segunda-feira, maio 17, 2010

MÔNICA BERGAMO

Canto de Pitanga

Mônica Bergamo
Folha de S. Paulo - 17/05/2010

Camila Pitanga veio a São Paulo, na semana passada, para gravar a canção-tema da animação "Lutas", de Luiz Bolognesi. "Gosto de cantar, tenho aula há cinco anos. Mas é a primeira vez que faço isso em um filme", conta a atriz, que também dubla Janaína, a protagonista do longa, que passeia por toda a história do Brasil -de conflitos entre indígenas, antes de 1500, até uma hipotética guerra pela água, em 2096. Ela passou seis horas no estúdio, gravando também um clipe da música. "Foi uma tarde gostosa, um trabalho emocionante."
Caso de polícia
Dois anos depois de ter sido criado, o site do programa Nota Fiscal Paulista (NFP), do governo do Estado de SP, continua sendo usado para fraudes. Em geral, o golpista se cadastra na página com o CPF de outra pessoa. O verdadeiro dono do documento, sem saber, acumula créditos ao pedir a NFP em suas compras. Mas, na página do programa, eles são desviados pelo fraudador. A vítima só descobre quando tenta acessar seu extrato e não consegue, pois sua senha foi trocada.
ZERO 
A coluna confirmou pelo menos um caso, o da aposentada Maria Estela Amarante, de Indaiatuba. Ao entrar no sistema, ela descobriu que alguém tinha transferido seus créditos para o CPF de uma pessoa que nem conhece. Fez boletim de ocorrência. E diz que, ao procurar um posto da Secretaria da Fazenda, encontrou outra mulher que dizia ter sido vítima de um desvio "de R$ 30 mil", créditos da compra de um carro zero.
CONSELHOS 
A Secretaria da Fazenda diz que já registrou outros casos semelhantes. Afirma que não divulga os números para não estimular a fraude, mas diz que ele é irrelevante perto do total de pessoas que usam a nota (8 milhões) e dos recursos que são movimentados (R$ 2,7 bilhões distribuídos desde 2007). E recomenda que todos os que se descobrirem vítimas do golpe façam boletim de ocorrência e procurem um posto do órgão.
FOCO 
Nem bem fechou uma pesquisa eleitoral, na quinta, o Instituto Vox Populi começou outra -que deve capturar se houve, ou não, efeito do programa eleitoral do PT em que Lula passou quase cinco minutos elogiando a ministra Dilma Rousseff (PT-RS) na TV.
TURMA 
O PSB de SP pretende encorpar o lançamento da candidatura de Paulo Skaf, no próximo dia 21, ao governo de SP. Além do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, presidente nacional do partido, pretende trazer ao evento seus outros governadores: Wilson Martins, do Piauí, Iberê de Souza, do Rio Grande do Norte, e Cid Gomes, do Ceará. Já Ciro Gomes (PSB-SP) não deve comparecer. Ele está descansando no exterior.
ROLEX SEGURO 
Desde janeiro, a Associação dos Moradores e Empresários da Rua Amauri não registra nenhum roubo de relógios na via do Itaim Bibi. Para diminuir as ocorrências, a associação contratou 12 seguranças que ficam à paisana na rua e instalou 16 câmeras de vigilância.
BUMBA 
Sig Bergamin, que mora em SP, chamou 60 amigos para comemorarem seu aniversário de 56 anos num baile funk na favela Rio das Pedras, no Rio de Janeiro. Alugou até um ônibus para levar todo mundo -mas só quem usava uma camiseta com a frase "I Was There (eu estive lá)" poderia entrar. Na turma de convidados estavam Glória Maria, Maitê Proença e a estilista Lenny Niemeyer.
ARTE IMITA A VIDA 
Namorados na vida real, Taís Araujo e Lázaro Ramos podem fazer par romântico no musical "Orfeu da Conceição", com estreia prevista para setembro. Ela negocia para viver Eurídice e ele, o protagonista. "As conversas com a Taís estão bem avançadas. Com o Lázaro, depende de agenda", diz o diretor Aderbal Freire-Filho.
CORTE 
O Museu Lasar Segall vai adaptar o projeto do catálogo raisonné do artista, publicação com todas as suas obras, a um orçamento menor. A ideia era realizá-lo com R$ 5 milhões -mas o Ministério da Cultura autorizou a captação de R$ 3,3 milhões pela Lei Rouanet.
PALHETA 
E o advogado Fernando Lottenberg é o novo conselheiro do Lasar Segall.
 

