sexta-feira, novembro 08, 2013

Ele foi o rei da pamonha --ups, errei! - BARBARA GANCIA

FOLHA DE SP - 08/11

Rei do W.C. --ups, errei de novo!--, Alexander foi um Papai Noel fora de hora para paulistanos nesta semana


O primeiro mandamento do "rei do camarote" é ser uma florzinha enrustida com sorriso de porcelanato da C&C.

Não! Não! Não! Que zona é essa? Peço mil desculpas, tenho andado esquisita, há algo errado com meu segundo chacra, vamos começar tudo de novo.

Alô, prefeito Haddad! Queria su­gerir que São Paulo entregasse uma comenda a um cidadão que nesta semana proporcionou alegrias à ci­dade como há muito não se via.

Refiro-me, é evidente, ao singelo Alexander Augusto de Almeida, ocupação: não importa, denomina­do pela revista "Veja São Paulo" de "rei do camarote" e indivíduo que usa a mesma régua para medir longo prazo que a liderança do grupo Procure Saber.

Alexander irrompeu a semana fa­zendo a felicidade da própria revis­ta que o perfilou. Acelerando sua Ferrari lá da zona leste em direção à fama, ele fez com que o site da pu­blicação, que andava meio na som­bra, ganhasse 2 milhões de acessos em apenas quatro dias.

Ele capturou o coraçãozinho do paulistano sem fazer nenhum es­forço extra, além daquele de que já se empenha cotidianamente, que é garantir o pão de cada dia na mesa das profissionais a quem contrata, digo, seduz, com seu charme traba­lhado no plástico do cartão de cré­dito.

Alô, prefeito Haddad? O Senhor continua me ouvindo? É que a liga­ção do meu celular da Cielo parece estar falhando. Deve ser o meu Visa que está dando pau. Melhorou?

Então, para quem viu o vídeo, uma das trocentas paródias feitas a seu respeito ou leu a capa da tão co­mentada "Vejinha" do último do­mingo, o Alexander conseguiu um feito inacreditável.

Ele fez com que cada um de nós, comuns mortais, nos sentíssemos lindos, gostosos, satisfeitos com o que temos e, sobretudo, super bem-comidos. O cara funcionou como um Papai Noel que chegou antecipado. O senhor não entende­ria nada sobre esse assunto, prefei­to Haddad, porque já nasceu boni­tão, mauricinho e abençoado e nunca precisou camelar para pegar ninguém. Mas posso lhe dar dois exemplos para esclarecer melhor o que estou tentando dizer.

Conversei sobre o Alexander nes­ta semana com o rapaz que conser­ta meu computador, um garoto de 22 anos que não é exatamente um Cauã Reymond ou ganha salário de executivo. Ele disse o seguinte: "Ué? Eu vivo pegando mulher no banheiro da balada e só preciso pa­gar o preço da entrada".

Em outra conversa, no percurso entre Interlagos e os Jardins no congestionamento monstro da úl­tima quarta, o motorista do táxi ra­ciocinou comigo: "Dos R$ 50 mil que o Alexander gasta numa noite, eu guardaria R$ 49 mil para trocar meu carro, daí fecharia minha rua, gastaria R$ 1 mil comprando muita cerveja e carne para churrasco, fa­ria uma festança que duraria um fim de semana inteiro e ainda apro­veitaria para pegar quatro vizinhas que eu acho que são a fim de dar pa­ra mim".

Sentiu a parada, prefeito? Nosso Alexander merece uma medalha. Camarada ainda por cima é humil­de à beça. Consegue ir na Armani, Gucci e Burberry's do shopping e sair de lá vestido como se tivesse passado por um outlet de Kansas City. É um verdadeiro São Francis­co em matéria de despojamento. Quem de nós não gasta bem menos e se veste mil vezes melhor?

Só falta agora o pessoal da Receita "instagramar" o momento do pente fino na declaração de renda dele, né, prefeito? Hashtag glamour.

Vale o escrito? - NELSON MOTTA

O GLOBO - 08/11

Novo formato de fraude digital une a desonestidade à covardia: postam o seu texto original assinado, mas acrescentam por conta própria mais um parágrafo



Quanto ainda vale o escrito? Só no jogo do bicho. Na selva da internet, seus textos circulam com outras assinaturas e escritos alheios, quase sempre toscos e constrangedores, são atribuídos a você. Agora um novo formato de fraude digital une a desonestidade à covardia: postam o seu texto original assinado, mas acrescentam por conta própria mais um parágrafo no final, distorcendo o seu sentido — e comprometendo o seu autor.

No auge do mensalão, escrevi uma crônica sobre o caso de amor e ódio que mudou a História do Brasil, entre José Dirceu e Roberto Jefferson, fazendo um paralelo com Nina e Carminha de “Avenida Brasil”, em que o texto encaminhava o leitor à conclusão final: “Feitos um para o outro.” A crônica continua circulando até hoje, mas fraudada por uma anta que lhe acrescentou um novo final com frases grossas e ignorantes sobre Dirceu e Lula, que nem é citado no texto, e botou no ar, como se fosse minha.

Vai dizer que não é? Ou é, mas até certo ponto? Que ponto? Tarde demais, o estrago já está feito. É uma sensação desconcertante receber elogios ou ser criticado, ser amado ou odiado, pelo que você não escreveu. Ou pior, por um trabalho seu que foi adulterado, às vezes de forma sutil, às vezes grosseira, por um usurpador anônimo que quer propagandear as suas paixões políticas. E alguns são tão estúpidos que pensam que estão “reforçando” o texto, mas o estão enfraquecendo e desmoralizando, pelo excesso.

Em breve só poderá ser considerado autêntico o que for dito de viva voz em vídeo, mas com todos os atuais recursos de edição, manipulação e animação digital, nem isso será totalmente confiável, como é cada vez menos. Os biógrafos do futuro, que ironia, vão confiar mais na imprensa de papel e nos livros do que em textos da internet quando pesquisarem sobre o nosso tempo.

Quando se discute o direito à informação, o fim da privacidade, as ameaças à identidade e a defesa da intimidade na era digital, ainda ressoam as palavras de Nelson Rodrigues sobre seus limites e consequências: “Se todo mundo soubesse da vida sexual de todo mundo ninguém falaria com ninguém.”

GOSTOSAS


E a Rádio MEC, hein? - ARTHUR DAPIEVE

O GLOBO - 08/11

É desanimador que burocratas possam considerar a música clássica ‘impopular’


“Por acaso a rádio MEC está acabando?”, perguntava o leitor. “Se isso for verdade, acho que ficarei órfão de boa música.” Ele reagia à nota enxertada ao pé da coluna passada: “Não ao desmonte final das rádios MEC AM e FM.” Respondi que temo que as rádios que conhecemos e apreciamos venham a acabar, ao menos como as conhecemos, dedicadas à boa música popular brasileira e ao melhor da música clássica.

O processo não vem de hoje, daí “desmonte final”. Em 1998, Fernando Henrique tirou a Rádio MEC da alçada do Ministério da Educação, ao qual a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro havia sido doada em 1935 por seu fundador, o visionário Edgar Roquette Pinto. Ela passou à Empresa Brasileira de Comunicação, a Radiobrás, por sua vez subordinada à Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República.

Em 2007, Lula criou a Empresa Brasil de Comunicação (EBC) ao fundir a Radiobrás e a Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto (Acerp), que cuidava da Rádio MEC e da antiga TVE. Não, não se tratam de meras mudanças de denominação e organograma. Do ponto de vista de Fernando Henrique e de Lula, as emissoras seriam instrumento de propaganda institucional do governo, não de educação.

Porém, só agora, com Dilma Rousseff, as consequências disso se fazem sentir de forma mais pesada. Com a absorção da Acerp pela EBC, os antigos funcionários da MEC se viram diante da proposta de ou se demitirem voluntariamente e se tornarem pessoas jurídicas (perdendo direitos trabalhistas) para talvez serem recontratados por projeto (talvez) ou simplesmente serem dispensados. Como resultado, eles estão sendo demitidos às dezenas, substituídos por concursados sem o devido preparo.

Não bastasse esse imbróglio, o prédio da rádio foi interditado em março, após vistoria do Ministério Público. Desde então, a MEC “mora de favor” nas instalações da Rede Brasil de Televisão (a antiga TVE) na Rua Gomes Freire e assiste, impotente, à deterioração de seu acervo e de suas instalações na antiga sede da Praça da República. Apesar de estarem fora do lar, tanto a AM quanto a FM continuam no ar.

Tudo somado, há uma dúvida razoável: perdendo muitos bons profissionais, entre eles Lauro Gomes, apresentador havia 13 anos do programa “Sala de concerto” na FM, as rádios terão condições — ou vontade política — de conservar a linha e o alto padrão? Esta é uma história em andamento, talvez esteja longe de acabar, mas há sinais preocupantes de que a resposta à questão seja “não”.

