segunda-feira, julho 22, 2013

Como debochar sem cair - de Lula para Anderson - GUILHERME FIUZA

REVISTA ÉPOCA


Ninguém tinha entendido direito o significado das manifestações de rua, até sair o novo artigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, distribuído pelo New York Times. No texto, ele explica ao Brasil e ao mundo, com clareza, o motivo da febre de passeatas que parou o país em junho: o sucesso "econômico, político e social" do governo popular. Quem não entendeu, é porque não fala inglês. A explicação é simples: o governo do PT melhorou a vida das pessoas, e por isso elas se tornaram mais participativas. E foram às ruas pedir à presidente Dilma Rousseff que melhore ainda mais o Brasil. Como ninguém notou que os protestos eram, no fundo, decorrência do êxito petista?

Ainda bem que Lula e Dilma foram modestos em sua genialidade administrativa. Se tivessem usado toda a sua virtude, o Brasil seria hoje uma superpotência mundial, e o povo participativo não sairia mais das ruas, pedindo ao PT a conquista do Sistema Solar. Essa gente nunca está satisfeita.

O artigo de Lula da Silva lembra a luta de Anderson Silva. Ambos chegaram ao topo e resolveram rebolar em frente aos adversários. Ambos substituíram a humildade do passado pela empáfia, lambuzados de arrogância pelo poder conquistado. Quando Luiz Inácio da Silva afirma que as multidões foram às ruas por causa do sucesso de seu governo, está dançando no octógono. Tripudia da opinião pública, diz-lhe que pode soltar o disparate mais bizarro, a fantasia mais tosca, o rebolado ideológico mais obsceno, que nada o derrubará. A diferença entre os Silvas é que Anderson tinha pela frente um punho cerrado. Lula tem pela frente uma geleia chamada Brasil.

A geleia geral brasileira produziu a revolta mais ignorante da história. Milhões de manifestantes foram às ruas empurrados pela inflação, que envenenou o tomate, os ônibus e a cesta básica da vida cotidiana. Os governos do articulista do New York Times e de sua sucessora dançaram diante da escalada dos preços, zombaram dela a céu aberto. Abandonaram a meta de inflação, derramaram dinheiro público em sua máquina de quatro dezenas de ministérios, esconderam déficits fraudando a contabilidade governamental - entre outros atentados à economia nacional. Avisamos aqui, algumas vezes, que a conta da orgia populista chegaria. Ela chegou, e os revoltosos saíram às ruas. Mas não tocaram um dedo nos fanfarrões do octógono.

Sobre as cabeças dos manifestantes, passaram voando, tranquilos, dois dos principais aliados de Lula e Dilma - os presidentes da Câmara e do Senado, em seus passeios à custa do contribuinte em aviões da FAB. Sempre lembrando que o uso dos aeroportos pelos cidadãos que fazem passeatas continua infernal, até porque a agência reguladora do setor foi entregue ao esquema parasitário de Rosemary Noronha. Onde anda Rosemary? Anda livre, leve e solta, protegida dos processos judiciais pelo Palácio do Planalto, assistindo às passeatas pela TV e feliz de não avistar um único cartaz de protesto com seu nome. A revolução é cega - e o crime compensa.

A farra com dinheiro público nos estádios bilionários da Copa - um dos rabos peludos da inflação que acossa os revoltosos - ficou por isso mesmo. Dilma disse que o dinheiro voltará para o governo, e os manifestantes engoliram. A revolta mais ignorante da história engole tudo. Não é capaz de ler meia dúzia de notícias e entender que os "empréstimos" do BNDES são praticamente doações, considerando os prazos e juros de pai para filho. Ou de sócio para sócio.

É muito fácil parasitar o Brasil. Milhões de indignados saem às ruas, e ninguém tem a ideia de bloquear o "Itaquerão" - estádio de abertura da Copa, arrancado na marra do contribuinte (mais de R$ 1 bilhão) pelo articulista do New York Times. Ninguém tem a ideia de bloquear o 40° ministério de Dilma, contando o do Marketing, um cabide criado em plena disparada da inflação e freada da economia - um escárnio, um rebolado no octógono. Anderson Silva para presidente.

No Planalto, o lutador debochado jamais beijará a lona. A política brasileira é muito mais generosa que o UFC. Qualquer problema, é só jogar uma proposta de plebiscito no ar, que o oponente se distrai. E depois ainda dá para se vangloriar de seu deboche, em inglês, no New York Times. Ninguém quer outra vida.


Vai passar - J. R. GUZZO

REVISTA VEJA


Nunca se viu até hoje o caso de dois cachorros que tenham trocado, de livre e espontânea vontade, o osso de um pelo osso do outro, ensina Adam Smith. Ninguém como o velho Smith para dizer cenas verdades. No caso, ele falava do livre-comércio — uma característica exclusiva do ser humano, assim como a palavra, a escrita e outras coisas que distinguem os homens dos animais. O pensador escocês que informou ao mundo, mais de 200 anos atrás, que o capitalismo existia, explicou como funcionava e demonstrou por que era indispensável para a evolução racional da sociedade, ia direto ao ponto em matéria de economia — mas sua clareza é a mesma quando transportada para a política. Nenhum partido, em nenhuma democracia do mundo, entra numa eleição para perder. Não quer trocar seu osso com ninguém, quando está no governo — e quando está fora não quer trocar nada, e sim tirar o osso de quem está dentro. O Brasil, é claro, vive segundo essa mesma regra. Mas a história, aqui, é muito mais quente, porque o osso em disputa é muito maior. Perder uma eleição lá fora é ruim — mas no fim é apenas isso, uma derrota. Aqui não. Se o PT perder a eleição presidencial de 2014. seja com a presidente Dilma Rousseff ou com o ex-presidente Lula, vai haver um terremoto na vida pessoal de dezenas de milhares de pessoas, possivelmente muito mais, a começar por seus bolsos. No caso, iriam embora o governo, os anéis e os dedos.

É disso, e só disso, que se trata. Fala-se uma enormidade, e cada vez mais, sobre o "quadro sucessório"; todo mundo "trabalha com a hipótese" de alguma coisa. (É uma das curiosidades da nossa atual linguagem política: aboliu-se o verbo "pensar". Hoje o indivíduo não pensa — só "trabalha com a hipótese".) Mas o que está valendo mesmo, no jogo a dinheiro, é a corrida de uma multidão de gente para salvar o próprio couro. Até dois ou três meses atrás, esse era um problema inexistente: o governo tinha certeza de que Dilma "estava eleita já no primeiro turno". Mas a coisa mudou de repente, e o medo de perder invadiu o PT e a base aliada. Já apareceu um "volta Lula", tramado no escuro por ele mesmo, para desmanchar a candidatura de Dilma à reeleição; e os aliados, assim que sentiram o primeiro cheirinho de pólvora no ar, voltaram ao bazar de compra e venda do seu apoio.

As perdas materiais, aí, envolvem gente que não acaba mais. Quantos serão? É difícil saber ao certo. Entram, logo de cara, além dos 39 ministros que pretendem estar no próximo governo, perto de 25 000 funcionários de "confiança" nomeados livremente pelo presidente e sua turma — aos quais se devem somar os empregos que podem dar nas empresas estatais. Muitos desses cargos são coisa de cachorro grande: a prova mais recente foi a batalha que o senador Fernando Collor ("aliado") travou para substituir os ocupantes de dois empregos na Petrobras por gente sua. Brigou e levou: Dilma. que já não tinha escolhido os dois que estavam lá, também não escolheu os seus substitutos, em mais um belo retrato de como funciona seu governo. Some-se a isso a grossa maioria dos 594 deputados federais e senadores, e a miudeza política que sobrevive nos subúrbios mais distantes do poder central. Não se pode esquecer, é claro, todo o mundo multibilionário e opaco dos fundos de pensão gerenciados pelo PT e chefes sindicais — adicione-se a eles, aliás, a nata do mundo sindical petista. Multiplique-se, enfim, tudo isso pelo número de parentes, amigos, amantes, sócios etc. dessa turma, e já estamos falando numa quantidade de gente na casa dos seis algarismos. O leitor fica convidado a fazer sua conta pessoal.

Falta acrescentar, ainda, os privilégios dos donos do poder, e que valem tanto quanto dinheiro sonante. Um caso, entre milhares, ajuda a entender com perfeita clareza por que é indispensável, para o PT e a base aliada, manter o governo em 2014. Trata-se da última obra que o governador Sérgio Cabral, do Rio de Janeiro, colocou em sua biografia. Cabral, que há anos vive ajoelhado diante de Lula, mandou buscar seu cachorro "Juquinha", em sua casa de praia em Mangaratiba, num Agusta AW109 Grand New que faz pane da frota de sete helicópteros do governo estadual, mantidos ao custo estimado de 10 milhões de reais por ano. República? Está mais para corte de Maria Antonieta tropical. Ao povão do Rio, nessa fantasia, fica reservado o papel dos barões famintos e napoleões retintos que desfilam no samba Vai Passar, de Chico Buarque.

Talvez esteja aí, no fundo, o problema real da política brasileira de hoje. Se o PT cair fora, quem vai mandar o helicóptero buscar "Juquinha" em Mangaratiba?


O teste da realidade - J. R. GUZZO

REVISTA EXAME

De acordo com a propaganda oficial, o Brasil era. até há pouco tempo, um fenômeno de sucesso sem paralelo na história.
O problema, para o governo, é que não se pode esconder a verdade indefinidamente
ESTARIA O ANO DE 2013, NA ECONOMIA, JÁ PERDIDO PARA O GOVERNO DA PRESIDENTE Dilma Rousseff? 


