quinta-feira, maio 26, 2011

HÉLIO SCHWARTSMAN - Mas afinal, o que querem as mulheres?


Mas afinal, o que querem as mulheres?
HÉLIO SCHWARTSMAN
FOLHA DE SÃO PAULO - 26/05/11

Excluídas as distinções anatômicas, homens e mulheres são iguais? Passamos a maior parte dos anos 60 e 70 tentando nos convencer de que sim. Nessas duas décadas, vigorou o paradigma segundo o qual todas as diferenças comportamentais entre os sexos eram fruto da educação.

A mais célebre vítima da teoria da neutralidade dos gêneros foi David Reimer. Ele nasceu em 1965 como um garoto saudável. Mas, depois que teve seu pênis destruído numa canhestra operação para corrigir uma fimose, seus pais procuraram o então papa dos estudos sobre sexualidade, John Money, do Hospital Johns Hopkins, que os convenceu de que o que de melhor poderiam fazer pelo menino era submetê-lo a uma cirurgia para extração dos testículos e educá-lo como mulher. Foi um desastre. Apesar dos estímulos sociais e das injeções de hormônios femininos, ele jamais se sentiu como uma garota. Era frequentemente importunado por seus colegas de escola, em Winnipeg (Canadá). Aos 13, já sofria de depressão severa, com ideações suicidas. Aos 14, depois que seus pais lhe revelaram sua verdadeira história, ele decidiu viver como homem. Trocou os hormônios femininos por masculinos e fez uma mastectomia (retirada dos seios) e uma faloplastia (construção de pênis). Casou-se. Mas a depressão nunca o abandonou. Suicidou-se em 2004.

O caso só ficou conhecido porque, em 1977, o sexologista Milton Diamond o convenceu a tornar pública sua história, para evitar que outras crianças fossem submetidas ao mesmo tratamento. Os detalhes estão no livro "As Nature Made Him: The Boy Who Was Raised as a Girl" (como a natureza o fez: o menino que foi criado como menina).

Pela teoria da neutralidade, meninos brincam com carrinhos e armas e meninas optam por bonecas apenas porque são estimulados por seus pais a fazê-lo. Hoje, sabemos que essas preferências são inatas e têm base biológica. Uma elegante prova disso é que chimpanzés selvagens machos também gostam de brincar com paus como se fossem clavas, já as fêmeas carregam os mesmos pedaços de pau para cima e para baixo como se fossem filhotes.

E a coisa vai muito além das escolhas de brinquedos. Após algumas décadas de pesquisas mais acuradas que as de Money, acumulam-se evidências de que as diferenças de gênero afetam também a cognição, as preferências e a própria noção de propósito da vida. Isso, evidentemente, tem implicações profundas sobre a educação, o mercado de trabalho --e o feminismo.

Parte da dificuldade está no tabu que ainda cerca o tema, mesmo nos meios acadêmicos. Vale lembrar que uma das razões para a demissão de Larry Summers da reitoria de Harvard, em 2006, foi ele ter sugerido que o baixo número de mulheres em certos ramos da ciência poderia dever-se a diferenças naturais entre os sexos.

Mas, gostemos ou não, hoje sabemos que os níveis de exposição pré-natal a hormônios sexuais afetam a forma como o cérebro de meninos e meninas se organiza. Algumas características tipicamente masculinas relevantes para a educação são a propensão a correr riscos, que abarca a agressividade e o gosto pela competição, e a facilidade para relacionar-se com objetos e sistemas. Já as meninas se destacam pela maior disciplina e a capacidade de empatia, que inclui o forte interesse por pessoas.

Nesses casos, as diferenças são marcantes. Pesquisa com crianças entre 10 e 23 meses mostrou que meninos contam histórias agressivas 87% do tempo, contra 17% de meninas. Entre 9 e 10 anos, garotos passam 50% de seu tempo livre em brincadeiras competitivas, contra apenas 1% das garotas.

Vale aqui o alerta de que esses achados são apenas médias, as quais dizem muito pouco a respeito de indivíduos reais. Lembre-se de que, na média, a humanidade tem um testículo e um seio.

Na educação, os números não dão margem a dúvida: os garotos estão perdendo feio para as garotas na performance educacional.

Hoje, nos EUA, meninos têm três vezes mais probabilidade do que meninas de precisar de aulas de recuperação e duas vezes mais de ser reprovados. A chance de eles abandonarem a escola é 30% maior.

Em 30 países avaliados pela OCDE, as meninas se saem muito melhor do que os meninos em leitura e escrita, e já os alcançam em matemática, área em que eles lideravam incontestavelmente até o início dos anos 80.

Em todos os países do mundo, exceto a África subsaariana, há mais mulheres que homens cursando a educação superior. Nos EUA, correm rumores, nunca admitidos oficialmente, de que as principais universidades facilitam a entrada de homens, para que a proporção de alunas não exceda 60%.

Nos últimos anos, surgiram vários livros explorando as diferenças entre gêneros e propondo soluções mais ou menos milagrosas para resolver o que identifiquem como "o problema".

Um bom exemplar é "Why Gender Matters" (por que o gênero importa), do médico Leonard Sax, no qual o autor faz uma defesa entusiasmada da separação por sexo nas escolas. Não desenvolvo muito o tema porque ele foi objeto de um texto que escrevialgumas semanas atrás para a edição impressa da Folha. O que tenho a dizer é que, embora o título traga alguns "insights" interessantes, ele incorre no grave pecado de ser uma obra militante. Sax, que segue a agenda conservadora, não hesita muito antes de exagerar no peso das evidências científicas, desde que isso sustente sua tese.