Em nota oficial, emitida na quarta-feira da semana passada em resposta a um questionamento do presidente da Academia Brasileira de Música, o violonista Turíbio Santos, a direção da EBC negou que a MEC FM vá ser extinta e garantiu que “não poupará esforços para continuar levando uma programação de qualidade aos ouvintes”. No dia seguinte, uma assembleia da Sociedade de Amigos e Ouvintes da Rádio MEC — que reuniu, entre outros, Edino Krieger, Jocy de Oliveira, Guilherme Bauer, Manoel Corrêa do Lago, Ricardo Cravo Albin, Aloysio Fagerlande e Rosana Lanzelotte — concluiu que a nota não corresponde ao que dizem velhos e novos funcionários. Um encontro para esclarecimentos entre o Sindicato dos Músicos e a EBC estava marcado para a noite de ontem, na sala de ensaios da Petrobras Sinfônica, na Fundição.

Insinua-se na “rádio corredor” que a EBC, de acordo com a missão institucional da Secretaria de Comunicação, gostaria de ouvir uma AM “mais popular” e ter uma FM “menos elitista”. Ora, para tocar artistas muito populares, como Anitta, MC Marcelly, Naldo e Thiaguinho, há uma profusão de emissoras comerciais. Mais uma, pública? Para tocar música clássica, o quadro é pior: não há no Rio nenhuma outra emissora.

É desanimador que burocratas possam considerar a música clássica “impopular” apenas por ela não ser “popular”, expressão que diz respeito a origens e características, não à capacidade de tocar e mobilizar massas. Eles poderiam ao menos se familiarizar com a história da música na URSS ou com o bem-sucedido El Sistema venezuelano, criado por José Antonio Abreu em 1975, ou seja, antes de Chávez — e que a ele sobreviveu. Centenas de orquestras abriram horizontes para milhares de jovens pobres. Aqui, por exemplo, há o êxito da Sinfônica Heliópolis, regida por Isaac Karabtchevsky.

O fato de hoje a música clássica ter um público menor que a popular tão somente ressalta a necessidade da existência de emissoras públicas que façam o trabalho que as comerciais não têm, pela própria natureza, interesse em fazer. Uma das propostas para preservar a Rádio MEC FM é que ela retorne ao ministério que a nomeia. Faz sentido. Escutar boa música é, além de curtir as maiores criações do espírito humano, aprender História. Isto é particularmente verdadeiro se ela tiver sido produzida séculos atrás.

Tenho esperança de que a MEC AM e a MEC FM não sofram ainda mais, mesmo sabendo que, como escreveu o sábio francês Edgar Morin, exatamente numa obra sobre cultura de massa, “a esperança é sempre o improvável”.

Ueba! O Bieber é blackbunda! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 08/11

'Prostitutas de BH inovam e podem aceitar cartão de débito e crédito.' É o Xotacard! Ou Trepcard!


Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Boa notícia! Tiririca fica na política. Com o slogan: "Sem o Tiririca, Brasília mica". Rarará!

E essa: "Justin Bieber autuado por pichar muro de hotel". Cercado de seguranças. Bem mimado! Só transgride cercado de seguranças. BLACKBUNDA! Rarará.

Mas ele tá muito levado: vai pras termas e picha muro. E corre na internet a agenda do Bieber no Rio: "10h, impede o fechamento da porta do trem no ramal Deodoro. Cercado por dez seguranças! 12h, joga lixo no chão em plena Cinelândia em frente à Guarda Municipal. Cercado por oito seguranças. 14h30, mija em uma árvore em Ipanema. Cercado por sete seguranças. 22h15, depreda uma agência bancária no Leblon. Cercado por 89 seguranças! Todas as atividades terão apoio da Policia Militar". A agenda do blackbunda. E ele tá com a cara da larva da dengue! Rarará!

E atenção! Minas sempre na vanguarda! "Prostitutas de BH inovam e podem aceitar cartão de débito e crédito." É o Xotacard! Ou Trepcard! Rarará.

E mais uma categoria pra atormentar: débito ou crédito? CPF na nota? Gelo e limão? Comum ou aditivada? Luz acesa ou luz apagada? Serve Pepsi? Rarará!

Vantagens do Xotacard: ganha milhagem e brinde por fidelidade. Desvantagens: beijo na boca só no débito! Rarará!

E o duro vai ser explicar a fatura pra patroa. Mas essas faturas vêm sempre com outro nome, bem esquisito: "Hortifruti São Petersburgo". "Funilaria do Baitola." E um amigo meu foi numa casa de massagens e a fatura veio no nome da empresa: Coma Bem! Rarará!

E agora só falta o programa "Minha Piranha! Minha Vida!". E um leitor tem uma dúvida cruel e shakespeariana: "Se brochar, estorna?". Estorna, não. Entorna! Rarará!

Adorei essas quengas mineiras! Bem modernas! Tudo no cartão!

É mole? É mole, mas sobe!

Os Predestinados! Proprietário da Isotec Controle de Pragas Urbanas: Fernando Cupim. Aí uma amiga ligou: "É do Controle de Pragas Urbanas?". "Sim." "Com quem eu falo?" "Fernando CUPIM." Rarará!

E eu tenho um monte de praga urbana pra ele controlar: Alckmin, Haddad, Kassab, Maluf etc. Praga urbana é o que não falta! Rarará!

Nóis sofre, mas nóis goza!

Hoje, só amanhã!

Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

A PROSTITUTA DO PLANALTO


Suspeitos de sempre - HÉLIO SCHWARTSMAN

FOLHA DE SP - 08/11

SÃO PAULO - O "stop and frisk" (parar e revistar) foi um dos destaques da eleição para prefeito de Nova York. A discussão é boa mesmo.

Baseada na filosofia da tolerância zero, a polícia de Nova York mantém um programa agressivo de "stop and frisk". Entre 2004 e 2012, abordou 4,4 milhões de pessoas nas ruas, revistando-as em busca de armas e drogas. O problema é que 80% dos suspeitos eram negros e latinos, o que levou associações de direitos civis a contestar a prática na Justiça.

Seus defensores afirmam que ela é fundamental para reduzir o crime. Trata-se de um argumento consequencialista: ainda que inocentes arbitrariamente parados sofram uma injustiça, isso seria plenamente compensado pelo benefício geral.

Pode ser. O ponto fraco aqui é que não existem estudos de qualidade a demonstrar o nexo entre as revistas e a diminuição da delinquência.

Já seu detratores dizem que a política é francamente racista e fomenta a desconfiança entre policiais e a população dos bairros pobres, o que é contraproducente no médio prazo.

Faz sentido, mas me pergunto se um programa dessa natureza poderia não envolver estereótipos. Pulemos da polícia de Nova York para o agente antidrogas no aeroporto. Se ele quer fazer uma apreensão de maconha, deve revistar o hippie cabeludo ou a senhora de meia idade com tailleur? Se ele optar pela mulher, amplia a probabilidade de estar desperdiçando dinheiro público.

Como resolver a celeuma? O problema está na matemática das revistas. Mesmo que funcionem, geram um número muito alto de falsos positivos, isto é, os 90% de abordados com as quais não se encontram armas ou drogas, mas que são submetidos a constrangimento. É um dano concreto. Já o bônus é só uma possibilidade teórica. Se a polícia quer continuar com o "stop and frisk", deveria mostrar, com um experimento prospectivo e bem controlado, que ele produz os resultados alegados.

O progresso que engana - MILTON HATOUM

O Estado de S.Paulo - 08/11

Há poucos dias visitei uma casa na rua Saldanha Marinho, no centro de Manaus, que é também o centro da minha infância e, portanto, da minha memória.

Vi a mesma biblioteca com livros brasileiros, portugueses e franceses, a escrivaninha de cedro, os lustres antigos, os vitrais coloridos em forma de ogiva. Atravessei o longo corredor lateral que dá acesso aos quartos e à cozinha e termina num pátio cheio de vasos com avencas e tajás. No fim desse corredor, sentada numa austríaca, vi dona Maria Luiza Freitas Pinto, a professora que me alfabetizou.

Aos 97 anos, com uma lucidez invejável, ela relembrou cenas de um passado remoto. Disse que eu sentava num banquinho feito por índios da Colômbia e conversava com Anna Telles, mãe de dona Maria Luiza.

"Tu também gostavas de ver meu pai limpar discos com o rabo de um macaco barrigudo."

Olhou para mim, viajando no tempo, e prosseguiu, orgulhosa:

"O grupo escolar Barão do Rio Branco ainda está de pé".

De fato, o edifício antigo resistiu à barbárie que usurpou a memória urbana de Manaus. Comparado com a atual arquitetura da cidade, o estilo neoclássico do grupo escolar esbanja refinamento. Parece que os arquitetos se esqueceram do clima do equador. Mais fácil é projetar caixotes vedados, banindo varandas e janelões.

Disse à professora que o jambeiro ainda sombreia o pátio do grupo escolar, que, hoje, é uma escola estadual; nos meses de inverno, o chão ficará coberto de flores vermelhas, os leões de pedra da entrada vão perder sua cor de açafrão, os pilares serão manchados de limo.

"Naquela época", ela disse, folheando o livro de crônicas que lhe ofereci, "havia respeito mútuo... E uma boa biblioteca em cada escola".

