quinta-feira, agosto 18, 2011

ARTHUR VIRGÍLIO - Clube dos Cafajestes?


Clube dos Cafajestes?
ARTHUR VIRGÍLIO
BLOG DO NOBLAT

O episódio da prisão de 38 funcionários do Ministério do Turismo, a começar pelo secretário-executivo da pasta, terminou superado pela discussão sobre o uso, correto ou incorreto, das algemas.

Esclareço que não sou favorável a abusos policiais e nem à humilhação de prisioneiros. Basta-me o corrupto ser preso, segura e adequadamente. Mas os fatos foram distorcidos a um ponto tal que, de repente, as algemas ficaram mais importantes que os delitos praticados contra o dinheiro da sociedade.

O Ministro Wagner Rossi, da Agricultura, protegido do vice-presidente Michel Temer, visivelmente enriqueceu exercendo cargos públicos. Mansão milionária em Ribeirão Preto e, agora, o tal jatinho de R$7 milhões.

Não tem como permanecer no cargo. Seu secretário-executivo, aliás, já foi demitido. Wagner Rossi, não! Hipocrisia pura, misturada com medo que a presidente Dilma demonstra ter do poderoso PMDB.

Menos de sete meses de governo e sete escândalos de porte registrados no passivo de um governo que envelhece a olhos vistos. Alfredo Nascimento vai à tribuna do Senado, ameaça, nas entrelinhas, contar o que sabe, e os líderes governistas reagem covardemente, com panos quentes, bem ao estilo da República do “rabo preso”.

Outro dia, vi na televisão episódio escatológico, passado numa pequena cidade mineira: todos os nove vereadores estão presos e suas esposas investiam furiosamente contra as câmeras e os jornalistas. Uma dessas senhoras colocava a mão direita sobre o órgão genital e berrava: “quer filmar? Então filma aqui”. E um dos vereadores: “nós somos parlamentares, não vai acontecer nada conosco”.

Mais para trás, um prefeito petista do Ceará fugiu de prisão preventiva num ônibus, acompanhado do vice-presidente da Câmara Municipal e mais 34 picaretas.

Pergunto a mim mesmo. Que país estamos legando aos nossos filhos e netos? Uma realidade da qual eles tenham razão de se orgulhar? Ou um grande Clube de

EDITORIAL - O GLOBO - A hora da escolha de Dilma


A hora da escolha de Dilma
EDITORIAL
O Globo - 18/08/2011

O Ministério dos Transportes/Dnit foi apenas o primeiro dos casos de flagrante desvio de dinheiro público que iriam se acumular na mesa de trabalho da presidente Dilma, como se previa. Se a palavra de ordem é "faxina", fica difícil, de fato, parar o processo de limpeza, diante da sujeira acumulada em oito anos de governo leniente com toda sorte de esquemas armados em Brasília, desde que ajudassem à "governabilidade" na gestão lulopetista.

Por sua vez, o Executivo não controla tudo - nem deve, nem pode. Por isso, enquanto Dilma retirava o entulho que encarecia e retardava projetos de infraestrutura de responsabilidade do Ministério dos Transportes, organismos de Estado - Polícia Federal, Ministério Público e Justiça - estavam por estourar um grupo de desvio de emendas parlamentares, organizado do começo (deputada Fátima Pelaes - PMDB/AP) ao fim (ONG Ibrasi, no Amapá). Sem faltar imprescindíveis conexões no Ministério do Turismo, ocupado por Pedro Novais, peemedebista do grupo maranhense de José Sarney, senador pelo Amapá.

O resultado da Operação Voucher aumentou o peso da missão ética sobre Dilma. E antecipou o esperado confronto das intenções de Dilma de injetar seriedade nos gastos públicos com o mais poderoso dos aliados, o PMDB, partido exímio em se localizar nas proximidades do Erário.

O primeiro choque para valer está em curso, devido a histórias desabonadoras em torno do Ministério da Agricultura, Pasta mais importante que a de Turismo. Bem mais cobiçada, principalmente pelas cifras que movimenta.

O ministro Wagner Rossi, indicado pelo vice Michel Temer, chefe máximo do PMDB paulista, viu se acumularem pontos de interrogação à sua frente e não resistiu. Além do caso do lobista com trânsito livre no ministério, principalmente na comissão de licitações, revelado pela "Veja", surgiu a história das relações nebulosas do ministro com a família proprietária da Ourofino Agronegócios. Pode ser tudo legal, mas causou estranheza que a empresa tenha recebido do ministério licença para fabricar vacina antiaftosa. E, além de financiar campanhas políticas do ministro e do filho Baleia Rossi (PMDB-SP), a Ourofino ainda encomendava vídeos institucionais na produtora de uma irmão de Baleia. Tudo em casa, a ponto de a família Rossi usar o jatinho da empresa, mostrou o jornal "Correio Braziliense".

Iniciada a faxina ética, é difícil suspendê-la sem que fique a má impressão de que o Planalto avalia menos a seriedade do delito que o tamanho da bancada de cada legenda ou grupo relacionado aos fartos indícios de falcatruas. Será negativo Dilma trocar a régua com que mediu o tamanho do balcão de negociatas do PR nos Transportes/Dnit por uma fita métrica mais camarada na avaliação dos esquemas na Agricultura. É preciso atenção, pois há sempre o risco de eles serem mantidos apesar da saída do ministro.

Enquanto a popularidade da presidente cresce nas classes médias - e certamente entre eleitores não petistas -, aumenta seu cacife político para enfrentar as chantagens em fase de armação no Congresso. Não se sabe se terá coragem de ir adiante. Se deseja fazer uma gestão digna, não tem escolha. Pedro Simon e sua frente anticorrupção no Senado dão um alento. Mas tudo depende de qual caminho a presidente escolherá.

CARLOS ALBERTO SARDENBERG - Capitalismo condenado?


Capitalismo condenado?
CARLOS ALBERTO SARDENBERG
O GLOBO - 18/08/11

O pensamento de esquerda, em baixa desde a queda do Muro de Berlim, ganhou alento com a falência do banco Lehman Brothers, o epicentro do colapso financeiro de 2008. Quem sabe a quebra de uma poderosa instituição de Wall Street fosse para o capitalismo o mesmo símbolo que a derrubada dos primeiros tijolos do Muro foi para o socialismo.

Passaram-se os meses, e o mundo, capitalista, não acabou. A crise não foi brincadeira, mas já no segundo semestre de 2009 apareciam os sinais de recuperação. Na virada de 2010 para 2011, parecia uma festa. Forte crescimento no mundo emergente, boa retomada nos EUA e na Alemanha. Aí, a história virou de novo.

A crise não acabara e se manifestava de outras maneiras ainda mais complicadas. Nesse clima aparece na imprensa internacional o artigo de Nouriel Roubini, "O capitalismo está condenado?", e ainda por cima com o destaque para esta observação: Marx estava certo quando disse que "a globalização, a louca intermediação financeira e a redistribuição de riqueza do trabalho para o capital poderiam levar o capitalismo à autodestruição". (Essa era a chamada, por exemplo, na revista eletrônica Slate.)

O economista Roubini não é socialista, muito menos marxista. É um teórico e intérprete do capitalismo, que traz a fama de ter previsto o colapso de 2008. Ora, se ele está dizendo que o sistema está "condenado", a coisa é séria.

A esquerda se animou de novo, os conservadores se assustaram. O que viria por aí? - perguntaram-se todos.

O começo do artigo acentua a inquietação. Roubini descreve uma crise que não tem saída. Resumindo, o sentido do texto é o seguinte: há diversos problemas gravíssimos, para os quais as soluções são inviáveis ou por razões econômicas ou políticas.

O ambiente social já mostra esse beco sem saída. As manifestações populares que pipocam por toda parte, diz Roubini, são movidas "pelas mesmas tensões e temas: crescente desigualdade, pobreza, desemprego e desesperança" - fantasmas que assombram o mundo.

Que fazer? Já se vê um novo mundo?

Não, Roubini não entrega isso. Para começar, a citação de Marx é relativizada. O pensador alemão não estava propriamente certo na previsão de fim do capitalismo, mas "parecia estar parcialmente certo". E, ainda assim, vem outra ressalva: "Sua visão de que o socialismo poderia ser melhor provou-se equivocada."

Em seguida, Roubini dá o tiro final nas esperanças da esquerda. A questão central hoje, diz ele, é "encontrar o correto equilíbrio entre mercado e a provisão dos bens públicos", para que as economias de mercado operem "como deveriam e como podem".

Para ele, tanto o modelo anglo-saxão - "laissez-faire e economia vudu" - quanto o europeu continental - "estado do bem-estar sustentado por déficits" - estão quebrados.

O economista sugere o caminho alternativo - e aqui a coisa não é decepcionante apenas para a esquerda. Vem uma relação de políticas em torno das quais há consensos, se excluída a extrema direita, e que vêm sendo tentadas por toda parte.

Reparem as propostas:

. estímulo fiscal (gasto público ou isenção de impostos) para investimentos produtivos em infraestrutura, de modo a gerar empregos;

. taxação progressiva, os mais ricos pagando mais impostos;

. estímulo fiscal de curto prazo e ajuste fiscal (corte de gastos e aumento de impostos) de médio e longo prazo;

. autoridades monetárias garantindo empréstimos de última instância para evitar corridas contra bancos;

. redução da dívida para famílias e outros agentes econômicos insolventes;

. estrita supervisão e regulamentação do sistema financeiro;

. desmantelar oligopólios e os bancos "muito-grandes-para-quebrar";

. países ricos precisam investir em capital humano, conhecimento e redes de segurança social.

Reparem: não tem nenhuma proposta para fechamento do comércio internacional, manipulação de moedas, avanço do Estado na economia, controle dos capitais privados, nacionalismos, etc.

Ao contrário, as sugestões cabem perfeitamente no pensamento clássico. Claro, a direita americana não aceita qualquer aumento de imposto, nem mais gasto público.

Mas é exceção. O governo conservador eleva impostos na Inglaterra, assim como na Alemanha. Não que sejam políticas unânimes e de fácil implementação. Sempre haverá o debate sobre quem deve pagar mais impostos e onde o governo gastará mais. Além disso, a coisa é localizada. Propor aumento de impostos faz sentido no México, onde a carga tributária é baixa. Já no Brasil...

O título original do artigo de Roubini diz "Is Capitalism Doomed?" - palavra esta que pode ser traduzida por "condenado", como fizemos, ou por "amaldiçoado". "Condenado" sugere que está acabado. Já um sistema pode ser "amaldiçoado" e continuar vivo. Deve ser isso. Maldito capitalismo, mas ainda não se inventou nada melhor.

