quinta-feira, maio 09, 2013

Transplantes de amor e esperança - ALEX MEDEIROS

PORTALNOAR


Uma história de solidariedade humana e amor numa família marcada por gestos.
albimar_annie

Albimar Morais é um desses caras imunes às inimizades. Poucos têm sua capacidade de fazer amigos e preservá-los ao longo do tempo. Do seu irmão, Carlos Morais, herdou alguns amigos da imprensa que cultiva até hoje, como eu e Rubens Lemos Filho.

Devemos, eu e Rubinho, uma considerável parte dos nossos acervos de raridades futebolísticas aos gestos generosos de Albimar, incansável nas suas viagens em garimpar nos sebos as velharias que compõem o nosso patrimônio material e lúdico.

Gestos e atos de bondade e solidariedade fazem parte do histórico familiar desse amigo. E é sobre dois incríveis momentos da vida de Albimar o motivo principal da minha crônica dessa quarta-feira, 8/5, uma data inesquecível para ele e todos os seus parentes.

Logo mais no começo da noite, ele estará reunido com seus entes queridos num jantar para marcar a data de hoje, aniversário de um ano de uma cirurgia de transplante de rim que lhe devolveu a saúde, debilitada por anos desde que uma pressão baixa o atacou.

Mas, para contar sobre os dois instantes incríveis da sua vida é preciso voltar ao ano de 1983, período em que o Brasil começava a se acostumar com a democracia e a ensaiar a volta das eleições diretas e o combate à inflação monstruosa que destruía a economia.

Naquele ano de aperto financeiro para muitas famílias, a de Albimar foi surpreendida pelo agravamento da saúde da sua irmã, que desde tenra idade sofria de diabete. Gleide, mulher de outro amigo (Humberto do restaurante Xique-Xique) urgia um transplante.

Na desesperada corrida pela vida que ocorre nas filas hospitalares por um rim saudável, Albimar mandou para escanteio a horrorosa burocracia e correu para salvar sua irmã, prontificando-se a arrancar um dos seus rins, que logo foi transplantado para ela.

A saúde retornou ao patamar regular da vida de Gleide, que durante 12 longos e agradáveis anos voltou a conviver em paz com seus familiares, só vindo a falecer por uma isquemia repentina e traiçoeira, que invariavelmente surpreende nossas vidas.

Foi seis anos depois da morte da irmã que Albimar Morais adquiriu pressão alta, essa moléstia que aos poucos vai minando a saúde como um torturador invisível. Daí para outros problemas é um trajeto biológico que dificilmente os remédios invertem.

Com o passar dos anos e com a chegada da tal meia-idade, a saúde do meu amigo foi agravando e o jogou nas penosas sessões de hemodiálise. Passou a viver uma vida pela metade, com as horas de lazer interrompidas por remédios e visitas aos médicos.

Foi então que aquela tradição familiar dos bons gestos aconteceu, de novo, mas dessa vez em favor dele e não de algum parente que ele decidiu ajudar. Na sua interpretação, um anjo lhe apareceu com todas as características humanas de uma querida sobrinha.

Ele estava almoçando no restaurante Cassol, em Petrópolis, quando ela chegou à sua mesa: “Tio, o senhor está fazendo hemodiálise e precisa de um transplante de rim? Pois eu estou indo fazer os exames necessários para doar um para você”, disse a garota.

Era Annie, filha de ninguém menos que Gleide, a irmã que ele salvou quase três décadas antes. Era a história humana se repetindo bem diferente da tese de Karl Marx, no caso dele em dois momentos exatamente iguais em bondade, amor e esperança.

A filha de Albimar também fez os exames de compatibilidade, mas foi a sobrinha a escolhida e classificada pelos médicos, por ser mais velha. E aí, em 8 de maio de 2012, a vida voltou ao normal para ele através do gesto amoroso da filha da saudosa mana.

Desde que ouvi essa história, entre arrepios e emoção, fiquei com vontade de contá-la, até que no último encontro com Albimar ele me autorizou a compartilhar com os leitores. No jantar de hoje com a família, ele desejaria muito a presença de mais gente.

Como a equipe de Ricardo Lagreca no Hospital das Clínicas, responsável pelo exitoso transplante; também o cirurgião Paulo Medeiros e a nefrologista Kellen Costa; os profissionais da clínica de Berilo de Castro e José Euber, os enfermeiros dos dias de hemodiálise.

Campos e a homossexualidade - CONTARDO CALLIGARIS

FOLHA DE SP - 09/05

Como reagir ao anúncio que seu filho é gay? Eu optaria pela indiferença se possível, não fingida


Em 1999, o Conselho Federal de Psicologia decretou que os psicólogos não devem propor curas para a homossexualidade, visto que a homossexualidade não é um transtorno mental. O deputado João Campos (PSDB-GO) não concorda; ele acha que o CFP não pode "restringir o trabalho dos profissionais e o direito da pessoa de receber orientação profissional".

O deputado Marco Feliciano (PSC-SP), paradoxal presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, colocou o projeto de Campos na pauta de ontem (8/5) da dita comissão.

Na última hora, a pedido de Henrique Alves (PMDB-RN), presidente da Câmara, a pauta foi suspensa.

Existe uma longa e sinistra história das terapias que pretendem "curar" os homossexuais, ou seja, "reorientar" ou "converter" sua sexualidade --sinistra, digo, pela violência dos remédios propostos sem fundamento clínico algum (castração, ablação do clitóris, eletroconvulsoterapia etc.).

No Irã de hoje, por exemplo, os homossexuais (que, segundo o governo, não existem) não são perseguidos se eles aceitarem uma cura que consiste na mudança forçada de sexo (engraçadamente, a charia local parece proibir a homossexualidade, mas tolerar o transexualismo).

Vamos ao último capítulo dessa história, no Ocidente. Em 2001, Robert Spitzer, psiquiatra respeitado, juntou, num relatório, 200 casos de "conversão" de indivíduos "altamente motivados" (nenhum dos quais tinha sido paciente dele). O estudo parecia documentar a possibilidade de reorientar alguém sexualmente. Durante uma década, discutiu-se sobre a validade dos dados recolhidos por Spitzer.

Resultado: no ano passado, Spitzer, professor emérito da Universidade Columbia, publicou uma carta aberta na qual ele declara que seu estudo não provava que uma terapia, seja ela qual for, pudesse permitir mudar a orientação sexual de alguém e que não havia como saber se as declarações dos indivíduos entrevistados para o estudo eram confiáveis e não autoenganos ou simplesmente mentiras.

Ele concluía: "Peço desculpas a qualquer pessoa gay que perdeu seu tempo e sua energia passando por algum tipo de terapia de conversão porque acreditou que eu tivesse demonstrado que a terapia de conversão funcionaria".

As terapias de reorientação ou conversão, hoje, são defendidas só por associações ou indivíduos inspirados por uma condenação moral ou religiosa da homossexualidade.

Essa condenação é tão legítima quanto qualquer crença, mas ela não pode oferecer uma "cura" em nome de uma disciplina clínica. Em outras palavras, qualquer um, padre, pastor ou charlatão, pode inventar um exorcismo para desalojar o demônio do corpo dos homossexuais. Mas o médico e o psicólogo não vendem exorcismos.

Em suma, sem a intervenção de Henrique Alves, a Comissão de Direitos Humanos da Câmara teria desperdiçado seu tempo (e nosso dinheiro). Passemos a outra questão.

Recentemente, o pai da cantora Katy Perry, pastor evangélico, perturbado porque a filha canta uma música sobre beijar outra garota, declarou que Katy é filha do diabo.

A estupidez dos outros é refresco. Mas resta que, para muitos pais, não é fácil decidir como reagir ao anúncio de que seu filho ou sua filha é gay.

Sabemos que mandar o filho ou a filha para uma cura de conversão não é uma boa ideia. Em compensação, alguns pais "modernos", para evitar o ridículo do pai de Katy Perry, são tentados por uma aceitação festiva, eventualmente fingida. Como se situar nesse arco, entre "você é doente" e "que maravilha!"?

Eu optaria por uma espécie de indiferença --se possível, não fingida.

Tanto a aceitação festiva quanto a maldição empurram o jovem para uma reação em que ele dará a sua orientação sexual o valor de uma identidade, como se gritasse "olha, mamãe, sou gay", quer seja para desafiar os pais e o mundo, quer seja para ganhar seu aplauso.

De fato, a orientação sexual de um indivíduo não precisa ser um traço relevante de sua identidade. Em geral, quando ela se estabelece como tal, é de maneira reativa.

No caso da homossexualidade, isso é inevitável por causa da resistência social que a homossexualidade encontra. Se identificar como homossexual é uma maneira de se impor e lutar. E haverá homossexuais "assumidos" e militantes até que não haja mais Campos e Felicianos.

Agora, os heterossexuais assumidos e militantes são tão reativos quanto os homossexuais. Só que, hoje, os heterossexuais não reagem contra nenhuma discriminação; talvez eles estejam reagindo contra a única homossexualidade que os ameaça: a que eles reprimem neles mesmos.