Ela mencionou o prestígio do corpo docente, os exercícios em sala de aula - ditados, leituras, tabuadas e redações -, o mapa colorido do Brasil, com seus Estados e capitais, que os alunos deviam nomear.

Mas ao lado desse mapa pendurado na parede, havia uma palmatória, eu disse.

"Sim", ela concordou. "Quando eu olhava para a palmatória, os alunos mais endiabrados se acalmavam. E tu não eras um santo. Naquele tempo, a disciplina... Mas havia educação doméstica, a disciplina começava em casa. Tudo isso acabou. E já não há mais amor na aprendizagem."

Recordei alguns amigos do Barão do Rio Branco: os mais pobres moravam em palafitas na beira dos Igarapés de Manaus e dos Educandos; arregalavam os olhos quando viam a merenda dos que moravam em terra firme: banana frita, tapioquinha, queijo-coalho, suco de graviola, guaraná Tuchaua. Eu invejava a caligrafia caprichosa de Paulo Tarso, e imaginava que ele tinha uma maquininha na mão direita.

"A caligrafia era um exercício necessário", disse a professora. "Hoje em dia, poucos jovens usam um lápis ou uma caneta... O mais importante é saber ler e escrever. Saber pensar..."

Foi uma visita breve: não queria interromper a sesta da professora. Antes de sair da casa verde, prometi a dona Maria Luiza que voltaria a Manaus sem muita demora.

"Guardaste a redação?"

Claro, eu disse.

A professora referia-se à primeira redação que escrevi no Barão do Rio Branco. Ela me entregara a folha amarelada em 1989, quando lancei em Manaus meu primeiro romance. O texto descreve uma viagem ao Careiro e é ilustrado por um desenho de uma fazendola.

Numa viagem recente a uma comunidade rural do Amazonas, visitei uma escola pública, cujo estado era lamentável. Parecia um chiqueiro.

Pensei nas crianças humildes dessas comunidades ribeirinhas, crianças e jovens sem qualquer futuro, ou proibidas de sonhar com o futuro. Mais de 10% da população do Amazonas é analfabeta. Enquanto me distanciava da casa da professora, pensava nas armadilhas do "progresso", nas contradições entre a economia dinâmica da zona franca de Manaus e as desastrosas e ineficientes políticas públicas. Pensava nesse impasse, andando na rua sem sombra, porque na cidade equatorial, tão briosa de seu crescimento exuberante, não há calçadas nem árvores.

O PUTEIRO BRAZIL


Cubanos no Rio - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 08/11

Setenta médicos do Mais Médicos começam a trabalhar no Rio dia 1º agora. Desses, 68 são estrangeiros — 65 cubanos, um argentino, uma peruana e uma espanhola.
Com isso, a prefeitura calcula que a cobertura da atenção básica no Rio passará de 41% para 45% da população.

Democracia é melhor
A Comissão Estadual da Verdade do Rio recuperou nos arquivos do Dops este registro de ocorrência (reprodução acima) da prisão da atriz Elke Maravilha em 26 de fevereiro de 1972.
No Aeroporto Santos Dumont, ela, aos gritos de “ditadura assassina”, rasgou um cartaz de “terroristas procurados”. É que num deles havia uma foto de Stuart Angel. A divulgação do tal cartaz foi uma maneira de o regime não assumir que ele já tinha sido assassinado, no ano anterior, no Galeão.

Aliás...
O caso foi retratado no filme “Zuzu Angel”, de Sérgio Rezende, de 2006, com Luana Piovani no papel de Elke.

Revolução de 1930
Numa cerimônia, ontem, na embaixada brasileira em Paris, a ministra francesa de Esportes, Valérie Fourneyron, na presença de ministros brasileiros, chamou o ex-jogador Ronaldo, que estava ao seu lado, de... Cristiano Ronaldo.

Segue...
O ministro Aldo Rebelo para mostrar que os preços no Brasil, às vésperas do Mundial, não estão aumentando mais do que em outros países, disse que o hotel em que sempre se hospeda em Paris duplicou o preço da diária nos últimos dez anos:
— Eu sempre fico no Hotel Galileo. Foi lá que brasileiros ficaram quando vieram comprar armas para a Revolução de 30.
Aldo, na outra encarnação, foi historiador. Ah, bom!

Calma, gente!
Deborah Secco, a talentosa atriz, está sofrendo represálias no Instagram, a rede social de compartilhamento de fotos.
Vários de seus seguidores a criticam por estar envolvida — por causa do pai dela — em um caso de desvio de dinheiro público.
Um deles diz: “Desviando dinheiro público e ainda sorri.”

Clássico brasileiro
“Crônica da casa assassinada”, de Lúcio Cardoso, um dos grandes clássicos da literatura brasileira do século XX, vai finalmente ser traduzido para o inglês.
A agência VBM, que representa a obra, escrita em 1959, vendeu os direitos para o editor Chad Posto, da americana Open Letters.

Casa nova
A Orquestra Sinfônica Brasileira (OSB), finalmente, está de malas prontas e vai se mudar para a Cidade das Artes, na Barra. As salas já estão liberadas. O primeiro concerto será em 14 de dezembro, nos jardins da Cidade das Artes, com o Projeto Aquarius.
Em 2002, a ideia era construir a então Cidade da Música para que o lugar se tornasse a sede da OSB.

O rei do camarote
Veja na foto.

A TV Globo vai tirar uma casquinha no sucesso deste personagem ridículo Alexander de Almeida, o rei do camarote. Num vídeo da “Vejinha São Paulo”, já visto, acredite, por mais de quatro milhões de pessoas, ele aparece esbanjando fortunas em noitadas.
O ex-prefeito de Pitanguá Reinaldo Rangel, personagem de Tony Ramos no seriado “A mulher do prefeito”, vai aparecer assim hoje, na versão websérie: bebendo champanhe que nem o deslumbrado paulista.

Mãos ao alto!
Pela segunda vez este ano, uma joalheria na Rua Garcia d’Ávila, em Ipanema, foi assaltada.
Às 9h, motoqueiros renderam os funcionários e levaram todos os relógios Rolex da loja.

Em tempo...
A loja roubada fica perto do prédio onde mora o secretário de Segurança José Mariano Beltrame.

UM CANTO PARA GIL - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 08/11

Eduardo Campos (PSB-PE) convidou Gilberto Gil para ser candidato ao governo do Rio de Janeiro no próximo ano em aliança com seu partido, o PSB.

VAMOS NESSA
A sondagem foi feita na semana passada, quando Gil estava no Recife para um show. Pré-candidato a presidente, o governador de Pernambuco procurou o cantor para falar do assunto.

FICO AQUI
A assessoria de Gil afirma que desconhece o fato. E informa que ele não pretende se candidatar a nenhum cargo. O cantor é filiado ao PV (Partido Verde).

EU TAMBÉM
O ator Marcos Palmeira, recém-filiado ao PSB, também foi sondado ("por artistas", segundo diz) para disputar o governo do RJ. Disse que não tem interesse.

TODO OUVIDOS
Apesar da defesa de Fernando Haddad a seu secretário de Governo, Antonio Donato, os radares da equipe mais próxima ao prefeito já estavam ontem ligados na potência máxima. Temiam ser surpreendidos com novas notícias sobre algum tipo de proximidade dele com os auditores presos na semana passada por corrupção.

TEMPO AO TEMPO
E já ontem circulava também na prefeitura a possibilidade de Donato se licenciar do cargo. O temor era o de que, ainda que sem base nos fatos, os acusados de corrupção tentassem envolvê-lo para atingir Haddad, que criou a controladoria que fez o cerco final à suposta máfia.

SILÊNCIO
Até a manhã de ontem, nenhuma das empresas suspeitas de pagar propina para os fiscais tinha procurado a controladoria para prestar esclarecimentos. Só a Brookfield, citada desde o início.

BARULHO
A controladoria e o Ministério Público devem considerar que as empresas que não se oferecerem para esclarecimentos espontâneos não podem depois pleitear o tratamento de vítimas de extorsão. Passam a ser suspeitas de corrupção.

GUERRA...
A exibição de uma foto de Bárbara Paz em peça do Teatro Oficina não foi uma crítica à atriz, mas "à ditadura do mercado", segundo o diretor Zé Celso Martinez Corrêa. A imagem --parte de um ensaio com o tema "black bloc" protagonizado por ela-- apareceu em cena de "Cacilda!!! Glória no TBC - Capítulo 1" que atribui ao endurecimento da ditadura a migração de artistas dos palcos para a TV.

...E PAZ
Bárbara já fez trabalhos com o Oficina. "Para sobreviver, temos de pagar algum dízimo. Até eu já fiz pontinha numa novela na Globo", diz o diretor. "Amo o Zé Celso", afirma a atriz. "Exerço o meu ofício. Na TV e no teatro. Não sou uma vendida." A foto será tirada das próximas sessões, segundo Martinez, por razões estéticas.

NA GÔNDOLA
A maior parte dos idosos (51%) não consegue compreender os rótulos das embalagens de alimentos, por causa de "palavras difíceis" e informações escondidas. Desses, 88% dizem que as letras são ilegíveis.