A resposta mais sensata a essa pergunta é que, em dezembro deste ano, ela será substituída por outra, muito parecida: 2013 foi um ano perdido para o governo? O que muda é o tempo do verbo. No mais, teremos o habitual discursório para debater se um crescimento de 1,5%, 2% ou 2,5% no PIB foi bom, médio ou ruim - como se houvesse alguma grande diferença, nas realidades efetivas do Brasil, entre tais números ou outros do mesmo porte. O fato que verdadeiramente importa, seja lá qual for a cifra final de 2013. é que a economia está num pedaço de mau caminho. Pior: continua no mesmo mau caminho em que patina há mais de dez anos, e que ações de pura marquetagem produzidas pela máquina oficial de propaganda têm conseguido esconder durante esse tempo todo do público em geral, dos meios de comunicação e mesmo da maioria das cabeças pensantes do país.

Os números do momento, sem dúvida, são mais do que desconfortáveis. O último deles, divulgado no começo de julho, atesta que agora em maio a economia encolheu 1.4% em relação a abril. Trata-se de um certo TBC-Br, índice do Banco Central, que acrescentou outra informação: nos últimos 12 meses, o PIB cresceu apenas 1,9%, indicando que o crescimento do ano todo de 2013, se não houver uma vigorosa mudança no segundo semestre, ficará abaixo de 2%. É menos da metade do que o governo anunciava em janeiro. Não existe, na verdade, nenhum prognóstico animador. Um dos mais bonzinhos é o do FMI, justo ele, que faia em crescimento de 2,5% para o ano. O próprio Banco 
Central contenta-se em prever 2.7% - e não existe no horizonte visível nenhum fato concreto que permita esperar coisa muito diferente. Não há nada de bom nessa salada. Qualquer que seja o crescimento do PIB em 2013, será pouco - e isso quer dizer, no fim das contas, que a economia brasileira simplesmente não está funcionando de maneira a atender às necessidades da população. São necessidades desesperadas, urgentes e concretas, ligadas às condições de vida infernais do dia a dia da maior parte dos brasileiros: some-se a isso a exasperação com a roubalheira, o descaso e a incompetência sem limites do governo, e o que se tem é uma explosão como a do mês de junho.

O que o governo Dilma Rousseff está recebendo, agora, é a conta a pagar por mais de dez anos de mentira, durante os quais acreditou que seria possível mentir para sempre. Ainda há pouco falavam que o Brasil, graças ao gênio do ex-presidente Lula, era um fenômeno de sucesso sem paralelo na história econômica mundial. Teríamos "índices chineses" de crescimento. A transposição das águas do rio São Francisco seria a maior realização da engenharia humana desde as pirâmides do Egito. O governo do PT estaria fazendo uma das maiores transferências de renda para os pobres já vista na história. O petróleo do pré-sal levaria o Brasil à Opep - e por ai se vai. Mas não havia nada disso no mundo real. Em dez anos, de 2003 até agora. o Brasil passou uma única vez o crescimento anual de 7% na economia, em 2010 - quando teria de crescer no mínimo 7.5% ao ano, durante pelo menos uma ou duas décadas, para mudar de verdade. Ao longo de toda a gestão Lula-Dilma, a partir de 2003 e incluindo-se o ano de 2013 - com as previsões em vigor -, o Brasil cresceu, em média, 3,7% ao ano, apesar de toda a explosão no desenvolvimento mundial. E metade do que precisamos. E menos que o resultado da América Latina como um todo, muito menos que o dos países "emergentes" e ainda menos que o dos Brics, onde o Brasil figura em último lugar, disparado. A transposição de águas não transpôs água, mas apenas verbas. No caso do petróleo do pré-sal, venderam a pele do urso antes de matarem o urso, e hoje nem sabem mais direito onde está o urso.

É esse o problema com a verdade. Um dia ela aparece.

Dilma, não desperdice nossos recursos nesse sistema educacional - GUSTAVO IOSCHPE

REVISTA VEJA
Excelentíssima presidente da República, deputados e senadores: Está em suas mãos a decisão de aprovar ou vetar dois projetos de lei que aumentam o gasto em educação, um deles destinando 75% dos royalties do pré-sal para a área e o outro, o Plano Nacional de Educação, estipulando que dobremos o volume de gastos nos próximos dez anos, dos atuais 5% do PIB para 10% do PIB.
Nos últimos dez anos eu venho escrevendo sobre educação brasileira, e nela militando, com apenas um propósito: melhorar radicalmente a qualidade do ensino no país para que possamos dar um salto de desenvolvimento. Faço-o por espírito público, mas também por egoísmo: quero que meus filhos vivam em um país melhor que este que temos agora. Não ganho dinheiro com esse tema, não defendo interesse de nenhum grupo público ou privado, nacional ou estrangeiro. Ajo como se munido de uma procuração para falar em nome dos milhões de alunos das péssimas escolas públicas brasileiras, que não têm voz nem vez no debate político nacional. Por isso, espero que a senhora e os senhores ^creditem em mim quando digo: eu defenderia qualquer medida para a qual houvesse evidências de que impacta positivamente o nível de aprendizado dos nossos alunos. Se essa medida fosse algo tão fácil e simples quanto aprovar uma lei, então eu ficaria mais feliz ainda. E, se essa medida tivesse como consequência secundária melhorar a renda dos 5 milhões de brasileiros que trabalham no sistema educacional, isso me deixaria triplamente contente. E, mesmo que não busque popularidade nem pretenda fazer-lhes companhia em atividades eleitorais, tampouco sou masoquista, de forma que ficaria mais alegre ainda em defender algo que vem sendo pedido pelos manifestantes de rua e por uma série de almas caridosas que clamam para que a senhora e os senhores aprovem as ditas leis. Por tudo isso, adoraria me juntar a esse coro dos que bradam por mais recurso. Mas não posso. Porque não consigo faltar com a verdade. nem ignorar décadas de evidências, nem consentir que duas dádivas que recebemos - a capacidade de trabalho do povo brasileiro, que gera os impostos de que os senhores estão prestes a se apropriar; e as riquezas minerais enterradas em nossa costa - sejam tão clamorosamente desperdiçadas em um sistema que é um Midas ao contrário: transforma o ouro que recebe em desperdício e ignorância.

A senhora e os senhores devem ter ouvido que o Brasil investe pouco em educação. Que os países que deram grandes saltos educacionais aumentaram seus gastos no setor para viabilizar seus avanços. Que se gastarmos mais conseguiremos resolver nossos problemas. Que se pagarmos mais aos nossos professores haveremos de recuperar sua combalida autoestima e finalmente trazer "os melhores" alunos para o magistério, para que elevemos a qualidade dos mestres de amanhã. Bem, desculpem-me pela franqueza e pela linguagem direta, mas a urgência e a gravidade do assunto tomam-nas necessárias: isso é tudo mentira. Deslavada.

O Brasil não gasta pouco em educação. Como mostram os dados do levantamento mais respeitado do mundo na área, o Education ata Glance de 2013, investimos em nossa educação básica 4.3% do PIB, contra 3,9% do PIB dos países desenvolvidos. Se olharmos para os gastos educacionais como um todo. ainda gastamos um pouco menos. mas isso é basicamente porque nosso sistema universitário público é minúsculo e gasta bem menos, no total, do que esses países, em que a maioria da população da faixa etária correspondente cursa o ensino superior. Nosso investimento por aluno, quando comparado ao nível de renda brasileiro, é basicamente o mesmo dos países desenvolvidos. (A senhora e os senhores, cercados por gente que quer ter mais dinheiro para administrar, provavelmente viram esses dados em seus valores absolutos nominais, em dólares. Como se fizesse sentido comparar gastos nominais em países que têm renda três ou quatro vezes maior do que a nossa, e como se em alguma atividade os valores nominais de países desenvolvidos e em desenvolvimento fossem semelhantes...).

Talvez a senhora e os senhores já saibam que gastamos o mesmo que os países com os melhores sistemas educacionais do mundo, mas acreditem que esses são patamares de nações que "já chegaram lá". Já devem ter ouvido alguém falar que, quando esses países deram seu salto educacional, gastaram perto dos 10% do PIB que tencionamos agora gastar. Novamente: é mentira. Creio que o gráfico ao lado se encarrega de desmontar essa empulhação sem maiores delongas (os dados originais e outras bibliografias estão em twitter.com/gioschpe). São dados da Unesco para países que são referência no mundo em melhoria educacional, além dos nossos vizinhos. Cobrem o período de 1970 (quando esses dados começam a ser coletados) a 2012. Tanto faz se olharmos para o período todo ou só para o momento (1970-89) em que a maioria desses países começou a dar seu salto, a conclusão é a mesma: não houve elevação de investimento antes, durante ou depois das melhorias, e os patamares de investimento chegam no máximo à casa dos 5% do PIB. Tanto faz se o PIB é de país rico, como Espanha e Inglaterra, ou de países em desenvolvimento, como China e Chile.

