sábado, junho 12, 2010

MERVAL PEREIRA

O "espetáculo" do crescimento
MERVAL PEREIRA

O GLOBO - 12/06/10

Na euforia que tem marcado suas aparições recentes, mescladas de uma irritação que não seria de se esperar se as coisas estivessem realmente bem, o presidente Lula decretou o fim de uma longa discussão na política econômica brasileira, a do PIB potencial, que, segundo ele, era uma “imbecilidade de economista”.

Disse Lula: “(...) diziam que o país não podia crescer mais de 3%, que a casa caía.

Aprendemos que é gostoso crescer 4%, 5%, 6%. Queremos crescimento sustentável que dure dez, 15 anos”.

Como quase sempre acontece, Lula estava desinformado e puxando a brasa para a sua sardinha. O Brasil, na verdade, muito antes dele, já teve crescimentos sustentados do PIB de níveis de Índia ou China: de 1950 a 1959, média de 7,15%; de 1960 a 1969, média de 6,12%; e de 1970 a 1979, de 8,78%.

O maior crescimento do PIB foi de 13,97% em 1973, no auge do “milagre econômico”, mas taxas de dois dígitos só ocorreram em seis anos.

A partir de 2007, o Brasil entrou em um crescimento anual em torno de 5%, mas mesmo o crescimento de 5,4% de 2007 colocava o Brasil em desvantagem diante de outros países do mundo do mesmo porte.

Em 2008, o país cresceu 5,1%, mas, em 2009, o crescimento foi negativo. Se se confirmar a previsão do governo de crescer 7% este ano, é possível que a média final de crescimento do governo Lula fique próxima de 4%.

Um crescimento menor, por volta de 5%, por exemplo, levaria a média do governo Lula para um patamar por volta de 3,5%, sempre abaixo da média do crescimento mundial, com o agravante de que os primeiros anos do governo Lula foram os mais prósperos do mundo nos últimos anos.

O economista Reinaldo Gonçalves, professor da UFRJ, em recente trabalho comparativo entre os governos republicanos, aponta que no período 1890-2009 a taxa média de crescimento real do PIB brasileiro é de 4,5%.

No conjunto de 29 períodos, o governo Lula (2003-09) tem a 9ª mais baixa de crescimento econômico. E, na ordem decrescente, constatase que a taxa de crescimento no governo Lula (3,5%) ocupa a 21ª posição.

Neste governo, segundo seus estudos, o crescimento médio real anual do PIB é significativamente menor do que a taxa secular de crescimento econômico do país em toda a sua História republicana (4,5%) e à mediana das taxas anuais (4,6%).

Um ponto positivo é o de que o “crescimento potencial” do Brasil, que, no início do governo Lula, era de cerca de 3,5% — a partir do que teríamos problemas de inflação e “hiato de produção”, isto é, falta de produtos e até mesmo “apagão” de energia —, hoje já está por volta de 5%, o que mostra a evolução dos investimentos públicos e privados, e a melhoria dos fundamentos econômicos.

A taxa média de crescimento do PIB brasileiro dos últimos 50 anos foi de 5%, mas a história recente reduz essa expectativa: de 1990 a 2003, o crescimento médio foi de 1,8%; de 1980 a 2003, 2%.

A ampliação do “PIB potencial” está relacionada ao aumento da taxa de investimento, que vem subindo cerca de 8% ao ano nos últimos anos, chegando a 17,6% ano passado, e a mais de 18% no primeiro trimestre deste ano, quando o PIB cresceu 2,7%, um índice maior do que nosso crescimento médio anual dos últimos 20 anos até 2003.

Comparado com a China, que investe cerca de 40% do PIB, estamos ainda em patamares muito baixos para querer um crescimento sustentável desse nível.

Na época do “milagre brasileiro”, nos anos 1970, o investimento no país chegou próximo a 30% do PIB, taxa que hoje é investida pela Índia, que cresce a uma média de 6% ao ano nos últimos 15 anos.

Para crescer de maneira sustentada, o mínimo necessário seria um investimento público e privado da ordem de 25% do PIB.

A equipe do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da FGV do Rio, chefiada pelo economista Luiz Guilherme Schymura, fez simulações do PIB potencial futuro que apontam, mesmo no cenário mais conservador, um crescimento potencial até 2015 de aproximadamente 4%.

No cenário otimista, o PIB potencial fica entre 4,5% e 5,5% entre 2008 e 2015.

Essa meta só seria factível, porém, com o crescimento da produtividade a 1,5% ao ano, estimulada principalmente pela importação de máquinas e equipamentos.

