sexta-feira, agosto 29, 2014

Marina, a Tirana de Brasília - REINALDO AZEVEDO

FOLHA DE SP - 29/08


Os brasileiros deveriam ter o direito de escolher apenas um presidente. Marina quer nos oferecer uma nova era


Tenho me dedicado, nem poderia ser diferente, a tentar entender o pensamento de Marina Silva --há gente assegurando que ela vai presidir o Brasil. Mas é tarefa difícil. E rio daqueles que, julgando compreendê-lo, criam suas próprias metáforas para desentranhar as da candidata do PSB à Presidência, de sorte que, depois de alguns minutos de conversa, estamos todos no reino da alegoria, lá onde uma coisa puxa a outra rumo a lugar nenhum. Malsucedido no meu esforço, recorro, então, a Eduardo Giannetti, que parece ser o Platão redivivo que, desta feita, encontrou um bom Dionísio.

Marina reuniria as características da "Rainha Filósofa". Se ela fizer como Giannetti recomenda, conseguirá expulsar da política os cartagineses do PMDB e teremos, então, um governo dos "bons e dos virtuosos". A Siracusa do Planalto Central nunca mais será a mesma. Ou, quem sabe?, o pensador de agora se veja no papel de um Pigmaleão a esculpir a mulher ideal.

A esta Folha, Giannetti disse que sua "Tirana (no bom sentido, claro!) de Brasília" pretende governar com o apoio de FHC e de Lula, embora a própria Marina, em suas intervenções públicas, a despeito de reconhecer as contribuições de PSDB e de PT à democracia, anuncie que é chegada a hora de pôr fim à era do confronto entre os dois partidos. Ou por outra: para as elites políticas, o Platão da Marina diz que vai governar com Lula e FHC; para o eleitorado com ódio da política, ela assegura, de modo oblíquo, que não será nem com Lula nem com FHC.

A "Fórmula Marina", que Giannetti reproduz com impressionante ligeireza para quem tem preparo intelectual, é composta de ingredientes falsos ou de baixíssima qualidade. Marina seria o momento da síntese de uma tese e de uma antítese já manifestas. Ou, nas palavras do nosso Platão a este jornal, tentando certamente ser simpático com as duas personagens que cita: "FHC tem compromisso com a estabilidade econômica, nós também. Lula tem compromisso com a inclusão social, nós também. Vamos trabalhar juntos. Acho possível. Se a democracia brasileira tem razão de ser, é para que isso possa acontecer".

Abstenho-me de comentar o fato de o entrevistado, imodesto, ter descoberto nada menos do que "a razão de ser da democracia brasileira", encarnada, por acaso, em Marina, sob seus diligentes cuidados, é certo! Vou considerar que foi apenas uma distração retórica, não uma húbris... Inferir que FHC não teve compromisso com a inclusão social é uma falácia não menor do que a sugestão de que Lula se descuidou da estabilidade. À sua maneira, cada um dos ex-presidentes foi a síntese das contradições dos respectivos governos que lideraram. Ou será que Marina chega agora para ser o fim da história, o "último homem"?

De resto, a versão de que ao PSDB interessava mais a estabilidade do que a justiça social é só uma história porca narrada pelo petismo. A sugestão de que o PT só distribui benesses sem se ocupar das contas é só um reacionarismo tosco. Minhas severas restrições a esse partido têm a ver com suas taras autoritárias, com seu jacobinismo estúpido, não com seu viés social --de valores essencialmente conservadores, diga-se (mas isso fica para outra hora).

Notem que nem me atenho aqui às barbaridades defendidas por Marina durante a votação do Código Florestal ou à sua luta obscurantista contra os transgênicos. Também a preservo do passado mais remoto, quando, fiel ao petismo, ofereceu batalha contra o Plano Real e a Lei de Responsabilidade Fiscal. Abstenho-me de tratar da rede de crimes que envolve aquele avião, da qual ela foi, obviamente, beneficiária, o que poderá resultar até na cassação de um eventual mandato se a lei for cumprida (ou me demonstrem que não). Esses são assuntos, digamos, contingentes, do dia a dia do noticiário.

Uma postulação assentada sobre uma fraude intelectual me incomoda muito mais. A leitura que Marina faz das contribuições e malefícios do PSDB e do PT à democracia brasileira é fantasiosa e atende apenas à mitologia erigida a partir de sua lenda pessoal. Os brasileiros deveriam ter o direito de escolher apenas um presidente da República. Marina quer nos oferecer uma nova era. Cuidado, Platão! Se der certo, não tem como não dar errado.

Contradições - MERVAL PEREIRA

O GLOBO - 29/08


O caso do jato Cessna que vem dando dor de cabeça à direção do PSB por ser, ao que tudo indica, produto de uma obscura transação que envolve laranjas e dinheiro não contabilizado, trouxe para a herdeira política Marina Silva uma questão adicional, que reforça as supostas contradições de sua candidatura.

Uma das empresas envolvidas na compra do jato é a Bandeirantes Companhia de Pneus Ltda, que importa pneus usados, negócio considerado como dos mais danosos ao meio-ambiente. A autorização de importação de pneus usados, por sinal, foi uma das muitas brigas que Marina travou à frente do ministério do Meio-Ambiente, e perdeu.

Em 2003, foi convencida pelo então ministro da Casa Civil, José Dirceu, a recuar em sua posição contrária à importação de pneus em nome de um “bem maior”, no caso a unidade do Mercosul. Isso por que, apesar de oficialmente proibir a importação de pneus remodelados, o Brasil acata desde 2002 uma decisão do Tribunal Arbitral do Mercosul que obriga o país a aceitar a entrada de pneus vindos do Uruguai.

Essa posição provocou decisões judiciais que trouxeram para o país pneus usados dos Estados Unidos e da União Européia. Marina sempre reclamou que a questão dos pneus era tratada como puramente comercial, sem que fosse levado em conta seu lado ambiental. Seu objetivo, dizia, era fazer com que o Brasil deixasse de ser uma "lata de lixo global" para os pneus usados em outros países.

Sabe-se agora que a então denominada Bandeirantes Renovação de Pneus foi beneficiada por um decreto assinado em 2011 pelo governador Eduardo Campos, que ampliou seus benefícios fiscais, eliminando limites de importação fixados anteriormente por decreto do ex-governador e hoje deputado federal Mendonça Filho. Um dos sócios da hoje denominada Bandeirantes Companhia de Pneus Ltda, Apolo Santana Vieira, responde a processos de sonegação fiscal estimados em cerca de R$ 100 milhões devidos pela importação de pneus pelo porto de Suape, em Pernambuco.

Unindo-se a natureza do empreendimento ao fato de que o uso do avião não fora ainda declarado como doação de campanha eleitoral, com forte cheiro de caixa 2, têm-se que a candidata Marina Silva está em uma situação no mínimo delicada. A "nova política" que ela e Eduardo Campos pregavam era transportada para cima e para baixo por um jatinho todo irregular, financiado em última instância por uma atividade comercial que a ambientalista Marina Silva repudia. E que recebeu estímulos fiscais de seu companheiro de luta política anos antes de os dois se juntarem para tentar chegar ao Palácio do Planalto.

