GAZETA DO POVO - 02/06
Pois é. Já bastavam todos os questionamentos – dos mais simples ao mais complexos – que permeiam os relacionamentos amorosos e a vida conjugal. Agora, precisamos lidar com mais um: o que vamos assistir na Netflix?
O serviço de tevê por internet é relativamente novo na minha vida. Começamos por Breaking Bad – série pela qual todo o novo espectador se inicia, me garantiu um amigo. E que é responsável por fazer a gente perder horas a mais do que gostaria, se entreolhar no sofá com complacência e concordar: “Só mais um episódio, vai."
A tortura para muitos casais é que os horários livres não batem. E um precisa esperar o outro para assistir. Sim. Fiz uma pesquisa com meus amigos e essa é a regra de ouro conjugal. “Jamais assistir a séries separados! Jamais! Isso pode acabar com o casamento”, me garantiu uma delas.
Outra, também só assiste com o marido, mas o acordo não foi uma das cláusulas do casamento. Aconteceu e funciona.
O problema é quando ela dorme no meio: o marido se sente traído. Ofendidíssimo, não conta os principais pontos do episódio, nem se ela pedir de joelhos. E pragueja que a dorminhoca veja a série sozinha. Ela se recusa, e os dois se acertam conectando as gambiarras na televisão, estourando uma pipoca de micro-ondas e tomando uma coca-cola gelada. O junkie food, aliás, estava fora da casa por causa da filha pequena. Até isso mudou pós-Netflix.
O acordo netflixiano é ainda mais complicado para casais com bebês – que precisam esperar o rebento dormir para ver mais um dos causos do sr. Walter White. “Isso vicia a gente!”, me falou uma mãe, que compartilha da mesma obsessão que a minha pela série de Vince Gilligan.
Tem ainda os sem-tempo: uma colega contou que ela e o marido, 30 anos juntos, simplesmente não conseguem ver nada juntos (me cortou o coração). Tem também o estilo professor/professora, que precisam atualizar o cônjuge acerca do contexto político de House of Cards.
Descobri muitos casais autônomos. Os gostos para séries são muito diferentes, e cada um fica no seu quadrado (rola um filminho, no máximo). Tem gente que apenas gosta de ter seu momento solitário em frente à televisão, como me confessou uma das minhas entrevistadas.
Ela precisa lidar, ainda, com o fato de a lista dos “programas indicados para você”, ficar um pouco confusa pelos gostos distintos do casal. Mas o tormento dela é ir recheando o índice de sugestões e nunca assistir aos filmes. “Já perdemos filmes que saíram do catálogo porque ficaram meses na fila. Uma tragédia.”
“No seu login ou no meu?”, é outra indagação que acontece, e a principal briga de um casal de amigos, que ficam um tempo debatendo, ou acusando o outro de: “Estragar a seleção do logaritmo do meu perfil”, ou, ordenar: “Vá ver esse filme com cara de ruim no teu perfil!”. Como lembrou uma recém-casada: a Netflix assinala o que foi visto. É dedo-duro. “Mas quem não deve, não teme.”
Namoros
Outro fator chocante (pelo menos, para mim): os namoros recentes também já vêm com regras em relação ao serviço: nem duas semanas de convivência “oficial” escapam da ordem de ver Mad Men somente juntos – o resto, dá para ver sozinho na boa, me garantiu uma apaixonada, que aposta que o serviço é o “futuro das relações afetivas”. Exagero ou cumplicidade? Boa pergunta. Só sei que um amigo obriga todos os novos namorados a assistirem Rupaul’s Drag Race. “E assisti a tudo de novo. Terminei de ver todas as temporadas disponíveis pela terceira vez.”
Seja qual for o perfil de um casal, creio que vale um velho conselho que ouvi assim que comecei a usar a Netflix: “Cuidado para não arruinarem as suas vidas”.
terça-feira, junho 02, 2015
Forças contra a modernização tecnológica - JOSÉ PASTORE
O ESTADO DE S.PAULO - 02/06
Em face da iminente necessidade de elevar a produtividade do trabalho e modernizar os processos produtivos, seria absurdo querer bloquear a entrada das modernas tecnologias nos processos produtivos por meio de leis.