ANCELMO GÓIS - Sob pressão


Sob pressão 
ANCELMO GÓIS
 O Globo - 18/08/2011

Dilma ficou surpresa com o abatimento de Wagner Rossi ao pedir demissão.

Na conversa, o ex-ministro disse que temia um ataque da imprensa à sua família.

Pescador de letras
O ministro Luiz Sérgio, da Pesca, enrolou-se com o texto, ontem, num discurso para empresários brasileiros e noruegueses, em Trondheim, na Noruega - e, digamos, pescou letras trocadas.

Disse que a baixa produção de pescado aqui se "basia" (ai!) em várias causas, e que é preciso resolver esta baixa "taixa" (aaii!). Além disso, falou ainda em "aviãos" (aaaiii!) e num "gordo intervalo de tempo" (hã?!).

Prêmio Nobel
Um dia depois do anúncio da concessão das primeiras 2.000 bolsas de estudos no exterior, o ministro Aloizio Mercadante fechou um acordo pelo qual a israelense Ada Yanath, Prêmio Nobel de Química em 2009, fará pesquisas no Brasil nos próximos três anos.

Era só o que faltava
O ex-ministro Wagner Rossi disse que só um político poderia pautar todas essas reportagens de denúncia.

Sobrou para José Serra, também acusado no Projac de ter mandando matar a Norma de "Insensato coração".

"Lei Barretão"
O capítulo de cotas para a produção local da nova lei da TV a cabo bem poderia se chamar "Lei Barretão". Nos últimos anos, Luiz Carlos Barreto, 83 anos, acampou no Congresso.

A lei estabelece o mínimo de três horas e meia semanais de exibição de produção brasileira.

Segue...
Barretão diz que as regras da Organização Mundial do Comércio admitem este tipo de cota:

- É para compensar a norma que impede países de sobretaxar a importação de bens culturais, como fazem com outros produtos. Os EUA, por exemplo, taxam nosso etanol.

PAULO SANT’ANA - Rumo ao paredão

Rumo ao paredão 
PAULO SANT’ANA
ZERO HORA - 18/08/11

Eu sou um democrata e detesto ditadura.Mas, se eu fosse ditador, tivesse todos os poderes, tomaria as seguintes medidas:

1) Mandaria fuzilar todos os donos de garagens de Porto Alegre que cobram mais de R$ 10 por hora de estacionamento;

2) Mandaria fuzilar todos os motoristas de POA que imprimissem mais de 100 km/h em seus carros, no perímetro urbano;

3) Mas, antes deles, mandaria fuzilar todos os motoristas que infernizam os que estão na frente deles na fila e a única coisa que desejam é ultrapassar com rudeza ou violência os que lhes antecedem. Fuzilaria a todos esses malditos;

4) Mandaria fuzilar todos os que falam no celular dentro do elevador;

5) Mandaria fuzilar todos os moradores de POA que jogam lixo na rua, fora dos locais coletores;

6) Mandaria fuzilar todos os que ocupam vagas de idosos e deficientes físicos nos estacionamentos;

7) Mandaria fuzilar todos os grandes cantores que, em meio aos seus shows, depois de interpretarem várias canções de compositores célebres, dizem o seguinte: “Agora vou cantar uma música de minha autoria”;

8) Mandaria fuzilar, no paredão, todos os empregadores que não dão emprego para pessoas de mais de 50 anos, para negros, para obesos, para homossexuais e para pessoas que não têm “boa aparência”;

9) Mandaria fuzilar quem criou, em plena consciência, essas intermináveis e definitivas filas de consultas e cirurgias do SUS. E a seguir fuzilaria todos os governantes que têm cacife e poder para acabar com essas filas e fingem normalidade;

10) Mandaria executar na cadeira elétrica todas as pessoas que não entenderam a piada e mesmo assim desferem gargalhadas estrondosas;

11) Mandaria enforcar todos os megalomaníacos que não têm motivo para sê-lo, principalmente os burros congênitos;

12) Mandaria fuzilar todos os políticos que têm mandato e que entram para a base aliada só para nutrir suas vantagens pessoais;

13) Mandaria executar em praça pública todo aquele que, numa conversa, não permite ser interrompido, mesmo adivinhando que quem interromper irá expender argumento mais interessante que o dele;

14) Mandaria fuzilar todos os chatos, sem exceção, inclusive a mim próprio, caso me permitisse ouvir qualquer chato por mais de três minutos;

15) Mandaria fuzilar todas as prostitutas que tivessem orgasmo e as esposas que não o tivessem e o fingissem;

16) Mandaria anistiar todas as pessoas que, depois de conhecerem meu currículo humanista, pudessem pressupor que eu seria capaz de me tornar ditador e capaz de mandar fuzilar alguém.

CLÓVIS ROSSI - Sierra Maestra não é em Londres

Sierra Maestra não é em Londres
CLÓVIS ROSSI 
FOLHA DE SP - 18/08/11

Tumulto no Reino Unido foi precedido de queda na criminalidade, para o nível mais baixo desde 1995


Há uns sete ou oito anos, durante um passeio por Londres, minha filha, que então morava lá, soltou: "Pai, você não imagina como é bom poder caminhar sem ficar olhando para trás".
Era a observação de quem recém saíra do "sempre alerta" a que somos obrigados em São Paulo. Fico imaginando se ela repetiria a frase agora que Londres andou pegando fogo, se ainda morasse lá.
Suspeito que sim. Ou melhor, as estatísticas oficiais sugerem que sim: segundo o "British Crime Survey" 2010/11, a taxa de violações da lei "está agora perto do mais baixo nível jamais registrado". Em números: no ano passado, houve 10 milhões de incidentes criminais a menos, na comparação com 1995, o ano que registrou o pico da criminalidade.
De quebra, a estatística, como comenta o "Financial Times", machuca o discurso do primeiro-ministro David Cameron, que considerou os ataques da semana passada a culminação de "um colapso moral em câmera lenta".
Torna também exagerada a punição aos que convocaram quebra-quebra, convocação de resto frustrada. Só apareceu a polícia. Têm, portanto, menos seguidores do que o número de anos de prisão (quatro).
Não é por aí que se vai atacar nem mesmo uma das muitas explicações, supostas ou reais, para a baderna, a saber: uma força policial fraca e/ou racista e/ou brutal; pais ausentes; dependência de subsídios governamentais que acostumaram mal uma parte da juventude; multiculturalismo; tolerância com as gangues em escolas e comunidades carentes; exclusão social; cortes nos gastos sociais; a crescente brecha entre ricos e pobres; o consumismo como obrigação inescusável.
Essa é a lista, não exaustiva, colhida da mídia britânica. Esqueci alguma? É até possível, provável mesmo, que a soma de todas as explicações seja a forma correta de analisar o que ocorreu. Mas eu tenho sérias dúvidas quanto a politizar demais o tumulto, mesmo aceitando o óbvio fato de que a política permeia tudo, da questão social à segurança.
Afinal, como Anne Applebaum comentou no "Washington Post", "se os egípcios na praça Tahrir queriam democracia e os anarquistas em Atenas queriam mais gasto público, os encapuzados nas ruas britânicas queriam televisores de tela plana de 46 polegadas e HD". Não é exatamente o que eu chamaria de reivindicação político-social, ao contrário do que parecem pensar esquerdistas que raciocinam por "default" e acham que qualquer baderna é uma revolta contra o capitalismo e/ou o neoliberalismo.
Afinal, lembra também Applebaum, "houve saques em Londres depois do Grande Incêndio de 1666", antes, portanto, da invenção do capitalismo, e mesmo durante os blecautes provocados pelos bombardeios da aviação nazista, na Segunda Guerra Mundial, antes, portanto, da invenção do neoliberalismo.
Que o capitalismo gera exclusão e que está aumentando a desigualdade é fato. É igualmente fato que surgiu um saudável movimento de "indignados".
Mas confundir baderna com revolução social equivale a conferir a medalha Che Guevara do Mérito ao PCC ou ao Comando Vermelho.

VINÍCIUS TORRES FREIRE - À sombra da economia em torpor


À sombra da economia em torpor
VINÍCIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SP - 18/08/11

"AS PERSPECTIVAS para a economia global estão ficando sombrias", diz a primeira linha do relatório bimestral da "Economist Intelligence Unit" (EIU) com data de setembro.
A EIU é a unidade de pesquisas econômicas do grupo que edita a revista "The Economist".
Que o prognóstico é sombrio a gente também sabe. A graça ou desgraça do relatório da EIU está em que eles são até bem otimistas.
Portanto, não esperam recessão nos EUA, na Europa e muito menos, pois, na economia mundial.
Em julho, a EIU previa que os Estados Unidos cresceriam 2,4% neste ano e 2,5% em 2012. Agora, as estimativas são de 1,7% e 2%, respectivamente (parte da mudança se deveu ao fato de o PIB do primeiro trimestre dos EUA ter sido brutalmente revisado para baixo, neste mês).
Para o Brasil, a previsão de crescimento baixou de 4% para 3,8%.
Os países da eurozona cresceriam apenas 1,7% em 2011 -a previsão anterior era de 2%. Mas o pessoal da EIU escrevia sem saber dos resultados horríveis dos PIBs do segundo trimestre na Europa.
Note-se de passagem que, se os países da zona do euro crescerem o estimado pela EIU neste ano, seu PIB ainda estará no nível de meados de 2007. Quatro anos de estagnação. Pode ser ainda pior.
Onde está o otimismo? "Embora seja difícil identificar fontes confiáveis de crescimento nos próximos meses, continuamos a acreditar que a desaceleração da primeira metade do ano deveu-se em parte a fatores temporários", diz o relatório (tradução deste colunista).
Ainda voltaria uma brisa de crescimento depois da calmaria causada pelos efeitos do terremoto no Japão e pela alta dos preços da comida e dos combustíveis (que subiram também devido à "especulação", favorecida pelo excesso de dinheiro barato no mundo, diz até a EIU).
O desemprego nos EUA voltaria a cair de modo "sustentável, embora decepcionante". Baixaria também o nível de endividamento dos consumidores, que então poderiam ficar mais propensos ao consumo.
"O lucro das empresas americanas como proporção do PIB está no nível mais alto em mais de meio século, indicando que as companhias têm os meios de contratar [empregados] assim que se sentirem mais confiantes em relação ao crescimento", diz o relatório da EIU.
Além do mais, como a produtividade cresceu de modo muito rápido em 2009-10, as empresas não podem mais "depender de ganhos de eficiência para sustentar seu crescimento". Ganho de produtividade, aqui, significa apenas que as empresas demitiram aos montes.
Mesmo assim, fazia 50 anos que os lucros não eram tão bons.
O que minou esses fundamentos da recuperação econômica no mundo rico, segundo a EIU, foi, em primeiro lugar, o choque causado pela nova rodada de deterioração da crise da dívida europeia (na verdade, uma "crise contínua", diz a EIU").
A seguir, o abalo maior, especialmente na moral dos agentes econômicos, foi causado pelo conflito político alucinado a respeito do aumento da dívida dos EUA.
Por fim, como resultado dessas crises, os governos cortarão ainda mais despesas, tirando mais impulso do crescimento já pífio. O que pode vir de pior? A EIU fala claramente no risco de desagregação da união monetária europeia.