A essa contradição da dupla anterior soma-se a atual, de ter como companheiro de chapa o deputado Beto Albuquerque, que foi um dos líderes da aprovação do uso de transgênicos no Congresso, derrotando a posição da então senadora Marina Silva. Como a própria Marina explica agora, trabalhar com quem discorda de seus pontos de vista mostra apenas que ela não é uma radical como a acusam, e que sabe conviver com contrários.

No caso de Beto Albuquerque é uma verdade, pois trata-se de um político correto que, ao que se sabe, estava em defesa dos agricultores do Rio Grande do Sul no caso dos transgênicos, e não em alguma transação nebulosa. Mas no caso da empresa de pneus usados, não há desculpa para receber doações de campanha fora da legislação e de um empreendimento que considera nocivo ao meio-ambiente.

Nem mesmo dizer que não fora informada de nada. Ao se juntar à campanha de Eduardo Campos, tinha a obrigação de se informar desses detalhes, justamente para não se ver em uma situação delicada como agora. Outra aparente contradição, mas que desta vez trabalha a seu favor, é a nota do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Xapuri (Acre), fundado por Chico Mendes, ligado à Central Única dos Trabalhadores (CUT), que não gostou de ver Marina colocá-lo como membro da "elite" brasileira, nem quer vê-lo classificado como um "ambientalista", mas sim como "sindicalista".

O sindicato também condena a política ambiental "idealizada pela candidata Marina Silva enquanto Ministra do Meio Ambiente, refém de um modelo santuarista e de grandes Ong's internacionais". Ora, os próprios termos do debate mostram que a ex-seringueira Marina Silva saiu do Acre para ganhar uma dimensão modernizadora, com uma visão mais ampla da disputa política e da própria defesa do meio-ambiente.


O diabo a quatro - DORA KRAMER

O ESTADÃO - 29/08


A possibilidade de uma derrota na eleição presidencial já estava no radar do PT há algum tempo. O partido havia abandonado a esperança de vencer no primeiro turno desde que as taxas de rejeição e aprovação à presidente Dilma Rousseff se encontraram.

Os petistas consideravam que a disputa final seria um páreo duro. Perder para Aécio Neves, do PSDB, seria uma hipótese. Remota, é verdade. Principalmente diante da perspectiva de que o horário eleitoral desse à presidente uma dianteira, senão confortável, ao menos segura.

No fatídico dia 13 de agosto último, porém, tudo mudou. Eduardo Campos saiu da vida e Marina Silva entrou na disputa para presidente justamente numa quadra da história em que o País só quer saber de mudança e nada mais. A qualquer custo.

Veio a primeira pesquisa, a segunda, a terceira e as análises precisaram ser revistas. A derrota de Dilma já não se desenhava mais como uma hipótese remota. Enquadrava-se na moldura de uma possibilidade concreta.

Os especialistas em interpretações de pesquisas passaram a dizer que, mantida a tendência e salvo o imponderável, a candidata do PSB se elegeria presidente em segundo turno.

Observam esses mesmos analistas que em 2002 havia um clima semelhante. Na época, a tentativa de mudar começou em abril, com Roseana Sarney. Abatida em maio, com a descoberta pela Polícia Federal de dinheiro sem origem justificada em empresa de propriedade dela e do marido no Maranhão.

O eleitorado, então, fez nova tentativa voltando-se para Ciro Gomes. Subiu nas pesquisas, ficou com jeito de fenômeno em junho, dizimado pelo próprio destempero verbal. Em seguida, a ausência de opções (só havia Anthony Garotinho e o governista José Serra) levou o rio para o mar de Lula.

Hoje, visto do alto o panorama parece pior para o PSDB, que ficaria fora da disputa. Mas, olhando com visão pragmática, o partido perderia o que não tem. Contabilizaria mais uma derrota eleitoral. Péssimo para seus projetos político-partidários? Sem dúvida alguma.

Mas o dano maior mesmo seria para quem corre o risco de perder o que tem. O PT está mais perto de perder o poder do que nunca esteve antes nos últimos anos.

E por poder entenda-se não apenas o federal. Dos dez maiores colégios eleitorais só está em primeiro lugar nas pesquisas para governador em Minas Gerais. Em Estados importantes como São Paulo, Rio, Paraná e Bahia o PT fica entre os 3.º e 4.º lugares.

Nesse quadro, a perda do poder central seria especialmente desastrosa, pois enfraqueceria a legenda também no Congresso, reduzindo seu poder de fogo como força de oposição.

Por essas e várias outras questões relativas ao acomodamento dos companheiros (petistas ou aliados) máquina pública País afora, a inquietação toma conta dos que se veem ameaçados de voltar à condição de 12 anos atrás.

Essa mesma máquina está sendo mobilizada no afogadilho para trabalhar na campanha. Convoca-se o conselho político, reúnem-se assessores de segundo escalão de ministérios e empresas estatais para serem despachados a encontros e debates com o objetivo de defender o governo.

Ou seja, terror e pânico. O clima não chegou ao horário eleitoral. A presidente mantém artificialmente a fleuma e a ideia de que ainda pretende polemizar com o tucano Aécio Neves. Bobagem. Chuva que já choveu.

A inimiga real é Marina e contra ela é que está sendo feita a convocação geral para pôr em prática o uso do "diabo" anunciado pela presidente para ganhar as eleições.

Farão daqui em diante o diabo a quatro para impedir que seja interrompida não a implantação de um projeto de País, mas a execução de um plano de ocupação hegemônica de todos os instrumentos de poder.

Para isso anunciou-se a disposição de fazer "o diabo". Diante do perigo, não há dúvida: haverá de se fazer o diabo a quatro.


Como uma onda - NELSON MOTTA

O GLOBO - 29/08


Muito dificilmente, Marina terá condições políticas para fazer mudanças, mas quem acredita que Dilma ou Aécio terão, com os seus partidos carcomidos?


Os marqueteiros sempre dizem que o eleitor vota mais levado pela emoção do que pela razão, e Marina Silva não precisou de uma campanha de marketing para provar que eles estão certos. Entre os 70% dos que estão insatisfeitos e querem mudanças, boa parte está encontrando nela uma esperança que, apesar de seu passado petista e da senilidade do PSB, não tem o ranço partidário que nauseia o eleitor. Ninguém é bobo bastante para acreditar numa “nova politica”, mas qualquer coisa diferente da atual já seria um grande avanço.

Ao reconhecer os méritos e as conquistas dos governos FH e Lula e se apresentar como uma terceira via para a polarização PT x PSDB, que divide e atrasa o país, Marina atinge em cheio o eleitor que quer mudanças feitas por alguém com autoridade, legitimidade, honestidade e competência. Muito dificilmente, ela terá condições políticas para fazê-las, mas quem acredita que Dilma ou Aécio terão, com os seus partidos carcomidos e suas tropas políticas destruindo e sabotando uns aos outros?

Para quem não aguenta mais ter que escolher entre o preto e o branco, Marina oferece a opção de 50 tons que vão do verde ao vermelho, passando pelo azul.

