A hora da escolha de Dilma
EDITORIAL
O Globo - 18/08/2011
O Ministério dos Transportes/Dnit foi apenas o primeiro dos casos de flagrante desvio de dinheiro público que iriam se acumular na mesa de trabalho da presidente Dilma, como se previa. Se a palavra de ordem é "faxina", fica difícil, de fato, parar o processo de limpeza, diante da sujeira acumulada em oito anos de governo leniente com toda sorte de esquemas armados em Brasília, desde que ajudassem à "governabilidade" na gestão lulopetista.
Por sua vez, o Executivo não controla tudo - nem deve, nem pode. Por isso, enquanto Dilma retirava o entulho que encarecia e retardava projetos de infraestrutura de responsabilidade do Ministério dos Transportes, organismos de Estado - Polícia Federal, Ministério Público e Justiça - estavam por estourar um grupo de desvio de emendas parlamentares, organizado do começo (deputada Fátima Pelaes - PMDB/AP) ao fim (ONG Ibrasi, no Amapá). Sem faltar imprescindíveis conexões no Ministério do Turismo, ocupado por Pedro Novais, peemedebista do grupo maranhense de José Sarney, senador pelo Amapá.
O resultado da Operação Voucher aumentou o peso da missão ética sobre Dilma. E antecipou o esperado confronto das intenções de Dilma de injetar seriedade nos gastos públicos com o mais poderoso dos aliados, o PMDB, partido exímio em se localizar nas proximidades do Erário.
O primeiro choque para valer está em curso, devido a histórias desabonadoras em torno do Ministério da Agricultura, Pasta mais importante que a de Turismo. Bem mais cobiçada, principalmente pelas cifras que movimenta.
O ministro Wagner Rossi, indicado pelo vice Michel Temer, chefe máximo do PMDB paulista, viu se acumularem pontos de interrogação à sua frente e não resistiu. Além do caso do lobista com trânsito livre no ministério, principalmente na comissão de licitações, revelado pela "Veja", surgiu a história das relações nebulosas do ministro com a família proprietária da Ourofino Agronegócios. Pode ser tudo legal, mas causou estranheza que a empresa tenha recebido do ministério licença para fabricar vacina antiaftosa. E, além de financiar campanhas políticas do ministro e do filho Baleia Rossi (PMDB-SP), a Ourofino ainda encomendava vídeos institucionais na produtora de uma irmão de Baleia. Tudo em casa, a ponto de a família Rossi usar o jatinho da empresa, mostrou o jornal "Correio Braziliense".
Iniciada a faxina ética, é difícil suspendê-la sem que fique a má impressão de que o Planalto avalia menos a seriedade do delito que o tamanho da bancada de cada legenda ou grupo relacionado aos fartos indícios de falcatruas. Será negativo Dilma trocar a régua com que mediu o tamanho do balcão de negociatas do PR nos Transportes/Dnit por uma fita métrica mais camarada na avaliação dos esquemas na Agricultura. É preciso atenção, pois há sempre o risco de eles serem mantidos apesar da saída do ministro.
Enquanto a popularidade da presidente cresce nas classes médias - e certamente entre eleitores não petistas -, aumenta seu cacife político para enfrentar as chantagens em fase de armação no Congresso. Não se sabe se terá coragem de ir adiante. Se deseja fazer uma gestão digna, não tem escolha. Pedro Simon e sua frente anticorrupção no Senado dão um alento. Mas tudo depende de qual caminho a presidente escolherá.
Por sua vez, o Executivo não controla tudo - nem deve, nem pode. Por isso, enquanto Dilma retirava o entulho que encarecia e retardava projetos de infraestrutura de responsabilidade do Ministério dos Transportes, organismos de Estado - Polícia Federal, Ministério Público e Justiça - estavam por estourar um grupo de desvio de emendas parlamentares, organizado do começo (deputada Fátima Pelaes - PMDB/AP) ao fim (ONG Ibrasi, no Amapá). Sem faltar imprescindíveis conexões no Ministério do Turismo, ocupado por Pedro Novais, peemedebista do grupo maranhense de José Sarney, senador pelo Amapá.
O resultado da Operação Voucher aumentou o peso da missão ética sobre Dilma. E antecipou o esperado confronto das intenções de Dilma de injetar seriedade nos gastos públicos com o mais poderoso dos aliados, o PMDB, partido exímio em se localizar nas proximidades do Erário.
O primeiro choque para valer está em curso, devido a histórias desabonadoras em torno do Ministério da Agricultura, Pasta mais importante que a de Turismo. Bem mais cobiçada, principalmente pelas cifras que movimenta.
O ministro Wagner Rossi, indicado pelo vice Michel Temer, chefe máximo do PMDB paulista, viu se acumularem pontos de interrogação à sua frente e não resistiu. Além do caso do lobista com trânsito livre no ministério, principalmente na comissão de licitações, revelado pela "Veja", surgiu a história das relações nebulosas do ministro com a família proprietária da Ourofino Agronegócios. Pode ser tudo legal, mas causou estranheza que a empresa tenha recebido do ministério licença para fabricar vacina antiaftosa. E, além de financiar campanhas políticas do ministro e do filho Baleia Rossi (PMDB-SP), a Ourofino ainda encomendava vídeos institucionais na produtora de uma irmão de Baleia. Tudo em casa, a ponto de a família Rossi usar o jatinho da empresa, mostrou o jornal "Correio Braziliense".
Iniciada a faxina ética, é difícil suspendê-la sem que fique a má impressão de que o Planalto avalia menos a seriedade do delito que o tamanho da bancada de cada legenda ou grupo relacionado aos fartos indícios de falcatruas. Será negativo Dilma trocar a régua com que mediu o tamanho do balcão de negociatas do PR nos Transportes/Dnit por uma fita métrica mais camarada na avaliação dos esquemas na Agricultura. É preciso atenção, pois há sempre o risco de eles serem mantidos apesar da saída do ministro.
Enquanto a popularidade da presidente cresce nas classes médias - e certamente entre eleitores não petistas -, aumenta seu cacife político para enfrentar as chantagens em fase de armação no Congresso. Não se sabe se terá coragem de ir adiante. Se deseja fazer uma gestão digna, não tem escolha. Pedro Simon e sua frente anticorrupção no Senado dão um alento. Mas tudo depende de qual caminho a presidente escolherá.
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