Ele entra no lugar antes ocupado pelo bibliófilo José Mindlin, morto em março.
CARRIE & CIA 
A pré-estreia de "Sex and the City 2" já está marcada para o dia 27, em SP. As seis salas do Cinemark do shopping Iguatemi foram reservadas para o evento de lançamento do longa sobre Carrie e as amigas. A decoração terá como tema o Oriente Médio -no filme, elas viajam para Abu Dhabi.
PRINCESA NO CEU 
A princesa Mathilde, da Bélgica, visitará o CEU (Centro Educacional Unificado) de Heliópolis hoje. Amanhã, ela será homenageada pela vice-prefeita Alda Marco Antonio (PMDB) com um almoço na Fundação Oscar Americano.
CURTO-CIRCUITO 
O GOUVÊA VIEIRA ADVOGADOS inaugura hoje uma nova unidade, na rua Líbero Badaró, no centro. Nela funcionará a área de contencioso voltada a clientes corporativos com grande volume de processos. A SENADORA Marina Silva (PV-AC) participa de almoço com empresários do Lide, hoje, no hotel Hyatt. A TRAFFIC SPORTS comemora 30 anos hoje, às 20h30, com festa com show de Lulu Santos, no hotel Unique. O EX-MINISTRO DA JUSTIÇA Saulo Ramos recebe hoje, às 10h, o título de Professor Honoris Causa da FMU, na Casa Metropolitana do Direito, na Liberdade. O LIVRO "Os Oliveira Costa de Taubaté", de Carmo Chagas, será lançado hoje, às 19h30, no Museu da Casa Brasileira. O ARQUITETO Gian Carlo Gasperini recebe hoje, às 19h, o título de Cidadão Paulistano, na Câmara Municipal de São Paulo.O SHOPPING Iguatemi realiza de hoje a domingo a semana One Week, com palestras e shows para os consumidores.

