O GLOBO - 09/05
A vitória do diplomata brasileiro Roberto Azevêdo na disputa pela direção geral da Organização Mundial do Comércio (OMC) tem diversas implicações positivas. Uma delas já estava garantida, pois, se o cargo tivesse ficado com o mexicano Herminio Blanco, o organismo teria à frente, do mesmo jeito, um representante do bloco de economias emergentes.
Os americanos se sentiriam mais bem representados pelo mexicano, em quem votaram, mas não há sinais de desconforto com a vitória do brasileiro. E espera-se que Azevêdo, hábil e de fácil trânsito na organização, possa romper a barreira defensiva, principalmente de europeus, diante da necessidade da abertura de mercados em escala global, missão em que o francês Pascal Lamy fracassou, na condução da Rodada de Doha, engavetada de vez pela crise mundial.
A escolha do brasileiro, com votos africanos, dos Brics, de uma série de países menores, injeta ânimo no legítimo projeto brasileiro de ampliar a representatividade em fóruns multilaterais, com destaque para o assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. A direção da OMC, além de representar reconhecimento à maior estatura do país no mundo, pode ser entendida como um passo nesta direção. A ascensão de Azevêdo pode, também, contribuir para arejar a política comercial de Brasília, onde vozes a favor do protecionismo ganharam peso. Servem de prova regras estabelecidas para o setor automobilístico contaminadas pelo ranço da visão antiga de que quanto maior o conteúdo interno nas cadeias produtivas, melhor. Um erro, porque renunciar a participar de linhas globais de suprimento é contratar um futuro de atraso tecnológico, de baixa produtividade e competitividade.
Será um contrassenso se o país do diretor-geral da OMC praticar o oposto da missão do organismo: a liberalização do comércio mundial. O novo diretor da OMC também pode influenciar positivamente as cabeças terceiro-mundistas do Planalto, nas quais ainda existe o "conflito Norte-Sul", uma das amarras que paralisam o Brasil no atoleiro de um Mercosul de tinturas chavistas, um bloco que se converte ao nacional-populismo.
Esta visão míope foi observada em alguns comentários de brasilienses em torno do fato de o diplomata brasileiro ter vencido europeus e americanos. O próprio Roberto Azevêdo sabe que precisa percorrer o caminho inverso: minimizar conflitos, reaproximar países, para que a OMC não continue a ser solapada pelos inúmeros acordos bilaterais e criação de blocos de comércio, negociados à margem da organização. “A OMC está numa situação crítica”, reconheceu, ontem, na primeira entrevista como o próximo diretor-geral da entidade.
Para revitalizá-la terá de trabalhar bastante a fim de que tenha sucesso a reunião geral marcada para dezembro em Bali, quando será tentada a reabertura da Rodada de Doha. Neste trabalho, combater o protecionismo, também praticado pelo Brasil, será vital.
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