NA GÔNDOLA 2
"Isso é muito grave, pois eles são um grupo com alto percentual de restrições alimentares", afirma Marianna Magnoni, coordenadora de um estudo inédito sobre consumo de alimentos na terceira idade. A pesquisa da ESPM, com apoio do Hcor e do Instituto Dante Pazzanese, acompanhou hábitos de 102 idosos cardiopatas.

LACRE
A abertura das embalagens também é um problema para 52,9% dos entrevistados. Para 80% deles, as propagandas de alimentos não são feitas para a terceira idade. Quase 90% dos que foram ouvidos não conseguem citar um anúncio que tenha um idoso. Os dados serão divulgados no dia 22, em evento na ESPM sobre o marketing de alimentos.

UMA LONGA ESTRADA
Helena Carvalhosa, 75, começou sua carreira nas artes plásticas em 1963. E diz que nunca mais parou. "O caminho pra se chegar a uma identidade própria é sempre longo", afirma.

Prestes a inaugurar uma exposição com pinturas, cerâmicas e desenhos, a artista --que, entre outros trabalhos, publicou um livro com fotos de objetos criados por ela e trechos da obra do poeta Manoel de Barros (com cartinha de autorização escrita por ele)-- diz que se inspira no conceito de liberdade para criar.

"Continuarei na arte até morrer. É o que me interessa", afirma Helena. A abertura da mostra está marcada para o próximo dia 13.

MANIFESTO MODERNISTA
O arquiteto Michel Safatle ofereceu jantar de aniversário à empresária Tarsila do Amaral, sobrinha-neta e homônima da pintora, anteontem, na Vila Nova Conceição. Os artistas plásticos Gustavo von Ha e Maria Bonomi, com a galerista Maria Helena Peres de Oliveira, e o empresário Álvaro Coelho da Fonseca estiveram na festa.

VERSÃO PAULISTA
A cantora Juçara Marçal e os músicos Kiko Dinucci, Criolo e Décio 7 se apresentaram no projeto Afrosampa - Releitura Urbana, anteontem, no Sesc Vila Mariana. O show homenageou os 47 anos do disco "Os Afro Sambas", de Vinicius de Moraes e Baden Powell.

CURTO-CIRCUITO
Mais de 15 mil pessoas já visitaram a mostra de Mira Schendel, artista suíça radicada no Brasil, no primeiro mês em cartaz na galeria inglesa Tate Modern.

O livro "Sobre Bolas e Outros Projetos: Eduardo Longo Arquiteto", de Fernando Serapião, será lançado hoje, no Museu da Casa Brasileira, às 19h30.

O escritório Franco Montoro e Peixoto Advogados, de Paulo Peixoto e Rodrigo Montoro, comemora dez anos, amanhã, na Estação São Paulo, às 20h.

A Repetto promove aula de balé para crianças, amanhã, às 10h30, na loja do shopping Cidade Jardim.

Aécio x Eduardo - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 08/11

O acordo de Aécio Neves e Eduardo Campos foi para o espaço. Tucanos e socialistas não passam um dia sem cantar, em prosa e verso, os limites da candidatura do outro. O apoio de Marina Silva a Eduardo mudou a relação entre eles. Agora, os tucanos avaliam que Marina criará muitos dramas para o PSB. Os socialistas dizem que Aécio é a volta ao passado e apostam no conflito com José Serra. 

Relação de desconfiança 
As rusgas entre o PMDB e o PT são conhecidas. Mas também não anda bem a relação do PSDB com o DEM. O prefeito de Salvador, ACM Neto, ouviu muitas queixas ontem no Congresso. O partido teme a traição dos tucanos nos estados. Em 2010, mesmo após acordo, o PSDB tirou o tapete de João Alves (DEM), que perdeu o pleito para o governador Marcelo Déda (PT). O mesmo ocorreu no Pará. O governador Simão Jatene ( PSDB) ignorou acordo e puxou a escada da candidata do DEM ao Senado Valéria Pires. Será que o governador Teotônio Vilela (PSDB) vai apoiar o único nome viável do DEM para um governo estadual, Thomaz Nonô, nas Alagoas? 


“Estou com um pé lá e outro cá. Se o PT e o governador Cid Gomes não me apoiarem, concorro ao governo ao lado do PSDB e do Tasso Jereissati” Eunício Oliveira 
Líder do PMDB no Senado (CE) 

No ‘caldeirão’ cearense 
O ex-presidente do PSDB Tasso Jereissati deve mesmo concorrer ao Senado. Ele é a estrela de inserções regionais dos tucanos que estão no ar. Nelas, o tucano faz pesadas críticas à gestão do governador Cid Gomes (PROS). 

Bola cheia 
A presidente Dilma está na “fase” mobilidade. Por isso, o ministro Aguinaldo Ribeiro (Cidades) é visto várias vezes por semana no gabinete presidencial. Lá, tratam do andamento das obras, das “entregas” e das viagens da presidente. A pasta, muito cobiçada, concentra os investimentos em mobilidade, saneamento e no Minha Casa Minha Vida. 

Fim da festa 
As companhias aéreas viraram alvo do presidente do Senado, Renan Calheiros. Ele acha um abuso a casa pagar tarifas cheias pelas passagens aéreas. Dia desses, a instituição pagou R$ 3 mil para um palestrante fazer o trecho São Paulo-Brasília. 

Acertando o passo 
O Planalto monitora os debates dos candidatos à presidência do PT e não gostou das críticas pesadas à gestão da presidente Dilma. Depois da eleição, ela determinou a auxiliares que façam uma “autópsia” do processo eleitoral para saber o tamanho real da bronca no PT. Essa análise vai pesar na formação da nova Executiva, que será dominada pela CNB, e das direções nos estados. 

Fim da queda de braço 
A “neutralidade” que impede a cobrança pela transmissão de conteúdos vai prevalecer no marco civil da internet. Estão fechados com ela o ministro Paulo Bernardo (Comunicações), as emissoras de TV, o Google e o Facebook. 

Às escuras 
O Alvorada ficou sem luz na madrugada de quarta-feira. O Palácio tem dois geradores, mas um está estragado, e a Companhia de Energia de Brasília não conserta. Naquela noite, a presidente Dilma dormia, e o outro gerador também pifou. 

O SENADOR AÉCIO NEVES (PSD) cantarolando: “Domingo vou ao Mineirão/Ver meu Cruzeiro ser campeão’ O time pode ser campeão antecipado do Brasileiro. 

Esquadrão antibomba - VERA MAGALHÃES - PAINEL

FOLHA DE SP - 08/11

O Palácio do Planalto teme que o Congresso ceda à pressão de trabalhadores que aguardam a aprovação de reajustes salariais e decidiu reforçar a articulação para tirar esses projetos da pauta. A presidente Dilma Rousseff deve se reunir com líderes da Câmara e do Senado na próxima semana para desarmar as "bombas fiscais", que ampliam despesas do governo. A avaliação é que a tentativa de convencimento conduzida pelas ministras Ideli Salvatti e Gleisi Hoffmann não surtiu efeito.

Buzinaço O governo calcula que o Congresso não vai suportar a pressão de 10 mil agentes de saúde que devem ir a Brasília reivindicar reajuste na próxima semana e expor nas redes sociais quem votar contra o projeto.

Barril Dilma estará hoje com a presidente da Petrobras, Graça Foster, no lançamento de uma plataforma no estaleiro de Rio Grande (RS). É o primeiro encontro das duas desde que a presidente afirmou que não foi consultada sobre proposta de reajuste do preço da gasolina.

No bolso O governo de São Paulo resiste em incluir outras empresas na ação de ressarcimento contra a Siemens, como quer a Justiça. Tem receio de que, caso o Cade não formalize a existência do cartel, ele seja obrigado a arcar com as custas da causa.

Vaquinha O Palácio dos Bandeirantes já considerava que a ação poderia ser rejeitada, mas achou necessário dar uma resposta às acusações. Na estratégia do governo, caso a ação seja aceita, caberá à Siemens acionar as demais empresas do cartel para que dividam o prejuízo.

Inferno astral Aniversariante de ontem, o governador Geraldo Alckmin ganhou de presente uma pilha de livros, entre eles títulos de política, religião e autoajuda. Queixou-se apenas de não ter recebido nada dos deputados estaduais da base: "Estão em crise porque perderam o auxílio-paletó na Assembleia".

Teste... Líderes do PT apontam semelhança entre o projeto de Aécio Neves (PSDB-MG) de integrar o Bolsa Família à legislação de assistência social e outro, apresentado em 2008 pela ex-deputada Rita Camata (ES).

... de DNA Os dois textos recebem a mesma crítica do governo: reduzem o programa ao assistencialismo, sem levar em conta seu impacto na educação e na saúde.

Vem cá 1 A ala majoritária do PPS, que quer apoiar Eduardo Campos, quer fazer do congresso do partido, em dezembro, o primeiro gesto público em direção à aliança com o socialista. O governador será convidado e terá papel de destaque no encontro.