com 
DIÓGENES CAMPANHALEANDRO NOMURA e LÍGIA MESQUITA

GOSTOSA

CARLOS ALBERTO DI FRANCO

Cobertura eleitoral

Carlos Alberto Di Franco
O Estado de S. Paulo - 17/05/2010
 
 Estamos em ano eleitoral. Campanhas milionárias, promessas irrealizáveis e imagens produzidas farão parte, mais uma vez, do marketing dos candidatos. Assistiremos, diariamente, a um show de efeitos especiais capazes de seduzir o grande público, mas, no fundo, vazio de conteúdo e carente de seriedade. O marketing, ferramenta importante para a transmissão da verdade, pode, infelizmente, ser transformado em instrumento de mistificação. Estamos assistindo à morte da política e ao advento da era da inconsistência.
Os programas eleitorais vendem uma bela embalagem, mas, de fato, são paupérrimos na discussão das ideias. Nós, jornalistas, somos (ou deveríamos ser) o contraponto a essa tendência. Cabe-nos a missão de rasgar a embalagem e desnudar os candidatos. Só nós, estou certo, podemos minorar os efeitos perniciosos de um espetáculo audiovisual que, certamente, não contribui para o fortalecimento de uma democracia verdadeira e amadurecida.
Por isso, uma cobertura de qualidade será, antes de mais nada, uma questão de foco. É preciso declarar guerra ao jornalismo declaratório e assumir, efetivamente, a agenda do cidadão.
Não basta um painel dos candidatos, mas é preciso cobrir a fundo as questões que influenciam o dia a dia das pessoas. É importante fixar a atenção não nos marqueteiros e em suas estratégias de imagem, mas na consistência dos programas de governo. É necessário resgatar o inventário das promessas e cobrar coerência. O drama das cidades (segurança, educação, saúde, saneamento básico, iluminação, qualidade da pavimentação das ruas, transporte público de qualidade, responsabilidade fiscal, entre outros) não pode ficar refém de slogans populistas e de receitas irrealizáveis. Os candidatos deverão mostrar capacidade de gestão, experiência, ousadia e criatividade.
Mas é preciso questioná-los a respeito dos temas de fundo que, aos poucos, vão moldando a cultura nacional. Penso, por exemplo, no 3.º Plano Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3). É um assunto que não pode desaparecer das nossas pautas. Trata-se de um projeto destinado a mudar profundamente a nossa sociedade.
O anúncio de Lula de que retiraria do PNDH-3 os pontos polêmicos se efetivou na quinta-feira passada. O presidente, de fato, retirou algumas propostas controvertidas. Apesar do aparente recuo, várias entidades não sentiram firmeza. A Igreja Católica, por exemplo, aprovou as mudanças com sérias reservas. Segundo o bispo dom Dimas Lara Barbosa, secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), "o aborto não foi excluído de maneira incisiva. Quando diz que é problema de saúde pública, o que isso quer dizer? Se for outra forma de justificar o aborto, nada muda".
As críticas mais duras às alterações vieram da presidente da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA), senadora Kátia Abreu (DEM-TO), que classificou as mudanças feitas no capítulo que trata da violência no campo como "uma maquiagem". O novo texto acabou com a audiência coletiva, que estava prevista na versão anterior, antes de uma decisão judicial sobre reintegração de posse de terras invadidas. Mas estabelece uma mediação em conflitos agrários, a ser feita pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), por institutos de terras dos Estados e pelo Ministério Público. "Não muda nada. Saiu a audiência e entrou a mediação. Não tem que ter intermediação em decisão judicial. Não se pode abrir mão do direito à propriedade e do direito à segurança pública." Para a senadora, com razão, a utilização do sistema de mediação vai obrigar o produtor rural a negociar com aqueles que "criminosamente invadem sua propriedade". Trata-se, por óbvio, de assunto de grande interesse público e não pode ser subestimado pela imprensa.
Não se pode permitir que as assessorias de comunicação dos políticos definam o que deve ou não ser coberto. O centro do debate tem de ser o cidadão, as políticas públicas, não mais o político, tampouco a própria imprensa. O jornalismo de registro, pobre e simplificador, repercute a Nação oficial, mas oculta a verdadeira dimensão do País real. Precisamos fugir do espetáculo e fazer a opção pela informação. Só assim, com equilíbrio e didatismo, conseguiremos separar a notícia do lixo declaratório.
O leitor espera uma imprensa combativa, disposta a exercer o seu intransferível dever de denúncia. Quer um quadro claro, talvez um bom infográfico, que lhe permita formar um perfil dos candidatos: seus antecedentes, sua história de vida, seu desempenho em cargos atuais e anteriores. Impõe-se, também, um bom levantamento das promessas de campanha. É preciso mostrar os eventuais descompassos entre o discurso e a realidade. Trata-se, no fundo, de levar adiante um bom jornalismo de serviço.
Os políticos, pródigos em soluções de palanque, não costumam perder o sono com o rotineiro descumprimento da palavra empenhada. Afinal, para muitos, infelizmente, a política é a arte do engodo. Além disso, contam com a amnésia coletiva. O jornalismo de qualidade deve assumir o papel de memória da cidadania. Precisamos falar dos planos e do futuro. Mas devemos também falar do passado, das coerências e das ambiguidades.
Transparência nos negócios públicos, ética, qualificação e competência são as principais demandas da sociedade. E são também as pautas de uma boa cobertura eleitoral. Deixemos de lado a pirotecnia do marketing e não nos deixemos aprisionar pelas necessárias pesquisas eleitorais. Nosso papel, único e intransferível, é ir mais fundo. A pergunta inteligente faz a diferença. E é o que o leitor espera de nós.

PAINEL DA FOLHA

A senha
RENATA LO PRETE
FOLHA DE SÃO PAULO 17/05/10

Mais do que qualquer outra, a expressão "abuso dos meios de comunicação", usada pelo ministro Marco Aurélio Mello no julgamento que multou o PT e Dilma Rousseff por realização de campanha eleitoral antecipada no programa partidário de dezembro, deixou aliados e adversários de orelha em pé. Para tal infração, a pena prevista na lei é clara: cassação do registro da candidatura. Ninguém espera que o TSE chegue a tanto, mas o comando petista sabe que se expôs ao risco com o programa de quinta passada, explicitamente dedicado à promoção da candidatura de Dilma pela voz de Lula. A oposição tenta calcular agora até onde poderá esticar a corda nos programas do DEM e do PSDB, que servirão de veículo para José Serra.


