quarta-feira, fevereiro 27, 2013

PT - VAGABUNDOS E MENSALEIROS!



UM PARTIDO DE CORRUPTOS E MENTIROSOS


Assassinato em Oruro - JOSÉ NEUMANNE

O ESTADÃO - 27/02

O que ocorreu em Oruro, na Bolívia, há uma semana não foi um acidente, mas um assassinato. E o único inocente nessa história é a vítima, o boliviano Kevin Douglas Beltrán Espada, de 14 anos, torcedor do San José, que recebia o Corinthians Paulista na primeira rodada de seu grupo da Taça Libertadores da América. O assassino, seja quem for - seja um dos presos pela polícia local ou não, seja o menor apresentado aos meios de comunicação antes de ser levado às autoridades (um sinal de nossos tempos midiáticos) ou não -, terá de ser identificado e processado na forma da lei.

Ninguém, a bem da verdade, espera que a polícia boliviana seja mais eficiente do que seria a brasileira se o incidente (e não uma tragédia acidental) houvesse ocorrido em território nacional. A manutenção de 12 corintianos presos, sendo atribuída a autoria a dois e impingida à dezena restante a pecha da cumplicidade, sem que seja apresentado o autor do disparo, aumenta essa dúvida. Afinal, o assassino poderia ser identificado, até com relativa facilidade, nas imagens geradas pela emissora local de televisão, com o uso de tecnologia simples. Mas a demora em identificar o assassino na cena gravada do crime não deve servir de desculpa para a reação sem propósito dos brasileiros envolvidos no episódio e da cúpula da Confederação de Futebol da América do Sul (Conmebol) na punição adotada.

A rápida localização do bode expiatório perfeito - de família pobre e menor de idade - em nada isenta ninguém. A julgar que realmente H. A. M., de 17 anos, tenha disparado o artefato, como é alegado, resta perguntar: quem era o maior responsável que o acompanhou na viagem para fora do País, onde ele teria comprado o sinalizador naval que serviu como arma do crime e, caso este pertencesse a outrem, quem era o dono? É bom alertar, de saída, que a inabilidade alegada pelo autor, em oportuna entrevista à televisão, não deveria servir de atenuante, mas de agravante, similar à de um menor acusado de atropelar alguém sem habilitação para conduzir automóvel.

Ainda que se esclareça isso e se encontre uma explicação para o fato de o menor ter deixado o território boliviano para confessar o crime a confortável distância do local onde ele ocorreu e ao qual não será tão fácil como se pensa ele voltar, o episódio não pode ser resolvido assim, num piscar de olhos. Além da necessária identificação de quem disparou e do indispensável processo penal para puni-lo, urge pôr fim à violência em estádios sul-americanos e à facilidade com que esta é perdoada a pretexto da paixão clubística.

No século 20, a filósofa alemã judia Hannah Arendt cunhou a expressão "banalidade do mal" para explicar o genocídio praticado em ditaduras. Este é um caso de banalização da morte. Por isso mesmo não pode ser tratado no velho padrão da diluição da responsabilidade, uma das raízes da impunidade que assola e envergonha a sociedade brasileira em vários campos de atividade, entre as quais o esporte, o futebol em particular.

Assim como um ex-jogador do Corinthians, Vampeta, definiu sua relação profissional com o time de maior torcida do Brasil, o Flamengo, numa sentença-síntese - "eles fingem que pagam, nós fingimos que jogamos" -, a argumentação do clube que vem de ganhar o Campeonato Mundial pela segunda vez se baseia na presunção da inocência coletiva pelo crime individual. Pretextos do tipo "a torcida inteira não pode pagar pelo delito de um torcedor" ou "quem comprou ingresso para os próximos jogos do time não pode ser prejudicado" desrespeitam a memória da vítima. Faixas, chororô e minutos de silêncio são de uma desfaçatez de fazer corar frade de pedra.

O policial Mário Gobbi, presidente do clube, deslustra seu currículo ao reivindicar para sua grei o direito de delinquir sem punição. O Corinthians é uma "nação" quando convém e na adversidade deixa de sê-lo? O truísmo é tolo: todo time perde mando de jogo em represália a torcidas mal comportadas.

Se urge deter as mãos que disparam projéteis em arquibancadas, para isso deveriam ser aplicadas punições mais duras do que as anunciadas pela Conmebol. Um exemplo histórico mostra que é possível acabar com a violência em estádios de futebol. Em 29 de maio de 1985, 39 torcedores morreram e 600 ficaram feridos no Estádio de Heysel, em Bruxelas, na Bélgica, durante a final da Liga dos Campeões da Europa, entre a Juventus, de Turim, Itália, e o Liverpool, da cidade portuária britânica dos Beatles, num tumulto provocado por hooligans. Por causa da tragédia, todos os times britânicos foram suspensos por cinco anos dos torneios da Uefa, entidade que gere o futebol europeu, como a Conmebol o da América do Sul. O Liverpool, time de tradição na Grã-Bretanha comparável à do Corinthians aqui, ficou seis anos fora das disputas. E 14 torcedores identificados pela polícia belga como criadores do distúrbio passaram três anos na cadeia. Desde então se adota no Reino Unido a prática de impedir que encrenqueiros frequentem estádios nos jogos de seus times: enquanto a bola rola, executam trabalhos sociais. Hoje, alambrados e até fossos são dispensáveis em estádios ingleses.

Será sonho de uma noite de verão esperar que um dia isso ocorra nesta "pátria em chuteiras" e nos domínios da Conmebol? Pelo visto, brasileiros e bolivianos ainda terão de conviver mais com a banalização da morte pela violência de quadrilheiros travestidos de membros de torcidas organizadas. O Tigre, da Argentina, desrespeitou impunemente a torcida que compareceu ao Morumbi na final da Copa Sul-Americana, em 12 de dezembro último, deixando de jogar o segundo tempo, pois não recebeu dos organizadores a devida punição. O péssimo comportamento do anfitrião, o São Paulo, foi punido com a perda de um mando de campo, o que significa anistia, na prática.

Não suspender o Corinthians por pelo menos esta edição da Libertadores e não proibir sinalizadores navais nas arquibancadas é manter a impunidade e estimular a violência.

Infiltrações - MARTHA MEDEIROS

ZERO HORA - 27/02

“Aqui tudo parece que é ainda construção, e já é ruína”.

Conversava com um amigo sobre o vexame que foi a abertura daquele buraco no conduto Álvares Chaves na semana passada, durante um dos temporais mais enérgicos ocorridos em Porto Alegre, e nos veio à lembrança essa parte da letra da música Fora da Ordem, do Caetano Veloso.

Não é o caso de tratar desse assunto isoladamente (por mais absurdo que seja o fato de um investimento tão alto numa obra de drenagem resistir apenas quatro anos), mas de analisarmos o contexto todo: vivemos num país maquiado, em que se as coisas “parecerem” benfeitas, já está ótimo.

A Arena também serviria como exemplo de uma obra entregue às pressas para cumprir calendário, mesmo sem condições básicas de uso. Mas também não pode ser visto como um caso isolado. Há outras tantas em andamento, todas com prazo máximo de 15 meses para serem concluídas (até o início da Copa), e me pergunto: o corre-corre não comprometerá o bom acabamento de viadutos, pontes, prédios e estradas?

Com a intenção de viabilizar orçamentos, não se estará sacrificando a qualidade do material empregado? Os funcionários em atividade estão bem preparados ou fazem um serviço matado, a toque de caixa? Dá pra confiar na espinha dorsal do Brasil?

Há que se ter cuidado com infiltrações. De todos os tipos, aliás. Com a infiltração de inconsequentes em meio a uma torcida, capazes de disparar um artefato com poder destrutivo em direção a outras pessoas, sem levar em conta que o gesto poderá ferir gravemente alguém ou até mesmo matar – como matou o garoto boliviano de 14 anos.

Com a infiltração de médicos e enfermeiros sem ética dentro de hospitais, que desligam aparelhos que mantêm vivos os pacientes, a fim de “desentulhar a UTI”. Com a infiltração de políticos desonestos nas entranhas do poder, que mesmo acusados por crimes diversos assumem cargos de presidência de instituições.

Por fora, bela viola. O Brasil hoje é visto como um país moderno e estável. É uma aposta mundial considerada certeira, um candidato VIP a juntar-se às superpotências. Mas como andará o esqueleto desse país que se declara tão sólido? Na verdade, o Brasil é um jovem com osteoporose precoce, um país descalcificado, que fica em pé à custa de aparências, comprometido com sua imagem pública, mas que segue com uma infraestrutura em frangalhos.

Aqui pouco se investe seriamente em educação, em treinamento de pessoal, em qualificação de mão de obra, em fiscalização, em responsabilidade social, tudo o que alicerça de fato uma nação. Nossa mentalidade “espertinha” faz com que não gastemos muito dinheiro com o que fica oculto, com o que não dá para exibir. O resultado? Por dentro, pão bolorento.

Justiça de saias - ANCELMO GOIS


O GLOBO - 27/02

Ontem, com a posse da advogada Luciana Lóssio como ministra titular, o TSE passa a ser, por um curto período, o primeiro tribunal superior brasileiro formado por maioria de mulheres. Ele é presidido, como se sabe, pela ministra Cármen Lúcia.