Dois + dois = ? - LUIS FERNANDO VERÍSSIMO

O GLOBO - 09/05

Um economista americano desconhecido estava revendo a tese de dois economistas muito conhecidos, que provava que a responsabilidade fiscal e a austeridade nos gastos sociais favoreciam, em vez de atrasar, como diziam alguns, a recuperação econômica, e estavam sendo usadas por economistas oficiais para justificar o aperto aplicado pela maioria dos governos do mundo contra a crise, quando descobriu um erro. Não um erro de posicionamento, de interpretação ou de redação - um erro de matemática. Certas contas não fechavam. Dois mais dois simplesmente não dava quatro. O economista desconhecido publicou sua descoberta, o que o tornou conhecido, e os dois economistas conhecidos reconheceram seu erro, mas não lhe deram importância, o que os tornou cúmplices declarados do massacre que a tese deles continua causando. A certeza de que com o tempo a austeridade se justificará, demonstrada claramente nas contas erradas da dupla, só conseguiu transformar "austeridade" em palavrão, nos países em que a maioria da população continua pagando, com desemprego e miséria, pelos desmandos dos seus governos e a ditadura do capital financeiro, responsável pela crise.

Mas talvez haja uma explicação que absolva os dois economistas conhecidos. É difícil imaginar que eles não tenham recorrido aos seus lepitopes, ou aos lepitopes de assistentes, para fazer suas contas. ("Veja aí, dois mais dois quanto dá.") E os lepitopes podem ter fracassado. Hoje confiamos tudo ao computador, por que não confiar na sua matemática? E a sua matemática pode entrar em pane. Me lembrei da história do Millôr sobre o último homem do mundo que ainda sabia contar nos dedos. Um dia, todos os sistemas interligados do mundo caem. Ninguém mais consegue escrever sem um teclado, o que dirá fazer contas sem uma calculadora eletrônica. Recorrem ao homem, que cobra caro pelo seu serviço. E o fornece tranquilamente, certo de que se errar nas suas contas primitivas, não haverá como comprovar o erro. Ele será a autoridade final em todas as contas.

A austeridade não está dando certo em nenhum lugar do mundo, muito menos nos países mais sacrificados pela crise como Grécia e Espanha. Na Inglaterra, as pompas fúnebres para Margaret Thatcher, Mrs. Austeridade, também foram, um pouco, uma celebração provocativa do aperto promovido pelo governo conservador. O neoliberalismo dando um último chute no "welfare state" antes de ser canonizado.

Ueba! O Sinistrério da Dilma! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 09/05

E o Afif é empresário, vice-governador e ministro. E pede música no "Fantástico"!


Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!

E hoje começa a clássica pergunta: "O que você vai dar pra sua mãe?". Um Viagra pro meu pai. Isso! Faça sua mãe feliz: dê um Viagra pro seu pai!

E aquela inundação de spams: "Passe o Dia das Mães com o Fábio Júnior". "Mãe, geratriz da concepção humana." Geratriz da concepção humana?

Tucanaram a mãe. Se eu fosse mãe e me chamassem de geratriz da concepção humana, dava um tapão na orelha!

E como diz um amigo meu: "A Dilma parece a minha mãe, não consegue passar o dia feliz sem dar um pitaco em alguém". Rarará!

E o Ministério? Ops, o Sinistrério da Dilma. Mais um sinistro: "Afif Domingos é o novo ministro da Dilma".

Mais um? Isso não é um ministério, é uma rave. Parece a estação de metrô da Sé às 18h!

A Dilma derrubou uns 20 e empossou uns 30!

E adorei a charge do Sinfronio flagrando a posse do Afif. Dilma: "Tenho o orgulho de empossar no ministério... Que ministério é mesmo?". Qualquer um! Rarará!

E o Afif é empresário, vice-governador e ministro. E pede música no "Fantástico"!

Manchete do Piauí Herald: "Afif acumula três funções e pede música no Fantástico'".

E, representação por representação, tinha que ter o Ministério das Periguetes, o Ministério das Bancas Piratas, o Ministério das Calçadas Quebradas, o Ministério das Perguntas Cretinas! Rarará!

E o futebol? Um amigo meu tem uma dúvida hamletiana futebolística: "Não sei o que é pior, ter um Rogério que adianta ou um Valdivia que não adianta".

E já tem campanha na internet: #VaiTrabalharValdivia! Gente, não estressa o Valdivia! Rarará!

É mole? É mole, mas sobe!

O Brasil é Lúdico! Olha esta faixa numa igreja: "Deus ama quem dá com alegria".

Oba! E não é só Deus que ama quem dá com alegria!

E esta outra direto de Alagoinhas, na Bahia: "Fazemos corteijo funbre". Rarará!

E esta placa deve ser do Cebolinha: "Temos flango de glanja". Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza! Hoje só amanhã!

Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

Risco de inflação por longo tempo no limite é alimentar indexação - JOSÉ PAULO KUPFER

O Estado de S.Paulo - 09/05

A inflação de abril, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), baliza do sistema de metas, voltou a surpreender, negativamente, em abril. O resultado divulgado pelo IBGE mostrou aceleração em relação a março, embora tenha recuado, no acumulado em 12 meses, o mínimo suficiente para voltar ao limite do intervalo, que tinha sido ultrapassado, no mês anterior.

Para resumir, mês após mês, a alta de preços tem resistido, teimosamente, nos andares mais altos do intervalo da meta. Conhecido o número de abril, mesmo assim, as projeções continuam apontando para uma tendência mais moderada em 2013, depois do repique previsto em junho, com a absorção dos aumentos previstos para a tarifas de transporte público em grandes cidades. A expectativa é de que a safra recorde de grãos e a estabilização da oferta de produtos "in natura", deem, afinal, o ar da graça, permitindo ao IPCA fechar o ano com variação acumulada entre 5,5% e 5,7%.

Em meio ao vaivém dos preços, chamou atenção a magnitude do desvio entre o valor encontrado para o IPCA de abril (0,55%) e a mediana das projeções do mercado para o mesmo índice (0,48%). A distância entre a previsão e a realidade, de acordo com a explicação mais utilizada, ocorreu, especialmente, em razão de elevações de preços inesperadas no item saúde e cuidados pessoais.

Mais do que indicar que, no setor de serviços, a inflação se mantém animada, refletindo as excelentes condições de emprego na área, e o fato de que o segmento passa ao largo da concorrência com importados, é o caso de levantar uma sobrancelha para os riscos de que médicos, cabeleireiros e afins já estejam treinando para o jogo de indexar seus preços às altas de seus custos.

Vale mencionar que os medicamentos, parte do item que escapou das previsões do IPCA e formou o time dos vilões da inflação de abril, têm preços indexados. Mas também não se pode esquecer que o processo, no caso, é de outra natureza, resquício de uma "velha" indexação, que continua a alcançar um terço do total dos componentes do IPCA. Além disso, o processo, se já ocorre, está longe de ser generalizado, tanto que o recuo recente nas vendas do comércio varejista e da busca de crédito se deve, na visão de analistas, a efeitos de uma inflação mais elevada.

Em tempos de ressurgimento da ideia de aplicar gatilhos salariais automáticos, ainda que seu lançamento tenha obedecido apenas a um cálculo político, não custa, de todo modo, vigiar para impedir que o velho esporte nacional volte a campo.

Vitória do atraso - VALDO CRUZ

FOLHA DE SP - 09/05

BRASÍLIA - Mais uma vez, o Brasil deve perder uma oportunidade para modernizar regras, práticas e procedimentos arcaicos que tanto travam nosso caminho na direção de, quem sabe um dia, nos transformarmos num país desenvolvido.

A despeito dos esforços do governo Dilma, o destino das reformas do ICMS e dos portos brasileiros, vitais para tornar nossa economia mais competitiva interna e externamente, está praticamente sacramentado: naufragar no Congresso.

O atual modelo de ICMS gera guerra fiscal entre Estados, onera investimentos e encarece exportações. Nosso sistema portuário é caótico e precário, está na lanterna mundial em qualidade de infraestrutura e ocupa os primeiros lugares no quesito custo elevado de embarcação.

Mesmo assim, o interesse nacional ficará, novamente, em segundo plano diante do lobby de alguns governadores, empresários e trabalhadores decididos a manter suas reservas de mercado e privilégios.

O governo acredita ter chegado perto de um acordo para aprovar a reforma do ICMS, mas errou no timing de votação. O calendário eleitoral contaminou o debate e criou no Planalto o receio de fazer inimigos às vésperas da eleição.

Resultado: deve desistir de sua própria proposta e descobriu que esta é uma reforma para ser feita em primeiro ano de governo.

No caso da mudança nas regras dos portos, o erro da equipe de Dilma foi não consultar nenhuma das partes envolvidas antes de enviar sua medida ao Congresso por considerá-la a melhor para o Brasil.

De fato, realmente era a melhor em quase sua totalidade. Mas contrariou vários interesses consolidados de uma só vez, fazendo seus inimigos se unirem contra a ideia.

Apesar dos erros, não se pode negar que o governo tenta aprovar as reformas. Deve esbarrar no que podemos chamar de vitória do atraso. Triste realidade num país que precisa ser competitivo para crescer.