A dedo. Salvador, palco escolhido pelo PSDB para a convenção que lançará oficialmente a candidatura de José Serra, comanda a região metropolitana mais fortemente lulista, segundo as pesquisas.
Sorria! Como razão adicional para a opção pela capital baiana, tucanos dizem, brincando, que nenhum jornalista desembarcará ali contrariado.
Coadjuvante. Ao realizar sua convenção no mesmo 12 de junho escolhido pelo PSDB, o PMDB sabe que não terá a manchete do dia. Mas avalia que, com uma bela imagem da dupla Dilma Rousseff-Michel Temer, conseguirá ao menos dividir os holofotes.
Indispensável. Piada ouvida na campanha petista: depois de Lula dizer na propaganda de televisão que Dilma apareceu na sua frente carregando um laptop, no final de 2002, e ele descobriu como num passe de mágica que estava diante da futura ministra de Minas e Energia, vai chover gente portando o equipamento diante do presidente.
Em aberto. O mapa das alianças no Paraná continua para lá de confuso. Osmar Dias (PDT), que publicamente dá como perdida a tentativa de disputar o governo em aliança com o PT, será hoje o protagonista de um evento em Curitiba que muitos interpretam como lançamento de sua pré-candidatura. Beto Richa (PSDB), que julgava já ter atraído Dias para disputar a reeleição ao Senado em sua chapa, teme ir à homenagem e passar por uma saia justa.
Recolocação. Soninha Francine (PPS) deverá ser a adjunta de Andrea Matarazzo na Secretaria estadual da Cultura. A vereadora, que havia deixado o cargo de subprefeita da Lapa às vésperas do prazo de desincompatibilização para concorrer ao governo ou eventualmente a uma cadeira no Senado, acabou por desistir das urnas em 2010.
Contrapartida. O PDT, que vinha tentando emplacar o vice da chapa encabeçada pelo PT em São Paulo, até topa abrir mão da vaga em benefício da dobradinha "pura" Aloizio Mercadante-Eduardo Suplicy, mas com uma condição: indicar os suplentes de Marta e de Netinho de Paula (PC do B) ao Senado.
Vamos ver. Fala o deputado Paulinho da Força (PDT-SP): "O Emídio (de Souza, prefeito de Osasco e coordenador da campanha de Mercadante) me procurou para falar dessa ideia deles. Não acho que seja nenhum desastre, mas vamos ter que discutir com calma o que fazer".
Vai indo... Na tentativa de convencer Gabriel Chalita a disputar vaga no Senado mesmo fora da aliança petista, tendo como esteio apenas a candidatura ao governo do presidente da Fiesp, Paulo Skaf, dirigentes do PSB dizem ao vereador que não se preocupe, pois lá adiante o PT acabará rifando Netinho de Paula e se ocupando somente da campanha de Marta Suplicy.
...que eu já vou. Pouca gente leva tal hipótese a sério, mas de fato existe no PT quem tema ver Marta constrangida pelo passado de Netinho no assunto violência contra a mulher, fartamente documentado na internet.

com LETÍCIA SANDER e GABRIELA GUERREIRO
Tiroteio 
"O desvirtuamento de função foi tanto que quase se esqueceram de avisar que aquele, em tese, era o horário partidário do PT." 

Do deputado EDUARDO SCIARRA (DEM-PR), sobre o fato de o nome do partido ter sido mencionado uma única vez no programa levado ao ar na quinta passada, usado primordialmente para promover a candidatura de Dilma Rousseff.
Contraponto 
Vida dura Quando lhe perguntaram o que havia achado da proposta do líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), de antecipar o recesso para o início da Copa, em 10 de junho, retomando a normalidade dos trabalhos do Congresso apenas depois da eleição, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), saiu-se com esta:
-O conceito de férias se aplica de forma diferente aos parlamentares. Nós não temos férias. Temos atividades legislativas e políticas durante todo ano.
Ele contou ter ouvido de deputados da China que lá o Parlamento se reúne por cinco dias, a cada cinco anos:
-Isso não significa que não estão trabalhando. Estão, sim, em atividade legislativa e política permanente!

JAPA GOSTOSA

MAÍLSON DA NÓBREGA E FELIPE SALTO

Perigo à vista: a situação fiscal continua a piorar

Mailson da Nóbrega e Felipe Salto
O Estado de S. Paulo - 17/05/2010
 
Entre a segunda metade dos anos 1980 e os anos 2000, o Brasil deu passos vigorosos na construção de instituições fiscais modernas e sólidas. A Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) constituiu o coroamento dessa trajetória. Hoje considerada um padrão a ser seguido por outros países, a LRF - cujos dez anos acabam de ser comemorados - tem resistido às tentativas de eliminação de suas amarras. O PT, que votou contra o projeto e tentou derrubar a lei no Supremo, acabou por adotar suas regras.

Embora tenha abraçado os princípios de responsabilidade fiscal que abominava, o governo do PT adotou nos últimos anos sucessivas ações tendentes a piorar o regime fiscal, ainda que sem agredir a LRF. A crise financeira mundial funcionou como uma espécie de senha para o aprofundamento de gastos que haviam sido criados antes dela.

O governo as justificou como ações anticíclicas típicas dos períodos de contração do consumo privado e do investimento. A classificação é indevida. Gastos anticíclicos são os temporários, que podem ser suspensos após a exaustão da crise.

