O GLOBO - 14/02
O sustento nababesco dos companheiros com dinheiro público é uma das poucas instituições realmente sólidas no Brasil
Depois do carnaval, Dilma Rousseff fará um pronunciamento à nação, em cadeia nacional de rádio e TV, para defender a Petrobras. Providência oportuna. A maior estatal brasileira está afundando, e isso é grave. Como se sabe agora, uma boa fatia do dinheiro que ajuda o PT a ficar para sempre no poder é sugada da Petrobras. É o orçamento da revolução companheira que está em jogo — e com isso não se brinca.
Em defesa da Petrobras, Dilma deveria começar sua fala aos brasileiros condenando esse absurdo, esse descalabro que é a ação da polícia e da Justiça. De forma golpista e neoliberal, os homens da lei insistem em tentar sabotar o duto entre a estatal do petróleo e o Partido dos Trabalhadores. O sustento nababesco dos companheiros com dinheiro público é uma das poucas instituições realmente sólidas no Brasil do século 21 — e esses invejosos são assim mesmo, não podem ver nada funcionando direito que já querem melar. Só falta exigirem que os guerreiros do povo brasileiro devolvam as centenas de milhões de dólares que ganharam da Petrobras com o suor dos seus rostos e das suas mãos ágeis. Dilma não pode permitir esse golpe da elite branca.
No seu pronunciamento pós-carnavalesco, a presidenta mulher e oprimida precisa denunciar o preconceito. Como se não bastasse o trauma do mensalão, lá vêm as vozes reacionárias perseguir novamente as estrelas do proletariado. Será que o Brasil, esse insensível, não se lembra do sofrimento imposto ao nosso Delúbio, só porque o tesoureiro zelava pela segurança das transferências do Banco do Brasil para os cofres da revolução? Não, não se lembra. Senão não estaria impondo a mesma tortura a Vaccari. Só pode ser preconceito contra a categoria dos tesoureiros.
Agora está aí, nas manchetes da imprensa burguesa: João Vaccari e José Dirceu recebiam pessoalmente parte da propina da Petrobras destinada ao PT, segundo a investigação da Lava-Jato. Prezado brasileiro, você não está desconfiando de nada? Não percebe que são sempre os mesmos personagens implacavelmente perseguidos, só porque dão ao dinheiro do contribuinte a honra de financiar a rave deles no Palácio do Planalto?
Chega de discriminação contra o governo popular, chega de humilhar essa gente sofrida e milionária. Se vocês querem saber, seus conspiradores, os heróis do PT nem precisam desse dinheiro. Como acaba de ser revelado, o partido criou e oficializou a propina por dentro. Está dito e confirmado pelas testemunhas do petrolão: o suborno requerido aos fornecedores da Petrobras era convertido em doação legal ao PT. Propina oficial – com recibo, à luz do dia, tudo direitinho. Parem de perseguir quem está roubando honestamente.
Dilma, vá à televisão e grite contra os golpistas. O dinheiro abençoado do petrolão ajudou a bancar a sua reeleição, não permita que ponham sob suspeita a legitimidade do seu mandato — obtido com o voto consciente e a pilhagem mais consciente ainda. Defenda os companheiros que lhe têm bancado essa aventura inimaginável no leme da nação, com o mesmo ardor com que defendeu os mensaleiros. A nova CPI no Congresso possivelmente levará à discussão do seu impeachment. Corte esse mal pela raiz. Mande avisar que as mesadas serão cortadas e os traidores ficarão a ver navios, como esses que explodem a serviço da Petrobras.
Seu pronunciamento à nação será um sucesso, presidente. Carnaval terminado, todo mundo de ressaca e sem dinheiro — a sua aparição na TV será um bálsamo, tudo que o brasileiro estará desejando para recobrar o ânimo e encarar 2015 com alegria e otimismo. Não economize seu carisma e sua simpatia. Defenda a Petrobras com aqueles argumentos inteligentes usados na primeira reunião ministerial — acusando os inimigos de quererem “desprestigiar o capital nacional”. É bem verdade que naquela ocasião o teleprompter travou, justamente nessa frase. Foi oportuna a sua descompostura no operador da máquina. É muito desagradável gaguejar nessa frase depois do que o PT fez com a Petrobras.
Mas na gravação da mensagem aos brasileiros não haverá problema desse tipo. Errou, repete. Só não permita que seus olhos falem demais — não se esqueça de que eles não estão na delação premiada.
E você, cidadão brasileiro, não fiquei aí parado. Guarde um pouco da sua energia carnavalesca para ajudar Dilma Rousseff a defender a Petrobras e o bloco dos sujos. No dia do pronunciamento histórico, saia de casa de preto — a cor do petrolão, energia vital do governo popular. Se possível, na hora da cadeia obrigatória de rádio e TV vá para a rua trajando seu pretinho básico (não precisa assistir ao pronunciamento, você já sabe que a sua presidenta vai arrasar). Não se esqueça de deixar pendurado na janela também um pano preto, simbolizando a paz (dos cemitérios).
Ah, sim: leve uma vela acesa na mão, para iluminar o apagão governamental e ajudar a chefe da nação a encontrar a porta da saída.
sábado, fevereiro 14, 2015
Eu tinha sonhos - PLÁCIDO FERNANDES VIEIRA
CORREIO BRAZILIENSE - 14/02
No princípio, bem no princípio mesmo, ser de esquerda implicava incondicional defesa de igualdade, fraternidade e liberdade. Muitas cabeças rolaram na luta por princípios tão nobres. Intelectuais aderiram em peso à causa. Até que, em vez da utopia, veio o totalitarismo. Tão bárbaro, desumano e cruel quanto o fascismo ou qualquer ditadura de direita.
Sob o tacão do "socialismo real", as primeiras vítimas foram a liberdade de expressão, os direitos humanos e o Estado de Direito. Na América Latina, a revolução cubana despontou como a esperança de uma nova esquerda. Não vingou. Mesmo no auge do regime, quando Fidel tentou garantir casa, comida, educação e saúde a todos, a ilha era uma masmorra para quem ousasse pensar diferente do ditador. Discordou? Censura, prisão, tortura, paredão...
É duro dizer, mas nunca vi ninguém dito de esquerda no Brasil sair em defesa dos direitos humanos de quem se insurgiu contra a ditadura cubana. Na Europa, George Orwell e Albert Camus romperam com "progressistas" porque não aceitaram o cabresto do pensamento único. Desse rompimento, nasceram dois clássicos da literatura mundial: A revolução dos bichos e 1984, ambos de Orwell.
Aqui, é comum ver intelectuais que se proclamam de esquerda engajados na justa defesa de causas gays, de mulheres e de religiões afrodescendentes. No entanto, esse mesmo pessoal encara com a maior naturalidade, como algo cultural até, a perseguição e o extermínio de homossexuais, comunistas, feministas e cristãos por jihadistas do miolo mole, gente que ainda não saiu das trevas da Idade Média.
São os mesmos "pragmáticos" que condenavam a ladroagem da direita, mas hoje condescendem com a corrupção da "esquerda". Agora, imagine se a direita tivesse descoberto antes que "o rouba, mas distribui" era muito mais negócio que "o rouba, mas faz"? Seria igualmente devastador para o Brasil. Mas nada se compara ao estelionato eleitoral do partido que chegou ao poder prometendo ética na política brasileira e, hoje, faz o companheiro Maluf - que no auge da carreira inspirou o verbo malufar - parecer um santo. Pois é. Como diria o Bob - não o da propina, o Esponja - ao amigo Lula Molusco: "Eu tinha sonhos".
No princípio, bem no princípio mesmo, ser de esquerda implicava incondicional defesa de igualdade, fraternidade e liberdade. Muitas cabeças rolaram na luta por princípios tão nobres. Intelectuais aderiram em peso à causa. Até que, em vez da utopia, veio o totalitarismo. Tão bárbaro, desumano e cruel quanto o fascismo ou qualquer ditadura de direita.
Sob o tacão do "socialismo real", as primeiras vítimas foram a liberdade de expressão, os direitos humanos e o Estado de Direito. Na América Latina, a revolução cubana despontou como a esperança de uma nova esquerda. Não vingou. Mesmo no auge do regime, quando Fidel tentou garantir casa, comida, educação e saúde a todos, a ilha era uma masmorra para quem ousasse pensar diferente do ditador. Discordou? Censura, prisão, tortura, paredão...
É duro dizer, mas nunca vi ninguém dito de esquerda no Brasil sair em defesa dos direitos humanos de quem se insurgiu contra a ditadura cubana. Na Europa, George Orwell e Albert Camus romperam com "progressistas" porque não aceitaram o cabresto do pensamento único. Desse rompimento, nasceram dois clássicos da literatura mundial: A revolução dos bichos e 1984, ambos de Orwell.
Aqui, é comum ver intelectuais que se proclamam de esquerda engajados na justa defesa de causas gays, de mulheres e de religiões afrodescendentes. No entanto, esse mesmo pessoal encara com a maior naturalidade, como algo cultural até, a perseguição e o extermínio de homossexuais, comunistas, feministas e cristãos por jihadistas do miolo mole, gente que ainda não saiu das trevas da Idade Média.
São os mesmos "pragmáticos" que condenavam a ladroagem da direita, mas hoje condescendem com a corrupção da "esquerda". Agora, imagine se a direita tivesse descoberto antes que "o rouba, mas distribui" era muito mais negócio que "o rouba, mas faz"? Seria igualmente devastador para o Brasil. Mas nada se compara ao estelionato eleitoral do partido que chegou ao poder prometendo ética na política brasileira e, hoje, faz o companheiro Maluf - que no auge da carreira inspirou o verbo malufar - parecer um santo. Pois é. Como diria o Bob - não o da propina, o Esponja - ao amigo Lula Molusco: "Eu tinha sonhos".
Inflação além do limite - MÍRIAM LEITÃO
O GLOBO - 14/02
A inflação pode terminar 2015 acima de 7,5%, bem acima do teto da meta. É o que projetam os economistas Luiz Roberto Cunha, da PUC-Rio, e Salomão Quadros, responsável por índices de inflação da FGV. O que mais pesará nas taxas será a tarifa de energia. Em fevereiro, Cunha prevê uma taxa que pode ser também em torno 1,2%. O IPC, da FGV, ficou em 1,7% em janeiro. Em fevereiro, ficará abaixo do IPCA do mês.
Entrevistei os dois sobre as perspectivas de inflação de 2015 e 2016. A boa notícia é que eles acham que no ano que vem o índice deve ser menor. Este ano, o custo da recomposição de preços administrados, aqueles sobre os quais o governo tem controle, será alto. Luiz Roberto Cunha está prevendo uma inflação de preços administrados de 13% este ano. No ano passado, foi pouco mais de 5%.