Finalmente, sobre os professores. Como já escrevi em vários artigos aqui, há diversas pesquisas em que os próprios professores são entrevistados, e a maioria diz que escolheu a profissão porque a ama, gosta dela e não pretende abandoná-la. Não creio que essa categoria tenha uma autoestima menor do que a média, portanto. Muito se fala dos poucos casos de países que conseguem atrair os estudantes mais talentosos para a docência, mas esse é o típico caso da exceção que confirma a regra. Mesmo nos países mais bem-sucedidos, em geral o jovem que opta pela carreira de professor não é o mais qualificado de seu grupo etário. Os mais competentes acabam optando por profissões da iniciativa privada, em que seu talento será valorizado. Professor é carreira pública, com as limitações, engessamentos e estabilidade comuns às demais funções públicas. O que a maioria dos países top consegue fazer é pegar esse jovem mediano e, através de formação excelente e acompanhamento continuado ao longo da carreira, transformá-lo em um profissional competente. É o que deveríamos buscar fazer também.

Entendo que a senhora e os senhores querem fazer algo pela educação brasileira. Porém, como diz o vulgo, de boas intenções o inferno está cheio. Estão agindo sob a premissa errada: de que nossos problemas se resolvem com dinheiro. Isso é falso. Não é nem uma questão da quantidade de dinheiro, nem da forma como esse dinheiro é gerido. Precisamos de muitas coisas para nossa educação, e as mais importantes não têm nada a ver com dinheiro. Onde focar? Na melhoria das universidades de pedagogia/licenciatura, que são totalmente teóricas e ideológicas e não preparam ninguém para a docência. Na seleção criteriosa de diretores de escola. No estabelecimento de um currículo nacional. Na criação de expectativas altas para todos os nossos alunos, especialmente os mais pobres. Coibindo o absenteísmo docente. Fazendo com que a jornada de aulas seja aproveitada, sem tempo desperdiçado com atrasos, anúncios, chamadas, conselhos de classe. Impedindo professores de achar que encher a lousa de matéria e mandar que os alunos copiem é uma aula. Alfabetizando aos 6 anos de idade. Desinchando o currículo, especialmente no ensino médio, e dando opção de cursos técnicos e profissionalizantes nessa etapa. Prescrevendo e corrigindo mais dever de casa. Utilizando avaliações constantes e intervenções rápidas quando se identifica um aluno com problema.

Poucos itens acima podem ser resolvidos na esfera federal. A maior parte é de responsabilidade de prefeitos, governadores e seus secretários de Educação. Hoje, a maioria deles faz um trabalho muito ruim. Jogar mais um caminhão de dinheiro nas mãos dessas pessoas, com esse sistema, será a garantia de um desperdício colossal. Se ao fazerem um péssimo trabalho eles são recompensados com o dobro de recursos, que incentivo terão para melhorar?! Espero que os senhores parlamentares não se rendam ao populismo. Caso sucumbam, presidente Dilma, use o seu poder de veto. Talvez não ajude na sua próxima eleição, mas certamente beneficiará os colegas do seu neto.

O problema da educação não é falta de dinheiro - MAÍLSON DE NÓBREGA

REVISTA VEJA
A qualidade do capital humano é essencial para o desenvolvimento. A baixa qualidade da educação explica a perda da liderança econômica da Inglaterra para os Estados Unidos por volta de 1870 e para a Alemanha no fim do século XIX. Para Rondo Cameron e Larry Neal, no livro A Concise Economic History ofthe World, a Inglaterra foi o último país rico a universalizar a educação fundamental. A Revolução Industrial ocorreu, secundo eles, "na era do artesão inventor. Depois, a ciência formou a base do processo produtivo". Em vez dos recursos da natureza - algodão, lã, linho, minério de ferro -, a indústria passou a depender cada vez mais de novos materiais, nascidos da pesquisa científica. Nessa área, americanos e alemães, com melhor educação, venceram os ingleses. A Suécia, que era atrasada no início do século XIX, se industrializou rapidamente graças à educação. Em 1850, apenas 10% dos suecos eram analfabetos, enquanto um terço dos ingleses não sabia ler nem escrever.
No Brasil, até os anos 1960, acreditava-se que a educação seria mero efeito do desenvolvimento. Em 1950 os respectivos gastos públicos eram de apenas 1,4% do PIB. A partir dos anos 1970, a visão se inverteu. Convencemo-nos de que a prosperidade depende da educação. Os gastos subiram e hoje atingem 5,8% do PIB. A educação fundamental foi universalizada na década de 90 (um século e meio depois dos Estados Unidos e quase meio século depois da Coreia do Sul). Agora, demandamos melhora da qualidade, mas a ideia está contaminada pelo hábito de esperar que a despesa pública resolva qualquer problema. Daí o equivocado projeto de lei que aumenta os gastos em educação para 10% do PIB. Na mesma linha, Dilma e o Congresso querem aplicar na educação grande parte das receitas do petróleo.

Proporcionalmente, nossos gastos em educação equivalem à média dos países ricos. Passamos os Estados Unidos (5,5% do PIB). Investimos mais do que o Japão, a China e a Coreia do Sul, três salientes casos de êxito na matéria (todos abaixo de 5% do PIB). Na verdade, a má qualidade da nossa educação tem mais a ver com gestão do que com falta de recursos. O professor José Arthur Giannotti assim se referiu aos jovens que foram às ruas pedir mais dinheiro para o setor: "Pleiteiam mais verbas sem se dar conta da podridão do sistema. Mais do que verbas, é urgente uma completa revisão das instituições educativas vigentes. A começar pela reeducação dos educadores, que, na maioria das vezes, ignoram o que estão a ensinar" (O Estado de S. Paulo, 19/6/2013).

Outro educador, Naercio Menezes Filho, citou o interessante caso de Sobral (Valor, 21/6/2013). Entre 2005 e 2011 o município cearense avançou quatro vezes mais rápido no ensino fundamental do que São Paulo, sem aumento significativo de despesa. "O gasto por aluno que Sobral usa para alcançar esse padrão de ensino nas séries iniciais é de apenas R$ 3 130,00, enquanto a rede municipal de São Paulo gasta ao redor de R$ 6 000 por aluno, ou seja, duas vezes mais." Destinar receitas do petróleo para a educação é um duplo equívoco: (1) o problema não é de insuficiência de recursos, mas de sua aplicação, como vimos; (2) não é correto financiar políticas públicas permanentes com recursos finitos e voláteis. No longo prazo, as reservas de petróleo se esgotarão, enquanto os preços (e as receitas) se sujeitam às oscilações do mercado  mundial de commodities.

A proposta desconhece outra lição da experiência: a receita de recursos naturais não renováveis deve pertencer às gerações futuras. O exemplo a seguir é o da Noruega, onde as receitas do petróleo são carreadas para um fundo que em 2012 acumulava 131% do PIB. O fundo serve para lidar com os efeitos de quedas dos preços do petróleo e principalmente com os custos previdenciários que advirão do envelhecimento da população.

A educação brasileira precisa de uma revolução gerencial e de prioridades, inclusive para gastar melhor os recursos disponíveis. Ampliar os respectivos gastos e destinar-lhe as receitas do petróleo agrada a certas plateias, mas o resultado poderá ser apenas o aumento dos desperdícios. Será péssimo para as próximas gerações.

Invasão de privacidade - LUIZ FELIPE PONDÉ

FOLHA DE SP - 22/07

As redes sociais, grande bacanal de narcisismo, são um prato cheio para sermos vigiados


Quando Obama disse que ninguém pode viver com segurança e privacidade com 0% de inconveniência, pensei: Obama virou gente grande. Mas não foi assim que o mundo reagiu. Quase todo mundo ficou horrorizado, e eu, fiquei horrorizado com mais um show de infantilidade do mundo em que vivemos. É um mundo "teenager" mesmo.

E por que o Brasil seria vigiado? Talvez porque suspeita-se que o Brasil esteja na rota entre o dinheiro do crime internacional e terroristas. E a América Latina está à beira de uma virada socialista, só não sabe quem não quer ver. Corrupção, autoritarismo, gestão inepta da economia e populismo sempre foram paixões secretas do socialismo.

A CPI do "Obamagate" é um truque nacionalista (tipo Guerra das Malvinas) para desviar a atenção da nossa crise econômica, apesar de muitos brincarem de revolução enquanto a economia vai para o saco nas mãos de um governo que aumentou os gastos públicos com embaixadas em repúblicas das bananas, criação de ministérios inúteis e "investimento" na inadimplência como forma de ganhar votos.

A diferença entre um "teenager" (ainda que com PhD, PostDoc e livre-docência) e alguém que sofre para ser um pouco menos "teenager" é saber que o mundo não é preto e branco e que se você é responsável por muitas coisas, você nem sempre vive com luvas de pelica.

O mundo é uma terra abandonada pelos deuses, e temos que nos virar com o pouco que temos, a começar por uma espécie confusa como a nossa e que ainda acredita em borboletas azuis como salvação da vida.

Não é bonito o que o Obama fez. Mas todo mundo que tem as responsabilidades que o Obama tem faz coisas assim quando ocupa o lugar do Obama.

Por muito menos, vigiamos a geladeira para ver quantos iogurtes tem, os armários da cozinha para ver quantos sacos de açúcar tem, e as sacolas das empregadas para ver se elas não estão levando algum pacotinho de carne.

O mundo é um grande Big Brother, George Orwell acertou em cheio. A diferença é que nosso mundo não é uma ditadura pré-histórica como a do livro "1984", mas uma sociedade democrática que preserva direitos gays ao mesmo tempo que quer saber se eu e você estamos envolvidos num ataque a alguma embaixada no Mali ou que tipo de tênis e comida étnica curtimos.