Ao mesmo tempo, porém, a poupança brasileira está na faixa de 20% do PIB, enquanto na China ela está entre 45% e 50%, o que explica a diferença dos investimentos nos dois países.

Para aumentar a taxa de investimento, seria preciso controlar as contas públicas e realizar as reformas estruturais de que o país precisa em setores vitais e sensíveis, como a legislação trabalhista ou a Previdência. O que será tarefa difícil para o próximo presidente ou presidenta, pois estará substituindo um presidente popular que distribuiu mais bondades do que rigores.

O senador Pedro Simon, em telefonema e em seu pronunciamento no Senado ontem, tentou desfazer a má impressão que seu projeto sobre a redistribuição dos royalties do petróleo deixou entre os habitantes do Rio de Janeiro e do Espírito Santo.

Longe de mim acreditar que o senador gaúcho lançou seu projeto com o intuito de se aproveitar do clima eleitoral para ganhar vantagens com os eleitores gaúchos.

Ele declarou ontem que sua tentativa, ao contrário, foi conseguir que o Rio e o Espírito Santo fossem ressarcidos pela União dos prejuízos que a emenda Ibsen Pinheiro causaria.

A questão é que a boa vontade do senador Simon não encontra respaldo na realidade burocrática e orçamentária do país, e, sem querer, ele acabou parceiro do governo nesta crise federativa que está instalada.

OPERAÇÃO LIMPEZA

BRASIL S/A

Decolagem autorizada
Antonio Machado

CORREIO BRAZILIENSE - 12/06/10

Lula sinaliza que solução para caos dos aeroportos terá a ajuda de empresas e capitais privados


Foi de jeito acanhado, sem a fanfarra que acompanha as decisões do governo, que o presidente Lula assinou esta semana decreto que libera a construção e operação em regime de concessão do primeiro aeroporto privado do país. Fica em Natal, Rio Grande do Norte.

O anúncio foi discreto, sugerindo irrelevância e decisão isolada, mas equivale à abertura dos portos durante o período colonial. De modo ainda mais discreto, “fontes” não identificadas vazaram à imprensa que Lula aguarda do ministro da Defesa, Nelson Jobim, os elementos técnicos para instruir a decisão de aprovar a concessão de um novo aeroporto em São Paulo, quiçá a ampliação de Guarulhos.

A cidade já conta com área próxima à região metropolitana para um aeroporto privado, com projeto da Camargo Corrêa, e do plano para o terceiro terminal e terceira pista no de Guarulhos — o maior em tráfego do país e totalmente saturado, situação que se repete nos aeroportos de Brasília, Belo Horizonte, Fortaleza, e por aí vai.

Abriu-se uma janela para a entrada de capitais privados numa das atividades de infraestrutura mais críticas para o desenvolvimento, e, ao mesmo tempo, mais deterioradas e inseguras para todos os que dela dependem, devido ao tráfego crescente de passageiros e carga não acompanhado de investimentos em ampliação e logística.

O sinal é que, depois das eleições, quando a palavra privatização recuperar o seu sentido original, perdendo a conotação maldita que PT e Lula lhe atribuem no contexto do embate político com o PSDB, a porta será aberta aos capitais privados. Não será sem tempo.

Desde 2005, o único aumento significativo de capacidade de tráfego em um aeroporto ocorreu com o pequeno e esgotado Santos Dumont, no Rio de Janeiro. Dos 15 principais aeroportos, nove operam acima de sua capacidade, segundo dados da Infraero, a empresa estatal que cuida da administração aeroportuária, e da Anac, Agência Nacional de Aviação Civil, o órgão que regula as empresas e a logística.

Em meio à burocracia, também se acomoda a Aeronáutica, responsável pelo controle do tráfego aéreo, e até os últimos grandes acidentes no país — com um Boeing da Gol, em setembro de 2006, e um Airbus da TAM, em julho de 2007 —, envolvida no pandemônio criado pelos controladores de vôo por razões salariais, de hierarquia, excesso de trabalho e receios quanto à desmilitarização da atividade.

