A tabela que está no Confira mostra que o Brasil ostenta hoje condições privilegiadas no seu mercado de trabalho. Um desemprego que atinge apenas 54 pessoas em cada mil que compõem a força de trabalho é fator positivo. Cobra lá seu preço, que é o custo crescente da mão de obra na economia. Mas é melhor enfrentar esse problema de custos com alto nível de emprego do que contar com mão de obra barata e, ao mesmo tempo, amargar filas intermináveis de procura por trabalho.
O nível de desemprego de 5,4% registrado em janeiro é o mais baixo para o mês desde 2002, quando o IBGE passou a fazer o levantamento das condições do emprego com a metodologia usada hoje - compatível com a usada internacionalmente.
Quem se lembra da desocupação de dezembro, de meros 4,6% da força de trabalho, pode ter ficado com a impressão de que, no mês seguinte, pioraram as condições do mercado de trabalho. Mas não dá para comparar os dois números por causa das diferenças sazonais. Dezembro é mês atípico, quando o comércio e o sistema de distribuição contratam funcionários temporários para dar conta das vendas de fim de ano. Descontado esse fator, vamos ver que a desocupação em janeiro é quase a mesma do mês anterior.
Os especialistas advertem: o mercado de trabalho passa por mudança estrutural que tem importantes bases demográficas. De uns anos para cá, mais gente leva mais tempo para entrar no mercado de trabalho, porque tem de estudar e se preparar; e mais pessoas trabalham como autônomas, especialmente no setor de serviços - ou seja, mantêm uma ocupação sem vínculo empregatício. Essa é uma das razões pelas quais o emprego com carteira de trabalho assinada está crescendo menos. Outro indicador importante é o nível de ocupação da população em idade de trabalhar, hoje de 54,4%, muito próximo do recorde histórico.
Essas transformações apontam para situação que beira o pleno emprego, que se caracteriza por relativa escassez de oferta de mão de obra. Essa condição não deixa de ser uma anomalia quando comparada ao baixo avanço do PIB do Brasil pelo segundo ano consecutivo.
O alto nível do emprego, principal objetivo da política econômica dos governos nos três últimos séculos, é obviamente um marco expressivo na ficha econômica do Brasil. No entanto, produz consequências negativas que precisam ser neutralizadas.
A falta de mão de obra gera a elevação dos custos de produção que, conjugada aos demais custos da economia no Brasil, tende a tirar competitividade do setor produtivo ante a concorrência externa. Outro impacto do pleno emprego - já apontado em outras edições desta Coluna - deverá vir quando houver expansão mais forte do PIB. Serão as pressões inevitáveis sobre os custos do trabalho, algo que preocupa o Banco Central.
Um dos modos de assegurar preços melhores ao produto brasileiro é incrementar a produção com o mesmo emprego de mão de obra (aumento da produtividade do trabalho), o que se consegue com maiores investimentos em educação e treinamento de pessoal. E esse é um dos grandes gargalos do setor produtivo do Brasil.
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