Nada disso é bonito, apenas é assim. Para manter as coisas funcionando, pessoas tem que fazer coisas que não são muito bonitinhas. Eu sei que os inteligentinhos facilmente entram em surto, mas que vão brincar no parque, com segurança, de preferência.

As redes sociais, esse grande bacanal de narcisismo, são um prato cheio para sermos vigiados. Sites nos dão nosso perfil de consumo e nossa "linha da vida". Celulares nos avisam quando algo acontece em nossa conta e em nosso cartão de crédito, e isso tudo é muito "prático", não?

Este evento revela a óbvia violência à privacidade que as redes sociais significam. A ideia de que elas são uma ferramenta da democracia pode ser uma ideia também infantil.

Além de elas serem um elemento de alto risco com relação a linchamentos e violência espontânea, elas nos tornam vulneráveis de modo direto na medida em que estar "na rede" significa estar dependente de uma "teia" (de aranha) tecnológica de controle bastante vulnerável a tutela das empresas que nos oferecem a própria ferramenta. Por isso o nome é TI, tecnologias da informação.

Há muito se sabe que é mais fácil subornar um blogueiro do que um jornal gigantesco (o blogueiro é mais barato...). Agora fica mais claro ainda que a manipulação via redes sociais é muito maior do que via mídia "clássica".

Todo mundo sabe que não pode marcar encontros amorosos ilegítimos via e-mail ou mensagem de celular, como alguém fica escandalizado que a internet não seja segura? Parece papo de falsa virgem de 50 anos.

Em breve esqueceremos isso e continuaremos a postar fotos, falar bobagens, marcar revoluções no final de tarde e propor utopias que requentam a falida autogestão. E viajar para fazer compras em Miami com segurança e usando Visa.

Snowden, e seus 15 minutos, é mais um falso herói para falsos adultos.

Disputa pelo jovem - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 22/07

Veja por que, para o futuro da Igreja Católica, são importantes eventos como este da Jornada Mundial da Juventude.
Pesquisa do Data Popular, de Renato Meirelles, concluiu que o percentual de pessoas que se dizem católicas entre os mais velhos (com 50 anos ou mais) é 30% maior do que o percentual de brasileiros com idades de 16 a 24 anos que declaram seguir a religião do Papa Francisco.

E mais...
Já as igrejas evangélicas atraem mais jovens do que idosos.

Calma, gente
Tem palestino revoltado com o nosso Gilberto Gil.
Eles invadiram o site do querido cantor com apelos para que ele não se apresente em Ashdod, cidade de Israel, no dia 30.

Igual a Marley
Virou febre entre as patricinhas cariocas fazer aquele “dread” nos cabelos. As meninas separam mecha por mecha e fazem o penteado, tornando os fios embaraçados e duros.
Na Praia de Ipanema, o visual custa uns R$ 50.

Lobista do Google
O pessoal que defende a nova Lei do Direito Autoral diz que por quase um ano o subchefe de Assuntos Jurídicos da Casa Civil, Ivo da Motta Azevedo, sentou em cima do anteprojeto.
Semana passada, o “Correio Braziliense” disse que Ivo atuou como lobista do Google entre 2008 e 2011.
A conferir.

No mais,
Bem-vindo Papa Chico. Receba o abraço do Rio e do Brasil.

A paisagista lésbica
“Flores Raras”, sobre o romance entre a poeta americana Elizabeth Bishop e a paisagista carioca Lota de Macedo Soares, já foi comercializado para mais de dez países. Nos EUA será lançado em novembro.
O filme de Bruno Barreto, com a atriz australiana Miranda Otto e a brasileira Glória Pires, estreia em 150 salas brasileiras a partir de 16 de agosto.

Direitos humanos
Durante a Jornada Mundial da Juventude, o diplomata brasileiro Sergio Vieira de Mello, morto no Iraque num atentado terrorista em 2003, vai ser homenageado.
A OAB do Rio vai colocar uma placa ao lado do Monumento à Paz Mundial, no Centro, ressaltando a dedicação de Vieira na defesa dos direitos humanos.

A cor do artista
O querido ator Tonico Pereira discordou da nota da coluna, ontem, que registrava curiosidade racial na última eleição do Sindicato dos Artistas do Rio, com uma chapa de maioria negra e outra de maioria branca:
— Pode passar a ideia errada de que não era uma disputa sindical e sim racial. A beleza do Brasil está na mistura de raças.
Tem razão.

Discriminar jamais
O ministro Marcelo Neri lança hoje uma pesquisa do Ipea sobre juventude, que mostra muito bem a diferença de opinião de acordo com a faixa de idade.
A importância da eliminação do preconceito e da discriminação preocupa, por exemplo, 3,6% mais os jovens entre 15 e 29 anos do que aqueles com mais de 30.

Reduto sacro
O Papa Francisco, como se sabe, sai hoje de papamóvel da Catedral, na Avenida Chile, quase na Lapa, o bairro boêmio do Rio.
A proximidade faz o bar Santo Scenarium, que tem decoração sacra com mais de 300 imagens, esperar uma pequena multidão para celebrar o visitante.

Horror na Rocinha
Uma rinha de passarinhos continua ativa na Rocinha.
Aos domingos, a turma se junta para ver os pobres bichinhos brigarem.
O dono do negócio faz comércio de aves raras.

A dor da Portela
Um grupo da bateria da Portela, batendo surdo, participará amanhã, quando a chacina da Candelária completa 20 anos, do ato simbólico na Igreja de Santa Teresinha do Menino Jesus, em Botafogo, lembrando o massacre.
O ato, como a coluna registrou, será feito após a missa do Papa Francisco, ali perto, na Praia de Copacabana.

Abalando estruturas
Corre na 8ª Vara Federal do Rio uma ação popular contra o TRE do Rio. Questiona se o novo prédio do tribunal, na Avenida Presidente Vargas, no Centro do Rio, não irá afetar as estruturas e a ambiência do vizinho e abandonado Hospital Escola São Francisco de Assis, da UFRJ, que é um tombado.

O perigo que vem da China - CLAUDIO ADILSON GONÇALEZ

ESTADÃO - 22/07

Não é novidade a importância da China para a economia global e, em particular, para o Brasil. Mas vale a pena relembrar alguns números. Nas últimas três décadas, o PIB chinês cresceu em média à incrível taxa de 10% ao ano. Pelo critério de paridade do poder de compra, o PIB da China, em 2012, foi de aproximadamente US$ 12 trilhões, ou seja, 15% do PIB global e quase 80% do norte-americano. Desde a crise de 2008, o crescimento chinês tem respondido, em média, por quase metade da taxa de expansão do PIB mundial.

Na desagregação por país, sem considerar a União Europeia (por ser um bloco econômico hoje composto por 28 nações), a China é de longe o principal destino (em valor) das exportações brasileiras. Em 2012, nossas vendas para o gigante asiático foram de US$ 41,2 bilhões (17% do total), bem à frente dos US$ 26,8 bilhões exportados para o nosso segundo maior comprador, os EUA.

Talvez, mais importante do que tais números, é o fato de a China ser o maior formador dos preços internacionais das commodities produzidas pelo Brasil. Observe-se que nossas exportações para os chineses são extremamente concentradas. Em 2012, 85% do valor exportado para aquele país correspondeu a apenas seis itens, a saber: minério de ferro, soja (grão e óleo), papel e celulose (incluída pasta de madeira), produtos semimanufaturados de ferro e aço, petróleo e derivados e aeronaves. Ou seja, um eventual colapso do dragão asiático faria enorme estrago nas cotações internacionais da maior parte desses bens, provocaria deterioração adicional de nossos termos de troca e poderia dar início a um perigoso círculo vicioso para a economia brasileira, caracterizado por acentuada depreciação cambial, aumento do risco soberano e redução do nosso já frágil crescimento econômico.

Mas qual é o risco de a economia chinesa experimentar queda brusca no crescimento ou, pior ainda, entrar em um ciclo recessivo? Infelizmente, como tentarei mostrar a seguir, não é nada desprezível, e isso vem ficando cada vez mais claro desde o início de 2013.

A desaceleração recente da China é evidenciada não só por indicadores tradicionais como o PIB e a produção industrial, como também por outros considerados mais confiáveis e relevantes pelo atual primeiro-ministro, Li Keqiang, tais como consumo de energia elétrica e carga transportada nas ferrovias. Na comparação mês sobre igual mês do ano anterior, o primeiro desses indicadores, que em 2010 crescia entre 15% a 20%, vem apresentando trajetória bem menos brilhante, tendo se expandido pouco menos de 7% em maio último. Quanto ao transporte de carga nas ferrovias, os dados são ainda mais desalentadores: crescia, em média, entre 10% e 15%, até o ano passado, e registrou queda de 4%, também no mês de maio último. Na mesma direção, o volume de comércio, tanto exportação como importação, vem exibindo forte perda de vigor.

Paradoxalmente a essa desaceleração, o crédito cresce vigorosamente. O saldo do Financiamento Social Total (TSF, na sigla em inglês), que engloba todo o crédito bancário e não bancário do país, exceto a dívida mobiliária federal, passou de 120% do PIB, em 2005, para quase 200% do PIB, atualmente. Desde o início de 2012 até março de 2013, vinha crescendo 23% em bases anuais, tendo registrado certa moderação apenas nos últimos dois meses. A combinação de forte aumento do crédito com desaceleração do crescimento faz surgir preocupações quanto à sustentabilidade das dívidas e representa um dos maiores desafios para os responsáveis pela política econômica chinesa.