Há uma divergência entre os dois economistas sobre o patamar a que vai chegar o reajuste da energia em 2015. Luiz Roberto Cunha acha que pode ficar em 50%. Salomão Quadros calcula que fica abaixo disso, porque parte do aumento represado será jogado para o ano que vem.
- Eu acredito em 38% de reajuste de energia este ano. Foi importante acelerar o processo de normalização das tarifas de energia elétrica, mas a situação se complicou de tal maneira que não há como resolver de uma tacada só, é muito difícil. Com alta forte assim podem ocorrer outros problemas, como inadimplência, e afetar o caixa das empresas. Então, eu acho que o governo deve fazer uma grande parte do ajuste das tarifas este ano e deixar o resto para o ano que vem, um aumento em torno de 10% - diz Salomão.
O dólar, segundo os economistas, é uma variável crítica para ter uma noção dos custos inflacionários este ano. O que Salomão lembra é que os derivados de petróleo - exceto gasolina e diesel - estão caindo, como querosene de aviação e nafta. E essa queda afetará favoravelmente o custo das empresas, indo para toda a economia. Além disso, os preços de outras commodities têm caído, atenuando a alta dos índices ao produtor. Os IGPs da Fundação estão em torno de 4%.
Cunha lembrou outro ponto favorável. Ele acha que este ano não haverá uma pressão muito grande de preços de alimentos. Foi um item que subiu forte no IPCA de 1,24% de janeiro, o que é normal em começo de ano, quando frutas, verduras e legumes sobem muito. Mas para 2015 ele disse que há dados positivos em grãos, principalmente soja e milho.
Há notícias de perdas em algumas áreas do Sudeste e Centro-Oeste, mas, no mundo, houve safras boas, e a colheita no Sul do Brasil está muito bem. Os preços desses produtos estão em queda, o que reduz a pressão de alimentos na inflação.
- O que pode atrapalhar são a carne e o leite, porque esses dependem das pastagens, muito afetadas pela seca. Não acho que teremos muita pressão de alimentos este ano. O que pesará mesmo será o reajuste de energia. Já começou a pesar com a introdução do sistema de bandeiras, que elevou o preço em janeiro. Agora haverá, em março, um aumento da bandeira - disse Luiz Roberto Cunha.
É um mecanismo que reajusta as tarifas sempre que estiverem sendo usadas as térmicas, que produzem energia a um preço maior. Mas o governo decidiu também elevar o custo dessa taxa extra e isso acontecerá em março. Depois, virá o aumento anual que acontece ao longo do ano, no mês de cada distribuidora. Além disso, haverá o reajuste extraordinário para cobrir o custo dos subsídios que foram retirados pelo governo.
Este é um momento crítico para a inflação, segundo Luiz Roberto Cunha, porque desde a posse do ex-presidente Lula, quando houve uma forte desvalorização, que elevou o índice de preços, nunca mais houve uma inflação tão alta quanto a de janeiro: - É de fato um momento crítico, mas que corrige os erros do passado.
Salomão lembra que o dólar é muito relevante para a inflação, então sua evolução definirá parte das pressões inflacionárias de 2015, mas elas podem ser mitigadas pela queda dos preços de commodities.
Em resumo: é ano de inflação alta, fevereiro será quase tão forte quanto janeiro e deve ficar acima de 1%. O ano de 2015 termina com taxa de 7,5% na opinião dos especialistas, mas em 2016, a inflação volta para 6%, dependendo da política econômica.
A inflação pode terminar 2015 acima de 7,5%, bem acima do teto da meta. É o que projetam os economistas Luiz Roberto Cunha, da PUC-Rio, e Salomão Quadros, responsável por índices de inflação da FGV. O que mais pesará nas taxas será a tarifa de energia. Em fevereiro, Cunha prevê uma taxa que pode ser também em torno 1,2%. O IPC, da FGV, ficou em 1,7% em janeiro. Em fevereiro, ficará abaixo do IPCA do mês.
Entrevistei os dois sobre as perspectivas de inflação de 2015 e 2016. A boa notícia é que eles acham que no ano que vem o índice deve ser menor. Este ano, o custo da recomposição de preços administrados, aqueles sobre os quais o governo tem controle, será alto. Luiz Roberto Cunha está prevendo uma inflação de preços administrados de 13% este ano. No ano passado, foi pouco mais de 5%.
Há uma divergência entre os dois economistas sobre o patamar a que vai chegar o reajuste da energia em 2015. Luiz Roberto Cunha acha que pode ficar em 50%. Salomão Quadros calcula que fica abaixo disso, porque parte do aumento represado será jogado para o ano que vem.
- Eu acredito em 38% de reajuste de energia este ano. Foi importante acelerar o processo de normalização das tarifas de energia elétrica, mas a situação se complicou de tal maneira que não há como resolver de uma tacada só, é muito difícil. Com alta forte assim podem ocorrer outros problemas, como inadimplência, e afetar o caixa das empresas. Então, eu acho que o governo deve fazer uma grande parte do ajuste das tarifas este ano e deixar o resto para o ano que vem, um aumento em torno de 10% - diz Salomão.
O dólar, segundo os economistas, é uma variável crítica para ter uma noção dos custos inflacionários este ano. O que Salomão lembra é que os derivados de petróleo - exceto gasolina e diesel - estão caindo, como querosene de aviação e nafta. E essa queda afetará favoravelmente o custo das empresas, indo para toda a economia. Além disso, os preços de outras commodities têm caído, atenuando a alta dos índices ao produtor. Os IGPs da Fundação estão em torno de 4%.
Cunha lembrou outro ponto favorável. Ele acha que este ano não haverá uma pressão muito grande de preços de alimentos. Foi um item que subiu forte no IPCA de 1,24% de janeiro, o que é normal em começo de ano, quando frutas, verduras e legumes sobem muito. Mas para 2015 ele disse que há dados positivos em grãos, principalmente soja e milho.
Há notícias de perdas em algumas áreas do Sudeste e Centro-Oeste, mas, no mundo, houve safras boas, e a colheita no Sul do Brasil está muito bem. Os preços desses produtos estão em queda, o que reduz a pressão de alimentos na inflação.
- O que pode atrapalhar são a carne e o leite, porque esses dependem das pastagens, muito afetadas pela seca. Não acho que teremos muita pressão de alimentos este ano. O que pesará mesmo será o reajuste de energia. Já começou a pesar com a introdução do sistema de bandeiras, que elevou o preço em janeiro. Agora haverá, em março, um aumento da bandeira - disse Luiz Roberto Cunha.
É um mecanismo que reajusta as tarifas sempre que estiverem sendo usadas as térmicas, que produzem energia a um preço maior. Mas o governo decidiu também elevar o custo dessa taxa extra e isso acontecerá em março. Depois, virá o aumento anual que acontece ao longo do ano, no mês de cada distribuidora. Além disso, haverá o reajuste extraordinário para cobrir o custo dos subsídios que foram retirados pelo governo.
Este é um momento crítico para a inflação, segundo Luiz Roberto Cunha, porque desde a posse do ex-presidente Lula, quando houve uma forte desvalorização, que elevou o índice de preços, nunca mais houve uma inflação tão alta quanto a de janeiro: - É de fato um momento crítico, mas que corrige os erros do passado.
Salomão lembra que o dólar é muito relevante para a inflação, então sua evolução definirá parte das pressões inflacionárias de 2015, mas elas podem ser mitigadas pela queda dos preços de commodities.
Em resumo: é ano de inflação alta, fevereiro será quase tão forte quanto janeiro e deve ficar acima de 1%. O ano de 2015 termina com taxa de 7,5% na opinião dos especialistas, mas em 2016, a inflação volta para 6%, dependendo da política econômica.
O 'distritão' - MICHEL TEMER
O ESTADO DE S. PAULO - 14/03
Precisamos modificar a regra constitucional para obedecer ao princípio da maioria
Um dos primeiros temas da reforma política é o da forma de eleição dos deputados federais, estaduais e vereadores, escolhidos hoje por voto proporcional. Dele deriva o chamado quociente eleitoral. Se o quociente é de 300 mil votos, o partido que obtém 900 mil votos elege três deputados federais. Não importa a votação de cada candidato, mas o total obtido pela legenda partidária. Em exemplo mais expressivo: se um candidato da legenda faz 1,5 milhão de votos e os demais correligionários 4,10 ou 20 votos, o partido leva para a Câmara cinco deputados.
É contra essa fórmula que a nossa pregação pelo "distritão" ou voto majoritário se insurge. Esse sistema significa que os mais votados serão eleitos. São Paulo tem 70 deputados que seriam eleitos segundo a ordem de votos obtida. As razões que fundamentam essa forma são de natureza jurídica e política.
Primeiro, a fundamentação jurídica. A Constituição de 1988 adota retumbantemente a democracia como regime de governo. Significa: a maioria pratica os atos de governo, respeitando a minoria.
Nessa concepção o primeiro registro que se deve fazer é que o titular do poder é o povo. Essa é a regra fundante do nosso sistema democrático. Presidentes, governadores, prefeitos, tribunais governam pelo critério da maioria. Os três primeiros se elegem por essa forma, exigindo-se às vezes maioria absoluta. Nos tribunais as decisões judiciárias (que são atos de governo) se dão por maioria de votos. Nas casas legislativas a regra constitucional para eleição das mesas diretoras e das comissões deve obedecer ao princípio da proporcionalidade do maior para o menor. A única exceção à determinação de que a maioria é que fala em nome do povo se dá no caso do sistema eleitoral ora vigente, que é o critério da proporcionalidade obtido no quociente de votos. Já houve caso concreto de um deputado federal eleito com cerca de 1,5 milhão de votos que conduziu pela legenda mais quatro deputados - um deles com 382 votos (e que residia de fato em outro Estado). Enquanto um candidato de outra legenda com 128 mil votos não foi eleito, em face do chamado quociente eleitoral.
Aqui se impõe a pergunta: quem representava mais corretamente a regra segundo a qual o poder emana do povo, o de 382 ou o de 128 mil votos? Faço esse registro porque o parlamentar que vota a favor ou contra um Projeto de Lei está praticando ato de governo e agindo em nome do povo. Portanto, a manutenção da proporcionalidade eleitoral partidária para eleição dos deputados viola aquela regra definidora do titular do poder, permitindo que um representante da maioria (128 mil) seja alijado por um representante de inexpressiva minoria (382). Se pudesse haver inconstitucionalidade de norma constitucional, diríamos que esta fere o princípio basilar do nosso sistema. Mas não há. Daí por que precisamos modificar a regra constitucional para obedecer ao princípio da maioria.