Modelo esgotado e reeleição travam economia - RAUL VELLOSO

ESTADÃO - 09/05

Era difícil de enxergar isto com clareza, mas o governo Lula recebeu a bola da gestão anterior prontinha para marcar o gol. As reservas em dólares tinham começado a crescer, os sistemas de câmbio flexível e de metas de inflação funcionavam bem, ao tempo que os resultados fiscais primários tinham alcançado a marca de 3,1% do PIB, partindo de zero em 1998.

Por dificuldade de enxergar o que tinha acontecido e o que viria a seguir, havia o temor de explosão da razão entre a dívida pública líquida de ativos financeiros e o PIB, qualquer que fosse a inclinação do novo governante em relação à questão fiscal.

Dados o elevado estoque inicial de dívida, a taxa Selic real e a taxa de crescimento do PIB com que se raciocinava para projeções dessa mesma razão, e supondo, ainda, a taxa de câmbio constante, o superávit primário requerido para estabilizá-la se situava bem acima de 3% do PIB, algo visto como quase impossível de pôr em prática, depois de todo o penoso ajuste feito até então. A taxa Selic real esperada, na mente dos analistas, era de 11% ao ano. A taxa de crescimento do PIB considerada nos cálculos era da ordem de 2,7% ao ano, média observada em fase próxima precedente.

Assim, a economia brasileira estava travada, por não ser possível antecipar que o IBGE divulgaria uma nova série do PIB com valores 10% maiores que a série em vigor e que o mundo explodiria em liquidez e crescimento. Pelo primeiro fator, a razão dívida/PIB passaria de 50% para 45% de uma tacada só. A explosão de liquidez jogaria para cima a relação entre os preços de exportação e de importação do Brasil - forte ganho de termos de troca - e inundaria o País de capitais. Graças a isso, as altas taxas de juros reais, que agiam como uma pesada trava no funcionamento da economia brasileira, poderiam rapidamente cair - como de fato ocorreu - para níveis há pouco inimagináveis. E, logo em seguida, o PIB poderia subir a uma velocidade também fora da maioria das previsões, o que seria facilitado pelas altas taxas de desemprego em vigor, ou seja, pelos baixos níveis de utilização de capacidade.

Veio a crise e o Brasil foi um dos países emergentes a superá-la mais rapidamente. De lá para cá, contudo, vai ficando cada vez mais evidente que o modelo econômico que vem sendo adotado desde os primeiros momentos do governo Lula, e que ganhou novos contornos diante da crise e das novas prioridades do governo Dilma, está se esgotando. Uma análise aprofundada desse esgotamento seria longa demais para o espaço deste artigo. Mas o fato é que, ao contrário da maioria dos países emergentes, o Brasil pós-crise passou a crescer menos e está perdendo o controle da inflação. A precipitada antecipação da campanha de Dilma Rousseff à reeleição torna preocupante o quadro econômico atual, em vista da paralisia na adoção de medidas impopulares que tomou conta da ação governamental.

Na apresentação que farei com parceiros no Fórum Nacional Inae/BNDES, na semana que vem, um dos destaques será a deterioração recente dos resultados fiscais, que se encaixa nesse quadro de esgotamento e que o governo inexplicavelmente tem procurado esconder por meio de artifícios contábeis e outras medidas do tipo.

A verdade é que, em vista da melhoria dos parâmetros que afetam a evolução da razão dívida/PIB, os superávits primários poderiam cair até certo ponto sem comprometer a credibilidade fiscal do País. O problema, hoje, é que devemos estar chegando ao limite máximo de possibilidades dessa queda, enquanto o governo terá, desnecessariamente, perdido grande parte da credibilidade acumulada no passado no que toca a prometer e cumprir metas na área fiscal. Isso já se vê, inclusive, pela evolução desfavorável de indicadores de risco Brasil relativamente a outros emergentes desde 2012.

Acompanhar a implementação de metas fiscais ficou cada vez mais difícil, especialmente para investidores de fora, e o Brasil vai queimando cartuchos acumulados com tanto sacrifício.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

FOLHA DE SP - 09/05

Hospital faz obras de R$ 147 mi sem interromper o atendimento
O Hospital do Servidor Público Estadual (na zona sul da capital) fará uma reforma no valor de R$ 147 milhões sem interromper o atendimento aos usuários.

Em 50 anos, será a maior reconstrução do hospital, que tem cerca de mil leitos, 5 mil trabalhadores e atende a 1,3 milhão de servidores do governo estadual, seus dependentes e agregados, pacientes de todo o Estado.

As obras na unidade, um complexo de 70 mil m², começam nos próximos dias e correspondem à construção de praticamente três hospitais de médio porte, com 200 leitos cada.

A reforma, que deve durar dois anos e aprimorar todas as áreas, ampliará em 25% o Centro de Oncologia, que passará a fazer cerca de 14,4 mil procedimentos por ano.

O número de leitos de UTI será duplicado.

Antes da reforma, com recursos do tesouro estadual, Latif Abrão Junior, superintendente do Instituto de Assistência Médica ao Servidor, deu uma ordem na casa.

"De obra todo mundo gosta, mas tínhamos antes de melhorar os processos de gestão, aumentar o acesso à assistência e o acolhimento, além de equacionar a questão financeira do instituto ao qual o hospital está ligado", diz Abrão Júnior, ex-presidente da Intermédica Saúde.

"Triplicamos as consultas e exames em quatro anos." Tudo continuará em funcionamento, "inclusive o pronto-socorro, unidade que fechou na reforma do Hospital das Clínicas." O desafio é ainda maior porque 60% dos pacientes internados possuem 60 anos ou mais.

"Aqui não dá para priorizá-los na fila. Quase todo o mundo é idoso." O novo PS será especializado no atendimento a essa faixa etária.

O Centro de Promoção e Proteção à Saúde do Idoso contará com um serviço de reabilitação física e social para a promoção do envelhecimento saudável. Terá também uma área de lazer e um anfiteatro para 420 pessoas.

NÚMEROS

R$ 147 milhões
serão investidos na reforma

1. 000
é o número de leitos da unidade

5. 000
são os funcionários

400 mil
consultas são realizadas mensalmente

1. 800
cirurgias são feitas por mês

60%
dos pacientes são idosos

Depois de briga diplomática, 271 veículos chegam da Bolívia
O Brasil já recebeu de volta 271 veículos furtados ou roubados que estavam na Bolívia ao menos desde 2011, segundo a FenSeg (Federação Nacional de Seguros Gerais).

O governo Evo Morales permitiu naquele ano o registro de carros sem documentos.

Somente em fevereiro deste ano, após uma longa negociação diplomática, parte deles passou a atravessar a fronteira em Corumbá (MS).

Desde 2011, foram identificados no país vizinho 4.341 veículos com registros de roubos e furtos no Brasil.

Desse total, 483 carros de passeio, motos, caminhões e outros veículos foram apreendidos por autoridades bolivianas no momento da regularização e ficaram em depósitos.

Aqueles que atravessam a fronteira seguem para Campo Grande (MS) e ficam com a Polícia Civil. Todo o trajeto é custeado pela FenSeg.

Quinze seguradoras são donas de 96 veículos. A polícia começou a identificar os demais proprietários, que deverão custear a transferência.

Outros 42 carros apreendidos mais recentemente devem chegar pelo Acre.

"Essa iniciativa desvaloriza o veículo brasileiro na Bolívia, reduzindo roubos e furtos e até a violência nas cidades", diz o diretor-executivo da FenSeg, Neival Freitas.

VAIVÉM RODOVIÁRIO
A Justiça Federal no Rio Grande do Sul decidiu anteontem manter para o fim deste ano a concessão de uma das sete empresas que administram rodovias gaúchas.

O fim dos primeiros contratos de concessão de rodovias no país, firmados há 15 anos, gerou uma série de disputas judiciárias no Estado.

Outras concessionárias já conseguiram determinações semelhantes, contra a tentativa do governo estadual de retomar 11 praças de pedágio até o final deste mês.

A Santa Cruz Rodovias, que conseguiu agora a decisão favorável, administra três praças de pedágio a cerca de 150 km de Porto Alegre.

Sem a liminar, duas delas passariam nos próximos dias para o governo estadual, que começaria a receber as receitas. Outra seria da União, que deixaria de cobrar.

Para a Empresa Gaúcha de Rodovias, vinculada à administração estadual, o prazo de 15 anos de concessão está prestes a se encerrar.

A Santa Cruz, porém, alega na Justiça que a conta vale a partir da ordem de início da operação, que foi expedida em dezembro de 1998.

Os trechos em disputa totalizam mais de 590 km.

R$ 37 MILHÕES AO ANO
é quanto o governo do RS estima arrecadar com dois pedágios que hoje são da Santa Cruz Rodovias

DA LOJA PARA O QUIOSQUE
A coreana Samsung adotará quiosques como novo modelo de negócios.

No ano passado, a companhia abriu suas primeiras lojas exclusivas, em uma estratégia para se aproximar dos consumidores. Hoje, são 12 unidades no país. Cada uma recebe em média 5.000 clientes por mês, de acordo com dados da empresa.

Os quiosques venderão apenas a linha móvel da marca --smartphones, tablets, notebooks e câmeras-- e serão franquias.