Se a onda crescer e for eleita com uma votação avassaladora, Marina certamente receberá ofertas de apoio de todos os lados, querendo participar do poder, com as melhores ou piores intenções, e poderá escolher para seu governo os mais competentes de diversas filiações partidárias. OK, é um sonho, todos sabem que esse papo de governo de união nacional é furado, porque eles gostam mesmo é de partilhar o butim do presidencialismo de cooptação, mas, com Marina poderosa e uma eventual pressão da opinião publica, que os políticos tanto temem, talvez tenhamos alguma chance de virar o jogo.

Enquanto isso, insones e febris, marqueteiros petistas e tucanos e blogueiros de aluguel quebram a cabeça para encontrar uma forma de desconstruir Marina, garimpando, ou inventando, algo de podre na sua vida pública ou privada.

De certo, só que nada do que foi será, de novo do jeito que já foi um dia, tudo passa, tudo sempre passará. Quem viver verá.

Ficção Orçamentária - CELSO MING

O ESTADÃO - 29/08


Hoje esta Coluna cuida de dois temas: o surpreendente avanço do PIB dos Estados Unidos e a peça de ficção produzida pelos ministros Miriam Belchior (Planejamento) e Guido Mantega (Fazenda).

O governo dos Estados Unidos (Departamento do Comércio) divulgou, nesta quinta-feira, os números finais das contas nacionais do segundo trimestre. E o resultado superou as expectativas. No período, o avanço do PIB da mais importante locomotiva do mundo foi de 4,2% ao ano. É um número robusto, que dispara consequências para a economia global e para o Brasil.

Nesta sexta-feira, o IBGE divulgará as Contas Nacionais, também do segundo trimestre. E o que se verá será o contrário disso, provavelmente um recuo avassalador do PIB brasileiro. O desempenho da economia dos Estados Unidos esvazia o argumento do governo Dilma de que o fiasco do País se deve, preponderantemente, à paradeira global. Um crescimento em bases anuais de 4,2% na principal economia do mundo não pode ser tomado como fator paralisante do Brasil. A única explicação para o comportamento decepcionante do setor produtivo brasileiro tem de ser procurada no universo das mazelas nossas.

A principal consequência do novo impulso americano deverá ser a retomada da velocidade das correias de transmissão no resto do mundo. As empresas dos Estados Unidos tendem a aumentar as encomendas a seus fornecedores tradicionais e, apenas por conta desse maior dinamismo, projetos de investimento devem sair das gavetas. Outra consequência deverá ser o disparo do processo de enxugamento monetário já anunciado pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), que pode acontecer já no primeiro trimestre de 2015, ainda dependendo do comportamento do mercado de trabalho americano. Menos dólares circulando podem reduzir o afluxo de capitais para países mal resolvidos, como o Brasil.

Nesta quinta-feira, o governo anunciou o Projeto de Lei Orçamentária para 2015, que deveria servir de base para a definição dos números macroeconômicos. Infelizmente, a produção dos ministros Miriam Belchior e Guido Mantega continua sendo um jogo de faz de conta, e não um manual com um mínimo de credibilidade destinado a orientar a atividade produtiva do ano.

Para a elaboração de um orçamento é preciso prever variáveis importantes da economia, como a evolução do PIB e da inflação. São fatores vitais que determinarão tanto a arrecadação como a despesa. E lá no projeto de Orçamento estão, preto no branco, as afirmações de que, em 2015, o PIB crescerá 3,0% e a inflação será de 5,0%.

Não se conhece nenhum analista, nenhuma consultoria, nenhum banco, nenhum administrador de patrimônio que prevejam crescimento do PIB, em 2015, tão alentado. O levantamento feito semanalmente pelo Banco Central (BC) com cerca de 100 instituições do mercado (Pesquisa Focus) aponta, para 2015, média de avanço de 1,2%.

Também é irrealista a projeção de inflação (IPCA) assumida pelo Orçamento. O mercado indica 6,28%. O próprio Banco Central, no seu Relatório de Inflação, trabalha com uma inflação para 2015 de 6,0% a 6,3%. Ou seja, o que vale para o Banco Central, no campo de sua especialidade, não vale para o resto do governo. Por aí já se vê que qualidade podem ter esses números.


Preços no atacado


No período de 12 meses (até agosto), o avanço do IGP-M foi de apenas 4,89%, enquanto a inflação (evolução do IPCA) deve ter ficado acima de 6,0%. Pesou no IGP-M negativo a queda de preços no atacado, principalmente a das commodities.

Aluguéis e financiamentos

Quem paga aluguel ou empréstimos imobiliários vai ter um reajuste mais baixo neste e nos próximos meses.

Marina, mostra a sua cara - LUIZ FERNANDO VIANNA

FOLHA DE SP - 29/08


RIO DE JANEIRO - Não se espera nem se deseja que Marina Silva desfaça o coque, mas está na hora de ela mostrar a cara.

Na última eleição presidencial, sabia-se que não disputava para vencer. Queria tornar mais conhecida sua bela história de vida e ganhar musculatura para 2014.

Assim, no papel de criança a quem tudo se permite, teve a complacência de intelectuais, artistas, políticos de esquerda.

Parecendo incomodados em confrontar um Chico Mendes de saias compridas, jogaram para baixo do tapete causas que devem, no mínimo, ser debatidas por quem ainda sonha com a chegada do Brasil ao século 21.

Marina é contra o direito das mulheres ao aborto? Ah, tudo bem. Não apoia o casamento entre pessoas do mesmo sexo? Não tem problema. Não quer falar sobre legalização da maconha? Deixa quieta. É contra a pesquisa com células-tronco? O tema é complicado mesmo.

No Rio de Janeiro, sempre seduzido por novidades, ficou com 31,52% dos votos. No país todo, 19,33%, um capital de 19.636.359 votos.

Pela via trágica, ressurgiu candidata há menos de um mês e já se encontra, diz a imprensa, à beira do favoritismo. Portanto, deve ser tratada como gente grande.

Está num partido do qual não gosta e que não gosta dela. Voluntarista, indica que, estando em linha direta com Deus e com os eleitores, poderá esnobar o balcão de negócios que é a política brasileira.

Verde de raiz, tem como vice um militante do agronegócio. De passado inequivocamente democrata, não tolera o contraditório, como mostrou nas respostas impacientes ao "Jornal Nacional". Fala em mudanças, mas não transige em posições que reforçam o pior conservadorismo, aquele que quer controlar a mais privada das esferas, que é o uso do próprio corpo.

Marina e seus eleitores precisam sair das sombras.

As regras do jogo FERNANDO GABEIRA

O ESTADO DE S.PAULO - 29/08


A morte de Eduardo Campos inaugurou uma nova realidade na campanha eleitoral. Mas é uma ilusão pensar que tudo mudou.

Há elementos que permanecem, como, por exemplo, a força eleitoral do governo federal, baseada na sensação de que os tempos de prosperidade e crescimento econômico não acabaram. Para muitas pessoas, a crise ainda não é um fato. Na verdade, ela é um conjunto de índices e perspectivas sombrias que somente os mais atentos conseguem captar.

