O GLOBO - 01/03
De um sábio da política brasileira tentando explicar a eleição italiana:
– Este Pier Luigi Bersani, da coligação centro-esquerdista, é um ex-comunista, como Roberto Freire. Beppe Grillo, do movimento Cinco Estrelas, é o Tiririca. E o Berlusconi é o Maluf.
Faz sentido.
CALENDÁRIO PAPAL
O anúncio da data do conclave deve ser feito na segunda.
Mas, na Igreja, há a crença de que o escolhido vai celebrar sua primeira missa no Vaticano em 19 de março, após o beija-mão e a despedida de todos os cardeais do conclave.
É QUE...
A data é simbólica. Por ser uma missa festiva, não poderia ser celebrada em qualquer domingo da Quaresma. E dia 19, terça, festeja-se São José, padroeiro de todos os padres.
Além disso, a data é propícia. Os cardeais não podem ficar muito tempo em Roma. Precisam voltar às suas dioceses para celebrar as missas da Semana Santa. Com isso, a eleição do novo papa será em tempo recorde.
FUMAÇA
A Fifa vai proibir que se fume nos estádios da Copa das Confederações e da Copa de 2014, no Brasil.
CBF NO AR
A CBF pretende substituir seu Citation CJ4, da Cessna, por um jatinho da Embraer.
ARTE BRASILEIRA
Dilma janta hoje no Rio na casa do advogado Sérgio Fadel.
Vem a ser o dono de uma grande coleção de arte brasileira, que inclui obras de Guignard, Di Cavalcanti...
MARCAS E PATENTES
A 5ª Câmara Cível do Rio determinou que o banco brasileiro BVA não use mais o seu nome num prazo de 60 dias.
Ele perdeu a queda de braço contra o banco espanhol BBVA pela semelhança entre suas marcas.
Caso desobedeça, a multa diária é de R$ 500 mil.
POXA, TIO SAM!
Um consumidor receberá R$ 10 mil do Walmart por danos morais. A decisão é do desembargador Horácio dos Santos Ribeiro Neto, da 15ª Câmara Cível do Rio.
Raul Garcia comprou três sopas instantâneas e, após almoçar, passou mal.
Ao verificar as embalagens na lixeira, sua mãe constatou que estavam com as validades vencidas.
FILHOS DO CRACK
Marcos Frota, o querido ator que mantém um circo, quer trabalhar com usuários de crack.
Não é fofo?
BOLETIM MÉDICO
Wilson Fittipaldi, 92 anos, patriarca da família de pilotos, está internado no CTI do Copa D’Or, no Rio.
POESIA
O ministro Carlos Ayres Britto já começou a aproveitar seu tempo para se dedicar à literatura.
Vai falar sobre poesia do encerramento oficial da 8ª Feira do Livro de Poços de Caldas e Flipoços 2013, dia 4 de maio. Ariano Suassuna, João Ubaldo Ribeiro, Miriam Leitão e João Paulo Rouanet também confirmaram presença.
VIVA BIBI!
Bibi Ferreira, que festejou ontem seus 72 anos de carreira, é conhecida na França.
Veja só o que o fotógrafo francês Hugues Vassal, o único autorizado a fotografar Édith Piaf nos últimos anos de sua vida, falou sobre a nossa atriz: “Com seu talento arrebatador, carisma e uma imensa trajetória, Bibi é sem dúvida uma das grandes atrizes do mundo e a maior intérprete de outra grande dama, Édith Piaf.
DILMA E CRISTINA
A presidente Dilma e o ministro Antonio Patriota estarão na Argentina na próxima semana. Serão recebidos na Casa Rosada pela presidente Cristina Kirchner.
HOMEM QUE É HOMEM...
Thiago Fragoso, o ator, empresta sua imagem à campanha do Banco Mundial para reforçar a importância da Lei Maria da Penha. Além dele, outras 15 personalidades participam do movimento, que será lançado hoje.
O ALEIJADINHO CARIOCA
A prefeitura lembra hoje os 200 anos da morte de Mestre Valentim (1745-1813), badalando algumas de suas obras pela cidade. Filho de um fidalgo português e de uma escrava africana, o artista mineiro tornou-se um dos maiores expoentes da arte barroca no Rio.
sexta-feira, março 01, 2013
Tropa de elite - VERA MAGALHÃES - PAINEL
FOLHA DE SP - 01/03
Após assumir a candidatura ao governo paulista, Gilberto Kassab investirá na segurança pública, área que mais aflige Geraldo Alckmin. Para discutir medidas de inteligência e combate ao crime organizado, o ex-prefeito convocou o sociólogo Túlio Kahn e o coronel José Vicente da Silva, que trabalharam para gestões tucanas e hoje estão em atrito com o Bandeirantes. A estratégia será testada na segunda-feira: os dois pilotarão seminário do PSD sobre o tema em Brasília.
Paciência Nas conversas que teve nos últimos dias com a cúpula de seu partido, Eduardo Campos demonstrou indignação com Lula, a quem atribui a articulação para rachar o PSB, mas desautorizou antecipar o lançamento de sua candidatura e o desembarque do governo.
Revide A pedido do governador de Pernambuco, o vice-presidente do PSB, Roberto Amaral, que era aguardado na etapa inaugural da caravana de Lula, em Fortaleza, cancelou a participação.
Tudo junto Os organizadores tentaram agendar a ida de Eduardo Campos e de Aécio Neves (PSDB) em dias diferentes ao congresso da APM (Associação Paulista dos Municípios), semana que vem. Mas o pernambucano fez questão de falar logo em seguida ao mineiro, para fazer um "contraponto".
Palco A Rede, de Marina Silva, recorrerá a artistas e celebridades para multiplicar a coleta de assinaturas até outubro. Depois de Gilberto Gil, o compositor Arnaldo Antunes, os atores Marcos Palmeira e Wagner Moura e o estilista Ronaldo Fraga já gravaram depoimentos para o partido.
Barrado O PMDB mudou o local da convenção de amanhã. Após vistoria, os bombeiros vetaram o Hotel Nacional por falta de segurança. A inspeção é exigida pela Presidência da República, já que Dilma Rousseff e Michel Temer estarão presentes. O ato será no auditório Brasil 21.
Me dê motivo A estratégia de transferir a negociação da MP dos Portos para o Congresso só ganhou corpo após líderes ensaiarem rebelião caso as discussões com as centrais sindicais ficassem concentradas na Casa Civil.
Dois em um Além de reduzir o contencioso com o Congresso, a mudança de rota, na visão de parlamentares, tirou a pressão de trabalhadores e empresários do setor da antessala de Dilma.
Contrabando Aprovada ontem no Senado, a medida provisória que desonera a folha de pagamento de 40 setores tem embutida emenda que cria um banco de desenvolvimento para o Centro-Oeste. O trecho deverá ser vetado pela presidente.
Viés de alta Ex-prefeito de Passo Fundo (RS), Airton Dipp entrou na lista de nomes para substituir Brizola Neto no Ministério do Trabalho. Carlos Lupi, presidente do PDT, prefere Manoel Dias.
Desfibrilador Petistas estão contrariados com a exposição dos 33 anos do partido na Câmara, que omitiu 2005, ano do mensalão. "Ressuscitamos o DEM", ironizou um dirigente, referindo-se ao incidente de anteontem.
Fora do ar A TV Câmara preparava debate tratando da "interferência do Judiciário no Legislativo". Um dos participantes seria José Genoíno (PT-SP), condenado no mensalão. Convidado, o líder da minoria, Nilson Leitão (PSDB-MT), declinou.
Road-show Em busca de recursos para obras de infraestrutura estimadas em R$ 6 bilhões, Antonio Anastasia (PSDB) enviou emissários a Nova York. O governador de Minas quer mostrar a investidores projetos de transportes e gestão ambiental.
com FÁBIO ZAMBELI e ANDRÉIA SADI
tiroteio
"Permitir que um campeão em desmatamento e amante da motosserra presida a Comissão de Meio Ambiente do Senado é um escárnio."
DO DEPUTADO FEDERAL IVAN VALENTE (PSOL-SP), criticando a escolha do ex-governador Blairo Maggi (PR-MT) para a presidência do colegiado.
contraponto
Apagão eleitoral
Frank Aguiar (PTB), vice-prefeito de São Bernardo dos Campo, teve encontro com o deputado Campos Machado, presidente estadual petebista, que é seu padrinho de casamento. O cantor, aliado do petista Luiz Marinho, alertou ao colega de partido, que integra a base de apoio a Geraldo Alckmin:
-Qualquer poste ganha a eleição de Alckmin em 2014.
Machado respondeu, pondo fim à conversa:
-Meu querido afilhado, não se esqueça de que não há mais postes disponíveis para disputar a eleição. O estoque se esgotou em 2010 e 2012.
Após assumir a candidatura ao governo paulista, Gilberto Kassab investirá na segurança pública, área que mais aflige Geraldo Alckmin. Para discutir medidas de inteligência e combate ao crime organizado, o ex-prefeito convocou o sociólogo Túlio Kahn e o coronel José Vicente da Silva, que trabalharam para gestões tucanas e hoje estão em atrito com o Bandeirantes. A estratégia será testada na segunda-feira: os dois pilotarão seminário do PSD sobre o tema em Brasília.
Paciência Nas conversas que teve nos últimos dias com a cúpula de seu partido, Eduardo Campos demonstrou indignação com Lula, a quem atribui a articulação para rachar o PSB, mas desautorizou antecipar o lançamento de sua candidatura e o desembarque do governo.
Revide A pedido do governador de Pernambuco, o vice-presidente do PSB, Roberto Amaral, que era aguardado na etapa inaugural da caravana de Lula, em Fortaleza, cancelou a participação.
Tudo junto Os organizadores tentaram agendar a ida de Eduardo Campos e de Aécio Neves (PSDB) em dias diferentes ao congresso da APM (Associação Paulista dos Municípios), semana que vem. Mas o pernambucano fez questão de falar logo em seguida ao mineiro, para fazer um "contraponto".
Palco A Rede, de Marina Silva, recorrerá a artistas e celebridades para multiplicar a coleta de assinaturas até outubro. Depois de Gilberto Gil, o compositor Arnaldo Antunes, os atores Marcos Palmeira e Wagner Moura e o estilista Ronaldo Fraga já gravaram depoimentos para o partido.
Barrado O PMDB mudou o local da convenção de amanhã. Após vistoria, os bombeiros vetaram o Hotel Nacional por falta de segurança. A inspeção é exigida pela Presidência da República, já que Dilma Rousseff e Michel Temer estarão presentes. O ato será no auditório Brasil 21.
Me dê motivo A estratégia de transferir a negociação da MP dos Portos para o Congresso só ganhou corpo após líderes ensaiarem rebelião caso as discussões com as centrais sindicais ficassem concentradas na Casa Civil.
Dois em um Além de reduzir o contencioso com o Congresso, a mudança de rota, na visão de parlamentares, tirou a pressão de trabalhadores e empresários do setor da antessala de Dilma.
Contrabando Aprovada ontem no Senado, a medida provisória que desonera a folha de pagamento de 40 setores tem embutida emenda que cria um banco de desenvolvimento para o Centro-Oeste. O trecho deverá ser vetado pela presidente.
Viés de alta Ex-prefeito de Passo Fundo (RS), Airton Dipp entrou na lista de nomes para substituir Brizola Neto no Ministério do Trabalho. Carlos Lupi, presidente do PDT, prefere Manoel Dias.
Desfibrilador Petistas estão contrariados com a exposição dos 33 anos do partido na Câmara, que omitiu 2005, ano do mensalão. "Ressuscitamos o DEM", ironizou um dirigente, referindo-se ao incidente de anteontem.
Fora do ar A TV Câmara preparava debate tratando da "interferência do Judiciário no Legislativo". Um dos participantes seria José Genoíno (PT-SP), condenado no mensalão. Convidado, o líder da minoria, Nilson Leitão (PSDB-MT), declinou.
Road-show Em busca de recursos para obras de infraestrutura estimadas em R$ 6 bilhões, Antonio Anastasia (PSDB) enviou emissários a Nova York. O governador de Minas quer mostrar a investidores projetos de transportes e gestão ambiental.
com FÁBIO ZAMBELI e ANDRÉIA SADI
tiroteio
"Permitir que um campeão em desmatamento e amante da motosserra presida a Comissão de Meio Ambiente do Senado é um escárnio."
DO DEPUTADO FEDERAL IVAN VALENTE (PSOL-SP), criticando a escolha do ex-governador Blairo Maggi (PR-MT) para a presidência do colegiado.
contraponto
Apagão eleitoral
Frank Aguiar (PTB), vice-prefeito de São Bernardo dos Campo, teve encontro com o deputado Campos Machado, presidente estadual petebista, que é seu padrinho de casamento. O cantor, aliado do petista Luiz Marinho, alertou ao colega de partido, que integra a base de apoio a Geraldo Alckmin:
-Qualquer poste ganha a eleição de Alckmin em 2014.
Machado respondeu, pondo fim à conversa:
-Meu querido afilhado, não se esqueça de que não há mais postes disponíveis para disputar a eleição. O estoque se esgotou em 2010 e 2012.
Lula, aliás Lincoln - EDITORIAL O ESTADÃO
O ESTADO DE S. PAULO - 01/03
Lula deu agora para se comparar com Abraham Lincoln. A maior afinidade com o presidente responsável pela abolição da escravatura nos Estados Unidos, Lula a vê diretamente relacionada com a postura crítica da imprensa em relação a ambos: "Esses dias eu estava lendo o livro do Lincoln. E fiquei impressionado como a imprensa batia no Lincoln em 1860, igualzinho bate em mim". Com seu habitual descompromisso com a seriedade, Lula pretendeu ombrear-se com um dos maiores vultos da História e, ao mesmo tempo, mais uma vez desqualificar o trabalho da imprensa, a quem acusa do imperdoável crime de frequentemente contrariar suas opiniões e interesses. Foi um dos melhores momentos de seu show de meia hora durante as comemorações dos 30 anos da CUT, na última quarta-feira em São Paulo.
Essa nova bravata do Grande Chefe do Partido dos Trabalhadores (PT) não chega a ser novidade. É apenas mais uma a enriquecer a já alentada antologia das melhores pérolas de seu sofisticado pensamento político-filosófico. Novidade é a revelação de que Lula anda lendo livros. Confessou-o explicitamente, em tom de blague, dirigindo-se ao ministro Gilberto Carvalho, que fazia parte da mesa. "Estou lendo muito agora, viu Gilberto? Só do Ricardo Kotscho e do Frei Betto, li mais de 300", exagerou, em simpática referência a dois ex-colaboradores com quem já manteve relações mais estreitas.
Depois de falar mal da imprensa, Lula sugeriu que, diante da "falta de espaço" para as questões de interesse dos assalariados na mídia "conservadora", os sindicatos de trabalhadores se articulem para ampliar e tomar mais eficazes seus próprios meios de comunicação. Uma recomendação um tanto ociosa, pelo menos do que diz respeito à CUT, que dispõe de uma ampla rede de comunicação integrada por uma emissora de televisão, três de rádio, dois sites de notícias, dois jornais e uma revista mensal. Mas o verdadeiro problema não é exatamente a existência ou não de veículos de comunicação abertos às questões de interesse das organizações sindicais, mas o nível de credibilidade e, consequentemente, de audiência e leitura desses veículos.
Na verdade, o que o lulopetismo ambiciona para a consolidação de seu projeto de poder é dispor de mecanismos de controle da grande mídia, dos jornais, revistas e emissoras de rádio e televisão que atingem o grande público e por essa razão têm maior peso na formação de opinião. Por entenderem que a maior parte da grande mídia está comprometida com interesses das "elites" e, por essa razão, é "antidemocrática", o PT e seus aliados à esquerda defendem a criação de mecanismos que permitam a "democratização dos meios de comunicação". Trata-se de um argumento absolutamente falacioso, pela razão óbvia de que, se a grande mídia tivesse realmente o viés que lhe é atribuído pela companheirada, o petismo, que se diz discriminado e perseguido por ela, não venceria três eleições presidenciais consecutivas e não estaria comemorando 10 anos de hegemonia política no plano federal.
Ocorre que o pouco que existe de pensamento político em Lula e seus companheiros está hoje quase todo vinculado estritamente à garantia das vantagens materiais que o poder proporciona. O que vai além disso se deixou impregnar pelo autoritarismo que sustenta regimes como os do Irã, Coreia do Norte e China, no Oriente, e Cuba e as repúblicas "bolivarianas" da Venezuela, Equador, Bolívia e Nicarágua, no Ocidente. Ou seja, as autocracias às quais a diplomacia do governo petista se aliou.