Problemas complexos demais para um governo enredado em muito mais prioridades do que é capaz de processar. Com boa parte do dinheiro dos investimentos comprometida em grandes projetos. Distraído pelo debate entre mais ou menos Estado na infraestrutura. E confundido pelo lobby sindical da Infraero, contrário a qualquer solução que diminua a influência da estatal. É esse nó que começa a desatar.
Alertas desprezados
O que será da Infraero levará ainda algum tempo para resolver. O certo é que já não se tratam com desprezo alertas como os da FAB, que, em 2004, preveniu o governo sobre o colapso da infraestrutura aeroportuária pela falta de investimentos. Em 2006, uma auditoria do Tribunal de Contas da União concluiu que “falta de planejamento e insuficiência de recursos são as principais causas dos atrasos e cancelamentos de vôos”. De lá para cá, a demanda de passageiros deu um salto de 80%. E os aeroportos? Continuaram do mesmo tamanho.
Solução burra da Anac
Para encobrir esse quadro caótico, a Anac veio com um arremedo de solução: reduziu o número de vôos nos aeroportos mais afogados. Na prática, tolheu as pessoas em seu direito de ir e vir do jeito que quiserem — e cada vez é mais de avião que se quer, graças ao aumento da renda e do emprego, a popularização e as facilidades do crédito e o crescimento da frota das empresas. É medida capenga, para não dizer burra, cortar vôos para desafogar aeroportos. Não dá mais, como relata um empresário do setor, para Lula achar que o problema seria menor, porque poucas pessoas usariam avião.
Capacidade esgotada
A capacidade máxima nos 15 maiores aeroportos é de 9,5 milhões de passageiros/mês. Equivale a 5% da população. Mas a demanda deverá crescer muito mais com a expansão da economia, a ascensão da nova classe média e os eventos da Copa em 2014 e das Olimpíadas em 2016.

Na média, os aeroportos operam a 36% acima da capacidade, sem que a Infraero dê conta da situação. A projeção para 2014, de expandir a capacidade em mais 5 milhões de passageiros/mês a um custo de R$ 6 bilhões, envelheceu. É preciso mais. O governo já reconhece que a solução é a parceria com o setor privado. Agora vai. Espera-se.
Dilma amplia a visão
O problema aéreo não é só de respeito do governo com o conforto e a segurança dos passageiros. Virou questão econômica. Sem que seja superado o atraso dos transportes, em que a miséria dos aeroportos faz companhia à de portos, ferrovias e rodovias, o país vai parar, como sai da tomada quando falta energia, hoje, um risco mitigado.

Falta de financiamento é o menor dos problemas. Regulação adequada resolve a situação, se houver clareza sobre a limitação do Estado. A então ministra Dilma Rousseff, por bom tempo, viveu dividida entre a sua visão do Estado dirigista e o pragmatismo de resultados do presidente. A campanha está a lhe mostrar que há mais cores entre o branco e o preto das ideologias, como o exercício do poder mostrou a Lula. A têndencia é que muitos impasses comecem a se desfazer.

JOSÉ (MACACO) SIMÃO

Galvão é a vuvuzela!
JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SÃO PAULO - 12/06/10


BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! Direto da Cópula do Mundo! RUMO AO ÉQUIÇA!
Bafana! Bafana! Se fosse em Brasília, seria Afana! Afana! E o Brasil inteiro quer saber: o Dunga vai usar ferradura da Nike ou da Adidas? Olha, com o bicho que eles estão pagando, eu usava chuteira de prego com os pregos pra dentro!
E o Galvão, o Hexagerado? Nesta Copa, vamos ter que aguentar duas poluições sonoras: Galvão e vuvuzela! E diz que Deus fez o mundo em seis dias e, no sétimo, foi interrompido pelo Galvão! Rarará!
E diz que a Lady Gaga vai gravar o "Cala a boca, Galvão!". E África do Sul contra México! 1 a 1. E essa: "Parreira nega frustração com o empate". Claro, 1 a 1 pro Parreira já é vitória, empate já é vitória. O empate da vitória!
E adorei o sul-africano que fez o gol: Tshabalala! Parece grito de gandaia: TE CHAPA LALÁ! E uma amiga ficou tão entusiasmada com os sul-africanos que deixou torrar o arroz de forno! E como correm!
Mas países pobres adoram correr. Asiáticos, sul- -americanos, africanos. Rico só gosta de correr em esteira. E dentro de casa! Rarará!
E os jogadores do México: Torrado e Guardado! O Guardado é reserva. Rarará!
E sul-africano é como baiano: não tem osso. Pulam, dançam, rebolam, requebram e waka waka na Shakira!
E o Uruguai contra a França. Jogo fino. Tédio total: menos vuvuzela e uns chutes chochos. Chute pum de veia!
E hoje é Dia dos Namorados! Bota a vuvuzela pra roncá! Uma amiga vai passar o Dia dos Namorados em estado de coma. COMA-ME pelo amor de Deus. E sabe o que você faz pra namorada continuar gritando depois da transa? Limpa o pingolim na cortina. Rarará!
Seleção dos Peladeiros! Sugestões dos leitores de seleções melhores que a do Dunga.
Olha o time das peladeiras do Bar da Boa em Santana, na Bahia. Técnica: PAIZINHA! Ataque: Ivete Banana, Maria Doida e Virgínia Zói de Boneca. Eu quero a foto da Virgínia Zói de Boneca. Pra colar no álbum!
Ou então o ataque do Departamento de Licitações do Rio de Janeiro: HOMEM-BOMBA E TARTARUGA MIJA! E o famoso Já Morreu. O Já Morreu é o Felipe Melo! Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza. Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno.