Bem mais equilibrado é "The Sexual Paradox" (o paradoxo sexual), da psicóloga Susan Pinker. Para ela, o sexo masculino é mais extremo do que o feminino. Isso se materializa na maior proporção tanto de gênios como de retardados entre os homens. Eles também têm (na média) um leque menor de interesses, aos quais se dedicam de corpo e alma. Em seu grau superlativo, a mente masculina seria a de um autista.

Já elas são menos extremas e mais empáticas. Embora Pinker não o afirme, outros autores propõem que o superlativo da mente feminina seja a esquizofrenia. É o excesso de empatia que leva uma pessoa a conversar de igual para igual com uma geladeira.

Embora não tenham sido detectadas diferenças cognitivas que as tornem menos proficientes em ciências e matemáticas, elas quando podem preferem abraçar profissões que lidem com pessoas (em oposição a objetos e sistemas). É por isso que hoje quase dominam as carreiras médicas, enquanto permanecem minoritárias na engenharia e na física, para não mencionar as oficinas mecânicas.

Ainda mais interessante, nos países hiperdesenvolvidos, onde elas gozam de maior liberdade para escolher, esse "gap" é maior do que nas nações em desenvolvimento, onde elas são muitas vezes obrigadas a exercer ofícios que não são os de seus sonhos. É isso que explica uma proporção maior de engenheiras na Turquia e na Bulgária do que na Dinamarca e na Suécia.

Só quem chegou perto do 50-50 foi a extinta União Soviética, e isso porque lá eram as profissões que escolhiam as pessoas e não o contrário.

Além disso, por operarem com múltiplos interesses, as mulheres não se prendem tanto à carreira. Trocam sem muita hesitação uma posição de comando para ficar mais tempo com a família. Essa é uma das razões por que muitas mulheres sacrificam trajetórias promissoras --e a perspectiva de chegar ao comando de empresas-- em favor de horários mais flexíveis. É esse desejo, mais do que a discriminação que explica a persistente diferença salarial entre homens e mulheres, pelo menos nos países desenvolvidos, onde já não se registram casos muito acintosos de preconceito.

Para Pinker, as mulheres seriam mais felizes se reconhecessem as diferenças biológicas entre os gêneros e parassem de tentar imitar os homens, buscando sem culpa o que realmente querem. É isso que ela propõe como o novo feminismo.

ANCELMO GÓIS - 80 anos de bossa


80 anos de bossa
ANCELMO GÓIS
O GLOBO - 26/05/11

A prefeitura de Juazeiro, BA, cidade natal de João Gilberto, vai tombar a casa onde nasceu o gênio da música e transformá- la em memorial. É parte dos festejos locais pelos 80 anos do mestre da bossa nova, dia 10 agora, que incluem um show de João Bosco.

Parece que é à vera
Aloizio Mercadante se reuniu ontem por três horas com o pessoal da Foxconn, a multinacional que fabrica produtos da Apple e que anunciou a Dilma, na China, a intenção de investir US$ 12 bi no Brasil em até cinco anos. O ministro saiu do encontro entusiasmado.

Ilha Grande no FMI 
A ministra da Economia da França, Christine Lagarde, indicada para a direção do FMI, tem xodó pela Ilha Grande, no Rio. Hospedou-se ali três dias em sua última visita ao Brasil. 

O dono do mundo 

A conta, de brincadeira, claro, é do consultor Maurício Hissi, o Bastter. Se Palocci multiplicasse seu patrimônio por 20 a cada quatro anos, bastariam 17 anos para acumular R$ 129 trilhões (ou US$ 80 trilhões) e ser dono de todo o dinheiro do mundo. 

É que...
Estudos consideram que o montante total de dinheiro no mundo esteja entre US$ 50 trilhões e US$ 170 trilhões. 

No mais
Lula lá, de novo. Agora, no grito.

Assalto ao BC 
O livro “Assalto ao Banco Central”, inspirado no caso real em Fortaleza, será lançado junto com o filme de Marcos Paulo. Sairá em julho, pela Editora Agir. Foi escrito por Renê Belmonte, roteirista do longa, e pelo policial federal J. Monteiro.

Cadê meu cargo?

O chororô dos senadores do PT contra o governo, no almoço com Lula, surtiu efeito. Tanto que Dilma vai receber a turma hoje. A causa do beicinho de Suas Excelências tem seis letras: c-a-r-g-o-s. 

Butins eleitorais...
Eles chiam que o governo está segurando nomeações. Isto ocorre, inclusive, em 16 estados onde há acordo de rachuncho de cargos federais do PT com os outros partidos da base governista.

Dilma centraliza...
Entre os senadores, muitos defendem Palocci. Dizem que, a cada dez nomes que o ministro milionário submete ao crivo de Dilma, apenas dois, no máximo, recebem o “sim” da presidente. 

Casamento desfeito

Ronaldo Fenômeno não é mais sócio de Alexandre Accioly na rede de academias A!BodyTech. 

Lá vão os noivos 
O governo do Rio vai promover, dia 10 de junho, uma cerimônia coletiva de união estável entre gays. Serão 50 casais. 

A luta continua
Flávio Tavares, 76 anos, o coleguinha que foi preso várias vezes pela ditadura, abriu uma nova frente de luta. Em seu exílio voluntário em Búzios, denuncia que umas 200 árvores foram arrancadas de um morro em Manguinhos para construção de um condomínio.

Calma, gente

Numa audiência na 40a- Câmara Criminal do Rio, terça passada, o advogado Jorge Vacite Júnior bateu boca com a juíza Alessandra Bilac Pinto e recebeu voz de prisão por desacato. A confusão acabou na 1a- DP. 

