FOLHA DE SP - 09/10
Indicadores de infraestrutura no Brasil ficam aquém da média internacional; governo cede e eleva taxa de retorno das concessões privadas
Tornou-se já consensual a noção de que a precariedade da infraestrutura brasileira é um dos maiores empecilhos ao crescimento. Raras vezes, contudo, o debate sobre o estado calamitoso de estradas, ferrovias e portos ultrapassa o âmbito das generalizações da macroeconomia e desce ao nível concreto dos prejuízos cotidianos que ocasiona para as empresas e o país.
Por isso é bem-vindo o estudo da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) que coteja o pífio desempenho nacional com o de outros países. O resultado, constrangedor, explicita o tamanho do famigerado custo Brasil.
Considere-se o indicador de quilometragem de rodovias por 10 mil habitantes. O Brasil fica em 53% do nível internacional --resultado muito ruim, mas não tão catastrófico quanto a parcela dessas estradas que se encontra pavimentada: somente 19% da média mundial.
Ferrovias e hidrovias apresentam quadro não menos preocupante: na mesma comparação por habitantes, o país conta com apenas 17% e 26% da média internacional, respectivamente, segundo o relatório da Fiesp. A precariedade das conexões de transbordo entre as diversas modalidades de transporte também é deprimente (meros 23% do padrão mundial).
A carência de infraestrutura amplifica, como é óbvio, os custos de produzir --por exemplo, ao solapar a agilidade das empresas. Gastam-se 324 minutos, em média, para a liberação de uma carga em aeroportos ao redor do mundo, ao passo que o mesmo procedimento, no Brasil, demanda 3.714 minutos.
Nos portos, a situação também é dramática. O custo de exportação de um contêiner se multiplica por três no Brasil. Não há competitividade produtiva que resista a tamanha desvantagem logística.
O governo Dilma Rousseff começa a reconhecer, felizmente, que perdeu tempo precioso com objeções ideológicas à alternativa mais prática para sua incapacidade de planejar e financiar o choque de infraestrutura: atrair investidores do setor privado.
É positiva, assim, a mudança de atitude evidenciada pela decisão de aumentar a taxa de retorno do investimento aceita nas concessões de infraestrutura, de 5,5% para 7,2%. Como há financiamento para 70% do valor dos projetos, o retorno para o capital próprio desembolsado sobe consideravelmente, para ao menos 15% ao ano.
Espera-se, agora, que as novas condições atraiam mais interessados. Mesmo assim, já ficou comprometido o que se planejava para 2013. Os primeiros leilões para concessão de rodovias só devem acontecer a partir de agosto, o que empurrará o grosso das obras para 2014. É o preço do atraso.
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