Hoje o sistema proporcional prestigia o partido político em detrimento da vontade da maioria popular. Entre dois valores constitucionais, vontade majoritária e partido político, deve prevalecer o primeiro. A contradita a essa tese é a de que a nossa fórmula desvaloriza os partidos políticos. Digo que não. Primeiro, o supremo tribunal Federal já decidiu pela fidelidade partidária daqueles que são eleitos pela legenda e na emenda constitucional que vier a estabelecer o voto majoritário artigo seguinte estabeleceria a fidelidade como critério. Ou seja, o mandato continuaria a ser do partido. Outro fundamento jurídico para esta tese é a do artigo 14 da Constituição, que define o voto como direto e secreto e com valor igual para todos. Ora, a proporcionalidade desiguala o voto do eleitor. Não é igual o voto dado para quem teve 128 mil e para aquele que teve 382.
Além da razão jurídica, há razões políticas que amparam o "distritão". Fala-se muito na eliminação das coligações partidárias. Qual o objetivo delas no sistema proporcional? É aumentar os votos das legendas para efeito de ocupação de cadeiras na casa legislativa. Ado-tadoovoto majoritário,os partidos não terão interesse nas coligações. Outro dado: quando o partido organiza a sua chapa de deputados federais, que pode ser uma vez e meia o número de cadeiras que cabem ao Estado, vai procurar candidatos que às vezes não têm mais que 500 votos apenas para engordar o quociente partidário. Ou, então, busca uma figura muito popular e fora dos quadros partidários que possa trazer 1,5 milhão ou 2 milhões de votos.
A proposta não impede tais cidadãos de concorrer. Poderão fazê-lo e eleger-se, mas não levarão consigo deputados que não tiveram votos ensejadores da maioria. Outra vantagem é que se hoje o partido (tomo o exemplo de São Paulo) pode apresentar 105 candidatos, e o faz, com vista ao quociente eleitoral, deixará de fazê-lo. Será certo que os partidos meditarão sobre quantas vagas poderão obter. Se forem cinco ou seis, o partido não lançará mais que 12 ou 15 candidatos, tornando mais programáticas suas falas, no rádio e na televisão e no material de propaganda, e menos caras as campanhas eleitorais.
Outras soluções podem ser debatidas para as eleições de deputados estaduais e vereadores, cujas características são distintas dos deputados federais. Estes não são representantes do povo do Estado (papel dos senadores). Representam o povo brasileiro domiciliado eleitoralmente no Estado e legislam para todo o País, avaliando as aspirações do povo brasileiro de seu "distritão" (Estado).
Essas são algumas ideias que ofereço para continuar o debate da reforma política. O momento é agora. Não devemos mais postergar a votação dessa importante matéria para aprimorar nossa democracia e reaproximar partidos políticos do povo.
Um dos primeiros temas da reforma política é o da forma de eleição dos deputados federais, estaduais e vereadores, escolhidos hoje por voto proporcional. Dele deriva o chamado quociente eleitoral. Se o quociente é de 300 mil votos, o partido que obtém 900 mil votos elege três deputados federais. Não importa a votação de cada candidato, mas o total obtido pela legenda partidária. Em exemplo mais expressivo: se um candidato da legenda faz 1,5 milhão de votos e os demais correligionários 4,10 ou 20 votos, o partido leva para a Câmara cinco deputados.
É contra essa fórmula que a nossa pregação pelo "distritão" ou voto majoritário se insurge. Esse sistema significa que os mais votados serão eleitos. São Paulo tem 70 deputados que seriam eleitos segundo a ordem de votos obtida. As razões que fundamentam essa forma são de natureza jurídica e política.
Primeiro, a fundamentação jurídica. A Constituição de 1988 adota retumbantemente a democracia como regime de governo. Significa: a maioria pratica os atos de governo, respeitando a minoria.
Nessa concepção o primeiro registro que se deve fazer é que o titular do poder é o povo. Essa é a regra fundante do nosso sistema democrático. Presidentes, governadores, prefeitos, tribunais governam pelo critério da maioria. Os três primeiros se elegem por essa forma, exigindo-se às vezes maioria absoluta. Nos tribunais as decisões judiciárias (que são atos de governo) se dão por maioria de votos. Nas casas legislativas a regra constitucional para eleição das mesas diretoras e das comissões deve obedecer ao princípio da proporcionalidade do maior para o menor. A única exceção à determinação de que a maioria é que fala em nome do povo se dá no caso do sistema eleitoral ora vigente, que é o critério da proporcionalidade obtido no quociente de votos. Já houve caso concreto de um deputado federal eleito com cerca de 1,5 milhão de votos que conduziu pela legenda mais quatro deputados - um deles com 382 votos (e que residia de fato em outro Estado). Enquanto um candidato de outra legenda com 128 mil votos não foi eleito, em face do chamado quociente eleitoral.
Aqui se impõe a pergunta: quem representava mais corretamente a regra segundo a qual o poder emana do povo, o de 382 ou o de 128 mil votos? Faço esse registro porque o parlamentar que vota a favor ou contra um Projeto de Lei está praticando ato de governo e agindo em nome do povo. Portanto, a manutenção da proporcionalidade eleitoral partidária para eleição dos deputados viola aquela regra definidora do titular do poder, permitindo que um representante da maioria (128 mil) seja alijado por um representante de inexpressiva minoria (382). Se pudesse haver inconstitucionalidade de norma constitucional, diríamos que esta fere o princípio basilar do nosso sistema. Mas não há. Daí por que precisamos modificar a regra constitucional para obedecer ao princípio da maioria.
Hoje o sistema proporcional prestigia o partido político em detrimento da vontade da maioria popular. Entre dois valores constitucionais, vontade majoritária e partido político, deve prevalecer o primeiro. A contradita a essa tese é a de que a nossa fórmula desvaloriza os partidos políticos. Digo que não. Primeiro, o supremo tribunal Federal já decidiu pela fidelidade partidária daqueles que são eleitos pela legenda e na emenda constitucional que vier a estabelecer o voto majoritário artigo seguinte estabeleceria a fidelidade como critério. Ou seja, o mandato continuaria a ser do partido. Outro fundamento jurídico para esta tese é a do artigo 14 da Constituição, que define o voto como direto e secreto e com valor igual para todos. Ora, a proporcionalidade desiguala o voto do eleitor. Não é igual o voto dado para quem teve 128 mil e para aquele que teve 382.
Além da razão jurídica, há razões políticas que amparam o "distritão". Fala-se muito na eliminação das coligações partidárias. Qual o objetivo delas no sistema proporcional? É aumentar os votos das legendas para efeito de ocupação de cadeiras na casa legislativa. Ado-tadoovoto majoritário,os partidos não terão interesse nas coligações. Outro dado: quando o partido organiza a sua chapa de deputados federais, que pode ser uma vez e meia o número de cadeiras que cabem ao Estado, vai procurar candidatos que às vezes não têm mais que 500 votos apenas para engordar o quociente partidário. Ou, então, busca uma figura muito popular e fora dos quadros partidários que possa trazer 1,5 milhão ou 2 milhões de votos.
A proposta não impede tais cidadãos de concorrer. Poderão fazê-lo e eleger-se, mas não levarão consigo deputados que não tiveram votos ensejadores da maioria. Outra vantagem é que se hoje o partido (tomo o exemplo de São Paulo) pode apresentar 105 candidatos, e o faz, com vista ao quociente eleitoral, deixará de fazê-lo. Será certo que os partidos meditarão sobre quantas vagas poderão obter. Se forem cinco ou seis, o partido não lançará mais que 12 ou 15 candidatos, tornando mais programáticas suas falas, no rádio e na televisão e no material de propaganda, e menos caras as campanhas eleitorais.
Outras soluções podem ser debatidas para as eleições de deputados estaduais e vereadores, cujas características são distintas dos deputados federais. Estes não são representantes do povo do Estado (papel dos senadores). Representam o povo brasileiro domiciliado eleitoralmente no Estado e legislam para todo o País, avaliando as aspirações do povo brasileiro de seu "distritão" (Estado).
Essas são algumas ideias que ofereço para continuar o debate da reforma política. O momento é agora. Não devemos mais postergar a votação dessa importante matéria para aprimorar nossa democracia e reaproximar partidos políticos do povo.
Contorções do petróleo - CELSO MING
O ESTADÃO - 14/02
O mercado global ainda está atarantado com as profundas transformações provocadas pela revolução do xisto nos Estados Unidos e seus desdobramentos.
Quando tudo começou, há coisa de dez anos, ninguém poderia prever o impacto sobre o mercado de petróleo nem as profundas transformações geopolíticas que daí provieram.
A derrubada de preços, de nada menos que 40% nos últimos seis meses, é só o início do grande ajuste em curso. A decisão da Opep, ou, mais particularmente, da Arábia Saudita, tomada em fins de novembro, de não reduzir em 1 milhão de barris diários a oferta de petróleo para segurar os preços, não foi a causa de tudo, só precipitou o processo já em andamento.
O objetivo declarado da Arábia Saudita foi alijar do mercado produtores que vinham operando a custos altos demais, especialmente na área do xisto e nos campos do Canadá.
Ocorre que os custos não ficam parados. Também tendem a cair à medida que a menor demanda dos equipamentos (sondas, plataformas, navios, dutos etc.) derrubar-lhes também os preços.
A tecnologia é outra área que vai evoluindo, especialmente na produção de xisto. Além de melhor atender às exigências ambientais, tende também a derrubar os custos de produção e, assim, a neutralizar em parte o jogo saudita.
O último relatório da Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês) contém duas revelações com força de advertência. A primeira é a de que a derrubada de preços não reduzirá a oferta. Ao contrário, ainda que se espere por alguma desaceleração, até 2020 a produção de petróleo, hoje em torno dos 93 milhões de barris diários, se expandirá em 5,2 milhões de barris diários. Ou seja, nem mesmo a forte queda de preços pode parar os processos, que envolvem ciclos relativamente longos. A outra é a de que, até agora, a queda de preços não provocou uma forte expansão da demanda.
Isso sugere que o cerca de US$ 1,6 trilhão em recursos por ano que deixou de ser transferido aos produtores de petróleo (resultado da queda de preços) está sendo usado para a compra de outras mercadorias e serviços. Mais cedo ou mais tarde estará contribuindo para a retomada da economia global.
Apesar disso, a IEA entende que, a partir de 2016, o consumo de petróleo crescerá algo mais rapidamente do que a oferta. Se estiver correto, será inevitável certa recuperação dos preços a partir daí.
Mas a questão mais relevante é geopolítica. Ficou claro que a Opep perdeu, pelo menos em parte, a capacidade de determinar os preços do mercado. Segue sendo agente relevante, mas não é a mesma de há 30 anos. Em contrapartida, os Estados Unidos ganharam densidade estratégica. Além de enfraquecer a Opep, a exploração do xisto levou enormes problemas para três dos principais adversários do país: Rússia, Irã e Venezuela.
Nada disso parece ter sido intencional. As coisas simplesmente foram acontecendo. Mas podem ter-se tornado elemento decisivo para a formulação de novas políticas. Podem tornar-se, por exemplo, a principal razão pela qual o governo dos Estados Unidos deverá continuar a encorajar a produção de petróleo e gás a partir das reservas de xisto.