Esse aumento do crédito não é explicado por maiores financiamentos para a construção ou por mais recursos para as empresas privadas financiarem suas operações e investimentos. Decorre, em grande medida, de dívidas que se acumulam nos governos locais e nas empresas estatais, que frequentemente investem em projetos de baixo retorno.

O pior é que grande parte dessa expansão de crédito não ocorre por meio de empréstimos bancários convencionais, sujeitos a controle de alavancagem, depósitos compulsórios e regras prudenciais. Ela se dá por vários instrumentos, fora do balanço dos bancos, conhecidos no jargão econômico por "shadow banking system", que tantos estragos causou às economias ocidentais na grande crise de 2008. Estimativas confiáveis indicam que cerca de 40% do estoque de crédito na China está fora do balanço dos bancos e que nas novas concessões essa fatia já é de quase 60%.

O governo chinês terá de apertar firmemente a política de crédito, mais cedo ou mais tarde, para conter a proliferação de empréstimos via sistema financeiro informal e reduzir o risco de instabilidade financeira. Se fizer cedo, o crescimento econômico tende a se reduzir mais rapidamente do que espera o mercado, podendo ficar em torno de 6%, já no ano que vem. Se demorar a agir, exacerbará as atuais distorções macroeconômicas e poderá conduzir a China a um episódio recessivo severo.

Mas a China não preocupa somente pelos problemas no sistema financeiro. A baixa disposição das grandes empresas estatais para distribuir lucros, preferindo investi-los sem critério adequado de viabilidade econômica, bem como os generosos subsídios concedidos ao investimento privado, principalmente pelos governos locais, têm gerado elevadas taxas de ociosidade de capacidade instalada em muitos setores da economia. Recessões causadas por excesso de investimento (overinvestment, no jargão em inglês), embora não tenham ocorrido em períodos recentes, são comuns na história econômica chinesa.

Mudar o padrão de crescimento, hoje baseado em insustentável taxa de investimento de quase 50% do PIB, em favor de maior participação do consumo das famílias é imprescindível, mas está longe de ser tarefa trivial e isenta de riscos. O governo brasileiro não pode fazer nada para consertar a política econômica chinesa, mas pode e deve fortalecer nossos fundamentos domésticos para reduzir os danos ao País, caso a crise no dragão asiático realmente ocorra.

Unidade na diversidade - RUY CASTRO

FOLHA DE SP - 22/07

RIO DE JANEIRO - Nos anos 50, numa escapada a Hollywood, Ibrahim Sued entrevistou Edward G. Robinson (1893-1973), astro de clássicos do cinema como "Alma no Lodo" (1931), "Pacto de Sangue"(1944) e "Paixões em Fúria" (1948). Robinson, grande colecionador de pintura e falando duas ou três línguas, era quase um intelectual em comparação com a média dos atores. Isso não o impediu de perguntar a Ibrahim, "Com esse nome, como você pode ser brasileiro?".

Robinson era apenas mais um americano a ver o Brasil como uma espécie de México do sul, com todos os clichês inerentes. Como podia acreditar que aquele sujeito de 1,90 m, olhos claros e com um nome das Arábias fosse brasileiro? Ibrahim, por sua vez, perdeu a chance de perguntar-lhe como alguém chamado Emanuel Goldenberg e nascido na Romênia podia ter se tornado o Edward G. Robinson, que ninguém suspeitaria de não ser americano.

Na verdade, nenhum dos dois sabia que a composição étnica do Brasil era muito mais rica que a dos EUA. E que o próprio Edward G. Robinson talvez tivesse parentes no Brasil --tão brasileiros quanto os de Ibrahim.

O 1,5 milhão de peregrinos no Rio para a Jornada Mundial da Juventude --incluindo chineses, croatas, letões, poloneses, angolanos, suecos, ucranianos e outras 20 nacionalidades-- devem estar surpresos com a variedade de origens, cores e compleição dos brasileiros com que estão interagindo. E, principalmente, ao constatar que nenhum grupo parece se sentir "mais brasileiro" do que os outros.

A prova é que, com tanta gente de fora no Rio, as ruas não registraram nenhuma alteração notável no aspecto dos transeuntes. Todo mundo que aqui está poderia, sem esforço, passar por brasileiro. Essa noção de unidade na diversidade talvez se constitua num dos mais belos legados da versão carioca da Jornada Mundial da Juventude.

Só faltam ajustes - JOSÉ MILTON DALLARI

O GLOBO - 22/07

Não passa um dia sem que os jornais noticiem que os investidores estrangeiros estão deixando o Brasil. Vendem suas ações na Bolsa ou se desfazem de seus títulos públicos, que já não estão mais tão atraentes, depois que o juro caiu de 20% ao ano para os atuais 8,5%. Esse dinheiro veio buscar o lucro rápido. É um capital de curto prazo que ao menor sinal de retração da economia vai buscar uma chance de ganho melhor em outro país.

Mas é preciso olhar o capital que interessa ao país no longo prazo. É o chamado Investimento Estrangeiro Direto (IED). É dinheiro aplicado na criação de empresas, em fusões e aquisições ou empréstimos entre matrizes e filiais. São recursos que geram empregos e ajudam o Brasil a crescer. Esse dinheiro fica por anos no país. Pela primeira vez, os emergentes receberam mais investimentos estrangeiros diretos do que as economias ricas no ano passado. E o Brasil foi destaque.

Os países em desenvolvimento responderam por 52% do fluxo total de IED mundial no ano passado, atraindo US$ 703 bilhões. Já os países ricos tiveram um investimento de US$ 561 bilhões. O Brasil saltou do quinto para o quarto lugar no ranking das nações que mais receberam dinheiro destinado à produção. Foram injetados no país nada menos que US$ 65 bilhões em 2012. O Brasil ficou apenas atrás de Estados Unidos (US$ 168 bilhões), China (US$ 121 bilhões) e Hong Kong (US$ 75 bilhões). É um número para se comemorar.

A consultoria Ernst &Young Terco listou uma série de motivos que mantêm o Brasil atrativo aos olhos do investidor estrangeiro de longo prazo. Entre eles, estão uma classe média crescente, uma forte demanda doméstica e enormes reservas inexploradas de recursos naturais. Além disso, diz a consultoria, precisamos de políticas governamentais de incentivo, simplificação dos processos de licenciamento e do ambiente regulatório. Crédito subsidiado, redução tributária e opções de financiamento acessíveis também são elementos de atração de recursos.

Os US$ 65 bilhões que pousaram no Brasil no ano passado vieram para montar empresas, mas também para aproveitar o crescimento do setor de serviços. A grande quantidade de recursos petrolíferos, de gás e minerais, além da expansão rápida da classe média são fatores que continuam a atrair investimentos estrangeiros diretos para a América do Sul, incluindo o Brasil , afirma a Unctad, órgão das Nações Unidas para o Desenvolvimento e Comércio. Um dos problemas apontados é que o IED na América do Sul se concentra nas indústrias extrativistas, onde companhias estrangeiras têm papel de destaque. A exceção é o Brasil.

Não se pode desdenhar dos avanços obtidos nos últimos anos, como a abertura da economia, o fim da hiperinflação, a universalização dos serviços de telefonia. O Brasil só precisa de ajustes para retomar o crescimento.

IGREJA X FIÉIS - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 22/07

O uso da pílula do dia seguinte, para evitar gravidez, é aprovado por 82% dos católicos jovens. A criminalização do aborto é condenada por 62% dos fiéis entre 16 e 29 anos. Já a união entre pessoas do mesmo sexo é apoiada por 56% dos católicos com menos de 30 anos. Os dados são de pesquisa do Ibope encomendada pelo grupo Católicas pelo Direito de Decidir.

IGREJA 2
A pesquisa, que será divulgada hoje, revela que a juventude católica quer mudança: 90% pedem punição de religiosos envolvidos em crimes de pedofilia, 72% aprovam o fim do celibato e 62%, a ordenação de mulheres.

"Há uma defasagem enorme entre o que pensam e praticam os fiéis e as normas da instituição, especialmente no que se refere à moral sexual", afirma a socióloga Maria José Rosado, coordenadora do grupo católico.

IGREJA 3
O Ibope ouviu 4.004 brasileiros, 62% deles católicos. Cerca de 31% têm entre 16 e 29 anos. "A multidão de jovens que participará da Jornada Mundial da Juventude [de amanhã a domingo, no Rio] sinaliza que vai atrás de um líder carismático, como o papa Francisco, mas não segue a mensagem da igreja", diz Maria José Rosado.

VAIVÉM
O presidente do PPS, Roberto Freire, diz ainda ter esperanças na fusão do partido com o PMN. "O processo sofreu um abalo, mas reabrimos a discussão." Com a retomada do diálogo, ele aposta em um acordo até domingo, data da reunião do PMN para tratar justamente da desistência de formar a MD (Mobilização Democrática).

BOLA NA REDE
Kaká se tornou sócio do Desimpedidos, canal de entretenimento e esporte no YouTube. Os fãs do meia do Real Madrid poderão acompanhar vídeos exclusivos do jogador. No ar desde 24 de junho, o Desimpedidos produziu, com o Corinthians, o embate do lateral direito do timão, Alessandro Balboa, com Júnior Cigano, lutador da equipe de MMA do clube.

VEM PRA RUA
A associação de moradores dos Jardins América, Europa, Paulista e Paulistano levará ao prefeito Fernando Haddad (PT-SP) propostas sobre as regras de ocupação da região. A AME Jardins discute o novo Plano Diretor com lideranças de outros bairros. Cogita protestos se não for ouvida.