GOSTOSA

TUTTY VASQUES

Tire ele da cabeça!


TUTTY VASQUES
O ESTADO DE SÃO PAULO - 12/06/10
Talvez tenha chegado a hora de dizer adeus! Se o seu marido acordar cedo neste sábado para assistir, a partir das 8h30, à transmissão de Coreia do Sul x Grécia, pode desistir da companhia. Dê tchau pro cara e vá cuidar da sua vida, minha filha! Até amanhã à noitinha, ele verá seis jogos na TV, num total de 9 horas do fim de semana dedicadas à bola rolando na Copa do Mundo.
Somando o tempo que ele vai perder entre mesas-redondas, cama e banho, talvez dê para vocês almoçarem juntos no domingo, entre 13h e 15h, para não perder o final de Sérvia x Gana, nem o comecinho de Alemanha x Austrália. De manhã não vai dar porque tem Argélia x Eslovênia. Imperdível, né?!
Vá ao shopping, ao parque, ao cabeleireiro, ao cinema. Aproveite bem essa etapa classificatória com três jogos todo santo dia, porque depois de 25 de junho - e até a decisão, em 11 de julho - vem a fase mais difícil. Nas primeiras 48 horas sem futebol na TV entre as oitavas e as quartas de final, seu marido entrará em crise de abstinência.
Copa do Mundo é uma droga como outra qualquer. Quando falta, o sujeito se despera e torna-se, por vezes, violento. Se levantar da poltrona para bater boca com o pessoal das resenhas esportivas, deixa ele! Enquanto estiver brigando com a TV, o pessoal de casa estará em segurança.
Tudo em cima
A forma física de Shakira em Johannesburgo fez inveja à maioria dos candidatos a craque desta Copa. A cantora, como se diz no futebol, está voando!
Tarja preta
De Nelson Mandela, comentando a euforia do bispo sul-africano Desmond Tutu, Prêmio Nobel da Paz, na festa de abertura no Orlando Stadium: "Que remedinho é esse que ele anda tomando?"
Afro-locutor
Onde Galvão Bueno renova seu bronzeado em Johannesburgo? Só se fala disso em Soweto.
Uma cajadada só
Thammy Gretchen, a filha da cantora, aproveitou os ganchos da Copa do Mundo e do Dia dos Namorados para lançar uma nova noiva no noticiário: anuncia para setembro seu casamento com a musa do São Caetano no concurso Gatas do Paulistão.
Voa canarinho, voa!
Que diabos Luís Fabiano quis dizer com "o Brasil é um jato voando baixo"? Precisa tomar cuidado pra não colidir com o Boeing 707 pilotado por John Travolta, que aterrissou na África do Sul para torcer pela Austrália!
Cesta básica imperial
Adriano vai ganhar 3 milhões por temporada na Roma. Só se fala disso na Chatuba! Parece que tem até traficante do morro pensando em aposentadoria.
Pirlo dodói
Pior que a falta de companhia para assistir à Copa é dividir o sofá com alguém curioso em matéria de futebol. Perguntas como "o que é essa tal lesão do Pirlo?" podem ensejar respostas indecorosas.

ROBERTO POMPEU DE TOLEDO

REVISTA VEJA
Roberto Pompeu de Toledo

O futebolês ao alcance de todos

"Primeira lição: caiu em desuso dizer que um time, 
ou um jogador, é bom. Diz-se que ‘tem qualidade’. 
‘Qualidade’ é a palavra-chave. É qualidade para cá, 
qualidade para lá"