Depois da Bolívia
Do cientista político Wanderley Guilherme sobre a ideia do clube de construir o cemitério Corinthians para Sempre:
— Não seria melhor, construir uma creche-escola para o “Corinthians do futuro”?
Faz sentido.

Voz da América
Depois que Michelle Obama apareceu de franjinha, no Oscar, domingo, dobrou a venda de apliques de franjas na Fiszpan.

Quem te viu
A ex-ministra Zelia Cardoso de Mello era presença discreta ontem no hotel Westin, em Nova York, durante palestra de Guido Mantega. Nem de longe lembrava os tempos em que ela, no governo Collor, mandava e desmandava.

Nara sempre
A Universal lança, em março, a caixa “Nara Leão – Samba, festivais e tropicália”. São 12 álbuns dos anos 60, incluindo “Nara pede passagem” e a trilha do espetáculo “Opinião”.

As mucamas
Ontem, a promotora Gláucia Santana ouviu representantes dos quatro clubes do Rio (Paissandu, Jockey, Piraquê e Caiçaras)que obrigam as babás de filhos dos sócios a usarem uniforme. Trata-se daquela representação da ONG Educafro que acusa os clubes de “discriminação racial e social”.

MINIFAVELA NA GÁVEA
A prefeitura retira hoje essa minifavela que se instalou, acredite, embaixo do viaduto da Estrada da Gávea, na altura do número 200. São 12 pessoas — uma delas com tuberculose — morando em condições precárias, sem água ou esgoto, e vivendo da criação de porcos. Os miseráveis, segundo o subprefeito Bruno Ramos, serão encaminhados para abrigos ou, caso queiram, voltarão para suas cidades de origem. Que sejam felizes! 

Presente de grego
Não foi só para a filha recém-nascida do tricolor Chico Buarque, como lembramos aqui ontem, que o compositor Ciro Monteiro mandou uma camisa do seu Flamengo. Em 1963, quando o atual governador Sérgio Cabral nasceu, Ciro mandou o mesmo presente de grego para seu amigo Cabral, pai, vascaíno roxo.

Só que...
Sérgio Cabral, o pai, que não é bobo, guardou a camisa bem guardada.
— Só mostrei a ele quando tive absoluta convicção de que Serginho era irremediavelmente vascaíno.

Reforço no SporTV
O time do“Redação SporTV” vai ganhar um grande reforço. Ruy Castro, autor da biografia de Garrincha, estará na bancada ao lado de André Rizek a partir de sexta.

Macalé no MoMA
O documentário “Jards”, sobre Jards Macalé, foi selecionado para o festival New Director, New Films, em março, no MoMA, em Nova York. O filme é dirigido por Eryk Rocha, filho de Glauber Rocha.

Cílios postiços
A estilista Kiki Bastos provocou um burburinho ontem nas ruas da Zona Sul, no Rio. Veja só o acessório que ela pôs em seu carro, cílios postiços. Kiki viu a novidade nas ruas de Londres e comprou os adesivos no Amazon.com.
Não são fofos?

Malhação
A Body Tech comprou a Academia da Praia, uma das mais tradicionais da Barra. É a quinta unidade do grupo no bairro.

Boletim médico
Morreu ontem de meningite, no Hospital Miguel Couto, no Rio, Fábio Batista Ribeiro, 30 anos. Segundo a mulher, Simone, o marido procurou o hospital há quatro dias, mas não foi atendido. Deixa dois filhos.

Mão grande
A BV Financeira terá que pagar R$ 3 mil para Lúcia Vieira, que fez um contrato de empréstimo com a empresa, mas, mesmo após quitá-lo, continuou sendo descontada em folha. A decisão é do desembargador Antonio Bastos, do TJ do Rio.

Ponto Final
Ciro foi outro a dar razão ao Barão de Itararé quando disse: “De onde menos se espera, daí é que não sai nada.” Com todo o respeito.

Fantasmas - ROBERTO DaMATTA

O Estado de S.Paulo - 27/02

Neste final de mês, lembrei-me de uma instituição bem conhecida e pouco estudada - a amizade -, que tanto nos ajuda nas agruras (e no saboreio) desta vida, ao passar virtualmente uma semana na Carolina do Sul, Estados Unidos, entre Atlanta, Charleston e Seabrooke Island.

Ao longo desses poucos dias frios e chuvosos, desfrutei de uma grata e ensolarada hospitalidade do casal Bete e Conrado Kottak, que nos recebeu e proporcionou raros e ilustradíssimos passeios pelos locais históricos dessas cidades sulistas tão densas de história e memória da guerra civil de 1861-65. Esse conflito, que fez o sul dos Estados Unidos, uma região tão parecida em concepção de vida e trabalho com o Brasil, perder parte de sua identidade, quando foi incorporada por meio da força das armas à "União", então presidida por Abraham Lincoln.

Vale a pena viajar fora do eixo Miami/New York; ou Chicago/Los Angeles para conhecer o lado mais tradicional da América. Essa região marcada pela escravidão, pelas grandes fazendas de algodão e fumo, por uma economia de exportação primária tocada a escravidão e - tal como o Brasil de hoje - resistente à igualdade e ao liberalismo como estilos de vida. A ênfase na comida em conjunto, e na arte de conversar, foi parte do meu deleite quando em companhia de Conrado Kottak, professor emérito da Universidade de Michigan (Ann Arbor), autor de estudos de Arembepe, de Madagáscar, da televisão brasileira e do melhor livro de introdução à Antropologia que li até hoje, com quem discuti minha velha antropologia, pois é o velho que nos renova.

Toda essa jubilância culminou com uma visita à velha casa grande Edmondston-Alston. Para os americanos, assustava a cozinha separada da casa e as passagens secundárias destinadas aos escravos que viviam em suas senzalas e serviam seus donos em tudo e a toda hora, tal como até hoje ocorre no Brasil. Era uma casa em tudo brasileira. Excedia nesse brasileirismo, como diria Gilberto Freyre, as varandas com vista para o rio que, calmo e misterioso, passava sem parar. Não foi por acaso que George Gershwin escreveu Porgy and Bess exatamente em Charleston, em 1935, para ser o que chamava de uma "ópera americana popular". Música, comida e o gosto pela sociabilidade familística, eis alguns traços fortes deste Sul tão bem dramatizado por, entre outros, Mark Twain, William Faulkner e Tennessee Williams.

E excedia também, conforme descobrimos no finalzinho da visita, pela presença do fantasma de uma de suas donas. Ela, diz o guia, abre portas fechadas e fecha portas abertas. E quando reina o silêncio escuro dos mortos que tanto nos perturba, faz barulho. Mas, diferentemente dos fantasmas nacionais brasileiros, não pede por missa nem padre-nossos porque o país não é católico e porque na América são os vivos que controlam os mortos, tal como este mundo controla o outro, como manda a mística luterano-calvinista. A ideia de um "paraíso agora" e não no futuro é o que fez esse sul virar o Sul desta América ainda voltada pera o futuro, apesar desses tempos de fanático direitismo.

Fui dormir pensando mais nos fantasmas do que no Sul do livro ...E o Vento Levou, escrito em 1936, cuja autora, Margaret Mitchell, morreu atropelada numa das ruas de Atlanta. Quando estava deitado, ouvi um barulho na varanda, mas era apenas um gato que me olhava como se eu fosse o famoso gato preto dos dois livros clássicos de Erico Verissimo sobre os Estados Unidos os quais, pensei na hora em que fitei o bichano, me impulsionaram, ao lado de Fred Astaire, Doris Day, O. Henry, Ava Gardner, Frank Sinatra e aquelas camisas com botões nos colarinhos, a conhecer os Estados Unidos.

Lembrei então de uma experiência estranha que vivi em 1990, na Universidade Brown, quando ao tomar parte de uma conferência sobre a América Latina, fui hospedado numa casa igualmente ilustre e sombria. Ninguém falou em fantasma, mas senti aquela sensação de estar sendo seguido todo o tempo. Onze anos depois, numa outra conferência, desta vez na cidade de Ascona, Suíça, um colega de Brown, o famoso professor Bill Bilman, antropólogo e cantor de ópera, confirmou surpreso minha intuição me contando o seguinte:

Num outro evento em Brown, a convidada mais bonita foi assombrada noite adentro pelo fantasma de um rapaz que aparecia sentado ao lado de sua cama. Apavorada ela perguntou naquele estilo americano direto: "What do you want? (o que você quer?)" - a assombração sumiu.

Bill elogiou meu sexto sentido parte, na sua teoria, de todo bom antropólogo. Melhor observador do que teórico, retruquei que o quente do caso não era a minha sensação, que também senti na Capela Sistina, em pleno Vaticano, mas o fato de a moça se dirigir ao fantasma de modo direto, usando o igualitário "você" e exigindo que ele dissesse o que queria. No caso do Brasil, fantasmas são sempre endereçados com o velho e apropriado "vós" e "senhor" e são eles que demandam.

Afinal, entre nós, como fica provado pela política, são os velhos e os mortos que controlam a vida. Ou, pelo menos até hoje, tentam fazê-lo. Até que alguém descubra que fantasmas são ficção e só viram realidade quando queremos.

Em defesa do homossexualismo - HÉLIO SCHWARTSMAN

FOLHA DE SP - 27/02

SÃO PAULO - Alguns membros de comunidades homoafetivas e simpatizantes me recriminaram porque, no sábado passado, numa coluna em que critiquei as declarações do pastor Silas Malafaia sobre gays, eu utilizei o termo "homossexualismo", e não "homossexualidade", como teriam desejado.