CONFIRA:
Aí está a evolução das cotações do petróleo nas suas duas principais referências, o Brent (negociado em Londres) e o West Texas Intermediate (WTI, negociado em Nova York).
Riscos
O último relatório da Agência Internacional de Energia avisa que os riscos políticos associados à produção de petróleo seguem altos. Preços baixos podem produzir crises políticas em países muito dependentes das exportações e prejudicar ainda mais a produção. Podem também tornar inevitáveis intervenções destinadas a derrubar a oferta e a aumentar os preços.
O mercado global ainda está atarantado com as profundas transformações provocadas pela revolução do xisto nos Estados Unidos e seus desdobramentos.
Quando tudo começou, há coisa de dez anos, ninguém poderia prever o impacto sobre o mercado de petróleo nem as profundas transformações geopolíticas que daí provieram.
A derrubada de preços, de nada menos que 40% nos últimos seis meses, é só o início do grande ajuste em curso. A decisão da Opep, ou, mais particularmente, da Arábia Saudita, tomada em fins de novembro, de não reduzir em 1 milhão de barris diários a oferta de petróleo para segurar os preços, não foi a causa de tudo, só precipitou o processo já em andamento.
O objetivo declarado da Arábia Saudita foi alijar do mercado produtores que vinham operando a custos altos demais, especialmente na área do xisto e nos campos do Canadá.
Ocorre que os custos não ficam parados. Também tendem a cair à medida que a menor demanda dos equipamentos (sondas, plataformas, navios, dutos etc.) derrubar-lhes também os preços.
A tecnologia é outra área que vai evoluindo, especialmente na produção de xisto. Além de melhor atender às exigências ambientais, tende também a derrubar os custos de produção e, assim, a neutralizar em parte o jogo saudita.
O último relatório da Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês) contém duas revelações com força de advertência. A primeira é a de que a derrubada de preços não reduzirá a oferta. Ao contrário, ainda que se espere por alguma desaceleração, até 2020 a produção de petróleo, hoje em torno dos 93 milhões de barris diários, se expandirá em 5,2 milhões de barris diários. Ou seja, nem mesmo a forte queda de preços pode parar os processos, que envolvem ciclos relativamente longos. A outra é a de que, até agora, a queda de preços não provocou uma forte expansão da demanda.
Isso sugere que o cerca de US$ 1,6 trilhão em recursos por ano que deixou de ser transferido aos produtores de petróleo (resultado da queda de preços) está sendo usado para a compra de outras mercadorias e serviços. Mais cedo ou mais tarde estará contribuindo para a retomada da economia global.
Apesar disso, a IEA entende que, a partir de 2016, o consumo de petróleo crescerá algo mais rapidamente do que a oferta. Se estiver correto, será inevitável certa recuperação dos preços a partir daí.
Mas a questão mais relevante é geopolítica. Ficou claro que a Opep perdeu, pelo menos em parte, a capacidade de determinar os preços do mercado. Segue sendo agente relevante, mas não é a mesma de há 30 anos. Em contrapartida, os Estados Unidos ganharam densidade estratégica. Além de enfraquecer a Opep, a exploração do xisto levou enormes problemas para três dos principais adversários do país: Rússia, Irã e Venezuela.
Nada disso parece ter sido intencional. As coisas simplesmente foram acontecendo. Mas podem ter-se tornado elemento decisivo para a formulação de novas políticas. Podem tornar-se, por exemplo, a principal razão pela qual o governo dos Estados Unidos deverá continuar a encorajar a produção de petróleo e gás a partir das reservas de xisto.
CONFIRA:
Aí está a evolução das cotações do petróleo nas suas duas principais referências, o Brent (negociado em Londres) e o West Texas Intermediate (WTI, negociado em Nova York).
Riscos
O último relatório da Agência Internacional de Energia avisa que os riscos políticos associados à produção de petróleo seguem altos. Preços baixos podem produzir crises políticas em países muito dependentes das exportações e prejudicar ainda mais a produção. Podem também tornar inevitáveis intervenções destinadas a derrubar a oferta e a aumentar os preços.
Cunha em construção - IGOR GIELOW
FOLHA DE SP - 14/02
BRASÍLIA - O governo se rendeu ao fato de que precisa conversar com Eduardo Cunha, o tempestuoso e polêmico presidente da Câmara, se quiser ter algum tipo de estabilidade no Congresso. Ao menos foi isso que transpareceu do encontro entre Dilma e Lula, que pelas fotos divulgadas esteve mais para acerto de contas do que para uma tertúlia.
Em duas semanas de exercício do cargo, Cunha tornou-se o mais visível político do país. Colocou o PT e o Planalto de joelhos no Parlamento com iniciativas ora defensáveis, ora discutíveis. Tocou música para ouvidos empresariais em São Paulo, insinuando assim voos mais altos.
Também tem feito avançar a agenda de sua base eleitoral, incentivando projetos de cunho conservador --e não no bom sentido da palavra.
Ninguém precisa concordar com suas ideias, mas Cunha é coerente. A verdade é incômoda: ele representa uma parcela da sociedade muito mais expressiva do que nós jornalistas gostaríamos de reconhecer. Tachá-lo meramente de "evangélico" é um reducionismo preguiçoso.
Como presidente da Casa, talvez fosse melhor se ele se portasse como juiz. Mas também é fato que, se estivesse a promover causas ditas "progressistas" (notar aspas), mídia e redes sociais estariam a aplaudi-lo.
O deputado ocupa aos poucos um espaço simbólico de representação popular que o PSDB nunca tomou, por considerar-se um partido mais à esquerda do que é. Com a diferença: ele tem poder e voto. É cedo para saber aonde isso o levará, até porque seu histórico é carregado de maquinações dúbias, mas por ora resta desejar boa sorte ao governo.
Provoca risos frívolos como festejos momescos ler críticas ao patrocínio dado pelo ditador da Guiné Equatorial a uma escola de samba no Rio. O que mais esperavam de um evento que traz no seu DNA a contravenção, o jeitinho e a malandragem?
BRASÍLIA - O governo se rendeu ao fato de que precisa conversar com Eduardo Cunha, o tempestuoso e polêmico presidente da Câmara, se quiser ter algum tipo de estabilidade no Congresso. Ao menos foi isso que transpareceu do encontro entre Dilma e Lula, que pelas fotos divulgadas esteve mais para acerto de contas do que para uma tertúlia.
Em duas semanas de exercício do cargo, Cunha tornou-se o mais visível político do país. Colocou o PT e o Planalto de joelhos no Parlamento com iniciativas ora defensáveis, ora discutíveis. Tocou música para ouvidos empresariais em São Paulo, insinuando assim voos mais altos.
Também tem feito avançar a agenda de sua base eleitoral, incentivando projetos de cunho conservador --e não no bom sentido da palavra.
Ninguém precisa concordar com suas ideias, mas Cunha é coerente. A verdade é incômoda: ele representa uma parcela da sociedade muito mais expressiva do que nós jornalistas gostaríamos de reconhecer. Tachá-lo meramente de "evangélico" é um reducionismo preguiçoso.
Como presidente da Casa, talvez fosse melhor se ele se portasse como juiz. Mas também é fato que, se estivesse a promover causas ditas "progressistas" (notar aspas), mídia e redes sociais estariam a aplaudi-lo.
O deputado ocupa aos poucos um espaço simbólico de representação popular que o PSDB nunca tomou, por considerar-se um partido mais à esquerda do que é. Com a diferença: ele tem poder e voto. É cedo para saber aonde isso o levará, até porque seu histórico é carregado de maquinações dúbias, mas por ora resta desejar boa sorte ao governo.
Provoca risos frívolos como festejos momescos ler críticas ao patrocínio dado pelo ditador da Guiné Equatorial a uma escola de samba no Rio. O que mais esperavam de um evento que traz no seu DNA a contravenção, o jeitinho e a malandragem?
O homem também é objeto sexual - RUTH DE AQUINO
REVISTA ÉPOCA
Amarrar e dar palmadinha excita muitos adultos. Se for consenso, é uma ferramenta erótica como tantas
E não poderia ser diferente. O livro pornô para amadores Cinquenta tons de cinza chegou ao telão precedido por uma histeria de marketing monumental. Uma histeria incompreensível a mulheres realizadas na horizontal e na vertical, que conseguem prazer pleno na troca real ou na fantasia sem freios. O roteiro é banal, infantil e chato para quem faz sexo de verdade na cama e fora dela. Com ou sem amor. De olhos abertos ou fechados.
Para as heterossexuais bem resolvidas, o homem é um objeto sexual. A mulher que gosta de homem se ocupa do prazer dele, se dedica a seu corpo. Não o corpo dela, mas o corpo dele, com todos os seus mistérios. Homem também tem mistério e ponto H. Não são máquinas de produzir orgasmos. Aliás, longe disso. Eles precisam de orientações femininas para ser bons de cama. Mulher que insiste em reduzir o homem só a “provedor” – de dinheiro ou prazer, ou ambos – não faz jus ao parceiro nem a si mesma.
Cansei de ver homem reclamando de mulheres com corpos sensacionais, que se deitam na cama, se olham no espelho e ficam ali, passivas e maravilhadas consigo mesmas, à espera da adoração e ação intensiva do parceiro. Ou mulheres que apagam a luz por vergonha de suas imperfeições como se fossem pecados contra o tesão. Nada afeta mais o tesão, próprio ou alheio, do que a baixa autoestima. E isso a personagem do livro e do filme, Anastasia Steele, tem de sobra. “Sou desastrada, malvestida e não sou loura” (!).
Outra incompreensão que se escuta nas conversas é a do recurso, interessante, do sadomasoquismo nas relações sexuais. No telão, o sadomasô excessivamente estético é ainda mais enfraquecido, por ficar muito aquém das fantasias. Como se sabe, o roteiro o transforma em contrato, como esses submetidos ao RH, com cláusulas e multas. Perde assim seu fator X: a imprevisibilidade, o frescor, a transgressão.
Nos ambientes acadêmicos ou feministas hard, surgiu agora uma discussão equivocada, fora do tom. Nos Estados Unidos, há um “movimento” para doar US$ 50 a abrigos de mulheres espancadas ou violentadas em vez de gastar para ver o filme. Gail Dines, professora de sociologia no Wheelock College, de Boston, diz que o filme glorifica relações de abuso.
“A história mostra um predador sexual sádico que persegue uma mulher bem mais jovem e abusa dela”, afirma a socióloga. “É um conto de fadas no sentido de não ser real, mas, na realidade, é uma história de terror vivida por muitas mulheres.” Hello! Que exagero. Nem essa importância o roteiro tem, a meu ver. Amarrar e dar palmadinha excita muitos adultos e, se for consenso, de brincadeira, sem machucar, torna-se uma ferramenta erótica como tantas.