Leblon on line
Moradores do Leblon que se comunicam pelo Facebook farão sua primeira reunião hoje, às 19h30m, no Hotel Marina, para discutir problemas do bairro. 

Pega ladrão!
Um larápio tem furtado sacolas de consumidores no Shopping da Gávea, no Rio. Dia desses, uma senhorinha deu queixa do sumiço de uma caixa de vinhos e ouviu o seguinte na administração: “Vamos providenciar um ressarcimento, mas, por favor, não vá para a imprensa.” Tem culpa eu?

ILIMAR FRANCO - Irracionalidade


Irracionalidade 
ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 26/05/11

O governo transformou sua derrota no Código Florestal em uma crise com a Câmara e traduziu, na prática, o desprezo com o qual a presidente Dilma tem tratado deputados e senadores aliados. A base ficou indignada ao ouvir o líder do governo, Cândido Vaccarezza (PT-SP), dizer, na tribuna, que a presidente considerava uma “vergonha” a emenda do PMDB, aprovada por ampla maioria.

Sequelas
No calor da sessão, o presidente do PCdoB, Renato Rabelo, foi tirar satisfação com o líder do PT, Paulo Teixeira (SP). Apoiador da emenda do PMDB, o PCdoB não gostou do discurso de Vaccarezza, nem dos ataques feitos por Teixeira ao relator, Aldo Rebelo (PCdoB-AL). “Vocês estão confundindo os papeis. Eu sou líder do PT. O Vaccarezza é líder do governo”, respondeu Teixeira, que não morre de amores por Vaccarezza. “A presidente nunca procurou o PCdoB para dizer que esse assunto era essencial ou que era uma vergonha. Esse tipo de posição joga a base contra o governo. O PCdoB não rompe acordo nem muda de lado em cima da hora”, reclamou o presidente do PCdoB.

"Foi um dos mais duros discursos contra o governo Dilma. Foi além da conta” — José Guimarães, deputado federal (PT-CE) e um dos vice-líderes do governo, sobre o líder do PMDB, Henrique Alves (RN)

ATROPELOS. Parte do PT e do Planalto atribui os atropelos do discurso do líder do governo, Cândido Vaccarezza (SP), na foto, à tentativa de dar uma resposta à altura ao líder do PMDB, Henrique Alves (RN). Mas há quem diga que o que faltou foi convicção, já que, pessoalmente, Vaccarezza era a favor da emenda do PMDB. O petista chegou a dizer que, quando o governo perde, quem sai enfraquecida é a Câmara.

Legitimação
 
Ao orientar a votação do Código Florestal contra o governo, o líder do PMDB, Henrique Alves (RN), fez um discurso de candidato à
presidência da Câmara. Ele optou por ficar ao lado da maioria e sua fala foi de afirmação da Casa.

Czarina
Integrantes da base aliada ficaram mais indignados ainda ao serem informados de que a presidente Dilma ficou “furiosa” com o resultado da votação do Código Florestal. Retrucavam dizendo que ela se portava como uma “czarina”.

Estado das coisas
Depois das reclamações despejadas ontem em cima do ex-presidente Lula pelos líderes do Senado, um aliado comentou: “Para a relação do Congresso com o governo ficar ruim, ainda tem que melhorar muito”. Um dos mais exaltados ao se queixar da falta de acesso aos ministros, principalmente Antonio Palocci, foi o líder do PR, Magno Malta (ES). “Não existe isso de cada ministro achar que
é um presidente. Aqui ninguém é nomeado, aqui só tem senador, que tem voto”, disse ele.

Dóceis
O ex-presidente Lula elogiou ontem a cautela da oposição no Senado em relação às acusações contra Antonio Palocci e citou especialmente o senador Aécio Neves (PSDB-MG), na conversa com senadores aliados. Comentou que não há mais a “truculência” dos ex-senadores Arthur Virgílio (PSDB-AM), Heráclito Fortes (DEM-PI) e Mão Santa (PSC-PI). “Aquilo não era oposição, aquilo era ódio”, afirmou Lula. Sobre Aécio, o ex-presidente disse que ele é muito “cordial”.
 O DIRETOR de Segurança dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos será o ex-diretor da Polícia Federal Luiz Fernando Corrêa.
 O MINISTRO Guido Mantega (Fazenda) interrompeu três vezes a reunião ontem com sindicalistas para atender telefonemas da presidente Dilma. Horas depois, a Receita Federal soltou nota rebatendo acusação contra o ministro Antonio Palocci. 
● S.O.S. A presidente Dilma Rousseff vai reunir o conselho político, formado por líderes partidários, na próxima quarta-feira. Pauta oficial: Brasil Sem Miséria.

CORA RÓNAI - Fora dos trilhos



Fora dos trilhos
CORA RÓNAI 


O GLOBO - 26/05/11

Eram quase sete quando saí da Casa de Saúde São José, ali no Humaitá. Fiz sinal para dois ou três taxis vazios que não pararam sabe-se lá por que, e para outros tantos cheios. O sistema de luz acesa na capota funciona razoavelmente bem, mas está longe de ser à prova de falha humana, seja do motorista, seja do passageiro. E fui descendo em direção à Voluntários, para ver se por lá estava mais fácil. Ingenuidade minha: naquele horário?!

Millôr me ensinou uma coisa muito importante: nunca esperar por um taxi parada. Ninguém garante que um taxi passará com certeza, que estará vazio, que poderá me levar. Taxi se espera andando porque, mais hora menos hora, mesmo que não venha taxi algum, a gente acaba chegando onde precisa.