Dilma Rousseff, por exemplo, deixou de negar a crise e espantar os urubus que rondam o seu discurso triunfal. Agora admite sua existência e ressalta: "Mantivemos empregos e salários". Ela se dirige precisamente àqueles que ainda não sentiram a crise. Seu ministro do Trabalho disse que, em termos de emprego, o Brasil tinha chegado ao fundo poço. Depois desmentiu: o buraco não seria tão fundo como a sua frase dera a entender.

Isso se parece com aquela piada do Millôr, a de um homem caindo de um décimo andar que, ao passar pelo oitavo, diz: "Até aqui, tudo bem".

O cara da Petrobrás, Paulo Roberto Costa, parece ter decidido pela delação premiada. Ele é o cara porque articulava tudo, tinha milhões de dólares na Suíça. Antes ele havia dito, na cadeia, que não poderia abrir a boca porque, caso falasse o que sabe, não haveria eleições no País. É uma força de expressão. As eleições brasileiras podem renascer, como após o desastre que matou Eduardo Campos. Não importa o que Paulo Roberto diga, elas vão ser realizadas no dia 5 de outubro.

A morte de Campos e a entrada de Marina Silva na disputa pela Presidência reafirmaram a tendência de segundo turno. Mas ela não é novidade. O PT, com Lula ou Dilma, sempre ganhou no segundo turno.

A novidade é que a oposição pode triunfar. Para isso é preciso que demonstre, com clareza, que a sua proposta é a que melhor protege salários e empregos. Ela precisa encontrar uma unidade entre sua proposta econômica e a disposição de combater o fisiologismo e reduzir a corrupção no Brasil a níveis administráveis.

Não acredito em longos programas de governo, embora esteja sempre disposto a discuti-los e a sintetizá-los, como fiz com o seminário de três dias realizado pelo PPS em Brasília. O ideal seria fixar em alguns pontos comuns. Isso é possível. Basta analisar o discurso dos candidatos de oposição para perceber que convergem em várias questões essenciais.

Eduardo Campos e Aécio Neves tinham uma relação cordial, trocavam ideias constantemente. Isso não impediu que procurassem singularizar-se na campanha eleitoral, marcando suas diferenças.

Essa troca de ideias é fundamental. É uma ilusão supor que se governa um país tão complexo como o Brasil sem criar uma base de sustentação técnica e política.

A maioria das pessoas quer mudança. Mas ainda não está muito claro que mudanças querem. Suponho, pela constância das denúncias, que se queira estancar a corrupção. E, naturalmente, a julgar pelas manifestações de junho de 2013, melhores serviços públicos.

Tão amplo desejo de mudança exige clareza de ideias, mas, sobretudo, humildade. Segundo as pesquisas, metade dos eleitores de Dilma também quer mudança. Isso significa que, potencialmente, eles podem abandonar a candidatura dela se as propostas de mudanças forem diretas. E se o bloco que disputar com o PT, no segundo turno, der claras indicações de que a governabilidade não estará ameaçada.

Todos esses palpites são de um simples eleitor. Não estou dentro das eleições, não conheço seus bastidores, não me informei sobre afetos e rancores que as movem neste instante.

Muitos analistas reclamam que o quadro está confuso. Lamentam que as decisões possam ser tomadas num clima emocional. Ao longo destes anos vimos o processo político degradar-se, o abismo se abrindo entre instituições e eleitores. Mesmo as eleições de 2010, marcadas por fortes votações em candidatos folclóricos, como Tiririca, já eram inquietantes. Depois disso vieram as manifestações de 2013, mostrando mais claramente como o povo estava insatisfeito com o governo, com a oposição e com todo o sistema político.

Observo apenas a contradição de alguns setores que não se importaram em degradar a política e afastá-la do povo, na crença de que a máquina de governo e a propaganda tudo resolvem. Agora clamam por racionalidade, frieza e um roteiro seguro para dirigir o País.

Não creio que Marina vá subir nos fios e fazer milagres, como aquela santa no filme de Pasolini. Mas terá a oportunidade de apresentar suas ideias, responder às questões mais delicadas, enfim, oferecer também uma base racional para ser aceita ou rejeitada.

Tanto para ela como para Aécio, creio, um dos temas centrais é como se relacionar nesse conjunto de candidatos que propõem mudança, querem construir algo diferente do que fizeram o PT e seus aliados nestes 12 anos. A proposta de uma nova política não é esotérica se analisamos o discurso dos candidatos de oposição. Eles condenam o fisiologismo, o toma-lá-dá-cá, o balcão de negócios em que se transformaram governo e Congresso Nacional.

Não se navega nessas águas turvas sem apoio dos políticos. Não é possível discriminá-los, afastando-os do governo. O que é desejável é que se escolham apenas os honestos e que tenham competência específica para o cargo que vão ocupar.

Diante do segundo turno, emerge a possibilidade real de conduzir o País por um caminho mais sólido na crise econômica, menos corrompido na política, mais próximo dos grandes centros tecnológicos nas relações exteriores, mais sério na gestão dos serviços públicos.

Há quem queira disputá-lo sozinho na oposição. Há quem prefira Dilma por achar o PT previsível. Mas assim mesmo teremos um ano de 2015 cheio de surpresas.

Façam o seu jogo.

Esperar o apito - LUIZ GARCIA

O GLOBO - 29/08


A presidente Dilma, precipitadamente, celebrou uma decisão importante do tribunal: não bloquear os bens da comandante da Petrobras


Algumas pessoas nascem com o nariz voltado para a Lua. Na sabedoria popular não se fala em nariz: trocamos a parte do corpo para não magoar — ou mesmo ofender seriamente — leitores que costumam nos lembrar que este periódico costuma entrar em casas de família. Quem preferir pode trocar o nariz por qualquer outra parte do corpo.

Certamente, a presidente da Petrobras, Graça Foster, pertence ao grupo dos afilhados da Lua. A primeira mulher a comandar a maior empresa estatal do país foi responsável pela compra da Refinaria de Pasadena, lá longe no Texas.

Numa homenagem ao folclore do estado americano, podemos dizer que ela fez, involuntariamente, um papel de bandida e não de mocinha. O assunto foi parar no Tribunal de Contas da União (TCU), que poderia determinar um bloqueio dos bens de Graça até uma decisão definitiva sobre quem pagaria a conta. É óbvio que Graça não tem esse dinheiro todo, mas o bloqueio deveria determinar que ela pagaria, de alguma maneira, pela sua óbvia participação no mau negócio.

O caso ainda está longe de um desfecho no TCU. Mesmo assim, a presidente Dilma, precipitadamente, celebrou uma decisão importante do tribunal: não bloquear os bens da comandante da Petrobras. Ela preferiu esquecer que o tribunal já determinou o bloqueio dos bens de um bando de diretores e ex-diretores da estatal, considerados responsáveis pela infeliz compra da refinaria. Suas decisões custaram aos cofres públicos algo perto de US$ 800 milhões.

Certamente, Dilma tem poucos motivos para comemorar uma decisão parcial do TCU. Poderia fazer como espertos chefes de torcida no futebol: guardar os foguetes até o apito final.

Imbróglio fiscal - EDUARDO GIANNETTI

FOLHA DE SP - 29/08


Impossível ler a recente declaração do ministro Guido Mantega ao "Valor" (22/8) --"as nossas contas públicas estão absolutamente organizadas"-- e não lembrar do que os ingleses definem como a primeira lei do jornalismo: "não acredite em nada até que tenha sido oficialmente negado".