A primeira unidade será inaugurada em Fortaleza, no shopping Iguatemi. O modelo não existe em outros países.

HOSPEDAGEM CATARINENSE
A Blue Tree Hotels fechou contrato com a Cota Empreendimentos Imobiliários para a administração de um hotel que será construído na cidade de Itajaí (SC).

O investimento será de R$ 35 milhões e a nova unidade ficará localizada na região central do município.

Com 200 apartamentos e um centro de convenções, o empreendimento (concebido para a categoria quatro estrelas) deverá ser inaugurado em 2015.

"Estamos investindo em cidades com grande potencial de negócios. Itajaí é uma delas devido a quantidade de empresas que estão se instalando por lá", afirma Chieko Aoki, presidente da rede Blue Tree.

R$ 35 milhões
serão investidos na construção do novo hotel em Itajaí (SC)

24
é o número de hotéis que a Blue Tree tem no Brasil

4.809
é o total de quartos que a rede disponibiliza atualmente em suas unidades no país

Garagem... A Ceva Logistics, com atuação em cerca de 170 países, irá instalar uma unidade de armazenamento em Juiz de Fora (MG). No local, prestará serviços para uma montadora --cujo nome não foi divulgado por questões contratuais.

...nova A Mercedes-Benz tem fábrica na cidade e a Fiat assinou, no ano passado, um protocolo de intenções com a prefeitura para implantar um centro de distribuições na região. A Ceva teve um faturamento global de € 7,2 bilhões em 2012.

Troca A ABB, empresa suíça de tecnologia de energia, fechou contrato de R$ 16 milhões para substituir seis unidades de disjuntor de gerador na hidrelétrica Luiz Gonzaga (PE), pertencente à Chesf. A conclusão das obras está prevista para meados de 2015.

FLÁVIA OLIVEIRA - NEGÓCIOS & CIA

O GLOBO - 09/05

Deu Manchester 1
Serão em Manchester, no Reino Unido, as edições 2014-2017 da Soccerex, convenção da indústria do futebol que se despede este ano do Rio. A organização negociava com a Rússia, país-sede da Copa 2018, a realização do evento em São Petersburgo ou Moscou. Os ingleses cobriram a oferta.

Deu Manchester 2
A cidade, que investe no futebol como nova vocação econômica, vai pagar pela Soccerex 50% além do que os russos pretendiam gastar. E 15% mais que o Rio. A 1ª feira em Manchester será em setembro de 2014; a 4ª do Rio, em novembro deste ano.

Em tempo
Salvador abrigará as edições 2014, 15 e 16) do Fórum Soccerex das Américas. O governo da Bahia apoia. O 1º será a dois meses da Copa.

Na fila
A Espaço Rubro Negro, loja oficial do Flamengo, já tem 16 mil pessoas inscritas para comprar a nova camisa do time. As peças começam a chegar em 28 de maio nas 22 unidades no Rio. As vendas devem subir 35% no dia.

Imagina
A Abap, das agências de publicidade, faz seminário, dia 14, no Rio, sobre ações de marketing permitidas pela Fifa para a Copa das Confederações e a Copa 2014. Vicente Rosenfeld, consultor de proteção às marcas da Fifa, participa.

-40% NO CUSTO DE PRODUÇÃO
É quanto pode cair o gasto total dos shoppings com as promoções cooperadas, estima a Ancar Ivanhoe. Para não haver danos à imagem, é preciso reunir shoppings com perfis parecidos.

Mão de obra 1
A Engemav contratou 15 dos 25 formandos da 1ª turma do curso básico de elétrica, parte do projeto Instalação Social. Há seis anos no Rio, a paulista de engenharia decidiu formar profissionais de comunidades cariocas, para driblar o apagão de mão de obra, diz o gerente João Cosenza. Deve crescer 30% este ano.

Mão de obra 2
A Sonda IT, de soluções de TI, aprovou cerca de 93% dos 207 funcionários que participaram de prova de certificação do SAP Associate. Todos atuam na Petrobras, no Rio. A chilena investiu R$ 500 mil em 41 mil horas de treinamentos internos e externos em 2012.

AMOR NA MODA
Agrife AD LifeStyle veicula catálogo de Dia dos Namorados em mídias sociais, hoje. Terá versão impressa, com 25 mil unidades. Os modelos Ana Hartmann eGuilhermeValle posaram para o fotógrafo Felipe Gaspar. Dona de 65 lojas, a marca prevê crescimento de 18% nas vendas.

NA REDE 1
A Salinas fechou com a Amazon. Agrife brasileira vai pôrà venda no site americano 20 biquínis do verão 2013.O preço médio é de US$ 75.

NA REDE 2
A loja virtual OffS hopper começa a venderTidsy, Luiza Dias, Andrea Bogosian e Nica Kessler (foto) sábado. Espera vender 20% mais.


AÇÕES CASADAS PARA OTIMIZAR CAMPANHAS
Shoppings querem ganhar consumidor com promoções cooperadas e unindo mais de uma data do varejo
Os shoppings brasileiros estão investindo em campanhas que casam mais de uma data do varejo, como Dia das Mães e dos Namorados. É um passo adiante nas promoções cooperadas, que unem malls de um mesmo grupo. O objetivo é fazer ações maiores a custos menores. “São datas em que todos estão comunicando a mesma coisa. O desafio é aparecer. E, claro, estimular a venda', explica Mônica Maciel, gerente de marketing corporativo da Ancar Invanhoe. O grupo faz campanha de Mães e Namorados em parceria com a Visa, sorteando ingressos para a Copa das Confederações. “A ação cooperada reduz o investimento total',' diz. No mercado, a estratégia é vista com reservas. “São campanhas com resultado de curto prazo, como a onda do sorteio do carro zero. Isso pode
afetar a identidade de cada mall', alerta Leonardo Cavalcanti, da agência PS10. Luiz Marinho, sócio-diretor da GS&BW diz que a tendência é ditada pela necessidade: “É um momento de hipercompetição. O risco é criar um consumidor oportunista'. Para Mônica, as campanhas institucionais não podem perder força: “Se atuarmos só nas datas fortes do varejo, arranhamos a identidade do mall”.

ESPORTES
O SporTV estreia hoje a campanha “Mais respeito com as magrelas”. O apelo contra os seguidos acidentes com ciclistas vai circularem TV, web, folhetos e mídia externa. A Bandeira de Mello criou. O canal também vai divulgara transmissão da Copa das Confederações. Onibus adesivados vão rodarem SP e Rio, amanhã.

A Kindle assina.

Feirão
A filial carioca da imobiliária Fernandez Mera espera vender R$ 10 milhões no Feirão da Casa Própria da CEF, de 17 a 19 deste mês, no Riocentro. É alta de 28,2% sobre o ano passado, quando negociou R$ 7,8 milhões em imóveis.
Vai oferecer mil unidades.

Vezes três
A Pinto de Almeida, de Niterói, prevê lançar seis empreendimentos em 2013. Serão cinco residenciais e um comercial. Devem somar R$ 300 milhões em vendas.

É praticamente o triplo do ano passado, quando a construtora comercializou R$ 110 milhões.

Tá lento
A Protel, administradora de condomínios, estima alta de 12% no total de unidades em carteira este ano. Vai desacelerar, frente ao avanço de 20% em 2012. Tudo a ver com o atraso na entrega de obras pelas construtoras.

LivreMercado
Otorneio Brasil HorseShowTour, que começa amanhã, distribui R$ 588 mil em prêmios este ano. Patrocinado por Governo do Rio, Oi, Mitsubishi e Coca-Cola, o evento vai custar R$ 6 milhões.

A Fabulous, marca da Agilità, terá esta nde próprio, pela 1ªvez, no Salão Bossa Nova. Vai investir R$ 700 mil. Quervender40%mais.

O mexicano Rota66abrefilial na Avenida Atlântica (Copacabana), no fim do mês. Estima aumento de 25% no faturamento.

É hoje e amanhã o seminário sobre oserviçode praticagem no Brasil. O Conapra organiza. O evento, no Rio, deve reunir300 profissionais. Comissão do governo elabora regras de contratações do setor.

O Instituto Refazer pôs camiseta à venda no site Use Huck, parceria de Luciano Huck e Reserva. Parte da renda vai para a entidade.

A Mood conquistou a conta de ativação da Raízen. Criará ações na área de esportes automotores, caso de StockCar e Fórmula 1.

A farinha de trigo ajudou a empurrar a alta dos preços - EDITORIAL O ESTADÃO

O Estado de S.Paulo - 09/05

O preço do pãozinho francês subiu 0,8%, em abril, 4,7%, no quadrimestre, e 15,86%, nos últimos 12 meses, devido ao preço do trigo - o Brasil consome cerca de 10 milhões de toneladas anuais, mas produz pouco mais do que a metade. O pãozinho contribuiu, assim, para a alta dos preços dos alimentos e bebidas de 0,96%, no mês passado, e para que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrasse um aumento de 0,55%, muito superior às projeções das consultorias privadas e reforçando o fato de que a luta contra a inflação é "constante e imutável", como disse há pouco a presidente Dilma. Resta ver se as armas anti-inflacionárias do governo desarmam mais esse fator de perturbação nos preços.