BOA VIZINHANÇA
"Temos que manter a área exclusivamente residencial, impedir a verticalização e controlar o trânsito", diz Julio Serson, presidente da AME. Ele afirma que a região é o "pulmão da cidade", com 2.000 árvores. A entidade tem 300 associados e cobra R$ 150 de mensalidade.

VENTO A FAVOR
O produtor de cinema Heitor Cavalheiro, 25, será o novo tripulante do veleiro da família Schurmann. O paulistano de 25 anos vai se aventurar pelos mares da China, Indonésia, África do Sul, Austrália e Japão na companhia dos navegadores catarinenses, ao longo de dois anos, a partir de dezembro.

QUEM UM DIA IRÁ DIZER
Depois de Lula, agora Dilma Rousseff é alvo de paródia no YouTube com "Faroeste Caboclo", da Legião Urbana. O responsável é o empresário Pedro Guadalupe, 27, autor do primeiro vídeo, com mais de 667 mil visualizações, que a família de Renato Russo tentou tirar do ar.

Na nova versão, a presidente renuncia e Lula volta ao Planalto. Guadalupe faz marketing digital em BH.

DIREÇÕES Patricia Pillar posou para ensaio da revista "L'Officiel"; amanhã, a atriz lança em SP "Vergonha", clipe da cantora Márcia Castro que ela dirigiu; na sequência, grava a minissérie global "Amores Roubados" no sertão de PE

DO VERSO À PROSA
A escritora Mariana Ianelli recebeu amigos no lançamento de seu primeiro livro de crônicas, "Breves Anotações sobre um Tigre" --os sete anteriores eram de poesia. O advogado Gilberto Bergstein e o escritor Joaquim Maria Botelho estiveram na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, na Paulista.

A DISNEY É AQUI
A apresentadora Adriane Galisteu levou o filho, Vittorio, para assistir ao espetáculo "Disney Live! - Festival Musical do Mickey". Outros pais também estiveram com os filhos no teatro Bradesco. Entre eles o ex-jogador Denílson e a mulher, Luciele di Camargo, com Maria Eduarda, o humorista Paulinho Serra, com Flor, e o empresário André Brandão, com Antônio.

CURTO-CIRCUITO
O 11º Gala, evento beneficente marcado para 18 de setembro, em Nova York, vai homenagear Alfredo Setubal e Felipe Diniz.

Mônica Salmaso canta hoje à noite na premiação Marketing Best, para convidados, na Sala São Paulo.

A top Daiane Conterato participa de desfile do estilista Haider Ackermann, a convite dele, hoje, em Medellín, na Colômbia.

As guerras sírias - GILLES LAPOUGE

O Estado de S.Paulo - 22/07

Há mais de dois anos, a guerra civil grassa na Síria, onde as forças do governo de Bashar Assad combatem os insurgentes, os jovens, os pobres, os desesperados que se revoltaram contra o regime tirânico e violento de Damasco. O problema é que hoje não há mais uma única guerra na Síria. Há duas ou mesmo três e, quem sabe, quatro.

Há a guerra civil, evidentemente, a principal, de Bashar Assad contra o seu povo. Mas, além disso, no interior de cada campo, formaram-se diversos clãs, facções inimigas, embora em cada um deles haja outras guerras internas - e, frequentemente, tão cruéis e tão sangrentas quanto a travada por Bashar Assad contra os rebeldes que o combatem. Esse fato aconteceu na semana passada num reduto nas mãos dos rebeldes, no nordeste da Síria. Ali, circula com seus homens um dos chefes do Exército Sírio Livre, Abou Bassir.

A certa altura, ele se defrontou com um bloqueio montado na estrada pelo Estado Islâmico do Iraque, uma ramificação da rede Al-Qaeda. Bassir se enfureceu, e exigiu que o bloqueio fosse retirado imediatamente. Um homem do atirou e, atingido pelos disparos, Bassir morreu.

Bassir e os que o abateram pertencem ao mesmo campo na guerra civil da Síria: eles querem o fim da ditadura de Bashar Assad.

Mas, enquanto Bassir é sírio e pertence ao grupo dos rebeldes que há dois anos se levantaram sem armas contra a ditadura de Bashar Assad, aqueles que o assassinaram não são sírios. Esses assassinos são jihadistas, fanáticos defensores da guerra santa. Originários principalmente do Iraque, do Paquistão, do Irã ou de algum outro lugar, também querem abater Bashar Assad, mas não para substituir a tirania por uma democracia e sim para tornar a Síria uma província do vasto "califado" islâmico que sonham estabelecer de Cabul ao Cairo e até Casablanca.

Repetição. O que assusta é que essa execução, espetacular até, não é um caso isolado. No início de junho, um menino de 15 anos foi assassinado em público pelos jihadistas de Alepo por ter pronunciado o nome de Maomé com ironia.

Há alguns dias, numa zona próxima à Turquia, o Estado Islâmico do Iraque atacou grupos do Exército Sírio Livre, deixando mais de dez mortos.

No início da insurreição contra o regime de Bashar Assad, os rebeldes, que não tinham armas nem experiência, acolheram de braços abertos os jihadistas estrangeiros que dispunham de bons armamentos, eram treinados e demonstravam uma coragem extrema.

Mas, muito rapidamente, os sírios do Estado Islâmico do Iraque foram sobrepujados pelos jihadistas. Hoje, a presença desses fanáticos gerados pela Al-Qaeda no território da Síria faz explodir a rebelião no país inteiro.

Tais confrontos no interior do campo contrário a Bashar Assad são perigosos. Eles vêm se multiplicando desde que, há algumas semanas, as forças de Bashar Assad melhoraram suas posições e retomaram a iniciativa em várias regiões.

As tropas do regime também ganharam novo fôlego com a participação aberta dos milicianos xiitas do libanês Hezbollah, que anunciou apoio tanto moral quanto efetivo a Bashar Assad, enviando homens para combater em território sírio.

Não surpreende que Bashar Assad faça de tudo para aprofundar o fosso que opõe, entre os seus inimigos, os sírios aos estrangeiros da Al-Qaeda. Os integrantes dos seus serviços especiais têm ampla experiência nesse campo. Eles manipulam diabolicamente os grupos islamistas da região. Há alguns anos, haviam permitido que centenas de "camicazes" atravessassem a fronteira sírio-iraquiana e fossem se explodir no Iraque contra os americanos.

Dilema. Os desdobramentos dessa guerra fratricida entre os democratas e os fanáticos no conflito sírio apresenta mais um inconveniente, dramático.

Em razão da presença dos jihadistas, Grã-Bretanha e França e, por fim, também os Estados Unidos, finalmente desistiram de enviar armamento pesado aos rebeldes sírios. Entre as potências, há temor de que os carregamentos, que serviriam para reforçar o combate ao regime de Bashar Assad, acabem por cair nas mãos de terroristas islamistas./TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA.


Um leilão com estranhas exigências - JULIANO MARANHÃO

O GLOBO - 22/07

Empresas interessadas em investir no mercado aeroportuário estão atentas para a rodada de concessão dos aeroportos de Confins e Galeão.

A minuta de edital submetida inclui restrição que parece refletir aquele sentimento, ao exigir a experiência prévia de operação de aeroporto que tenha processado, no mínimo, 35 milhões de passageiros anuais. Também causou surpresa a proibição de acionistas das concessionárias de aeroportos brasileiros participarem da licitação.

A motivação apresentada para essa última restrição seria proteger a concorrência entre aeroportos brasileiros contra riscos da participação cruzada . As restrições dificilmente resistiriam ao crivo de legalidade e afetam não só essa rodada, trazendo preocupações também sobre o próprio modelo de regulação da infraestrutura aeroportuária nacional.

A exigência de experiência na gestão de aeroportos com movimentação anual de 35 milhões de passageiros, em oposição ao requisito anterior de 5 milhões, limita drasticamente os potenciais participantes. No mundo, apenas 30 operadores de aeroportos em 2012 atenderiam ao requisito. Ademais, muitos desses operadores são públicos, com pouca probabilidade e entraves para investimentos em aeroportos em outros países. Com isso, além de afastar candidatos específicos, o edital já seleciona outros, com efeito até mais restritivo que o esperado. Aeroportos internacionais de excelência, como o de Zurique, estariam fora, o que mostra a inadequação do critério.

Em relação à participação cruzada, essa só representa risco concorrencial quando envolve empresas efetivamente concorrentes. Porém, o impedimento dos acionistas de concessionárias brasileiras de aeroportos atinge todos. Se parece claro que aeroportos como Viracopos, Brasília, São Gonçalo do Amarante, Cabo Frio e Porto Seguro não concorrem com Galeão ou Confins, a relação de concorrência entre Guarulhos e Galeão no que se refere a voos internacionais - única aventada pela Anac para fundamentar o edital - no mínimo exige demonstração.

Sinalizações equívocas e instáveis do regulador afastam potenciais investidores. Se persistir a nova orientação, além de se reduzir o interesse e, consequentemente, o valor das próximas licitações, o mercado perderá agentes comprometidos com seu desenvolvimento.