O que já era ruim está se tornando ainda pior. Além dos problemas de execução da política fiscal, com resultados cada vez mais distantes das metas definidas pelo próprio governo, há fortes indícios de que o repertório de truques e malabarismos contábeis vem se ampliando perigosamente nos últimos meses.

No início do ano, o governo anunciou com estardalhaço que aumentaria o esforço fiscal. O compromisso era produzir um superávit primário de 1,9% do PIB ou R$ 80,8 bilhões em 2014. Seria um resultado digno de respeito, tendo vista tratar-se de um ano eleitoral em que a pressão sobre os gastos tende a crescer.

O resultado do primeiro semestre, contudo, torna praticamente nula a probabilidade de que a meta seja cumprida. Premido pela queda de arrecadação causada pelo retração da economia e pela pletora de desonerações e subsídios espalhados a esmo nos últimos anos, o saldo primário fechou o semestre em R$ 17,4 bilhões. O resultado estrutural --que exclui do cálculo os efeitos do ciclo e das receitas e despesas não recorrentes-- deve terminar o ano próximo de 0% do PIB.

O aspecto mais preocupante, entretanto, são os indícios de que ao invés de abandonar o recurso à "contabilidade criativa", como chegou a anunciar, o governo vem de fato se enredando ainda mais em práticas de disfarce e manipulação dos números.

Além dos "restos a pagar", subsídios ocultos, operações casadas com estatais e atrasos em repasses aos entes federativos, a novidade agora é o uso dos bancos oficiais como financiadores do Tesouro.

O expediente foi revelado por fiscais do Banco Central e consiste na prática de servir-se da Caixa e do Banco do Brasil a fim de efetuar pagamentos a descoberto de obrigações do Tesouro junto a beneficiários de programas sociais e produtores rurais, entre outros. Nos balanços do primeiro semestre, o saldo negativo do "cheque especial" do governo era de R$ 3,9 bilhões na Caixa e R$ 9,8 bilhões no BB.

Além de violar a Lei de Responsabilidade Fiscal, que proíbe esse tipo de operação, o expediente causa enorme prejuízo aos bancos estatais e nos aproxima mais alguns passos de perder a condição de "grau de investimento".

Como um alcoólatra que jura largar o vício, mas sucumbe a cada nova tentação que se oferece, o governo Dilma repete a sina da oração do jovem Santo Agostinho: "Dai-me, Senhor, a temperança e a virtude, mas não já".

Lula e o segundo mandato de Dilma - ROGÉRIO FURQUIM WERNECK

O GLOBO - 29/08

O que se viu no primeiro governo do ex-presidente foi a manutenção da política macroeconômica que vinha sendo adotada



No primeiro programa de propaganda eleitoral do PT, há uma parte em que Lula reconhece tacitamente que Dilma tem pouco a mostrar. E tenta convencer o eleitor a lhe dar outra chance: “...Eu quero falar especialmente para você, que está em dúvida se deve votar ou não na Dilma. Eu lhe peço, vote sem nenhum receio. Fique certo de que você não vai se arrepender.”

O que desperta interesse é a argumentação utilizada. Lula começa por alegar: “O meu segundo mandato foi melhor do que o primeiro. Com Dilma, tenho certeza de que vai ser assim também. No meu segundo mandato, eu tive mais segurança, mais experiência e mais apoio para acelerar projetos que estavam em andamento e para lançar muita coisa nova.”. E, em seguida, pergunta: “Já imaginou o prejuízo que o país teria sofrido se eu não tivesse um segundo mandato? Se outro qualquer tivesse chegado querendo inventar a roda e parado quase tudo?”

Chama a atenção que, a essa altura dos acontecimentos, Lula ainda queira fazer crer que seu segundo mandato foi melhor do que o primeiro. Do ponto de vista do desempenho da política econômica, o primeiro mandato de Lula foi muito melhor do que o segundo.

Superadas as tensões da metamorfose por que teve de passar o PT na campanha eleitoral de 2002, o que se viu no primeiro governo de Lula foi a manutenção da política macroeconômica que vinha sendo adotada no governo anterior. Decisão sábia que propiciou rápida colheita de bons resultados. A partir de 2004, a economia, ajudada pelo boom de preços de commodities, passou a apresentar crescimento relativamente rápido, inflação baixa e contas externas sólidas.

Mas é compreensível que Lula não guarde boas lembranças do seu primeiro mandato. Tendo enfrentado com sucesso o desafio da política econômica, seu governo se viu às voltas com dificuldades de outra ordem, na esteira da eclosão do escândalo do mensalão, em 2005. Em meio ao turbilhão que se formou, Lula chegou a temer que, mesmo que conseguisse evitar um impeachment, sua reeleição estivesse comprometida.

Não foi o que, afinal, se viu. A crise acabou superada e, graças ao bom desempenho da economia e aos programas de redistribuição de renda, Lula conseguiu seu segundo mandato. E pôde respirar aliviado. Mas o novo governo já não era o do primeiro mandato. Ironicamente, da perspectiva da política econômica, o Lula que foi reeleito era muito diferente do de 2003. Foi ele mesmo quem “quis inventar a roda” e “parar quase tudo”.

A verdade é que, desde o mensalão, a correlação de forças dentro do governo havia mudado. A insegurança de Lula, o descabeçamento do PT e a ascensão de Dilma Rousseff à Casa Civil redundaram em crescente cerceamento do poder do ministro Antonio Palocci, como ficou mais do que claro no emblemático embate entre a Fazenda e Casa Civil, no segundo semestre de 2005, quando a proposta de ajuste fiscal de longo prazo foi torpedeada. O afastamento de Palocci e sua substituição por uma figura inexpressiva, em abril de 2006, abriram espaço para crescente preponderância da Casa Civil na condução da política econômica no segundo mandato.

O resto da história é bem conhecido. A política econômica passou a ter outra orientação. As mudanças, de início mais discretas, logo se tornaram mais ostensivas, quando o agravamento da crise mundial proporcionou o pretexto que faltava para o abandono dos princípios que haviam pautado a política econômica do primeiro mandato. O rumo passou a ser ditado pela “nova matriz econômica”, custosa pajelança voluntarista, engendrada no segundo mandato de Lula, cujas consequências funestas vêm sendo agora observadas com riqueza de detalhes nesse patético apagar das luzes do governo Dilma.

Lula pode até ter preferido seu segundo mandato, mas foi exatamente nesse período que a política econômica petista começou a descarrilar. O que o país tem presenciado, desde então, é o inexorável desenrolar do desastre, como num grande acidente ferroviário filmado em câmara lenta.

E Lula ainda acha que Dilma merece outra chance.

O voto emocional - HÉLIO SCHWARTSMAN

FOLHA DE SP - 29/08


SÃO PAULO -Debates eleitorais servem para alguma coisa? Imagino que sim, mas não para os fins para os quais eles foram concebidos.