A partir do ano passado, diante da iminência de não cumprir metas fiscais, o que poderia afetar negativamente a credibilidade, o governo começou a lançar mão de artifícios para obscurecer os excessos, numa contabilidade criativa sem paralelo nestes anos de responsabilidade fiscal. Foi abatido do superávit primário um volume de gastos equivalente a 0,45 ponto porcentual do PIB. A meta de 2,5% do PIB foi cumprida com um esforço fiscal de apenas 2,05% do PIB.

Agora, no Projeto da Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) para 2011, o Executivo propõe que o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) seja simplesmente descontado sem limites, o que significa completa deturpação do conceito de meta fiscal. Apenas a título ilustrativo, suponha que o governo vença suas deficiências gerenciais e gaste, com o PAC, 3,3% do PIB em 2011, o equivalente à meta do superávit primário para o exercício. Isso significa que um esforço efetivo nulo permitiria ao governo "cumprir" a meta anual.

Nos últimos dias, o Ministério do Planejamento disse que enviará projeto de lei modificando o PLDO e incluindo um limite para os referidos gastos. Recomendável, ainda que insuficiente, já que os abatimentos continuariam a valer.

Desse modo, a prudência fiscal vai para o brejo. O governo passou a adotar medidas que, na prática, reinstituem a malsinada "conta de movimento" do Banco Central (BC) no Banco do Brasil, a qual permitia às duas instituições prover crédito subsidiado sem limite, à custa da elevação do endividamento público, sem transparência e longe do escrutínio do Congresso.

É o que está acontecendo com o suprimento generoso de recursos do Tesouro a instituições oficiais de crédito, em especial ao BNDES. A dívida bruta aumenta, mas o valor dos aportes do Tesouro ao BNDES é deduzido. Por aí as autoridades econômicas podem expandir a dívida pública a seu bel-prazer, sem se preocuparem, dado que não há impactos na dívida líquida.

A manobra já começa a ser detectada, contudo, em grau crescente pelos que analisam a dinâmica fiscal. Já não dá para esconder que a dívida bruta do governo geral tem assumido patamares cada vez mais elevados, tendo passado de 56,4% do PIB, em novembro de 2008, para 64,7% do PIB, em outubro de 2009. Ainda que mais recentemente os patamares tenham melhorado, por conta da redução das operações compromissadas - conduzindo o endividamento bruto a 60,4% do PIB, em março - e pelo efeito benéfico do crescimento do PIB sobre os indicadores fiscais, os movimentos contínuos de concessão de crédito devem manter a dívida bruta pressionada.

A dívida líquida segue aparentemente sob controle, mas a expansão da dívida bruta não mente. A situação está ficando periclitante - não tanto o cenário no curto prazo, que será auxiliado pela recuperação da atividade, mas sim sob a ótica dos efeitos que produzirá no médio prazo. Está prevista emissão adicional de títulos do Tesouro em favor do BNDES de mais R$ 80 bilhões, mesmo com o processo de recuperação econômica ocorrendo a todo vapor.

A mistura da contabilidade criativa com a alegre expansão da dívida do Tesouro via operações com o BNDES cria dois níveis de preocupação. Primeiro, em relação à piora do regime fiscal, associada à deterioração dos princípios de responsabilidade fiscal, que pode vir a nos custar caro no futuro, com a piora das avaliações sobre nossas condições de solvência.

Em segundo lugar, preocupa a expansão imoderada do endividamento bruto. Ambos os movimentos criam uma situação esquizofrênica. Numa ponta, um BC atento aos riscos de descontrole inflacionário aumenta a taxa de juros. Na outra, a equipe econômica adota um expansionismo fiscal injustificado, o que atiça a demanda já excessiva.

Chegou a hora de pôr fim à complacência em relação à piora da situação fiscal do País. O contingenciamento de gastos discricionários da ordem de R$ 10 bilhões, ainda que modesto e pouco efetivo para desaquecer a demanda, mostra que o governo começou a se preocupar. Antes tarde do que nunca.

ANCELMO GÓIS

Saiu pela culatra 
Ancelmo Góis 

O Globo - 17/05/2010

A juíza federal Luciana da Veiga Oliveira, de Foz do Iguaçu, PR, rejeitou um pedido de indenização de R$ 200 milhões feito pelas gigantes Alston Power e Voith Siemens contra a Itaipu Binacional.

As duas, responsáveis pela montagem e pelo transporte de turbinas da usina, alegavam prejuízos com a alteração do cronograma original do contrato de fornecimento das máquinas.