CONTARDO CALLIGARIS - "A Árvore da Vida" e "Melancolia"

"A Árvore da Vida" e "Melancolia"
CONTARDO CALLIGARIS 
FOLHA DE SP - 18/08/11

Insegurança e narcisismo: queremos ser os únicos a "perceber" e a denunciar a falsidade do mundo


No sábado passado, assisti a dois filmes: "A Árvore da Vida", de Terrence Malick, e "Melancolia", de Lars von Trier.

Assistindo ao filme de Malick, pensei no meu professor de literatura no ginásio (acho que se chamava Massariello). Ele nos apresentou à poesia de Giacomo Leopardi, que líamos com gosto, e logo administrou uma ducha fria: "Leopardi era bom poeta, mas não um grande". "Por quê?", perguntamos.

Ele explicou: "Leopardi, em sua breve existência, cantou a juventude que passa rápido demais, a morte que se aproxima, a natureza que não é uma mãe amorosa, o infinito no qual descobrimos nossa insignificância, a vida que não responde às promessas que ela nos fez quando éramos crianças. Vocês gostam de seus poemas porque essas são as questões preferidas pelos adolescentes e por todos os que não conseguem enxergar e amar a vida concreta".

A vida concreta, para ele, era o mundo -desde "as mulheres, os cavalheiros, as armas, os amores" até o pipoqueiro na esquina. Também segundo ele, para justificar a existência desse mundo concreto (grandioso ou trivial, feio ou bonito), bastava a revelação de seu charme, de sua "poesia".

Pois bem, Malick (ou seu narrador) é assombrado pelas lembranças (que ele apresenta admiravelmente) da brutalidade de seu pai, da morte de seu irmão etc. Problema: como não perder de vista Deus e o sentido do mundo diante das inexplicáveis injustiças divinas?

Solução: tente contar sua história começando pelo Bing Bang e passe pelas águas-vivas, pelos dinossauros, pelo meteorito que os extinguiu, até chegar a você. Depois de uma hora de erupções vulcânicas e frêmitos de células no estilo "National Geographic" (com uma trilha sonora na qual Justine, a protagonista de "Melancolia", diria que só falta a nona de Beethoven), tudo fará sentido: a morte dos que você ama, o mal que Deus permite e o que você cometeu parecerão participar do milagre que são a existência do universo, a árvore da vida e o plano divino. Aleluia!

Problema: no fim, o mundo concreto terá sido justificado por uma transcendência (a mão de Deus no grande esquema das coisas). Isso é ótimo para um ensaio ou para uma pregação. Para a arte e a poesia, melhor esperar o fim da adolescência e repassar, diria o professor Massariello.

Eu tinha o receio de que "Melancolia", de Lars von Trier, fosse uma espécie de inverso simétrico do filme de Malick: uma meditação sobre a gratuidade da nossa existência, que talvez Massariello achasse tão adolescente quanto "A Árvore da Vida". Mas não foi nada disso.

Parêntese: vários comentadores declaram que se trata de um filme sobre o mal de hoje, a depressão, só que esta não é a doença do nosso tempo, e sim, sobretudo, uma doença que nosso tempo gosta de diagnosticar porque acha que encontrou a pílula certa para curá-la.

Continuando, o mal do qual sofre Justine consiste em perder interesse pela vida concreta, a ponto de não tolerar o que lhe parece ser a farsa de sua própria festa de casamento.

Em geral, esse cinismo cético é fruto de 1) uma consciência moral terrível, pela qual toda experiência concreta, sobretudo se for prazerosa, deve ser culpada ou 2) uma extrema insegurança compensada por uma exaltação narcisista; assim: sou o único a "perceber" que tudo é falso -com isso, sou superior aos outros, ninguém me engana. Essa posição é frequente na adolescência; pense no jovem que, no baile, desesperado por não conseguir se integrar, fica sentado denunciando mentalmente a impostura e os simulacros na valsa dos que dançam.

Nota. A mãe de Justine é clinicamente perfeita. Passando pelo crivo de seu sarcasmo, tudo é apenas hipocrisia: não sobra um mundo no qual a gente possa querer encontrar um lugar.

No "Nascimento da Tragédia", Nietzsche conta que Sileno, companheiro de Dionísio, tendo que responder à pergunta "O que é melhor para o homem?", disse: "O melhor de tudo é inteiramente inatingível: não ter nascido, não ser, nada ser".

Nietzsche simpatizava com Sileno e não recorria a transcendências (divinas ou não) para justificar o mundo. Sua solução era que a vida se justificasse pela arte ou, como dizia Massariello, pelo charme que a poesia lhe confere.
Bom, Von Trier conseguiu dar sentido (e charme) ao fundo do poço. Não perca.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

Indústria negocia com governo mais medidas para defesa comercial
MARIA CRISTINA FRIAS
FOLHA DE SP - 18/08/11

Além da redução da alíquota de 1,5% sobre o faturamento, estabelecida em contrapartida à desoneração da folha de pagamentos de quatro setores, representantes da indústria negociam com o governo mais medidas de defesa comercial.
Com a crise, crescem exportações de manufaturados para o Brasil, argumentam.
'É preciso uma fiscalização maior, com comparação de preços de exportados no exterior', diz Robson de Andrade, presidente da CNI.
Segundo Andrade, fabricantes chineses mandam ao Brasil máquinas com preços de US$ 4 a US$ 5 por quilo, enquanto vendem a outros países por cerca de US$ 25.
A entidade fez levantamento de preço para servir de subsídio à Receita. Também serão levadas 'especificações técnicas' ao Inmetro.
'Há importados que não seguem as normas brasileiras, enquanto alguns segmentos, como de ar condicionado, estão quase fechando.'
Quanto à redução da alíquota sobre faturamento para o setor de confecções, Andrade defende que seja no mínimo 30% menor do que a cobrança dos 20% sobre a folha de recolhimento do INSS.
Paulo Skaf, da Fiesp, frisa a necessidade de o país ter preços referenciais, acelerar e aprimorar a investigação sobre dumping.
Ele lembra que o país impôs sobretaxa para armação de óculos, escova de cabelo e outros, 'mas não adiantou. Há triangulação. O volume que vinha da China passou a vir de Taiwan.'

REFORÇO HOSPITALAR
A Amil retomou a construção de um hospital que havia sido planejado pela Medial Saúde em São Paulo.
As obras, interrompidas após a compra da Medial pela Amil, em 2009, devem ser encerradas entre o final de 2012 e o começo de 2013.
O investimento no hospital, sem contar o valor da compra do terreno, foi de cerca de R$ 120 milhões, de acordo com o presidente da Amil, Edson Bueno.
'Fizemos algumas alterações em relação ao projeto inicial', diz Bueno.
O novo hospital, que estará localizado na avenida Brigadeiro Luis Antônio, terá 193 leitos e 28 mil m2.
Até o final de 2012, a Amil pretende inaugurar o centro médico do Hospital das Américas, na Barra da Tijuca.
'Nos últimos anos, o Rio de Janeiro tem tido um grande crescimento econômico, com melhoria da segurança e da qualidade de vida, mas ainda é carente de hospitais', afirma Bueno.
O investimento no Hospital das Américas, que será composto por cinco prédios e terá 493 leitos, foi de cerca de R$ 240 milhões.

Embargo sul-africano à carne suína deve cair em breve

O governo brasileiro espera que o embargo do governo da África do Sul à importação de carne suína do Brasil caia na próxima semana.
O Brasil representa 10% do volume exportado de carne suína no mundo, mas tem atualmente suas vendas muito concentradas na Rússia e na União Europeia.
A restrição sul-africana foi declarada em 2005 e incluía o embargo à carne bovina, em razão de um surto de febre aftosa bovina.
Entre 2005 e 2009, o Brasil deixou de exportar para aquele país pelo menos US$ 30,3 milhões em carne suína e US$ 16,4 milhões em carne bovina por ano.
A carne consumida pelos sul-africanos passou a ser importada principalmente da França e do Canadá. Em 2010, caiu o embargo de carne bovina para áreas livres de aftosa no Brasil, mas manteve-se a restrição à suína.
Em contrapartida, o país impôs uma barreira e passou a exigir de exportadores sul-africanos a realização dos caros testes de malvidina, que mensuram a quantidade de um pigmento no vinho.
Em junho passado, foi feito um acordo verbal para acabar com a exigência de testes no vinho da África do Sul, em troca da suspensão das restrições sanitárias à carne suína do Brasil.

Caloria A Kopenhagen investiu R$ 5 milhões no desenvolvimento de quatro novas versões de sua linha clássica Lajotinha. A expectativa da empresa é que as vendas do produto atinjam 16% do faturamento, ante os atuais 4%.

Diga X A Sony lança no mercado nacional uma câmera profissional digital, fabricada no Brasil e com investimentos de cerca de R$80 milhões. O modelo NEX-C3 possui resolução máxima de 16.2 megapixels e fotos panorâmicas 3D.

AULA DE PETRÓLEO
A Petrocenter, especializada na formação de profissionais para a área de petróleo e gás, vai abrir ao menos seis unidades no primeiro semestre de 2012.
Entre as inaugurações previstas estão a primeira franquia em Santos e duas unidades no Nordeste.
'Passamos a importar parte dos equipamentos da Índia, o que barateou os gastos', diz o proprietário da rede, Samuel Pinheiro.
A empresa negocia a capacitação de estrangeiros, desde que eles venham para o Brasil. 'Não iremos para o exterior, mas podemos treinar em inglês.'
Pinheiro, 25, abriu o negócio após perceber que só o governo formava profissionais para o setor. 'A iniciativa privada tem que tomar a frente no desenvolvimento do país.'

CRÉDITO NA INDÚSTRIA
Apesar de uma queda da produção industrial paulista registrada em junho, segundo pesquisa regional do IBGE, o setor foi o que mais requereu crédito da agência de fomento paulista em julho.
A Nossa Caixa Desenvolvimento desembolsou quase R$ 10 milhões no mês e chegou ao total de R$ 339 milhões em financiamentos desde que entrou em operação, em março de 2009.
A indústria foi responsável por cerca de 60% do montante emprestado pela agência no mês passado. Os municípios do interior foram destino de 80% dos negócios.