O IPCA, que mede a inflação oficial, superou março (0,47%) e foi de 6,49%, em 12 meses, esbarrando no teto do regime de metas, cujo objetivo é uma inflação anual de 4,5%. Em apenas quatro meses, a inflação de 2013 já atingiu 2,5% - e, se o ritmo de alta se mantiver constante até o fim do ano, o índice chegará a 7,68%. A alta de preços é generalizada, embora, no mês, o índice de difusão tenha caído de 69,04% para 65,75%.

Com a exceção dos itens de transportes e comunicação, todos os demais registraram elevação - liderados pela saúde e cuidados pessoais (+1,28%). Isoladamente, a alta de 2,99% nos preços dos remédios foi a que mais pesou na inflação do mês - contribuindo com 0,1 ponto porcentual ou 18% do IPCA. O governo autorizou um aumento dos preços dos remédios entre 2,7% e 6,31%.

Outros preços sob controle também subiram, nos últimos 12 meses, como as taxas de água e de esgoto (+8,26%), reduzindo o impacto da baixa das tarifas de telefonia fixa e de energia, por exemplo. Como ponto positivo, há um arrefecimento na inflação de serviços, mas esta ainda é muito alta (8,1% em 12 meses).

O IPCA de abril obriga os especialistas a reestimarem, para cima, a expectativa de inflação para 2013 (hoje de 5,71%, segundo a pesquisa Focus, do Banco Central). Estimula, ainda, a discussão sobre políticas monetária e de crédito mais restritivas, nas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom).

O decano dos economistas clássicos brasileiros Eugenio Gudin escreveu no século passado que a inflação é o estado de coisas em que há mais direitos de haver do que bens que podem ser havidos. Traduzindo, a inflação é um fenômeno monetário. Se o governo quer mesmo derrubar a inflação, talvez não deva ignorar de todo a velha máxima.

Governo grande - CARLOS ALBERTO SARDENBERG

O GLOBO - 09/05

Sábado passado à tarde, aeroporto de Miami: quase três horas para carimbar o passaporte. Voos desembarcavam passageiros do mundo todo. Pessoas se aglomeravam em filas apertadas, manifestavam surpresa. Alguns brasileiros arriscavam a ironia: isso aqui está pior que Guarulhos, hein!? Pois deveriam estar contando com a confusão.

No começo da fila, um cartaz grande anunciava: "em razão dos cortes no orçamento federal, o departamento de imigração está trabalhando com menos funcionários do que o normal. Por favor, seja paciente e colabore com os agentes".

Conversa daqui e dali - nessas filas em caracol , você vai criando um companheirismo de infortúnio, pois cruza várias vezes com as mesmas pessoas - e deu para saber que quase ninguém ali sabia o que estava acontecendo. Algumas pessoas nem haviam percebido o cartaz. Outras, sim, mas estavam longe de saber por que, afinal, havia os tais cortes no orçamento federal.

Sentiam na carne os efeitos de um impasse político em Washington, mas nem imaginavam que se tratava disso, de governo e política. Para resumir, portanto: o presidente Obama e os líderes republicanos, depois de anos de negociações, ainda não chegaram a um acordo de longo prazo para o necessário ajuste das contas públicas americanas, com déficits anuais e dívidas elevadas. Como o orçamento federal tem se ser votado todo ano, há um impasse anual. Em um desses momentos, os dois lados concordaram com um arranjo provisório e estabeleceram que, não havendo entendimento consistente um ano depois, entrariam em vigor cortes automáticos de gastos em toda a administração federal, além de aumentos de impostos.

É o que está acontecendo. Na flexível administração americana, a falta de verbas públicas produz resultados imediatos. Funcionários são demitidos ou, solução mais branda, mandados para casa, em licença não remunerada; obras e compras, de equipamentos militares, por exemplo, são eliminadas: e serviços tornam-se precários, como a imigração nos aeroportos.

No caso daquele sábado à tarde, as vítimas eram estrangeiras. Não havia fila no guichê dos residentes nos EUA. Mas os americanos estavam pagando caro pela redução no número de controladores de tráfego aéreo: voos atrasados no país inteiro. Isso foi torrou tanto a paciência dos consumidores, que o Congresso reuniu-se às pressas para aprovar a liberação de verbas extraordinárias para o departamento de controle de voos, com o voto amplo de democratas e republicanos.

E quer saber? É bom mesmo que falhas da gestão pública sejam imediatamente sentidas pela população. É educativo. Desde a crise de 2008, tornou-se moda dizer que a culpa de tudo foi o excesso de liberalismo, que teria eliminado regulações e reduzido demais o tamanho e as funções do Estado. De fato, houve pouca regulação das atividades financeiras, mas especialmente nos EUA e em alguns países da Europa, como a Inglaterra. Mas está claro que não se pode dizer que o sistema financeiro brasileiro foi em algum momento desregulamentado. Nem nos demais emergentes.

Quanto ao tamanho governo, vamos concordar, gente: só cresceu e isso no mundo todo, EUA incluídos, como se vê agora.

Obama, que tem o poder de ordenar os cortes, tem sido acusado pelos republicanos de criar caso de propósito. Estaria cortando recursos de serviços diretos ao público para dizer: estão vendo! tudo culpa desses republicanos que não querem aumentar impostos para os ricos!

E assim o debate tornou-se mais urgente, embora não menos fácil: o governo é grande, é preciso cortar gastos - quais? - e aumentar impostos - de quem?

A propósito, governos estaduais querem cobrar imposto ao consumidor nas vendas via Internet. Hoje, essas vendas só são taxadas quando o vendedor tem presença física no Estado. Logo, as grandes lojas de departamentos já recolhem o imposto e, claro, o colocam no preço. Já empresas médias e pequenas, instaladas em um único Estado, e que só vendem pela Internet, não recolhem nada e ganham uma vantagem.

Uma decisão antiga da Suprema Corte diz que essas empresas não têm como lidar com a legislação tributária de tantos estados. Mas agora os legisladores federais estão dizendo que modernos softwares podem fazer isso facilmente. Entende-se a cobiça: uma arrecadação de US$ 12 bi/ano.

Nasce assim o ICMS americano. Eu não disse que o governo sempre cresce? E da pior maneira…

Alta demais - CELSO MING

O Estado de S.Paulo - 09/05

Ainda não há boas notícias da inflação. Ela continua alta, à beira do inadmissível, e espalhada demais.

Em abril, a evolução do IPCA ficou em 0,55%, acima das expectativas do mercado, de 0,45% - como mostrou a pesquisa Focus, do Banco Central.

Os otimistas incorrigíveis dirão que, no período de 12 meses terminado em abril, houve recuo da inflação de 6,59%, em março, para 6,49% - já abaixo da linha de tolerância, os tais 6,50%, incluída aí a área de escape. Esse efeito aconteceu porque, nos cálculos, saiu a inflação de abril de 2012, de 0,64%, e entrou esse 0,55% de abril deste ano. Não dá para baixar a guarda. Trata-se de recuo irrelevante.

Dentro do governo há diagnósticos divergentes para a trajetória da inflação. Para as autoridades do Ministério da Fazenda é o resultado preponderante de choques de oferta, como acontece com a alta do tomate, da farinha de mandioca e da cebola (veja o Confira) - o que deve se resolver quando a produção se normalizar.

Mas para outros setores, sobretudo para o Banco Central, o galope tem mais a ver com a demanda maior do que a oferta, por sua vez, relacionada com despesas excessivas do governo e com o aquecimento do mercado de trabalho.

Essa divergência não é de natureza acadêmica. Implica manejar ou não políticas. Para a Fazenda, é melhor esperar até que a produção agrícola se normalize. Para o Banco Central, é preciso atacar as verdadeiras causas com disciplina orçamentária e com redução do volume de dinheiro na economia (alta dos juros).

Não dá para negar que o impacto da alta dos alimentos é forte: avanço de 14,0% em 12 meses. Mas não explica tudo. A inflação está espalhada demais, não está concentrada nesse setor, como mostra o índice de difusão ainda alto, de 65,8%. (Esse termômetro indica o número de itens da cesta de consumo que registraram alta de preços.) A inflação dos serviços, de 8,12% em 12 meses, dá razão ao Banco Central.

Nos próximos meses, a alta dos alimentos deve se acomodar. Em compensação, há número relativamente alto de reajustes programado para as próximas semanas, que deve puxar para cima a inflação em 12 meses.

E, mais do que isso, tanto os governos seguem gastando demais como o mercado da mão de obra continua elevando os salários, criando renda e consumo.

Os dois maiores efeitos perniciosos de curto prazo da inflação são a erosão do poder aquisitivo do trabalhador e a valorização do câmbio real. A redução do poder aquisitivo eleva a pressão dos sindicatos por reajustes de salário ou pela adoção do gatilho salarial (reajuste sempre que a inflação atingir determinado nível) que, se aceito, tende a realimentar a inflação. A queda do poder aquisitivo ainda acirra a inadimplência (calote).

A erosão do câmbio real é a perda de competitividade imposta ao setor produtivo quando seus custos sobem com a inflação sem evolução correspondente da cotação da moeda estrangeira. O resultado é o encarecimento do produto nacional e barateamento do importado.