Lula, a bem da verdade, não tem formação marxista - ou qualquer outra. Foi sempre um pragmático, avesso a dogmatismos. Forjado na luta sindical, seu pensamento se resume ao confronto de interesses entre empregados e patrões. O resultado desse pragmatismo é a indigência de valores que, como nunca antes na história deste país, predomina hoje na vida política nacional e tem seu melhor exemplo no nosso desmoralizado Parlamento.
Mas Lula é líder popular consagrado, glória que lhe subiu à cabeça e lhe permite acreditar no que quiser, inclusive que se parece com Abraham Lincoln.
Essa nova bravata do Grande Chefe do Partido dos Trabalhadores (PT) não chega a ser novidade. É apenas mais uma a enriquecer a já alentada antologia das melhores pérolas de seu sofisticado pensamento político-filosófico. Novidade é a revelação de que Lula anda lendo livros. Confessou-o explicitamente, em tom de blague, dirigindo-se ao ministro Gilberto Carvalho, que fazia parte da mesa. "Estou lendo muito agora, viu Gilberto? Só do Ricardo Kotscho e do Frei Betto, li mais de 300", exagerou, em simpática referência a dois ex-colaboradores com quem já manteve relações mais estreitas.
Depois de falar mal da imprensa, Lula sugeriu que, diante da "falta de espaço" para as questões de interesse dos assalariados na mídia "conservadora", os sindicatos de trabalhadores se articulem para ampliar e tomar mais eficazes seus próprios meios de comunicação. Uma recomendação um tanto ociosa, pelo menos do que diz respeito à CUT, que dispõe de uma ampla rede de comunicação integrada por uma emissora de televisão, três de rádio, dois sites de notícias, dois jornais e uma revista mensal. Mas o verdadeiro problema não é exatamente a existência ou não de veículos de comunicação abertos às questões de interesse das organizações sindicais, mas o nível de credibilidade e, consequentemente, de audiência e leitura desses veículos.
Na verdade, o que o lulopetismo ambiciona para a consolidação de seu projeto de poder é dispor de mecanismos de controle da grande mídia, dos jornais, revistas e emissoras de rádio e televisão que atingem o grande público e por essa razão têm maior peso na formação de opinião. Por entenderem que a maior parte da grande mídia está comprometida com interesses das "elites" e, por essa razão, é "antidemocrática", o PT e seus aliados à esquerda defendem a criação de mecanismos que permitam a "democratização dos meios de comunicação". Trata-se de um argumento absolutamente falacioso, pela razão óbvia de que, se a grande mídia tivesse realmente o viés que lhe é atribuído pela companheirada, o petismo, que se diz discriminado e perseguido por ela, não venceria três eleições presidenciais consecutivas e não estaria comemorando 10 anos de hegemonia política no plano federal.
Ocorre que o pouco que existe de pensamento político em Lula e seus companheiros está hoje quase todo vinculado estritamente à garantia das vantagens materiais que o poder proporciona. O que vai além disso se deixou impregnar pelo autoritarismo que sustenta regimes como os do Irã, Coreia do Norte e China, no Oriente, e Cuba e as repúblicas "bolivarianas" da Venezuela, Equador, Bolívia e Nicarágua, no Ocidente. Ou seja, as autocracias às quais a diplomacia do governo petista se aliou.
Lula, a bem da verdade, não tem formação marxista - ou qualquer outra. Foi sempre um pragmático, avesso a dogmatismos. Forjado na luta sindical, seu pensamento se resume ao confronto de interesses entre empregados e patrões. O resultado desse pragmatismo é a indigência de valores que, como nunca antes na história deste país, predomina hoje na vida política nacional e tem seu melhor exemplo no nosso desmoralizado Parlamento.
Mas Lula é líder popular consagrado, glória que lhe subiu à cabeça e lhe permite acreditar no que quiser, inclusive que se parece com Abraham Lincoln.
Timão! Vai uma liminar aí, mano? - JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SP - 01/03
E diz que a Portuguesa exige punição igual à do Corinthians. Pra ter quatro torcedores no estádio!
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto do Planeta da Piada Pronta: "Advogado de acusação boliviano diz que vai provar que o corintiano acusado é inocente". E o advogado de defesa quer provar que o cliente é culpado! Reviravolta no mundo jurídico!
E a manchete do Piauí Herald: "PT apresenta menor de 17 anos como responsável pelo mensalão". A moda do "de menor" pegou!
E agora a maior diversão do brasileiro: zoar com o Corinthians! Adorei Corinthians X Millonarios! Maloqueiros X Milionários! Sem torcida. Portões fechados! "Corinthians vence com apoio de quatro torcedores." Que conseguiram liminar! Torcedor ficha limpa! Rarará!
E o Corinthians já botou à venda 10 mil liminares pro próximo jogo. Vai ter cambista vendendo liminar na porta do estádio! "Vai liminar aí, mano? Dez real!" E qual o problema de jogar sem torcida? O Santos também joga. Aliás, o site CornetaFC mostra o repórter perguntando ao Cássio: "Cássio, como foi jogar sem torcida?". E o Cássio: "Agora eu sei como a torcida do Santos se sente na Vila". Solitários!
E diz que a Portuguesa exige punição igual à do Corinthians. Pra ter quatro torcedores no estádio! E como disse um amigo no Twitter: "Torcida do Botafogo pensa que também foi punida e não comparece ao estádio desde 1907!". Rarará!
E sorte da mãe do juiz que não teve torcida! Aliás, o Galvão devia ter narrado o jogo. Sem torcida, não ia ter aquele famoso coro: "Ei, Galvão, vai tomar no fiofó!". Rarará! E já imaginou aqueles quatro torcedores num estádio vazio? "Pô, mano, não empurra!" "Chega pra lá, caraio, não vê que eu tô apertado?"
E esta: "Lula se compara a Lincoln". Só se for com o Lincoln Town da Ford: bebe muito, faz muito barulho e não anda nada! Rarará!
E antes não era com Napoleão que os maluquetes se comparavam? Lembra daquelas piadas antigas com o louco com a mão dentro do paletó, dizendo: "Eu sou Napoleão!". Rarará!
Aliás, Lula e Lincoln têm um ponto em comum: Lincoln era mensaleiro! Aliás, alguns colunistas escrevem que Lincoln usava de práticas políticas pouco heterodoxas. Tradução: Mensalão! Mensalation! Rarará!
E adorei esta pichação num muro em Araranguá, Santa Catarina: "A morte é uma coisa que acaba com a vida de um cara". Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza! Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
E diz que a Portuguesa exige punição igual à do Corinthians. Pra ter quatro torcedores no estádio!
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto do Planeta da Piada Pronta: "Advogado de acusação boliviano diz que vai provar que o corintiano acusado é inocente". E o advogado de defesa quer provar que o cliente é culpado! Reviravolta no mundo jurídico!
E a manchete do Piauí Herald: "PT apresenta menor de 17 anos como responsável pelo mensalão". A moda do "de menor" pegou!
E agora a maior diversão do brasileiro: zoar com o Corinthians! Adorei Corinthians X Millonarios! Maloqueiros X Milionários! Sem torcida. Portões fechados! "Corinthians vence com apoio de quatro torcedores." Que conseguiram liminar! Torcedor ficha limpa! Rarará!
E o Corinthians já botou à venda 10 mil liminares pro próximo jogo. Vai ter cambista vendendo liminar na porta do estádio! "Vai liminar aí, mano? Dez real!" E qual o problema de jogar sem torcida? O Santos também joga. Aliás, o site CornetaFC mostra o repórter perguntando ao Cássio: "Cássio, como foi jogar sem torcida?". E o Cássio: "Agora eu sei como a torcida do Santos se sente na Vila". Solitários!
E diz que a Portuguesa exige punição igual à do Corinthians. Pra ter quatro torcedores no estádio! E como disse um amigo no Twitter: "Torcida do Botafogo pensa que também foi punida e não comparece ao estádio desde 1907!". Rarará!
E sorte da mãe do juiz que não teve torcida! Aliás, o Galvão devia ter narrado o jogo. Sem torcida, não ia ter aquele famoso coro: "Ei, Galvão, vai tomar no fiofó!". Rarará! E já imaginou aqueles quatro torcedores num estádio vazio? "Pô, mano, não empurra!" "Chega pra lá, caraio, não vê que eu tô apertado?"
E esta: "Lula se compara a Lincoln". Só se for com o Lincoln Town da Ford: bebe muito, faz muito barulho e não anda nada! Rarará!
E antes não era com Napoleão que os maluquetes se comparavam? Lembra daquelas piadas antigas com o louco com a mão dentro do paletó, dizendo: "Eu sou Napoleão!". Rarará!
Aliás, Lula e Lincoln têm um ponto em comum: Lincoln era mensaleiro! Aliás, alguns colunistas escrevem que Lincoln usava de práticas políticas pouco heterodoxas. Tradução: Mensalão! Mensalation! Rarará!
E adorei esta pichação num muro em Araranguá, Santa Catarina: "A morte é uma coisa que acaba com a vida de um cara". Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza! Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
A ex-mulher de James Cameron - BARBARA GANCIA
FOLHA DE SP - 01/03
Por que será que fato de relevância histórica no filme de Bigelow foi totalmente ignorado pela imprensa?
CHEGUEI AO interior da sala de exibição de "A Hora Mais Escura", o filme de Kathryn Bigelow que causou no Oscar, sem saber que seria arrebatada por uma grata surpresa.
Se tenho um defeito é o de viver em descompasso com as novidades. Teria de ser mais antenada para não decepcionar o público, mas a brevidade do dia aliada à minha incapacidade funcional impedem que me mantenha atualizada. Quando vou ao cinema, todo mundo e seu vizinho vêm me contar sobre o filme e comentar o que não quero saber. Vivo para aquele momento de mistério bem no início da sessão, em que o escuro da tela se transforma em espetáculo.
Passou um bom tempo desde o momento em que "A Hora Mais Escura" entrou em cartaz até o dia em que fui assistir ao filme. Nesse ínterim, não teve jeito de fugir da repercussão. Foram vários os assuntos trazidos à tona. Se Bin Laden usou a mulher de escudo, se a história foi contada à risca, mas, sobretudo, se torturador é tudo igual e só muda de endereço.
A gente se lembra como a expressão "Guerra ao Terror" causava ojeriza, inclusive pela conotação mercadológica. Hoje, o distanciamento faz perceber -e o filme mostra- que a terminologia se fazia necessária para que dispositivos legais fossem colocados em prática a fim de driblar a burocracia, agilizar a aprovação de orçamentos exorbitantes e viabilizar interrogatórios, já que leis de exceção só podem ser usadas em períodos de guerra. De que outra forma seria possível lidar com terroristas dispostos a se explodir com toneladas de dinamite amarradas ao corpo? Era uma corrida contra o tempo.
Entre outros, o filme pautou um perfil que li na "Esquire", do oficial da Marinha, o "Navy Seal", que deu os três tiros fatais em Bin Laden. Sujeito está chateado porque jamais será reconhecido publicamente e não levou os US$ 25 milhões da recompensa. Consola-o uma lenga-lenga de ter sido "ungido por Deus" para a missão.
Reportagens sobre o Oscar descreviam "A Hora Mais Escura" como "caçada a Bin Laden". Na visão de dois dos maiores galãs desta nossa Folha, o que chamou atenção foi a tortura. Existirá tortura do bem e do mal? Poderia ser justificada a que serve para salvar uma criança sequestrada? O dilema pode ser instigante. Melhor ainda quando, no papel do torturador, você coloca um Denzel, um Indiana Jones ou o Clint, não? Mas acho que já vi essa versão em DVD...
Outro ser pensante do jornal questiona se um Estado que recorre sistematicamente à tortura merece ser justificado diante de situações que, muitas vezes, ajudou a criar. Bem, eu rebateria perguntando se ele tem automóvel, troca os pneus, anda de avião, possui eletrônicos e faz exames clínicos. Se a resposta for positiva, seu próprio estilo de vida terá fornecido a resposta à sua pergunta.
Agora voltando à grata surpresa sobre o filme de Kathryn Bigelow de que falava lá no começo e a quem chamei de "mulher de James Cameron" -talvez você nem tenha se dado conta, apenas como forma de provocação; a esta altura, é ele quem deveria se apresentar como ex-marido dela.
Em nenhuma crítica ou resumo que eu tenha visto por aí há qualquer menção ao notável fato de que foi uma mulher, uma jovem analista da CIA atuando em seu primeiro emprego, a responsável por encontrar Bin Laden depois de dez anos de busca. Não fosse a bravura e a competência da agente Maya, Bin Laden ainda estaria explodindo civis inocentes pelo mundo. Por que será que o fato, de relevância histórica, não interessou minimamente a ninguém?
Por que será que fato de relevância histórica no filme de Bigelow foi totalmente ignorado pela imprensa?
CHEGUEI AO interior da sala de exibição de "A Hora Mais Escura", o filme de Kathryn Bigelow que causou no Oscar, sem saber que seria arrebatada por uma grata surpresa.
Se tenho um defeito é o de viver em descompasso com as novidades. Teria de ser mais antenada para não decepcionar o público, mas a brevidade do dia aliada à minha incapacidade funcional impedem que me mantenha atualizada. Quando vou ao cinema, todo mundo e seu vizinho vêm me contar sobre o filme e comentar o que não quero saber. Vivo para aquele momento de mistério bem no início da sessão, em que o escuro da tela se transforma em espetáculo.
Passou um bom tempo desde o momento em que "A Hora Mais Escura" entrou em cartaz até o dia em que fui assistir ao filme. Nesse ínterim, não teve jeito de fugir da repercussão. Foram vários os assuntos trazidos à tona. Se Bin Laden usou a mulher de escudo, se a história foi contada à risca, mas, sobretudo, se torturador é tudo igual e só muda de endereço.
A gente se lembra como a expressão "Guerra ao Terror" causava ojeriza, inclusive pela conotação mercadológica. Hoje, o distanciamento faz perceber -e o filme mostra- que a terminologia se fazia necessária para que dispositivos legais fossem colocados em prática a fim de driblar a burocracia, agilizar a aprovação de orçamentos exorbitantes e viabilizar interrogatórios, já que leis de exceção só podem ser usadas em períodos de guerra. De que outra forma seria possível lidar com terroristas dispostos a se explodir com toneladas de dinamite amarradas ao corpo? Era uma corrida contra o tempo.
Entre outros, o filme pautou um perfil que li na "Esquire", do oficial da Marinha, o "Navy Seal", que deu os três tiros fatais em Bin Laden. Sujeito está chateado porque jamais será reconhecido publicamente e não levou os US$ 25 milhões da recompensa. Consola-o uma lenga-lenga de ter sido "ungido por Deus" para a missão.
Reportagens sobre o Oscar descreviam "A Hora Mais Escura" como "caçada a Bin Laden". Na visão de dois dos maiores galãs desta nossa Folha, o que chamou atenção foi a tortura. Existirá tortura do bem e do mal? Poderia ser justificada a que serve para salvar uma criança sequestrada? O dilema pode ser instigante. Melhor ainda quando, no papel do torturador, você coloca um Denzel, um Indiana Jones ou o Clint, não? Mas acho que já vi essa versão em DVD...
Outro ser pensante do jornal questiona se um Estado que recorre sistematicamente à tortura merece ser justificado diante de situações que, muitas vezes, ajudou a criar. Bem, eu rebateria perguntando se ele tem automóvel, troca os pneus, anda de avião, possui eletrônicos e faz exames clínicos. Se a resposta for positiva, seu próprio estilo de vida terá fornecido a resposta à sua pergunta.
Agora voltando à grata surpresa sobre o filme de Kathryn Bigelow de que falava lá no começo e a quem chamei de "mulher de James Cameron" -talvez você nem tenha se dado conta, apenas como forma de provocação; a esta altura, é ele quem deveria se apresentar como ex-marido dela.
Em nenhuma crítica ou resumo que eu tenha visto por aí há qualquer menção ao notável fato de que foi uma mulher, uma jovem analista da CIA atuando em seu primeiro emprego, a responsável por encontrar Bin Laden depois de dez anos de busca. Não fosse a bravura e a competência da agente Maya, Bin Laden ainda estaria explodindo civis inocentes pelo mundo. Por que será que o fato, de relevância histórica, não interessou minimamente a ninguém?