No modelo padrão de democracia, o eleitor decide seu voto após reunir informações sobre os candidatos e seus partidos, comparar as propostas de todos e pesar tudo isso na balança da racionalidade. Lindo, maravilhoso. O único problema com esse modelo é que ele está errado.

Um volume crescente de pesquisas mostra que as pessoas tendem a ser bem menos racionais na hora de votar. Ao que tudo indica, via de regra são as emoções que ditam a escolha. A razão entra depois para providenciar justificativas para a decisão.

Querem provas? Uma de minhas favoritas são os experimentos de Alexander Todorov em que ele mostrou que voluntários após olhar por um segundo para fotos de postulantes que não conheciam e apontar os mais bem-apessoados, conseguiram acertar ao menos 68% dos resultados de várias eleições para o Senado dos EUA. Bem, se o voto fosse o resultado de um processo puramente racional, a aparência dos candidatos deveria ter peso próximo a zero.

Isso significa que eleições são uma espécie de concurso de miss, no qual o mais simpático sempre vence? Nem tanto. Emoções não brotam do nada. Elas ocorrem em contextos que obedecem a lógicas conhecidas. É mais provável que você se identifique com um candidato que evoque teses parecidas com as suas do que com um que defenda o que você despreza. De modo análogo, condições objetivas afetam nossa predisposição em relação àqueles que percebemos como responsáveis por elas. Assim, se a economia vai bem, é maior a chance de o candidato governista cair em nossas graças. Se vai mal...

Nesse modelo, debates servem não para avaliar propostas, mas para o eleitor descobrir qual candidato personifica melhor suas inquietações e encontrar os pretextos com os quais justificará seu voto para si mesmo.

Estagnação e inadimplência - EDITORIAL O ESTADÃO

O ESTADO DE S.PAULO - 29/08


Mais um recorde negativo foi batido na economia brasileira, embora o governo continue alardeando um desempenho muito melhor que o da maior parte do mundo. A inadimplência das empresas, medida pelo número de contas em atraso, protestos e cheques sem fundos, aumentou 12,9% de junho para o mês passado. Para um mês de julho, foi o maior avanço registrado na série iniciada em 2000. Com esse movimento, o índice ficou 11,4% acima do patamar alcançado um ano antes, segundo o levantamento da Serasa Experian. A comparação dos primeiros sete meses deste ano com os do ano passado mostra um aumento de 6,9%. Os feriados da Copa do Mundo podem ter atrapalhado a rotina empresarial, mas é um exagero, ou tentativa de enrolação, atribuir todos os problemas de produção, consumo e pagamentos ao campeonato da Fifa. A estagnação da economia, a elevação de juros e a alta maior dos salários que da produtividade compõem uma explicação de maior alcance. Ainda seria possível acrescentar a variação de outros custos e a insegurança criada pelo acúmulo de erros da política econômica.

Neste mês, o cenário ruim continuou afetando a disposição dos empresários. O Índice de Confiança da Indústria (ICI) caiu mais 1,2% de julho para agosto, segundo informou na quarta-feira a Fundação Getúlio Vargas (FGV). Na oitava queda consecutiva, o indicador passou de 84,4 para 83,4 pontos. A escala vai de 0 a 200. O nível 100 é a linha divisória de avaliações negativas e positivas.

Em agosto, o Índice de Situação Atual caiu 3,6%, para 82,7 pontos. Esse foi o menor nível desde os 78,5 pontos de março de 2009, quando o Brasil ainda se arrastava na recessão iniciada no ano anterior com o estouro da bolha financeira no mundo rico. O Índice de Expectativas melhorou ligeiramente. Aumentou 1,4% e chegou a 84,1 pontos, mas esse número ainda aponta uma avaliação negativa dos próximos seis meses. Todos os indicadores continuam bem abaixo dos valores médios dos últimos cinco anos, 104,9 para o Índice de Confiança, 105,7 para o de Situação Atual e 104,1 para o de Expectativas.

Os cenários desfavoráveis mostrados pela FGV coincidem, de modo geral, com aqueles apontados em pesquisas da Confederação Nacional da Indústria (CNI). A sondagem divulgada na semana anterior pela CNI havia indicado atividade ainda baixa em julho, embora com recuo menos intenso que o observado no mês anterior.

Mas a disposição dos empresários apontava manutenção do ritmo de corte de pessoal e expectativa de novas quedas da exportação. Apesar de tudo, foram identificados alguns sinais de otimismo, todos muito moderados: a demanda interna deverá crescer, a compra de matérias-primas aumentará e haverá menos estoques indesejados.

Na sondagem da CNI, o indicador 50 divide as avaliações positivas e negativas. As mais positivas continuam muito perto da linha divisória - 51,5 em relação aos estoques indesejados, 52,1 no caso das compras de matérias-primas e 54,9 quanto à perspectiva de demanda. Mas este número é pouco menor que o do mês anterior (55,2). Apesar da proximidade do fim do ano, geralmente melhor para a atividade industrial, "as expectativas seguem pouco otimistas com relação à demanda e às compras de matérias-primas", comentaram os autores da pesquisa.

Também têm piorado as perspectivas do comércio varejista. A Associação Brasileira de Supermercados (Abras) cortou de 3% para 1,9% a projeção do aumento de vendas neste ano, informou na quarta-feira o presidente da entidade, Sussumu Honda. Se o número se confirmar, será o pior desempenho desde 2006, quando as vendas diminuíram 5,9%, descontada a inflação. A nova projeção, acrescentou o empresário, inclui a expectativa de um desempenho melhor que o do ano passado nas vendas de Natal.

Com base nos últimos indicadores, parciais, a FGV estima para o ano um crescimento de 0,6% para o Produto Interno Bruto (PIB). No mercado financeiro, na sexta-feira passada, a mediana das projeções estava em 0,7%, segundo pesquisa do Banco Central. Os números oficiais do primeiro semestre devem sair hoje.

Riscos do uso do Estado para a reeleição - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 29/08

Convocar secretários dos ministérios para se empenhar na campanha da presidente é ato de assustador patrimonialismo e de espantosa ousadia, mesmo no PT


Em uma democracia longeva e sólida como a americana, o presidente pode se candidatar à reeleição e manter-se na Casa Branca, sem patrocinar escândalos sobre o uso da máquina do Estado na campanha. Não apenas há uma arraigada cultura de obediência às regras do jogo, como os desvios são punidos sem tergiversações.

O Brasil fez bem ao copiar o modelo americano de dois mandatos consecutivos de quatro anos cada. Na prática, é como se fosse um mandato possível de oito anos, com a chance de interrupção, à vontade do eleitor, passados os quatro primeiros.

Campanha com candidato no Planalto e no Alvorada, porém, tem criado, nos últimos tempos, várias situações em que a oposição recorre à Justiça Eleitoral, com denúncias do uso de prerrogativas do cargo de presidente com fins eleitorais.

Na reeleição de Lula, em 2006, foi notória a antecipação da campanha pelo presidente. O mesmo ocorreu na candidatura de Dilma Rousseff, em 2010, e desvios se repetem em 2014. Registrem-se, por exemplo, discutíveis convocações de rede nacional para pronunciamentos oficiais de suposto interesse geral, mas que eram, na verdade, atos de cunho eleitoral.