O BSM – “b” de “bondage”, ou seja, de “amarrar” – está presente na vida ou nos sonhos de muitas mulheres, suas vizinhas ou companheiras ou colegas de trabalho ou parentes próximas, mesmo que seja sexualmente incorreto. Lamento que haja tanto desconhecimento ao se generalizar o desejo feminino – e o masculino também. Falta conversa, falta abertura, falta ousadia e sobra repressão nas relações de nosso cotidiano.
O livro é um fenômeno mundial. Vendeu mais de 100 milhões de exemplares em 52 línguas. Normalmente, livros são melhores que suas adaptações, pela profundidade e caracterização dos personagens. Mas, num livro tão ruim com diálogos tão melosos, a linguagem visual e resumida do cinema poderia produzir algo mais quente e visceral. Não foi possível. O filme segue rigorosamente a receita de sopão de clichês e a falta de sexo explícito.
A mocinha morre de excitação no filme quando morde o lábio inferior. O mocinho não permitiu nu frontal. Aaaahhh, que peninha. A desculpa oficial é que o ator é casado e acaba de ser pai pela primeira vez. Minha especulação é que talvez a cena decepcionasse as fãs do metido a garanhão Christian Grey, porque a gente sabe que, nas fantasias femininas, tamanho é documento.
Para sair molhadinha, só se cair uma chuva daquelas no fim da sessão e você estiver sem casaco impermeável. O que seria, ao menos, uma boa novidade em tempos de seca – digo seca líquida, falta de água, não de homem. Abram os olhos, moças, os homens estão por aí e, felizmente, não são bobos como o Christian Grey.
Amarrar e dar palmadinha excita muitos adultos. Se for consenso, é uma ferramenta erótica como tantas
E não poderia ser diferente. O livro pornô para amadores Cinquenta tons de cinza chegou ao telão precedido por uma histeria de marketing monumental. Uma histeria incompreensível a mulheres realizadas na horizontal e na vertical, que conseguem prazer pleno na troca real ou na fantasia sem freios. O roteiro é banal, infantil e chato para quem faz sexo de verdade na cama e fora dela. Com ou sem amor. De olhos abertos ou fechados.
Para as heterossexuais bem resolvidas, o homem é um objeto sexual. A mulher que gosta de homem se ocupa do prazer dele, se dedica a seu corpo. Não o corpo dela, mas o corpo dele, com todos os seus mistérios. Homem também tem mistério e ponto H. Não são máquinas de produzir orgasmos. Aliás, longe disso. Eles precisam de orientações femininas para ser bons de cama. Mulher que insiste em reduzir o homem só a “provedor” – de dinheiro ou prazer, ou ambos – não faz jus ao parceiro nem a si mesma.
Cansei de ver homem reclamando de mulheres com corpos sensacionais, que se deitam na cama, se olham no espelho e ficam ali, passivas e maravilhadas consigo mesmas, à espera da adoração e ação intensiva do parceiro. Ou mulheres que apagam a luz por vergonha de suas imperfeições como se fossem pecados contra o tesão. Nada afeta mais o tesão, próprio ou alheio, do que a baixa autoestima. E isso a personagem do livro e do filme, Anastasia Steele, tem de sobra. “Sou desastrada, malvestida e não sou loura” (!).
Outra incompreensão que se escuta nas conversas é a do recurso, interessante, do sadomasoquismo nas relações sexuais. No telão, o sadomasô excessivamente estético é ainda mais enfraquecido, por ficar muito aquém das fantasias. Como se sabe, o roteiro o transforma em contrato, como esses submetidos ao RH, com cláusulas e multas. Perde assim seu fator X: a imprevisibilidade, o frescor, a transgressão.
Nos ambientes acadêmicos ou feministas hard, surgiu agora uma discussão equivocada, fora do tom. Nos Estados Unidos, há um “movimento” para doar US$ 50 a abrigos de mulheres espancadas ou violentadas em vez de gastar para ver o filme. Gail Dines, professora de sociologia no Wheelock College, de Boston, diz que o filme glorifica relações de abuso.
“A história mostra um predador sexual sádico que persegue uma mulher bem mais jovem e abusa dela”, afirma a socióloga. “É um conto de fadas no sentido de não ser real, mas, na realidade, é uma história de terror vivida por muitas mulheres.” Hello! Que exagero. Nem essa importância o roteiro tem, a meu ver. Amarrar e dar palmadinha excita muitos adultos e, se for consenso, de brincadeira, sem machucar, torna-se uma ferramenta erótica como tantas.
O BSM – “b” de “bondage”, ou seja, de “amarrar” – está presente na vida ou nos sonhos de muitas mulheres, suas vizinhas ou companheiras ou colegas de trabalho ou parentes próximas, mesmo que seja sexualmente incorreto. Lamento que haja tanto desconhecimento ao se generalizar o desejo feminino – e o masculino também. Falta conversa, falta abertura, falta ousadia e sobra repressão nas relações de nosso cotidiano.
O livro é um fenômeno mundial. Vendeu mais de 100 milhões de exemplares em 52 línguas. Normalmente, livros são melhores que suas adaptações, pela profundidade e caracterização dos personagens. Mas, num livro tão ruim com diálogos tão melosos, a linguagem visual e resumida do cinema poderia produzir algo mais quente e visceral. Não foi possível. O filme segue rigorosamente a receita de sopão de clichês e a falta de sexo explícito.
A mocinha morre de excitação no filme quando morde o lábio inferior. O mocinho não permitiu nu frontal. Aaaahhh, que peninha. A desculpa oficial é que o ator é casado e acaba de ser pai pela primeira vez. Minha especulação é que talvez a cena decepcionasse as fãs do metido a garanhão Christian Grey, porque a gente sabe que, nas fantasias femininas, tamanho é documento.
Para sair molhadinha, só se cair uma chuva daquelas no fim da sessão e você estiver sem casaco impermeável. O que seria, ao menos, uma boa novidade em tempos de seca – digo seca líquida, falta de água, não de homem. Abram os olhos, moças, os homens estão por aí e, felizmente, não são bobos como o Christian Grey.
Dilma, a surpreendida - EDITORIAL O ESTADÃO
O ESTADO DE S. PAULO - 14/02
A presidente Dilma Rousseff parece ter cada vez menos controle sobre o governo, a julgar pela frequência com que se mostra surpreendida pelos acontecimentos relativos à sua administração. A extensa lista de episódios, que vão do anedótico ao grave, serve apenas para confirmar a crescente sensação de desgoverno no Planalto. Mesmo com todo o poder e o aparato de inteligência de que dispõe, Dilma, cujo isolamento já se tornou proverbial, parece saber cada vez menos sobre o que passa à sua volta, com evidente prejuízo para a tomada de decisões.
O caso mais recente foi sua reação diante do resultado da última pesquisa do Datafolha sobre sua popularidade. O governo já esperava uma aprovação menor, num momento em que medidas de ajuste fiscal se combinam com um noticiário negativo sobre a corrupção na Petrobrás. Mas, no mundo da fantasia em que vive, a presidente imaginava que seria uma queda administrável, como a verificada durante as manifestações de junho de 2013. No entanto, a realidade se impôs, e ela ficou sabendo - para seu espanto, segundo comentaram seus assessores - que a maioria dos brasileiros finalmente se convenceu de sua inépcia e, pior, parece suspeitar cada vez mais de sua honestidade.
Outra surpresa manifestada recentemente nos corredores da Presidência foi com o tamanho da derrota na eleição para a presidência da Câmara. Os mais de 260 votos contrários à orientação do governo foram um choque para Dilma, pois ela, baseada em sabe-se lá qual avaliação, imaginava poder dobrar ou pelo menos enfraquecer o PMDB no Congresso - um erro de proporções ainda desconhecidas. Ficou claro, se ainda restava alguma dúvida, que Dilma não tem nenhuma habilidade política e que, ao cercar-se de sabujos que só dizem o que ela quer ornar, potencializou a ocorrência de erros como esse.
Mas Dilma não foi surpreendida só no Congresso. Mesmo em ambientes nos quais tem condições de exercer controle quase absoluto, como na Petrobrás, a presidente fica à mercê dos ventos. A prova disso foi a maneira como ela conduziu a substituição da diretoria da estatal, tão desastrada que resultou na antecipação da renúncia coletiva dos executivos. Mais uma vez, assessores de Dilma disseram que a presidente se surpreendeu com o desfecho - que, no entanto, era perfeitamente previsível diante da lambança em que se transformou a administração da crise por parte do Planalto.
Até mesmo em seu próprio Ministério as "surpresas" se multiplicam. Já houve ministro que pediu demissão sem avisar - como Marta Suplicy, que deixou o Ministério da Cultura questionando a credibilidade de Dilma - e outro que anunciou uma medida e teve de voltar atrás um dia depois, após levar um pito da irascível presidente - caso de Nelson Barbosa (Planejamento), que falou em nova regra para o reajuste do salário mínimo.
Que ninguém se surpreenda, portanto, com a dificuldade de Dilma de se antecipar aos fatos. Desde o início de seu primeiro mandato, a presidente vem exibindo preocupantes sinais de desconhecimento e de desinformação. Houve momentos em que essa ignorância teve resultado apenas cômico -como quando, em entrevista a uma TV portuguesa, em março de 2011, Dilma ficou atônita ao receber do entrevistador a notícia de que o primeiro-ministro com quem ela deveria se encontrar, em visita de Estado a Portugal, havia renunciado.
Na maior parte das vezes, no entanto, seu descontrole administrativo, cujos resultados sempre a "surpreendem", trouxe prejuízos imensos ao País. No primeiro mandato, um dos momentos mais significativos dessa inépcia se deu durante as manifestações de junho de 2013. Por falha de seus assessores de inteligência, Dilma desconhecia a extensão da insatisfação popular que resultou naqueles protestos e, como tem sido habitual, agiu a reboque dos acontecimentos.
Para cargos com tamanha responsabilidade, como o da Presidência da República, há um limite para os erros. Dilma não pode mais se proteger deles com o manto da ignorância.
A presidente Dilma Rousseff parece ter cada vez menos controle sobre o governo, a julgar pela frequência com que se mostra surpreendida pelos acontecimentos relativos à sua administração. A extensa lista de episódios, que vão do anedótico ao grave, serve apenas para confirmar a crescente sensação de desgoverno no Planalto. Mesmo com todo o poder e o aparato de inteligência de que dispõe, Dilma, cujo isolamento já se tornou proverbial, parece saber cada vez menos sobre o que passa à sua volta, com evidente prejuízo para a tomada de decisões.