A restrição drástica do número de participantes contida na minuta de edital implica redução imediata da concorrência pelo mercado (a licitação), em nome de uma hipótese não demonstrada de concorrência e da busca de um operador renomado . É nesses casos de boas intenções repletas de incertezas e diante de risco elevado de erro irreparável na intervenção pelo Estado que a prevenção pode ser bem pior do que o remédio.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

FOLHA DE SP - 22/07

Shopping de R$ 250 mi será instalado no Recife
Com um aporte de R$ 250 milhões, a incorporadora e gestora de shopping centers Ancar Ivanhoe irá instalar uma nova unidade na região oeste do Recife.

"Quase todos os outros shoppings do município estão perto do litoral. O empreendimento vai ser construído em uma área onde a cidade está crescendo", afirma Marcelo Carvalho, copresidente da empresa.

O centro de compras será voltado para as classes B e C. Das 22 unidades que a companhia tem em operação ou em obras, oito trabalham com esse público.

A construção do empreendimento do Recife está prevista para começar em maio de 2014. A inauguração deve ocorrer no primeiro semestre de 2016, segundo Carvalho.

A empresa negocia também mais um shopping para o Rio de Janeiro, onde já administra outros seis --Botafogo Praia Shopping, Boulevard Rio Shopping, Downtown, Rio Design Barra, Rio Design Leblon e Shopping Nova América.

"Preferimos atuar nas capitais, porque estamos acostumados com projetos maiores, que precisam de um grande volume de trabalhadores. O que não quer dizer que áreas metropolitanas não nos interessem", diz.

A Ancar Ivanhoe surgiu em 2006 com uma parceria entre a brasileira Ancar e a canadense do setor imobiliário Ivanhoé Cambridge.

TIME REFORÇADO
As indústrias automotiva, eletroeletrônica e química apoiaram o envio de uma carta da Coalização Empresarial Brasileira ao Itamaraty favorável a um acordo entre Mercosul e União Europeia.

Inicialmente reticentes a uma abertura comercial, juntaram-se a outros setores da indústria e da agricultura, segundo Carlos Abijaodi, diretor de desenvolvimento industrial da CNI (Confederação Nacional da Indústria).

"Alguns setores não se sentiam preparados, mas mudaram a posição", diz Abijaodi.

"O documento declara ao governo brasileiro que as entidades da CEB estão de acordo com a forma como o país está tocando as negociações."

O processo está avançado, segundo o Itamaraty. A última reunião entre as partes estipulou que, até o fim de 2013, trocarão listas de ofertas.

Marinha aprova obras que visam aumentar uso de hidrovia no Pará
A Marinha deu sinal verde para um projeto que tem o objetivo de estimular a navegação pelo rio Tocantins.

Um conjunto de pedras prejudica a passagem em um trecho de 43 km, entre as cidades de Tucuruí e Marabá (PA). Com isso, as eclusas de Tucuruí ficam subutilizadas.

Concluídas em 2010, após três décadas de obras, as eclusas custaram cerca de R$ 1,5 bilhão. Em dois anos, porém, foram feitas 55 transposições, segundo a Eletronorte, responsável pela operação.

O parecer da Marinha foi entregue na semana passada ao Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), que abrirá licitação para explodir as pedras.

O projeto mais viável custa R$ 500 milhões, estima a Ahimor (administração das hidrovias da região, vinculada ao Ministério dos Transportes).

"A hidrovia tem potencial para escoar produtos de siderurgia, soja e gado até o porto de Vila do Conde, no norte do Estado, e fazer o caminho inverso, em direção ao sul do país", diz o superintendente do órgão, Michel Dib Tachy.

Novidade na prateleira
O lançamento de novas marcas no mercado divide opiniões em 24 países pesquisados pela Ipsos.

Das 18.300 pessoas consultadas em abril, 52% demonstraram interesse em provar novidades, mas 48% disseram que preferem comprar sempre os mesmos produtos.

As mulheres (55%) se mostraram mais receptivas a inovar no supermercado do que os homens (49%).

Assim como o público masculino, entrevistados de ambos os sexos entre 50 e 64 anos também se mostraram mais conservadores (54%), com preferência por marcas já conhecidas.

A maioria dos consultados com menos de 35 anos (55%) gosta de testar produtos que nunca usaram antes.

Foram ouvidos consumidores do Brasil, dos EUA e da Inglaterra, entre outros países.

REFORÇO DAS FRANQUIAS
De olho na volta às aulas, redes de reforço escolar se preparam para lançar novas unidades no segundo semestre deste ano.

A Tutores, com 89 franquias em funcionamento e 16 em implantação, tem a meta de fechar 2013 com mais 50.

"É um mercado em forte expansão, pois [calculamos que] 54 milhões de alunos precisam melhorar o desempenho", diz o sócio-diretor da Tutores, Artur Hipólito.

A Smartz, criada em 2011 pelo Grupo Multi (de marcas como Wizard e Microlins), planeja abrir 40 unidades até o fim do ano. Hoje, são 170.

Além do modelo tradicional, a rede lançará em agosto uma opção para microempreendedores individuais.

"O professor receberá uma caixa com todo o material necessário para montar sua própria escola na sala de casa", afirma o diretor de expansão, Arno Krug Jr.

A Ensina Mais, fundada em 2012, conta com 207 franquias e quer chegar a 257.

"O modelo do negócio é atrativo, com baixo investimento", diz o presidente, Rogério Gabriel. Segundo ele, a demanda nas regiões Norte e Nordeste tem crescido de forma significativa.

Aborto – silêncio e rito sumário - CARLOS ALBERTO DI FRANCO

ESTADÃO - 22/07

Em pouco mais de dois meses, sob a proteção de um gritante silêncio, foi aprovado um projeto que abre portas para a ampliação do aborto no Brasil. A iniciativa partiu do ministro da Saúde, Alexandre Padilha. Em reunião com o deputado Henrique Alves, presidente da Câmara dos Deputados, em fevereiro deste ano, Padilha pediu que, em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, fosse votado no plenário da Câmara, em regime de urgência, o Projeto de Lei 60/1999. O projeto trata do atendimento prioritário nos hospitais à mulher vítima de violência.

O deputado José Guimarães, irmão do deputado José Genoino e líder do PT na Câmara, pediu a tramitação do projeto em regime de urgência. Na ausência de Alves, a presidência da Câmara foi assumida pelo deputado André Vargas, secretário nacional de Comunicação do PT. O regime de urgência foi, então, aprovado. No mesmo dia, o projeto foi emendado e apresentado ao plenário da Câmara. Renomeado como PLC 3/2013, o texto foi aprovado em 5 de março e, três dias depois, foi encaminhado para o Senado. Velocidade incomum para os padrões parlamentares. O texto, estrategicamente, evita mencionar a palavra aborto, mas abre atalhos para sua ampliação.

O artigo 1.º afirma que os hospitais – todos eles, sem distinção – “devem oferecer atendimento emergencial e integral decorrentes de violência sexual, e o encaminhamento, se for o caso, aos serviços de assistência social”. Atendimento emergencial significa que ele deve ser realizado imediatamente após o pedido. Atendimento integral significa que nenhum aspecto pode ser omitido – subentende-se que, se a vítima de violência sexual estiver grávida, deverá ser encaminhada aos serviços de aborto. É todo um jogo malandro de palavras que conduz a um objetivo bem determinado: ampliar o aborto no Brasil.

O artigo 2.º define que, para efeitos desta lei, “violência sexual é qualquer forma de atividade sexual não consentida”. A expressão “tratamento do impacto da agressão sofrida”, constante do artigo primeiro do texto original, foi suprimida e substituída por “agravos decorrentes de violência sexual”, para deixar claro que a violência sexual não necessita ser configurada por uma agressão comprovável em um exame de corpo de delito. Uma vez que o projeto não especifica nenhum procedimento para provar que uma atividade sexual não tenha sido consentida, e o consentimento é uma disposição interna da vítima, bastará a afirmação da vítima de que ela não consentiu na relação sexual para que ela seja considerada, para efeitos legais, vítima de violência e, se ela estiver grávida, possa exigir um aborto ou o encaminhamento para o aborto por parte de qualquer hospital.

O inciso IV do artigo 3.º menciona, ainda, como obrigação de todos os hospitais, em casos de relação sexual não consentida, “a profilaxia da gravidez”. O termo é novo e estrategicamente plantado neste projeto de lei. Terá, portanto, mais adiante, de ser regulamentado ou interpretado, pelo Legislativo ou pelo Judiciário, quando surgirem as primeiras dúvidas sobre o seu significado.

A presidente Dilma Rousseff, em 2010, empenhou sua palavra ao rejeitar qualquer iniciativa do seu governo em favor da implantação do aborto. Compete-lhe, agora, vetar o projeto, e sobretudo garantir a objeção de consciência do médico e da instituição. É o mínimo.

As passeatas mostram o nascimento de um novo Brasil. Os cidadãos exigem transparência dos seus governantes e liberdade para manifestar seus pontos de vista. E o que está em jogo não é coisa pequena. É a preservação de um valor fundamental: o direito à vida.

Taquicardia - LIGIA BAHIA

O GLOBO - 22/07
Um sistema público de saúde, tal como qualquer área de política social, deve ser eficiente, equitativo e bem administrado. Sinteticamente, é uma combinação de impostos, contribuições sociais arrecadados e benefícios ofertados, tendo como objetivo a maximização das condições de saúde da população, por meio de uma quantidade adequada de ações preventivas e assistenciais qualificadas. A chave que abre a perspectiva efetiva de reverter o quadro de desigualdades na saúde não é apenas o aumento do número de médicos. No Brasil, o sistema de saúde como um todo é ineficiente porque a maioria da população que o sustenta, inclusive o setor privado, com seus inúmeros e vultosos subsídios fiscais, tem menos acesso e usa menos serviços de saúde.