Vizinhos saudáveis - MIRIAM LEITÃO
O GLOBO - 01/03
O PIB fraco de 2012, que será divulgado hoje, não é culpa da crise externa. Outros países da América Latina estão vivendo um bom momento. México, Chile, Colômbia e Peru têm mantido boas taxas de crescimento com inflação baixa. O México bateu recorde de exportação em 2012, quase US$ 370 bilhões, mais de US$ 1 bilhão por dia. O Peru cresce num ritmo de 6% e investe 29% do PIB.A economia mexicana cresceu 3,9% em 2012, com inflação de 3,2% e taxa de desemprego de 5,2%. É o país com a maior corrente de comércio da América Latina. O Chile teve 5,6% de PIB com inflação de 1,8% e desemprego de 6%. Os peruanos ostentam um ritmo de crescimento de 6,5%, depois de crescer 8,8% em 2010 e 6,9% em 2011. Têm inflação de 2,7%. A Colômbia tem decepcionado nos últimos trimestres. O número final de 2012 deve ser de "apenas" 3,4%, depois de uma alta de 5,9% no ano anterior. Tem ainda o trunfo da inflação estar em 2%, o que permite estímulo monetário sem arranhar a reputação do Banco Central.
Na América Latina, há países que estão bem e há países que vão mal. A Venezuela teve crescimento forte no ano passado por causa de um excessivo gasto, mas tem inflação altíssima e desabastecimento. A Argentina também cresceu, mas com vários desajustes, e também uma inflação muito alta.
Mas há outros que crescem com inflação baixa. O que esses países têm que o Brasil não tem? Os economistas acham que eles estão conquistando mais confiança de investidores e estão abertos para o comércio internacional. Isso aumenta o dinamismo das empresas e atrai investimentos e fluxos de capital. Para efeito de comparação, a taxa de investimentos em relação ao PIB chega a 29% no Peru; 27%, na Colômbia e no Chile; e22% no México. No Brasil, está em 18%.
-Eles têm acordos comerciais bilaterais que facilitam investimentos e aumentam a concorrência com as empresas locais. Também têm feito reformas, que visam o crescimento no longo prazo. A Colômbia no final de 2012, mesmo com a desaceleração, fez uma reforma tributária que vai incentivar a formalização. Nenhum desvalorizou a moeda, como fez o Brasil, e isso manteve a inflação baixa mesmo com o choque de alimentos - explicou Luka Machado, economista do Itaú Unibanco.
O México é um caso à parte, porque é uma economia industrializada e não é grande exportador de commodities, como Chile, Peru e Colômbia. Cresceu muito pouco durante os anos 2000 e só voltou a chamar atenção apartir de 2010, quando teve alta de 5,3% no PIB. Segundo estudo da Ernst & Young sobre mercados em rápido crescimento - que também inclui o Brasil - os mexicanos estão voltando aganhar mercado nos Estados Unidos porque o custo do produto chinês está subindo, com a alta dos salários. Eles estão ocupando espaço da China.
Há também outra explicação, segundo o conselheiro comercial da ProMéxico, organismo do governo mexicano que atua no Brasil, Juan Manuel Correa. A crise americana de 2008 forçou os empresários do país a buscarem novos mercados. O México tem mais de 40 acordos comerciais em todo o mundo e seus produtos industriais, por terem os EUA como destino, são bem aceitos em outros países. Eles já têm aprovação em critérios internacionais de embalagens, tecnologia, vigilância sanitária.
Nossas exportações chegaram próximo de US$ 400 bilhões em 2012, mais de US$ 1 bilhão exportado por dia. Recorde. Ao mesmo tempo, a participação dos EUA e do Canadá na exportação caiu de 90% para 78% nos últimos quatro anos. A crise teve esse efeito positivo de se buscar novos mercados. Com a recuperação dos EUA, há um ganho comercial duplo - disse.
A economia peruana é similar à chilena. São países de PIB pequeno, com populações também reduzidas quando se compara com os números brasileiros. Os dois são grandes exportadores de cobre. No Chile, a corrente de comércio representa mais de 70% do PIB. Os dois países são os mais bem colocados da região no ranking do Banco Mundial de facilidade de se fazer negócios. O Chile, numa amostra de 180 países, aparece em 37º lugar, e o Peru, em 43º. A Colômbia vem logo em seguida, em 45º , e o México, em 48º . Na mesma lista, o Brasil vai na rabeira, como 130º.
O jeito errado de explicar o PIB pequeno de 2012 é culpar o mundo; o jeito certo é ver os nossos equívocos.
O PIB fraco de 2012, que será divulgado hoje, não é culpa da crise externa. Outros países da América Latina estão vivendo um bom momento. México, Chile, Colômbia e Peru têm mantido boas taxas de crescimento com inflação baixa. O México bateu recorde de exportação em 2012, quase US$ 370 bilhões, mais de US$ 1 bilhão por dia. O Peru cresce num ritmo de 6% e investe 29% do PIB.A economia mexicana cresceu 3,9% em 2012, com inflação de 3,2% e taxa de desemprego de 5,2%. É o país com a maior corrente de comércio da América Latina. O Chile teve 5,6% de PIB com inflação de 1,8% e desemprego de 6%. Os peruanos ostentam um ritmo de crescimento de 6,5%, depois de crescer 8,8% em 2010 e 6,9% em 2011. Têm inflação de 2,7%. A Colômbia tem decepcionado nos últimos trimestres. O número final de 2012 deve ser de "apenas" 3,4%, depois de uma alta de 5,9% no ano anterior. Tem ainda o trunfo da inflação estar em 2%, o que permite estímulo monetário sem arranhar a reputação do Banco Central.
Na América Latina, há países que estão bem e há países que vão mal. A Venezuela teve crescimento forte no ano passado por causa de um excessivo gasto, mas tem inflação altíssima e desabastecimento. A Argentina também cresceu, mas com vários desajustes, e também uma inflação muito alta.
Mas há outros que crescem com inflação baixa. O que esses países têm que o Brasil não tem? Os economistas acham que eles estão conquistando mais confiança de investidores e estão abertos para o comércio internacional. Isso aumenta o dinamismo das empresas e atrai investimentos e fluxos de capital. Para efeito de comparação, a taxa de investimentos em relação ao PIB chega a 29% no Peru; 27%, na Colômbia e no Chile; e22% no México. No Brasil, está em 18%.
-Eles têm acordos comerciais bilaterais que facilitam investimentos e aumentam a concorrência com as empresas locais. Também têm feito reformas, que visam o crescimento no longo prazo. A Colômbia no final de 2012, mesmo com a desaceleração, fez uma reforma tributária que vai incentivar a formalização. Nenhum desvalorizou a moeda, como fez o Brasil, e isso manteve a inflação baixa mesmo com o choque de alimentos - explicou Luka Machado, economista do Itaú Unibanco.
O México é um caso à parte, porque é uma economia industrializada e não é grande exportador de commodities, como Chile, Peru e Colômbia. Cresceu muito pouco durante os anos 2000 e só voltou a chamar atenção apartir de 2010, quando teve alta de 5,3% no PIB. Segundo estudo da Ernst & Young sobre mercados em rápido crescimento - que também inclui o Brasil - os mexicanos estão voltando aganhar mercado nos Estados Unidos porque o custo do produto chinês está subindo, com a alta dos salários. Eles estão ocupando espaço da China.
Há também outra explicação, segundo o conselheiro comercial da ProMéxico, organismo do governo mexicano que atua no Brasil, Juan Manuel Correa. A crise americana de 2008 forçou os empresários do país a buscarem novos mercados. O México tem mais de 40 acordos comerciais em todo o mundo e seus produtos industriais, por terem os EUA como destino, são bem aceitos em outros países. Eles já têm aprovação em critérios internacionais de embalagens, tecnologia, vigilância sanitária.
Nossas exportações chegaram próximo de US$ 400 bilhões em 2012, mais de US$ 1 bilhão exportado por dia. Recorde. Ao mesmo tempo, a participação dos EUA e do Canadá na exportação caiu de 90% para 78% nos últimos quatro anos. A crise teve esse efeito positivo de se buscar novos mercados. Com a recuperação dos EUA, há um ganho comercial duplo - disse.
A economia peruana é similar à chilena. São países de PIB pequeno, com populações também reduzidas quando se compara com os números brasileiros. Os dois são grandes exportadores de cobre. No Chile, a corrente de comércio representa mais de 70% do PIB. Os dois países são os mais bem colocados da região no ranking do Banco Mundial de facilidade de se fazer negócios. O Chile, numa amostra de 180 países, aparece em 37º lugar, e o Peru, em 43º. A Colômbia vem logo em seguida, em 45º , e o México, em 48º . Na mesma lista, o Brasil vai na rabeira, como 130º.
O jeito errado de explicar o PIB pequeno de 2012 é culpar o mundo; o jeito certo é ver os nossos equívocos.
Esteira de eufemismos - HÉLIO SCHWARTSMAN
FOLHA DE SP - 01/03
SÃO PAULO - Como minha caixa de mensagens continua atulhada de e-mails a propósito da polêmica homossexualismo x homossexualidade, resolvi dedicar mais uma coluna ao tema. Prometo que é a última.
Não tenho nada contra a variante homossexualidade e me disponho a adotá-la tão logo os militantes parem de denegrir o sufixo "-ismo", que, ao contrário de "-astro", não encerra nada de pejorativo. Acredito, porém, que essa substituição de nomes é, muito provavelmente, um exercício fadado ao fracasso.
O pressuposto do patrulhamento linguístico é o de que palavras insidiosamente moldam atitudes, o que torna necessário manter vigilância constante contra formas sutis de ofensa. Embora haja nas humanidades quem ainda sustente essa tese, ela foi já há muito abandonada pelas ciências cognitivas. Nesse modelo, o que ocorre é exatamente o contrário. São as ideias das pessoas, incluindo seus preconceitos, que influenciam a linguagem, originando o fenômeno que o psicólogo Steven Pinker apelidou de "esteira de eufemismos".
A palavra "alcoólatra", por exemplo, foi proposta no início do século 20 para substituir "bêbado" e seus sinônimos mais vulgares, com o objetivo de reduzir um pouco a carga negativa que pesava contra essas pessoas. É óbvio, porém, que a permuta de nomes não fez com que os alcoólatras parassem de beber, de modo que o novo termo logo foi contaminado pelas mesmas mazelas que o fizeram surgir. Em pouco tempo, foi trocado por "etilista", "alcoólico", "dependente químico". A lista é aberta.
Algo parecido aconteceu com o "de cor", que substituiu "crioulo", para depois dar lugar a "preto", "negro" e "afro-brasileiro".
Pinker diz que a esteira de eufemismos é a melhor prova de que são os conceitos -e não as palavras- que estão no comando. Em vez de combater nomes, deveríamos nos concentrar nas atitudes, que são, afinal, o que se deseja mudar.
SÃO PAULO - Como minha caixa de mensagens continua atulhada de e-mails a propósito da polêmica homossexualismo x homossexualidade, resolvi dedicar mais uma coluna ao tema. Prometo que é a última.
Não tenho nada contra a variante homossexualidade e me disponho a adotá-la tão logo os militantes parem de denegrir o sufixo "-ismo", que, ao contrário de "-astro", não encerra nada de pejorativo. Acredito, porém, que essa substituição de nomes é, muito provavelmente, um exercício fadado ao fracasso.
O pressuposto do patrulhamento linguístico é o de que palavras insidiosamente moldam atitudes, o que torna necessário manter vigilância constante contra formas sutis de ofensa. Embora haja nas humanidades quem ainda sustente essa tese, ela foi já há muito abandonada pelas ciências cognitivas. Nesse modelo, o que ocorre é exatamente o contrário. São as ideias das pessoas, incluindo seus preconceitos, que influenciam a linguagem, originando o fenômeno que o psicólogo Steven Pinker apelidou de "esteira de eufemismos".
A palavra "alcoólatra", por exemplo, foi proposta no início do século 20 para substituir "bêbado" e seus sinônimos mais vulgares, com o objetivo de reduzir um pouco a carga negativa que pesava contra essas pessoas. É óbvio, porém, que a permuta de nomes não fez com que os alcoólatras parassem de beber, de modo que o novo termo logo foi contaminado pelas mesmas mazelas que o fizeram surgir. Em pouco tempo, foi trocado por "etilista", "alcoólico", "dependente químico". A lista é aberta.
Algo parecido aconteceu com o "de cor", que substituiu "crioulo", para depois dar lugar a "preto", "negro" e "afro-brasileiro".
Pinker diz que a esteira de eufemismos é a melhor prova de que são os conceitos -e não as palavras- que estão no comando. Em vez de combater nomes, deveríamos nos concentrar nas atitudes, que são, afinal, o que se deseja mudar.
Os papéis da Petrobras - RODOLFO LANDIM
FOLHA DE SP - 01/03
Poder contar com os mais importantes ministros no seu conselho é certamente um privilégio
Um assunto constantemente debatido é o nível aceitável de influência do Estado na administração de empresas estatais, em especial na Petrobras. As opiniões variam de um polo ao outro, exemplos dos mais distintos são apresentados na defesa ou no ataque às decisões tomadas e comparações são feitas ao desempenho de companhias privadas atuando no mesmo setor.
No entanto, uma análise histórica das mudanças que influenciaram os rumos da companhia pode nos ajudar a contextualizar e entender o real papel que a sociedade lhe destinou.
A primeira descoberta de petróleo no Brasil só ocorreu em 1939, na Bahia. A ela se seguiram anos mais tarde movimentos da sociedade na luta pelo monopólio do Estado para exploração e produção de petróleo, ocorridos em meados do século passado, que culminaram com a criação da Petrobras.
Na realidade, a luta pelo monopólio no Brasil ocorreu simultaneamente a um processo mundial de nacionalização de companhias petrolíferas detentoras de grandes reservas. O Brasil ainda tinha poucas reservas, mas os ventos que sopraram lá fora também sopraram por aqui. E, por muitos anos, sequer pensar em ter qualquer outra companhia explorando no Brasil era quase um sacrilégio.
Em 1988, quando da discussão da nova Constituição Brasileira, o monopólio estatal do petróleo foi confirmado através de uma votação das mais expressivas e os nossos representantes no Congresso Nacional mantiveram ainda a Petrobras como a única empresa autorizada a operá-lo em nome da União.
No entanto, apenas um ano mais tarde, após a queda do Muro de Berlim e todas as transformações ocorridas no cenário mundial, surgiram as discussões sobre a redução do papel do Estado na economia e a abertura do setor para o investimento privado.
Em 1995, foi aprovada uma emenda constitucional retirando da Petrobras o monopólio de exploração e produção, algo que foi regulamentado com a Lei do Petróleo, em 1997. O país vivia uma onda de privatizações, mas por ter sido o setor do petróleo considerado estratégico, ficou estabelecido que era do interesse nacional permanecer com a Petrobras como companhia operadora, controlada pela União, e atuando em regime de concorrência com as demais empresas do setor.
É difícil imaginar que, sendo o setor do petróleo tão importante para o desenvolvimento do país e tendo o governo o controle sobre essa importante máquina, o poder dele advindo não seja utilizado para alcançar aquilo que na sua visão seja o melhor para o país.
Por exemplo, a situação de derivados de petróleo sendo vendidos no mercado a preços inferiores ou até mesmo superiores aos praticados no exterior, obviamente expurgando-se os efeitos dos impostos, é algo que ocorreu por diversas vezes na história da companhia, tanto antes como após a quebra do monopólio.
Isso certamente contraria o que seria de se esperar de uma empresa privada, mas foi esse o caminho que a nossa sociedade escolheu.
É importante ressaltar que os efeitos do controle estatal não são apenas negativos. Após a crise econômica de 2008, as companhias viveram dias muito difíceis em todo o mundo em função do enxugamento do crédito e poucos se lembram que a Petrobras teve acesso a dezenas de bilhões de reais em empréstimos do BNDES e de outros bancos estatais, algo que suas competidoras internacionais não tiveram de bancos e governos de seus países.
Além disso, poder contar com os mais importantes ministros do país no seu conselho de administração e tê-los uma vez por mês nas suas instalações como ouvintes atentos das explanações feitas sob o ponto de vista da companhia é certamente um privilégio.
Mas o mercado de capitais premia a ortodoxia administrativa, desdenha de justificativas estratégicas e pune qualquer decisão que não tenha lógica financeira.
A convivência com empresas estatais tende mesmo a ser conturbada e o valor de mercado delas acaba sempre recebendo um desconto em função disso.
Ponderar objetivos de política pública e de desenvolvimento empresarial é mesmo um mandato complexo.