Foi o que me aconteceu. Ainda não estava de todo escuro, o tempo estava bom, o sapato não apertava o pé; além disso, a cabeça estava desarrumada e andar dá um sacode, separa o que dói de verdade do que só atrapalha. No caminho parei numa petshop para fazer carinho num gatinho lindo que estava exposto para adoção, e numa padaria, para levar o litro de leite que Mamãe pedira. Em pouco tempo cheguei à casa dela, na altura da Barão de Lucena. Liguei para a Bia.

-- Ai, mãe, sair andando pela rua a essa hora é um perigo! Você podia ter sido assaltada.

-- Assalto não tem hora -- ponderei.

-- Eu fui assaltada na Dezenove de Fevereiro ao meio-dia, em plena luz do sol! – exclamou Mamãe, entrando na conversa cujo conteúdo não era difícil de adivinhar. Depois, quando desliguei, ela continuou:

-- Este pessoal tem mania de achar que assalto só acontece de noite. A Laura e as meninas são a mesma coisa. Mas se a gente deixa de sair na rua por causa de assalto, a gente não sai nunca mais. Quem vive com medo morre um pouco todos os dias. Eu prefiro exercer a minha liberdade, indo aonde eu bem entender na hora em que me der na telha e, se for o caso, morrer de uma vez só. Não vou me acovardar por causa de assalto, não vou mesmo.

Quando Mamãe fala em exercer sua liberdade de ir e vir, não está falando da boca para fora. Aos 87 anos, é a maior andarilha da família e todos os dias faz, pelo menos, o percurso de ida e volta até o Guanabara, na praia de Botafogo, para treinar natação. Eu apenas tenho piques de atividade física e teimosia para chegar uma vez que decidi partir; mas se não ando mais não é por medo, e sim por preguiça.

-- No sábado fui ao Olaria para o campeonato, -- continuou Mamãe. – A turma do clube ia sair de van de Icaraí, de modo que tive de ir sozinha. Quando cheguei, todos vieram me perguntar como eu tinha vindo. Ora, de ônibus, naturalmente. E então me saudaram como se eu fosse uma espécie de heroína saída de algum romance policial de terror, ou coisa que o valha, só porque eu tinha ido de ônibus. Levei duas horas e meia, é verdade, mas desse tempo meia hora foi pesquisa, porque eu não sabia onde pegar o ônibus para Olaria. Depois, em vez de pegar o que passava em frente ao clube, peguei um outro, que me indicaram, mas que estava errado. O motorista foi simpático e me explicou que, ficando num determinado ponto, era só esperar pelo número tal que não tinha erro. Fiquei no ponto, quer dizer, fiquei num bolinho de gente num lugar onde um dia deve ter existido um marco de alguma espécie, mas que hoje não tem mais indicação de nada.

Fiz, imediatamente, uma Anotação Mental para Crônica: “Falta de sinalização e de orientação para quem anda de ônibus”.

-- O número tal de que o motorista falou não chegava nunca e, no fim, acabei tendo que pegar um taxi, porque estava começando a me atrasar para o campeonato. A corrida até o clube deu oito reais, quer dizer, teria dado para andar perfeitamente até lá, mas eu não tinha idéia disso.

* * *

 Voltando àquela Anotação Mental: como quando a gente pega ônibus tende a usar sempre as mesmas linhas, é normal que nem se dê conta de como é difícil conseguir informação para pegar, pela primeira vez, um ônibus para onde nunca esteve. E isso nós, cariocas, acostumados com a cidade, sabendo pedir informações e entendendo perfeitamente a resposta. Imaginem o sufoco dos turistas que queiram se arriscar nos transportes públicos!

Está se fazendo muito alarde com o prodigioso atraso das obras para a Copa e do estado calamitoso dos nossos aeroportos, mas pouco se fala de como, uma vez em terra, as pessoas vão chegar do ponto A ao ponto B. Fala-se pouco, também, do que vai ser a nossa vida com a Copa rolando solta, mas aí até se entende o silêncio: simplesmente não dá para imaginar.

* * *

Sabem aquela pessoa que não foi ao show do Paul? Pois é. Sou eu. De modo que não vivi a Grande Experiência Carioca da temporada, que foi ir de trem até o Engenhão. É muito bom e alvissareiro saber que todos viajaram bem e com grande conforto, mas é preocupante, na mesma medida, que se tenha dado tanta atenção ao fato. Não conheço cidade onde uma viagem de trem sem qualquer acontecimento catastrófico no meio seja manchete de primeira página. É verdade que não conheço a imensa maioria das cidades, mas, cá entre nós, quero que elas se lixem; eu moro aqui, e gostaria que, na minha cidade, o funcionamento normal dos transportes públicos não fosse notícia.

ANNA RAMALHO - Faturou alto


Faturou alto
ANNA RAMALHO 

JORNAL DO BRASIL - 26/05/11

Antonio Banderas ficou surpreso com o sucesso do leilão de seis fotos feitas por ele (o bonitão tem a fotografia e a culinária como hobbies), em prol da ONG RioInclui, anteontem no Palácio da Cidade. O lance inicial era de R$ 1500, mas, ao final do leilão, o montante arrecadado passou da casa dos R$ 600 mil. 

Colecionador

Entre os nomes importantes que levaram para casa uma das fotos, figura o empresário e megacolecionador Carlos Carvalho, cujo forte são as antiguidades, diga-se.

Na liderança

O valor arrecadado no Rio superou as edições feitas em Madri, Buenos Aires e Nova York, onde Mr. Banderas não “causa” tanto mais assim.