A esta altura o leitor já deve estar familiarizado com "vuvuzela", "bafana bafana" e "jabulani". Não? Em atenção aos retardatários, "vuvuzela" é a corneta de plástico que os sul-africanos tocam nas comemorações em geral e, especialmente, durante os jogos de futebol. A expressão brasileira "durma-se com um barulho desses" é bem anterior, mas bem poderia ter nascido quando o primeiro sul-africano deu o primeiro sopro em sua vuvuzela. Ou melhor: não poderia. É pouco. A vuvuzela impede não apenas o sono, mas muitas outras coisas, inclusive, e principalmente, assistir sossegado a um jogo de futebol.
"Bafana bafana" é o nome local da seleção sul-africana. Quer dizer "meninos meninos". Já saber por que "meninos meninos", repetindo duas vezes a mesma palavra, é algo que exige maior domínio da cultura sul-africana. Fica para depois de estudos mais aprofundados. "Jabulani", que quer dizer "celebração", é o nome da bola produzida para esta Copa do Mundo, tão criticada pelos jogadores – e com isso podemos nos dar por satisfeitos. Já atingimos uma boa base de zulu. Mais atenção merece a língua adotada pelos narradores e comentaristas de futebol. Em Copas do Mundo muita gente sem intimidade com o esporte gruda-se à tela da TV. Dominar o idioma praticado durante as transmissões pode ser útil.
Primeira lição: caiu em desuso dizer que um time, ou um jogador, é bom. Diz-se que "tem qualidade". Ou que não a tem. "Qualidade" é a palavra-chave. Os jogadores já foram contaminados pela moda. Também para eles, é "qualidade" para cá, "qualidade" para lá. Segunda lição: não vá o desavisado chamar estádio de "estádio". É "arena". "Arena" tem maus antecedentes. Já foi o nome do partido político que apoiava a ditadura e antes disso, muito antes, era o local em que os gladiadores se estripavam, entre si ou de encontro às feras. Já estádio indica o local das exibições de ginástica e das provas olímpicas. Um aponta para a brutalidade romana, outro para a harmonia grega. A brutalidade romana, nos dias que correm, tem a dianteira.
Outras expressões são mais técnicas, e exigem dos leigos redobrado empenho, se desejam atualizar-se. Quando se ouvir falar em "assistência", não se imagine que o locutor esteja se referindo ao público nas arquibancadas nem, claro, à necessidade de ambulância para socorrer algum ferido. Importado do basquete americano, o termo nomeia o último passe antes do chute em direção ao gol. Ou seja: o passe que deixa o jogador que o recebe "na cara do gol", como se diria na boa e velha linguagem surgida nas asperezas do gramado, não no luxo das cabines de transmissão.
"Valorizar a posse de bola", "proposta de jogo" e "chamar a si a responsabilidade" são outras expressões que merecem esclarecimentos. "Valorizar a posse de bola" significa a insistência em trocar passes sem o objetivo imediato de avançar em direção ao gol adversário e, no limite, para de novo voltar ao cru jargão de antigamente, "fazer cera". Curioso, no futebol como na vida, é o destino das expressões. O primeiro que falou em "valorizar a posse de bola" foi muito bem. Deu precisão ao fenômeno. Tão bem que seu achado passou a ser repetido à exaustão. Pronto: virou frase feita. E tão feita que começou a ser usada pela metade: "Ele (tal jogador) está valorizando".
"Proposta de jogo" tem em comum com "valorizar a posse de bola" o ar erudito. Significa a disposição com que o time, sob orientação do técnico, entra em campo – na defesa, logo partindo para o ataque, ou algo entre uma coisa e outra. Seria como o lance de abertura no xadrez. Mas não se iluda o novato. No futebol, o imponderável é mais forte do que qualquer proposta, e pode virá-la do avesso em poucos minutos. Já "chamar a si a responsabilidade" é o elogio que se atribui ao jogador que se destaca pela presença combativa e pela liderança. A expressão tem uma trajetória semelhante à de "valorizar a posse de bola". De achado virou frase feita, com direito também ao uso abreviado: "Ele (tal jogador) chamou a responsabilidade".
O colunista fez o possível. Espera ter contribuído para que o leigo, quando ouvir "Ele está valorizando", não imagine que o jogador em questão esteja se valorizando para ser vendido ao futebol europeu. (Mesmo porque, entre os jogadores que disputam a Copa, quase todos já estão lá; vista de certo ângulo, a Copa é um torneio dos times europeus recombinados.) Ou que, ao ouvir "Ele chamou a responsabilidade", não se atrapalhe e, em meio ao coro de vuvuzelas, pergunte: "Como? Quem é que ele está chamando?".