Vem cá 2 Aécio também será convidado. Com isso, a sigla tenta não melindrar o PSDB e aproximar os dois rivais de Dilma, de olho num eventual segundo turno.

Quem avisa... José Sérgio Gabrielli disse anteontem a Lula que a candidatura de Lídice da Mata (PSB) ao governo baiano reforça o palanque de Campos no Nordeste.

... candidato é Em causa própria, o ex-presidente da Petrobras opinou que o PT precisará de um candidato com bom trânsito entre empresários e movimentos sociais. Lula disse para Gabrielli manter o bloco na rua.

Na foto O ex-presidente vai votar na eleição interna do PT ao meio-dia de domingo, em São Bernardo do Campo. Vai levar a tiracolo o ministro e pré-candidato Alexandre Padilha (Saúde).

Visita à Folha Eduardo Cunha, deputado federal pelo Rio e líder do PMDB na Câmara, visitou ontem a Folha. Estava com Flávia Morais, assessora de imprensa.

com BRUNO BOGHOSSIAN e PAULO GAMA

tiroteio

"O governo tucano confundiu ação jurídica e ação de marketing. Esqueceu que a Justiça não age embalada por pesquisas eleitorais."

DE EMIDIO DE SOUZA, ex-prefeito de Osasco e candidato a presidente do PT-SP, sobre rejeição de pedido de ressarcimento feito por Geraldo Alckmin à Siemens.

contraponto


Dinâmica de grupo
Logo após a eleição de Lula em 2002, a cúpula da campanha petista viveu dias de expectativa sobre a montagem do novo ministério. Todos os aliados acreditavam que poderiam receber a qualquer momento um telefonema do chefe do cerimonial, Marcos Laguna, que tinha a incumbência de contatar os futuros ministros.

--O Laguna já ligou?! --, perguntavam-se a toda hora.

A tensão era tão grande que, durante um evento, o então prefeito de Aracaju, Marcelo Déda, fez uma brincadeira para testar os ânimos e, ao se aproximar de uma roda de petistas, gritou: "Ministro!". Todos se viraram.

A guerra da saúde - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 08/11

A Frente Parlamentar da Saúde aproveitará a volta do Orçamento Impositivo à Câmara dos Deputados para tentar ampliar os recursos destinados ao setor. “O texto aprovado no Senado troca seis por meia dúzia. Aqui não será fácil”, reclama o deputado Darcísio Perondi, do PMDB gaúcho. A ideia dos deputados é reeditar o movimento “Saúde+10”, que pretende insistir nos 10% do PIB para o setor. Eles sabem de antemão que o governo não topará, mas estão dispostos a fazer barulho.

O líder no Senado, Eunício Oliveira (CE), garante, entretanto, que, na Câmara, seu partido votará fechado com o texto aprovado pelos senadores, até porque, diz ele, os R$ 7 bilhões destinados às emendas serão dinheiro novo. Perondi discorda. Pelo visto, a discussão vai longe. E se os deputados não acertarem o financiamento, há quem aposte na promulgação fatiada do Orçamento Impositivo, a parte que interessa aos deputados, sem a necessária vinculação. É bom ficar de olho.

Feitiços & feiticeiros I A oposição guarda como uma joia rara o pronunciamento à Nação em que a presidente Dilma Rousseff anunciou a redução do valor da conta de luz. Diante dos aumentos das tarifas da Light e de outras distribuidoras, basta colocar no ar as duas notícias para desgastar um pouco mais a presidente-candidata.

Feitiços & Feiticeiros II A bateria contra o Mais Médicos, entretanto, saiu da linha de frente. Afinal, diante da aprovação do programa, os oposicionistas pretendem silenciar nesse tema.

O fico de Afif O ministro da Secretaria Especial da Pequena e Micro Empresa, Guilherme Afif Domingos, ficará no governo. A turma do Palácio brinca assim quando se refere ao fato: “Afif falou que fica”. É o trava língua ministerial.

Foco neles! No domingo, a direção petista estará ligada no Processo de Eleição Direta (PED) de quatro estados: Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Pernambuco. É nesses locais que a disputa entre as tendências do partido está mais acirrada. No mais, avisam os integrantes da ala majoritária, a Construindo um Novo Brasil, não deve haver grandes mudanças ou surpresas.

Alô, “amigos”!/ O governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro (foto), do PT, deixou de lado as desavenças com o PMDB e passou a telefonar para a cúpula peemedebista pedindo ajuda na aprovação da renegociação da dívida dos Estados. Quem diria...

Pegou/ O deputado Chiquinho Escórcio fez escola no plenário, ao reclamar das votações que varam a noite às quartas-feiras. Nessa semana, lá pelas tantas, um gaiato grita para o deputado Simão Sessim, que presidia a sessão: “Anda logo com isso, Simão! Olha o estatuto do idoso!”.

No dia seguinte…/ Um grupo de turistas na visita guiada, ontem pela manhã, ouviu a seguinte explicação do servidor: “Hoje, como é dia de trabalho, não há acesso ao plenário, vamos apenas às galerias (…)”. Ocorre que estava tudo fechado. Sessão, só no início da tarde e olhe lá.

Pindaíba/ O ministério da Agricultura desativou a maioria dos elevadores. Tudo para economizar. Na Câmara, virou logo piada. “Se fosse um ministério do PT, tinha dinheiro pra tudo”.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

FOLHA DE SP - 08/11

Indústria de tratores de SC construirá fábrica no Norte
Para reduzir o custo de transporte de seus produtos até a região Norte, a Budny, indústria de equipamentos agrícolas de Santa Catarina, irá construir uma fábrica de tratores em Ji-Paraná (RO).

Com investimento estimado em R$ 110 milhões, a unidade vai atender Rondônia e os Estados vizinhos.

Hoje, os veículos vendidos na região são transportados da planta catarinense, localizada em Içara, no interior.

"Para levar um trator do Sul até Rondônia, o custo chega a quase R$ 4.000. Essa logística encarece o produto", afirma o presidente da empresa, Carlos Budny.

O valor representa quase 5% do preço de um trator, que custa cerca de R$ 85 mil.

Outro motivo para a instalação da planta em Rondônia é a expansão da agricultura familiar na região, segmento que representa a maior parte da clientela da empresa.

Programas do governo de regularização de propriedades, que tiram os produtores da informalidade e facilitam o acesso ao crédito, também deverão ajudar na venda de maquinários agrícolas, segundo o presidente.

"O Estado ainda tem um mercado [para tratores e implementos] bastante inexplorado. A estratégia é chegar lá primeiro e ganhar espaço."

A matriz catarinense da empresa tem capacidade para produzir dez tratores por dia. A nova fábrica deverá iniciar sua operação em 2014 com metade desse montante. "Vamos aumentar de acordo com a demanda", afirma.

Além de capital próprio, parte dos recursos para o projeto virá de financiamento bancário. Com a expansão, o faturamento deverá atingir R$ 150 milhões em 2014, segundo o empresário.

"Hotéis não se interessam pela classificação", diz ministro
O Ministério do Turismo classificou 46 meios de hospedagem de acordo com critérios estabelecidos pela pasta no país.

A expectativa para 2012, porém, era de 118 unidades hoteleiras classificadas só no Rio --estimativa nada exagerada para um universo de 6.260 estabelecimentos em cadastro oficial no país.

Para o ministro Gastão Vieira, os próprios empresários não têm interesse na classificação de seus hotéis.

"A adesão é baixa porque muitos hotéis já venderam pacotes para o ano que vem e preferem ficar com as estrelas que afirmaram ter", diz.

"O custo da classificação não é alto: a partir de pouco mais de R$ 800."

O valor, que pode chegar a R$ 5.031,43 para a categoria mais elevada, de resort, inclui a placa com as estrelas e a visita do Inmetro, órgão que vistoria o cumprimento dos critérios estabelecidos.

No mês passado, a Pousada Fazenda Santa Fé foi o primeiro hotel fazenda do país a receber três estrelas do Ministério pelo Sistema Brasileiro de Classificação (SBCLass), instituído em 2011.

Além da pousada localizada em Bezerros, a 94 km de Recife (PE), o hotel Estação 101, em Itajaí (SC), às margens da BR 101, também ganhou três estrelas.

O último grande hotel classificado foi o Tropical Manaus, que ostenta a placa de resort cinco estrelas.

CONEXÃO RIO-SÃO PAULO
Com uma aposta exclusiva no mercado "premium", as incorporadoras Alfa Realty, de São Paulo, e MDL, do Rio, vão aportar R$ 700 milhões em lançamentos nos próximos dois anos.

Serão 13 empreendimentos de alto padrão distribuídos pela capital paulista, com foco nos bairros Alto de Pinheiros, Vila Madalena, Perdizes e Vila Romana.

"É um mercado que tem bastante espaço para crescer. O cliente premium' está criterioso e em busca de empreendimentos que vão agregar valor ao longo do tempo", afirma o sócio Eudoxios Anastassiadis.

Os dois últimos projetos dão uma ideia do perfil adotado pela joint venture, formada em 2011.