Enquanto a resposta à altura da radicalidade das manifestações das ruas reivindicando o SUS padrão Fifa for tentar gritar mais alto e não se disser com clareza a que saúde pública o governo se refere, não existirá espaço para diálogos produtivos. Socializar o ensino médico é uma medida decorrente do efetivo funcionamento de sistemas universais de saúde. O aumento na quantidade de médicos e a alocação de profissionais de saúde, inclusive estrangeiros, em regiões remotas e nas periferias das grandes cidades são tentativas meritórias para a redução das desigualdades, mas o fio conector para a resolução dos problemas é o SUS. Haverá mais médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogos, farmacêuticos e todos os demais profissionais de saúde, mais generalistas e melhor distribuição no território nacional de serviços e ações de saúde, se o SUS der certo.

Imaginar que a consciência solidária, humanista e SUSista possa ser cultivada em ambientes apropriados ao contato entre médicos e o povo, tal como este vive e sofre, e que daí derive uma revolução cultural, liderada por profissionais desaburguesados que ponham o sistema de saúde de cabeça para baixo, é puro idealismo. O heroísmo de David Capistrano, um dos formuladores do SUS, preso e torturado diversas vezes pelo regime militar, e a psicopatia assassina de médicos que voluntariamente participaram de supliciamentos não foram ensinados nas faculdades. Estudantes e profissionais de saúde não são diferentes das demais pessoas. Agem em função de contextos de trabalho que influenciam as inclinações favoráveis ou desfavoráveis à compreensão, à compaixão e comprometimento com os pacientes.

O modelo de formação dos médicos é determinado pela inserção profissional, e não o contrário. Nesse caso, é importante discernir quem vem primeiro, se o ovo ou a galinha, para evitar apresentar um juízo moral como política. A precedência do trabalho e as relações entre saber e fazer já foram estabelecidas em diversos estudos sobre ensino e prática profissional. Do jeito como está organizado o sistema de saúde, a proposta de prolongamento do curso médico conjugada ao fato de que a maioria dos postos de trabalho no Brasil está no setor privado significa que levaremos mais tempo e gastaremos mais recursos públicos para formar gente para atuar junto aos planos privados. A definição de conteúdos e prazos para a formação de profissionais de saúde é uma atividade de natureza eminentemente técnico-acadêmica, e não político-partidária.

A saúde já tem um pacto democraticamente estabelecido pela Constituição de 1988. O pacote Mais Médicos não é um pacto da saúde, e sim um embrulho, pós abandono da proposta de importação de médicos cubanos, que procura dar conta simultaneamente dos resultados de pesquisas de opinião que indicam queixas relacionadas com a falta de médicos na rede SUS, demandas de prefeitos de cidades do interior, especialmente das regiões Norte e Nordeste, e clamores por direitos sociais efetivos nas grandes cidades.

Até agora, a atuação do governo Dilma na saúde pode ser resumida como um conjunto de tentativas e erros. Primeiro veio o anúncio da construção de milhares de prédios, logo depois, na onda do aprimoramento da gestão, a colocação de câmeras nos hospitais diretamente ligadas ao Palácio do Planalto, e mais recentemente a decretação de prazos para o tratamento de pacientes com diagnóstico de neoplasias. Esses lampejos, não submetidos a qualquer fórum de discussão da saúde, foram insuficientes para refrear a insatisfação com a situação do sistema de saúde.

O Mais Médicos, graças às manifestações nas ruas, traz uma novidade: finalmente, o governo voltou a falar sobre o SUS, reconheceu que a saúde vai mal, que é preciso intervir para mudar e promete mexer no mercado de trabalho via aumento das vagas para residência médica. É uma agenda torta, mas qualquer iniciativa que mencione gente e SUS é melhor do que as medidas para a saúde baseadas só na engenharia civil ou na retórica gerencialista. Contudo, o pacto da saúde poderá causar muita agitação, mas deixará tudo exatamente no mesmo lugar, se o sujeito das intervenções estatais anti-SUS permanecer oculto.

A indicação, neste mês, de mais um integrante do quadro de uma empresa de planos privados de saúde para diretor da ANS foi apenas um equivoco ou as regras de jogo, completamente desfavoráveis ao SUS, permanecem as mesmas? Os nós da saúde não serão deslindados entre quatro paredes e muito menos por decreto. A polarização a favor ou contra proposições cumulativas e inócuas, lançadas de crise em crise, causam uma síndrome de taquicardia imobilizadora. Que tal inverter o fluxo do decisório? Seguir penando para conseguir audiências fechadas com a Presidência da Republica dá muito trabalho e não modifica o padrão ambíguo, ora estatizante, ora privatizante das reais políticas governamentais. É tempo de quem define os rumos do sistema de saúde comparecer a reuniões abertas organizadas por partidos políticos, entidades profissionais e de usuários.

Operação Francisco - VERA MAGALHÃES - PAINEL

FOLHA DE SP - 20/07

Relatório da Polícia Federal que chegou ao governo aponta que o Rio terá manifestações durante todos os dias da visita do papa Francisco. Os protestos que, segundo a PF, terão maior adesão serão os de amanhã, quinta-feira e domingo. Não foram previstos atos na ida do papa a Aparecida. Policiais federais de todo o país foram deslocados para o Rio para reforçar o esquema de segurança. No Distrito Federal, a PF ficará sem 50% do efetivo. Investigações foram sustadas no período.

No escuro Dilma Rousseff saiu da reunião com os ministros José Eduardo Cardozo (Justiça), Celso Amorim (Defesa) e Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral), no sábado, com uma certeza: nem a igreja brasileira sabe o que Francisco dirá ou como será seu contato com os fiéis durante a estada no Brasil.

Peregrino Ex-seminarista e interlocutor com a Igreja Católica desde o primeiro mandato de Lula, Gilberto Carvalho vai passar a semana toda no Rio. Será o elo entre o Planalto e a Jornada Mundial da Juventude.

Gênese Aliados de Sérgio Cabral (PMDB) relatam que apuração do governo do Rio identificou policiais e milicianos ligadas ao deputado e ex-governador Anthony Garotinho (PR) por trás dos atos de vandalismo na cidade.

Caixa aberta A Justiça autorizou o PSDB a ter acesso a todo o inquérito que apura a origem do boato sobre o fim do Bolsa Família em vários Estados. A diretoria jurídica da Caixa Econômica Federal também obteve a íntegra.

No pé 1 O presidente do PSDB, Aécio Neves, ironiza o fato de o Palácio do Planalto ter divulgado telefonema do vice-presidente dos EUA, Joe Biden, para Dilma, para explicar a suposta espionagem de cidadãos brasileiros por agências norte-americanas.

No pé 2 "Num governo do PSDB, a chamada seria direcionada para o gabinete do vice-presidente. A liturgia do cargo manda que, para pedir desculpas à presidente, telefone o presidente'', diz o virtual presidenciável tucano.

Slogan Eduardo Campos (PSB) colocou como capa de sua página no Facebook a frase É possível fazer mais; é possível fazer diferente''.

Inimigo íntimo De um integrante do governo federal, minutos antes de entrar no cinema para uma sessão de "Meu Malvado Favorito 2", ontem: "Esse filme é sobre o Eduardo Cunha?''.

Cavalo de pau Cândido Vaccarezza (PT-SP) era o mais cotado para relatar a medida provisória do programa Mais Médicos na Câmara. Mas, depois das últimas polêmicas entre ele e o Planalto, o ministro Alexandre Padilha (Saúde) interveio e emplacou o deputado Rogério Carvalho (PT-SE) na função.

Parceiros Padilha e Carvalho são amigos desde os tempos do movimento estudantil. Carvalho sucedeu Padilha na Denem (Direção Executiva Nacional dos Estudantes de Medicina).

Exército verde José Serra almoçou na semana passada com dirigentes do PV. De novo disse que não tem "pressa'' para anunciar seu destino político, e fez várias críticas ao governo Dilma, entre elas ao Mais Médicos.

Tapetão 1 A Mensagem ao Partido deverá recorrer contra deliberação da reunião de sábado do Diretório Nacional do PT que alterou pontos do estatuto da sigla.

Tapetão 2 O DN anulou a exigência de que o filiado, para votar na eleição interna, tenha de participar de uma atividade do PT. A Mensagem diz que só o Encontro Nacional poderia mudar a regra.

com ANDRÉIA SADI e BRUNO BOGHOSSIAN

tiroteio
"O papa deverá condenar a marginalização dos pobres, a corrupção e a hipocrisia dos políticos. As orelhas de muitos vão arder."
DO DEPUTADO CHICO ALENCAR (PSOL-RJ), da ala mais à esquerda da Igreja Católica, prevendo que Francisco deverá dar tom político às prédicas no Rio.

contraponto


É um milagre!
José Maria Alkmin era deputado federal no governo de Getúlio Vargas, quando era muito difícil se comprar bebida importada no Brasil. Em viagem a Roma, o mineiro embarcou com uma caixa de uísque escocês. Na chegada ao Brasil, foi questionado na alfândega:

--Deputado, o que o sr. traz nesta caixa?

--Estive em Roma e trouxe água benta pelo papa.

O oficial pediu que Alkmin abrisse a caixa.

--Mas deputado, é uísque... --disse, sem graça.

--Pois já começou a operar milagres! --emendou o parlamentar, sem o menor constrangimento.