O caso mais recente foi sua reação diante do resultado da última pesquisa do Datafolha sobre sua popularidade. O governo já esperava uma aprovação menor, num momento em que medidas de ajuste fiscal se combinam com um noticiário negativo sobre a corrupção na Petrobrás. Mas, no mundo da fantasia em que vive, a presidente imaginava que seria uma queda administrável, como a verificada durante as manifestações de junho de 2013. No entanto, a realidade se impôs, e ela ficou sabendo - para seu espanto, segundo comentaram seus assessores - que a maioria dos brasileiros finalmente se convenceu de sua inépcia e, pior, parece suspeitar cada vez mais de sua honestidade.
Outra surpresa manifestada recentemente nos corredores da Presidência foi com o tamanho da derrota na eleição para a presidência da Câmara. Os mais de 260 votos contrários à orientação do governo foram um choque para Dilma, pois ela, baseada em sabe-se lá qual avaliação, imaginava poder dobrar ou pelo menos enfraquecer o PMDB no Congresso - um erro de proporções ainda desconhecidas. Ficou claro, se ainda restava alguma dúvida, que Dilma não tem nenhuma habilidade política e que, ao cercar-se de sabujos que só dizem o que ela quer ornar, potencializou a ocorrência de erros como esse.
Mas Dilma não foi surpreendida só no Congresso. Mesmo em ambientes nos quais tem condições de exercer controle quase absoluto, como na Petrobrás, a presidente fica à mercê dos ventos. A prova disso foi a maneira como ela conduziu a substituição da diretoria da estatal, tão desastrada que resultou na antecipação da renúncia coletiva dos executivos. Mais uma vez, assessores de Dilma disseram que a presidente se surpreendeu com o desfecho - que, no entanto, era perfeitamente previsível diante da lambança em que se transformou a administração da crise por parte do Planalto.
Até mesmo em seu próprio Ministério as "surpresas" se multiplicam. Já houve ministro que pediu demissão sem avisar - como Marta Suplicy, que deixou o Ministério da Cultura questionando a credibilidade de Dilma - e outro que anunciou uma medida e teve de voltar atrás um dia depois, após levar um pito da irascível presidente - caso de Nelson Barbosa (Planejamento), que falou em nova regra para o reajuste do salário mínimo.
Que ninguém se surpreenda, portanto, com a dificuldade de Dilma de se antecipar aos fatos. Desde o início de seu primeiro mandato, a presidente vem exibindo preocupantes sinais de desconhecimento e de desinformação. Houve momentos em que essa ignorância teve resultado apenas cômico -como quando, em entrevista a uma TV portuguesa, em março de 2011, Dilma ficou atônita ao receber do entrevistador a notícia de que o primeiro-ministro com quem ela deveria se encontrar, em visita de Estado a Portugal, havia renunciado.
Na maior parte das vezes, no entanto, seu descontrole administrativo, cujos resultados sempre a "surpreendem", trouxe prejuízos imensos ao País. No primeiro mandato, um dos momentos mais significativos dessa inépcia se deu durante as manifestações de junho de 2013. Por falha de seus assessores de inteligência, Dilma desconhecia a extensão da insatisfação popular que resultou naqueles protestos e, como tem sido habitual, agiu a reboque dos acontecimentos.
Para cargos com tamanha responsabilidade, como o da Presidência da República, há um limite para os erros. Dilma não pode mais se proteger deles com o manto da ignorância.
PT tenta difícil volta por cima no petrolão - EDITORIAL O GLOBO
O GLOBO - 14/02
Partido começa a reagir à avalanche de denúncias contra a legenda, mas a sucessão de novos fatos negativos torna quase impossível evitar danos
Não é da índole petista aceitar fatos consumados contra o partido. Até hoje mensaleiros condenados e em cumprimento de pena são saudados como “heróis do povo brasileiro”. Há mesmo quem considere que o julgamento daquele primeiro grande caso de corrupção em que o partido se envolveu foi “político”, embora a maioria dos juízes do Supremo que trabalharam no processo houvesse sido nomeada nos governos petistas.
No petrolão começa a ocorrer o mesmo, apesar de evidências ainda mais cristalinas da participação do partido — em um nível a ser esclarecido pelas investigações — na montagem do mais amplo esquema de corrupção já visto em atuação na área pública.
Ao contrário do mensalão, surgido da denúncia de um aliado do PT e beneficiário do esquema, Roberto Jefferson, o petrolão emerge de investigações avançadas da Polícia Federal, com o Ministério Público e a Justiça federal do Paraná.
Já existem sérias denúncias que prejudicam o PT feitas por acusados de participar do esquema, depoimentos sob regime de delação premiada, em troca da suavização de penas, mas com o compromisso de posterior sustentação dos testemunhos com provas objetivas.
O escândalo é não apenas maior que o mensalão — as cifras romperam a barreira do bilhão, acima dos parcos milhões manejados por mensaleiros —, como também, do ponto de vista judicial, é um caso bem mais denso.
Mas o PT reage e, como sempre, parte para o ataque. Uma das estocadas é clássica, na linha do “todos fazem”. No mensalão, foi a tentativa de resumir o assalto ao Banco do Brasil/Visanet como simples caixa dois de político — “como todos". Não funcionou, como se viu.
Agora, a partir do depoimento de Pedro Barusco, ex-gerente geral da diretoria de Renato Duque, indicado pelo PT/José Dirceu, de que recebeu propina em 1997, o partido quer que as investigações também cubram os governos FH. Para isso, pressiona o MP e a Polícia Federal, esta por meio do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, quadro do partido. O PT fará o mesmo na nova CPI da Petrobras. Quanto a Barusco, segundo o qual o partido teria levado do petrolão cerca de US$ 200 milhões, o PT o interpelará na Justiça.
O grande empecilho para o partido dar essa volta por cima, porém, é a sucessão de fatos negativos contra ele. Sabe-se agora, por exemplo, que o operador financeiro Alberto Youssef, em delação premiada, tornou o tesoureiro petista João Vaccari Neto um personagem ainda mais proeminente no petrolão, e incluiu de vez no caso o mensaleiro José Dirceu. Os dois, segundo Youssef, recebiam propinas do petrolão para o PT, bem como o ex-ministro Antonio Palocci.
Tudo precisa ser provado. Mas fica evidente que, a esta altura, já parece impossível o partido sair ileso do escândalo.
Partido começa a reagir à avalanche de denúncias contra a legenda, mas a sucessão de novos fatos negativos torna quase impossível evitar danos
Não é da índole petista aceitar fatos consumados contra o partido. Até hoje mensaleiros condenados e em cumprimento de pena são saudados como “heróis do povo brasileiro”. Há mesmo quem considere que o julgamento daquele primeiro grande caso de corrupção em que o partido se envolveu foi “político”, embora a maioria dos juízes do Supremo que trabalharam no processo houvesse sido nomeada nos governos petistas.
No petrolão começa a ocorrer o mesmo, apesar de evidências ainda mais cristalinas da participação do partido — em um nível a ser esclarecido pelas investigações — na montagem do mais amplo esquema de corrupção já visto em atuação na área pública.
Ao contrário do mensalão, surgido da denúncia de um aliado do PT e beneficiário do esquema, Roberto Jefferson, o petrolão emerge de investigações avançadas da Polícia Federal, com o Ministério Público e a Justiça federal do Paraná.
Já existem sérias denúncias que prejudicam o PT feitas por acusados de participar do esquema, depoimentos sob regime de delação premiada, em troca da suavização de penas, mas com o compromisso de posterior sustentação dos testemunhos com provas objetivas.
O escândalo é não apenas maior que o mensalão — as cifras romperam a barreira do bilhão, acima dos parcos milhões manejados por mensaleiros —, como também, do ponto de vista judicial, é um caso bem mais denso.
Mas o PT reage e, como sempre, parte para o ataque. Uma das estocadas é clássica, na linha do “todos fazem”. No mensalão, foi a tentativa de resumir o assalto ao Banco do Brasil/Visanet como simples caixa dois de político — “como todos". Não funcionou, como se viu.
Agora, a partir do depoimento de Pedro Barusco, ex-gerente geral da diretoria de Renato Duque, indicado pelo PT/José Dirceu, de que recebeu propina em 1997, o partido quer que as investigações também cubram os governos FH. Para isso, pressiona o MP e a Polícia Federal, esta por meio do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, quadro do partido. O PT fará o mesmo na nova CPI da Petrobras. Quanto a Barusco, segundo o qual o partido teria levado do petrolão cerca de US$ 200 milhões, o PT o interpelará na Justiça.
O grande empecilho para o partido dar essa volta por cima, porém, é a sucessão de fatos negativos contra ele. Sabe-se agora, por exemplo, que o operador financeiro Alberto Youssef, em delação premiada, tornou o tesoureiro petista João Vaccari Neto um personagem ainda mais proeminente no petrolão, e incluiu de vez no caso o mensaleiro José Dirceu. Os dois, segundo Youssef, recebiam propinas do petrolão para o PT, bem como o ex-ministro Antonio Palocci.
Tudo precisa ser provado. Mas fica evidente que, a esta altura, já parece impossível o partido sair ileso do escândalo.
O galo canta - EDITORIAL FOLHA DE SP
FOLHA DE SP - 14/02
Embalado pela vitória na disputa pela presidência da Câmara, Eduardo Cunha avança o sinal e impõe pauta ultraconservadora
Obtida graças a uma superior habilidade para a articulação política e à notória incompetência do governo Dilma Rousseff (PT) nesse campo, a vitória na eleição para a presidência da Câmara parece ter subido à cabeça do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
A julgar por suas mais recentes declarações, tudo se passa como se os 267 votos que recebeu de seus colegas equivalessem às dezenas de milhões que teria de conseguir junto ao eleitorado brasileiro para se tornar presidente da República.
Em tese, os votos concedidos a Cunha pela maioria dos deputados têm precisamente o sentido de legitimá-lo como representante máximo de um Poder autônomo, cuja capacidade de se contrapor ao Executivo é garantia imprescindível para o equilíbrio republicano.
Todavia, o novo comandante da Câmara avança o sinal. Não se comporta como o orquestrador das tendências vigentes no plenário, mas parte para uma carreira solo.
Já adiantou, a respeito das deliberações da Casa, o que quer e o que não quer, o que aceita e o que recusa, o que será admitido ou não por sua vontade individual, mesmo que a vaca (para recorrer à imagem da moda) tussa ou deixe de tossir.
Ocorre que a famigerada vaca não é tão metafórica assim. Em qualquer votação do Legislativo está em jogo, a rigor, a vontade da maioria do povo brasileiro.
O presidente da Câmara decreta, contudo, que projetos que tratem da legalização do aborto, por exemplo, só entrarão em pauta se passarem por cima de seu cadáver --expressão usada em entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo". O tema não merece discussão republicana, em especial se for para realizar uma consulta popular?
Não na sua ótica, que privilegia a ridícula proposta (de sua autoria) de criar o "Dia do Orgulho Heterossexual". Cunha entende que a vasta maioria da população sofre, ou corre risco de sofrer, discriminação por não ser gay.