Um deles, uma torre em Perdizes com apartamentos de 89 a 169 metros quadrados, será lançada amanhã.

A outra obra recente foi um condomínio de cinco casas, com 420 metros quadrados, em Alto de Pinheiros, comercializadas por cerca de R$ 4,5 milhões cada uma, segundo o empresário.

"Esse projeto serviu para testarmos o mercado no bairro, que há algum tempo não recebia novidades. Agora lançaremos mais dois perto do empreendimento", diz.

PONTE IMOBILIÁRIA
O grupo Brasilinvest fechou uma parceria com a norte-americana Coldwell Banker de corretagem de imóveis.

Na joint venture, a Brasilinvest fará a ponte com investidores brasileiros, de acordo com Fernando Garnero, CEO do grupo.

"A Coldwell Banker investe conosco R$ 17 milhões com a expectativa de gerar R$ 2 bilhões com franquias ao ano", afirma o empresário.

"É uma imobiliária que já tem dez unidades afiliadas no país e nossa meta é fechar dezembro com um total de 12. Pretendemos expandir para o Rio e para Brasília", acrescenta Garnero.

Neste mês, os parceiros inauguram a primeira franquia regional em Campinas (SP). A meta é abrir 350 franquias no país em cinco anos.

Com taxa de franquia a partir de R$ 30 mil, a abertura de uma unidade da rede exigirá um aporte de ao menos R$ 60 mil.

É a primeira atuação do Brasilinvest na área de corretagem de imóveis.

O grupo já fez investimentos imobiliários na cidade de Campinas, onde planeja outros lançamentos.

CONTAS A PAGAR
O número de famílias endividadas na cidade de São Paulo subiu em outubro, segundo a Fecomercio-SP.

A parcela chegou a 54,4%, na comparação com 52,6% do mês anterior --alta de 3,3%.

"Após o período de oscilação do índice depois do pico da inflação, a tendência é que o endividamento caia com a entrada do décimo terceiro", afirma Fernanda Della Rosa, economista da entidade.

Cerca de 19% das famílias tinham contas atrasadas no mês, uma alta de 4,8 pontos em relação a setembro.

Bombeiro... Márcio Holland, secretário de Política Econômica da Fazenda, se reúne hoje à tarde, em São Paulo, com economistas-chefes de bancos.

...em ação A ideia é discutir a conjuntura. É a terceira reunião de Holland neste ano com economistas-chefes.

Carro inglês Autoridades do Reino Unido vêm ao Brasil neste mês para discutir sobre segurança e inovação automotiva. O evento será realizado pelo UK Trade & Investment.

Comida... A Vapza, indústria de alimentos cozidos a vapor e embalados a vácuo, vai investir R$ 13,5 milhões para ampliar sua fábrica localizada em Castro (PR).

...a vácuo Os recursos também serão usados na construção de uma sede administrativa em Curitiba.

Dente de ouro A OdontoCompany abrirá mais 85 unidades no país em 2014. O investimento para cada clínica varia entre R$ 138 mil e R$ 269 mil. São hoje 150 franquias.

Os preços, no elevador - CELSO MING

O Estado de S.Paulo - 08/11

Não é por que tenham sido esperadas que ventania e enchente se tornam menos destrutivas.

É o que ocorreu com a inflação de outubro. Não ficou abaixo do nível com que já se contava, mas nem por isso deixa de estar em expansão e semear preocupação. Até o Banco Central terá de reconhecer que a inflação segue muito espalhada e resistente. Muito espalhada, porque o índice de difusão, que mede o número de itens da cesta de consumo sob impacto da alta, subiu de 57,8% em setembro para 67,7% em outubro. Resistente, porque a puxada dos juros básicos (Selic), de 7,25% para 9,50% (ao ano) em seis meses, pouco impacto teve na derrubada da demanda e dos preços.

Mesmo com essa alta dos juros de 2,25 pontos porcentuais ao ano, o Banco Central não vem conquistando credibilidade suficiente com sua política monetária de modo a reduzir a expectativa de inflação. Os remarcadores de preços continuam esperando uma inflação próxima dos 6%, tanto para 2013 (5,85%) como para 2014 (5,92%), como aponta o próprio Banco Central (veja o Confira).

Desta vez, são três números dentre os divulgados ontem pelo IBGE que produzem mais apreensão. O primeiro deles é a forte esticada nos preços dos alimentos e bebidas, de 1,03% apenas em outubro (fora de 0,14% em setembro).

O segundo é a continuidade da pressão de alta dos serviços, de 0,52% em outubro e de 8,74% em 12 meses, o que reflete procura elevada demais.

O terceiro número preocupante é o que aponta para o avanço dos preços administrados, aqueles controlados diretamente pelo governo. Em outubro, subiram apenas 0,14%; em 12 meses, 1,02%, muito abaixo da inflação. Esta observação precisa de uma explicação adicional para não ser mal compreendida. Podem dizer: esses reclamões acham ruim quando os preços sobem e acham ruim também quando os preços são mantidos lá embaixo, pela mão firme do governo.

Mas não é por aí. É que tarifas e preços artificialmente represados, como os dos combustíveis, dos transportes urbanos e da energia elétrica, cedo ou tarde acabarão por transbordar. Devem ser considerados inflação encomendada e isso é ruim, porque predispõe os agentes econômicos para remarcações antecipadas.

Não há muito o que acrescentar ao que já foi dito por todos esses meses a respeito das causas. Os preços movem-se no elevar em consequência da política de rendas (aumento do poder aquisitivo) do governo Dilma. Esta, por sua vez, tem a ver com a forte expansão das despesas públicas (política fiscal frouxa demais); com o crescimento dos salários acima do aumento da produtividade do setor produtivo, num ambiente de pleno-emprego; com o crédito bem mais acessível para o consumidor e, ainda, com a puxada das cotações do dólar no câmbio interno, que encareceu as importações.

Na falta de colaboração da política fiscal, se quiser mesmo conter a inflação, o Banco Central terá de continuar a puxar pelos juros, principalmente se as cotações do dólar no câmbio interno continuarem sua cavalgada (veja o Confira). Ficou muito difícil segurar a Selic abaixo dos dois dígitos (abaixo de 10% ao ano), até agora tabu do governo Dilma.

Aécio, Campos e a 'crise fiscal' - VINICIUS TORRES FREIRE

FOLHA DE SP - 08/11

O que os candidatos têm a dizer sobre a 'crise', já que defendem um tipo de rombo federal?


ESTAVAM TÃO falantes os pré-candidatos a presidente, faz menos de duas semanas. Agora, que o caldo da economia parece entornar, estão todos tão lindos, postos em sossego ou repouso, mortos como a Inês do poema.

Por que a oposição se finge de morta, dado que o governo de Dilma Rousseff faz água por mais um buraco? Não era uma oportunidade de malhar a situação?

Pois então. Pelo menos até o dia em que porventura assumam a Presidência, Aécio Neves e Eduardo Campos acham que o governo federal deve perder parte do bolo de impostos, em benefício de Estados e municípios. E daí?

Daí que transferir mais dinheiro para governos regionais redunda em; 1) Crise e desastre, se não forem cortadas despesas; 2) Para transferir dinheiro bastante para governos regionais, será preciso cortar em investimento, benefícios de assistência social ou Previdência.

Ou seja, Aécio e Campos na prática teriam de defender uma lambança fiscal ainda maior ou teriam de mexer em vespeiros. O que propõem a respeito? Pergunte ao candidato.

Parênteses: os candidatos devem ter o pudor e o bom gosto intelectual de não vir com aquela conversa mole de "choque de gestão". Um sujeito não pode ser presidente do Brasil se acredita mesmo que o problema fiscal do país é cortar cafezinho e passagem aérea (atenção: isto é uma metáfora).

Aécio, além do mais, é adepto de parte atual da lambança, pois defende, ao lado de Dilma, o projeto de recalcular, renegociar e diminuir a dívida de Estados e municípios com a União (governo federal).

Não só esse projeto de lei já pega mal e contribui para o clima econômico ruim como vai dar em mais besteira assim que Estados e municípios fizerem mais dívidas (pois alguns estarão liberados para fazê-lo, graças ao endividamento menor).

Aécio e Campos chamam essas coisas de "refundação de pacto federativo", uma reação crítica à "brutal centralização de receitas [a favor do governo federal], o que nem é verdade, mas passemos. Enfim, essa refundação da refazenda não vai passar de demagogia enquanto os candidatos não explicarem como vão tapar o rombo resultante do pacto.

Para piorar, o PSDB de Aécio defende ainda mais vinculações de verbas orçamentárias. Isto é, obrigar que o governo gaste tantos por cento nisso, tantos por cento naquilo, como é o caso de sugerir a vinculação de 18% da receita líquida federal para a saúde, emenda à já desastrosa lei do orçamento impositivo.

Parece lindo, mas, como não se prevê que Jesus baixe no Tesouro Nacional e faça o milagre da multiplicação de reais, o resultado de tantas vinculações e tantas despesas correntes obrigatórias e crescentes é que não sobra dinheiro para quase nada. Até para investir num caminho de vaca ou barraca de quermesse ou governo tem de fazer dívida caríssima, de juros enormes, despesa que enfim é paga com dinheiro extraído do couro do povo miúdo.