GOSTOSA

FERNANDO RODRIGUES

A força de uma ideia
FERNANDO RODRIGUES
FOLHA DE SÃO PAULO - 12/06/10
BRASÍLIA - A hipnose coletiva por causa da Copa do Mundo reduz um pouco o impacto de notícias relevantes. Por exemplo, a decisão do Tribunal Superior Eleitoral sobre a validade da Lei da Ficha Limpa já na eleição de outubro. A regra impede a candidatura de pessoas condenadas por um colegiado (quando mais de um juiz participa do processo). Trata-se de um avanço institucional, apesar das limitações iniciais. A regra só vale para condenações ocorridas após a sanção da lei, no último dia 4 de junho. Poucos políticos serão afetados agora. O efeito mais amplo deve começar a partir das eleições municipais de 2012. Ainda assim, a Lei da Ficha Limpa é uma prova da evolução do processo democrático no país. As coisas estão andando na direção correta e numa velocidade até razoável. Convém lembrar um caso emblemático de 2006. Naquele ano, foi contestada no TSE a candidatura a deputado federal de Eurico Miranda, cuja intenção era disputar uma vaga pelo PP do Rio. O cartola do Vasco da Gama respondia a uma penca de processos na Justiça. Era acusado de falsificação de documentos públicos, crimes contra o sistema financeiro e tributário, ausência de contribuições previdenciárias, injúria e difamação, furto e lesão corporal. À época, embora condenado numa instância inferior, Eurico Miranda conseguiu se manter candidato. Voto vencido no TSE naquele julgamento, o ministro Carlos Ayres Britto lembra-se agora do episódio. "Foi o início de tudo. O debate rapidamente amadureceu", diz ele. Mesmo autorizado a ser candidato, Eurico Miranda não se elegeu deputado. O movimento contra a corrupção tomou corpo. A Lei da Ficha Limpa teve o apoio de 1,6 milhão de assinaturas. Ayres Britto, chamado de ingênuo há quatro anos, ontem comemorava: "Como disse Victor Hugo, "não há nada mais poderoso do que a força de uma ideia cujo tempo chegou"".

RUTH DE AQUINO

REVISTA ÉPOCA
RUTH DE AQUINO
Só a vuvuzela sacode o Senado
RUTH DE AQUINO
Revista Época
RUTH DE AQUINO
é diretora da sucursal de ÉPOCA no Rio de Janeiro
raquino@edglobo.com.br
Nunca antes na história o senado brasileiro teve uma semana tão profícua. Véspera de Copa, com o país amortecido pela polêmica da Jabulani e o requebrado da Shakira, os 81 senadores esqueceram o corpo mole e partiram para o ataque. A julgar pela quantidade de decisões nos últimos dias, deveríamos fazer um exame de doping. Até de madrugada, todos votavam com uma energia incomum. Entraram impedidos, chutaram a Jabulani na trave e fizeram gol contra. Vuvuzela neles.
O país só examinou as jogadas no tira-teima. O juiz supremo, Lula, já prometeu anular uma das manobras, a da partilha dos royalties de petróleo. Quem sabe a sociedade – que conseguiu na semana passada uma vitória incontestável na campanha pela Ficha Limpa já em 2010 – se conscientize agora do poder da mobilização popular. A internet e as redes sociais podem ajudar o cidadão a promover um vuvuzelaço virtual sempre que o Senado fizer jogadas ilegítimas. Dando carrinho na Constituição, atropelando a ética, votando em benefício próprio. Ou prejudicando a arquibancada.
Primeiro, o Senado recontratou uma empresa de limpeza, a Adservis, que havia sido multada em R$ 4 milhões por não pagar a seus próprios funcionários. Nem os jornalistas que cobrem o Congresso em Brasília se animam a investigar essa caixa-preta. Eles já desistiram, resignados. Todo ano, dizem, é a mesma coisa. Como assim? Você e eu queremos saber por que a Adservis pôde participar de uma concorrência se, em janeiro, alegou problemas financeiros e deixou de pagar a quem limpava as latrinas e servia cafezinho. Quem assumiu a folha foi o Senado. Agora, a mesma empresa vai receber R$ 1,2 milhão por mês para fazer a faxina da Casa. Em miúdos, limpar o Senado custa aos cofres públicos – ou a nosso bolso – R$ 40 mil por dia! Isso caso a limpeza fosse diária. Duvidoso, porque os senadores trabalham cerca de três dias e meio por semana. Notícia importante ou supérflua? O Congresso não prometera cortar excessos e diminuir despesas? A Adservis não vai conseguir limpar o Senado. Quem sabe a mobilização popular consiga no grito. Vuvuzela neles.
No ataque até a madrugada, os senadores fizeram gol 
contra e deram carrinho na Constituição
No dia seguinte, o Senado aprovou um plano “secreto” de reajuste de cargos e salários. Todos assinaram, menos uma petista de nome impronunciável, Serys Slhessarenko. O presidente do Senado, José Sarney, também assinou – mas afirmou ignorar detalhes. O Senado se habituou a atos secretos. Mas o jornal O Globo teve acesso ao plano: o aumento seria de 8,5% neste ano e 17% no ano que vem. Como esses % não significam nada para nós, mortais, aí vai o impacto em números absolutos: mais R$ 217 milhões de gastos agora com a folha e mais R$ 481 milhões em 2011. O salário de consultor do Senado pularia de R$ 14 mil para R$ 22 mil. A despesa total com pessoal já é de R$ 2,2 bilhões ao ano. Temos um dos Congressos mais caros do mundo. Quero ver o próximo presidente engolindo uma Jabulani dessas. O “plano” ainda precisa ir a plenário. Anotem aí: o prazo para aprovação dessa jogada é 2 de julho. Vuvuzela neles.
Na madrugada fria de quinta-feira, às 2h25, quando o país dormia e sonhava com o hexa na África do Sul, o energizado gaúcho Pedro Simon estava em pé na tribuna do Senado. Nem aparentava seus 80 anos. Na ânsia de aprovar sem debate a mudança na distribuição dos royalties do petróleo, ele apelou a uma retórica fatal. Em vez de argumentos, $$$. O Acre passa a ganhar tanto. Alagoas, esse outro tanto. Seguindo a tabelinha ensaiada, o senador Heráclito Fortes perguntou: “E o Piauí, senador?”. “De R$ 18 milhões passa a mais de R$ 1 bilhão”, respondeu Pedro Simon. Todas eram contas fictícias e improváveis. O petróleo ainda não está sendo explorado. Não se tem ideia de quando o país conseguirá atingir o pré-sal.
Ninguém dormia na plateia, ao contrário das sessões sonolentas que discutem coisas intangíveis e menos importantes como emprego, saúde e educação. A lógica do bônus (não do ônus) era infinitamente mais sedutora para os 41 senadores que votaram a favor da emenda Simon. A emenda contraria a Constituição. Entra em campo, Lula. Vuvuzela neles.