Negócios na... A B2L, grupo de advogados que atua na área de aquisições, fechou seus primeiros R$ 155 milhões em operações no setor de alimentos, construção e frigorífico.

...mesa A empresa, que não atua na área jurídica dos negócios, mapeou investimentos pelo país e reúne em evento neste mês André Sá (BR Pharma) e Wilson Poit (Poit Energia).

HOSPEDARIA NO NORTE
A rede Accor fechou contrato de R$ 12 milhões para abrir seu primeiro hotel no Acre. Com bandeira Ibis, a unidade será instalada em Rio Branco e inaugurada no segundo semestre de 2013.
Até 2015, a rede terá investido R$ 120 milhões no Norte do país e construído outros oito hotéis na região.
Manaus irá receber quatro das novas unidades. As outras ficarão em Belém (PA), Palmas (TO), Porto Velho (RO) e Santarém (PA).

com JOANA CUNHA, VITOR SION e LUCIANA DYNIEWICZ

JOSÉ SIMÃO - Tampa de bueiro mata Norma!

Tampa de bueiro mata Norma!
JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SP - 18/08/11 

Ninguém vai saber quem matou. A polícia tá ocupada em descobrir quem matou o Salomão Hayala! Rarará!


Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Eu sei quem matou a Norma! O Salomão Hayala! Rarará! Quem matou a Norma? Quem matou a Odete Roitman? Quem matou o Salomão Hayala? Chama o Datena! Eu sei quem matou a Norma! Uma tampa de bueiro! Por isso que ela disse: "Não faça uma besteira dessas".
Eu sei quem matou a Norma! Uma bala perdida! A bala entrou pela janela e gritou pra Norma: "Você está perdida!". Quem matou a Norma? Se for a norma gramatical, foi o ex-presidente. Rarará!
E, se depender da polícia, ninguém vai saber quem matou a Norma. Nem o Gilberto Braga! Ninguém vai saber quem matou a Norma porque a polícia tá ocupada em descobrir quem matou o Salomão Hayala! Rarará! Quem matou a Norma? Pode ser a Natalie Perigueti. Só pra aparecer no programa do Datena. E pra mãe e pro irmão darem entrevista exclusiva no programa da Sonia Macabrão!
Quem matou a Norma? Eu quero saber quem matou a minha palmeira-leque-da-china lá na casa da praia. Gilberto Braga, me ajuda! Ou então foi suicídio. A Norma foi suicidada! Ela era torcedora do Palmeiras e resolveu apelar para o suicídio. Rarará!
E, quando eu contei para um amigo "A Norma vai morrer hoje", sabe o que ele gritou? "Novela de merda!" Rarará! E o Brasil é o país do "quem matou". Quem matou Norma? Quem matou Salomão Hayala? Quem matou Odete Roitman? Quem matou a juíza Priscila Acioli? Quem matou Eliza Samudio? E quem matou a torcida brasileira de vergonha?
E a violência está tão banalizada que um amigo falou pro filho: "Sua avó morreu". E o menino: "De tiro ou de facada?". De nós nas tripas. Rarará!
É mole? É mole, mas sobe! Ou como disse aquele outro: é mole, mas trisca pra ver o que acontece!
E esta: "Miss Julho 2011 da 'Playboy' foi detida no aeroporto de Orlando com uma pistola na bolsa". Como é o nome dela? Shanna Marie. Rarará! A Shanna botou a pistola na bolsa! É que a Shana não gosta de viajar desacompanhada. Então bota a pistola na bolsa! E aí descobrem quem matou a Norma e em seguida matam quem matou. Aí o Brasil tem que descobrir quem matou quem matou! Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

MERVAL PEREIRA - Dilma avança


Dilma avança 
MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 18/08/11

A presidente Dilma conseguiu manobrar com muita habilidade a saída de Wagner Rossi do Ministério da Agricultura, a ponto de se livrar de mais um assessor direto envolvido em corrupção sem criar um clima de impasse com o PMDB, pelo menos aparentemente. E avançou na sua política de "limpeza ética".
O vice-presidente Michel Temer, fiador de Rossi no ministério, teve o bom senso de levar o apadrinhado a pedir demissão antes que perdesse o controle da situação, mas certamente não deve estar satisfeito. Mas ganhou o direito de indicar o substituto, sem o direito político de errar novamente.
O ministro demitido, além de ser do PMDB, é do PMDB paulista, cuja organização está sob o comando de Temer, depois da morte de Orestes Quércia.
E é em SP que repercutem algumas demissões, como a de Mario Moysés, ex-secretário-executivo de Marta Suplicy quando ministra do Turismo.
Ontem, o TCU aumentou as agruras de Marta, virtual candidata à prefeitura de SP, decretando o bloqueio de Moysés, que era presidente da Embratur e foi apanhado pela Operação Voucher.
E não foi por acaso que o ex-ministro Wagner Rossi, na carta de demissão, insinuou que as acusações contra ele têm a ver com a política paulista.
A referência velada ao tucano José Serra, que seria, segundo ele, "o único político brasileiro" a poder manipular o noticiário da imprensa em seu benefício, é mais um dado da disputa da prefeitura paulista.
O governo, de maneira geral, e o PT e o PMDB em especial, estão convencidos de que Serra será o candidato do PSDB à sucessão do prefeito Gilberto Kassab e colocam na sua conta as denúncias contra o governo, dando a Serra um poder quase sobrenatural, que se ele possuísse teria tido mais sorte nas vezes em que disputou a Presidência da República.
O PMDB paulista está empenhado em fazer do deputado federal Gabriel Chalita seu candidato à prefeitura, e considera que as denúncias contra Rossi, um dos principais apoios de Chalita, juntamente com Temer, fazem parte dessa disputa.
É evidente que é mais fácil para quem sai do ministério sob acusações culpar manobras políticas ou a imprensa por sua desdita.
Existem dois pontos a serem considerados na questão da segurança pública no Rio: o caso do assassinato da juíza Patrícia Lourival Acioli, da 4ª Vara Criminal da Comarca de São Gonçalo, é gravíssimo, um atentado à democracia, e, se não for esclarecido, com os mandantes e assassinos punidos, abre-se o campo para uma prática perigosa que já aconteceu em outros países, como a Colômbia, e em outros estados brasileiros, como o Espírito Santo quando era dominado por grupos mafiosos que tomaram conta de toda a estrutura do estado, até mesmo da Justiça e da Assembleia Legislativa, com a conivência do governo estadual.
Foi o primeiro e único estado até hoje que, por um período, foi dominado por uma organização criminosa, desbaratada com a reação conjunta da sociedade e dos políticos, com o auxílio de forças federais.
Aqui no Rio, não temos, apesar desse assassinato brutal, e de fatos anteriores em que agentes penitenciários foram fuzilados, clima de descontrole, e por isso mesmo esse crime tem de ser desvendado e seus autores e mandantes, punidos exemplarmente.

O combate à bandidagem nos morros do Rio, carro-chefe do governo Sérgio Cabral, tem tido inegável êxito.
O estado está paulatinamente retomando o controle de territórios que eram dominados por traficantes de drogas.
As Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) têm se revelado eficazes nessa retomada, e a decisão de levar os serviços sociais essenciais a esses locais para reafirmar a presença do Estado, tudo indica, poderá consolidar essa política.
Mas está surgindo nos últimos dias efeito colateral dessa política que é muito perigoso, e que o governo deveria ter se organizado para combater. Trata-se da onda de assaltos pela cidade, que tem no ônibus tomado por bandidos no Centro da cidade o episódio exemplar.
A polícia agiu de maneira temerária e, embora tenha conseguido salvar os reféns e prender os bandidos, colocou em risco não apenas os passageiros do ônibus como os transeuntes, numa demonstração de que não foi treinada o suficiente para minimizar os riscos. Tantos anos depois do episódio do ônibus 174, não aprendemos a atuar em situações de risco como essas.
O assalto ao carro do treinador Zagallo, de 80 anos, quando levava sua senhora para um hospital em Botafogo, também é exemplar do surto de ações criminosas em diversos pontos da cidade, com sequestros-relâmpago, arrastões e assaltos a locais de turismo, principalmente hotéis.
Esses episódios são sinais de que os morros foram ocupados, e os bandidos expulsos desses locais estão atuando de outra forma. E aumenta a insegurança na cidade com assaltos a apartamentos, a carros nos sinais, a transeuntes.
Seria de se esperar que esse tipo de crime aumentasse, e que muitos desses criminosos fossem para outras cidades do interior, onde o índice de criminalidade tem crescido.
Inclusive porque a tática do governo é avisar com antecedência que vai invadir este ou aquele morro, dando tempo para os bandidos saírem sem resistir à chegada da polícia, para evitar banho de sangue e colocar em risco os moradores.
Isso porque a ideia principal das UPPs não é acabar com o tráfico de drogas, mas com o domínio dos bandidos sobre o território das favelas.
Interessa mais a essa política liberar as favelas para os cidadãos do que propriamente impedir o tráfico e prender os traficantes. É razoável que se tenha essa estratégia, mas é o caso de perguntar: onde estão os bandidos, foram para onde?
Diz o governo que, daquele grupo que fugiu do Morro do Alemão, com a televisão mostrando a famosa imagem dos bandidos em debandada, já foram presos mais de 200.
Pode ser, mas há muitos outros soltos pelas ruas do Rio, a exigir uma estratégia específica de reforço do policiamento.