A tendência nos próximos meses é de que a inflação se mantenha alta, embora com algum recuo ocasional.

Dois desequilíbrios - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 09/05

O Brasil está aumentando dois desequilíbrios: o das contas externas e o das contas internas. O rombo de dentro é mais grave. O superávit primário vem caindo bastante, os sinais são confusos, e no ano que vem pode ficar abaixo de 1%, na previsão do economista Ilan Goldfajn, do Itaú Unibanco. "O total das desonerações pode chegar a 1,7% do PIB em 2014", diz o economista.

Com políticas de benefícios a setores ou corte de impostos mais gerais, o governo vai deixar de arrecadar 1,7% do PIB e decidiu que não vai contabilizar isso como gasto. Como renúncia fiscal é gasto, essa decisão só fará com que as contas públicas fiquem ainda mais opacas.

- O maior problema da área fiscal é a falta de transparência. A gente não sabe mais para onde o governo está indo. Sabe que ele fará uma política contracíclica, mas oscilará entre que parâmetros? - diz o economista Nilson Teixeira, do Credit Suisse.

O banco fez um trabalho que mostra que os investimentos em infraestrutura programados vão exigir aportes ao BNDES de R$ 50 bilhões por ano até 2018:

- Se for feito através de captação de dívida, a relação dívida/PIB, sob qualquer parâmetro, vai piorar muito.

O Brasil parece estar melhor do que outros países porque a dívida líquida tem caído. Na dívida líquida, as reservas cambiais e outros ativos são descontados. Só que empréstimos feitos ao BNDES estão nesses ativos e eles são dívida contraída a curto prazo, para que o banco empreste a longo prazo. Não tem liquidez.

A consultoria Tendências produz um indicador que exclui da dívida líquida esse tipo de ativo. O percentual, que oficialmente em março ficou em 35,5% do PIB, sobe para 51,2%. Segundo Felipe Salto, créditos do Tesouro concedidos aos BNDES somam 8,2 pontos. Há também recursos do FAT na rede bancária, empréstimos feitos à Caixa e ao Banco do Brasil, e créditos que o Tesouro têm a receber de estatais. Tudo isso é mais difícil de ser resgatado e diferente das reservas aplicadas em títulos do Tesouro americano, que podem ser vendidos facilmente.

Por isso, é importante verificar a dívida bruta. Como mostra o gráfico, ela tem subido nos últimos dois anos. Em 2009, isso também aconteceu, mas para combater a crise. Não é o caso agora. E é esse dado da dívida bruta que é comparado no mundo inteiro. Também o indicador utilizado de contas públicas é o déficit nominal. No primeiro trimestre, chegou a 2,79% do PIB.

- Nos nossos cálculos, qualquer superávit primário abaixo de 1,5% do PIB faz crescer todas as dívidas, a bruta e a líquida - disse Ilan.

Nas contas externas, o rombo está indo para 3% do PIB. Não é um desastre histórico porque já houve déficits muito maiores, inclusive em alguns anos do governo do PSDB. O problema é que não há garantia de que a diferença seja coberta com investimento direto.

- E aí acaba financiado pelo dinheiro que ninguém quer - disse Ilan, referindo-se ao capital especulativo.

O país só atravessa este período de expansionismo fiscal e deterioração das contas externas porque passou anos acumulando reservas e reduzindo a dívida.

- O que está nos segurando é o passado e não a expectativa do futuro - alerta Ilan Goldfajn.

Ontem, hoje e amanhã - VERA MAGALHÃES - PAINEL

FOLHA DE SP - 09/05

O programa de TV do PT que vai ao ar hoje encerra a era da comparação com a herança do PSDB e apresenta os governos de Lula e Dilma Rousseff como um projeto "vitorioso'' e que ainda tem "mais" a oferecer ao país. Numa edição dinâmica, serão mostradas realizações dos últimos dez anos para passar a mensagem de continuidade das gestões petistas. Para lançar a ideia de mais quatro anos para Dilma, serão martelados os desafios para o "futuro", palavra-chave na propaganda.

Coffee break Após a posse de Guilherme Afif no Planalto, hoje, Dilma Rousseff receberá Rui Falcão no Alvorada, com o ex-presidente Lula. Também participa da conversa o onipresente Aloizio Mercadante (Educação).

Ansiolítico Em conversa com Dilma ontem após a divulgação de que a inflação de abril fechou em 0,55%, Guido Mantega (Fazenda) disse que o resultado ainda estava contaminado pela alta de preços dos alimentos e que os números de maio serão melhores.

Conta-gotas 1 A Procuradoria-Geral da República só havia recebido até ontem 3 dos 26 embargos de declaração do mensalão enviados por Joaquim Barbosa a Roberto Gurgel para análise.

Conta-gotas 2 Assessores do STF informam que os recursos foram enviados, mas houve uma demora na saída devido à burocracia na corte. Gurgel quer esperar para fazer uma manifestação única sobre os recursos.

Tudo igual Interlocutores acreditam que o procurador-geral seguirá a linha de suas recentes declarações e dará parecer contra os embargos e qualquer alteração no acórdão do julgamento.

Páreo A procuradora-geral de Justiça do Distrito Federal, Eunice Carvalhido, entrou no páreo para a cadeira do ministro Carlos Ayres Britto no Supremo, vaga há seis meses. Ela conta com a simpatia do vice-presidente da corte, Ricardo Lewandowski.

Plano B Diante do risco de derrota na votação da medida provisória dos portos, o governo estudava alternativas. Além de licitar todas as áreas portuárias com contratos anteriores a 1993 e já vencidos, outra ideia é fatiar a reforma do setor por tópicos.

Compensação Senadores da base aliada já estudam, com o conhecimento da Fazenda, compensações para São Paulo, atingido pelas mudanças no ICMS aprovadas na Comissão de Assuntos Econômicos. Uma delas seria incluir na proposta benefícios para o polo tecnológico da região de Campinas.

War Do senador Delcídio Amaral (PT), relator da reforma do ICMS e pré-candidato ao governo de Mato Grosso do Sul: "Quanto mais Geraldo Alckmin e Andrea Calabi disserem que eu prejudiquei o Sudeste, mais votos me garantem no meu Estado''.

Bolado A contrariedade de Alckmin com a mudança no ICMS foi responsável pelo discurso duro do tucano ontem. "É inacreditável. E tem tudo para piorar. É preciso indignação da população", disse. Depois, ligou para vários governadores para articular reação ao projeto.

Manda ver A base governista na Assembleia paulista vai deixar correr sem dificuldades um eventual pedido de impeachment do vice Guilherme Afif caso evolua a representação do deputado Carlos Giannazi (PSOL).

Controle remoto O Legislativo paulista publica hoje edital da licitação para a produção de conteúdo da TV Assembleia. O contrato atual, de R$ 40 milhões e firmado sem licitação, vence amanhã. Prorrogado duas vezes desde 2011, é investigado pelo Ministério Público.

com ANDRÉIA SADI e PAULO GAMA

tiroteio
"Depois da rodada de boxe entre os Estados na questão dos royalties, o governo federal patrocina agora o sangrento UFC do ICMS."
DO DEPUTADO CARLOS SAMPAIO, líder do PSDB na Câmara, sobre a atuação de Dilma Rousseff na negociação da discussão da reforma do tributo.

contraponto


Deixa a vida me levar
Em sessão na Câmara paulistana, Laércio Benko (PHS) pediu a palavra e disse que adotaria "linha filosófica".

-- Só se for de alto nível. Bertrand Russell para cima --advertiu o presidente José Américo (PT).

Benko começou citando Nietzsche, mas se convenceu de que a sabedoria popular era mais adequada para cobrar celeridade do prefeito Fernando Haddad na regulamentação de atendimentos a pessoas com autismo.

--Faço então uma citação filosófica muito útil para vereadores novatos como eu, do grande filósofo Zeca Pagodinho: "Camarão que dorme a onda leva".

Incompatibilidade de gênios - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 09/05

É impressionante e sério o que ocorre com a presidente Dilma Rousseff e os congressistas de um modo geral. Em especial, os deputados. Passados dois anos e quatro meses de governo, é cristalino que os parlamentares não aprenderam a lidar com o estilo de Dilma e nem ela aprendeu a ler atentamente as manhas de sua base política.

Nesse jogo de cão e gato constante, a vida do governo no Parlamento segue como um casamento em que marido e mulher não se suportam e pouco dialogam. Os projetos em comum são praticamente nulos. Mas, sabe como é, dez anos não são dez dias e, enquanto o público externo estiver achando que está tudo bem, o casal vai levando a vida, apesar das incompatibilidades.

No geral, salvo pouquíssimos líderes, ou um ou outro levado pelo vice-presidente da República, Michel Temer, a agenda política de Dilma é nula. Temer, aliás, aprece ter sido um que aprendeu a lidar com o jeitão da presidente, mas não detém o poder de melhorar de vez o péssimo clima entre os parlamentares e Dilma. A sensação é a de que, a cada minuto, os políticos querem dar o troco em Dilma por tratá-los de um modo geral como meninos mimados. E a recíproca é verdadeira. Ela, por sua vez, é vista como autoritária e irascível pela base.