O deputado, como se sabe, é evangélico. Há cerca de 80 de seus colegas com semelhantes convicções. A força dessa bancada supera sua representação numérica.
Agindo como porta-voz desse grupo, Cunha alcança vários objetivos ao mesmo tempo. Beneficiado pelo voto fisiológico do "baixo clero", o novo presidente da Câmara "ideologiza" seu papel justamente nas questões que dizem respeito ao foro íntimo dos cidadãos.
Assim Cunha amplia seu poder de barganha diante do governo, que mal e mal ainda não se rende ao conservadorismo religioso. Surge, ademais, como líder nacional, em posto de destaque numa conjuntura em que os principais partidos naufragam no descrédito.
Para insistir nas metáforas rurais, Cunha canta de galo. Resta saber se resiste à "tosse da vaca", ou aos riscos de denúncia em alguma operação da Polícia Federal.
Embalado pela vitória na disputa pela presidência da Câmara, Eduardo Cunha avança o sinal e impõe pauta ultraconservadora
Obtida graças a uma superior habilidade para a articulação política e à notória incompetência do governo Dilma Rousseff (PT) nesse campo, a vitória na eleição para a presidência da Câmara parece ter subido à cabeça do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
A julgar por suas mais recentes declarações, tudo se passa como se os 267 votos que recebeu de seus colegas equivalessem às dezenas de milhões que teria de conseguir junto ao eleitorado brasileiro para se tornar presidente da República.
Em tese, os votos concedidos a Cunha pela maioria dos deputados têm precisamente o sentido de legitimá-lo como representante máximo de um Poder autônomo, cuja capacidade de se contrapor ao Executivo é garantia imprescindível para o equilíbrio republicano.
Todavia, o novo comandante da Câmara avança o sinal. Não se comporta como o orquestrador das tendências vigentes no plenário, mas parte para uma carreira solo.
Já adiantou, a respeito das deliberações da Casa, o que quer e o que não quer, o que aceita e o que recusa, o que será admitido ou não por sua vontade individual, mesmo que a vaca (para recorrer à imagem da moda) tussa ou deixe de tossir.
Ocorre que a famigerada vaca não é tão metafórica assim. Em qualquer votação do Legislativo está em jogo, a rigor, a vontade da maioria do povo brasileiro.
O presidente da Câmara decreta, contudo, que projetos que tratem da legalização do aborto, por exemplo, só entrarão em pauta se passarem por cima de seu cadáver --expressão usada em entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo". O tema não merece discussão republicana, em especial se for para realizar uma consulta popular?
Não na sua ótica, que privilegia a ridícula proposta (de sua autoria) de criar o "Dia do Orgulho Heterossexual". Cunha entende que a vasta maioria da população sofre, ou corre risco de sofrer, discriminação por não ser gay.
O deputado, como se sabe, é evangélico. Há cerca de 80 de seus colegas com semelhantes convicções. A força dessa bancada supera sua representação numérica.
Agindo como porta-voz desse grupo, Cunha alcança vários objetivos ao mesmo tempo. Beneficiado pelo voto fisiológico do "baixo clero", o novo presidente da Câmara "ideologiza" seu papel justamente nas questões que dizem respeito ao foro íntimo dos cidadãos.
Assim Cunha amplia seu poder de barganha diante do governo, que mal e mal ainda não se rende ao conservadorismo religioso. Surge, ademais, como líder nacional, em posto de destaque numa conjuntura em que os principais partidos naufragam no descrédito.
Para insistir nas metáforas rurais, Cunha canta de galo. Resta saber se resiste à "tosse da vaca", ou aos riscos de denúncia em alguma operação da Polícia Federal.
Boicote começa na base aliada - EDITORIAL O ESTADÃO
O ESTADO DE S. PAULO - 14/02
Se ate o líder da bancada do PT - o partido da presidente Dilma Rousseff e, supostamente, o mais fiel ao governo entre todos os que compõem sua base no Congresso -, deputado Sibá Machado (AC), já dá como certo que a mudança em benefícios trabalhistas e previdenciários proposta pelo Palácio do Planalto "não será aprovada em sua origem", pode-se imaginar qual será o resultado final. A acacha-pante derrota do candidato do PT e da presidente da República na eleição para a presidência da Câmara -foi eleito o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que Dilma tem como adversário - deixou o partido sem lugar na mesa diretora da Casa e mostrou a incompetência dos articuladores políticos do governo e a fragilidade de sua base parlamentar. As resistências as mudanças previdenciárias e trabalhistas indicam que o apoio parlamentar ao governo é ainda mais precário, pois em grande parte elas nascem no PT.
É amplo e irrestrito o boicote às mudanças nas regras de benefícios sociais propostas pelo governo como parte do indispensável ajuste fiscal destinado a corrigir os erros cometidos nos quatro anos do primeiro mandato de Dilma Rousseff. É um prenúncio de dificuldades para a aprovação de outras medidas que comporão esse ajuste, nos casos em que elas dependerem de aprovação do Congresso.
Até o Diretório Nacional do PT cobra do governo o diálogo com o movimento sindical e o popular, para "impedir que medidas necessárias de ajuste incidam sobre direitos conquistados". O texto não deixa dúvidas de que o partido é contra a proposta e se tornou parte essencial do movimento de resistência ao ajuste fiscal.
Já foram apresentadas 750 emendas alterando as duas medidas provisórias (MPs) que restringem o acesso aos benefícios. Delas, 450, ou 60%, têm como autores parlamentares da base governista. Petistas respondem por mais de 100.
A senadora Gleisi Hoffmann (PR), ex-chefe da Casa Civil e considerada uma das congressistas mais fiéis ao Palácio do Planalto, está entre os petistas que querem mudar a proposta. Ela propõe a exclusão do pacote do item que reformula o cálculo das pensões. O deputado federal Vicentinho (SP), que liderou a bancada do partido, quer manter as regras para pagamento de pensões por morte em acidente ou por doença profissional. Já o PC do B, partido da base e com representante na equipe ministerial de Dilma, é contra todas as mudanças.
Desde o anúncio de seu nome para o cargo, no fim do ano passado, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, tem inspirado confiança. Sua escolha foi considerada adequada para executar a tarefa de ajustar as finanças do governo federal, fortemente desarranjadas nos primeiros quatro anos do governo Dilma.
O que o governo preserva de credibilidade neste início do segundo mandato de Dilma se deve à escolha de Levy e à postura firme do ministro no rumo do ajuste das contas públicas. Seu compromisso com a obtenção, neste ano, de um superávit primário equivalente a 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB) reforçou as expectativas de que o ajuste será forte e para valer.
As mudanças na área social são essenciais para o cumprimento da meta. Seu impacto financeiro foi estimado em R$ 18 bilhões, parte expressiva do superávit prometido, que deve alcançar RS 66,3 bilhões, dos quais RS 55,3 bilhões do governo federal (o restante caberá aos Estados e municípios).
Outra parte do ajuste que caberá ao governo federal virá da transferência, para os consumidores, do custo adicional imposto às empresas do setor elétrico pela crise do setor. A crise decorre do uso das usinas termoelétricas para suprir a perda de capacidade das hidrelétricas provocada pela falta de chuvas e do fracasso do desastroso plano do governo Dilma de redução das tarifas. Também haverá aumento de impostos, como os incidentes sobre combustíveis, o crédito às pessoas físicas, bens importados e cosméticos.
São medidas impopulares. O desafio da equipe chefiada por Levy é preservá-las num ambiente já hostil ao governo - por causa do escândalo da Petrobrás e de problemas de articulação política - e que pode piorar, como sugere a resistência da base governista ao ajuste.
Se ate o líder da bancada do PT - o partido da presidente Dilma Rousseff e, supostamente, o mais fiel ao governo entre todos os que compõem sua base no Congresso -, deputado Sibá Machado (AC), já dá como certo que a mudança em benefícios trabalhistas e previdenciários proposta pelo Palácio do Planalto "não será aprovada em sua origem", pode-se imaginar qual será o resultado final. A acacha-pante derrota do candidato do PT e da presidente da República na eleição para a presidência da Câmara -foi eleito o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que Dilma tem como adversário - deixou o partido sem lugar na mesa diretora da Casa e mostrou a incompetência dos articuladores políticos do governo e a fragilidade de sua base parlamentar. As resistências as mudanças previdenciárias e trabalhistas indicam que o apoio parlamentar ao governo é ainda mais precário, pois em grande parte elas nascem no PT.
É amplo e irrestrito o boicote às mudanças nas regras de benefícios sociais propostas pelo governo como parte do indispensável ajuste fiscal destinado a corrigir os erros cometidos nos quatro anos do primeiro mandato de Dilma Rousseff. É um prenúncio de dificuldades para a aprovação de outras medidas que comporão esse ajuste, nos casos em que elas dependerem de aprovação do Congresso.
Até o Diretório Nacional do PT cobra do governo o diálogo com o movimento sindical e o popular, para "impedir que medidas necessárias de ajuste incidam sobre direitos conquistados". O texto não deixa dúvidas de que o partido é contra a proposta e se tornou parte essencial do movimento de resistência ao ajuste fiscal.
Já foram apresentadas 750 emendas alterando as duas medidas provisórias (MPs) que restringem o acesso aos benefícios. Delas, 450, ou 60%, têm como autores parlamentares da base governista. Petistas respondem por mais de 100.
A senadora Gleisi Hoffmann (PR), ex-chefe da Casa Civil e considerada uma das congressistas mais fiéis ao Palácio do Planalto, está entre os petistas que querem mudar a proposta. Ela propõe a exclusão do pacote do item que reformula o cálculo das pensões. O deputado federal Vicentinho (SP), que liderou a bancada do partido, quer manter as regras para pagamento de pensões por morte em acidente ou por doença profissional. Já o PC do B, partido da base e com representante na equipe ministerial de Dilma, é contra todas as mudanças.
Desde o anúncio de seu nome para o cargo, no fim do ano passado, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, tem inspirado confiança. Sua escolha foi considerada adequada para executar a tarefa de ajustar as finanças do governo federal, fortemente desarranjadas nos primeiros quatro anos do governo Dilma.
O que o governo preserva de credibilidade neste início do segundo mandato de Dilma se deve à escolha de Levy e à postura firme do ministro no rumo do ajuste das contas públicas. Seu compromisso com a obtenção, neste ano, de um superávit primário equivalente a 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB) reforçou as expectativas de que o ajuste será forte e para valer.
As mudanças na área social são essenciais para o cumprimento da meta. Seu impacto financeiro foi estimado em R$ 18 bilhões, parte expressiva do superávit prometido, que deve alcançar RS 66,3 bilhões, dos quais RS 55,3 bilhões do governo federal (o restante caberá aos Estados e municípios).