Para muitos, pode ser surpreendente saber que isso pode ser feito no Brasil com base no inciso XXVII do artigo 7.º da Constituição federal, que estabelece uma proteção contra a automação. Não é brincadeira, pois muitos parlamentares já conseguiram aprovar leis inibidoras de tecnologia com base nesse princípio. Por exemplo, Aldo Rebelo (PCdoB/SP), atual ministro de Ciência, Tecnologia e Inovação, é autor da Lei n.º 9.956, que proíbe a instalação e o funcionamento de bombas de autosserviço nos postos de gasolina. Na mesma trajetória, propôs a proibição de catracas automáticas nos veículos de transporte coletivo, que deu origem a várias leis estaduais e municipais. Tais proibições redundaram num forte impedimento para baixar o custo dos combustíveis e do transporte público para os consumidores e usuários.
No rol dos que buscam frear o avanço tecnológico estão os parlamentares que pretendem estabelecer indenizações pagas aos empregados que trabalham em empresas que tentam substituir mão de obra por automação. Há, também, os que exigem a manutenção da estabilidade dos empregados pelo prazo que se fizer necessário para o seu treinamento e realocação em outras funções. São inúmeros os projetos de lei que visam a submeter a adoção de inovações tecnológicas ao aval dos sindicatos laborais.
Nos textos das entidades sindicais vê-se com frequência a recomendação para os sindicatos atuarem fortemente junto às empresas para impedir a modernização tecnológica que redunde em substituição de empregados, nos moldes do movimento dos ludistas que foram contra as inovações da Revolução Industrial no início do século 19.
No mundo jurídico, igualmente, vários autores defendem a regulação da modernização tecnológica por meio de expedientes inibidores como, por exemplo, a exigência de aumento de salário para os empregados remanescentes depois das dispensas de seus colegas relacionadas à automação.
Condutas desse tipo conspiram contra a produtividade do trabalho, a competitividade das empresas e o progresso do País. Sim, porque os nossos concorrentes não estão parados. Basta ver o seguinte: em 1980, a produtividade do trabalhador brasileiro era 670% maior do que a do chinês e 70% menor do que a do americano. Hoje, é 80% inferior à americana e 18% menor que a chinesa. No período considerado, a produtividade dos chineses cresceu 895%, enquanto a dos brasileiros aumentou meros 6% (Jorge Arbache, Sem inovação produtividade do país sobe só 6%, Valor, 13/10/2014). Ou seja, a corrida pela competitividade é feita em relação a um ponto móvel.
O Brasil está muito atrasado na implantação de inovações tecnológicas nos sistemas produtivos. Na União Europeia, só em 2014, foram registradas 274 mil patentes. No Brasil, ao longo dos últimos 30 anos, foram registradas apenas 41 mil patentes. Com isso, nosso país ocupa o penúltimo lugar no rol de patentes disponíveis, perdendo apenas para a Polônia, que ficou 45 anos debaixo do atraso comunista. E, no campo da competitividade, ocupa a 56.ª posição entre os 61 países estudados avaliados nesse campo.
O Brasil não pode ficar fora da modernização tecnológica. Os analistas do mercado de trabalho são unânimes ao afirmar que a tarefa mais urgente para ganhar competitividade e gerar empregos é a elevação substancial da produtividade do trabalho com base em melhoria do ensino e incorporação de inovações nos processos produtivos.
Não é o que pretendem os legisladores populistas que se apoiam numa Constituição para conspirar contra a modernização tecnológica. É incrível, mas é verdade. Desconheço caso semelhante em outros países.
Em face da iminente necessidade de elevar a produtividade do trabalho e modernizar os processos produtivos, seria absurdo querer bloquear a entrada das modernas tecnologias nos processos produtivos por meio de leis.