O ESGOTO DO BRASIL

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE

No ar
SONIA RACY
O ESTADO DE SÃO PAULO - 12/06/10

A vida pode ficar ainda mais estressante para os usuários dos jatos executivos. Nelson Jobim trabalha para inserir no relatório da comissão, criada para revisar o Código Brasileiro da Aeronáutica, a exclusão de aeroportos da lista de pouso e decolagem deste tipo de aeronave. Quais ? Congonhas, Guarulhos, Santos Dumont, Galeão, entre outros.
Essa comissão, presidida por Luiz Sérgio, do PT, e relatada por Rodrigo Loures, do PMDB, foi criada em março de 2008, depois da CPI do Apagão Aéreo, para aparar arestas.

No ar 2
Jobim tenta de tudo para amenizar o problema dos não-aeroportos. A coluna ontem mencionou que em lugar de concessão, o governo pensa em dar autorização direta a investidores. Evitando as licitações.
A proposta ganhou força na reunião com Lula. E viria vinculada ao cumprimento de uma série de obrigações.

No ar 3
São três as áreas em São Paulo que poderiam abrigar o novo aeroporto. Uma em Embu, outra próxima do cruzamento da Imigrantes com a Anchieta e uma terceira na região de Caieiras. Todas com distância menor que 50 km do centro da capital..

No ar 4
E Viracopos? Propostas de ampliação? Difícil. Existe um só aeroporto de grande fluxo localizado fora de um perímetro de 50 km: o de Narita, a 60 km de Tóquio.
E Guarulhos? Se o TCU não complicar, tem chance.
Quem vem
Depois de adiar duas vezes visita oficial ao Brasil este ano, Silvio Berlusconi bateu o martelo. Desembarca em SP no dia 28. Vão tratar da extradição de Battisti?
Ações e pipoca
O que aconteceu ontem pela manhã, durante o primeiro jogo da Copa - África do Sul contra México - dá dimensão do tamanho da paralisação iminente do Brasil no Mundial: haviam poucos empresários e integrantes do mercado financeiro trabalhando.
Os bancos se adiantaram e vão dispensar seu pessoal no dia da estreia brasileira. As bolsas, não.
Democrático
Em tempos de Copa, Paulo Renato deixou as diretoras da escolas de São Paulo com a faca e o queijo nas mãos. Cabe a elas a decisão de liberar alunos para assistir aos jogos da seleção.
Vale 10
Estimativas feitas por técnicos da Vale resultaram em número surpreendente: a ex-estatal vai contribuir, em 2010, com 10% do PIB se ele crescer mesmo 6%.
Como calcularam isso? A custo de fatores: somando lucro mais juros mais aluguéis e salários.
Fatia do bolo
O PSDB começou a fazer, finalmente, as pesquisas qualitativas. Os grupos analisaram programas de TV de Dilma e de Serra em vários Estados do País.
O foco é a classe C.
Homem e a ilha
Registrado: o presidente da Comissão de Finanças da Fifa não foi pinçado de um dos cinco grandes países do futebol mundial.
Jeffrey Webb nasceu e vive em paraíso fiscal, dirigindo a Associação de Futebol das Ilhas Cayman.