Ontem, por exemplo, foi um desses dias. No mérito da Medida Provisória 595, o governo parece ter perdido ontem o controle do processo. O deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP) levantava a hipótese de uma greve nos portos hoje cedo, caso o governo insistisse em retomar a MP original, que restringia a atuação dos Órgãos Gestores de Mão de obra (Ogmos). Os empresários, divididos entre aqueles que se beneficiam com o texto do governo, em especial, os que têm portos privados; e aqueles que se consideram prejudicados, os atuais concessionários de postos públicos, cabalavam votos no plenário, tornando impossível uma avaliação sobre que tipo de projeto sairá dali.

Sem comando sobre a base, no meio da noite de ontem, o governo olhava para a MP com ares de “deixa cair tudo no dia 16 de maio”, prazo fatal da 595. Isso porque, a medida, ainda que aprovada ontem, se fosse modificada no Senado — e tudo leva a crer que modificações virão —, volta para a Câmara. Mais uma vez, a história dos royalties do petróleo e do Código Florestal se repete. Se ninguém sentar para fazer uma terapia e aprender a lidar um com o outro, ou seja, dialogar. Essa cantilena não terá fim.

Enquanto isso, no Mané Garrincha...

Diante de uma base cada vez mais fraturada, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva trata de cuidar dos seus. Ontem, por exemplo, participou de uma série de encontros em Brasília, a começar por uma conversa reservada com o governador Agnelo Queiroz por meia hora no aeroporto.

Da conversa no aeroporto, participou também o presidente do PT, Rui Falcão. É a direção nacional do partido e seu maior líder, Lula, abraçando a campanha reeleitoral do governador. Lula afirmou ainda que virá mais a Brasília para acompanhar Agnelo em eventos nas cidades do DF e não apenas em Brasília. Hoje, as conversas de Agnelo com Falcão prosseguem com um café da manhã na residência oficial de Águas Claras. Aliás, toda essa investida de Lula e do PT pró-Agnelo tem um alvo: tirar fôlego dos aliados que planejam pré-candidaturas contra o petista, leiam-se Antonio Reguffe, do PDT, e Rodrigo Rollemberg, do PSB. Pelo visto, o ex-presidente não passa um dia sem tirar um pouco de oxigênio do PSB de Eduardo Campos. O raciocínio do PT é o de que se não houver Eduardo em 2014 — hoje um lusco-fusco entre governo e oposição — será mais fácil manter os partidos da base na sua órbita. E, ainda assim, se o casamento com Dilma naufragar, eles sempre terão Lula. O ex-presidente está na área, no estádio e nas ruas para assegurar que a maioria da base não se arrisque a apoiar o senador Aécio Neves (MG). Esse jogo eleitoral está apenas começando e os planos do PT, ao que tudo indica, passam pelo DF. Pode apostar.

Três vezes no "Guinness" - JOSÉ SERRA

O ESTADO DE S. PAULO - 09/05
Em palestra recente afirmei que o ex-presidente Lula mereceria pelo menos três verbetes no Guinness World Records. O primeiro por ter levado à pré-insolvência a Petrobrás, apesar de ser monopolista, a demanda por seus produtos ser inelástica, os preços internacionais, altos e as reservas conhecidas, elevadas. Fez a proeza de levar a maior empresa do País à pior situação desde que foi criada, há 60 anos. Promoveu o congelamento de seus preços em reais, instaurou uma administração de baixa qualidade e conduziu a privatização da estatal em benefício de partidos e sindicatos, com o PT no centro. Esse condomínio realizou investimentos mal feitos e/ou estranhos, sempre a preços inflados; queimou o patrimônio da Petrobrás na Bolívia; promoveu previsões irrealistas sobre o horizonte produtivo do pré-sal e fulminou, para essa área, o modelo de concessão, trocando-o pelo de partilha, que exige da empresa ampliação de capacidade financeira, administrativa e gerencial impossível de se materializar.

Outro verbete é o da desindustrialização, promovida ou acelerada pelo governo de Lula, ex-operário metalúrgico (durante dez anos). Uma ironia de bom tamanho, sem dúvida. O golpe decisivo foi dado a partir da crise internacional de 2008/2009, quando o real se desvalorizou e, ao mesmo tempo, a inflação quase virou deflação, criando-se uma oportunidade única para corrigir nosso malfadado atraso cambial. Mas o governo Lula jogou-a pela janela: já tinha aumentado a taxa de juros no começo da crise, fato único no planeta, e mesmo depois da quebra do Lehman Brothers demorou quatro meses para reduzi-la, timidamente. Daí em diante fez questão de mantê-la no nível real mais alto do mundo, forçando a revalorização da nossa moeda nos anos seguintes e comprometendo ainda mais, por isso, a competitividade da indústria.

Paralelamente, a política fiscal destinada a combater os efeitos da crise internacional enfatizou, sobretudo, o consumo do governo, não os investimentos, contrariando o recomendado por nove entre dez manuais de economia. A tradicional rigidez fiscal foi tonificada como nunca antes neste país, atravancando a administração da economia, a eficiência e a efetividade do gasto público, presente e futuro.

A farra dos bens de consumo importados deu-se, em grande medida, à custa da expansão da produção doméstica. Para se ter uma ideia, de um saldo comercial de produtos manufaturados quase equilibrado em 2007 passamos a um déficit projetado de US$ 112 bilhões em 2013. Isso principalmente no caso de produtos de maior densidade tecnológica. Mas não só. A título de ilustração e emblema: sabem quem é o maior fornecedor dos materiais e alegorias do carnaval carioca? A China.

E entramos no terceiro verbete a proeza de reviver desequilíbrios no balanço de pagamentos, não obstante a maior e mais intensa fase de bonança externa já experimentada pela economia brasileira. Desde 2003 os preços das exportações agrominerais do Brasil explodiram e os juros internacionais mantiveram-se baixos. Entre 2004 e 2010, apenas por conta do diferencial de preços entre nossas exportações e importações, o Brasil ganhou US$ 100 bilhões.

Isso tudo criou pela enésima vez na História de países latino-americanos a ilusão da oferta infinitamente elástica de divisas" (foreign exchange illusion), conceito criado pelo professor Albert Hirschman no fim dos anos 1950 e que o Brasil faz questão de atualizar periodicamente: a ideia de que as despesas com importações (incluindo turismo externo) se podem expandir acelerada e indefinidamente sem que, ao mesmo tempo, aumente a "exportabilidade" da economia. De fato, o déficit do balanço de pagamentos brasileiro, ressurgido em 2008, não parou de crescer, sendo projetado neste ano para mais de 3% do PIB, o que nos remete à realidade do início da década passada.

Mais ainda, a bonança externa não foi aproveitada para promover uma elevação sustentada dos investimentos em infraestrutura nem aliviar a sufocante
carga tributária. Esses fatores, por si sós, noves fora o câmbio apreciado, aumentam os custos industriais em relação aos dos nossos parceiros comerciais em cerca de 25%. A perda de capacidade para competir cria um círculo vicioso, pois desestimula os investimentos industriais e, pois, o aumento sustentado da produtividade. As inovações dependem desses investimentos, porque vêm embutidas nos novos equipamentos e instalações.

Mas o balanço de pagamentos vem sendo pressionado não só pelo aumento das importações, mas também pela estagnação, ou mesmo retrocesso (como no primeiro trimestre deste ano), das exportações industriais. Não se prevê nenhum colapso nos preços das nossas commodities, mas tampouco que eles possam continuar subindo ao céu.

As exportações sofrem também com a falta de uma política que abra mercados para nossos produtos. Um bom indicador é a falta de acordos bilaterais de livre-comércio. O Brasil tem apenas três acordos e só um funciona, com Israel. O Chile tem 21; México, 13; Peru, 12; Colômbia, 11; EUA, 14. Uma das razões, sem dúvida, é o absurdo tratado do Mercosul, que estabeleceu uma união alfandegária entre Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai, e, em trânsito, Venezuela.

O elevado e crescente déficit do balanço de pagamentos em conta corrente não tem como contrapartida um boom de investimentos, como, bem ou mal; ocorreu no governo Geisel. E um déficit de uma economia estagnada e baixos investimentos. Não há insolvência anunciada, pois as reservas são altas e o dinheiro internacional é hoje abundante e barato. O que existe, sim, é uma deterioração, perda de raio de manobra diante de mudanças futuras na economia internacional, processo que faz lembrar a advertência de Mário Henrique Simonsen, ex-ministro da Fazenda e do Planejamento: "A inflação aleija, o balanço de pagamentos mata". Ele mesmo, quando no cargo, em 1979, foi atingido pelo aleijão da inflação e se retirou para não sofrer o tiro mortal da inadimplência ex-tema, que viria, e veio, depois.

Guantánamo, o nome da traição - DEMÉTRIO MAGNOLI

O GLOBO - 09/05

“É ineficiente, fere nossa posição internacional, reduz a cooperação com nossos aliados nos esforços de contraterrorismo, é uma ferramenta de recrutamento para extremistas e precisa ser fechada”, explicou Barack Obama, para concluir no ponto certo: “É contrária àquilo que somos”. O presidente americano referia-se à prisão de Guantánamo, onde cerca de cem dos 166 detentos prosseguem uma greve de fome deflagrada por alguns deles mais de dois meses atrás. Ele não disse, claro, mas Guantánamo também é o nome da traição: o signo de um compromisso de princípios desonrado pelo próprio Obama.