JANIO DE FREITAS - A defesa do futuro


A defesa do futuro
 JANIO DE FREITAS
FOLHA DE SP - 18/08/11

A estratégia militar e a diplomacia nacional têm que ser associadas na elaboração e integradas na execução


NO MINUCIOSO RETRATO que traçou de Nelson Jobim como pessoa (carente até "de virtudes básicas") e como ministro que "fez mal à nação" e "já vai tarde", o general Luiz Gonzaga Schroeder Lessa tange um assunto que, a rigor, precisa ter prioridade na agenda do novo ministro da Defesa, para corrigir e evitar um duplo desvio - o de muitos bilhões para fins errados e o da defesa do Brasil para o futuro talvez problemático.
Diz o general em seu artigo, registre-se que bem escrito, a propósito da "Estratégia Nacional de Defesa": "Megalômana, sem prazos e recursos financeiros delimitados". E cercada por "promessas de reaparelhamento e modernização quenão se realizaram", havendo do ministro decaído "só palavrório, discursos vazios, promessas quenão se cumpriram, enganações e mais enganações".
Os conceitos que o artigo externa não são novidades, propriamente, nem próprios apenas do autor. Há bastante tempo era possível detectá-los. Ou, quando menos, intuí-los pela sisudez com que a FAB recebeu o desprezo por suas apreciações técnicas sobre novos caças; o alheamento da Marinha na marota entrega de sua futura base de submarinos à Odebrecht sem obediência às normas; e a notória insatisfação do Exército com seu envolvimento em operações policiais sem prévias avaliações de seus comandos.
A disciplina do silêncio absoluto é, ela sim, uma novidade apreciável como indicativa da profissionalização militar. O general Lessa expressou um consenso, publicamente, por sua condição de reformado e de ex-presidente do Clube Militar. Mas o conteve até não ser causa de fermentações.
Do propalado reaparelhamento à fábula da Estratégia, tudo foi mal conduzido desde o princípio. Lula não apenas se curvou ao que o general Lessa define como "baboseiras, palavras ao vento e falácias" de Jobim. Intrometeu-se em decisões técnicas do setor militar a pretexto de planos estratégicos e conveniências diplomáticas, que não eram senão balões circunstanciais.
A exemplo da cômica "aliança estratégica" combinada no papo em que Sarkozy enrolou Lula para comprar-lhe 36 dos caças mais caros e que nenhuma Força Aérea aprovou, exceto a tão francesa quanto o fabricante em má situação.
Em tudo isso, os menos ouvidos foram os militares, teoricamente detentores das aptidões requeridas pelo tema. E, quando ouvidos, daí não decorreu que suas formulações recebessem a esperada consideração. Nelson Jobim sobrepôs-se. O resultado é o definido no artigo do general Lessa.
Estratégia militar e diplomacia nacional têm que ser associadas na elaboração e integradas na execução. A tal Estratégia Nacional de Defesa ignorou esse princípio essencial. Erro invalidante, tanto mais em um mundo que nesta semana já não é o que era na semana passada, nem será na próxima o que é nesta. Mundo veloz em que o Brasil parece enfim alçar-se, com circunstâncias favoráveis, sem no entanto haver coerência entre os fatores que vão definir o seu rumo. Simplesmente vamos indo, o que não é um modo de ir mesmo.
As hipóteses sobre o futuro nesse mundo são as mais variadas. Já que têm preocupações um tanto pessimistas quanto às ambições sobre o pré-sal, e outras, muito primárias e superadas, quanto à Amazônia, debater e fixar as estratégias nacionais deveria ser prioritário nos setores apropriados do governo. Tudo está longe disso. Mas a oportunidade é boa outra vez.

ILIMAR FRANCO - Mendes Ribeiro


Mendes Ribeiro
ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 18/08/11

Logo após receber a carta de demissão das mãos do ex-ministro Wagner Rossi, a presidente Dilma Rousseff pediu ao vice-presidente Michel Temer que, ainda na noite de ontem, sugerisse um nome para o Ministério da Agricultura. Temer fez consultas, optou pelo nome de um deputado e, às 20h, mandou chamar o líder do governo no Congresso, Mendes Ribeiro (PMDB-RS), ao Planalto.

Rebelião no PMDB
Um grupo de 35 deputados, liderados por Lucio Vieira Lima (BA) e Danilo Fortes (CE), está questionando o comando do líder do PMDB, Henrique Alves (RN). Anteontem foram ao vice-presidente Michel Temer reclamar que não há debate interno na bancada. Outra preocupação se refere à influência de Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Hoje o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), deve designar
Cunha relator do novo Código Civil. Esse grupo, integrado também por independentes, como Osmar Terra (RS), considera que Alves só pensa na sua candidatura à presidência da Câmara e, com isso, sacrifica a imagem do partido.

"É um primarismo dizer que eu não gosto de política” — presidente Dilma Rousseff, em reunião com PSB, PDT e PCdoB, na noite de anteontem

BEM-HUMORADO. O líder do governo no Congresso, Mendes Ribeiro (PMDB-RS), arrancou gargalhadas, segunda-feira, em reunião no Planalto. Foi quando afirmou: “Como líder no Congresso, estou tentando encontrar o meu lugar. Se ando para um lado, esbarro no Vaccarezza (líder na Câmara); se vou para o outro, bato com o Jucá (líder no Senado); se caminho para a frente, tem a Ideli (Relações Institucionais); e, se me volto para dentro, tem a Gleisi (Casa Civil).” Ontem, encontrou o seu lugar.

A cara da crise
Chamou atenção da presidente Dilma a expressão dos presidentes Nicolas Sarkozy e Angela Merkel no anúncio de medidas anticrise.
Ela comentou que eles não conseguiram transmitir serenidade, que estavam com cara de pavor.

Dorminhocos

Nenhum senador do movimento de apoio às medidas anticorrupção tomadas pela presidente Dilma recebeu telefonema do Planalto.
O grupo é formado basicamente por senadores independentes, de partidos da base aliada, como o PMDB.

Dilma antecipa mudança
No almoço com as lideranças parlamentares de PP, PTB, PRB e PSC, a presidente Dilma antecipou uma mudança na execução do Orçamento que poderá diminuir a pressão pela liberação das emendas individuais. Citando como exemplo saneamento, habitação e creche, ela disse que em 2012 o governo vai indicar algumas áreas e que as emendas parlamentares destinadas a elas não serão contingenciadas.

Pires na mão
Um dia após o PR anunciar sua "independência", o líder do partido na Câmara, deputado Lincoln Portela (MG), estava ontem entre
os parlamentares que foram ao Ministério da Fazenda tratar da liberação de emendas parlamentares.

Discurso e prática
A despeito do anúncio feito pelo presidente do PR, senador Alfredo Nascimento (AM), de independência do governo Dilma, nenhum
dos 12 superintendentes do Dnit, indicados pelo PR, fez qualquer movimento para pedir demissão.

 DEFASADO. No almoço ontem com a presidente Dilma Rousseff, o senador Marcelo Crivella (PRB-RJ) chamou-a o tempo inteiro de "ministra".
 2012. O deputado Brizola Neto (PDT) está tentando viabilizar sua candidatura à Prefeitura do Rio.
● DANÇA DAS CADEIRAS. Com a volta do ex-ministro Alfredo Nascimento (PR-AM) para o Senado, seu suplente, o petista João Pedro, foi nomeado assessor especial do Ministério de Ciência e Tecnologia pelo ministro Aloizio Mercadante.

GOSTOSA


SONIA RACY - DIRETO DA FONTE


Fumacê?
SONIA RACY
O ESTADÃO - 18/08/11

Corre no mercado financeiro que o Pão de Açúcar voltou a conversar com o Carrefour. Desta vez, aliado ao Casino.

Consultados, todos negam.

No papel

Mais um round na queda de braço entre Dilma e os governadores que querem mudar o sistema de transporte definido para as sedes da Copa do Mundo. O Ministério das Cidades determinou: todo projeto alternativo ao BRT deve ser enviado até o dia 26.
Com detalhes de modelos operacionais.

No papel 2

No caso da Bahia, onde Jaques Wagner optou pelo metrô, o medo do governo federal é que se repita 1950. Salvador acabou fora do Mundial, porque o estádio da Fonte Nova só ficou pronto seis meses depois da fatídica final com o Uruguai.

Mangalô, Oxum.

Por cima

Fernando Haddad ouviu de próceres do PT de São Paulo: quando outubro chegar, estará afastada a hipótese de prévia no partido. Segundo fonte próxima do ministro, até Rui Falcão teria fechado com sua candidatura. Restaria agora... o chão da fábrica.

Big Brother

Gleisi Hoffmann imprimiu novo método na Casa Civil. Mandou instalar em seu computador, e nos PCs dos assessores, sistema que acompanha as obras prioritárias.

Com direito a total de gastos, status e fotos.

Bolão

A Lupo aposta na subida da Portuguesa para a série A do Brasileirão. Está prestes a assinar contrato para fabricar o "enxoval" do time.

Minha voz não...

Celso Kamura dobrou Dilma. Ela concordou em cortar os cabelos, mas sem mudanças drásticas. A cor continuará a mesma.

E quem viu de perto constatou: a presidente anda um pouco abatida. E silenciosa.

Mão dupla

Em meio a litígio com a Unilever, Wanderley Nunes traz na bagagem da Alemanha novidades Wella para seu novo site de e-commerce, o WStore.

O cabeleireiro voltou a ser consultor da marca.

Fazendo escola

Camila Vallejo, musa dos protestos no Chile, deve desembarcar em Brasília no final do mês. Participa, a convite da UNE, de passeata marcada para o dia 31.

Entre as reivindicações, investimento de 10% do PIB em educação. O dobro do valor atual.

Escola 2

A vinda de Camila representa a busca de um intercâmbio maior entre estudantes latino-americanos. Segundo a UNE, ativistas chilenos desejam adquirir o know-how da união estudantil brasileira em sua briga por investir recursos do pré-sal na educação.

Querem fazer o mesmo em Santiago com o cobre.

Amém

O MinC liberou R$ 420 mil para captação de recursos pela Fundação Nagib Haickel. Motivo? Um documentário média-metragem sobre o padre Antônio Vieira.

Bendita TPM

O TRT-SP deu ganho de causa para trabalhadora que reivindicava 15 minutos de descanso antes de iniciar hora extra, justamente por ser mulher. Sob o argumento da diferenciação entre os sexos, prevista na CLT.

Até aí, tudo bem. O curioso é a justificativa da juíza: "A menor força física das mulheres é patente. A sujeição a alterações hormonais constantes também..."

Verniz ético

A Câmara dos Vereadores está em processo de adaptação ecológica. Depois da reforma, que custará R$ 200 mil, a casa passará a reaproveitar água da chuva.

Na frente

Depois de quatro anos de obras, a F/Nazca muda para prédio novo, projetado por Isay Weinfeld. Amanhã, com festa de aniversário de seu fundador, Fábio Fernandes.

Melanie Smith abre mostra hoje na Nara Roesler.

Exposição sobre a Lacoste. Hoje, no Jockey.

O Programa Aprendiz Comgás faz dez anos e comemora amanhã no MAM, com entrega de prêmios.

Judeus, muçulmanos e cristãos cantam juntos em prol de projetos sociais da Congregação Israelita Paulista, que faz 75 anos. No repertório, Trem das Onze, de Adoniran, em português e hebraico. Dia 22, no Teatro Bradesco.

MÍRIAM LEITÃO - Haja tempo


Haja tempo
MÍRIAM LEITÃO
O GLOBO - 18/08/11

Passado o pânico da semana passada, esta semana é de pessimismo com os dados reais das economias europeias. Os mercados queriam que os dois líderes europeus anunciassem uma fórmula milagrosa, mas ela não existe. Um banco se resgata com dinheiro; uma crise de confiança se estanca com medidas espetaculares. Crise fiscal e recessão levam tempo para resolver.