Para muitos, pode ser surpreendente saber que isso pode ser feito no Brasil com base no inciso XXVII do artigo 7.º da Constituição federal, que estabelece uma proteção contra a automação. Não é brincadeira, pois muitos parlamentares já conseguiram aprovar leis inibidoras de tecnologia com base nesse princípio. Por exemplo, Aldo Rebelo (PCdoB/SP), atual ministro de Ciência, Tecnologia e Inovação, é autor da Lei n.º 9.956, que proíbe a instalação e o funcionamento de bombas de autosserviço nos postos de gasolina. Na mesma trajetória, propôs a proibição de catracas automáticas nos veículos de transporte coletivo, que deu origem a várias leis estaduais e municipais. Tais proibições redundaram num forte impedimento para baixar o custo dos combustíveis e do transporte público para os consumidores e usuários.
No rol dos que buscam frear o avanço tecnológico estão os parlamentares que pretendem estabelecer indenizações pagas aos empregados que trabalham em empresas que tentam substituir mão de obra por automação. Há, também, os que exigem a manutenção da estabilidade dos empregados pelo prazo que se fizer necessário para o seu treinamento e realocação em outras funções. São inúmeros os projetos de lei que visam a submeter a adoção de inovações tecnológicas ao aval dos sindicatos laborais.
Nos textos das entidades sindicais vê-se com frequência a recomendação para os sindicatos atuarem fortemente junto às empresas para impedir a modernização tecnológica que redunde em substituição de empregados, nos moldes do movimento dos ludistas que foram contra as inovações da Revolução Industrial no início do século 19.
No mundo jurídico, igualmente, vários autores defendem a regulação da modernização tecnológica por meio de expedientes inibidores como, por exemplo, a exigência de aumento de salário para os empregados remanescentes depois das dispensas de seus colegas relacionadas à automação.
Condutas desse tipo conspiram contra a produtividade do trabalho, a competitividade das empresas e o progresso do País. Sim, porque os nossos concorrentes não estão parados. Basta ver o seguinte: em 1980, a produtividade do trabalhador brasileiro era 670% maior do que a do chinês e 70% menor do que a do americano. Hoje, é 80% inferior à americana e 18% menor que a chinesa. No período considerado, a produtividade dos chineses cresceu 895%, enquanto a dos brasileiros aumentou meros 6% (Jorge Arbache, Sem inovação produtividade do país sobe só 6%, Valor, 13/10/2014). Ou seja, a corrida pela competitividade é feita em relação a um ponto móvel.
O Brasil está muito atrasado na implantação de inovações tecnológicas nos sistemas produtivos. Na União Europeia, só em 2014, foram registradas 274 mil patentes. No Brasil, ao longo dos últimos 30 anos, foram registradas apenas 41 mil patentes. Com isso, nosso país ocupa o penúltimo lugar no rol de patentes disponíveis, perdendo apenas para a Polônia, que ficou 45 anos debaixo do atraso comunista. E, no campo da competitividade, ocupa a 56.ª posição entre os 61 países estudados avaliados nesse campo.
O Brasil não pode ficar fora da modernização tecnológica. Os analistas do mercado de trabalho são unânimes ao afirmar que a tarefa mais urgente para ganhar competitividade e gerar empregos é a elevação substancial da produtividade do trabalho com base em melhoria do ensino e incorporação de inovações nos processos produtivos.
Não é o que pretendem os legisladores populistas que se apoiam numa Constituição para conspirar contra a modernização tecnológica. É incrível, mas é verdade. Desconheço caso semelhante em outros países.
Como o Brasil vai sair dessa? - ILAN GOLDFAJN
O GLOBO - 02/06
Essa é a pergunta que mais me fazem atualmente. A preocupação é com a economia em recessão, com a fragmentação política, sem falar no impacto das investigações em curso. Não é pouca coisa. O receio é de que o estado atual se prolongue. A esperança é de que o pior já tenha passado e a recuperação da atividade esteja a caminho. A maioria dos economistas projeta alguma melhora no futuro (bem gradual, em até um ano). Mas, racionalmente, quais serão as forças da mudança?