A promessa de fechar a prisão offshore foi proclamada solenemente na primeira campanha presidencial, em 2008. No segundo mês de seu mandato original, Obama assinou uma ordem executiva para fechá-la, mas enfrentou feroz resistência bipartidária no Congresso. Os parlamentares cortaram os fundos necessários à transferência de prisioneiros e adotaram diversas medidas destinadas a evitar que fossem enviados a qualquer outro lugar. O presidente tinha as alternativas de vetar as decisões parlamentares ou de utilizar prerrogativas do Executivo para circundá-las, mas preferiu inclinar-se. Agora, quando assegura uma vez mais que Guantánamo “é contrária àquilo que somos”, ele precisa invocar a história e a Constituição para ocultar um consenso político que, vergonhosamente, interliga seu governo ao de George W. Bush.

Bush, seu vice-presidente Dick Cheney e seu secretário da Defesa Donald Rumsfeld ergueram a prisão ilegal no curso de uma “guerra ao terror” que também borrou as assinaturas de sucessivos presidentes americanos nas leis internacionais contra a tortura. Obama prometeu restaurar o princípio que separa a civilização da barbárie e, efetivamente, proscreveu os métodos desumanos de interrogatório aplicados nos anos sombrios de seu predecessor. Hoje, contudo, duas dezenas de prisioneiros de Guantánamo são submetidos a técnicas de alimentação forçada que violam seus direitos individuais e, para todos os efeitos, equivalem a tortura. Na expressão “aquilo que somos” está contida uma aspiração à eternidade. Entretanto, as nações mudam e mesmo os princípios mais sagrados estão sujeitos ao inclemente desgaste causado pela traição continuada.

Guantánamo é a síntese da barbárie judicial engendrada pela “guerra ao terror”. Concluídas as investigações, nenhuma acusação pesa sobre 86 dos detentos. Muitos deles deveriam ter sido soltos há anos, mas permanecem encarcerados pois, sob alegações de “segurança nacional, o Congresso proibiu tanto sua liberação em solo americano quanto o repatriamento para os países de origem. Os demais, por decisão parlamentar, não podem ser processados por tribunais civis mas também não são julgados pelas “comissões militares” inventadas nos tempos de Rumsfeld, cujos trabalhos foram interrompidos quando seus procedimentos se revelaram insanavelmente ilegais. A greve de fome dos prisioneiros esquecidos, essas relíquias humanas dos anos de fúria, representa, objetivamente, um gesto de defesa das liberdades individuais e do império da lei. “Aquilo que somos”: nesse momento, os rostos barbados dos detentos islâmicos de Guantánamo formam uma imagem exata dos princípios inscritos nos textos fundadores dos EUA.

Os valores fundamentais, “aquilo que somos”, não deveriam ser pesados no prato da balança dos interesses utilitários. Mas Obama tem razão em sublinhar a “ineficiência” de Guantánamo, especialmente contra o pano de fundo do atentado terrorista em Boston. Dzokhar Tsarnaev invocou o Afeganistão e o Iraque como motivações para a carnificina planejada pelos dois irmãos. Terroristas sempre terão pretextos para explodir pessoas inocentes. No limite, o vocabulário dos extremistas não exige mais que palavras como “imperialismo”, “capitalismo” ou “judeus”. Entretanto, nada se compara à força persuasiva da verdade: as imagens dos detentos de Guantánamo, essas provas emaciadas de um poder que não reconhece o limite da lei, são uma “ferramenta de recrutamento” mais eficiente que qualquer discurso produzido na fábrica de ódio do jihadismo.

Guantánamo “fere nossa posição internacional”. É isso, e mais: Guantánamo fere a luta pelos direitos humanos e pelas liberdades civis no mundo inteiro. Seguindo uma triste tradição do governo Lula, Dilma Rousseff mencionou o nome da prisão offshore na sua visita a Cuba, no início de 2012, como pretexto para silenciar sobre a morte de um preso político em greve de fome na ilha dos ditadores amigos. O nome funciona como uma senha mágica, um toque de reunião para os “companheiros de viagem” dos tiranos. Ele constava do dossiê infame preparado pela Embaixada de Cuba no Brasil contra Yoani Sánchez e foi repetido como um mantra pelos que tentaram cobrir sua voz com gritos insultuosos. Ele emerge ritualmente nos discursos dos chefes chavistas que ameaçam trancafiar opositores e fechar órgãos de imprensa.

Obama enuncia perfeitamente os males imensos causados pela prisão de Guantánamo, mas ainda vacila diante do imperativo de fechá-la. Como explicou um editorial da revista The Economist, a chantagem dos “fanfarrões e covardes” que comandaram a política antiterror de Bush consiste em apontar os riscos de liberar os suspeitos de terrorismo encarcerados sem acusação. O mito da bomba-relógio que faz tique-taque é o argumento clássico dos advogados da tortura. A resposta a essa malta de arautos da violação dos direitos humanos deveria ser clara e direta: muito pior que a ameaça hipotética de violência representada por esses indivíduos singulares é a desmoralização dos pilares filosóficos que sustentam as liberdades e os direitos.

Guantánamo é um trunfo dos jihadistas e dos tiranos. Se o presidente americano quer conservar “aquilo que somos”, tem a obrigação de, finalmente, resgatar seu compromisso de campanha.

E a moralidade? - MERVAL PEREIRA

O GLOBO - 09/05
Na política, nem sempre o que é legal é aceitável eticamente, e o peso da moralidade, previsto no artigo 37 da Constituição de 1988, tem de ser levado em conta quando se trata de um cargo público. Está escrito lá: "A administração pública direta e indireta de qualquer dos poderes da União, dos estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência."

A discussão em torno da duplicidade de função do vice-governador paulista Afif Domingos, nomeado ministro da Micro e Pequena Empresa pela presidente Dilma, gira em torno da legalidade do ato quando o principal problema aqui é a moralidade da decisão.

Pode até ser legal acumular as duas funções, como afirmam alguns juristas, mas permanecer como segundo homem de um governo do PSDB quando o outro pé está na barca governista através do PSD é exemplo pronto e acabado de uma política fisiológica que domina o cenário partidário atual.

Assim como a criação do 39º ministério, que nos coloca em uma situação que beira a burrice ou a incompetência, para usarmos a definição do empresário Jorge Gerdau, assessor da presidente Dilma para melhorar a gestão pública, diante de um descalabro administrativo difícil de reverter devido às prioridades políticas que se apresentam para garantir a reeleição de Dilma.

Uma coisa é certa: Afif não poderá acumular o salário das duas funções. Como muitos de seus colegas, estava disposto a optar pelo salário mais alto, o que não é criticável. Como vice-governador, ele tem um salário líquido de cerca de R$ 15 mil mensais, mas o de um ministro, sem os descontos, é de R$ 26,7 mil por mês, o que dá um salário líquido maior. O problema é que a Constituição do estado de São Paulo não prevê a possibilidade de o vice-governador abrir mão de seu salário, e tudo indica que Afif Domingos terá que ficar com o salário mais baixo, o que não é um grande problema para ele.

Mas a questão não se resume a esses detalhes burocráticos. Já quando se passou para o PSD, Afif Domingos perdeu o posto de secretário que tinha no governo de Geraldo Alckmin mesmo que o PSD ainda não tivesse explicitado seu apoio ao governo Dilma. Um partido que nasceu dizendo-se nem de esquerda nem de centro nem de direita ocupou uma brecha na política partidária brasileira para onde acorreram todos aqueles que, em diferentes partidos, queriam aderir ao governo de Dilma e não tinham porta de saída legal.

Os métodos nada ortodoxos do PSD de Kassab de atuar na política fazem jus à desconfiança de que seja um ônibus de aventureiros, o que se confirma agora com essa bizarra situação criada pela dupla militância de Afif Domingos. Basta lembrar que Kassab estava no palanque do petista Fernando Haddad logo em seguida à derrota de José Serra, candidato que "apoiara" até dias antes.

A partir daí, a marcha batida rumo à adesão governista foi uma consequência lógica de sua criação. Como é possível, então, um vice-governador eleito por um partido oposicionista, o DEM, numa chapa de oposição ao governo federal, agora continuar no cargo em um partido governista, e como ministro, um cargo de confiança da presidente Dilma?

Até mesmo a história mal contada de que o PSD continua sem aderir oficialmente ao governo Dilma, e que a escolha de Afif Domingos é pessoal da presidente, revela uma maneira dissimulada de fazer política que faz mal à sociedade. Além de ser uma maneira de evitar críticas, é também a prudência dos espertos. O que Gilberto Kassab aguarda até mais adiante é uma definição mais clara do quadro eleitoral, para formalizar o apoio já prometido à presidente Dilma.

Várias seções regionais do PSD já estão se pronunciando a favor do apoio à reeleição, e essas consultas às bases partidárias se arrastarão até o momento em que haja uma indicação mais firme de para onde os ventos sopram. É nessa direção que a nau do PSD enfunará suas velas.