Desequilíbrios fiscais na dimensão da que ocorre em algumas economias, algumas grandes, produzem crises crônicas. Assim ficará o mundo por longo tempo. Quando aparecer um dado positivo, uma forte declaração ou fato, haverá euforia; quando aparecer uma notícia ruim, pode voltar a fase de maior volatilidade.

Antes de cada reunião de líderes ficará a expectativa de que eles tragam alguma poção milagrosa. Neste começo de semana, houve desânimo com números do não crescimento europeu, para depois haver decepção com a reunião da chanceler Angela Merkel e do presidente Nicolas Sarkozy.

O mercado torcia por medidas dramáticas, como um anúncio de que o Fundo Europeu de Estabilização Financeira passaria a ter C1 trilhão, em vez de C 400 bilhões, e que os dois líderes fariam uma mágica, tirando da cartola um bônus europeu que pudesse substituir títulos de países encrencados que estão queimando na carteira dos bancos e fundos. Nada disso é fácil fazer, e por isso a Alemanha propôs a criação de mais um órgão supranacional e a França reapresentou a velha ideia de um imposto sobre transações financeiras internacionais, uma espécie de CPMF global. Anunciaram alguma coisa para não dizer que nada têm a dizer.

Para o Brasil, o cenário externo piora as expectativas um pouco, na opinião do economista Luiz Roberto Cunha, da PUC-Rio.

"Tínhamos um cenário de recuperação mundial lenta, com o Brasil mais seguro. Agora, já sabemos que seremos afetados. Mas, em termos relativos, estaremos sempre melhores. Se eles caírem muito, cairemos menos. Se conseguirem crescer pouco, cresceremos mais. Para o BC, ficou mais fácil lidar com a inflação porque a desaceleração está se confirmando. Mas o efeito sobre os preços ainda é muito incerto."

Por outro lado, a queda do crescimento mundial e a redução de preços de produtos que o País exporta podem complicar os dados do balanço externo. O economista José Augusto de Castro, da AEB, tem alguns números que impressionam.

"Em julho, com exceção de minério de ferro, açúcar e petróleo, as commodities tiveram queda em volume exportado. Em quantidade, porque o valor continua alto. O café caiu 18% no volume em julho; a soja, 18%; farelo de soja, 30%; óleo de soja, 12%. Suco de laranja caiu 32%; carne suína, 35%; carne bovina, 19%; carne de frango, 11%; couro, 17%; fumo, 7%. O minério de ferro subiu 7% e o açúcar está concentrado neste mês por causa das safras. A piora no cenário internacional da semana passada só começará a ter efeito sobre as exportações em dois a três meses. A soja já está vendida. O minério de ferro tem preço estabelecido por contrato. A dúvida é no ano que vem. Podemos ter queda na receita de exportação, com queda de preço e volume."

Os economistas estão recalculando o que acontecerá com a economia brasileira. Sérgio Vale, da MB Associados, disse que o cenário mais provável é de impacto forte, mas não de ruptura. Isso manteria o Brasil crescendo, mas num ritmo mais lento.

"Um período recessivo externo afetaria basicamente exportação e indústria. E o impacto maior neste último decorreria justamente das menores exportações para os países industrializados. Nesse cenário, o PIB poderia desacelerar para números não muito diferentes do que temos hoje. Seria um crescimento de 3,9%, ao invés dos 4,2% projetados atualmente. Num cenário de agravamento da crise externa, o crescimento brasileiro pode cair para 2,5% este ano."

José Júlio Senna, da MCM Consultores, lembra que o Brasil será afetado, apesar de a China continuar crescendo.

"Com os EUA e a Europa em recessão, o mundo todo crescerá menos, e isso vale para o Brasil. Cerca de 30% das exportações da China têm como destino os Estados Unidos e a Europa. Então se eles crescerem menos, a China será afetada e, consequentemente, o Brasil. A Bolsa brasileira tem muita empresa de commodities. Se a China comprar menos do Brasil, a Bolsa sentirá muito, e isso afetará as expectativas porque a bolsa é um canal muito importante para a confiança. A queda do Ibovespa também mexe com a visão que os estrangeiros têm do País. Diante dessa mudança, os investimentos são os que sofrem mais."

Então o que está diante de nós neste ano em que o cenário já mudou bastante é um longo período em que tudo ficará mais difícil. O Brasil pode ser afetado por vários canais. O que o governo não deve fazer é aumentar os gastos, distribuir subsídios, ampliar a oferta de empréstimos subsidiados pelos bancos oficiais para evitar que a crise nos afete. Isso foi usado em 2009. Reduziu a recessão, mas deixou a herança de desequilíbrios, na inflação e nos gastos públicos, principalmente porque em 2010 o Brasil não se preparou para essa segunda onda que agora está se formando.

O mundo precisará de tempo para digerir os enormes déficits e dívidas que acumulou. Não há estímulo fiscal brasileiro que mude esse cenário.

JOSÉ ÁLVARO MOISÉS - Dilma no fio da navalha


Dilma no fio da navalha
JOSÉ ÁLVARO MOISÉS
O Estado de S.Paulo - 18/08/11

A presidente Dilma Rousseff ensaiou passos para renovar os costumes políticos com a faxina nos Ministérios dos Transportes, Agricultura e Turismo (o das Cidades está intacto apesar das denúncias). Mas está agora andando no fio da navalha diante da crise provocada por sua base aliada - em especial, o PMDB e o PT. O anúncio de independência do PR e as ameaças de obstrução em votações no Congresso levaram a presidente a declarar apoio a ministros sob suspeita ligados ao PMDB, a reunir-se com o Conselho Político e a liberar R$ 1 bilhão para o pagamento de emendas parlamentares (aparentemente seguindo conselhos do ex-presidente Lula).

O dilema da presidente consiste em governar de fato, com base em princípios republicanos, ou se acomodar a implicações pouco defensáveis do presidencialismo de coalizão, a exemplo do apoio dos partidos a presidentes que não têm maioria no Congresso sem que assumam qualquer responsabilidade com a probidade no uso de dinheiro público.

Surfando em índices de popularidade bastante altos - superiores aos de seus antecessores em mesmo tempo de poder -, Dilma parece oscilar entre o desejo de quebrar a tradição política de tolerância das autoridades e partidos com a corrupção e as discutíveis exigências de manutenção de sua ampla base de apoio.

A situação ecoa, em certo sentido, os dilemas de fundo que o regime democrático enfrenta no País. Perto de completar 25 anos de existência, a democracia brasileira não deixa dúvidas de que avançou muito na direção de sua consolidação.

A questão diz respeito não à sua existência - como atesta a sequência de seis eleições livres e competitivas -, mas à qualidade do regime. Ou seja, à sua capacidade de garantir que princípios de liberdade e igualdade estejam assegurados pelo império da lei, do Estado de Direito e do funcionamento das instituições democráticas.

A persistência da corrupção e as dificuldades do sistema político para controlá-la e punir seus responsáveis compromete, contudo, a democracia. Não é à toa que a grande maioria dos entrevistados de pesquisas de opinião a considera algo grave, comprometedor da probidade que se espera das instituições.

A corrupção compromete a equidade da competição política, afeta os investimentos em políticas públicas e deteriora a moralidade e os costumes políticos. Não terá chegado a hora de o País buscar uma outra maneira de garantir a governabilidade sem precisar tolerar que a lei seja fraudada? A dúvida deve estar povoando hoje as reflexões da primeira autoridade pública, em tempos recentes, que mostrou desconforto com os costumes antirrepublicanos. Qual será a escolha de Dilma daqui para frente?

DIÁRIO OFICIAL


MÔNICA BERGAMO - GARGANTA SECA


GARGANTA SECA
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 18/08/11

O consumo de refrigerantes caiu 12% no segundo trimestre de 2011 se comparado ao primeiro - resultado, diz a indústria, do aumento de preços, de cerca de 10% no período. O fenômeno é creditado ao reajuste de impostos promovido pelo governo em maio, depois de dois anos de congelamento.

ENXUTO
Em geral, a queda de um trimestre para outro, com o fim das férias e do verão, é de 3%. O setor, no entanto, ainda mantém projeção de crescimento para 2011 - agora de 4,5%, menor que os 7% previstos no início do ano.

EXEMPLO
Caso venha mesmo a comandar a futura Secretaria de Micro e Pequena Empresa, Luiza Trajano, do Magazine Luiza, deve abrir mão do salário do cargo.

MEMÓRIAS DE LULA
Em campanha para emplacar Fernando Haddad como candidato a prefeito de SP, Lula tem dito que fez o mesmo com Marta Suplicy em 1998: afastou os nomes "naturais" do partido para a disputa ao governo de SP para que ela, então uma "novidade", se candidatasse.

PALAVRAS DE MARTA
Hoje um dos principais argumentos de Marta para ser candidata pelo PT é o de que ela é o nome natural. E que Lula só insistirá no nome de Haddad, a "novidade", se quiser perder as eleições.

TEM ATÉ PALESTRA
A OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de São Paulo fará o Congresso Paulista de Direito do Século 21, em 2012, em um cruzeiro.

Um navio com 770 cabines sairá de Santos no dia 12 de abril, com destino a Búzios e Ilha Grande.

A VOLTA DA SENHORA
"A Senhora de Dubuque", com Karin Rodrigues e direção de Leonardo Medeiros, substituirá "Cruel", com Reynaldo Gianecchini, no Festival de Teatro Raul Cortez nos CEUs de São Paulo. Ainda não está definido se Alessandra Negrini, que fez a peça em SP no início do ano, participará da mostra.

VOVÔ ZEZÉ

Zezé Di Camargo completou 49 anos e ganhou festa surpresa, anteontem, no bar Número. O cantor aguarda a chegada do primeiro neto, José Marcus, filho de Wanessa Camargo, grávida de quatro meses e meio, e Marcus Buaiz. E se prepara para gravar o DVD de 20 anos de carreira da dupla que faz com o irmão Luciano, em setembro, em SP. Ele falou à coluna:

Folha - Como é ser avô pela primeira vez?
Zezé Di Camargo - O Marcus e a Wanessa não me deixam esquecer em nenhum momento. Eles fazem ultrassom do neném e me mandam. Eu já vi o neném pegando no "bilau", em posição de cantar.

E o que você sentiu ao ver as imagens?
É maravilhoso, uma emoção indescritível. Eu tô é com pressa pra ele nascer. Todo dia ligo para a Wanessa e pergunto se a barriga cresceu.

Já comprou algum presente?
Tô tentando descobrir uma balada bem legal. Quero comprar um cartão VIP de uma balada pra ele.

Você levou um susto com o assalto que a Wanessa sofreu em junho?
Quando fiquei sabendo, uns três dias depois, foi algo tão rápido e insignificante, que só falei pra ela não andar mais com o vidro aberto. A gente tá vivendo um momento tão bom, que não paramos pra pensar nisso.