Estou ciente dessa preferência, mas receio que ela não tenha o fundamento alegado. Ao contrário do que dizem alguns militantes, simplesmente não é verdade que "-ismo" seja um sufixo que denota patologia. Quem estudou um pouquinho de grego sabe que o elemento "-ismós" (que deu origem ao nosso "-ismo") pode ser usado para compor palavras abstratas de qualquer categoria: magnetismo, batismo, ciclismo, realismo, dadaísmo, otimismo, relativismo, galicismo, teísmo, cristianismo, anarquismo, aforismo e jornalismo. Pensando bem, esta última talvez encerre algo de mórbido, mas não recomendo que, para purificar a atividade, se adote "jornalidade".

De qualquer forma e por qualquer conta, as moléstias são uma minoria. Das 1.663 palavras terminadas em "-ismo" que meu Houaiss eletrônico relaciona, apenas 115 (um pouco menos que 7%) designam doenças ou estados patológicos. E olhem que fui liberal em meus critérios, contabilizando mais de uma dezena de termos que descrevem intoxicações exóticas, como abrinismo e zincalismo.

Compreendo que os gays procurem levantar bandeiras, inclusive linguísticas, para mobilizar as pessoas. Em nome da cortesia pública, eu me disporia a adotar a forma "homossexualidade", desde que ela fosse defendida como uma simples predileção. Mas, enquanto tentarem justificar essa opção com base em delírios etimológicos, sinto-me no dever de continuar usando a variante em "-ismo". Alguém, afinal, precisa zelar para que preconceitos não invadam e conspurquem o universo de sufixos, prefixos e infixos. A batalha pode ser inglória, mas a causa é justa.

Homem do mundo - SONIA RACY


O ESTADÃO - 27/02

Tradicionalmente discreto, Christopher Getty aceitou conversar com a coluna sobre economia mundial. No Brasil desde o começo do ano, acompanhado da namorada brasileira, Adriana Bittencourt (com ele na foto), o neto de Jean Paul Getty, fundador da Getty Oil Company, acredita que o “takeover” da China se dará muito mais rápido do que se prevê. “Os chineses não precisarão de mais 20 anos para ultrapassar os norte-americanos, mas, sim, de 4”, analisa o gestor de gigante fundo de private equity fechado.

Para ele, o mundo passará rapidamente de unipolar (leia-se EUA) para multipolar: tanto econômica quanto política e militarmente. Em 2050, bem… a China pode fazer com que o mundo volte a ser unipolar.

E onde foi que os Estados Unidos erraram a mão? “O principal equívoco na história econômica do país se deu em 1971. Nixon não podia ter rompido o acordo de Bretton Woods”, destaca o economista. Assinado em 1944, o acordo foi responsável pela implantação de uma ordem monetária negociada entre Estados – baseado no dólar e no ouro. O então presidente norte-americano quebrou esta relação.

Para o herdeiro – que ainda não recebeu a herança, mas já acumulou o suficiente para viver muito bem, tendo trabalhado na Getty Investment Company por anos – o futuro está na Ásia. “Eles serão os novos consumidores do mundo”. E o Brasil? “Será beneficiado por essa mudança, não tenho dúvida.”

À beira da piscina do Hotel Fasano, no Rio, Getty não revela seus segredos de gestor, mas dá o parâmetro de sua ambição. “A Getty Oil Company registrou 19% de retorno, em dólar, para seus investidores durante 75 anos. Por que não sonhar com o mesmo resultado?”, brinca.

Getty não tem residência fixa; vive pelo mundo, trabalhando de onde estiver. Quem sabe não escolhe o Brasil para se estabelecer…

Sob alerta
Rodrigo Mauro, da ONG Viva Pacaembu, está, desde a semana passada, falando com órgãos públicos – como Prefeitura, CET e PM – para garantir a segurança dos moradores do bairro, hoje, no jogo do Corinthians pela Libertadores.

Muitos torcedores já afirmaram que, proibidos de entrar no estádio pela Conmebol, ficarão no entorno da arena e na Praça Charles Muller.

Sob alerta 2
“Não somos contra a torcida. A praça é pública. Nossa preocupação se estende à segurança dos torcedores e também de imóveis tombados da região”, afirma o presidente da associação de moradores.

Sob alerta 3
Apesar de os jogos no Pacaembu não serem um problema para os moradores, não é a primeira vez que eles se mobilizam com queixas desse tipo.

A situação, esclarece Mauro, melhorou bastante. “Mas ainda temos uma preocupação com ambulantes e ônibus fretados que estacionam em ruas residenciais”, explica.

Xadrez petista
Em recente conversa com Alexandre Padilha, Lula disse ao ministro da Saúde que, caso Mercadante queira mesmo ser candidato ao governo de São Paulo em 2014, ele não terá como impedir.

Para justificar, o ex-presidente adota discurso de gratidão ao atual ministro da Educação, que, em 1994, abriu mão de provável reeleição à Câmara dos Deputados para ser vice de Lula na disputa pela Presidência da República.

Nesse contexto, a única pessoa capaz de pedir a Mercadante para que desista da eleição é… Dilma.

Ficha limpa
Cauê Macris quer criar a… “Ficha Suja do Trânsito”. O deputado tucano apresentou projeto de lei na Assembleia paulista que obriga o Estado a divulgar os nomes de motoristas flagrados sob efeito de bebida ou outras substâncias – como maconha ou cocaína.

Arranha-céu?
E mais um esqueleto de Hussain Aref Saab saiu do armário. Graças a um alvará expedido por ele à época em que dirigia o Aprov, em São Paulo, um prédio na rua Peixoto Gomide, que deveria ter somente 5 andares, está sendo construído com… 22.

Abaixo-assinado já corre a região dos Jardins na tentativa de impedir a obra.

Suspense
O mercado financeiro estranha a demora do Banco Central em definir o destino do BVA – a entrega de propostas terminou dia 18. Procurado, o BC esclarece: o prazo era para que o interventor enviasse relatório. A intervenção pode ir até 19 de março e ser prorrogada.

Os bastidores, pelo que se apurou, consta que está em análise o interesse de comprador.

A quem interessar
O Conselho de Administração do Casino na França tem pelo menos dois integrantes também conselheiros da L’Oréal, companhia fornecedora do Grupo: Marc de Lacharriere faz parte do board e Sylvia Jay é chairman da empresa no Reino Unido e Irlanda desde 2011.

A L’Oréal fornece produtos a toda a cadeia de supermercados Casino na França.

Chama…
Dilma indicou o economista Ivo Bucaresky para vaga na diretoria da Anvisa. O apoio de Padilha pesou na escolha – os dois se conheceram no PT.

…o síndico
Deve assumir a diretoria de gestão – responsável, entre outros, por negociar com sindicatos. “Vai organizar a casa, como um síndico”, comentou fonte à coluna.

O fim - ANTONIO PRATA

FOLHA DE SP - 27/02

Enquanto chafurda a escova pelo interior da carcaça, pensa no aumento que não pediu, na demissão que não pedirá


Você aperta bem no meio do tubo, e nada: eis o primeiro sinal do fim, mas quem atenta para os primeiros sinais? Além do que, a bisnaga está quase cheia, só ali pelo meio é que murchou: basta pressioná-la em cima, perto do bico, ou embaixo, próximo à base, e a pasta sairá, roliça e lustrosa, nas cerdas de sua escova. A ideia de passar numa farmácia pisca em seu córtex como um distante vaga-lume, para logo desaparecer no cipoal de neurônios.

Cinco ou seis dias depois, contudo, você aperta o tubo na parte de cima, outrora bojuda, e nada acontece. Não é grave, um pequeno remanejamento dá conta do recado: com os polegares e indicadores, vai espremendo da base pro bico. A visão da bisnaga de peito estufado traz algum alívio no curto prazo, mas a informação "preciso comprar pasta de dente" agora está colada, como um Post-it, na tela de sua consciência.

E daí? Há assuntos mais importantes, sempre há: a infiltração no teto do banheiro, o aumento que pretende pedir -a demissão, se tivesse coragem-, uma DR definitiva da qual foge como o diabo da cruz. É lá do fim dessa fila que acena, pequenina, a possível escassez dentifrícia.

A Terra, porém, completa mais algumas voltas em torno de seu eixo: folhas caem das árvores, flores brotam nos jardins, pormenores atingem a maioridade -eis o que você percebe, diante do tubo vazio, hirto como uma fronha secando no varal.

O problema não é mais "preciso comprar pasta" e sim "por que

cazzo não comprei antes?!", mas a indagação traz outras questões de fundo que talvez seja melhor ignorar. Importante agora é escovar os dentes: você apoia o tubo na bancada do banheiro e, com a haste de um pente, o aplaina da base ao bico.

Ao cuspir a espuma na pia, jura que de hoje não passa, mas a convicção se esvai na mesma velocidade que o sabor de hortelã: não há vaga em frente à farmácia, a lojinha do posto está fechada, depois já passam das dez, a reunião é às 11h, o torvelinho do cotidiano te suga e só te devolve ao incômodo na hora de ir para a cama.

O pente é inútil: a bisnaga parece uma fronha passada a ferro. Um rolo compressor seria inútil: não há ranhura ou desvão que não tenha sido achatado. Se Maomé não vai à montanha, a montanha vai até Maomé, você resmunga, então mete as cerdas no bico do tubo, meticulosamente. Elas não saem sequer melecadas, apenas opacas, como se tivessem sido mergulhadas no leite.