Pior...

A juíza determinou ainda que a Alston Power e a Voith Siemens paguem as custas do processo e os honorários dos advogados, de 10% da causa.

Ou seja, ainda terão de tirar do bolso uns R$ 20 milhões

Negócios da bola A Fifa reclamou que havia patrocinador da CBF sorteando bilhetes para a Copa da África. Diz que este tipo de ação é só para os parceiros da entidade planetária.

A CBF deu o troco. Reclamou que patrocinadores da Fifa, como Visa e Hyundai, estavam tirando uma casquinha da seleção brasileira.

Ou seja...

Amigos, amigos... negócios à parte.

Calma, santa A travesti Jane Di Castro, que vai cantar o Hino Nacional na Marcha contra o Preconceito, quarta, em Brasília, implica com o pastor Silas Malafaia: — É o maior incentivador da homofobia no Brasil. Queria estar num debate com ele para entender o motivo de tanta raiva.

Fator crack Caetano Veloso, embora odeie drogas, era favorável à legalização e ao controle de todas.

O baiano não mudou de ideia.

Mas acha que a prioridade agora é enfrentar a tragédia do crack, como contou em entrevista ao blog que Celso Athayde, fundador da Central Única de Favelas, lança amanhã.

Fala Caetano...

Nosso cantor disse: — Um dia, em Salvador, vi uma mulher totalmente destruída, andando na frente do táxi em que eu ia. Ela estava magérrima, toda manchada, arrancando uns cabelos da cabeça. Era uma visão poderosa. O motorista me disse, com naturalidade: “É crack.” Depois, vi meninos assim.

Decidi deixar meus pensamentos de legalização para mais tarde.

No mais...

Caetano é a favor da luz.

The big short’ A Editora Best Business comprou os direitos de publicação no Brasil do livro “The big short”, do americano Michael Lewis, há semanas líder de todas as listas de mais vendidos de não ficção nos EUA.

Trata-se de grande reportagem sobre um grupo de profissionais do mercado que se deu bem na crise.

Chutes na bunda O TRF do Rio condenou a União a indenizar em R$ 50 mil, por danos morais, a coleguinha Sheila Campos.

Em 31 de dezembro de 1999, na cobertura do réveillon no Forte de Copacabana, Sheila teria sido imobilizada por militares do Exército, xingada de “vagabunda” e “cachorra”, ficou sem a câmera e, diz seu advogado, Jorge Beja, ainda levou “chutes na bunda”.

Segue...

Tudo se deu porque Sheila, antes da chegada de FH, então presidente, fotografou o colega Fernando Bezerra sendo agredido por ter registrado a queda do toldo que cobria o local onde as autoridades ficariam.

Mais hospitaleiro O secretário Antônio Pedro lança hoje o programa Rio Mais Hospitaleiro, para capacitar profissionais de algumas áreas a lidarem com os turistas na Copa e nas Olimpíada

Aula para presos Luciano Huck vai fazer uma palestra na Universidade Federal Rural do Rio, amanhã, para uma turma que inclui presos em regime semiaberto.

IR A CEMITÉRIO é sempre um ritual doloroso para quem perde os seus. Mas, no Rio, o calvário das famílias parece maior, pois a conservação desses lugares, meu Deus, é muito ruim. Veja o caso deste pai, João Zacarias da Paz Sá, autor da foto. A cena é do Cemitério de Paquetá. Todo início de mês, seu João e a mulher vão cuidar, por conta própria, do túmulo de um filho que morreu prematuramente há oito anos. Mas o poder do casal é limitado. Por isso, desde 1ode maio, seu João pedia à Santa Casa para serrar o galho pesado de uma árvore que ameaçava tombar sobre o túmulo do filho. Apesar das inúmeras promessas, nada foi feito.

Até que, dia 10, veja você mesmo, o pesado galho caiu e quebrou o jazigo. Segundo eles, outro galho espesso já havia desabado dia 26 de abril sobre um túmulo vizinho, também sem providência da Santa Casa. É pena CLÉO PIRES, lindeza de atriz, ri de si mesma ao assistir a suas cenas num monitor do set de filmagem de “Qualquer gato vira-lata...”, novo longa de Thomaz Portella