Dedo na comida

A gastronomia do evento foi orientada pelo próprio Banderas, que escolheu os catalães do restaurante eñe, especializado em pratos espanhóis e comandado pelos irmãos Javier e Sergio Torres. No cardápio, tapas, é claro. Os vinhos – tinto e rosé – eram todos da adega Anta Banderas, que pertence ao multifacetado ator. 

Mini férias

Seguindo conselho do grande amigo Pedro Almodóvar, Banderas fica no Rio até o dia 28. Enquanto isso, almoços e passeios para desvendar as maravilhas e encantos da cidade. 

Onde mora o perigo

Depois de serem apresentados na festa de lançamento do perfume The Secret, no Palácio da Cidade, Vera Fisher e Antonio Banderas caíram no maior tête-à-tête. Conversaram sobre os filmes de Almodóvar.

Melanie Griffith, se sabe dessa, corta os pulsos. A coitada virou um bagulho de dar dó.

Sessão tiete

Vera e Banderas foram interrompidos por uma tiete muito especial, que queria cumprimentar a atriz: a primeira dama Cristine Paes, gracinha de pessoa. 

Papel e caneta

Não foi só a Vera Fisher que ficou encantada com Banderas. Milton Nascimento, que almoçou com ele na casa de Mário Cohen, anteontem, ficou lisonjeado quando o espanhol, com quem conversou bastante, lhe solicitou um autógrafo. 

Sucatas

Levantamento feito pela subprefeitura da Barra e Jacarepaguá constatou que existem na região mais de 200 carros abandonados pelas ruas. Só ontem foram recolhidos 44 veículos numa operação.

Pelas crianças

Depois de assistir a uma palestra feita por Fernando Collor, anteontem, para os alunos da Escola Superior de Guerra sobre “A Reforma Política e seus Reflexos para a Sociedade Brasileira”, o desembargador Siro Darlan sugeriu ao senador que ele lidere uma cruzada em defesa dos direitos da criança.

Pró memória

Collor foi o presidente de sancionou o Estatuto da Criança e do Adolescente.

Apoio

O deputado federal Adrian (PMDB-RJ) defendeu, em seminário na Câmara, a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 543/2002, que amplia as competências das guardas municipais.

Mudanças

Atualmente, a instituição pode atuar somente na proteção de bens, serviços e instalações municipais. Com a aprovação desta PEC, as guardas municipais estarão autorizadas a atuarem também na proteção dos habitantes. 

Ainda

A proposta, que tramita na Câmara desde 2002, foi aprovada em comissão especial e ainda precisa ser votada pelo Plenário.

Presença ilustre

O Ministro da Integração Social, Luis Sérgio, que visitou diversas cidades do sul fluminense na última semana, prestigiou a abertura do Festival de Teatro das Agulhas Negras - Festan, este sábado, em Quatis. Durante a cerimônia de abertura, ele destacou a importância do investimento em cultura para o desenvolvimento social. “Obra não é só aquilo feito de cimento e tijolo, mas o que modifica as relações humanas e o modo de agir e de pensar das pessoas. Feliz é a cidade que consegue organizar e proporcionar um festival como esse”, disse Luis Sérgio, na foto ao lado do prefeito da cidade, José Laerte. 

O festival segue até o próximo sábado, dia 28, nas cidades de Quatis, Resende, Itatiaia e Porto Real.

Raspadinhas

Heller Redo Barroso e Marcos Macedo, do escritório HRB Associados, participam hoje, do fórum "AccelerateBrazil - Expo-Forum Infraestrutura e Investimento", no Hotel Intercontinental.

A Katz Chocolates distribui hoje, caixinhas de chocolates recheados, para os convidados da Cavendish, no Fashion Business.

A marca feminina Myth participa pela segunda vez do stand da jornalista Iesa Rodrigues, No Fashion Business.

GOSTOSAS

KÁTIA ABREU - O código das ONGs


O código das ONGs 
KÁTIA ABREU
CORREIO BRAZILIENSE - 26/05/11

Nada contra as ONGs, pelo contrário. Essas instituições privadas, que os sociólogos chamaram de terceiro setor (para diferenciá-las do primeiro setor, o governo, e do segundo setor, o mercado), são caracteristicamente generosas, por definição não lucrativas. Constituem a forma moderna de institucionalização do voluntarismo, o eterno e inesgotável testemunho humanitário e gratuito da solidariedade. Só no Brasil são mais de 500 mil, segundo o IBGE, estão em toda parte e merecem apoio e estímulo pelas causas beneméritas a que se dedicam.
Uma das suas manifestações " as ONGs da área ambientalista " são importantes, oportunas e estão fazendo história desde quando surgiaram no século 20 e se empenharam em campanhas memoráveis assumindo, talvez pelo apelo pacifista do combate às armas nucleares, caráter político, beligerante e agressivo. Muitas dessas ONGs globarizaram-se, tomaram o gosto pela guerra e seus instrumentos políticos e táticos, foram perdendo o sentido da gratuidade, tornaram-se poderosas organizações financeiras e até, desviando-se de um dos seus traços essenciais, se prestam a promover marcas e produtos. Inventaram e exploram uma falsa extraterritorialidade, como se fossem seitas religiosas.
Da fato, deixaram de ser o terceiro setor e se tornaram verdadeiras empresas, financeiramente poderosas, ora organizações paraestatais, com burocracia própria e até bases operacionais estratégicas. Investiram fortemente no que os americanos chamam de "corações e mentes", ou seja, nos argumentos morais e na conquista da adesão fervorosa dos cidadãos mobilizados pela propaganda e pela denúncia de conspirações contra as leis da natureza. Pragmáticos, porém, mostram-se incongruentes. Exigem a preservação das margens dos rios e córregos do Brasil e se esquecem de clamar a mesma proteção e reconstituição das coberturas vegetais das margens do Reno, do Sena, do Tâmisa, do Elba, do Danúbio, do Douro.
A verdade é que essas mesmas ONGs há muito já passaram do rigor e defesa de boas práticas de conservação do solo e defesa da fauna e flora para a manipulação política da legislação. Não é diferente a maneira como se comportam com relação ao Código Florestal, quando algumas dessas ONGs multinacionais decidiram inventar padrões não praticados em qualquer parte do mundo e que, se adotados aqui, simplesmente inviabilizariam a agropecuária no Brasil. Para começar, tornariam ilegais, portanto criminosos, quase 100% dos produtores rurais brasileiros.
Tentar equalizar e adotar regras únicas para um território com a extensão continental do Brasil e seis biomas diversos como são o Cerrado, a Caatinga, o Pantanal, o Pampa, a Mata Atlântica e a Amazônia é mistificar as regras ambientais e envenenar a opinião pública contra um dos pilares mais sólidos, modernos e competitivos do desenvolvimento do país.
Devemos reconhecer, porém, que, graças à isenção e à coragem moral do deputado Aldo Rabelo, que examinou as propostas existentes e, sem preconceitos, montou uma proposta que todos aceitam, o Código Florestal conta com o apoio da maioria do Congresso, apesar da propaganda negativa e da ameaça de chantagem das ONGs mutinacionais.