Poder contar com os mais importantes ministros no seu conselho é certamente um privilégio
Um assunto constantemente debatido é o nível aceitável de influência do Estado na administração de empresas estatais, em especial na Petrobras. As opiniões variam de um polo ao outro, exemplos dos mais distintos são apresentados na defesa ou no ataque às decisões tomadas e comparações são feitas ao desempenho de companhias privadas atuando no mesmo setor.
No entanto, uma análise histórica das mudanças que influenciaram os rumos da companhia pode nos ajudar a contextualizar e entender o real papel que a sociedade lhe destinou.
A primeira descoberta de petróleo no Brasil só ocorreu em 1939, na Bahia. A ela se seguiram anos mais tarde movimentos da sociedade na luta pelo monopólio do Estado para exploração e produção de petróleo, ocorridos em meados do século passado, que culminaram com a criação da Petrobras.
Na realidade, a luta pelo monopólio no Brasil ocorreu simultaneamente a um processo mundial de nacionalização de companhias petrolíferas detentoras de grandes reservas. O Brasil ainda tinha poucas reservas, mas os ventos que sopraram lá fora também sopraram por aqui. E, por muitos anos, sequer pensar em ter qualquer outra companhia explorando no Brasil era quase um sacrilégio.
Em 1988, quando da discussão da nova Constituição Brasileira, o monopólio estatal do petróleo foi confirmado através de uma votação das mais expressivas e os nossos representantes no Congresso Nacional mantiveram ainda a Petrobras como a única empresa autorizada a operá-lo em nome da União.
No entanto, apenas um ano mais tarde, após a queda do Muro de Berlim e todas as transformações ocorridas no cenário mundial, surgiram as discussões sobre a redução do papel do Estado na economia e a abertura do setor para o investimento privado.
Em 1995, foi aprovada uma emenda constitucional retirando da Petrobras o monopólio de exploração e produção, algo que foi regulamentado com a Lei do Petróleo, em 1997. O país vivia uma onda de privatizações, mas por ter sido o setor do petróleo considerado estratégico, ficou estabelecido que era do interesse nacional permanecer com a Petrobras como companhia operadora, controlada pela União, e atuando em regime de concorrência com as demais empresas do setor.
É difícil imaginar que, sendo o setor do petróleo tão importante para o desenvolvimento do país e tendo o governo o controle sobre essa importante máquina, o poder dele advindo não seja utilizado para alcançar aquilo que na sua visão seja o melhor para o país.
Por exemplo, a situação de derivados de petróleo sendo vendidos no mercado a preços inferiores ou até mesmo superiores aos praticados no exterior, obviamente expurgando-se os efeitos dos impostos, é algo que ocorreu por diversas vezes na história da companhia, tanto antes como após a quebra do monopólio.
Isso certamente contraria o que seria de se esperar de uma empresa privada, mas foi esse o caminho que a nossa sociedade escolheu.
É importante ressaltar que os efeitos do controle estatal não são apenas negativos. Após a crise econômica de 2008, as companhias viveram dias muito difíceis em todo o mundo em função do enxugamento do crédito e poucos se lembram que a Petrobras teve acesso a dezenas de bilhões de reais em empréstimos do BNDES e de outros bancos estatais, algo que suas competidoras internacionais não tiveram de bancos e governos de seus países.
Além disso, poder contar com os mais importantes ministros do país no seu conselho de administração e tê-los uma vez por mês nas suas instalações como ouvintes atentos das explanações feitas sob o ponto de vista da companhia é certamente um privilégio.
Mas o mercado de capitais premia a ortodoxia administrativa, desdenha de justificativas estratégicas e pune qualquer decisão que não tenha lógica financeira.
A convivência com empresas estatais tende mesmo a ser conturbada e o valor de mercado delas acaba sempre recebendo um desconto em função disso.
Ponderar objetivos de política pública e de desenvolvimento empresarial é mesmo um mandato complexo.
A hora do investimento - CELSO MING
O ESTADO DE S. PAULO - 01/03
Desta vez, há movimentos importantes e de grande alcance colocados em marcha pelo governo Dilma.
A principal iniciativa da hora é um programa de investimentos da ordem de US$ 235 bilhões nas áreas de transportes e de energia, para o qual o governo está mobilizando a iniciativa privada daqui e do exterior.
Um tanto tarde, mas ainda a tempo, o governo acordou para a necessidade de acionar o investimento. Até recentemente, entendera que a prioridade se restringia a criar e transferir renda para a área de consumo. O resultado foi uma forte elevação das importações, de 144% em apenas seis anos, e o esvaziamento da indústria.
Na prática, como cuidou só da demanda e não da oferta, o governo transferiu mercado para o exterior.
O aumento dos custos e a perda de competitividade do setor produtivo interno desestimularam os investimentos em aumento da capacidade.
O segundo movimento importante do governo Dilma foi ter-se dado conta de que o Tesouro Nacional é um limão espremido que não dispõe de recursos suficientes para enfrentar a enorme demanda de investimentos em serviços de infraestrutura e logística - como portos, aeroportos, rodovias, ferrovias, armazéns gerais, etc.
Não sobrou saída senão apelar para capitais e parcerias com o setor privado. É uma opção que quebra paradigmas. A primeira dessas rupturas foi ter confiado ao setor privado o desenvolvimento e a administração de serviços públicos, prática que até recentemente vinha sendo considerada "privataria disfarçada", portanto inaceitável, pelo Partido dos Trabalhadores no governo.
A segunda foi admitir que as concessões públicas ao setor privado para a produção de serviços de alto padrão não poderiam ser tabeladas em níveis insignificantes. As primeiras incursões do governo Dilma nesse campo implicaram o tabelamento a valores baixos da remuneração das atividades econômicas contratadas nos regimes de concessão. O secretário do Tesouro, Arno Augustin, por exemplo, argumentava então que o lucro das concessionárias não deveria ser superior a 6%, por remunerar atividades de risco zero. O resultado foi o baixo interesse despertado pelas licitações, que o governo tenta agora reverter.
Essa mudança de atitude tem potencial para se transformar na grande virada do governo Dilma. Mas impõe conseqüências. Uma delas é a renúncia a políticas de cunho populista. A Petrobrás, por exemplo, jamais garantirá parcerias para suas refinarias, como ainda ontem pediu o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, enquanto persistir em vigor a política de achatamento dos preços dos combustíveis.
A outra é ter de lidar, como já começa a acontecer, com corporações alimentadas com privilégios e "reservas de mercado de trabalho". É o caso dos portuários. Em nome próprio ou no jogo de outros interesses comerciais, julgam-se no direito de bloquear a expansão e a modernização do setor.
Um terceiro efeito consiste em definir regras consistentes de jogo e assegurar que sejam cumpridas. Para isso, será necessário recuperar o prestígio e a isenção das tarefas das agências reguladoras que, a partir do governo Lula, passaram a ser instituições vulneráveis ao contexto político de ocasião.
Desta vez, há movimentos importantes e de grande alcance colocados em marcha pelo governo Dilma.
A principal iniciativa da hora é um programa de investimentos da ordem de US$ 235 bilhões nas áreas de transportes e de energia, para o qual o governo está mobilizando a iniciativa privada daqui e do exterior.
Um tanto tarde, mas ainda a tempo, o governo acordou para a necessidade de acionar o investimento. Até recentemente, entendera que a prioridade se restringia a criar e transferir renda para a área de consumo. O resultado foi uma forte elevação das importações, de 144% em apenas seis anos, e o esvaziamento da indústria.
Na prática, como cuidou só da demanda e não da oferta, o governo transferiu mercado para o exterior.
O aumento dos custos e a perda de competitividade do setor produtivo interno desestimularam os investimentos em aumento da capacidade.
O segundo movimento importante do governo Dilma foi ter-se dado conta de que o Tesouro Nacional é um limão espremido que não dispõe de recursos suficientes para enfrentar a enorme demanda de investimentos em serviços de infraestrutura e logística - como portos, aeroportos, rodovias, ferrovias, armazéns gerais, etc.
Não sobrou saída senão apelar para capitais e parcerias com o setor privado. É uma opção que quebra paradigmas. A primeira dessas rupturas foi ter confiado ao setor privado o desenvolvimento e a administração de serviços públicos, prática que até recentemente vinha sendo considerada "privataria disfarçada", portanto inaceitável, pelo Partido dos Trabalhadores no governo.
A segunda foi admitir que as concessões públicas ao setor privado para a produção de serviços de alto padrão não poderiam ser tabeladas em níveis insignificantes. As primeiras incursões do governo Dilma nesse campo implicaram o tabelamento a valores baixos da remuneração das atividades econômicas contratadas nos regimes de concessão. O secretário do Tesouro, Arno Augustin, por exemplo, argumentava então que o lucro das concessionárias não deveria ser superior a 6%, por remunerar atividades de risco zero. O resultado foi o baixo interesse despertado pelas licitações, que o governo tenta agora reverter.
Essa mudança de atitude tem potencial para se transformar na grande virada do governo Dilma. Mas impõe conseqüências. Uma delas é a renúncia a políticas de cunho populista. A Petrobrás, por exemplo, jamais garantirá parcerias para suas refinarias, como ainda ontem pediu o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, enquanto persistir em vigor a política de achatamento dos preços dos combustíveis.
A outra é ter de lidar, como já começa a acontecer, com corporações alimentadas com privilégios e "reservas de mercado de trabalho". É o caso dos portuários. Em nome próprio ou no jogo de outros interesses comerciais, julgam-se no direito de bloquear a expansão e a modernização do setor.
Um terceiro efeito consiste em definir regras consistentes de jogo e assegurar que sejam cumpridas. Para isso, será necessário recuperar o prestígio e a isenção das tarefas das agências reguladoras que, a partir do governo Lula, passaram a ser instituições vulneráveis ao contexto político de ocasião.
A vingança do Grilo Falante - NELSON MOTTA
O GLOBO - 01/03
Grillo não é um Tiririca, é inteligente e informado, anárquico e desbocado. O ideólogo é o pensador Casaleggio. Nada será como antes no país de Dante
No clássico infantil de Carlo Collodi, o Grilo Falante é a consciência de Pinóquio, que o adverte, aconselha e incomoda, mas o boneco mentiroso não o ouve e prefere a companhia de raposas felpudas e gatos gatunos. Infantil? Parece mais uma profecia metafórica da tsunami que devastou os políticos e partidos mentirosos e gatunos nas eleições italianas, quando o Movimento Cinco Estrelas, fundado pelo comediante Beppe Grillo, conquistou 25% dos votos e fez 109 deputados e 54 senadores.
Grillo recusou o financiamento público legal, não foi a nenhum debate na televisão, não deu entrevistas e fez toda a campanha pelas redes sociais, percorrendo o país num trailer emprestado e lotando as praças em grandes manifestações contra os políticos e partidos. Não aceitou doações de empresas, só individuais, e fez a campanha mais barata da história. O M5E se diz um não partido e não tem sede física nem assembleias, é tudo na nuvem digital. As decisões e candidaturas são votadas on-line pelos militantes sem qualquer hierarquia.
Os homens e mulheres eleitos pelo Cinco Estrelas são de todas as classes sociais e regiões, têm idade média de 37 anos e nenhuma experiencia política. No Parlamento, querem o tratamento de “cidadão” e não de “honorável”, porque os políticos mentirosos e gatunos o desmoralizaram. Não exigem cargos nem participação em ministérios e estatais, mas ficha limpa e concursos públicos.
Não se sabe o que os “grilos” farão no Parlamento, mas com certeza não vão se aliar a nenhuma coalizão partidária, no máximo votarão as propostas caso a caso, como independentes. Grillo não é um Tiririca, é inteligente e informado, anárquico e desbocado, como um mix de Bussunda e Rafinha Bastos. O cofundador e ideólogo do movimento é o pensador Gianroberto Casaleggio, um dos maiores estrategistas da internet na Itália.
O irônico é que os grandes partidos de centro-esquerda e de centro-direita, com medo das ruas, encerraram suas campanhas em teatros, o palco dos comediantes, enquanto o cômico levava multidões ao delírio nas praças, território dos políticos. Nada será como antes no país de Dante.
Grillo não é um Tiririca, é inteligente e informado, anárquico e desbocado. O ideólogo é o pensador Casaleggio. Nada será como antes no país de Dante
No clássico infantil de Carlo Collodi, o Grilo Falante é a consciência de Pinóquio, que o adverte, aconselha e incomoda, mas o boneco mentiroso não o ouve e prefere a companhia de raposas felpudas e gatos gatunos. Infantil? Parece mais uma profecia metafórica da tsunami que devastou os políticos e partidos mentirosos e gatunos nas eleições italianas, quando o Movimento Cinco Estrelas, fundado pelo comediante Beppe Grillo, conquistou 25% dos votos e fez 109 deputados e 54 senadores.
Grillo recusou o financiamento público legal, não foi a nenhum debate na televisão, não deu entrevistas e fez toda a campanha pelas redes sociais, percorrendo o país num trailer emprestado e lotando as praças em grandes manifestações contra os políticos e partidos. Não aceitou doações de empresas, só individuais, e fez a campanha mais barata da história. O M5E se diz um não partido e não tem sede física nem assembleias, é tudo na nuvem digital. As decisões e candidaturas são votadas on-line pelos militantes sem qualquer hierarquia.
Os homens e mulheres eleitos pelo Cinco Estrelas são de todas as classes sociais e regiões, têm idade média de 37 anos e nenhuma experiencia política. No Parlamento, querem o tratamento de “cidadão” e não de “honorável”, porque os políticos mentirosos e gatunos o desmoralizaram. Não exigem cargos nem participação em ministérios e estatais, mas ficha limpa e concursos públicos.
Não se sabe o que os “grilos” farão no Parlamento, mas com certeza não vão se aliar a nenhuma coalizão partidária, no máximo votarão as propostas caso a caso, como independentes. Grillo não é um Tiririca, é inteligente e informado, anárquico e desbocado, como um mix de Bussunda e Rafinha Bastos. O cofundador e ideólogo do movimento é o pensador Gianroberto Casaleggio, um dos maiores estrategistas da internet na Itália.
O irônico é que os grandes partidos de centro-esquerda e de centro-direita, com medo das ruas, encerraram suas campanhas em teatros, o palco dos comediantes, enquanto o cômico levava multidões ao delírio nas praças, território dos políticos. Nada será como antes no país de Dante.
Os ricos estão mais vulneráveis - MOISÉS NAÍM
FOLHA DE SP - 01/03
Situação dos ricos e dos responsáveis por grandes empresas já não é tão cômoda quanto era antes
Sabemos que a crise econômica está gerando muita pobreza. E que a desigualdade econômica se aprofundou em muitos países.
Estas realidades, contudo, ocultam outra tendência mundial importante: as grandes empresas e seus diretores estão perdendo poder. Isso é difícil de acreditar, em tempos de tanta e tão justificada indignação diante de uma crise provocada principalmente por empresários irresponsáveis ou desonestos.
Obviamente, as elites econômicas mundiais continuam em muito boa situação. Mas é um erro supor que não estejam ocorrendo transformações profundas nos altos níveis do poder empresarial.
De acordo com Emmanuel Sáez, da Universidade da Califórnia, as pessoas que formam o 1% de renda mais alta nos Estados Unidos perderam 36% de sua receita em decorrência da crise, enquanto os outros 99% perderam 11,6%.
Em 2012, 441 das 1.000 pessoas mais ricas do mundo que constam na lista da "Forbes" sofreram uma perda de patrimônio.
É evidente que uma perda de 11% na renda de uma família que a duras penas consegue chegar ao fim do mês é uma catástrofe, enquanto a perda de um terço da renda de quem ganha mais não o é. Mas o fato é que hoje os ricos estão em situação menos segura que antes.
E não apenas no que diz respeito à sua renda -seus empregos agora também estão menos seguros.
A permanência de um alto diretor em seu cargo, nos Estados Unidos, caiu pela metade desde os anos 1990 -de dez para cinco anos. Em 2011, 14% dos responsáveis máximos das 2.500 maiores empresas do mundo deixaram seus cargos involuntariamente.
A mesma coisa se dá com as próprias empresas. Um estudo de Diego Comin e Thomas Philippon mostrou que, em 1980, uma empresa dos EUA que estivesse entre as 20% superiores de seu setor apresentava risco de apenas 10% de ficar fora desse nível nos cinco anos subsequentes. Duas décadas depois, essa probabilidade chegou a 25%.
Outro risco que vem aumentando muito para as grandes empresas e seus diretores é o de sofrer um acidente que arruíne sua reputação.
Uma pesquisa da Oxford Metrica constatou que as empresas que são donas das marcas mais famosas do mundo têm, num período de cinco anos, 82% de probabilidade de sofrerem um acidente que reduza drasticamente o valor de sua marca. Duas décadas atrás, essa probabilidade era de apenas 20%.