O chamado “efeito Marina”, deflagrado com a morte de Eduardo Campos e a passagem para a cabeça da chapa do PSB da idealizadora da Rede, abala, como era previsível, as candidaturas de Dilma e Aécio Neves. Cada um deles terá de reagir à ameaça representada por Marina Silva, por óbvio. O perigo está na forma como a candidata à reeleição e seu partido, o PT, tratarão de combater a candidata do PSB. E as primeiras notícias sobre movimentações na campanha petista são preocupantes.

Logo na noite do primeiro debate, na Bandeirantes, terça-feira, já conhecida a pesquisa do Ibope em que o destaque foi Marina, a coordenação da campanha de Dilma fez a descabida convocação de uma reunião com secretários executivos e secretários nacionais dos ministérios, para pedir-lhes empenho no apoio ao projeto da reeleição.

Há, nisso, um gritante desvio de função, o indiscutível uso de funções públicas no trabalho privado a favor de uma campanha política. Não importa se da presidente da República. Ela é tão candidata quanto todos, e nenhum pode ter privilégios.

O encontro foi conduzido por Cezar Alvarez, responsável pela articulação da campanha com estados e municípios, e dele participou até o ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria Geral da Presidência.

Os secretários em geral tocam o cotidiano dos ministérios. Convertê-los em cabos eleitorais é transferir parte da máquina pública para o palanque de Dilma, estridente crime eleitoral e ato de assustador patrimonialismo.

É conhecida a prática aparelhista do PT, a sua capacidade de se infiltrar no Estado. Mas esta manobra, embora não surpreenda, é de espantosa ousadia.

Corda no pescoço - EDITORIAL FOLHA DE SP

FOLHA DE SP - 29/08


Juros ao consumidor chegam ao maior valor desde 2011, o que desfaz mais uma das inúmeras fantasias divulgadas pela gestão Dilma


As novas informações sobre as concessões de empréstimos no país, divulgadas pelo Banco Central, evidenciam que também essa área da economia está paralisada, apesar dos esforços do governo.

Pior, os juros do crédito livre (sem destinação específica) ao consumidor chegaram a 43,2% ao ano, um recorde desde 2011. Desfaz-se, assim, mais uma das inúmeras fantasias propagadas pela gestão Dilma Rousseff (PT) --a de que haveria redução nas taxas escorchantes a que as famílias são submetidas.

Não surpreende, pois, que o saldo das operações de crédito tenha desacelerado pelo sétimo mês consecutivo, na comparação com o mesmo período do ano passado. Em julho, houve expansão de 4,6% (já descontada a inflação), menos da metade do padrão observado de 2011 a 2013.

A pequena dinâmica existente deve-se aos bancos estatais. Sua participação no mercado, hoje de 53%, cresceu 18 pontos percentuais desde 2008, quando o governo federal decidiu turbiná-los.

Enquanto isso, os bancos privados, ressabiados com o ambiente econômico incerto, deixaram o saldo dos financiamentos cair 2,8% em relação a dezembro último.

Em termos setoriais, a expansão concentra-se no crédito rural e imobiliário, que são direcionados por lei. Ou seja, as instituições são obrigadas a destinar a essas duas finalidades, com juros mais baixos, um pedaço dos depósitos à vista e na poupança. No segmento livre, as novas concessões estão estagnadas desde 2011.

Natural que seja assim. O crédito, por cerca de uma década, cresceu muito além da economia, complementando a renda salarial e sustentando o consumo. O volume total dessas transações mais que dobrou, passando de 25% do PIB em 2004 para 56,1% no mês passado.

Agora, contudo, as dívidas já representam 45,7% da renda das famílias, segundo dados do BC. As pessoas se sentem com a corda no pescoço, por assim dizer, e ninguém gosta de apertar o nó.

No caso das empresas, a baixa demanda de crédito reflete a falta de confiança na economia.

Verificadas tais tendências, o governo adotou mais medidas de estímulo: reduziu a exigência de retenção de depósitos dos bancos no BC e afrouxou regras prudenciais para empréstimos.

Em paralelo, reforçou a segurança das instituições, com novas diretrizes para o crédito consignado e, no caso de automóveis, maior facilidade para a retomada do bem se houver inadimplência.

Algumas dessas ações até são corretas do ponto de vista regulatório, mas não soa promissor insistir na força do crédito num ambiente de desajuste econômico.

Petrobrás na campanha - EDITORIAL O ESTADÃO

O ESTADO DE S.PAULO - 29/08


Dilma Rousseff, candidata à reeleição, anda reclamando de "ataques" à Petrobrás. "Eu acho extremamente equivocado colocar a maior empresa da América Latina, sempre durante a eleição, como arma política", afirmou recentemente. Para ela, a instituição "está acima" de escândalos. Mas não é a oposição ou a imprensa que ataca a Petrobrás, como quer dar a entender a candidata à reeleição. O ataque à maior estatal brasileira está continuamente vindo do próprio governo, ao envolver a Petrobrás em "erros, malfeitos, crimes, atos de corrupção", conforme listagem da própria candidata.

O episódio mais recente, que fez Dilma voltar ao tema, é a possibilidade de o ex-diretor Paulo Roberto Costa, preso por suspeita de corrupção, utilizar o recurso da delação premiada: falar o que sabe em troca de diminuição da pena. Atualmente, a Operação Lava Jato, da Polícia Federal, investiga 13 empresas ligadas a Costa que, segundo a Procuradoria da República, obtiveram "vertiginoso acréscimo patrimonial" na época em que ele foi diretor da Petrobrás.

Nas palavras da candidata, "a Petrobrás é muito maior do que qualquer agente dela, seja diretor ou não, que cometa equívocos (...) isso não significa uma condenação da empresa. Não se pode confundir as pessoas com as instituições". Não se está fazendo essa confusão nem condenando a Petrobrás. O País quer é responsabilizar pessoas pelos "erros, malfeitos, crimes, atos de corrupção" que possam ter cometido.

Se houve confusão entre pessoas e instituições, foi a própria candidata quem a fez. Em seu característico estilo, Dilma pontificou: "Veja bem, ó: a Graça Foster e a diretoria inteira da Petrobrás representam a União. (...) É de todo interesse da União defender a Petrobrás, a diretoria da Petrobrás". Aqui, se tratava de outro escândalo - Dilma e sua turma têm sido pródigas em proporcionar escândalos envolvendo a estatal -, quando se revelou que Graça Foster havia transferido imóveis para os filhos em meio à crise sobre a Refinaria de Pasadena. Neste caso, a candidata à reeleição tinha todo interesse eleitoral em que a estrutura do Estado - o Ministério da Justiça e a Advocacia-Geral da União - fosse utilizada para agir em favor de diretores cuja atuação na Petrobrás está sendo estudada pelo Tribunal de Contas da União (TCU).

Quando lhe interessa calar, Dilma utiliza o cargo de presidente da República como motivo para silenciar. "Eu não tenho o que comentar sobre a decisão de uma pessoa presa fazer ou não delação premiada, isso não é objeto do interesse da Presidência da República." Mas ela se adiantou na defesa de Graça Foster, quando esta corria o risco de ter seus bens bloqueados pelo TCU. A candidata disse que seria um "absurdo" o bloqueio dos bens da presidente da Petrobrás. Absurdo seria o País ter de engolir inerme uma operação que, segundo o TCU, gerou prejuízo de R$ 792,3 milhões à estatal.