Como Campos é mais escorregadio e, digamos, ainda mais genérico que Aécio, acaba se comprometendo menos com roubadas econômicas, mas seu caso é, fundamentalmente, o mesmo. "Refundação de pacto federativo", em suma redistribuição de dinheiro, só não dá em besteira se houver alguma sobra para redistribuir (ou corte de despesas).

Uma política de preços para a Petrobras - ROGÉRIO FURQUIM WERNECK

O GLOBO - 08/11

A vinculação só pode ser estabelecida se for exigida da empresa como regra de regulação



Em meio à interminável sequência de improvisações imediatistas em que se converteu a condução da política econômica no país, é alvissareiro que a Petrobras tenha decidido que chegou a hora de desenterrar a questão do alinhamento dos preços internos de derivados de petróleo aos preços internacionais. E que venha se mostrando seriamente empenhada em dar equacionamento adequado à questão.

Embora não se conheça ainda o exato teor das soluções que vêm sendo discutidas no âmbito da empresa, tudo indica que o que se contempla é a adoção de regras relativamente rígidas de atrelamento dos preços internos aos externos. O que talvez não seja a melhor solução.

Há mais de nove anos, quando o governo ainda parecia ter interesse na questão, propus solução bem mais flexível, em artigo publicado no “Estado”, em 18/6/2004, sob o título “Preços de derivados de petróleo”. No que se segue, faço amplo uso do direito de autoplágio e, em boa medida, reproduzo os argumentos apresentados naquele artigo, na esperança de que, agora, possam merecer mais atenção do que parecem ter recebido na época.

Por mais desejável que seja, a vinculação entre preços internos e externos, no caso dos derivados de petróleo, não pode ser assegurada no Brasil pelo livre funcionamento dos mercados. Tendo em vista o enorme poder de monopólio da Petrobras, a vinculação só pode ser estabelecida se for exigida da empresa como regra de regulação. Mas a obediência a essa diretriz um tanto vaga não é trivial. Seguir tal regra de vinculação de preços, na prática, envolve decisões discricionárias muito complexas sobre o timing e a magnitude das correções de preços internos.

Incumbida de zelar pela vinculação, a Petrobras estará às voltas com um papel ambíguo, duplamente ingrato. Ao elevar preços, será vista pelos consumidores como monopólio implacável, a serviço de seus acionistas, inclusive do próprio governo. E, ao reduzi-los, ou deixar de elevá-los, será vista pelos acionistas como incorrigível empresa estatal, sempre pronta a se pôr a serviço da política de combate à inflação ou a conveniências populistas.

Para contornar essas dificuldades, é preciso que se instaure um sistema transparente de gestão da política de vinculação entre preços internos e externos, que facilite o acompanhamento da lógica das decisões tomadas e a avaliação dos resultados obtidos. Há quem argumente que o que falta é um conjunto de regras claras e objetivas. Mas é pouco provável que o problema possa ser resolvido de forma tão simplista. Não faz sentido reduzir a ideia de vinculação à mera atrelagem mecânica do preço interno de cada derivado a um preço de referência externo. A política de vinculação que interessa exige análise mais ampla, tendo em conta amplo espectro de preços e a evolução do mercado internacional de petróleo como um todo. O que pode ser bem mais complexo do que se pensa.

O desafio de dar transparência a decisões discricionárias especialmente complexas e, ao mesmo tempo, permitir a avaliação contínua da qualidade dessas decisões vem sendo enfrentado, com razoável grau de sucesso, na política de metas para a inflação. Talvez se deva extrair dessa experiência lições importantes para a política de preços de derivados. O que parece estar faltando nessa política é algo similar ao Relatório de Inflação, por meio do qual o Banco Central explicita seus diagnósticos e premissas e justifica suas decisões, expondo-as à avaliação pública.

Não parece ser demais exigir que a cada três ou quatro meses a Petrobras produza documento similar, justificando detalhadamente sua política de preços de derivados, à luz da evolução do mercado internacional de petróleo e da meta regulatória de alinhar preços internos aos preços internacionais. É uma iniciativa relativamente simples que permitiria tornar a política de preços de derivados menos ruidosa, mais consequente e mais previsível. E que contribuiria para elevar em muito o nível do debate sobre a questão.

Governo atribui déficit fiscal às desonerações - CLAUDIA SAFATLE

Valor Econômico - 08/11

Quando decidiu usar a ampla desoneração da folha de salários das empresas como tática para animar a economia, o governo calculou que a perda notável de arrecadação, cerca de R$ 80 bilhões, seria facilmente compensada por três efeitos que a desoneração iria produzir: a manutenção do emprego, a formalização e um forte crescimento econômico, conta uma fonte oficial. O crescimento tal como esperado não veio. O governo também não reduziu despesas para reequilibrar as contas. Ao contrário, enquanto as receitas totais cresceram 8% até setembro (abaixo do PIB nominal de 8,5%), as despesas aumentaram 13,5%. O déficit emergiu.

Ano de eleição, 2014 vai ser mais complicado para as contas públicas. Ao contrário das declarações oficiais, esse é o prognóstico de especialistas em política fiscal que também não contam com uma sensível recuperação da economia para elevar as receitas tributárias. As estimativas apuradas junto ao mercado pelo Focus, do Banco Central, apontam crescimento de 2,5% este ano e de 2,13% em 2014.

"Primeiro mergulha, depois sobe. O resultado fiscal só deve melhorar a partir de 2015", avaliou uma fonte graduada, partindo do pressuposto de que do governo não partirá uma reação enérgica, um "pacote" de cortes de gastos ou coisa parecida.

Ao mesmo tempo, segundo fontes oficiais, o país já está sentindo nos preços dos ativos os efeitos das expectativas do início da normalização monetária nos Estados Unidos e de um temido rebaixamento do grau de investimento pelas agências de "rating". E fica cada dia mais evidente que juros reais de 1,5% a 2% ao ano, como se chegou a ter, eram pontos fora da curva. Os juros reais deverão, na melhor das hipóteses, rondar entre 4% e 6% ao ano, estimam. O déficit nominal do setor público vai crescer.

Com a perspectiva de um superávit primário de 1,5% do Produto Interno Bruto (PIB) do governo central e de 0,4% do PIB dos Estados e municípios, o resultado final da política fiscal este ano deve ficar próximo a 1,8% do PIB, e não os 2,3% do PIB anunciados como factível pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, depois de abandonar a meta de 3,1% do PIB. Para 2014, estimativas extraoficiais indicam algo da ordem de 1,5 % do PIB de saldo primário.

Mesmo que o governo endureça as regras para concessão do seguro-desemprego e do abono salarial, além de insuficientes os efeitos demoram a aparecer.

O debate sobre os rumos da política fiscal do governo esquentou esta semana, como reação ao desempenho de setembro: déficit primário de R$ 9 bilhões. Essa não é uma discussão estanque. Ela é parte importantíssima da política econômica e vai ser determinante na gestão da taxa de juros e, consequentemente, da inflação.

Numa ofensiva para acalmar os ânimos dos mercados, a ministra-chefe da casa Civil, Gleisi Hoffmann, declarou simpatia à mudança da meta fiscal para um regime de bandas. O ministro da Fazenda, contudo, assegurou que sistema de bandas é o que ele pratica desde que criou-se a possibilidade, na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), de abater os gastos do PAC da despesa total. "É claro que já temos uma banda", disse ele ao Valor.

Há, de fato, uma banda implícita em funcionamento, de imensa amplitude e só para o governo central. Hoje ela seria de 0,9% do PIB a 3,1% do PIB, pelos parâmetros do Orçamento. Intervalo que se repete em 2014. Ela, porém, não considera o que vai ocorrer com os Estados e municípios, unidades que caminham celeremente para o aumento do endividamento, com a anuência do Executivo.

A proposta a que Gleisi se referiu é, provavelmente, outra. Há cerca de dois meses ela esteve com o ex-secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, que vem trabalhando sobre essa alternativa. A ideia é mudar a política fiscal, a partir de 2015, caso a presidente Dilma Rousseff seja reeleita, para um regime de bandas bem definidas (com piso e teto para todo o setor publico), um programa de recuperação gradual da capacidade do Estado produzir superávit primário até 2018 e metas para a dívida interna.

Essa sugestão, se crível e defendida como uma transição para tempos melhores, poderia ser útil na recuperação da credibilidade do governo, imaginam assessores. Pior do que ser surpreendido com resultados ruins é a falta de um plano de voo para superá-los.

Há anos dormitam nas gavetas do setor público propostas para conter os gastos com seguro-desemprego, auxílio-doença, pensão por morte, que não raro são objetos de fraudes. A cada susto com os aumentos das despesas, aparece alguém no governo para ressuscitar uma ideia aqui, outra ali, que a inércia se encarrega de colocar nas prateleiras rapidamente.