O que tudo isso significa? Não quer dizer que o poder econômico esteja desaparecendo nem muito menos que sua capacidade de influir sobre políticos e governantes esteja se reduzindo.
Significa, sim, que a situação dos mais ricos e dos responsáveis pelas grandes empresas já não é tão cômoda, segura e permanente quanto era antes.
Como muitos outros tipos de poder (político, militar, religioso, cultural), o econômico agora é mais fácil de conquistar, mas mais difícil de exercer e mais fácil de perder.
E essa é uma boa notícia.
Situação dos ricos e dos responsáveis por grandes empresas já não é tão cômoda quanto era antes
Sabemos que a crise econômica está gerando muita pobreza. E que a desigualdade econômica se aprofundou em muitos países.
Estas realidades, contudo, ocultam outra tendência mundial importante: as grandes empresas e seus diretores estão perdendo poder. Isso é difícil de acreditar, em tempos de tanta e tão justificada indignação diante de uma crise provocada principalmente por empresários irresponsáveis ou desonestos.
Obviamente, as elites econômicas mundiais continuam em muito boa situação. Mas é um erro supor que não estejam ocorrendo transformações profundas nos altos níveis do poder empresarial.
De acordo com Emmanuel Sáez, da Universidade da Califórnia, as pessoas que formam o 1% de renda mais alta nos Estados Unidos perderam 36% de sua receita em decorrência da crise, enquanto os outros 99% perderam 11,6%.
Em 2012, 441 das 1.000 pessoas mais ricas do mundo que constam na lista da "Forbes" sofreram uma perda de patrimônio.
É evidente que uma perda de 11% na renda de uma família que a duras penas consegue chegar ao fim do mês é uma catástrofe, enquanto a perda de um terço da renda de quem ganha mais não o é. Mas o fato é que hoje os ricos estão em situação menos segura que antes.
E não apenas no que diz respeito à sua renda -seus empregos agora também estão menos seguros.
A permanência de um alto diretor em seu cargo, nos Estados Unidos, caiu pela metade desde os anos 1990 -de dez para cinco anos. Em 2011, 14% dos responsáveis máximos das 2.500 maiores empresas do mundo deixaram seus cargos involuntariamente.
A mesma coisa se dá com as próprias empresas. Um estudo de Diego Comin e Thomas Philippon mostrou que, em 1980, uma empresa dos EUA que estivesse entre as 20% superiores de seu setor apresentava risco de apenas 10% de ficar fora desse nível nos cinco anos subsequentes. Duas décadas depois, essa probabilidade chegou a 25%.
Outro risco que vem aumentando muito para as grandes empresas e seus diretores é o de sofrer um acidente que arruíne sua reputação.
Uma pesquisa da Oxford Metrica constatou que as empresas que são donas das marcas mais famosas do mundo têm, num período de cinco anos, 82% de probabilidade de sofrerem um acidente que reduza drasticamente o valor de sua marca. Duas décadas atrás, essa probabilidade era de apenas 20%.
O que tudo isso significa? Não quer dizer que o poder econômico esteja desaparecendo nem muito menos que sua capacidade de influir sobre políticos e governantes esteja se reduzindo.
Significa, sim, que a situação dos mais ricos e dos responsáveis pelas grandes empresas já não é tão cômoda, segura e permanente quanto era antes.
Como muitos outros tipos de poder (político, militar, religioso, cultural), o econômico agora é mais fácil de conquistar, mas mais difícil de exercer e mais fácil de perder.
E essa é uma boa notícia.
O vale-tudo que vem por aí - ROGÉRIO FURQUIM WERNECK
O GLOBO - 01/03
Um ano antes do esperado, foi dada a largada da disputa pela sucessão presidencial. A mobilização prematura com a eleição de 2014 deverá aumentar em muito as dificuldades que já vêm marcando a condução da política econômica no País. Em vez de um ano de campanha presidencial a cada quatro, a política econômica vem tendo de lidar com um biênio eleitoral a cada dois.
No último governo, houve antecipação similar. Às voltas com a crise mundial e com o enorme desafio de eleger uma sucessora sem experiência eleitoral prévia, o presidente Lula decidiu começar cedo. Lançou sua candidata com muita antecedência. E atravessou 2009 já em frenético clima de campanha eleitoral.
Reeleger a presidente não parece um desafio tão grande como o de 2010. Mas, garantida, a reeleição ainda não está. O desempenho do governo vem deixando a desejar, a economia continua rateando e é bem provável que a base aliada chegue a 2014 seriamente desfalcada.
Tendo tudo isso em conta, Lula decidiu que o mais prudente seria deflagrar desde já a campanha da reeleição. A antecipação ajudaria a esvaziar os rumores de que o PT, preocupado com os riscos da reeleição, estaria considerando um Plano B para 2014. E, por outro lado, obrigaria as forças políticas mais propensas a abandonar o barco governista a decidir logo se vão ou se ficam, sem esperar para ver o que vai acontecer com a economia em 2013.
Na divisão de trabalho que se estabeleceu, o ex-presidente Lula se encarregará da complexa montagem da coalizão política que dará respaldo à reeleição. E a presidente ficará com as mãos livres para tentar melhorar o desempenho da economia e afastar de vez os temores que ainda mantêm vivo o espectro do Plano B.
Que efeitos terá a antecipação da disputa eleitoral sobre a condução da política econômica? É bom não ter ilusões. A política econômica está fadada a se tornar ainda menos sóbria, mais imediatista e mais improvisada do que já vem sendo há algum tempo. O principal desafio da presidente é mostrar ao PT e ao País uma expansão do PIB em 2013 que caracterize, de forma inequívoca, superação do regime de crescimento entravado dos últimos dois anos. E o Planalto parece disposto a apostar o que for necessário na consecução desse objetivo.
Isso significa que a economia deve atravessar 2013 sob as tensões de uma política de estímulo à demanda que deixará a inflação sob permanente pressão. No script eleitoral que passou a pautar a política econômica, é difícil ver como o Banco Central poderá receber luz verde do Planalto para atuar na contramão do estímulo à demanda, impondo novo ciclo de elevação da taxa de juros.
Tudo indica que a contenção de danos do lado da inflação será feita de forma bem mais primitiva. E que o governo não relutará em fazer uso cada vez mais intenso de intervenções diretas na formação de preços de mais peso no IPCA. Tanto nas medidas de estímulo à demanda agregada como na política de administração do índice de preços, o vale-tudo deverá ser o nome do jogo, como bem ilustram dois exemplos concretos.
Cético sobre sua capacidade de desentravar a tempo o investimento público na esfera federal, o governo está empenhado em relaxar de todas as formas as restrições orçamentárias de Estados e municípios, para que possam ampliar em grande medida seus dispêndios, sem maiores preocupações com a preservação de regras que vinham assegurando a sustentabilidade fiscal dos governos subnacionais.
Tendo em vista a precariedade da oferta de energia elétrica, as usinas térmicas deverão ser mantidas em operação por muitos meses. Em condições normais, isso deveria implicar repasse do aumento de custo de geração de energia aos consumidores. Para evitar que isso ocorra, o governo quer que o Tesouro arque com os custos das térmicas ou, pelo menos, financie as distribuidoras para que o repasse do aumento de custo aos consumidores seja suavemente diluído no tempo.
São duas iniciativas emblemáticas que dão bem ideia do que vem por aí.
Um ano antes do esperado, foi dada a largada da disputa pela sucessão presidencial. A mobilização prematura com a eleição de 2014 deverá aumentar em muito as dificuldades que já vêm marcando a condução da política econômica no País. Em vez de um ano de campanha presidencial a cada quatro, a política econômica vem tendo de lidar com um biênio eleitoral a cada dois.
No último governo, houve antecipação similar. Às voltas com a crise mundial e com o enorme desafio de eleger uma sucessora sem experiência eleitoral prévia, o presidente Lula decidiu começar cedo. Lançou sua candidata com muita antecedência. E atravessou 2009 já em frenético clima de campanha eleitoral.
Reeleger a presidente não parece um desafio tão grande como o de 2010. Mas, garantida, a reeleição ainda não está. O desempenho do governo vem deixando a desejar, a economia continua rateando e é bem provável que a base aliada chegue a 2014 seriamente desfalcada.
Tendo tudo isso em conta, Lula decidiu que o mais prudente seria deflagrar desde já a campanha da reeleição. A antecipação ajudaria a esvaziar os rumores de que o PT, preocupado com os riscos da reeleição, estaria considerando um Plano B para 2014. E, por outro lado, obrigaria as forças políticas mais propensas a abandonar o barco governista a decidir logo se vão ou se ficam, sem esperar para ver o que vai acontecer com a economia em 2013.
Na divisão de trabalho que se estabeleceu, o ex-presidente Lula se encarregará da complexa montagem da coalizão política que dará respaldo à reeleição. E a presidente ficará com as mãos livres para tentar melhorar o desempenho da economia e afastar de vez os temores que ainda mantêm vivo o espectro do Plano B.
Que efeitos terá a antecipação da disputa eleitoral sobre a condução da política econômica? É bom não ter ilusões. A política econômica está fadada a se tornar ainda menos sóbria, mais imediatista e mais improvisada do que já vem sendo há algum tempo. O principal desafio da presidente é mostrar ao PT e ao País uma expansão do PIB em 2013 que caracterize, de forma inequívoca, superação do regime de crescimento entravado dos últimos dois anos. E o Planalto parece disposto a apostar o que for necessário na consecução desse objetivo.
Isso significa que a economia deve atravessar 2013 sob as tensões de uma política de estímulo à demanda que deixará a inflação sob permanente pressão. No script eleitoral que passou a pautar a política econômica, é difícil ver como o Banco Central poderá receber luz verde do Planalto para atuar na contramão do estímulo à demanda, impondo novo ciclo de elevação da taxa de juros.
Tudo indica que a contenção de danos do lado da inflação será feita de forma bem mais primitiva. E que o governo não relutará em fazer uso cada vez mais intenso de intervenções diretas na formação de preços de mais peso no IPCA. Tanto nas medidas de estímulo à demanda agregada como na política de administração do índice de preços, o vale-tudo deverá ser o nome do jogo, como bem ilustram dois exemplos concretos.
Cético sobre sua capacidade de desentravar a tempo o investimento público na esfera federal, o governo está empenhado em relaxar de todas as formas as restrições orçamentárias de Estados e municípios, para que possam ampliar em grande medida seus dispêndios, sem maiores preocupações com a preservação de regras que vinham assegurando a sustentabilidade fiscal dos governos subnacionais.
Tendo em vista a precariedade da oferta de energia elétrica, as usinas térmicas deverão ser mantidas em operação por muitos meses. Em condições normais, isso deveria implicar repasse do aumento de custo de geração de energia aos consumidores. Para evitar que isso ocorra, o governo quer que o Tesouro arque com os custos das térmicas ou, pelo menos, financie as distribuidoras para que o repasse do aumento de custo aos consumidores seja suavemente diluído no tempo.
São duas iniciativas emblemáticas que dão bem ideia do que vem por aí.
Alternativas - MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 01/03
Um comentário feito ontem pelo ministro Joaquim Barbosa, presidente do Supremo Tribunal Federal(STF), durante entrevista a correspondentes estrangeiros, escancara uma porta para ilações sobre uma eventual candidatura sua à Presidência da República, possibilidade que volta e meia surge como especulação nos meios políticos.
Seguindo a trilha aberta pela, esta, sim, provável candidata à sucessão de Dilma, a ex-senadora Marina Silva, o presidente do Supremo disse que "a sociedade está cansada dos políticos tradicionais, dos políticos profissionais. Nós temos parlamentares aí que estão há 30, 40 anos no Congresso, ininterruptamente. E aqui ninguém jamais pensou em estabelecer term limit (limite ao número de mandatos)'.
Se pecou pela generalização da tese, pois existem parlamentares que estão no Congresso há 30, 40 anos prestando serviços relevantes ao país (dois exemplos seriam o deputado federal do PDT Miro Teixeira e o senador do PMDB Pedro Simon), mostrou-se afinado com uma tendência crescente na opinião pública, a que rejeita os "políticos profissionais' e quer pessoas na política que não estejam comprometidas com os hábitos e costumes criticáveis de nossa classe política.
No lançamento de meu livro "Mensalão' na terça-feira no Rio, não foram poucas as pessoas que me perguntaram se os condenados iriam para a cadeia e se Barbosa aceitaria ser candidato à Presidência da República. Ontem Barbosa respondeu à primeira pergunta, garantindo que as penas começarão a ser cumpridas ainda em julho deste ano, e deixou no ar a possibilidade de vir a ser uma opção aos "políticos tradicionais”
Um senhor me mostrou no seu iPad uma foto de Joaquim Barbosa em Trancoso, onde passou o fim de semana para um festival internacional de música clássica, dizendo que ele fora ovacionado pela plateia. E o escritor e teatrólogo Roberto Athayde me disse que esperava que Barbosa se apresentasse justamente por não ter nada a ver com os atuais políticos ou partidos. Caso contrário, mostrou-se disposto a apoiar a ex-senadora Marina Silva, por ver nela a tentativa de mudar o perfil de atuação política no país.
O presidente do Supremo, ao dizer que considera "baixíssimas” as penas dos condenados, fruto de um sistema penal "fraco” ecoa a maioria da opinião pública, ainda mais quando afirmou que o processo do mensalão "apontou um caminho correto para a Justiça brasileira e pode encorajar outros juízes a condenar políticos corruptos”
A ex-senadora Marina Silva também tem a ideia de limitar o número de mandatos dos futuros representantes de seu partido a ser criado, e por enquanto é quem encarna, com maior probabilidade de se tornar uma realidade política, a alternativa aos "políticos profissionais'! Joaquim Barbosa, por ter sido o relator do processo do mensalão e, agora, da presidência do Supremo, liderar a tentativa de apressar a execução das penas, continua sendo a representação, para a opinião pública, da Justiça que cumpre o seu papel.
Por seu espírito aguerrido, Barbosa não deixa pergunta sem resposta e é incisivo, mesmo quando suas palavras podem provocar problemas políticos. Ontem mesmo, ao comentar a questão dos vetos presidenciais, disse que o Congresso, ao não votá-los, dá a impressão de que não tem capacidade de cumprir suas funções, o que, convenhamos, soa como uma intervenção indevida.
A confrontação entre o Judiciário e o Legislativo a respeito da cassação dos mandatos dos deputados condenados no processo do mensalão, que parecia superada, pode voltar à pauta do dia com essa declaração do presidente do Supremo, e essa é uma das razões por que dificilmente Joaquim Barbosa poderia vir a ser candidato à Presidência da República. As negociações partidárias seriam extremamente difíceis com um candidato tão irascível quanto ele.
Mas é também essa falta de traquejo político e sua fala sem papas na língua que o fazem um potencial candidato daqueles que já estão fartos da politicagem.
Um comentário feito ontem pelo ministro Joaquim Barbosa, presidente do Supremo Tribunal Federal(STF), durante entrevista a correspondentes estrangeiros, escancara uma porta para ilações sobre uma eventual candidatura sua à Presidência da República, possibilidade que volta e meia surge como especulação nos meios políticos.
Seguindo a trilha aberta pela, esta, sim, provável candidata à sucessão de Dilma, a ex-senadora Marina Silva, o presidente do Supremo disse que "a sociedade está cansada dos políticos tradicionais, dos políticos profissionais. Nós temos parlamentares aí que estão há 30, 40 anos no Congresso, ininterruptamente. E aqui ninguém jamais pensou em estabelecer term limit (limite ao número de mandatos)'.
Se pecou pela generalização da tese, pois existem parlamentares que estão no Congresso há 30, 40 anos prestando serviços relevantes ao país (dois exemplos seriam o deputado federal do PDT Miro Teixeira e o senador do PMDB Pedro Simon), mostrou-se afinado com uma tendência crescente na opinião pública, a que rejeita os "políticos profissionais' e quer pessoas na política que não estejam comprometidas com os hábitos e costumes criticáveis de nossa classe política.
No lançamento de meu livro "Mensalão' na terça-feira no Rio, não foram poucas as pessoas que me perguntaram se os condenados iriam para a cadeia e se Barbosa aceitaria ser candidato à Presidência da República. Ontem Barbosa respondeu à primeira pergunta, garantindo que as penas começarão a ser cumpridas ainda em julho deste ano, e deixou no ar a possibilidade de vir a ser uma opção aos "políticos tradicionais”
Um senhor me mostrou no seu iPad uma foto de Joaquim Barbosa em Trancoso, onde passou o fim de semana para um festival internacional de música clássica, dizendo que ele fora ovacionado pela plateia. E o escritor e teatrólogo Roberto Athayde me disse que esperava que Barbosa se apresentasse justamente por não ter nada a ver com os atuais políticos ou partidos. Caso contrário, mostrou-se disposto a apoiar a ex-senadora Marina Silva, por ver nela a tentativa de mudar o perfil de atuação política no país.