Outra parte do ajuste que caberá ao governo federal virá da transferência, para os consumidores, do custo adicional imposto às empresas do setor elétrico pela crise do setor. A crise decorre do uso das usinas termoelétricas para suprir a perda de capacidade das hidrelétricas provocada pela falta de chuvas e do fracasso do desastroso plano do governo Dilma de redução das tarifas. Também haverá aumento de impostos, como os incidentes sobre combustíveis, o crédito às pessoas físicas, bens importados e cosméticos.
São medidas impopulares. O desafio da equipe chefiada por Levy é preservá-las num ambiente já hostil ao governo - por causa do escândalo da Petrobrás e de problemas de articulação política - e que pode piorar, como sugere a resistência da base governista ao ajuste.
COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO
“Seria a chance de provar que, desta vez, não é o chefe da quadrilha”
Deputado Rubens Bueno (PPS-PR) sobre a quebra do sigilo bancário de José Dirceu
Quase 2 milhões pedem impeachment de Dilma
Aproximam-se de 2 milhões de assinaturas a petição pública que pede o impeachment imediato de Dilma Rousseff (PT) da Presidência da República. A petição está no site Avaaz, especializado em petições públicas, que no Brasil é controlado pelo petista Pedro Abramovay, ex-secretário nacional Antidrogas do primeiro governo Dilma. O Avaaz segurou o quanto pôde mas as adesões não param de crescer.
Mobilização
Até o fechamento desta edição, impeachment de Dilma já somavam 1.892.576 assinaturas de cidadãos brasileiros.
Chega da ladroagem
O impeachment de Dilma destina-se a “acabar com a corrupção e desvio de dinheiro público”, segundo justificativa na petição online.
País sucateado
Outros motivos para o impeachment de Dilma no Avazz: “sucateamento da saúde, das estradas, da educação, segurança pública e outros”.
#vemprarua
Marcadas para este domingo de carnaval, manifestações pelo impeachment, em todo o País, devem ser minimizadas pela folia.
Atrasos na Chesf prejudicam o sistema elétrico
Subjugada ao diretor de Engenharia José Ailton, no cargo há 12 anos, a estatal de Chesf mantém atrasadas obras importantes. São os casos das geradoras de energia eólica Lagoa Nova (RN) e Morro do Chapéu (BA), atrasadas mais de um ano. Podem produzir 240 megawatt de energia, suficientes para abastecer uma cidade de 500 mil habitantes, mas não há linhas de transmissão que as interliguem ao sistema.
Boa parceria
Na Chesf, funciona bem a parceria (única) com a empresa Alusa na STN (Sistemas de Transmissão do Nordeste S/A), criada em 2003.
Coincidência
A Alusa não fez mais parcerias desde que deixou de contratar a mulher de José Ailton (Chesf) como diretora. Mas é mera coincidência, claro.
Aparelhou, atrasou
A Chesf “repudia inverdades”, mas não comenta o aparelhamento por petistas de 34 de 53 projetos atrasados de geração e transmissão.
Enquadrou geral
Ao assumir a presidência da Câmara, Eduardo Cunha enquadrou Dilma e o governo, ao afirmar que não receberia o ministro Pepe Vargas (Relações Institucionais). Disse ele: presidente do Poder Legislativo se entende com presidente do Poder Executivo, não com intermediários.
Estabilidade
Quem conhece Dilma diz que, ao menosprezar Pepe Vargas, Eduardo Cunha garantiu a estabilidade do ministro no emprego. Ela tem dito internamente que não aceitará que Cunha demita seus ministros.
Ei, você aí, me dá...
Agora na base governista, o PSD quer mais atenção do governo na liberação de emendas. Seu presidente Guilherme Campos deu o recado ao ministro Pepe Vargas, quarta (11).
Pólo cresce 4,74%
O pólo de Manaus, diz a Suframa, encerrou 2014 com faturamento de R$ 87,2 bilhões (US$ 37 bilhões), garantindo uma média de 122.026 empregos diretos. Em reais, um aumento de 4,74% em relação a 2013.
Tá feia a coisa
O governador Beto Richa (PSDB-PR) foi lembrado nesta quinta (12) nas redes. #ForaBeto chegou a ser o terceiro assunto mais comentado do Twitter. O motivo é o pacotaço de ajustes.
Dois pesos...
Oportunista, a senadora e ex-ministra Gleisi Hoffmann (PT-PR) atacou o pacote fiscal do governo do Paraná, para ser simpática a sindicalistas enfurecidos, mas silenciou sobre o pacote fiscal do governo Dilma.
Oposição em festa
O PSDB está radiante. Toda a briga da oposição no Congresso, nos últimos anos, foi para convocar ministros e emplacar CPI, o que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, matou em uma paulada só.
Toda razão, ministro
Ex-militante da não extradição do terrorista Cesare Battisti, condenado duas vezes à prisão perpétua por quatro assassinatos frios e cruéis, o ministro Luis Barroso (STF), agora diz que se a Itália não extraditar o mensaleiro Henrique Pizzolato seria “impunidade”. Tem toda razão.
Teatro dos horrores
Duas semanas após a posse, o deputado novato Cabo Daciolo (PSOL-RJ) já atestou o que todos sabem: “O Congresso é um teatro mesmo”.
PODER SEM PUDOR
Memória afiada
O senador Áureo Mello passava o Carnaval de 1994 no Rio de Janeiro, na casa da família do poeta J.G. de Araújo Jorge. Certo dia, foi surpreendido pela famosa foto, nos jornais, de Itamar Franco com a modelo Lílian Ramos, no Sambódromo. Ela vestia só uma camiseta, sem nada por baixo.
- Que papelão o Itamar fez na avenida... - comentou um amigo do senador.
Áureo Mello ajeitou os óculos, aproximou o jornal do rosto e pilheriou:
- Meu Deus! Se não me falha a memória, isto aí é a dita cuja.
O senador tinha boa memória.
Deputado Rubens Bueno (PPS-PR) sobre a quebra do sigilo bancário de José Dirceu
Quase 2 milhões pedem impeachment de Dilma
Aproximam-se de 2 milhões de assinaturas a petição pública que pede o impeachment imediato de Dilma Rousseff (PT) da Presidência da República. A petição está no site Avaaz, especializado em petições públicas, que no Brasil é controlado pelo petista Pedro Abramovay, ex-secretário nacional Antidrogas do primeiro governo Dilma. O Avaaz segurou o quanto pôde mas as adesões não param de crescer.
Mobilização
Até o fechamento desta edição, impeachment de Dilma já somavam 1.892.576 assinaturas de cidadãos brasileiros.
Chega da ladroagem
O impeachment de Dilma destina-se a “acabar com a corrupção e desvio de dinheiro público”, segundo justificativa na petição online.
País sucateado
Outros motivos para o impeachment de Dilma no Avazz: “sucateamento da saúde, das estradas, da educação, segurança pública e outros”.
#vemprarua
Marcadas para este domingo de carnaval, manifestações pelo impeachment, em todo o País, devem ser minimizadas pela folia.
Atrasos na Chesf prejudicam o sistema elétrico
Subjugada ao diretor de Engenharia José Ailton, no cargo há 12 anos, a estatal de Chesf mantém atrasadas obras importantes. São os casos das geradoras de energia eólica Lagoa Nova (RN) e Morro do Chapéu (BA), atrasadas mais de um ano. Podem produzir 240 megawatt de energia, suficientes para abastecer uma cidade de 500 mil habitantes, mas não há linhas de transmissão que as interliguem ao sistema.
Boa parceria
Na Chesf, funciona bem a parceria (única) com a empresa Alusa na STN (Sistemas de Transmissão do Nordeste S/A), criada em 2003.
Coincidência
A Alusa não fez mais parcerias desde que deixou de contratar a mulher de José Ailton (Chesf) como diretora. Mas é mera coincidência, claro.
Aparelhou, atrasou
A Chesf “repudia inverdades”, mas não comenta o aparelhamento por petistas de 34 de 53 projetos atrasados de geração e transmissão.
Enquadrou geral
Ao assumir a presidência da Câmara, Eduardo Cunha enquadrou Dilma e o governo, ao afirmar que não receberia o ministro Pepe Vargas (Relações Institucionais). Disse ele: presidente do Poder Legislativo se entende com presidente do Poder Executivo, não com intermediários.
Estabilidade
Quem conhece Dilma diz que, ao menosprezar Pepe Vargas, Eduardo Cunha garantiu a estabilidade do ministro no emprego. Ela tem dito internamente que não aceitará que Cunha demita seus ministros.
Ei, você aí, me dá...
Agora na base governista, o PSD quer mais atenção do governo na liberação de emendas. Seu presidente Guilherme Campos deu o recado ao ministro Pepe Vargas, quarta (11).
Pólo cresce 4,74%
O pólo de Manaus, diz a Suframa, encerrou 2014 com faturamento de R$ 87,2 bilhões (US$ 37 bilhões), garantindo uma média de 122.026 empregos diretos. Em reais, um aumento de 4,74% em relação a 2013.
Tá feia a coisa
O governador Beto Richa (PSDB-PR) foi lembrado nesta quinta (12) nas redes. #ForaBeto chegou a ser o terceiro assunto mais comentado do Twitter. O motivo é o pacotaço de ajustes.
Dois pesos...
Oportunista, a senadora e ex-ministra Gleisi Hoffmann (PT-PR) atacou o pacote fiscal do governo do Paraná, para ser simpática a sindicalistas enfurecidos, mas silenciou sobre o pacote fiscal do governo Dilma.
Oposição em festa
O PSDB está radiante. Toda a briga da oposição no Congresso, nos últimos anos, foi para convocar ministros e emplacar CPI, o que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, matou em uma paulada só.
Toda razão, ministro
Ex-militante da não extradição do terrorista Cesare Battisti, condenado duas vezes à prisão perpétua por quatro assassinatos frios e cruéis, o ministro Luis Barroso (STF), agora diz que se a Itália não extraditar o mensaleiro Henrique Pizzolato seria “impunidade”. Tem toda razão.
Teatro dos horrores
Duas semanas após a posse, o deputado novato Cabo Daciolo (PSOL-RJ) já atestou o que todos sabem: “O Congresso é um teatro mesmo”.
PODER SEM PUDOR
Memória afiada
O senador Áureo Mello passava o Carnaval de 1994 no Rio de Janeiro, na casa da família do poeta J.G. de Araújo Jorge. Certo dia, foi surpreendido pela famosa foto, nos jornais, de Itamar Franco com a modelo Lílian Ramos, no Sambódromo. Ela vestia só uma camiseta, sem nada por baixo.
- Que papelão o Itamar fez na avenida... - comentou um amigo do senador.
Áureo Mello ajeitou os óculos, aproximou o jornal do rosto e pilheriou:
- Meu Deus! Se não me falha a memória, isto aí é a dita cuja.
O senador tinha boa memória.
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