os vencimentos dos ministros dos outros tribunais, juízes e promotores de Justiça, federais e estaduais.

Está prevista para o início da atual legislatura a votação pelo Congresso do projeto que concede ligeira majoração aos vencimentos dos ministros do Supremo. Isso ocorrerá pela primeira vez num momento em que ministros e congressistas recebem os mesmos subsídios e, claro, poderá provocar constrangimentos.

A equiparação efetivada ocorreu levando em conta tão somente os valores recebidos pelos ministros da Suprema Corte, ou seja, não houve alteração do princípio constitucional que coloca os subsídios dos ministros do STF na condição de os mais elevados do País. Isso significa que a possível aprovação do reajuste pretendido pelo Supremo não se estenderá automaticamente aos congressistas, muito embora, dado o precedente, fique em aberto a possibilidade de estes iniciarem nova corrida para igualar os subsídios. Vê-se que se trata de questão tormentosa, capaz de repercutir desastrosamente entre a população espectadora.

O acesso ao cargo de ministro do Supremo Tribunal Federal representa o coroamento de qualquer carreira jurídica. É uma honra ser escolhido, porém a escolha não representa um agradável desfecho de vida profissional, representando, ao contrário, servidão interminável, decorrente do inacreditável volume de processos que cada ministro tem a obrigação de julgar.

Respeitadas as exceções, os ministros da Supremo Corte trabalham muitas vezes mais do que a maioria dos deputados e senadores. E, muito embora ocupem o cargo máximo na hierarquia dos agentes públicos, não será confortável para eles receberem os mesmos subsídios que serão pagos aos parlamentares no Congresso Nacional - inclusive ao deputado federal Tiririca.

A equiparação em favor dos deputados federais e senadores ocorreu por decreto legislativo, no final do ano passado, aprovado em regime de urgência e resultando em majoração de 61,68% nos seus subsídios, ou seja, índice bastante superior ao da inflação no período. Como se efetivou por decreto legislativo, nem houve necessidade de sanção do presidente da República.

DESEMBARGADOR APOSENTADO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO (TJ-SP)