MÔNICA BERGAMO - SIMONE É


SIMONE É
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SÃO PAULO - 26/05/11

Depois de 20 anos tocando bateria com artistas como Elba Ramalho e Wanderléa, Simone Sou lança hoje às 21h, no Sesc Consolação, o CD "Simone Sou", em que canta músicas que escreveu durante toda a vida. Tocam com ela outras cinco musicistas, duas delas também na percussão. "Soltar a voz é só consequência de eu tocar bateria. Ainda sou e serei do tambor", diz. Outra mudança sobe ao palco com a cantora: ela cortou curto o cabelo, que antes usava com "dreadlocks".

PARA TODOS

O governador do Rio, Sergio Cabral (PMDB), assina no dia 6 de junho decreto reservando 20% de todas as vagas que são preenchidas por concursos públicos no Estado para negros e índios. Os candidatos terão que obter a nota mínima exigida nas provas para serem aprovados.

DÍVIDA
Cabral afirma que no Brasil existe, sim, racismo. E diz acreditar que ações afirmativas como a que ele implantará são necessárias para que negros e índios, que "sofreram barbaramente" ao longo da história do país, tenham as mesmas oportunidades que os brancos.

RITMO
Nos últimos quatro anos, Cabral abriu concurso para o preenchimento de 52 mil vagas no Estado.

ABRAM AS CORTINAS
A diretora Bia Lessa já trabalha em novo projeto teatral: "JT Leroy". As atrizes Renata Sorrah e Natália Lage integrarão o elenco da montagem que fala sobre o falso escritor americano JT Leroy, cuja verdadeira identidade era a de Laura Albert.

DEIXA QUE DIGAM
Em comemoração de seus mais de 50 anos de carreira e mais de 70 de idade, o músico Jair Rodrigues vai ganhar um musical. O espetáculo "Jair Disparada" contará a história do cantor.

MÃOS LEVES

A sede da Fundação Oscar Niemeyer, em Brasília, sofreu uma tentativa de furto. Uma janela do prédio foi quebrada, mas o ladrão não conseguiu transpor a grade de proteção.

Ana Lucia Niemeyer, neta do arquiteto e administradora da fundação, diz que vai colocar barras em outras entradas do local.

MÃOS À OBRA
E Ana Lucia Niemeyer pede R$ 1,2 milhão na Lei Rouanet para fazer uma exposição permanente sobre o avô no local. Além de painéis com obras do arquiteto, a ideia é ter três linhas interativas: uma da vida e do trabalho de Niemeyer, uma com a história da arte e da arquitetura e outra com fatos que influenciaram sua formação comunista. "Hoje em dia, se não tiver interatividade, ninguém vai", diz ela.

BOM DIA, ANGEL
A top model Alessandra Ambrósio volta a desfilar na São Paulo Fashion Week, no próximo mês.

CASA DO MICKEY
O cantor Luciano, da dupla com Zezé Di Camargo, comprou uma mansão de seis quartos em um condomínio dentro da Disneyworld, em Orlando (EUA). Ele, que já havia passado férias no local em março, quando alugou o imóvel, brinca que vai ser "vizinho do Mickey".

CIDADE DAS SOMBRAS
A artista plástica Regina Silveira inaugura hoje uma intervenção em Nova York. Vai projetar uma sombra da janela da galeria Alexander Gray, que poderá ser vista pelos pedestres em uma passarela na Décima Avenida.

O PÃO DO ATALA
A padaria de Alex Atala, que abrirá no segundo semestre, na rua Barão de Capanema, se chamará Em Nome do Pão. Terá Rogério Shimura na panificação.

ANOTAÇÕES
Yehuda Berg, o guru da cabala de Madonna, recomenda que "se alguém começar a falar mal de outra pessoa a você, termine essa conversa na hora. Só de fazer isso, você estará gerando uma tremenda luz para si e para o mundo". Sua fala está no livro sobre líderes espirituais que o jornalista Lauro Henriques lançará em junho, "Palavras de Poder" (LeYa).

TAMANHO ICEBERG

Tem seis quilates o diamante da aliança que a modelo e apresentadora Letícia Birkheuer ganhou na semana passada do noivo, Alexandre Furmanovich.