Você dorme mal. Acorda desgostoso, antes do despertador. Sabe o que te espera. Não se orgulha do que está prestes a fazer, mas o fará, assim mesmo: abre a gaveta, pega a tesourinha de unha, respira fundo e corta o tubo, de cima abaixo. Enquanto chafurda a escova pelo interior da carcaça, pensa no aumento que não pediu, na demissão que não pedirá, no namoro que se esgarça diante de seus olhos; percebe como a infiltração no teto e a bisnaga estripada são metáforas chinfrins do estado das coisas. O que mais dói, contudo, é saber que ainda não chegou ao fundo do poço: adiante, te esperam a escovação sem pasta, reavivando os resíduos de espuma seca nas cerdas e, para coroar o desmantelo, a escovação com sabonete: aí sim, aí sim é o fim.

Um arranjo primário - PAULO SANT’ANA

ZERO HORA - 27/02

O caso da morte de um menino de 14 anos no jogo do Corinthians na Bolívia continua dando pano para manga.

Estão presos na Bolívia 12 torcedores do Corinthians, as autoridades bolivianas supõem que entre eles esteja quem disparou o sinalizador que causou a morte do garoto.

Nunca pensei que um sinalizador luminoso desses pudesse ter tal ação mortífera. Mas teve.

A questão é que agora um menor brasileiro, com 17 anos, se apresenta como autor do disparo.

E se apresenta aqui no Brasil, confessando que foi ele quem atirou o sinalizador assassino.

As autoridades bolivianas, penso, não vão cair nessa balela.

Mesmo que esse menor confesso esteja falando a verdade, todas as tintas dessa confissão parecem ter cores falsas.

A começar pelo fato de que o menor confesso é inimputável, isto é, não pode ser atingido pela lei penal, que aqui no Brasil só pune quem for maior de 18 anos.

Ora, seria muito fácil para qualquer advogado arranjar uma pessoa que se autoacusasse, ainda mais uma pessoa inimputável.

Muito fácil, visando inocentar os 12 presos corintianos que mofam por enquanto nos xadrezes bolivianos.

Tudo tem a aparência de uma esparrela.

Talvez quem arranjou esse novo culpado não tenha calculado que na Bolívia a maioridade penal começa aos 16 anos, o que viria a atingir o autor confesso arranjado.

Ainda assim, é de todo impensável que o Brasil extraditasse o menor para responder a processo na Bolívia.

O Corinthians já foi punido pelo fato, jogará todas as partidas pela Libertadores, no Brasil, com os portões fechados, isso no campo esportivo.

Mas quem pagará pela morte lamentável da criança boliviana?

Como sempre, é muito difícil elaborar a Justiça.

Os métodos de Justiça empregados pelos humanos muitas vezes são precários.

Nesse caso, tudo se encaminha para a não solução.

Ou para a injustiça.

Tudo porque engendraram uma maneira de libertar os corintianos que estão presos lá, mas não dão nada, nada, em troca.

IR! Declaro Renan culpado! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 27/02

O Renan agora é o grande vilão. O Brasil foca num só! Antes era o Maluf, depois o Sarney e agora o Renan!


BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! O papa diz que cardeais envolvidos em escândalos sexuais não participarão do conclave. É a "Lei do Pinto Limpo". No Brasil, tem a "Lei da Ficha Limpa". Na Itália, a Lei das "Mãos Limpas". E no Vaticano, a "Lei do Pinto Limpo". Sendo que nenhuma das três funciona!

E a manchete do Piauí Herald: "Prefeito do Rio contrata Ang Lee para filmar 'As Aventuras de Paes'". Eduardo Paes num bote numa enchente na praça da Bandeira com uma capivara. Se fosse anta, seria o Cabral! Rarará!

E esta: "Cirurgia plástica pode deduzir do imposto de renda". Marta, Ana Maria Braga, Amaury Jr. e Silvio Santos vão ter isenção vitalícia! E a Ângela Bismarchi, isenção para oito encarnações! Então eu também vou fazer plástica: desentortar o pingolim e juntar as sobrancelhas. Quero uma monocelha igual à do Galvão Bueno!

E tenho uma amiga que fez tanta plástica que, quando ela breca, a boca abre! Breca e dá risada! Aí os motoristas perguntam: "Do que essa mulher tá tanto rindo?". E ela: "Não tô rindo, tô brecando!".

Rarará!

E o que eu vou declarar? Ah, eu vou declarar que a Dilma tá gorda, que o Aécio é baladeiro e que a minha vizinha tá dando pro porteiro!

Vou declarar que o Renan é culpado. Declaro o Renan culpado! Pronto! Tô isento! O Renan agora é o grande vilão brasileiro. O Brasil foca num só! Antes era o Maluf, depois o Sarney e agora o Renan!

E atenção! Corre na internet a última da blogueira cubana. A foto da Yoani mostrando o passaporte: "Oi, eu venho de uma ilha lá de cima que é governada pela mesma família há mais de 50 anos". "SÃO LUÍS??", gritou o Sarney. Rarará!

E o advogado do "de menor" da Gaviões: "Eu vou provar que o meu cliente é culpado". Isso é inédito na história da advocacia interplanetária: é o único advogado que declara abertamente que seu cliente é culpado! É mole? É mole, mas sobe! Ou como disse aquele outro: é mole, mas trisca pra ver o que acontece!

O Brasil é Lúdico! Olha esta igreja gaúcha: "Igreja Bagual Coice no Capeta". E esta outra aqui perdida na buraqueira: "Assebreia Deus Miniterio Cemente da Fé".

O engraçado é que a única palavra que eles acertaram foi "Fé"! Hoje só amanhã! Nóis sofre, mas nóis goza!

Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

O Sol por testemunha! - TUTTY VASQUES

O Estado de S.Paulo - 27/02

O verão, definitivamente, saiu de moda! Houve um tempo em que, a esta altura da tempestade solar, já dava para antever a retrospectiva que a imprensa faria logo adiante para anunciar o fim da estação.

A musa, a gíria, o tamanho da saia, o drinque de frutas, o point, o hit musical, o escândalo, o melhor sorvete, a tatuagem, a malhação da vez nas academias, a praia dos descolados, o 'in' e o 'out', o chique e o cafona, o que deu certo e o que deu errado, antigamente todo verão tinha marcas registradas.

O Rio, como se sabe, sempre foi a grande vitrine deste estado de espírito de tanga. Sediou, entre outros, o verão do fio dental, do topless, da lata, das Dunas da Gal, da Brigitte Bardot, do barrigão da Leila Diniz, do Gabeira com a calcinha do biquíni da prima, da pulseira quântica, do apito...

Em outras épocas, enfim, outras coisas além do calor davam o que falar sob o Sol de Ipanema.

Este ano, em particular, nem a passagem de Yoani Sánchez pelo calçadão mobilizou o balneário.

Sem chuvas há quase três semanas, e sem água da bica desde domingo, o carioca não está achando a menor graça na estação.

Não dá nem vontade de sair da 
praia!

Giratória

Ciro Gomes saiu da toca atirando para todos os lados! Não à toa, todo presidenciável o quer junto!

Desembaraço

A queda na taxa de desemprego e os sinais de recuperação da produção industrial brasileira em janeiro deram, de imediato, uma acalmada no cabelo de Miriam Leitão na bancada do telejornal Bom Dia Brasil, da Rede Globo. O penteado da jornalista é, como se sabe, o indicador econômico mais confiável da atualidade.

Primo rico

Nos quatro meses de licença da atividade parlamentar que vai tirar a partir de março, José Sarney deixará de receber R$ 106 mil de salário. Dá quase um ano e meio da aposentadoria do papa Bento XVI, estimada em R$ 6.500,00 por mês.

Esclarecimento

Hugo Chávez não está "empacotando", como chegaram a dizer por aí! A confusão deu-se por causa da informação de que ele estaria cuidando pessoalmente de um pacote de medidas econômicas na Venezuela. Ah, bom!

Impasse humorístico

A Itália segue ingovernável, liderada por um comediante falastrão (Beppe Grillo), uma piada pronta (Silvio Berlusconi) e outros dois políticos sem graça nenhuma (Pier Luigi Bersani e Mario Monti).

Portões fechados

Fechar os portões do estádio aos torcedores do Corinthians talvez não baste para garantir a tranquilidade na região do Pacaembu! O ideal, talvez, seria trancá-los em casa durante o jogo.

Bons modos

Se é mesmo verdade, como denuncia FHC, que Dilma Rousseff "cuspiu no prato em que comeu", francamente, a presidente devia dar bom exemplo ao pessoal do Fome Zero. Já pensou se a moda pega?

O significado dos números do acordo automotivo - RICARDO GALUPPO

BRASIL ECONÔMICO - 27/02

Mais do que pelos números que o comércio bilateral de carros entre o Brasil e o México movimenta, o acordo automotivo assinado entre os dois países tem uma importância política fundamental.

Trata-se do único dessa natureza que o Brasil celebrou fora da tutela do natimorto Mercosul - e um exemplo de como os problemas estruturais da economia impedem que o país leve vantagem mesmo numa competição mediada por um documento desse tipo.