O presidente do Supremo, ao dizer que considera "baixíssimas” as penas dos condenados, fruto de um sistema penal "fraco” ecoa a maioria da opinião pública, ainda mais quando afirmou que o processo do mensalão "apontou um caminho correto para a Justiça brasileira e pode encorajar outros juízes a condenar políticos corruptos”
A ex-senadora Marina Silva também tem a ideia de limitar o número de mandatos dos futuros representantes de seu partido a ser criado, e por enquanto é quem encarna, com maior probabilidade de se tornar uma realidade política, a alternativa aos "políticos profissionais'! Joaquim Barbosa, por ter sido o relator do processo do mensalão e, agora, da presidência do Supremo, liderar a tentativa de apressar a execução das penas, continua sendo a representação, para a opinião pública, da Justiça que cumpre o seu papel.
Por seu espírito aguerrido, Barbosa não deixa pergunta sem resposta e é incisivo, mesmo quando suas palavras podem provocar problemas políticos. Ontem mesmo, ao comentar a questão dos vetos presidenciais, disse que o Congresso, ao não votá-los, dá a impressão de que não tem capacidade de cumprir suas funções, o que, convenhamos, soa como uma intervenção indevida.
A confrontação entre o Judiciário e o Legislativo a respeito da cassação dos mandatos dos deputados condenados no processo do mensalão, que parecia superada, pode voltar à pauta do dia com essa declaração do presidente do Supremo, e essa é uma das razões por que dificilmente Joaquim Barbosa poderia vir a ser candidato à Presidência da República. As negociações partidárias seriam extremamente difíceis com um candidato tão irascível quanto ele.
Mas é também essa falta de traquejo político e sua fala sem papas na língua que o fazem um potencial candidato daqueles que já estão fartos da politicagem.
Ocupação de terreno - DORA KRAMER
O ESTADO DE S. PAULO - 01/03
Quando antecipou o início da campanha eleitoral de 2010 para 2008, o então presidente Luiz Inácio da Silva precisava do tempo como aliado para "construir" Dilma Rousseff.
Para o projeto de reeleição da presidente isso não é mais necessário; oficialmente ela é a protagonista da cena política.
Tampouco Lula necessita de projeção, caso mais adiante decida se candidatar mais uma vez. Hipótese hoje negada - até para que não se antecipe junto com a campanha, na prática, o fim do mandato Dilma - mas sempre uma possibilidade se essa for a maneira mais segura de manter unida a tropa dos hoje aliados.
Ele cumpre, assim, um papel que a presidente da República não poderia desempenhar com a mesma desenvoltura.
Precavido, o ex-presidente iniciou ontem, com uma pré-estreia estratégica no Rio para falar aos operários das obras de reforma do Maracanã, um périplo pelo País ao molde das caravanas dos anos 90 para preparar o terreno para as eleições presidenciais.
Até 18 de maio vai percorrer pelo menos 10 Estados, o que significa exposição garantida no noticiário político, presença junto ao eleitorado de cada canto do Brasil e "amarração" das alianças regionais antes que o adversário lance mão de uma parte delas.
O roteiro prevê três paradas politicamente importantes: nesta semana no Ceará governado por Cid Gomes, do PSB, onde o irmão mais famoso dele, Giro, acaba de criticar o presidente do partido, Eduardo Campos. Que, segundo ele, não tem "estrada" para governar o País e, além disso, precisa abrir mão dos cargos federais antes de pensar em se contrapor ao PT no plano nacional.
Assim como faz a oposição quando vê na possível candidatura de Campos uma chance de inserir uma cunha na base governista, Lula semeia a cizânia no PSB.
A outra parada, em 14 de abril, será em Minas Gerais, terra do pretendente do PSDB, Aécio Neves, e a terceira em 15 de maio, no Rio, onde PMDB e PT começam a se estranhar seriamente. Ambos - escolhidos não por acaso - são os maiores colégios eleitorais depois de São Paulo.
Em termos de alianças, nada é garantido por enquanto, mas Lula faz o que pode: trabalha para não precipitar brigas e rupturas entre os partidos aliados do governo, um dos efeitos colaterais negativos da antecipação da campanha eleitoral.
À margem. O Supremo Tribunal Federal derrubou a decisão liminar do ministro Luiz Fux que obriga o Congresso a examinar, em ordem cronológica, os vetos presidenciais acumulados há 13 anos.
Não quis intrometer-se em questões "interna corporis". Muito bem, mas em algum momento o STF, na condição de guardião da Constituição, vai ter de se manifestar sobre o fato de o Parlamento ignorar solenemente o preceito que manda os vetos serem votados em 30 dias, sob pena do trancamento da pauta.
Não adianta nada os congressistas cortarem um pouco da gordura que abunda naquele ambiente para fazer um carinho na opinião pública se é o primeiro a viver na ilegalidade. Continua em dívida com o País.
O processo legislativo, cumpre lembrar, não se encerra com a aprovação de projetos e emendas. Quando há vetos, só se completa com a derrubada ou manutenção da manifestação do chefe do Executivo.
Dinheiro na mão. Em qualquer País onde o Orçamento federal fosse para valer, a primeira e mais evidente consequência da não aprovação seria a suspensão do pagamento do funcionalismo.
Valesse a regra, o Congresso não se daria ao desfrute de encerrar o ano legislativo sem aprovar o Orçamento do ano seguinte. Sob pena de arriscar-se a ver o que é bom para tosse em matéria de protesto contra a inércia.
Candidatura de Lula é sempre uma possibilidade, pois é a forma segura de unir aliados.
Para o projeto de reeleição da presidente isso não é mais necessário; oficialmente ela é a protagonista da cena política.
Tampouco Lula necessita de projeção, caso mais adiante decida se candidatar mais uma vez. Hipótese hoje negada - até para que não se antecipe junto com a campanha, na prática, o fim do mandato Dilma - mas sempre uma possibilidade se essa for a maneira mais segura de manter unida a tropa dos hoje aliados.
Ele cumpre, assim, um papel que a presidente da República não poderia desempenhar com a mesma desenvoltura.
Precavido, o ex-presidente iniciou ontem, com uma pré-estreia estratégica no Rio para falar aos operários das obras de reforma do Maracanã, um périplo pelo País ao molde das caravanas dos anos 90 para preparar o terreno para as eleições presidenciais.
Até 18 de maio vai percorrer pelo menos 10 Estados, o que significa exposição garantida no noticiário político, presença junto ao eleitorado de cada canto do Brasil e "amarração" das alianças regionais antes que o adversário lance mão de uma parte delas.
O roteiro prevê três paradas politicamente importantes: nesta semana no Ceará governado por Cid Gomes, do PSB, onde o irmão mais famoso dele, Giro, acaba de criticar o presidente do partido, Eduardo Campos. Que, segundo ele, não tem "estrada" para governar o País e, além disso, precisa abrir mão dos cargos federais antes de pensar em se contrapor ao PT no plano nacional.
Assim como faz a oposição quando vê na possível candidatura de Campos uma chance de inserir uma cunha na base governista, Lula semeia a cizânia no PSB.
A outra parada, em 14 de abril, será em Minas Gerais, terra do pretendente do PSDB, Aécio Neves, e a terceira em 15 de maio, no Rio, onde PMDB e PT começam a se estranhar seriamente. Ambos - escolhidos não por acaso - são os maiores colégios eleitorais depois de São Paulo.
Em termos de alianças, nada é garantido por enquanto, mas Lula faz o que pode: trabalha para não precipitar brigas e rupturas entre os partidos aliados do governo, um dos efeitos colaterais negativos da antecipação da campanha eleitoral.
À margem. O Supremo Tribunal Federal derrubou a decisão liminar do ministro Luiz Fux que obriga o Congresso a examinar, em ordem cronológica, os vetos presidenciais acumulados há 13 anos.
Não quis intrometer-se em questões "interna corporis". Muito bem, mas em algum momento o STF, na condição de guardião da Constituição, vai ter de se manifestar sobre o fato de o Parlamento ignorar solenemente o preceito que manda os vetos serem votados em 30 dias, sob pena do trancamento da pauta.
Não adianta nada os congressistas cortarem um pouco da gordura que abunda naquele ambiente para fazer um carinho na opinião pública se é o primeiro a viver na ilegalidade. Continua em dívida com o País.
O processo legislativo, cumpre lembrar, não se encerra com a aprovação de projetos e emendas. Quando há vetos, só se completa com a derrubada ou manutenção da manifestação do chefe do Executivo.
Dinheiro na mão. Em qualquer País onde o Orçamento federal fosse para valer, a primeira e mais evidente consequência da não aprovação seria a suspensão do pagamento do funcionalismo.
Valesse a regra, o Congresso não se daria ao desfrute de encerrar o ano legislativo sem aprovar o Orçamento do ano seguinte. Sob pena de arriscar-se a ver o que é bom para tosse em matéria de protesto contra a inércia.
Candidatura de Lula é sempre uma possibilidade, pois é a forma segura de unir aliados.
A miséria da superação - CRISTOVAM BUARQUE
FOLHA DE SP - 01/03
Dilma corrompe o dicionário e cria a grave ilusão de que se pode erradicar a penúria sem garantir estruturas que impeçam o retrocesso
A presidenta Dilma Rousseff anunciou que, nos últimos anos, cerca de 22 milhões de brasileiros superaram a miséria. Os números podem estar certos, mas o conceito de superação está errado. Superar é saltar, uma conotação muito diferente do que suspender provisoriamente uma condição.
A realidade é que 22 milhões de brasileiros passaram a receber, a partir de 2011, o valor de R$ 70 mensais por transferência de renda. Essas transferências representam um raro gesto de generosidade da parcela rica para os pobres do Brasil.
É certo que essa generosidade já estava presente no gesto do governo do presidente Emílio Garrastazu Médici, no regime militar, com a criação da Previdência Social Rural/Prorural, em 1971. Podemos citar também a criação da Bolsa-Escola no Distrito Federal e em Campinas, em 1995. A ampliação deste programa, em 2001, pelo governo de Fernando Henrique Cardoso, para 4 milhões de famílias beneficiadas, só fez crescer a generosidade.
Mas foi o presidente Lula quem deu o salto para 12 milhões de famílias, ao colocar o programa como centro de sua política social, reunindo no Bolsa Família todos os programas de assistência social do governo federal. A presidenta Dilma não apenas ampliou o número de beneficiados, como complementou a rede de proteção social com os programas Brasil sem Miséria (2011) e Brasil Carinhoso (2012).
Graças a isso, o número de famílias em condições de penúria extrema, de desnutrição crônica, diminuiu substancialmente nos últimos 20 anos.
Primeiro, cabe observar que os 22 milhões de brasileiros que são apresentados como tendo superado a miséria recebem R$ 70 por mês. Isso equivale a R$ 2,34 por dia para uma família de cinco pessoas ou 1,4 pão por dia para cada um dos membros. Não são mais os retirantes que a fome expulsava de suas terras por comida, mas ainda não é possível afirmar que saíram da miséria.
Bastaria uma inflação de 8% ao ano para que, em quatro anos, os atuais R$ 70, sem reajuste, passassem a valer R$ 51,45, o que não compraria nem mesmo um pão por dia para cada membro da família.
Segundo, é grave a ilusão de que a miséria pode ser superada sem se assegurar a estrutura que permita o salto sem volta. Mesmo com a renda do Bolsa Família, os beneficiados permanecerão na mesma situação social. Continuarão sendo cidadãos sem educação, sem esgoto, sem água potável e sem condições de empregabilidade. Isso não é superação.
Terceiro, apesar de mitigar o sofrimento, o programa Bolsa Família não abre a porta de saída da extrema pobreza, não abole a miséria nem provoca um salto social sem retrocesso. Embora o governo não informe, há grande possibilidade de que alguns dos atuais pais beneficiados pelo Bolsa Família tenham sido crianças de famílias com a bolsa.
Cria-se um círculo que nega totalmente o conceito de superação aplicado aos resultados obtidos. Prova disso é que o governo comemora o aumento do número dos que recebem o Bolsa Família. Não comemora, no entanto, a redução do número dos que necessitam da transferência de renda do governo para compensar o que a estrutura social e econômica não faz para superar a miséria de forma sustentável, com mudanças estruturais e escola de qualidade para todas as crianças.
Ao dizer que houve superação da miséria, a presidenta corrompe o dicionário. Cria a ilusão que pode acomodar o espírito de solidariedade transformadora de que o país precisa. Todos sonham com a superação da miséria, não com o conceito de superação empobrecido.
Dilma corrompe o dicionário e cria a grave ilusão de que se pode erradicar a penúria sem garantir estruturas que impeçam o retrocesso
A presidenta Dilma Rousseff anunciou que, nos últimos anos, cerca de 22 milhões de brasileiros superaram a miséria. Os números podem estar certos, mas o conceito de superação está errado. Superar é saltar, uma conotação muito diferente do que suspender provisoriamente uma condição.
A realidade é que 22 milhões de brasileiros passaram a receber, a partir de 2011, o valor de R$ 70 mensais por transferência de renda. Essas transferências representam um raro gesto de generosidade da parcela rica para os pobres do Brasil.
É certo que essa generosidade já estava presente no gesto do governo do presidente Emílio Garrastazu Médici, no regime militar, com a criação da Previdência Social Rural/Prorural, em 1971. Podemos citar também a criação da Bolsa-Escola no Distrito Federal e em Campinas, em 1995. A ampliação deste programa, em 2001, pelo governo de Fernando Henrique Cardoso, para 4 milhões de famílias beneficiadas, só fez crescer a generosidade.
Mas foi o presidente Lula quem deu o salto para 12 milhões de famílias, ao colocar o programa como centro de sua política social, reunindo no Bolsa Família todos os programas de assistência social do governo federal. A presidenta Dilma não apenas ampliou o número de beneficiados, como complementou a rede de proteção social com os programas Brasil sem Miséria (2011) e Brasil Carinhoso (2012).
Graças a isso, o número de famílias em condições de penúria extrema, de desnutrição crônica, diminuiu substancialmente nos últimos 20 anos.
Primeiro, cabe observar que os 22 milhões de brasileiros que são apresentados como tendo superado a miséria recebem R$ 70 por mês. Isso equivale a R$ 2,34 por dia para uma família de cinco pessoas ou 1,4 pão por dia para cada um dos membros. Não são mais os retirantes que a fome expulsava de suas terras por comida, mas ainda não é possível afirmar que saíram da miséria.
Bastaria uma inflação de 8% ao ano para que, em quatro anos, os atuais R$ 70, sem reajuste, passassem a valer R$ 51,45, o que não compraria nem mesmo um pão por dia para cada membro da família.
Segundo, é grave a ilusão de que a miséria pode ser superada sem se assegurar a estrutura que permita o salto sem volta. Mesmo com a renda do Bolsa Família, os beneficiados permanecerão na mesma situação social. Continuarão sendo cidadãos sem educação, sem esgoto, sem água potável e sem condições de empregabilidade. Isso não é superação.
Terceiro, apesar de mitigar o sofrimento, o programa Bolsa Família não abre a porta de saída da extrema pobreza, não abole a miséria nem provoca um salto social sem retrocesso. Embora o governo não informe, há grande possibilidade de que alguns dos atuais pais beneficiados pelo Bolsa Família tenham sido crianças de famílias com a bolsa.
Cria-se um círculo que nega totalmente o conceito de superação aplicado aos resultados obtidos. Prova disso é que o governo comemora o aumento do número dos que recebem o Bolsa Família. Não comemora, no entanto, a redução do número dos que necessitam da transferência de renda do governo para compensar o que a estrutura social e econômica não faz para superar a miséria de forma sustentável, com mudanças estruturais e escola de qualidade para todas as crianças.
Ao dizer que houve superação da miséria, a presidenta corrompe o dicionário. Cria a ilusão que pode acomodar o espírito de solidariedade transformadora de que o país precisa. Todos sonham com a superação da miséria, não com o conceito de superação empobrecido.
Um vai, outro racha - ELIANE CANTANHÊDE
FOLHA DE SP - 01/03
BRASÍLIA - Dilma age para unir o PMDB e rachar o PSB. A diferença fundamental é que o PMDB, maior partido brasileiro, não tem alternativa senão se pendurar em Dilma, mas o PSB, de porte médio, tem um candidato potencial à Presidência.