A candidata Dilma não faz reparos a que a Petrobrás esteja presente na campanha eleitoral. Em 2010, ela utilizou largamente a estatal e a descoberta do pré-sal como matéria política. O que ela não gosta - como se vê pelas suas falas - é que informação independente sobre a Petrobrás, sem os filtros do governo, chegue ao público nesse momento pré-eleitoral. Mas isso, longe de ser um ataque contra a Petrobrás, é a sua mais genuína defesa, especialmente quando aqueles que deveriam fazê-lo não o fazem.

Não é a Petrobrás, mas o governo que está sendo julgado, o que é legítimo - e desejável - numa democracia. As eleições devem ser uma prestação de contas sobre o que foi feito e como foi feito pelo governo. E ninguém mais do que Dilma pôs a Petrobrás nessas eleições ao reconhecer, em março, que a sua decisão de aprovar a compra da Refinaria de Pasadena tinha como base um parecer "técnica e juridicamente falho". Ela mesma, com suas ações e palavras, desconstruiu a imagem eleitoreira de que seria uma eficiente gestora. Por isso, a Petrobrás - e seus sempre prejudicados acionistas minoritários - tem todo o interesse em estar nas eleições. É sua chance de conseguir outros gestores.


COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO

‘O setor foi ferido quase de morte pela incompetência do governo’
Beto Albuquerque (PSB), vice de Marina Silva, sobre a crise no setor sucro-alcooleiro



PT AVALIA QUE NEM LULA EVITARIA VITÓRIA DE MARINA

Os “lulistas” do Partido os Trabalhadores já não falam em substituir a candidata Dilma Rousseff pelo ex-presidente Lula, e por ordem dele. É que pesquisa interna, à qual tiveram acesso apenas quatro petistas ilustres, indica que a ascensão de Marina Silva (PSB) é de tal maneira avassaladora que nem mesmo Lula conseguiria evitar sua vitória. Análises internas citam até a hipótese de Marina vencer no 1º turno.

ROSA DOS VENTOS

A advertência dos analistas do PT é: Marina pode passar à frente e, com o “voto útil” de eleitores de Aécio, vencer no 1º turno.

TE CUIDA, MARINA

A ordem de Lula é proclamar confiança em Dilma, dizer que Marina é só “uma onda” e preparar a artilharia. Estão vasculhando a vida dela.

CEGOS EM TIROTEIO

A candidatura de Marina Silva desnorteou os marqueteiros do PT e do PSDB. Rigorosamente, eles não sabem o que fazer.

PELADÃO NO RIO

Neste sábado, Aécio Neves vai participar de um “peladão” no campo do Zico, no Rio, ao lado de craques que marcaram época no futebol.

POLÍCIA FEDERAL REGISTRA 15º SUICÍDIO DE POLICIAL

Esta semana foi registrado o 15º suicídio de um policial federal nos últimos dois anos, segundo fontes da própria corporação. José Roberto Correia de Araújo, de Londrina (PR), foi o terceiro caso somente nos últimos cinco meses. Segundo sindicalistas, “o comportamento da direção da PF tem provocado e agravado diversos problemas entre os policiais”, incluindo problemas psicológicos e psiquiátricos.

PROBLEMAS

Pesquisa da Federação Nacional da PF em 2013 mostrou que 30% dos policiais já se submeteram a algum tipo de tratamento psicológico.

UNIVERSO PEQUENO

Polícia Federal conta, em todo o País, com apenas 13 mil homens entre delegados, agentes, escrivães, papiloscopistas etc.

É INSUFICIENTE

Para quase 9 mil quilômetros de litoral, a PF dispõe de cerca de 150 homens. Na fronteira terrestre, o contingente não chega a 1.500.

O QUE É RUIM, ESCONDE

O site de Dilma usa dados do Ibope para dizer que ela segue “firme e forte”, mas não menciona a queda de 4 pontos ou o índice de rejeição da petista (36%), tampouco o favoritismo de Marina no 2º turno.

SUJEIRA SOB O TAPETE

A pedido de Antônio Oliveira Santos, presidente da CNC, o chefão do Sesc reuniu 74 conselheiros no Rio e os orientou a rejeitar recursos do adversário Orlando Diniz contra a chapa da situação, na eleição da entidade. Também discutiram como reverter estragos do afastamento, pela Justiça, do presidente da Fecomércio-MG, aliado de Santos.

MÃO NA TAÇA

Durante reunião quarta à noite, a cúpula do Senado analisou o quadro eleitoral nos estados. No DF, a conclusão foi a de que o candidato a governador Rodrigo Rollemberg (PSB) “está com a mão na taça”.

PROJETO AGUADO

Parecia briga da dupla sertaneja Rio Negro e Solimões, mas não é: o Supremo Tribunal Federal vai julgar o conflito entre o estado do Amazonas, que autorizou um porto próximo ao encontro dos dois rios, e o Iphan, que meteu o bedelho e vetou o projeto, considerando a área “monumento natural”.

TEMPOS AMARGOS

Marina Silva lançou luz, ontem, na tragédia do setor sucroalcooleiro. Responsabilizou o governo pelo fechamento de 70 usinas e por outras 40 em recuperação judicial, com milhares de desempregados.

‘MARINAR’, A SAÍDA

Com Aécio Neves em baixa, velha raposa do PMDB ligou para o amigo Romero Jucá (PMDB-RR). “Você não precisava ter declarado voto para Aécio, bastava não apoiar Dilma”. E aconselhou: “É hora de marinar...”.

BANCO DE MEMÓRIA

O banco Itaú de Neca Setúbal, “colaboradora” de Marina Silva, ameaça ir às últimas instâncias para não pagar indenização de R$ 6 mil a ex-cliente que, morando no exterior, teve o nome injustamente negativado.

CANDIDATO DOS MILAGRES

Faltou bom senso, no mínimo, à coordenação de campanha de Magela (PT-DF) ao Senado na edição do último programa eleitoral: um casal de cadeirantes diz que “pulou de alegria” com os feitos do candidato.

PERGUNTA NO PALANQUE

Já que faz tanta questão de ser chamada de presidenta, seu novo slogan não deveria ser “Dilma, coração valenta?”



PODER SEM PUDOR

GUERRA À BRASILEIRA

A história foi contada à exaustão pelo ex-senador sergipano Gilvan Rocha. O baiano Luiz Carlos Medrado Sampaio, ex-médico da Aeronáutica e seu amigo de infância, recebeu um telefonema que era uma convocação, em 31 de março de 1964, o dia do golpe:

- Apresente-se amanhã cedo no quartel. No pátio, com as armas.

- Armas? Mas que armas?

- As que o senhor tiver, ora! - respondeu a voz, autoritária.

- Posso ir desarmado?

- Para quê serve um homem desarmado em quartel, numa revolução?

Dia seguinte, cedinho, Medrado se apresentou e foi direto para o pátio, carregando um estilingue no pescoço. Pegou trinta dias de cadeia.