A resposta não é trivial. Normalmente, a tendência é imaginar que as forças atuais vão perpetuar-se. O mais difícil é pensar na mudança, até porque exige definir como realizá-la. Tarefa árdua no Brasil de hoje.
Mas as recessões na economia não duram para sempre, um dia acabam. A maioria termina em dois, três trimestres. As que duram anos seguem crises financeiras, num processo longo de redução de endividamento (“desalavancagem”).
É um processo que requer tempo para se materializar e é a antítese do calote: as dívidas vão diminuindo lentamente até se equilibrarem. O livro This Time Is Different: Eight Centuries of Financial Folly, de Kenneth Rogoff e Carmen Reinhart, mostra essa regularidade empírica. Sua importância foi prever corretamente a recessão prolongada que se seguiu à crise financeira internacional de 2008. Até hoje a recuperação plena da atividade global ainda é uma promessa.
Se recessões prolongadas são a exceção, longos períodos de crescimento baixo não o são. Há vários exemplos no mundo. Foi o caso do Japão nas últimas décadas. E isso não é “privilégio” de economias mais ricas. Um exemplo mais próximo é o do México, que cresceu cerca de 2% nas últimas décadas e apenas recentemente implementou várias reformas que possibilitarão maior crescimento daqui por diante.
Crescimento baixo é mais comum do que se imagina. Poucas economias em desenvolvimento conseguem convergir para a renda das economias mais ricas. A maioria fica presa na dita armadilha da renda média. Apesar de bem-sucedidas em crescer e escapar de rendas per capita muito baixas, não conseguem avançar. A dificuldade é transformar modelos baseados em “transpiração” em baseados em “inspiração”. O primeiro modelo gera crescimento com base na capacidade de acumular fatores (capital e trabalho): utilizando a mão de obra disponível para trabalhar e investindo mais. O segundo depende da capacidade de fazer mais com os mesmos recursos disponíveis, aumentando a produtividade. É a busca da eficiência por meio da melhora da educação, da gestão e da inovação. O Brasil precisa ainda transpirar (investir mais), embora o crescimento vá cada vez mais depender da sua inspiração (produtividade, eficiência).
Assim sendo, será mais fácil o Brasil sair da recessão do que conseguir crescer mais na sequência. Mas nenhum dos dois vai ser fácil.
Na sexta-feira o IBGE divulgou o resultado do primeiro trimestre de 2015, com queda de 0,2% do produto interno bruto (PIB) em relação ao trimestre anterior (em termos anualizados, queda em torno de 1%). Não há dúvida de que a economia está em recessão. A perspectiva é de que o segundo trimestre será pior do que o primeiro: estimamos queda de 1% (o que seria uma queda de 4% anualizada). E será o fundo do poço?
Por enquanto, não há sinais de estabilização, a queda é livre. No atual ritmo, o crescimento do terceiro trimestre também será negativo. Mas a recessão prolongada torna a base de comparação mais baixa: basta parar de cair que a situação melhora.
Para avaliarmos a extensão da recessão é importante diagnosticá-la. A queda atual é consequência do passado. Resulta do esgotamento das políticas adotadas nos últimos anos. A tentativa de prolongar artificialmente o desempenho econômico do ciclo anterior, num contexto global muito diferente, não só fracassou, mas também introduziu incertezas macroeconômicas, que minaram a confiança da sociedade, derrubando o investimento e o crescimento. No final, a insistência levou até à falta de disciplina macroeconômica, o que exige atualmente ajustes duros para evitar a crise (ou seja, perda de grau de investimento, saída de capitais, crise cambial, depressão).
Há cinco ajustes em curso: fiscal (meta primário), parafiscal (recursos públicos além do primário), realismo tarifário, balanço de pagamentos (câmbio flutuante) e meta de inflação (volta ao centro da meta). Esses ajustes, se implementados, devem evitar a crise, o que é essencial. A possibilidade de crise é um grande obstáculo para a retomada da confiança.