MARINA SILVA

Riscos calculados

 MARINA SILVA
Folha de S. Paulo - 17/05/2010
 
HÁ QUASE um mês estamos assistindo, no golfo do México, ao pior desastre ambiental da história recente. A explosão da plataforma de petróleo da empresa British Petroleum (BP), que matou 11 pessoas, vem despejando quantidade incalculável -á se fala em 800 mil barris diários- de óleo cru e tóxico no oceano. E não se consegue conter o derrame.
O golfo do México é habitat de milhares de espécies, como a baleia cachalote, tartarugas marinhas e o atum azul, em extinção. Nessa área, a indústria pesqueira arrecada bilhões de dólares por ano. Só o Estado de Louisiana abriga 40% dos pântanos e mangues norte-americanos.
Mesmo com o pagamento de indenizações, as perdas em biodiversidade e os prejuízos econômicos e sociais são irreparáveis. Repete-se, aumentado, o pesadelo de 40 anos atrás, no Alasca, quando o naufrágio do navio Exxon Valdez derramou 250 mil barris de petróleo numa área particularmente sensível. Em casos como esses, é impossível quantificar o dano e recuperar de forma adequada os ecossistemas.
As petrolíferas têm intensificado a exploração de petróleo em águas profundas, o que requer altíssimos investimentos e capacidade tecnológica. Que, mais uma vez, se mostram insuficientes. Os riscos não foram efetivamente considerados, como constatou o presidente Barack Obama ao criticar a licença ambiental concedida à BP.
Ao mesmo tempo, o Congresso americano se prepara para revisar a legislação e tornar as medidas de segurança mais severas.
O Brasil tem que prestar enorme atenção a tudo isso, nesses tempos de expectativas pela exploração dos megacampos da camada de pré-sal. E é preciso que a sociedade tenha conhecimento não só dos benefícios mas também dos riscos dessa exploração, para que exija os cuidados preventivos necessários.
A discussão da partilha dos royalties e o desafio tecnológico que se coloca para a Petrobras são inseparáveis das providências de proteção ambiental.
É hora de pensar no licenciamento ambiental não como estorvo, como muitos fazem, mas como instrumento de defesa dos interesses da sociedade e do planeta. Esse mesmo licenciamento, tão atacado, desqualificado e negligenciado por setores do próprio governo, é a garantia para calcular riscos e prevenir ou minimizar acidentes.
Menosprezá-lo, tentar irresponsavelmente transformá-lo em ficção ou jogar para o futuro uma promessa mistificadora de que a tecnologia tudo resolverá pode causar danos irreparáveis.
Adotar o princípio da precaução, por outro lado, é, hoje em dia, um seguro inescapável para o desenvolvimento. Que o diga Obama.

GOSTOSA

RUY CASTRO

A Copa dos goles

 Ruy Castro
Folha de S. Paulo - 17/05/2010
 
RIO DE JANEIRO - Um tradicional festival de jazz -música que só interessa a adultos, e, mesmo assim, a uma fração deles- deixou de existir no Brasil há alguns anos porque não podia ser patrocinado por uma marca de cigarros. Já a seleção brasileira, que estará onipresente nos lares brasileiros dentro de três semanas, pode ser patrocinada por uma bebida alcoólica.
A dita bebida, uma cerveja, tomará o país em dimensões nunca vistas e por todas as mídias existentes, incluindo publicidade estática, indução subliminar e telepatia. Uma rima pobre -"brahmeiro", "guerreiro"-, pespegada aos jogadores, será o mote de milhões de crianças enquanto durar a Copa do Mundo, enfatizando, inclusive para os pais, a "naturalidade" do consumo de cerveja desde tenra idade.
Quinze por cento desses milhões desenvolverão alcoolismo dentro de dez anos. E, embora estejamos falando de futebol, isso não é um chute. É apenas a porcentagem de pessoas que desenvolvem a doença num universo humano com acesso livre a bebidas alcoólicas, o que sói ser o caso do Brasil. Não por acaso, esse é também o número estimado de alcoólatras no país: 28,5 milhões -15 % da população.
A ideia de que a cerveja não é uma bebida alcoólica -e, daí, apropriada a patrocinar atletas- tem espantosa circulação entre nós. Não há força capaz de sequer enquadrar sua publicidade em certos horários, como conseguiram com o cigarro (este banido de todos os veículos) e com as outras bebidas.
O patriota Dunga -aliás, um dos "brahmeiros" oficiais da campanha- não faz questão de que gostem dele, mas de que "gostem do Brasil". Pois saiba Dunga que, seja ou não o seu time campeão, o legado histórico da Copa de 2010 para o nosso futuro será medido não em gols, mas em goles. Muito apropriado para uma Copa dos copos.