O acordo, como se sabe, foi assinado em 2002 e, nos anos iniciais, era superavitário para o Brasil. O país despachava para o México grandes quantidades de carros e de autopeças e em troca recebia uma quantidade modesta de produtos.

A questão é que o cenário começou a mudar - e as montadoras a se dar conta que as condições tributárias e a proximidade com o mercado dos Estados Unidos faziam do México um cenário muito mais interessante para novos investimentos do que o Brasil.

Some-se a isso a valorização excessiva do real que, nos últimos anos, fez a balança mudar completamente de lado: qualquer economista recém-formado com uma calculadora HP na mão sabia que, diante das cotações do real e do peso em relação ao dólar, as relações de troca entre os dois países eram muito mais favoráveis ao México.

Ao contrário do México, que não se queixou quando o cenário pendia para o lado brasileiro, o Brasil começou a reclamar e, no ano passado, forçou a revisão do documento. Pois bem.

Passado quase um ano da revisão do acordo, conforme mostra esta edição do Brasil Econômico, houve, de fato, uma redução no valor das importações. Entre abril de 2012 e janeiro de 2013 (período de vigência dos novos termos do acordo), elas alcançaram US$ 1,8 bilhão.

Tomando-se o mesmo período para efeito de comparação, entre abril de 2011 e janeiro de 2012, elas foram de US$ 2 bilhões. A questão está na quantidade de veículos importados, que, em lugar de diminuir, aumentou quase 4%. Passou de 134 mil unidades para 139 mil.

Quem compara um carro mexicano médio com um carro brasileiro da mesma faixa percebe pouca diferença - e as que existem poderiam ser introduzidas sem maiores sacrifícios em qualquer linha de montagem brasileira.

Ou seja, esses quase 140 mil carros que foram importados poderiam perfeitamente ter sido fabricados no Brasil, por metalúrgicos brasileiros, com peças brasileiras, aço brasileiro e eletricidade brasileira. Ou seja, poderiam ter ajudado a consolidar empregos numa das atividades mais nobres da indústria e contribuir com impostos (desde que gravados com uma alíquota civilizada, como acontece nos países com os quais o Brasil compete) para os cofres públicos.

Enquanto o cenário for o atual, não serão as revisões de acordos que salvarão a economia brasileira. Isso está mais claro do que nunca.

O jogo inventado - TOSTÃO

FOLHA DE SP - 27/02

O futebol mudou. Como há muito equilíbrio individual hoje em dia, predomina o jogo coletivo


Hoje, o Corinthians, sem a torcida, terá de imaginar e de tentar jogar como se o estádio estivesse cheio. O mais provável é que jogue como se fosse um treino coletivo, o que é ruim. Não dá para antecipar as reações humanas.

Quando Ganso foi contratado, escrevi que não entendia gastar tanto com um jogador da mesma posição de Jadson. Foi preciso trazer Ganso para todos perceberem que Jadson é um excelente meia. Ele joga bem, desde que chegou ao clube.

A escalação dos reservas do Grêmio contra o Inter, sem nenhum motivo técnico e físico, já que o time não joga neste meio de semana, foi um desrespeito aos torcedores e ao Gre-Nal. A única razão para Luxemburgo fazer isso foi o medo de o time ser derrotado e perder o prestígio conseguido após a belíssima vitória sobre o Fluminense.

Na coluna anterior, disse que os técnicos europeus são melhores que os brasileiros para organizar uma equipe, e que os brasileiros são superiores na escalação dos jogadores nos lugares certos. Quando comecei a me empolgar e a entender de futebol, ainda menino -vi Pelé, Garrincha e Didi jogarem, antes da Copa de 1958-, os europeus já se destacavam pela ocupação dos espaços, e os brasileiros, pela intimidade com a bola.

Como as grandes equipes brasileiras do passado tinham muitos craques, criou-se a lenda de que elas não precisavam, para vencer, de futebol coletivo.

O futebol mudou. Com a globalização e o desenvolvimento da ciência desportiva, o jogo se tornou mais tático, veloz e físico. Houve também uma diminuição da superioridade individual do Brasil -há hoje outras seleções com mais craques. As partidas passaram a ser decididas mais pela organização tática.

Nos últimos tempos, os europeus perceberam que, para o futebol se tornar um espetáculo e dar lucro, era necessário melhorar os gramados, diminuir a violência, dentro do campo, na arquibancada e fora do estádio, e jogar de uma maneira mais agradável, com mais troca de passes. O Brasil, influenciado pela violência social, pela incompetência dos dirigentes, foi para um outro caminho, o do futebol tumultuado, faltoso e de muitas jogadas aéreas. Isso começou a mudar. Ufa!

A importação dos melhores jogadores foi essencial para melhorar o futebol europeu. Os principais times são superiores às seleções. Na América do Sul, geralmente, ocorre o contrário. Muitas seleções melhoraram, e os times pioraram. Os atletas que atuam hoje no Brasil, pelo crescimento financeiro dos clubes, formam uma seleção do mesmo nível dos que jogam fora do país.

Parafraseando o guerrilheiro e visionário Che Guevara, um homem contraditório, como todo ser humano, o futebol brasileiro precisa ser mais organizado, planejado, sem jamais perder a fantasia e o jogo e o gol inventados.

No mundo de Jack Bauer - MARCELO COELHO

FOLHA DE SP - 27/02

Numa ditadura, prender e censurar nunca é suficiente: a tortura é a verdadeira punição


Contardo Calligaris apresentou aqui, na quinta-feira passada, alguns argumentos interessantes a favor da tortura. Acho que sua intenção foi mais colocar o assunto em debate e menos defender sua adoção no Brasil.

Mesmo porque ela já existe, com resultados discutíveis do ponto de vista da segurança pública.

"O saco plástico do capitão Nascimento funciona", escreve Contardo. Os interrogatórios de Jack Bauer, na série "24 Horas", também funcionam, repete o psicanalista.

Pode ser. Não me considero um "bonzinho", desses que querem um mundo perfeito, utópico, ideal. Querer eu quero, mas sei que a realidade não corresponde a todos os sonhos que temos.

O problema, eu acho, é quando se quer ser "realista" demais. Um mundo sem tortura? Com Bin Laden e terroristas variados à solta? Loucura, dizem os pragmáticos.

O estranho é que uma perspectiva realista e pragmática, como a explorada pelo meu colega da "Ilustrada", muitas vezes me parece puramente imaginária e ficcional.

O capitão Nascimento e o agente Jack Bauer são, antes de tudo, personagens de filmes. Por razões não apenas ideológicas, mas também de dramaturgia, suas torturas e sacos plásticos funcionam muito bem.

Contardo Calligaris já manifestou discordância quanto à tese de que a TV influencia as pessoas. Mas se eu começar a assistir a muitos filmes em que o herói é um torturador eficiente e simpático, também vou acreditar que a tortura funciona.

Se os americanos fizessem mais filmes em que a tortura não funciona (mas aí penso num mundo ideal, não o da Fox Filmes), provavelmente pensaríamos de outra maneira.

Só para ser um pouquinho realista, penso no seguinte. Um policial realmente acostumado a torturar suspeitos não passa pela experiência incólume. É de imaginar que a prática da tortura o torne insensível a uma série de outros limites morais, do tipo "não roubarás", "não matarás", "não sequestrarás criancinhas".

Torturarás, ademais, pessoas sobre as quais pesam suspeitas não tão fortes assim. Não sei se os cidadãos terminariam mais seguros com 300 Jack Bauers agindo por perto.

É que a tortura tem outra função, além das apontadas por Contardo Calligaris em seu artigo. Ele fala em dar prazer ao torturador, em obter confissões, em conseguir informações. Uma quarta função me parece importantíssima.

Trata-se de estabelecer um regime de terror de Estado. Não é apenas o terrorista quem está exposto à tortura. O vago simpatizante da causa, o oposicionista pacífico, o irmão, o parente, o filho, o vizinho, estão sob ameaça também. Numa ditadura, prender e censurar nunca é suficiente: a tortura é a verdadeira punição.

Para finalizar, Contardo levanta o célebre argumento da "bomba-relógio". Copio a sua versão.

"Uma criança foi sequestrada e está encarcerada em um lugar onde ela tem ar para respirar por um tempo limitado. Você prendeu o sequestrador, o qual não diz onde está a criança sequestrada. [...] A tortura poderia levá-lo a falar. Você faz o quê?"

Não sei. Este é mais um caso em que a ficção fala mais alto do que a realidade.

Sou contra a tortura, como sou contra o matricídio e o canibalismo. Agora, suposições extremas não faltam. Suponha que sua mãe enlouqueceu, entrou numa creche com uma escopeta e está matando bebês aos punhados. Você é policial e ela está na mira do seu revólver. Você faz o quê?

Suponha que você está viajando com seus colegas de escritório, o avião cai nos Andes e você só sobrevive se matar um deles e comê-lo. Ele fará provavelmente o mesmo com você, se você deixar. Você faz o quê?

Ora essa. Eu mudo o canal da televisão.

De resto, o argumento da "bomba-relógio" tem outros problemas. O tempo também corre a favor do torturado. Ele tem apenas uma hora de tormentos para se manter em silêncio; pode mentir, ademais.

Outra pergunta. Que tal pagar o resgate? Também funciona, em geral.

Não é impossível pegar o sequestrador depois. Já o torturador vai continuar a estrela do filme.

Ali Soufan, agente do FBI especializado em interrogar membros da Al Qaeda, escreveu um artigo no "New York Times" contestando toda a versão de Hollywood quanto à descoberta de Bin Laden.