Já esteve com a presidente Dilma?
Ainda não. Eu a conheci na época da eleição do Lula. Eu já sabia que ela era uma mulher de muita fibra. E tô gostando da atitude dela.

E se o Lula quiser voltar em 2014?
Seria um páreo duro hoje com a Dilma. É a primeira experiência que temos de sermos governados por uma mulher, e estou adorando.

VOZ
O disque-denúncia (181) está estudando com o CVV (Centro de Valorização da Vida), que atua na prevenção de suicídios, como ampliar o serviço para surdos e mudos através de bate-papos on-line. O CVV notou que pessoas que antes ligavam e ficavam em silêncio conseguem desabafar por escrito.

VOZ 2
O disque-denúncia também quer receber chamados por torpedo e e-mail. Usa como referência programa que a Polícia Militar lançará de cadastro de usuários surdos que mandarão denúncias por mensagem de texto.

CONCERTO NO LAPTOP
A Osesp transmitirá pela primeira vez no dia 27, às 16h, ao vivo, na internet, um concerto de sua temporada regido por Marin Alsop, que será regente titular da orquestra a partir de 2012. E Alsop aproveitará a vinda ao país para passar uma semana na Amazônia com sua companheira e o filho adotivo.

HQ ESPÍRITA
A origem do espiritismo e a história de um de seus fundados, Allan Kardec, ganhará versão ficcional em quadrinhos pela editora Leya/Barba Negra.

A RUA NO MUSEU
A exposição de arte urbana "De Dentro e De Fora" foi inaugurada, anteontem, no Masp, com público recorde: 2.800 pessoas. A cantora Bárbara Eugênia, a curadora Mariana Martins e Lia Diniz conferiram a mostra na avenida Paulista.

CURTO-CIRCUITO

O musical "As Bruxas de Eastwick" tem pré-estreia hoje, às 21h, no Teatro Bradesco. 12 anos.

A galeria de arte digital Urban Arts, que abre no domingo, vai expor obras dos franceses Olivier Lutaud e Mzelle Marcelle.

Julianne Daud vai cantar o Hino Nacional na abertura do Grande Prêmio de Hipismo do Classic Horse Show, na Hípica Paulista.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY

RENATA LO PRETE - PAINEL DA FOLHA


Dizer o quê?
RENATA LO PRETE
FOLHA DE SP - 18/08/11

Apesar da insegurança gerada pela série de degolas no primeiro escalão, os caciques do PMDB ponderavam ontem à noite que, no caso de Wagner Rossi, não há o que cobrar de Dilma Rousseff. A presidente, reconheciam eles, "cumpriu todo o receituário" de gestos e palavras reasseguradoras, e o ministro da Agricultura caiu simplesmente porque não tinha mais como se segurar. Além disso, admite um deputado do partido, "se algum de nós reclamasse ela bem poderia dizer: "Vão falar com o Jucá'". Foi o irmão do também peemedebista Romero Jucá, líder do governo no Senado, quem iniciou a artilharia que derrubou Rossi.

Prós 1 Entre os fatores que pesam a favor de Mendes Ribeiro, nome escolhido para substituir Wagner Rossi, está o fato de ter sido praticamente o único peemedebista gaúcho ao lado de Dilma na campanha de 2010.

Prós 2 A nomeação de Ribeiro abre uma vaga na Câmara para o suplente Eliseu Padilha, amigo do peito do vice Michel Temer.

Veja bem Em conversa com PSB, PDT e PC do B, Dilma se esforçou para desfazer a percepção de que o Planalto estaria estimulando denúncias contra aliados. Ressalvou, porém, que contra investigações tocadas por órgãos de controle "não se pode nem se deve fazer nada".

A vida... Do governador Eduardo Campos (PSB), defendendo o pagamento das emendas: "A senhora pense num candidato a deputado lá do interior de Pernambuco, rodando aquelas estradas todas para pedir cinco votos aqui, cinco ali, prometendo ajudar por onde passa. O cabra chega a Brasília e, passados oito meses, o prefeito liga: "Não vai me trazer nada?". O deputado precisa dar uma satisfação...".

...como ela é Do líder do PDT, Giovanni Queiroz, sobre as emendas: "Manda o Mantega achar a chave do cofre. Porque ele jogou fora".

Estilo Jobim De uma sequência de episódios recentes o Palácio dos Bandeirantes extraiu a convicção de que João Sayad se move de maneira a inviabilizar sua permanência à frente da Fundação Padre Anchieta, administradora da TV Cultura de São Paulo.

Arquivo Entre os tucanos instalados no governo, há quem não tenha esquecido de um artigo assinado em 2006 pelo jornalista Mario Sergio Conti, agora escolhido por Sayad para comandar o programa "Roda Viva". O texto afirma que o PSDB de Fernando Henrique Cardoso e José Serra "acabou". "O que resta agora é o PSDB de Alckmin, Chalita, da turma de Pindamonhangaba."

Blitz Pré-candidato de Lula à Prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad virou alvo da Anel, entidade adversária da UNE e defensora do uso de 10% do PIB em educação. Em seus dois últimos rasantes paulistas, na feira literária de São Bernardo e na Faculdade de Direito da USP, o petista foi acossado por manifestantes da campanha "Caça-Haddad".

Dois tempos A ser lançada hoje, a versão paulista do Brasil sem Miséria atingirá, num primeiro momento, as cem cidades mais pobres do Estado. O pacote social de Geraldo Alckmin chegará ao entorno da capital, zona eleitoralmente mais hostil ao tucano, às vésperas de 2014.

Data A pedido da família de Orestes Quércia, será celebrada hoje às 11h na igreja de São Gabriel, em São Paulo, missa em memória do governador, morto em dezembro passado. Ele faria 73 anos.

com LETÍCIA SANDER e FÁBIO ZAMBELI

tiroteio

"Mais que uma indelicadeza, essa insinuação de uma possível candidatura de Lula à Presidência em 2014 beira a traição".
DO SENADOR ALOYSIO NUNES (PSDB-SP) sobre declaração do ministro Paulo Bernardo (Comunicações), segundo quem o petista pode concorrer a novo mandato a depender do desempenho e do interesse de Dilma em se reeleger.

contraponto

#dnitfeelings


Em discurso durante jantar em sua homenagem oferecido por Orlando Silva anteontem em Brasília, Michel Temer defendia a aproximação entre o PMDB e o PC do B do ministro do Esporte:
-A ponte que estamos fazendo é muito importante!
Presente ao evento, o senador peemedebista Roberto Requião interrompeu o vice com brincadeira alusiva ao recente escândalo nos Transportes:
-Ih, não fala em ponte que pode dar problema...

DORA KRAMER - Tratamento vip


Tratamento vip
DORA KRAMER
O ESTADÃO - 18/08/11

Enquanto permaneceu no cargo de ministro da Agricultura, Wagner Rossi foi a expressão viva do ditado segundo o qual quem tem padrinho não morre pagão. Seu braço direito e amigo há 25 anos foi demitido por conta de relações perigosas com um lobista que transitava livremente com autonomia e autoridade dentro do ministério.

Contra Rossi pesam suspeições de irregularidades não só no posto atual, mas também relativas à época em que ocupou as presidências da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp).

O Estado mostrou que cooperativas agrícolas que receberam dinheiro da Conab financiaram campanhas de parlamentares, entre eles o filho do ministro, Baleia Rossi. O jornal Folha de S. Paulo publicou entrevista do ex-chefe da comissão de licitação do Ministério da Agricultura falando sobre “licitações corrompidas” na pasta.

Isso para não falar sobre a frase – “lá (no ministério) só tem ladrão” – do irmão do líder do governo no Senado, demitido da Conab por ter saldado uma dívida de R$ 8 milhões para uma empresa de fachada.

Nesta semana se descobriu que o já ex-ministro Rossi se valeu dos favores da Ourofino Agronegócios –com negócios no ministério e doadora da campanha de Rossi júnior (Baleia) – para ir de São Paulo a Ribeirão Preto no jatinho da empresa. Wagner Rossi admitiu que viajou de carona no Embraer Phenon da Ourofino algumas vezes. Na verdade, ele falou em “raras vezes”, na tentativa de amenizar o evidente conflito de interesses.

Por muito menos Eliseu Resende foi demitido do Ministério da Fazenda no governo Itamar Franco. Ficou sob suspeição de ter tido diárias de hotel em Nova York pagas por uma empreiteira, mostrou que pagara do próprio bolso, mas Itamar considerou impróprio até o fato de seu ministro ter se hospedado no mesmo hotel que os diretores da construtora.

Eram outros tempos, outra gente.

Na quadra atual da nossa história, a Wagner Rossi foi dada a prerrogativa de pedir demissão dizendo-se injustiçado e perseguido. Por quê? Porque é do PMDB e Dilma Rousseff não quer confusão com o partido. Porque Rossi era indicação pessoal do vice-presidente Michel Temer.

Entrelinhas
O diabo mora nos detalhes também na pesquisa CNT/Sensus que aponta 70% de popularidade para a presidente.

1. Dos 49,5% que aprovam o governo Dilma, apenas 10% o qualificam como “ótimo”.

2. Dos pesquisados, 45% disseram que o governo Lula era melhor.

3. A expectativa de que a presidente fará uma boa gestão caiu de 69% para 61%.
4. A avaliação positiva sobre a composição do ministério era de 45% em dezembro. Em agosto desabou para 24%.

Muito cedo
A “saída” do PR da base governista no Congresso não quer dizer nada se o parâmetro for o prejuízo concreto ao governo. Até porque não é uma decisão unânime: cinco dos sete senadores do partido já avisaram que não largam o osso, sendo o mais vistoso composto pelas superintendências regionais do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit).

Porém, nem só de objetividades se faz a política. E no campo do simbólico não é interessante a governo algum que, antes de completados os primeiros oito meses de quatro anos, aliados já se sintam à vontade para transformar suas intenções em gestos de rebeldia.

Êxodo
Nunca tantos ministros do Supremo Tribunal Federal ficaram tão pouco tempo na função que, pela lei, poderiam exercer até completarem 70 anos de idade.

Nos últimos tempos já pediram aposentadoria antes do prazo regulamentar Nelson Jobim, Eros Grau e Ellen Gracie. Celso de Mello e Marco Aurélio Mello são agora os únicos dos 11 ministros que não foram indicados pelo ex-presidente Lula.

Marco Aurélio seria a estrela solitária se Celso de Mello, o decano, tivesse feito o que disse amigos o ano passado quando manifestou desejo de sair.