Na frente

Leonardo Boff tem pavor de avião e se desdobrou para participar da Convenção do PV conseguindo só um aperto de mão da amiga Marina. Ele e outros convidados serão recompensados. A candidata vai ligar para todos e agradecer.
Maria Olympia França e Eliane Robert Moraes debatem amanhã na Cinemateca.
Marina Perez Simão, radicada em Paris, abre mostra hoje na Galeria Mendes Wood.
Tem degustação de vinhos da África do Sul segunda, no Baby Beef Rubaiyat.
Cruzes. Será que o Twitter vai ficar "over capacity" durante a Copa inteeeeeiiiiira?
Tipo importação
O desfile da Triton com Paris Hilton atrasou mais de duas horas, anteontem. Enquanto a socialite posava para fotos, as modelos que dividiriam a passarela com ela esperavam emburradas no backstage. Fabiana Mayer, que desfilou logo atrás da americana, disse: "Ela não quis ensaiar com ninguém. Mas foi simpática, chegou e deu "oi" para todas". Rodeada por assessores, Paris conversou com a coluna.
O que achou de ter sido considerada sexy demais para comercial de cerveja brasileira?
Ridículo. Eu já vi comerciais muito mais sensuais no Brasil e no mundo. Achei bobo, pois o filme não foi provocativo. O povo aqui é conhecido por sua sensualidade. As mulheres, as mais bonitas. Nunca serei tão sexy assim.
Por que quis desfilar na SPFW?
Achei a oportunidade maravilhosa. Vim há sete anos e acho que será incrível desfilar novamente. Adoro fazer o que eu faço.
O tema desta SPFW é "curtir a vida". Como aproveita a sua?
A gente só vive uma vez e tem que se esforçar para aproveitá-la de verdade. Um bom desfile, uma boa festa...
Qual é a melhor e a pior coisa de ser rica?
A melhor é que você pode fazer a diferença na vida dos outros. A pior é que as pessoas acham que você é bobinha só porque tem grana.
Seu cabelo parece diferente hoje. É real?
Hmmm...(risos). Fiz esse cabelão para o evento de hoje.
Como está a vida de solteira?
(Assessores interrompem dizendo que ela não responderá.) E ela deixa escapar: eu aaaamo minha vidaaaaaa.
D.BERGAMASCO e M. NEUSTEIN
Tipo exportação
Alice Braga tem uma missão: perseguir Anthony Hopkins pelas ruas de Budapeste. É para o longa O Rito, produção americana em que a atriz vive jornalista obrigada a desvendar mistérios sobre um padre exorcista. Ela recebeu a coluna no backstage da Cori, na SPFW, anteontem.
Como vai ser o filme O Rito?
Tem direção de Michael Hoffman e não chega a ser terror. Mas é um bom suspense.
Qual é a relação da sua personagem com a de Hopkins?
Ela é uma jornalista que tem que segui-lo para escrever sobre ele, um padre exorcista. Olha, quer dizer que está sendo uma honra filmar com ele. Nós já convivemos um pouco, fizemos uma cena rápida. Mas teremos um bloco de cenas maiores no final das filmagens, que terminam dia 24 de julho. Hopkins é simplesmente maravilhoso, me inspira demais.
Ele pergunta sobre o Brasil?
Pergunta, ele adora o Brasil. A mulher dele é descendente de colombianos, bem latina.
Você apresenta o Superbonita, do GNT, e agora estreia em campanha de moda. Você se considera um modelo de beleza?
Eu sou mais natural, gosto dessa coisa pé no chão. Não quero estar o tempo todo maquiada. Ainda não me pediram para colocar botox, por exemplo, mas acho que jamais faria mudanças assim na minha vida. É como se te pedissem para fazer uma tatuagem. Tem um limite para mim. Cresci jogando bola, subindo em árvore. Isso tudo foi importante até para eu ter esse meu jeito mais natural, mais simples.
DÉBORA BERGAMASCO