Diz que autoridades do governo Bush mentiram abertamente sobre o sucesso de técnicas de tortura, apenas para justificar sua adoção. Será que Ali Soufan está mentindo? Quem sabe seja o caso de torturá-lo também.

Efeitos da canícula - ARTUR XEXÉO

O GLOBO - 27/02

José Dirceu aceita o combate à corrupção. Mas só se for a corrupção posterior a 4 de junho de 2010, quando o presidente da República sancionou a Lei da Ficha Limpa



Correm rumores de que uma frente fria está se aproximando. Dizem que haverá um aumento de nuvens. Que há até a possibilidade de pancadas de chuva a partir do fim da tarde desta quarta-feira. Que essa sensação de que o dia está muito abafado vai acabar. Quem não derreter até lá verá.

Temo os efeitos colaterais da chuva. Deslizamentos de terra, bueiros entupidos, enchentes... Mas essa calidez, essa quentura, esse queimarço, enfim, esse calor não pode continuar. E ele tem suas consequências também. Outro dia mesmo, li uma entrevista do novo presidente do Tribunal Superior do Trabalho, Carlos Alberto Reis de Paula. Não sei quantos graus fazia por ocasião da entrevista. Tanta coisa para dizer, e eis o que ele declarou: "Eu ganho pouco mais de R$ 15 mil líquidos. Se falarem que é muito, eu digo: pode ser para vocês que ganham salário mínimo, mas, para o que eu faço e pela minha importância, acho pouco.”

Agora, me explica, qual é a importância do juiz De Paula? Ele é mais importante que um professor? É mais importante que um médico? Não nego que juízes, professores e médicos deveriam ter um salário bem maior que os que o Brasil oferece. Jornalistas também. Mas, sei lá, com as condições da educação e da saúde no país, faz algum sentido um profissional que recebe mais de R$ 15 mil líquidos reclamar da vida? Só há uma explicação para a desastrada declaração do magistrado: o calor. Chuvas provocam enchentes. É ruim. Mas o calor, pelo visto, resulta em declarações impensadas. É ruim também. Muito ruim. O sujeito é acometido de uma tontura, de um suor incontrolável, de uma sensação de mal-estar, fica com o pensamento turvo e, no fim das contas, fala besteira.

Olha só o Zé Dirceu, por exemplo. Dia desses, para uma plateia de militantes petistas em Cha-pecó, em Santa Catarina, ele reclamou de um dos mais nítidos avanços da legislação política brasileira. Eu sei que, quase sempre, Zé Dirceu não diz coisa com coisa. Mas desta vez foi demais. Olha só: "Criaram a Lei da Ficha Limpa, que é uma lei completamente absurda. Porque ela retroagiu.”

Em outras palavras, o ex-ministro aceita o combate à corrupção. Mas só se for a corrupção posterior a 4 de junho de 2010, quando o presidente da República sancionou a Lei da Ficha Limpa. Corrupção cometida há mais de três anos tá liberada. Tem alguma explicação para tal estapafurdismo? Tem, sim. O calor! E olha que a frente fria que supostamente está chegando aqui hoje vem do Sul e já passou por Santa Catarina.

Só o calor também justifica o que anda dizendo o advogado da Gaviões da Fiel, Ricardo Cabral. No começo desta semana, logo após o depoimento na polícia do jovem que se responsabilizou por ter acionado o sinalizador náutico que matou um adolescente em um jogo do Corinthians na Bolívia, ele tentou explicar como a torcida organizada é justa e que o suposto crime do garoto não ficará impune: "O menor vai receber uma punição da Gaviões da Fiel porque ele levou os artefatos sem o consentimento da direção da torcida.”


Vem cá, o rapaz confessa um homicídio culposo, fica em dívida com a Justiça boliviana, e seu advogado o tranquiliza garantindo que ele será punido pela Gaviões da Fiel? Tô dizendo: é o calor!

Na transmissão da entrega do Oscar pelo TNT, o crítico Rubens Ewald, ao comentar o prêmio de melhor atriz coadjuvante recebido por Anne Hathaway, disse que ela deveria agradecer a Susan Boyle por ter popularizado a canção ("I dreamed a dream") que interpreta no filme. Muita gente diz que Anne ganhou o Oscar só pela cena em que canta a tal música. Pode ser. Mas daí a dever alguma coisa a Susan Boyle já é exagero. Conheço gente que mudou de canal ou desligou a tecla SAP quando Rubens fez esse comentário. Não precisava tanto. O crítico está desculpado: foi o calor. No caso, um calor de desmanchar maquiagem.

Mais um exemplo? Como todo mundo sabe, Morena fugiu da máfia que trafica mulheres e está escondida numa caverna na Capadócia. Até aí, tudo verossímil. A coisa só se complica quando Morena sai da tal caverna. O cabelo, lisinho como se tivesse acabado de passar pelo salão da Monalisa de "Avenida Brasil’,’ fica todo encaracolado quando a personagem aproveita a liberdade pelos campos da Capadócia. Como é que Gloria Perez deixa isso acontecer? Não precisa responder: é o calor.

Enquanto escrevo, os termômetros registram 38 graus. Nem imagino qual seja a sensação térmica. Também não quero imaginar. Prefiro a ignorância climática. Aguardo com ansiedade a chegada da frente fria prometida para logo mais. Que ela seja leve, mas refrescante. E, se algum leitor reclamar da coluna de hoje, já tenho a explicação na ponta da língua: foi o calor!

Câmbio e estrutura produtiva - ELIANA CARDOSO

O ESTADO DE S. PAULO - 27/02

Jonathan Swift, autor das Viagms de Gulliver, escreveu um longo ensaio recheado de paródias que se chama A Tale ofa Tub (História de uma Banheira). O título do livro refere-se ao ataque de uma baleia a um navio e à ação dos marinheiros, que para distrair o monstro lançam uma banheira ao mar.

Lendo essa frase como metáfora adequada aos tempos de Jonathan Swift, seria possível interpretar o navio como o Estado inglês em meados do século 17 e a baleia como o Leviatã de Thomas Hobbes - um livro controverso naquela época, porque Hobbes ofendia quase todo mundo: ofendia católicos e protestantes afirmando que a escolha religiosa deveria ser uma prerrogativa do governante, ofendia monarquistas negando o direito divino dos reis e ofendia parlamentares descartando a monarquia constitucional como impraticável e irrealista.

Se a metáfora vale, os marinheiros na frase de Jonathan Swift, que jogam uma banheira contra a baleia de Hobbes, seriam os ministros de Estado. E a banheira, o próprio livro de Swift. Mas o ensaio de Swift acaba por intensificar as críticas contidas no Leviatã, em vez de dissipá-las, porque seu narrador é meio maluco.

Chega de antigüidades. O artigo que você lê agora não é uma baleia indignada contra o desgoverno do navio brasileiro. E muito menos a banheira que desviaria os ataques de seus críticos. Nem baleia, nem banheira. Nossa gafieira exige respeito e, por isso, o artigo não oferece metáforas, mas apenas uma hipótese de diagnóstico para a situação econômica.

Começo com os fatos. A produtividade do trabalhador brasileiro vem caindo e hoje ele produz menos de um quinto do que produz o trabalhador nos EUA. O crescimento do produto interno bruto (PIB) fraqueja, mas as taxas de desemprego continuam muito baixas. Tal fenômeno resulta da recomposição da estrutura econômica: crescem os setores de baixa produtividade (e intensivos em mão de obra, como o varejo, por exemplo), enquanto se contrai o setor industrial exportador. O que explica a recomposição setorial? É possível que os bens que se vendem e se compram apenas dentro do próprio País tenham ficado relativamente mais lucrativos do que os comerciados internacionalmente por causa da queda acumulada do dólar entre 2004 e 2011. Por causa da valorização "real" da nossa moeda as empresas foram transferindo a produção em atividades exportadoras (que enfrentam a competição externa) para atividades voltadas apenas para o mercado doméstico. Essas atividades (concentradas, por exemplo, no comércio varejista e na construção civil) são mais intensivas em mão de obra e menos produtivas. A queda da produtividade industrial em 2011 não desmente essa hipótese, porque a produtividade se move com o ciclo econômico, pois a indústria não demite na mesma proporção da queda da produção por causa dos custos de demissão.

Uma desvalorização "real" sustentada da nossa moeda tornaria a indústria mais competitiva. Não falo de desvalorização cambial tout court, mas de desvalorização "real". Para que desvalorizações cambiais atraiam recursos para setores produtores de bens comerciáveis é preciso que elas sejam "reais", isto é, não canceladas por aumentos de preços. Uma desvalorização cambial com aumento de salários não altera a taxa "real" de câmbio.

A experiência internacional mostra que os países que sustentaram taxas altas de crescimento por muitos anos (como a Coréia do Sul depois da década de 1970, o Chile desde o final da década de 1980 ou a China nos últimos 30 anos) são países que mantiveram competitivas suas taxas "reais" de câmbio, o que só é possível com inflação controlada. O segredo reside no equilíbrio fiscal com cortes de gastos públicos, que criam a expectativa de quedas sustentáveis das taxas de juros.