Na mesma semana, Dilma recebeu o governador Cid Gomes (CE), adversário do pré-candidato Eduardo Campos no PSB, e prestigia duas vezes o PMDB: deu uma passadinha no jantar das estrelas peemedebistas, na quarta-feira, e vai até discursar na convenção nacional do partido, amanhã, ratificando que a vaga de vice é de Michel Temer e ninguém tasca.
Cid Gomes é aquele que leva a sogra para passar o Carnaval em Paris com dinheiro público, diz-se que está comprando um jatinho bilionário para o governo do Ceará (ou para chamar de seu) e acaba de pagar um cachê de R$ 650 mil para Ivete Sangalo na inauguração de um hospital que nem pronto para funcionar estava.
Apesar desses probleminhas, o governador e seu irmão, Ciro Gomes, são os artilheiros de Dilma para atacar a candidatura de Campos no PSB. Presidenciável de si mesmo, Ciro fez um "strike", ao acusar todos os adversários de Dilma -o tucano Aécio, a "sonhática" Marina e o próprio correligionário Campos- de não terem nenhuma proposta para o país.
Ato contínuo, Dilma -a única preservada no boliche descontrolado de Ciro- teve uma conversa promissora com Cid. Mais ou menos assim: Ciro joga álcool, Cid leva o fósforo e Dilma o acende. Eduardo Campos parece cada vez mais candidato, mas o PSB está em chamas.
Já no profissional PMDB, Temer, Sarney, Renan, Henrique Alves, ministros e governadores seguem o lema de que a união faz a força e sabem se defender.
Se Lula articulava substituir Temer por Campos na reeleição, não deve articular mais. Nem o PSB quis nem o PMDB cedeu. E Dilma precisa do PMDB, como o PMDB precisa de Dilma. Entre os dois, o menos perigoso é o PSB. Aliás, meio PSB.
BRASÍLIA - Dilma age para unir o PMDB e rachar o PSB. A diferença fundamental é que o PMDB, maior partido brasileiro, não tem alternativa senão se pendurar em Dilma, mas o PSB, de porte médio, tem um candidato potencial à Presidência.
Na mesma semana, Dilma recebeu o governador Cid Gomes (CE), adversário do pré-candidato Eduardo Campos no PSB, e prestigia duas vezes o PMDB: deu uma passadinha no jantar das estrelas peemedebistas, na quarta-feira, e vai até discursar na convenção nacional do partido, amanhã, ratificando que a vaga de vice é de Michel Temer e ninguém tasca.
Cid Gomes é aquele que leva a sogra para passar o Carnaval em Paris com dinheiro público, diz-se que está comprando um jatinho bilionário para o governo do Ceará (ou para chamar de seu) e acaba de pagar um cachê de R$ 650 mil para Ivete Sangalo na inauguração de um hospital que nem pronto para funcionar estava.
Apesar desses probleminhas, o governador e seu irmão, Ciro Gomes, são os artilheiros de Dilma para atacar a candidatura de Campos no PSB. Presidenciável de si mesmo, Ciro fez um "strike", ao acusar todos os adversários de Dilma -o tucano Aécio, a "sonhática" Marina e o próprio correligionário Campos- de não terem nenhuma proposta para o país.
Ato contínuo, Dilma -a única preservada no boliche descontrolado de Ciro- teve uma conversa promissora com Cid. Mais ou menos assim: Ciro joga álcool, Cid leva o fósforo e Dilma o acende. Eduardo Campos parece cada vez mais candidato, mas o PSB está em chamas.
Já no profissional PMDB, Temer, Sarney, Renan, Henrique Alves, ministros e governadores seguem o lema de que a união faz a força e sabem se defender.
Se Lula articulava substituir Temer por Campos na reeleição, não deve articular mais. Nem o PSB quis nem o PMDB cedeu. E Dilma precisa do PMDB, como o PMDB precisa de Dilma. Entre os dois, o menos perigoso é o PSB. Aliás, meio PSB.
Proteção improdutiva - EDITORIAL FOLHA DE SP
FOLHA DE SP - 01/03
Após elevar tarifas para ajudar a indústria nacional, Fazenda ameaça baixá-las para tentar coibir previsíveis aumentos de preços
"Cuidado com o que você deseja." O dito célebre não deve ter ocorrido ao ministro da Fazenda, Guido Mantega, quando decidiu elevar tarifas de importação para uma centena de produtos, em 2011, e engendrar uma desvalorização do real de cerca de 30%, em 2012.
O desiderato ministerial era proteger produtos nacionais, ao diminuir a concorrência de importados no mercado interno e baratear bens brasileiros no exterior. Mas o resultado tem sido mais inflação -como não poderia deixar de ser.
Quase nada mudou no país em matéria de custos e competitividade. Em várias frentes, como a despesa salarial e a logística, houve até uma piora. Nessas condições, a manipulação de tarifas e câmbio -algo que se pode justificar em situações especiais e transitórias- serviu mais para dar aos setores selecionados um privilégio: a oportunidade de cobrar mais.
Portanto, não é de surpreender que tarifas maiores para importados resultem em alta de preços. Não se trata de efeito colateral, mas de uma consequência direta do protecionismo, prevista em qualquer manual de economia.
Para o consumidor, obrigado a pagar mais pelo produto antes importado, o prejuízo é evidente. A proteção à indústria só pode trazer ganho para o país se for capaz de induzir, no médio prazo, ganhos de escala e produtividade.
Eis que o ministro se mostra, agora, agastado com a consequência previsível de suas próprias ações. Em entrevista ao jornal "Valor Econômico", ameaçou baixar tarifas de setores que estiverem "abusando" nos preços.
A ameaça parece orientar-se pela presunção de que o comportamento empresarial seria visceralmente incompatível com o bem do país. Não é algo novo no Brasil, que já teve congelamento de preços e os inesquecíveis "fiscais do Sarney". Prevalece o instinto intervencionista do governo federal, que deveria ocupar-se mais com a estabilidade das regras e menos com ações discricionárias.
O nível de proteção no país sempre foi alto, maior que a média de países comparáveis, e os preços internos são o dobro do que se pratica no mercado internacional. Mas a produção não deslancha.
Entre 2006 e 2012, a produtividade da indústria cresceu apenas 10%. Em contraste, os custos salariais quase dobraram (em dólares).
A única forma de reduzir preços domésticos e, ao mesmo tempo, melhorar o desempenho da indústria é incrementar a competitividade. Não com tarifas arbitrárias e câmbio aos solavancos, mas com mais produtividade e menores custos internos. Os gargalos são conhecidos: energia, infraestrutura, educação e inovação.
Após elevar tarifas para ajudar a indústria nacional, Fazenda ameaça baixá-las para tentar coibir previsíveis aumentos de preços
"Cuidado com o que você deseja." O dito célebre não deve ter ocorrido ao ministro da Fazenda, Guido Mantega, quando decidiu elevar tarifas de importação para uma centena de produtos, em 2011, e engendrar uma desvalorização do real de cerca de 30%, em 2012.
O desiderato ministerial era proteger produtos nacionais, ao diminuir a concorrência de importados no mercado interno e baratear bens brasileiros no exterior. Mas o resultado tem sido mais inflação -como não poderia deixar de ser.
Quase nada mudou no país em matéria de custos e competitividade. Em várias frentes, como a despesa salarial e a logística, houve até uma piora. Nessas condições, a manipulação de tarifas e câmbio -algo que se pode justificar em situações especiais e transitórias- serviu mais para dar aos setores selecionados um privilégio: a oportunidade de cobrar mais.
Portanto, não é de surpreender que tarifas maiores para importados resultem em alta de preços. Não se trata de efeito colateral, mas de uma consequência direta do protecionismo, prevista em qualquer manual de economia.
Para o consumidor, obrigado a pagar mais pelo produto antes importado, o prejuízo é evidente. A proteção à indústria só pode trazer ganho para o país se for capaz de induzir, no médio prazo, ganhos de escala e produtividade.
Eis que o ministro se mostra, agora, agastado com a consequência previsível de suas próprias ações. Em entrevista ao jornal "Valor Econômico", ameaçou baixar tarifas de setores que estiverem "abusando" nos preços.
A ameaça parece orientar-se pela presunção de que o comportamento empresarial seria visceralmente incompatível com o bem do país. Não é algo novo no Brasil, que já teve congelamento de preços e os inesquecíveis "fiscais do Sarney". Prevalece o instinto intervencionista do governo federal, que deveria ocupar-se mais com a estabilidade das regras e menos com ações discricionárias.
O nível de proteção no país sempre foi alto, maior que a média de países comparáveis, e os preços internos são o dobro do que se pratica no mercado internacional. Mas a produção não deslancha.
Entre 2006 e 2012, a produtividade da indústria cresceu apenas 10%. Em contraste, os custos salariais quase dobraram (em dólares).
A única forma de reduzir preços domésticos e, ao mesmo tempo, melhorar o desempenho da indústria é incrementar a competitividade. Não com tarifas arbitrárias e câmbio aos solavancos, mas com mais produtividade e menores custos internos. Os gargalos são conhecidos: energia, infraestrutura, educação e inovação.
O STF e os vetos - EDITORIAL O ESTADÃO
O ESTADO DE SÃO PAULO - 01/03
Comemorada pelos dirigentes do Congresso, a decisão do plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) de cassar a liminar concedida em dezembro pelo ministro Luiz Fux – que impedia os congressistas de votar o veto parcial da presidente Dilma Rousseff ao projeto dos royalties do petróleo antes de votar os 3.060 vetos que aguardam decisão legislativa – não restabelece nenhuma competência privativa do Poder Legislativo que pudesse ter sido prejudicada. Também não o autoriza nem o desautoriza a votar outras matérias legislativas nem, muito menos, restaura sua dignidade, ferida exclusivamente pela omissão de seus integrantes.
O STF limitou-se a restabelecer a situação vigente antes da concessão da liminar por Fux. Suspendeu os efeitos da liminar, mas não decidiu sobre o mérito da questão. Como se previa, a Mesa do Senado decidiu colocar o exame do veto ao projeto dos royalties em primeiro lugar na pauta do Congresso, à frente do projeto de lei do Orçamento da União, que deveria ter sido votado até dezembro passado.
A liminar de Fux – cassada por 6 votos a 4 – estava fundamentada no artigo da Constituição segundo o qual, se um veto não for votado em 30 dias depois de recebido pelo Congresso, terá de entrar na ordem do dia da sessão imediata, “sobrestadas as demais proposições até sua votação final”. Apesar da clareza da norma constitucional, o Congresso não examina os vetos do Executivo há mais de 12 anos. Durante esse período, por sua livre decisão, o Legislativo abdicou de uma de suas principais prerrogativas, desmoralizando-se perante os demais Poderes e a sociedade. Daí o grande acúmulo de vetos aguardando seu exame.
O ministro do STF esclareceu que sua decisão se limitava a suspender a votação do veto ao projeto dos royalties antes da votação dos demais vetos ainda pendentes no Congresso e não se referia à votação de outras matérias, “como, por exemplo, a votação do Orçamento, para as quais a pauta não está trancada judicialmente”. A Mesa do Congresso, então presidida pelo senador José Sarney (PMDB-AP), no entanto, em recurso ao STF contra a liminar concedida por Fux, considerou que a decisão “usurpava” prerrogativas do Poder Legislativo, deixando-o “de joelhos perante outro Poder”.
O veto da presidente da República ao projeto de lei dos royalties é o mais recente da longa lista dos que aguardam exame do Congresso, mas é o que mais interessa aos parlamentares, tanto os que o apoiam como os que querem derrubá-lo.
O projeto inicial da distribuição dos royalties referia-se ao petróleo da área do pré-sal. Mas, por emenda de parlamentares, a regra aplicada ao présal, e que beneficia todos os Estados, independentemente de serem ou não produtores de petróleo, foi estendida para as áreas já em exploração, medida que afetará duramente as receitas dos atuais Estados produtores, especialmente Rio de Janeiro e Espírito Santo. A presidente vetou essa parte do projeto por considerar que a extensão das novas regras a essas áreas constitui rompimento de contrato. Como há mais representantes dos Estados não produtores do que dos produtores, o veto poderá ser derrubado.
Embora o Congresso tenha decidido votar o veto dos royalties antes de qualquer outro, a questão sobre a ordem de votação ainda não foi devidamente esclarecida. O mérito da ação ainda terá de ser julgado, em data ainda não definida.
Segundo o ministro Marco Aurélio Mello, seu colega Luiz Fux “escancarou uma mazela desta sofrida República”. Na interpretação de Mello, “rasgando a Constituição Federal, a maioria esmaga a minoria e fica por isso mesmo”. O ministro Joaquim Barbosa – que, como Mello, acompanhou o voto de Fux – disse que o caso mostrou “um fenômeno de extrema gravidade”, o da hipertrofia do Executivo. “Essa hipertrofia se dá por meio da abdicação do Congresso das suas prerrogativas constitucionais.”
De fato, qualquer que seja a decisão do Congresso sobre o veto ao projeto dos royalties, o que sobressai desse episódio é a ligeireza com que trata suas responsabilidades.
Comemorada pelos dirigentes do Congresso, a decisão do plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) de cassar a liminar concedida em dezembro pelo ministro Luiz Fux – que impedia os congressistas de votar o veto parcial da presidente Dilma Rousseff ao projeto dos royalties do petróleo antes de votar os 3.060 vetos que aguardam decisão legislativa – não restabelece nenhuma competência privativa do Poder Legislativo que pudesse ter sido prejudicada. Também não o autoriza nem o desautoriza a votar outras matérias legislativas nem, muito menos, restaura sua dignidade, ferida exclusivamente pela omissão de seus integrantes.
O STF limitou-se a restabelecer a situação vigente antes da concessão da liminar por Fux. Suspendeu os efeitos da liminar, mas não decidiu sobre o mérito da questão. Como se previa, a Mesa do Senado decidiu colocar o exame do veto ao projeto dos royalties em primeiro lugar na pauta do Congresso, à frente do projeto de lei do Orçamento da União, que deveria ter sido votado até dezembro passado.
A liminar de Fux – cassada por 6 votos a 4 – estava fundamentada no artigo da Constituição segundo o qual, se um veto não for votado em 30 dias depois de recebido pelo Congresso, terá de entrar na ordem do dia da sessão imediata, “sobrestadas as demais proposições até sua votação final”. Apesar da clareza da norma constitucional, o Congresso não examina os vetos do Executivo há mais de 12 anos. Durante esse período, por sua livre decisão, o Legislativo abdicou de uma de suas principais prerrogativas, desmoralizando-se perante os demais Poderes e a sociedade. Daí o grande acúmulo de vetos aguardando seu exame.
O ministro do STF esclareceu que sua decisão se limitava a suspender a votação do veto ao projeto dos royalties antes da votação dos demais vetos ainda pendentes no Congresso e não se referia à votação de outras matérias, “como, por exemplo, a votação do Orçamento, para as quais a pauta não está trancada judicialmente”. A Mesa do Congresso, então presidida pelo senador José Sarney (PMDB-AP), no entanto, em recurso ao STF contra a liminar concedida por Fux, considerou que a decisão “usurpava” prerrogativas do Poder Legislativo, deixando-o “de joelhos perante outro Poder”.
O veto da presidente da República ao projeto de lei dos royalties é o mais recente da longa lista dos que aguardam exame do Congresso, mas é o que mais interessa aos parlamentares, tanto os que o apoiam como os que querem derrubá-lo.
O projeto inicial da distribuição dos royalties referia-se ao petróleo da área do pré-sal. Mas, por emenda de parlamentares, a regra aplicada ao présal, e que beneficia todos os Estados, independentemente de serem ou não produtores de petróleo, foi estendida para as áreas já em exploração, medida que afetará duramente as receitas dos atuais Estados produtores, especialmente Rio de Janeiro e Espírito Santo. A presidente vetou essa parte do projeto por considerar que a extensão das novas regras a essas áreas constitui rompimento de contrato. Como há mais representantes dos Estados não produtores do que dos produtores, o veto poderá ser derrubado.
Embora o Congresso tenha decidido votar o veto dos royalties antes de qualquer outro, a questão sobre a ordem de votação ainda não foi devidamente esclarecida. O mérito da ação ainda terá de ser julgado, em data ainda não definida.