CLÁUDIO HUMBERTO


Silêncio da Receita confirma violação

Uma semana após a denúncia da violação do sigilo fiscal de oficiais do Exército, a Receita Federal não se pronuncia sobre o assunto, nem mesmo para tentar negá-lo. Nos meios militares, essa atitude tem sido considerada a confirmação da notícia. A violação foi ordenada pelo Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República à Coordenação-Geral de Pesquisa e Investigação da Receita.


Bicos calados

Desde o início, esta coluna pediu explicações aos envolvidos na quebra de sigilo: GSI, Ministério da Fazenda, Receita Federal. Todos se calaram.


Ele se deu mal

O general Jorge Félix, ministro-chefe do GSI, negou a violação de sigilo ao Comando do Exército, mas o comprovante da Receita a confirmou.


Alvos e autoria

O documento da Receita, obtido pela coluna, prova que o GSI mandou fazer a investigação e lista os alvos: quatro generais e dois coronéis.


Não é novidade

A investigação fiscal sem ordem judicial foi do grupo "Alfa 1", designado na Receita para prestar esse tipo de serviço à Presidência da República.


Lobby quer mais

É inesgotável a imaginação e insaciável a gula do lobby dos cartórios no Congresso. Agora bolou um projeto destinado a encarecer o "custo Brasil" e atormentar ainda mais o cidadão com burocracia inútil. Entre outras barbaridades, prevê que fazendeiro do Acre, por exemplo, que comprar terras no Pará financiado por banco sediado em São Paulo, seria obrigado a registrar o negócio em cartórios dos três estados.


Como é hoje

Atualmente, o registro da compra em cartório é obrigatório apenas no estado onde se localiza o imóvel.


Presepada

Para obter cédula de crédito, hoje, o interessado negocia com o banco, assina e nada mais. Os lobistas querem obrigar o registro em cartório.


Estranho, é

Espanta a velocidade de tramitação de projetos de interesse do lobby dos cartórios na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara.

Não se amam

O presidente da ECT, Carlos Henrique Custodio, sonha com a demissão do diretor de Operações, Marco Antônio de Oliveira, e é correspondido. E a corporação sonha com a demissão dos dois.


Campanha

Segundo a ONG Transparência Brasil, foram gastos R$ 1,57 bilhão nas campanhas de 2006, um aumento de 130% em relação a 2002. Se neste ano o crescimento for igual, devem ser gastos R$ 3,6 bilhões.


Gastos

O PSDB foi o partido que mais gastou nas eleições de 2006: R$ 328 milhões, seguido pelo PMDB (R$ 284 milhões) e PT (R$ 250 milhões), diz o site Às Claras. Valores contabilizados, oficiais. Já o "por fora"...


Alô, MP

Segue inabalável na Fundação Sanepar de Previdência (Fusan) o prestígio da empresa Quality (que mudou de nome para "Infinity", após ser mencionada em denúncias no Congresso). A empresa atua na gestão de recursos de aposentados do Estado do Paraná.


Queria ser vice

O deputado José Guimarães (PT-CE), irmão de José Genoino, deve ser bem votado na candidatura à reeleição, mas ele queria mesmo era ser o vice de Cid Gomes, no Ceará. Mas foi preterido ainda por causa do flagrante da Polícia Federal do seu assessor com dólares na cueca.


Consumado

A Executiva nacional do PMDB vai "pré-oficializar" amanhã a indicação do deputado Michel Temer para ser o vice de Dilma Rousseff. O partido tenta criar o fato consumado para evitar surpresas na convenção.


Terror

Em Brasília, o sindicato dos servidores jogou combustível na entrada do prédio do FNDE, do MEC, ameaçando atear fogo nos servidores que "desobedeçam" a "ordem" de greve. A polícia fingiu que não viu.


FRASE DO DIA


"Precisa ver se é corte de verdade ou espuma"

PODER SEM PUDOR

Questão de estilo
O jornal denunciava que um funcionário da prefeitura paulista usava carro oficial em tarefas particulares, mas o chefe dele na administração regional da Lapa decidiu não exonerar o espertinho. O telefone toca em seguida:
- Vocês são uns bundões - esbravejou a petista, do outro lado da linha.
Era Luiza Erundina, a prefeita de São Paulo.

O ESGOTO DO BRASIL

SEGUNDA NOS JORNAIS

Globo: Brasil, Irã e Turquia devem anunciar acordo hoje

Estadão: Turquia diz que Irã aceitou acordo sobre combustível nuclear

JB: Euro: 1 trilhão foi pouco

Correio: Muito barulho e pouca ação tiram o sono do brasiliense

Valor: Na crise, cresce recompra de ações

Estado de Minas: BH transforma lixo em energia e lucro