Durante o governo Lula falou- se da apreciação "real" da nossa moeda e suas conseqüências. Mas o efeito riqueza da mudança dos termos de intercâmbio (graças ao aumento do preço das commodities) apagou a preocupação com a apreciação cambial, que permitia comprar produtos estrangeiros a um preço menor, viajar mais, e ainda tinha a vantagem de ajudar a segurar a inflação. Sua herança maldita ficaria para o governo seguinte.

O que fazer? Os brasileiros sabem que tentativas de manipular a taxa de câmbio - seja para cima, seja para baixo - geralmente se dão mal. Na década de 1980, a experiência com as mini- desvalorizações mostrou que a indexação do câmbio e dos salários, combinada a desequilíbrios fiscais, cria graves empecilhos para que a inflação responda à política monetária. Na década seguinte, entre 1994 e 1997, o governo segurou a taxa de câmbio para estabilizar a inflação e acabou enfrentando o colapso do real em 1998. Naquele ano se adotou uma taxa de câmbio flutuante, um passo importante na construção do tripé da estabilidade, ao lado das metas de inflação e do equilíbrio fiscal. Infelizmente, Lula recusou a oportunidade de abraçar uma política fiscal anticíclica a partir de 2005, quando a melhora dos nossos termos de intercâmbio a tornava possível.

Hoje, em situação mais difícil, Dilma parece incapaz de identificar o problema herdado de Lula e o atribui à política monetária de outros países. E erra nos remédios. Insiste em agravar o desequilíbrio fiscal. Tenta intervir para desvalorizar o câmbio e, em seguida, se arrepende, dá meia-volta e instaura incertezas.

Com o lançamento antecipado da disputa eleitoral fica difícil acreditar que o governo venha a considerar o interesse do País no médio prazo e abraçar políticas coerentes e sustentáveis. Mais fácil atribuir nossos problemas a ventos adversos.

Na história da banheira, Swift conta que os sábios "aeolistas" sustentavam que a causa original de todas as coisas é o vento. O mesmo vento que acende e sopra a chama da natureza também pode apagá-la. E a roda da fortuna gira.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO


FOLHA DE SP - 27/02

Setor químico prevê deficit de US$ 30 bi para 2013

A indústria química brasileira deve bater mais um recorde neste ano. Depois de ter encerrado 2012 com um deficit comercial de US$ 28,1 bilhões -o maior já registrado-, o setor prevê um acréscimo de 7% no número.

"O deficit de 2013 ficará em US$ 30 bilhões se o PIB do país crescer 3%", afirma o presidente-executivo da Abiquim (Associação Brasileira da Indústria Química), Fernando Figueiredo.

Os dados deste início de ano não foram animadores. Houve queda de 2,03% na produção em janeiro ante o mesmo mês do ano anterior.

A baixa foi puxada pelos segmentos de petroquímicos básicos (-8%) e de intermediários para fertilizantes (-4%).

Os números consolidados de 2012, que serão apresentados hoje, mostram que o índice de produção está no mesmo patamar de 2007.

"Nesse tempo, o consumo aparente cresceu 7,1% ao ano, enquanto a produção permaneceu igual. O consumo está todo sendo atendido pela importação. Tivemos cinco anos perdidos", afirma Figueiredo.

De acordo com o presidente da entidade, o resultado negativo é decorrente da falta de aportes no setor.

"O custo de investimento no país é caro. Desde maio do ano passado, estamos conversando com o governo para que haja uma desoneração da matéria-prima para tornar o setor competitivo, mas nada tem acontecido."

SALA DE AULA BRASILEIRA
A francesa Insead, quarta melhor escola de negócios europeia segundo o ranking do "Financial Times", passará a incluir o Brasil em um dos módulos de seu MBA Executivo a partir deste ano.

Uma turma de 40 alunos, todos executivos com mais de dez anos de mercado de países como Estados Unidos, El Salvador, Síria e China, entre outros, desembarcará no país em setembro para participar de debates com empresários e líderes locais.

O Brasil será o primeiro país dos Brics a receber um módulo do curso -hoje, além das aulas no campus do Insead em Fontainebleau, nos arredores de Paris, os alunos participam de atividades em Abu Dhabi e Cingapura.

Segundo o professor do Insead Luiz Felipe Monteiro, entre os temas abordados entre os executivos estão a internacionalização de empresas brasileiras, as oportunidades entre consumidores do topo e da base da pirâmide social do país e os desafios que o Brasil irá enfrentar após a realização dos grandes eventos esportivos.

Imposto menor é preferível a benefício fiscal, mostra pesquisa
Sete em cada dez empresários de alto escalão afirmaram que aceitariam abrir mão de benefícios fiscais em troca de seus países reduzirem a carga tributária local.

A informação é de pesquisa da empresa Grant Thornton realizada com 3.400 companhias de 44 países.

Dos entrevistados, 67% responderam apoiar a redução de tributos mesmo que implique corte de vantagens fiscais que possuem hoje.

No Brasil, esse percentual é maior: 80%.

"Há um entendimento por parte dos empresários que desonerações pontuais e benefícios fiscais concedidos para superar momentos de crises econômicas não são suficientes", afirma Leandro Scalquette, sócio da auditoria.

Não à toa, diz, 61% dos empresários informaram que seus países não estão agindo de forma suficiente em relação a medidas fiscais para aliviar pressões econômicas. No Brasil, o percentual é de 74%.

Os países com maiores percentuais de insatisfação são Argentina (92%), Japão (86%), Polônia e Espanha (ambos com 82%).

A pesquisa também revela que 67% das companhias no mundo não consideram trocar seus comandos (headquarters) de país para conseguir corte na carga tributária. No Brasil, esse percentual chega a 82%.

As empresas mais resistentes a mudar estão situadas em países como Nova Zelândia (94%), Geórgia (92%), Suíça (90%) e França (88%).

Da praia... A marca de roupas de surfe HB abrirá neste ano suas primeiras lojas próprias. Deverão ser cinco unidades nos próximos dois anos. A primeira será instalada em Santo André (SP).

...para o shopping A grife -de origem australiana, mas comandada por empresários brasileiros- está hoje em lojas multimarcas e em cinco franquias no Estado do Rio de Janeiro.

Caminho... A grife de roupas e acessórios masculinos Reserva, que trabalha atualmente com 26 unidades próprias e em 550 lojas multimarcas, vai se expandir por meios de franquias.

...contrário A companhia pretende focar seu projeto de expansão nas regiões Nordeste e Centro-Oeste do país. Hoje, ela está nos Estados de SP, MG, RJ e BA, além do Distrito Federal.

COMPULSÃO
Quatro em cada dez (43%) brasileiros fazem compras em momentos de impulsividade, segundo pesquisa do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) a ser divulgada hoje.

Pelo levantamento, 48% dos entrevistados das classes AB já compraram por impulso, contra 39% das pessoas das classes C e D. O motivo é a maior disponibilidade de renda dos mais ricos, de acordo com a economista do SPC Brasil Ana Paula Bastos.

"Apesar do maior número de compulsivos nas classes AB, são as C e D que sofrem mais com o descontrole nas compras devido à baixa autoestima e à necessidade de se afirmar socialmente."

A baixa autoestima é o principal motivo de compra por impulso para 48% das pessoas das classes C e D.

FLÁVIA OLIVEIRA - NEGÓCIOS & CIA

O GLOBO - 27/02

FÉRIAS E CARNAVAL AJUDAM TRABALHADOR DO RIO
Serviços de hospedagem, transportes e limpeza elevaram em 37 mil o total de ocupados de dezembro para janeiro

A temporada turística, com férias e carnaval no início de fevereiro, ajudou o mercado de trabalho carioca no primeiro mês de 2013. A tendência, já observada em anos anteriores, deve livrar a Região Metropolitana do Rio da elevação súbita do desemprego, após o fechamento das vagas temporárias para as festas de fim de ano. “Parece que, no Rio, o ajuste só virá de março em diante. As férias e o carnaval têm segurado o emprego no primeiro bimestre, algo que não ocorre em outras regiões”, diz Cimar Azeredo, responsável pela Pesquisa Mensal de Emprego (PME/IBGE). De dezembro para janeiro, a desocupação no país saiu de 4,6% para 5,4%. No período, o comércio reduziu em 96 mil o total de ocupados nas seis áreas metropolitanas pesquisadas (Rio, São Paulo, BH, Salvador, Recife e Porto Alegre). No Rio, o desemprego quase não oscilou. Passou de 4% para 4,3%. Em São Paulo, para se ter uma ideia, saiu de 5,2% para 6,4%. A chave para o desempenho do Grande Rio está no setor que o IBGE chama de outros serviços (hospedagem, transportes e limpeza urbana). A atividade é a maior empregadora da região. Tem um de cada cinco ocupados (21,3%). Abriu 37 mil vagas em janeiro.

BERLIM
Inspirado na moderna arquitetura de Berlim, a João Fortes lança no sábado o Mitte Residenz Icaraí, em Niterói.

O prédio tem 75 apartamentos, área de lazer com churrasqueira, spa e piscina. O valor geral de vendas deve bater R$ 50 milhões. Antes mesmo do lançamento, o edifício já está com 85% das unidades vendidas.

PARCERIA
A construtora Conasa e a incorporadora Enes lançam, mês que vem, o Eleganza Residenze, na Freguesia, em Jacarepaguá. Terá 80 apartamentos e deve alcançar R$ 30 milhões em vendas. Ainda este ano, as duas empresas começarão a vender um residencial em Botafogo.