A discussão sobre os destinos da política fiscal não é uma abstração. Ela afeta e muito a vida do cidadão. Quanto menor for a ajuda da área fiscal - que compreende as receitas e despesas públicas - para controlar a inflação, maior terá que ser a elevação da taxa de juros. Mas mesmo para esse desbalanceamento, há um limite.

Com o Tesouro Nacional expandindo o gasto e o Banco Central contraindo a liquidez da economia e o crédito, o perigo é de a autoridade monetária se ver "pescando marlim com linha de tilápia", costuma dizer o ex-presidente do BC Armínio Fraga. A linha pode arrebentar.

Se um eventual trato feito entre Banco Central e Ministério da Fazenda - de ambos jogarem na mesma direção - foi rompido lá atrás, resta à autoridade monetária, solitariamente, cuidar da sua missão e conter a inflação com o manejo da taxa de juros.

A situação do Brasil não é desesperadora, mas é preocupante. O governo assumiu riscos demais que poderiam ter sido evitados.

Falsa correção - EDITORIAL O ESTADÃO

O Estado de S.Paulo - 08/11

Sem respostas adequadas aos que, com base em dados oficiais, apontam para a notória deterioração da política fiscal, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, procurou reduzir o impacto negativo dos péssimos resultados das contas públicas relativos a setembro com o anúncio, às pressas, de que o governo reduzirá os gastos com abono salarial e seguro-desemprego. Desse modo, o ministro tenta transformar uma ação de rigorosa auditoria - que seria corriqueira em um governo preocupado em dar o destino adequado ao dinheiro arrecadado da sociedade - ou casos de natureza policial em uma medida de correção da política fiscal, que até agora o governo Dilma não conseguiu apresentar de maneira convincente.

Esses gastos, de fato, têm crescido de maneira intrigante. Mas, ainda que eles sejam contidos por meio de controle mais rigoroso dos pagamentos, de maiores exigências a respeito do treinamento profissional dos beneficiados e da punição dos responsáveis por fraudes, a política fiscal não será alterada. Ela continuará a gerar superávits primários cada vez mais mirrados e a minar a já abalada confiança dos agentes econômicos internos e externos no governo Dilma.

Em situação normal, os gastos com seguro-desemprego e com abono salarial tendem a seguir trajetória inversa à do nível de emprego. Quando melhora a situação do mercado de trabalho, as despesas com esses benefícios diminuem. É inexplicável, por isso, o aumento rápido dos pagamentos desses benefícios no período em que a taxa de desemprego vem caindo e se mantendo em nível muito baixo.

Entre 2003 e 2012, enquanto as receitas típicas do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) - cujos recursos se destinam ao pagamento do abono e do seguro-desemprego e aos programas do BNDES de apoio financeiro ao desenvolvimento - cresceram 79,5%, os pagamentos de seguro-desemprego aumentaram 158%.

Para tentar conter o crescimento dos gastos, o governo passou a exigir dos que se candidataram a receber os benefícios três vezes no período de dez anos a frequência a cursos de formação. Há poucas semanas, a exigência tornou-se mais rigorosa, com sua extensão aos que requisitarem o benefício pela segunda vez em dez anos.

Mas, como não há meios de fiscalizar o cumprimento dessa norma, no ano passado, de 7,7 milhões de trabalhadores que receberam o seguro-desemprego, apenas 46,5 mil se matricularam nos cursos de formação. Em média, 36% dos beneficiados estavam recebendo o benefício pela segunda vez em dez anos e 8,3%, pela terceira vez. Ou seja, se já estivesse sendo aplicada rigorosamente a exigência para quem pediu o benefício pela segunda vez, cerca de 2,8 milhões deveriam ter frequentado os cursos. Mas não há cursos suficientes, não se destinam recursos suficientes para eles nem há fiscais suficientes para verificar o cumprimento da exigência.

Além disso, há fraudes, algumas já detectadas pela polícia. O ministro da Fazenda informou que, em três ações da Polícia Federal realizadas entre novembro do ano passado e setembro deste ano, foi identificado o desvio de R$ 56 milhões.

Há também regras, como a indexação dos benefícios ao salário mínimo, que tem tido aumentos reais expressivos nos últimos anos, que fazem crescer mais os gastos do FAT.

Há, ainda, a rotatividade da mão de obra, mas, até onde se sabe, ela não tem aumentado. As isenções fiscais, de sua parte, reduzem as receitas do FAT.

E há, por fim, a sistemática retenção de receitas do FAT pelo Tesouro, por meio do mecanismo da desvinculação das receitas da União (DRU), como parte do esforço de obtenção do superávit primário.

Feitas as contas, o FAT deve registrar neste ano um déficit de R$ 7,2 bilhões.

O ministro decidiu consultar as centrais sindicais. Como era de esperar, elas nada propuseram, pois não têm como interferir nas receitas e nas despesas do FAT. Mas têm muito a pedir ao governo, que não as tem ouvido com a frequência que elas desejam.

O governo pode ter criado mais um problema para si, sem ter resolvido nenhum dos que dizia querer solucionar.

Ousadia para mudar a economia - PEDRO LUIZ PASSOS

FOLHA DE SP - 08/11

Uma absoluta mudança de rumo é imprescindível para retomar o crescimento econômico no Brasil


Em 2013, teremos mais um ano decepcionante para a indústria brasileira. Depois de um crescimento sofrível de 0,4% em 2011, a produção manufatureira recuou 2,6% no ano passado.

Neste ano, o desempenho tem sido apenas modesto, de 1,6% no acumulado até setembro. Resultado: na média do último triênio, a indústria deu marcha a ré.

O que poderia ser mais contundente do que esses números para mostrar que o setor está sem rumo? Pior, como a atividade fabril mantém significativa relevância na economia por seu alto poder de influência sobre outros segmentos, o dinamismo econômico como um todo se vê restringido pelo revés industrial, mesmo que o agronegócio e os serviços preservem bom desempenho.

Em outras palavras, a crise da indústria está no centro do mau momento vivido pela economia brasileira. Alguns fatores específicos do setor são responsáveis por essa situação, mas há outros sérios problemas que contribuem decisivamente para o agravamento desse cenário.

Em documento recente, o Iedi relacionou as mudanças e as reformas necessárias para que a indústria volte a ser um de principais motores de crescimento do país, ajudando na retomada do seu desenvolvimento econômico e social. Com melhorias mais contundentes na educação e na infraestrutura, poderíamos obter ganhos extraordinários de bem-estar para a população e elevação da produtividade na indústria e nos demais setores. É necessário acelerar rapidamente as parcerias público-privadas e o programa de concessões de obras de infraestrutura.

Outro passo fundamental é conduzir reformas que tornem o sistema tributário menos injusto e mais simples, o que deverá ser acompanhado por maior eficiência na gestão dos recursos públicos, levando à redução dos custos gerais da economia.

Na mesma direção, ações coordenadas para diminuir a burocracia, simplificar os marcos legais e adequar a legislação trabalhista às novas tendências do mercado de trabalho aumentariam a segurança dos agentes econômicos e contribuiriam para a racionalização de custos.

Com essa nova etapa de reformas, as políticas dirigidas diretamente ao desenvolvimento industrial podem e devem ser revistas para abrigar dose redobrada de ousadia. O caráter meramente defensivo que vem pautando a política nessa área precisa ser abandonado. Outros caminhos devem ser trilhados para nos aproximarmos da vanguarda em inovação e produtividade.

Não há outro meio para alcançar esses objetivos que não seja uma integração muito maior de nossa economia aos principais fluxos mundiais de comércio, o que alimentaria a competição interna, estimularia investimentos em inovação e levaria à adoção de processos para o aumento da produtividade.

Há, é claro, pressupostos para conquistar uma maior inserção externa. Os principais são a abertura comercial, a celebração de acordos bilaterais e o estabelecimento de políticas para atração de companhias internacionais. Essas iniciativas permitiriam a maior participação brasileira nas cadeias globais de valor, das quais estamos muito ausentes.

Naturalmente, tudo isso requer cautela, tanto na condução do câmbio, não permitindo valorizações excessivas de nossa moeda como tivemos no passado, como na redução das tarifas de importação, que deve ser gradativa, à medida que se eleva a competitividade da economia.

Duas outras orientações mereceriam ser avaliadas na política de desenvolvimento da indústria.

A primeira consiste em priorizar a redução de custos na base das cadeias produtivas, e não nos produtos de consumo. O objetivo é aproximar o custo dos insumos básicos produzidos no país dos níveis internacionais. Dessa forma, os setores de bens de capital e de bens de consumo seriam beneficiados, o que traria efeitos positivos para toda a economia. Isso daria maior viabilidade à redução nas tarifas de importação.

A segunda orientação é fazer do crescimento sustentável uma referência para a transformação econômica, um tema que, sob esse ângulo, tem sido praticamente ignorado até agora. Em torno dos novos setores e negócios gerados pela economia verde, entre eles o etanol, a energia de biomassa e a química verde, poderiam ser estabelecidos programas de avanço tecnológico.

Seria importante ainda definir marcos regulatórios de forma a conciliar os objetivos de avanço econômico com a preservação ambiental e a equidade social.