SOCIEDADE ANÔNIMA
O empresário André Almada, dono do clube GLS The Week, abriu anteontem sua nova boate, a The Society, na rua Augusta com a Marques de Paranaguá. Foram à festa os atores Gisele Fraga, Patrycia Travassos e Cássio Scapin. Um dos convidados brincou que o evento reuniu o "PIB gay" de SP.

CURTO-CIRCUITO

A banda Oito do Bem inaugura o projeto "Yamaha Night Experience" no Club A. Hoje às 22h. 18 anos.

Murilo Ferreira participará do Rio Investors Day.

Patty Ascher e John Pizzarelli fazem show no dia 5 de junho, às 11h, no Auditório Ibirapuera. Livre.

Pedro Tourinho faz festa no bar Número, hoje, às 22h.

O Instituto Tomie Ohtake faz hoje às 19h debate da mostra "Pinturas Cegas".

A mostra "Diversidade da Arte" é aberta hoje às 20h no hotel Caesar Park Faria Lima.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA, THAIS BILENKY e CHICO FELITTI

MARIA LIMA Ex-presidente comanda reunião com partidos, ouve queixas contra Dilma e até repreende ministros


Lula lá
Ex-presidente comanda reunião com partidos, ouve queixas contra Dilma e até repreende ministros
Maria Lima
O GLOBO - 26/05/11
BRASÍLIA

Numa espécie de intervenção branca no governo Dilma Rousseff para conter a base aliada e a crise envolvendo o ministro Antonio Palocci (Casa Civil), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva chefiou uma reunião de três horas e meia com líderes e presidentes de partidos aliados ontem, na casa do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). No encontro, Lula prometeu resolver reclamações de falta de interlocução com o governo, pediu apoio para Palocci e alertou para o risco de uma crise institucional de consequências imprevisíveis. Sua próxima missão é se reunir com ministros para cobrar deles mais atenção aos aliados. O que já fez com Palocci, no jantar de anteontem com Dilma no Palácio da Alvorada.

Segundo relatos dos participantes do café da manhã na casa de Sarney, ao pedir solidariedade e apoio para segurar o chefe da Casa Civil, Lula disse que Palocci estava "muito estressado", mas não podia ser desamparado porque dá uma contribuição enorme ao governo Dilma e ao Brasil. E contou, segundo um líder presente, como foi o puxão de orelhas no ministro:

- No jantar com o Palocci ontem à noite eu disse a ele: tome cuidado, porque sua situação no Congresso é péssima. Há uma imensa insatisfação com sua conduta. Você tem que se aproximar mais, atender as bancadas, marcar jantares políticos.

Na véspera, Lula se reuniu com senadores do PT, que desfiaram um rosário de queixas contra a falta de interlocução com o Planalto, inclusive com Palocci, que nunca atende ninguém. Nem nos momentos de crise.

A atuação de Lula nos dois últimos dias, elogiada pelos aliados, já produziu os primeiros efeitos: hoje Dilma almoçará com a bancada do PT no Senado e, semana que vem, com os líderes dos demais partidos aliados que se reuniram ontem na casa de Sarney.

E, ontem mesmo, Dilma e Palocci já botavam em prática as orientações de Lula: o ministro telefonou para marcar jantares e para antecipar a aliados a decisão da presidente de recolher o kit contra a homofobia, que tanto incomodava a bancada evangélica. A própria Dilma telefonou para o líder do PRB, senador Marcelo Crivella (RJ).

Na conversa na casa de Sarney, que contou também com a presença do vice-presidente Michel Temer, o ex-presidente pediu que todos os presentes colocassem suas pendências, que ele as levaria para Dilma e para os ministros da área. E fez uma avaliação da crise provocada pela revelação de que o patrimônio de Palocci aumentou substancialmente no período em que ele atuou como consultor, entre 2007 e 2010, quando era deputado.

- O presidente Lula tem uma sensibilidade política mais aguçada e deu sinais claros de que a crise do Palocci é muito grave, não sai da mídia, e que pode caminhar para uma crise institucional de dimensões preocupantes e futuro imprevisível - contou um dos senadores presentes.

Enquanto ocorria a reunião de Lula com aliados, Palocci telefonou para o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), para confirmar o almoço de hoje. Ligou também para o líder do PTB, Magno Malta (ES), um dos mais revoltados com a falta de atendimento no Planalto. Magno teria se recusado a falar com Palocci naquele momento.

- Lula disse que ia conversar com os ministros, que se recusam até a devolver telefonema, para que eles acordem. Eu disse sobre o caso do Palocci: a arrogância precede a ruína! Não estou aqui para ser desrespeitado por ninguém. Lidero cinco senadores. E quando o pau quebra descobrem que existe base? - disse Magno Malta, após a reunião com Lula.

Segundo ele, Lula concordou com as reclamações e disse que os ministros deveriam receber os parlamentares.

- O café foi bom. O presidente Lula é jeitoso. Não tem a síndrome de Mercadante - completou Malta, referindo-se ao ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante.

Nesses encontros, Lula vem fazendo uma defesa intransigente de Dilma, repetindo muito que ela teve um período difícil com a pneumonia, passou os primeiros meses cuidando da gestão e que só agora está fazendo o ajuste fino da articulação política.

O presidente do PP, senador Francisco Dornelles (RJ), sugeriu a Lula que aconselhasse Dilma a aparecer mais, para ocupar o espaço político e evitar vazios que são ocupados com notícias negativas.

- Se a crise tem um lado positivo, foi ter trazido Lula para o protagonismo político. E ele se apresentou, não foi chamado. Foi aplaudido! Fala como irmão. Senti nele uma saudade, uma melancolia, uma vontade de abraçar os companheiros! - disse Crivella.