Segundo o ministro Marco Aurélio Mello, seu colega Luiz Fux “escancarou uma mazela desta sofrida República”. Na interpretação de Mello, “rasgando a Constituição Federal, a maioria esmaga a minoria e fica por isso mesmo”. O ministro Joaquim Barbosa – que, como Mello, acompanhou o voto de Fux – disse que o caso mostrou “um fenômeno de extrema gravidade”, o da hipertrofia do Executivo. “Essa hipertrofia se dá por meio da abdicação do Congresso das suas prerrogativas constitucionais.”
De fato, qualquer que seja a decisão do Congresso sobre o veto ao projeto dos royalties, o que sobressai desse episódio é a ligeireza com que trata suas responsabilidades.
Royalties sob ameaça de ato de vandalismo - EDITORIAL O GLOBO
O GLOBO - 01/03
Ao suspender a liminar concedida pelo ministro Luiz Fux no fim do ano passado, o Supremo Tribunal Federal (STF) removeu a barreira que impedia o Congresso Nacional de repetir o ato de vandalismo contra o pacto federativo, a pretexto de redistribuição das receitas de royalties do petróleo extraído no mar. Argumentos no sentido de evitar essa barbárie política têm sido inúteis, pois há grupos de parlamentares, insuflados por governadores e prefeitos, que passaram a se comportar como matilhas.
E o pior é que, com isso, só têm alimentado ilusões junto à opinião pública de suas bases eleitorais. Pulverizada, a receita de royalties não faria diferença substantiva na arrecadação de estados e municípios não produtores de petróleo a ponto de resolver graves problemas financeiros que várias unidades federativas hoje enfrentam. Por outro lado, se materializada, essa redistribuição seria capaz de desorganizar as finanças dos produtores, especialmente dos municípios diretamente afetados pela atividade petrolífera. Nenhum dos parlamentares que empunhou essa bandeira da redistribuição se dignou a fazer uma única visita que seja a Macaé, por exemplo.
Estados e municípios não produtores que se incorporaram a essa bandeira certamente se arrependerão do que fizeram quando campos descobertos (ou a descobrir) em seu litoral entrarem em produção. É o caso do Estado de São Paulo, de Santa Catarina , de Sergipe e de Alagoas, em futuro próximo, e de Bahia, Rio Grande do Norte, Ceará, Maranhão, Piauí e Pará daqui a alguns anos.
O veto da presidente Dilma a essa tentativa de vandalismo contra o pacto federativo buscou reintroduzir a sensatez nessa necessária relação de boa convivência entre estados e municípios brasileiros. Para não desorganizar as finanças dos produtores, o veto manteve as regras em vigor sobre os contratos já assinados e assegurou novas condições para o futuro. Embora signifique perda para os produtores, houve acordo em relação a isso, partindo-se da premissa que, a partir das descobertas na camada do pré-sal, a produção de petróleo no mar atingirá um patamar bem elevado na próxima década.
Esse acordo evitaria uma longa uma disputa judicial que impedirá os não produtores de saciar a sede no pote, e ainda removeria do horizonte um fator de incerteza para a atividade do petróleo. As esperanças de que isso venha a ocorrer diminuem com o passar do tempo, em vez de aumentarem, como seria natural. Os parlamentares de estados não produtores que têm pretensões nacionais deveriam meditar a respeito, pois sempre que aspirarem uma candidatura possivelmente não contarão com apoio no Rio de Janeiro e Espírito Santo, cuja importância como colégio eleitoral já foi evidenciada várias vezes nos últimos anos.
Ao suspender a liminar concedida pelo ministro Luiz Fux no fim do ano passado, o Supremo Tribunal Federal (STF) removeu a barreira que impedia o Congresso Nacional de repetir o ato de vandalismo contra o pacto federativo, a pretexto de redistribuição das receitas de royalties do petróleo extraído no mar. Argumentos no sentido de evitar essa barbárie política têm sido inúteis, pois há grupos de parlamentares, insuflados por governadores e prefeitos, que passaram a se comportar como matilhas.
E o pior é que, com isso, só têm alimentado ilusões junto à opinião pública de suas bases eleitorais. Pulverizada, a receita de royalties não faria diferença substantiva na arrecadação de estados e municípios não produtores de petróleo a ponto de resolver graves problemas financeiros que várias unidades federativas hoje enfrentam. Por outro lado, se materializada, essa redistribuição seria capaz de desorganizar as finanças dos produtores, especialmente dos municípios diretamente afetados pela atividade petrolífera. Nenhum dos parlamentares que empunhou essa bandeira da redistribuição se dignou a fazer uma única visita que seja a Macaé, por exemplo.
Estados e municípios não produtores que se incorporaram a essa bandeira certamente se arrependerão do que fizeram quando campos descobertos (ou a descobrir) em seu litoral entrarem em produção. É o caso do Estado de São Paulo, de Santa Catarina , de Sergipe e de Alagoas, em futuro próximo, e de Bahia, Rio Grande do Norte, Ceará, Maranhão, Piauí e Pará daqui a alguns anos.
O veto da presidente Dilma a essa tentativa de vandalismo contra o pacto federativo buscou reintroduzir a sensatez nessa necessária relação de boa convivência entre estados e municípios brasileiros. Para não desorganizar as finanças dos produtores, o veto manteve as regras em vigor sobre os contratos já assinados e assegurou novas condições para o futuro. Embora signifique perda para os produtores, houve acordo em relação a isso, partindo-se da premissa que, a partir das descobertas na camada do pré-sal, a produção de petróleo no mar atingirá um patamar bem elevado na próxima década.
Esse acordo evitaria uma longa uma disputa judicial que impedirá os não produtores de saciar a sede no pote, e ainda removeria do horizonte um fator de incerteza para a atividade do petróleo. As esperanças de que isso venha a ocorrer diminuem com o passar do tempo, em vez de aumentarem, como seria natural. Os parlamentares de estados não produtores que têm pretensões nacionais deveriam meditar a respeito, pois sempre que aspirarem uma candidatura possivelmente não contarão com apoio no Rio de Janeiro e Espírito Santo, cuja importância como colégio eleitoral já foi evidenciada várias vezes nos últimos anos.
COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO
“Não sou mais pontífice, mas um peregrino”
Papa Bento 16 se despedindo do Vaticano
AGRONEGÓCIO: LOBBY TENTA INVIABILIZAR PEQUENOS
Grandes frigoríficos e gigantes do agronegócio, que monopolizam o comércio de produtos de origem animal, fazem lobby poderoso, em Brasília, para impedir mudanças no Sisbi, sistema de inspeção oficial. O objetivo das mudanças é ampliar a adesão de pequenas e médias agroindústrias ao sistema de inspeção, nas esferas federal, estadual ou municipal. Com seus produtos certificados, pequenas empresas podem vendê-los em todo o país e não apenas localmente, como hoje é feito.
NEM PENSAR
Com as mudanças, será possível inspecionar e fiscalizar produtos de origem animal com mais abrangência. Os gigantes detestam a ideia.
EXPERIÊNCIA PILOTO
Em Santa Catarina, a adesão de um consórcio de municípios ao Sisbi/Suasa gerou incremento de 200% na venda de produtos.
MAIS SEGURANÇA
Outro objetivo das mudanças no sistema é garantir mais segurança na qualidade do que é consumido, além de democratizar o mercado.
COMITÊ GESTOR
Membros dos ministérios da Agricultura e Desenvolvimento Agrário e Anvisa compõem o comitê gestor a ser criado. Os grandes não querem.
PROJETO PRETENDIA IMPOR ORDEM CRONOLÓGICA AO STF
Um grupo de deputados já articulava secretamente um projeto de lei obrigando o Supremo Tribunal Federal a julgar processos por ordem cronológica. Seria resposta a eventual confirmação, no STF, da liminar do ministro Luiz Fux que determinava votação cronológica de vetos presidenciais. Os deputados pretendiam criar um impasse e provocar uma apaixonante discussão sobre independência dos poderes.
CHUMBO TROCADO
Pela lógica dos deputados, se o Judiciário pode se intrometer na agenda do Congresso, o Legislativo poderia definir a pauta do STF.
BANCADA DOS ROYALTIES
Os deputados que articulavam o projeto defendem a derrubada dos vetos parciais de Dilma à lei que redistribui os royalties de petróleo.
IDEIA ARQUIVADA
A articulação secreta dos deputados perdeu sentido com a decisão do STF de reconhecer que é o Congresso que define a própria pauta.
MANOBRA
Deputados suspeitam que a eleição de cabo Patrício para corregedor da Câmara Distrital do DF foi uma manobra para se blindar de eventual cassação do mandato, caso tenham desdobramentos o escândalo das notas fiscais extraviadas e uso de R$ 4,5 milhões do Orçamento 2013.
PT É MUY AMIGO
O êxito da intervenção em empresas de ônibus gera ciúme. Entrevista ao Bom Dia DF do vice Tadeu Filippelli (PMDB), chefe da operação, foi cancelada porque a assessoria de Agnelo Queiroz (PT) disse à emissora que só o secretário dos Transportes falaria “pelo governo”.
COMBATE À VIOLÊNCIA
O ministro Eduardo Cardozo (Justiça) acertou com governador Ricardo Coutinho (PSB) de levar para a Paraíba ações do Programa Brasil Mais Seguro, aos moldes da parceria com São Paulo e Santa Catarina.
PARA DESAFOGAR
O presidente do Superior Tribunal de Justiça, Felix Fischer, pediu ao presidente da Câmara, Henrique Alves (RN), prioridade para a criação de Tribunal Regional Federal em Minas, Bahia, Paraná e Amazonas.
É DO PERU
Munido do passaporte diplomático brasileiro, o milongueiro “Luiz Favre” tenta salvar no Peru a reeleição da prefeita de Lima, Susana Villarán. Sua nova missão lhe rendeu US$ 1 milhão, diz a imprensa local.
NÃO VÁ AO TEATRO
A nova “boutade” de Lula na CUT, nova tentativa de manter o “Rosegate” fora do foco, gerou um apelo pândego no Twitter: “Procura-se John Wilkes Booth urgentemente”. Booth foi o assassino de Lincoln.
EFEITO 2014
Conhecida por sua aversão à política, a presidente Dilma Rousseff surpreendeu em jantar na quarta no Palácio do Jaburu. Conversou individualmente com parlamentares, posou para fotos e até fez elogios.
RASGAÇÃO DE SEDA
Em jantar de homenagem a José Sarney, o vice Michel Temer lembrou que foi tratado como o “homem mais importante do mundo”, quando era deputado, em sua primeira audiência com o cacique peemedebista. Sarney retribuiu: “Hoje, você é o mais importante que conheço”.
RODOPIOS
Questionado se a indicação de Gabriel Chalita a ministro dançou, Valdir Raupp (PMDB-RO) desconversa: “Ele não dança, ele é quase padre”.
PODER SEM PUDOR
GADO VACUM, SÓ UM
Os adversários de Benedicto Valadares, em Minas, eram cruéis e implacáveis, criando variadas versões sobre sua burrice. Terminaram construindo estrofes de indiscutível mau gosto, mas de muito efeito político:
O Brasil tem muitos muares,
E muito gado vacum.
Mas Benedicto Valladares
Só tem um.
Papa Bento 16 se despedindo do Vaticano
AGRONEGÓCIO: LOBBY TENTA INVIABILIZAR PEQUENOS
Grandes frigoríficos e gigantes do agronegócio, que monopolizam o comércio de produtos de origem animal, fazem lobby poderoso, em Brasília, para impedir mudanças no Sisbi, sistema de inspeção oficial. O objetivo das mudanças é ampliar a adesão de pequenas e médias agroindústrias ao sistema de inspeção, nas esferas federal, estadual ou municipal. Com seus produtos certificados, pequenas empresas podem vendê-los em todo o país e não apenas localmente, como hoje é feito.
NEM PENSAR
Com as mudanças, será possível inspecionar e fiscalizar produtos de origem animal com mais abrangência. Os gigantes detestam a ideia.
EXPERIÊNCIA PILOTO
Em Santa Catarina, a adesão de um consórcio de municípios ao Sisbi/Suasa gerou incremento de 200% na venda de produtos.
MAIS SEGURANÇA
Outro objetivo das mudanças no sistema é garantir mais segurança na qualidade do que é consumido, além de democratizar o mercado.
COMITÊ GESTOR
Membros dos ministérios da Agricultura e Desenvolvimento Agrário e Anvisa compõem o comitê gestor a ser criado. Os grandes não querem.
PROJETO PRETENDIA IMPOR ORDEM CRONOLÓGICA AO STF
Um grupo de deputados já articulava secretamente um projeto de lei obrigando o Supremo Tribunal Federal a julgar processos por ordem cronológica. Seria resposta a eventual confirmação, no STF, da liminar do ministro Luiz Fux que determinava votação cronológica de vetos presidenciais. Os deputados pretendiam criar um impasse e provocar uma apaixonante discussão sobre independência dos poderes.
CHUMBO TROCADO
Pela lógica dos deputados, se o Judiciário pode se intrometer na agenda do Congresso, o Legislativo poderia definir a pauta do STF.
BANCADA DOS ROYALTIES
Os deputados que articulavam o projeto defendem a derrubada dos vetos parciais de Dilma à lei que redistribui os royalties de petróleo.
IDEIA ARQUIVADA
A articulação secreta dos deputados perdeu sentido com a decisão do STF de reconhecer que é o Congresso que define a própria pauta.
MANOBRA
Deputados suspeitam que a eleição de cabo Patrício para corregedor da Câmara Distrital do DF foi uma manobra para se blindar de eventual cassação do mandato, caso tenham desdobramentos o escândalo das notas fiscais extraviadas e uso de R$ 4,5 milhões do Orçamento 2013.
PT É MUY AMIGO
O êxito da intervenção em empresas de ônibus gera ciúme. Entrevista ao Bom Dia DF do vice Tadeu Filippelli (PMDB), chefe da operação, foi cancelada porque a assessoria de Agnelo Queiroz (PT) disse à emissora que só o secretário dos Transportes falaria “pelo governo”.
COMBATE À VIOLÊNCIA
O ministro Eduardo Cardozo (Justiça) acertou com governador Ricardo Coutinho (PSB) de levar para a Paraíba ações do Programa Brasil Mais Seguro, aos moldes da parceria com São Paulo e Santa Catarina.
PARA DESAFOGAR
O presidente do Superior Tribunal de Justiça, Felix Fischer, pediu ao presidente da Câmara, Henrique Alves (RN), prioridade para a criação de Tribunal Regional Federal em Minas, Bahia, Paraná e Amazonas.
É DO PERU
Munido do passaporte diplomático brasileiro, o milongueiro “Luiz Favre” tenta salvar no Peru a reeleição da prefeita de Lima, Susana Villarán. Sua nova missão lhe rendeu US$ 1 milhão, diz a imprensa local.
NÃO VÁ AO TEATRO
A nova “boutade” de Lula na CUT, nova tentativa de manter o “Rosegate” fora do foco, gerou um apelo pândego no Twitter: “Procura-se John Wilkes Booth urgentemente”. Booth foi o assassino de Lincoln.
EFEITO 2014
Conhecida por sua aversão à política, a presidente Dilma Rousseff surpreendeu em jantar na quarta no Palácio do Jaburu. Conversou individualmente com parlamentares, posou para fotos e até fez elogios.
RASGAÇÃO DE SEDA
Em jantar de homenagem a José Sarney, o vice Michel Temer lembrou que foi tratado como o “homem mais importante do mundo”, quando era deputado, em sua primeira audiência com o cacique peemedebista. Sarney retribuiu: “Hoje, você é o mais importante que conheço”.
RODOPIOS
Questionado se a indicação de Gabriel Chalita a ministro dançou, Valdir Raupp (PMDB-RO) desconversa: “Ele não dança, ele é quase padre”.
PODER SEM PUDOR
GADO VACUM, SÓ UM
Os adversários de Benedicto Valadares, em Minas, eram cruéis e implacáveis, criando variadas versões sobre sua burrice. Terminaram construindo estrofes de indiscutível mau gosto, mas de muito efeito político:
O Brasil tem muitos muares,
E muito gado vacum.
Mas Benedicto Valladares
Só tem um.
SEXTA NOS JORNAIS
- Globo: Trono vazio no Vaticano: No adeus, Bento XVI promete obediência total
- Folha: Bento 16 sai e promete obediência ao sucessor
- Estadão: Mensaleiros devem ser presos até julho, prevê Barbosa
- Correio: Bento XVI sai de cena, a crise fica
- Valor: Projetos de Eike dependem cada vez mais do BNDES
- Estado de Minas: Sede vacante
- Zero Hora: Maior fraude no ICMS em 20 anos é revelada
Assinar:
Postagens (Atom)