DEMÉTRIO MAGNOLI - Atenção, Dilma, ele assina em teu nome


Atenção, Dilma, ele assina em teu nome
DEMÉTRIO MAGNOLI
O Estado de S.Paulo - 18/08/11

O ditador Bashar Assad encontrou nos enviados do Ibas (Índia, Brasil e África do Sul) os bonecos de ventríloquo ideais para transmitir ao mundo a sua versão dos eventos sangrentos em curso na Síria. O comunicado final da delegação, um dos documentos mais abjetos jamais firmados pelo Brasil, pinta o cenário de um regime engajado na sua reinvenção democrática, mas assediado pela violência de grupos armados opositores. A assinatura brasileira converte Antônio Patriota em cúmplice de um Estado policial que se dedica à matança de sua população. Patriota, contudo, é funcionário de Dilma Rousseff. A assinatura dele é a dela.

O Itamaraty difunde a narrativa oficial síria, segundo a qual o derramamento de sangue se deve à violência de setores da oposição. Há nisso uma nota sinistra, só audível por quem conhece o passado recente da Síria. Refiro-me a Hama e a fevereiro de 1982. Nessa cidade sunita operavam guerrilheiros islâmicos que combatiam o regime de Hafez Assad, pai de Bashar. Após uma emboscada dos rebeldes contra forças militares, o ditador ordenou o bombardeio de toda a cidade, por terra e ar. Num tempo anterior à internet e aos celulares, há escassas, mas pungentes, imagens do resultado. No fim, Hama parecia as cidades alemãs extensivamente bombardeadas na guerra mundial.

Um dos filhos do ditador supervisionou o ataque e se gabou de matar quase 40 mil pessoas, uma cifra confirmada pelas estimativas independentes. Quando os escombros ainda ardiam, o governo vazou para a imprensa libanesa a notícia das dimensões da carnificina, enviando uma mensagem ao povo sírio. A mensagem foi decodificada, em muitos sentidos. Até há pouco, aos murmúrios, os sírios se referiam ao massacre por meio de um sombrio eufemismo: "os incidentes de Hama". Agora, enfrentando munição real, os manifestantes voltam às ruas num ânimo quase suicida, pois sabem que só têm a alternativa de derrubar o regime. Patriota deveria ter a decência de pensar duas vezes antes de colar o selo do Itamaraty sobre a versão de Damasco: na linguagem dos Assad, a expressão "gangues terroristas" é a senha para aplicar a "lei de Hama".

Além de tudo, a versão é falsa. Em 17 de julho, uma conferência nacional de 450 líderes opositores, laicos e religiosos, conclamou à desobediência civil pacífica. O regime respondeu armando 30 mil milicianos da minoria alauita, a fim de reconfigurar o cenário como um conflito sectário. Artilharia, tanques e navios alvejam Hama, Homs, Deir ez-Zor e Latakia. O saldo provisório já atinge 2 mil mortos. Líderes da tribo baqqara, de Deir ez-Zor, autorizaram o uso de armas contra incursões assassinas do Exército, de casa em casa, que não poupam crianças. Vergonha: o gesto desesperado de pessoas acuadas serve como o pretexto para Patriota reverberar a senha de uma ditadura inclemente.

Pretexto é a palavra certa. O Itamaraty não se importa com os fatos: segue uma agenda ideológica. A Constituição prescreve, no artigo 4.º, que o Brasil "rege-se, nas suas relações internacionais" pelo princípio da "prevalência dos direitos humanos". Dilma prometeu respeitar o artigo constitucional. O compromisso, expresso num voto contra o Irã, não resistiu a um outono. Em março, a abstenção na resolução da ONU de intervenção na Líbia evidenciou uma oscilação. Em junho, a recusa da presidente em receber a dissidente iraniana Shirin Ebadi, Nobel da Paz, sinalizou o recuo. Em 3 de agosto, a rejeição a uma condenação da Síria no Conselho de Segurança da ONU concluiu a restauração da política de Lula, Celso Amorim e Marco Aurélio Garcia. No seu desprezo inigualável pelo mandamento constitucional, o comunicado do Ibas equivale a uma celebração orgiástica da velha ordem.

Num Roda Viva, da TV Cultura, indaguei a Celso Amorim sobre os motivos do governo para ignorar sistematicamente o artigo 4.º da Constituição. O então ministro do Exterior retrucou invocando o princípio da autodeterminação dos povos e da não intervenção, contemplados no mesmo artigo, mas em posição inferior. A resposta vale tanto quanto as promessas reformistas de Assad. Na verdade, como fica explícito num livro do ex-secretário-geral do Itamaraty Samuel Pinheiro Guimarães, a linha do governo deriva de uma curiosa tradução do objetivo de promover a "multipolaridade" nas relações internacionais. "Multipolaridade", no idioma de nossa atual cúpula diplomática, exige a redução da influência global dos EUA - o que solicitaria o apoio brasileiro aos regimes antiamericanos, sejam eles quais forem.

A Turquia perdeu a paciência com a Síria e exigiu uma imediata retirada militar das cidades assediadas. Sob pressão popular, governos árabes condenam, sem meias palavras, a selvagem repressão. O Egito alertou Damasco sobre a ultrapassagem de um "ponto de não retorno". Nas ruas do Cairo e de Beirute, manifestações pedem o isolamento de Assad. Longe da região, irresponsável, alheio às obrigações assumidas pela comunidade internacional, o governo brasileiro converte-se num dos últimos bastiões de um Estado policial sanguinário. Desse modo, numa única tacada, viola um elevado princípio constitucional da nossa democracia e agride o interesse nacional, afastando-nos da meta legítima de uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU.

Não há muito a fazer. A Comissão de Relações Exteriores do Senado é presidida por um neolulista chamado Fernando Collor. A oposição renunciou ao confronto político de ideias, limitando-se à pescaria de ocasião na lagoa pútrida da corrupção nos ministérios. Os intelectuais de esquerda, sempre prontos a fulminar com os raios de sua fúria santa os desvios retóricos do editorial de um grande jornal, não produzem manifestos de contestação aos atos do lulopetismo - ainda mais se justificados pela doutrina do antiamericanismo. Resta escrever: atenção, Dilma, Patriota assina em teu nome!

GOSTOSAS


EDITORIAL - O ESTADO DE SÃO PAULO - Dilma segue a Lei de Johnson


Dilma segue a Lei de Johnson
EDITORIAL
O Estado de S.Paulo - 18/08/11

Quando vieram lhe pedir a cabeça do todo-poderoso chefe do FBI, J. Edgar Hoover, porque mandara espionar os líderes do movimento pelos direitos civis, sem respeitar nem o reverendo Martin Luther King, o presidente Lyndon Johnson, que governou os Estados Unidos de 1963 a 1969, rejeitou a ideia com um argumento que se tornaria um marco do pragmatismo político, quanto mais não fosse pela forma que o desbocado texano encontrou para se expressar. "É melhor ter o Hoover dentro da nossa tenda, urinando para fora", ensinou, "do que tê-lo fora, urinando para dentro".

A presidente Dilma Rousseff pode, ou não, conhecer a história - e decerto não usaria tais termos em circunstâncias similares. Mas, aconselhada pelo expoente do pragmatismo na política brasileira, o seu antecessor Lula da Silva, a presidente aplicou a Lei de Johnson para recompor as suas relações com os partidos aliados, a começar pelo mais forte deles, o PMDB do vice Michel Temer, com seus 80 senadores e 20 deputados. Reunida na segunda-feira à noite com a cúpula da sigla e a do PT - a "espinha dorsal do governo", como disse -, Dilma parecia o seu patrono.

Enquanto os convivas sorviam um alentador caldo verde, anunciou o descongelamento imediato de R$ 1 bilhão para as emendas parlamentares da base, prometeu evitar novos atritos, manifestou "confiança" no peemedebista Pedro Novais, titular da escrachada pasta do Turismo, e considerou nada menos do que "exemplar" a conduta do colega dele na Agricultura, Wagner Rossi, outro correligionário alcançado por denúncias de corrupção. (No dia seguinte, exsudando felicidade, ele desfilaria pela repartição com os braços erguidos e os punhos cerrados, repetindo, pateticamente: "Estou firme, estou firme". Em menos de 24 horas viu-se obrigado a deixar o governo.)

Não menos exultante, também por motivos pessoais, como não poderia deixar de ser, ficou o líder do PMDB na Câmara, Henrique Alves, que vinha reclamando do frio na tenda dilmista. A reunião, entoou, representou um "novo marco". Pudera: a anfitriã chancelou o acordo pelo qual o PT ficou de ceder ao PMDB, ou seja, a Alves, a presidência da Casa em 2013. Era o que ele mais queria para se sentir reconfortado e pronto para fazer o equivalente ao que o americano Johnson queria que o indócil Hoover fizesse "para fora". E Dilma, que imaginara ingenuamente que bastaria um encontro daqueles por semestre, vai fazer um por mês - sem deixar de fora nenhuma legenda aliada.

Poderá, quem sabe, convidar até os senadores do PR que divergiram da decisão do seu presidente, o ex-ministro Alfredo Nascimento, de retirar o partido da coalizão, em represália à limpeza ética que o apeou e aos seus apaniguados dos Transportes. O capixaba Magno Malta, por exemplo, anunciou que não tem a menor intenção de sair da base. O seu irmão Maurício, a propósito, usufrui de uma boquinha no famigerado Dnit. Outro perrepista dissidente, o mineiro Clésio Andrade, tem um afilhado na superintendência local do órgão. A rigor, não havia motivo para ansiedade: o PR não pediu a ninguém que se demitisse; apenas que deixasse os cargos "à disposição".

O pano de fundo da conversão de Dilma ao pragmatismo lulista combina dois tons. Um é a ficha que enfim caiu: a base não pertence à presidente; é uma aquisição do seu mentor, cedida a ela em comodato e sujeita a panes se não for administrada como os seus membros foram acostumados a esperar. O outro tom são as circunstâncias: Dilma precisa de votos no Congresso não apenas para a "governabilidade", em abstrato, mas para aprovar medidas que poupariam o País do contágio da crise externa e derrubar aquelas que, no seu entender, tenham efeito oposto. Nessa conjuntura, a higiene johnsoniana na tenda é tida como crucial pela presidente.

Não se trata, portanto, daquela que seria propiciada pela dedetização dos inumeráveis focos de corrupção no seu interior. Talvez Dilma já não reaja a novas denúncias da imprensa como reagiu no caso dos Transportes. Segundo uma versão, no ágape com o esfaimado PMDB, ela teria considerado "sectarista" (sic) a cobertura dos escândalos. No sentido que conta, é mesmo. Cabe à imprensa, de fato, distinguir o bem do mal - e escolher entre um lado e outro.