Segundo relatos, ao ouvir as críticas sobre ministros e propostas do governo, Lula, no seu estilo bem humorado, disparou:

- Desse jeito vamos ter que criar o MVDM, o Ministério do Vai Dar Merda.

MÍRIAM LEITÃO - A Terra se move


A Terra se move
MIRIAM LEITÃO
O GLOBO - 26/05/11
Terça foi um dia devastador. Foi desmoralizante a derrota dos ambientalistas e de todos os que defendem uma modernização das práticas agrícolas no Brasil na votação do Código Florestal na Câmara dos Deputados. Os ruralistas conseguiram tudo o que queriam. Dois defensores da floresta foram assassinados no Pará e, mesmo depois de mortos, vaiados no Congresso.

Foi também o dia da morte de um lutador contra o racismo. Era uma delícia conversar com Abdias Nascimento, ouvir suas histórias, e ver que, tendo nascido em 1914, em 2011 ele ainda combatia as lutas que atravessaram sua vida. Sua convicção era que o racismo brasileiro divide a sociedade de uma forma dolorosa para quem vive o preconceito; mas continua invisível e negada por uma parte do país. Abdias foi um agitador cultural e produtor de ideias. Começou a defender teses de ação afirmativa antes que o conceito existisse, nos anos 1940. Nas várias trincheiras em que atuou - teatro, cinema, jornalismo, artes plásticas, política - era o mesmo Abdias: o que sustentava que sim o racismo existe entre nós, disfarçado às vezes, explícito outras, e que com todas as suas artimanhas ele apequena o Brasil.

As notícias dos acontecimentos no Congresso me lembraram os clubes da lavoura dos tempos do Império. Naquela ordem escravagista, o abolicionismo era tratado como ideia que destruiria a capacidade produtiva do país. Montados como centrais de lobby para a defesa da escravidão, os clubes da lavoura sustentavam que o país se consumiria sem a escravidão. De vez em quando o Brasil segue a ordem de evitar o progresso. Contudo, a Terra se move. Por seis anos os abolicionistas, monarquistas ou republicanos, lutaram, com o apoio do Imperador, até que conseguiram aprovar a Lei do Ventre Livre.

Fazendo apenas o cálculo econômico: foi uma insensatez a escolha que o Brasil começou a fazer na noite da terça-feira. O Brasil é grande e competitivo produtor de alimentos. Continuaria a ser, com mais segurança, se tivesse escolhido o caminho da conciliação com o meio ambiente. Mas ele escolheu, até agora, aceitar o desmatamento, anular as multas a grileiros e desmatadores, deixar aos estados decisões sobre áreas de preservação, reduzir a proteção das florestas e remanescentes de matas que ainda temos em outros biomas. Os cientistas alertaram que este caminho é perigoso. A Agência de Águas avisou dos riscos. Ex-ministros que serviram a partidos, governos e regimes diferentes se uniram. Mas o recado da Câmara foi eloquente: venceu o clube de lavoura.

Há produtores com visão moderna, mas para eles o silêncio foi conveniente. Apareceram para falar uns poucos, como o bravo Marcos Palmeira, que refaz seu pedaço de Mata Atlântica e supre supermercados do Rio com alimento orgânico enquanto espalha informações sobre novas práticas. Mas os grandes produtores que entendem a necessidade do equilíbrio entre produção e proteção, preferiam soltar a tropa de choque do pior ruralismo. A oposição não se opôs; o partido do governo se partiu.

Símbolo de um dia em que o passado engoliu o futuro foi o momento em que os ruralistas, em plenário, e sua claque, nas galerias, vaiaram vítimas de um assassinato. José Cláudio Ribeiro e Maria do Espírito Santo foram mortos em emboscada no Pará. Um detalhe macrabro: os assassinos arrancaram a orelha de José Cláudio. Os dois eram líderes de projetos extrativistas. Lutavam, entre outras causas, para proteger a Castanheira, árvore que por lei não pode ser derrubada. Tinham 20 hectares em Nova Ipixuna com 80% da área preservada. Juntos com outros 500 pequenos produtores extraíam óleos vegetais, cupuaçu e açaí. Estavam ameaçados e foram mortos por denunciar desmatamento para a produção de carvão e formação de pasto.

O carvão está na cadeia produtiva da siderurgia, entre outras. Os pastos estão na produção da proteína animal. No mundo inteiro a tendência da hora é limpar a cadeia produtiva. Grandes empresas sabem que perdem mercado e consumidores se não fiscalizarem a sua lista de fornecedores. A hora da verdade chegou. No mundo inteiro há consumidores se perguntando como são feitos os produtos que consomem e que tipo de prática eles legalizam nas suas compras. Foi a pressão de consumidores que levou à moratória da soja. Foi a coalizão entre supermercados, consumidores, Ministério Público e ONGs que levou ao pacto da carne legal; uma ideia ainda não realizada. O maior produtor de carne do Brasil, o JBS-Friboi, me disse que não tem como controlar sua cadeia produtiva. O BNDES, gestor do Fundo Amazônia, é hoje o maior acionista do JBS. Tudo isso vai alimentar as barreiras contra o comércio externo brasileiro.

A derrubada de todas as barreiras, camufladas ou não, à ascensão dos negros tornará a economia mais forte. A inclusão da preocupação ambiental na produção agrícola vai aumentar a capacidade do Brasil de competir por mercados mundo afora, dará ao consumidor o conforto de um produto limpo, e protegerá a vocação agrícola do país das mudanças climáticas. Os clubes da lavoura estavam errados no século XIX. Os ruralistas vitoriosos de terça-feira estão errados. Contudo, a Terra se move.