Serão dez apartamentos, loja no térreo, e R$ 20 milhões em vendas.

Olha o trem
O grupo MPE inaugura amanhã uma fábrica de trens monotrilho, em Paciência, Zona Oeste do Rio. É a primeira do estado.

A linha de montagem inicial consumiu R$ 30 milhões e vai empregar 500 pessoas. Completa, a unidade vai custar R$ 50 milhões.

Hotelaria
ABIH-RJ e AgeRio assinam convênio de R$ 50 milhões hoje. A agência de fomento vai financiar reformas em hotéis, pousadas e albergues. Há linha até para motéis virarem hotéis. 

Em tempo
A AgeRio também assinou com a SGC Garantinorte. É o primeiro convênio com uma sociedade garantidora de crédito. Vão operar juntas em 14 cidades do Norte da Região dos Lagos do estado.

Recorde
A Petrobras bateu recorde em refino em janeiro. A estatal refinou, em média, 2,07 milhões de barris por dia, alta de 3% sobre agosto de 2012, melhor marca até então. A produção de diesel bateu 4,1 milhões de m3; a de gasolina, 2,3 milhões.

Caribe em rede
A brasileira RNP, de ensino e pesquisa, foi responsável por infraestrutura e operação da C@ribNET. A rede conecta, com internet de alta velocidade, 25 instituições acadêmicas de 12 países do Caribe. A União Europeia investiu €10 milhões.

Comida na ‘web’
No ar em São Paulo, desde abril de 2012, o site de delivery Jánamesa entra no Rio nos próximos dias. Começa a operar com 150 restaurantes cariocas, mas espera bater mil até dezembro. Hoje, tem 1.200 em São Paulo. Até maio, o número de pedidos diários deve passar de 400 para mil nas duas praças. Ainda este ano, o site estreia em Porto Alegre, BH e Brasília. A previsão é faturar R$ 3 milhões. O iFood também faz sucesso com entregas on-line. No início do mês, recebeu aporte de R$ 5,5 milhões da Movile, de conteúdo mobile. Recebe 50 mil pedidos por mês, 20% deles via dispositivos móveis. Espera alcançar 85 mil no fim do ano. Já o ComerNaWeb quer triplicar o número de clientes em 2013. Hoje são 50 mil.

As receitas devem passar de R$ 500 mil para R$ 1,2 milhão.

Livre Mercado
O Rio Sul investiu R$ 500 mil na reforma de seu quiosque em Copacabana. Reabre na sexta, aniversário da cidade. A operação será da creperia Chez Michou.

O Madureira Shopping ganha mais três lojas em março: Luka Maki Temakeria, Cinderella Calçados e Imaginarium. Esta última recebeu investimento de R$ 200 mil).

A Casa da Empada abre a 1ª loja fora do Rio, na sexta. Fica em Campinas (SP). É investimento de R$120 mil.

A Drogarias Pacheco lançou ontem a “Ponto de Encontro”. Era a revista da Drogaria São Paulo, que entrou no grupo em 2011. Saiu de 600 mil para 1,2 milhão de exemplares.

CINTURA DE PILAO
A Dilady, de lingeries, estreia hoje campanha da linha Zero Barriga, que promete afinar a silhueta feminina. Será veiculada na internet. À venda em oito mil pontos no país, a marca prevê chegar a mais 700 este ano. Espera crescimento de 30% nas vendas no primeiro semestre. O faturamento deve bater R$ 75 milhões até dezembro.

INVERNO
A grife Luko lança amanhã a coleção de inverno nas lojas do Village Mall e do Rio Design Barra. Em março, as peças chegam a Gávea e Ipanema. A meta é elevar em 20% o faturamento este ano. Terá campanha com a top Elisa de Paula em fotos de Gustavo Otero. Vão circular nas mídias sociais.

50 tons do direito
Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski, ministros do STF, e Carlos Ayres Britto, ex-presidente do Supremo, são autores de artigos em “Estudos: Direito Público” (LEX Magister, 1.001 páginas, R$ 99). O livro reúne textos de 50 notáveis sobre direitos público e tributário no Brasil. Os advogados Max e Marcus Fontes examinam o ISS sobre serviços de registros públicos, tema em pauta na Fazenda carioca. O lançamento é hoje, no STF.

Anistia às micro
A Secretaria estadual de Fazenda vai anistiar micro e pequenos empresários multados por infrações com o ICMS. O benefício está na Lei 6.357/2012. Para ganhar desconto de até 50%, as MPEs terão de negociar com o governo até 30 de junho. Cheryl Berno, da Firjan, diz que as multas eram injustas em relação às falhas.

Faxina fiscal
Renato Villela, da Fazenda estadual, se reúne hoje com titulares da pasta dos 15 municípios do entorno da Baía de Guanabara.

Vão discutir ações para sanear as contas das cidades É parte do projeto de despoluição das águas.

NÃO É BEM ASSIM - MÔNICA BERGAMO


FOLHA DE SP - 27/02

As críticas de Ciro Gomes (PSB-CE) à pré-candidatura presidencial de Eduardo Campos (PSB-PE) não encontram eco fácil no partido. "Discordo", diz a deputada Luiza Erundina (PSB-SP), estrela da legenda, sobre a afirmação de Ciro de que Campos não tem proposta e sequer conhece o Brasil.

SONHO
"Claro que todos precisam aprofundar a discussão sobre a realidade nacional. Mas Eduardo vem se consolidando num país que tem tão poucas lideranças. Tem potencial e o partido sonha, prospecta a ideia de ter um candidato. Não significa, por outro lado, que isso já esteja posto, definido", diz ela.

CALMA, GENTE
Erundina acha cedo tratar do assunto, "ainda mais quando temos um governo [de Dilma Rousseff] de coalizão. Isso atrapalha a discussão de temas nacionais". Campos concordaria. "Ele está sendo jogado, pressionado. Não é do interesse dele, não", afirma a ex-prefeita.

TETO 1
O ex-prefeito José Serra (PSDB-SP) está morando na casa emprestada por um amigo, nos Jardins. A ex-primeira-dama Monica Serra permanece no antigo endereço do casal, no Alto de Pinheiros, em São Paulo.

TETO 2
Indiferente ao escândalo que envolvia Rose Noronha, ex-secretária da Presidência da República, com uma máfia de venda de pareceres, a ex-primeira-dama Marisa Letícia, mulher de Lula, passou a se interessar pelo tema. Alheia até então ao noticiário, Marisa foi alertada recentemente por um amigo da importância do assunto.

VALE UM LIVRO
O lutador Popó fechou ontem contrato com a editora Panda para o lançamento de sua biografia. "Com as Próprias Mãos" será escrita pelo jornalista Wagner Sarmento. E servirá de base ao filme que o cineasta Walter Salles pretende fazer sobre o esportista. A interlocutores, Popó disse que já deu "muita porrada" na vida. E agora quer uma coisa mais delicada.

TENDA AVANTE
O circo Tihany deixa o parque Villa-Lobos no fim de semana. Mas o picadeiro não sai da cidade: depois de receber 150 mil espectadores desde novembro, a lona se muda para o local do antigo Playcenter a partir do dia 8.

TRAILER
As atrizes Mariana Ximenes e Maria Flor estão no elenco de "Mãos de Cavalo", próximo longa do cineasta Roberto Gervitz ("Feliz Ano Velho" e "Jogo Subterrâneo"). O filme, que começa a ser rodado em agosto, é uma adaptação do livro homônimo de Daniel Galera.

SORRIA, MEU BEM
O Instituto Moreira Salles lança no mês que vem edital para conceder duas bolsas de criação fotográfica, de valor ainda não definido. Com a Bolsa de Fotografia, a entidade pretende incentivar profissionais a desenvolver projetos inéditos. Os trabalhos selecionados integrarão o acervo do IMS.

FIM DO DIA
O Itaú Unibanco está ampliando para 450 agências do país um novo horário de funcionamento. Depois da fusão dos dois bancos, várias delas ficaram bem próximas. No caso das que são praticamente vizinhas, uma abrirá das 9h às 16h. A outra, das 11h às 19h, contemplando clientes da mesma região com um horário mais flexível.

BATE E VOLTA
A apresentadora Ana Hickmann embarca amanhã para uma feira de negócios em Milão, para a sua grife de óculos. Aproveita e celebra seu aniversário de 32 anos, na sexta. Na segunda, ela já estará de volta ao Brasil.

DRINQUE DA MODA
A ONG AmFAR e a "Vogue" promoveram jantar, anteontem, no Arola. A atriz Paula Burlamaqui, a estilista Vanessa Montoro, o empresário Alexandre Birman com a mulher, Johanna, e a editora de estilo da revista, Donata Meirelles, estavam presentes.

UMA NOTA, MAESTRO
A primeira-dama Lu Alckmin conferiu a estreia do maestro John Neschling à frente da Sinfônica Municipal, no sábado. O casal Ivo e Eleonora Rosset, a atriz Fabiana Gugli e a escritora Patrícia Melo, mulher de Neschling, estavam na plateia do Theatro Municipal.

Curto-circuito
Os arquitetos André Vainer e Marcelo Ferraz lançam o livro "Cidadela da Liberdade: Lina Bo Bardi e o Sesc Pompeia", na festa de 30 anos do espaço, às 20h.

A Dan Galeria foi eleita por críticos de arte espanhóis a melhor galeria da feira ARCOmadrid 2013, ocorrida neste mês.