A retomada da confiança é um dos poucos caminhos para o fim da recessão. A reversão da queda do investimento é essencial. Os outros componentes da demanda estão limitados. O consumo sofre pela queda do poder de compra devida à elevação da inflação, por causa da correção dos preços administrados e da fraqueza do mercado de trabalho, que deve continuar perdendo força, mesmo depois da recessão atual. Por sua vez, o governo está empenhado no ajuste, precisando gastar menos, e não mais. Finalmente, as exportações estão melhorando, mas não são grandes o suficiente para arrastar o transatlântico que é a economia brasileira.
A confiança na economia depende também do contexto político. Não há ainda clareza sobre o caminho que o governo quer seguir. A fragmentação das forças políticas fundamenta essa incerteza. A atual baixa popularidade mantém acesa a dúvida se o governo vai mudar novamente a direção das políticas.
Em suma, o primeiro passo é sair da recessão. A reversão da queda da confiança é essencial para isso. Os ajustes removem o grande obstáculo, mas não são suficientes, per se, para a retomada da confiança. O ambiente no País ainda é de incerteza. A volta do crescimento sustentável é o passo seguinte. Requer coesão política para direcionar o Brasil no caminho certo e foco no aumento da produtividade e eficiência. Esse segundo passo parece bem mais difícil, visto de hoje.
Essa é a pergunta que mais me fazem atualmente. A preocupação é com a economia em recessão, com a fragmentação política, sem falar no impacto das investigações em curso. Não é pouca coisa. O receio é de que o estado atual se prolongue. A esperança é de que o pior já tenha passado e a recuperação da atividade esteja a caminho. A maioria dos economistas projeta alguma melhora no futuro (bem gradual, em até um ano). Mas, racionalmente, quais serão as forças da mudança?
A resposta não é trivial. Normalmente, a tendência é imaginar que as forças atuais vão perpetuar-se. O mais difícil é pensar na mudança, até porque exige definir como realizá-la. Tarefa árdua no Brasil de hoje.
Mas as recessões na economia não duram para sempre, um dia acabam. A maioria termina em dois, três trimestres. As que duram anos seguem crises financeiras, num processo longo de redução de endividamento (“desalavancagem”).
É um processo que requer tempo para se materializar e é a antítese do calote: as dívidas vão diminuindo lentamente até se equilibrarem. O livro This Time Is Different: Eight Centuries of Financial Folly, de Kenneth Rogoff e Carmen Reinhart, mostra essa regularidade empírica. Sua importância foi prever corretamente a recessão prolongada que se seguiu à crise financeira internacional de 2008. Até hoje a recuperação plena da atividade global ainda é uma promessa.
Se recessões prolongadas são a exceção, longos períodos de crescimento baixo não o são. Há vários exemplos no mundo. Foi o caso do Japão nas últimas décadas. E isso não é “privilégio” de economias mais ricas. Um exemplo mais próximo é o do México, que cresceu cerca de 2% nas últimas décadas e apenas recentemente implementou várias reformas que possibilitarão maior crescimento daqui por diante.
Crescimento baixo é mais comum do que se imagina. Poucas economias em desenvolvimento conseguem convergir para a renda das economias mais ricas. A maioria fica presa na dita armadilha da renda média. Apesar de bem-sucedidas em crescer e escapar de rendas per capita muito baixas, não conseguem avançar. A dificuldade é transformar modelos baseados em “transpiração” em baseados em “inspiração”. O primeiro modelo gera crescimento com base na capacidade de acumular fatores (capital e trabalho): utilizando a mão de obra disponível para trabalhar e investindo mais. O segundo depende da capacidade de fazer mais com os mesmos recursos disponíveis, aumentando a produtividade. É a busca da eficiência por meio da melhora da educação, da gestão e da inovação. O Brasil precisa ainda transpirar (investir mais), embora o crescimento vá cada vez mais depender da sua inspiração (produtividade, eficiência).
Assim sendo, será mais fácil o Brasil sair da recessão do que conseguir crescer mais na sequência. Mas nenhum dos dois vai ser fácil.
Na sexta-feira o IBGE divulgou o resultado do primeiro trimestre de 2015, com queda de 0,2% do produto interno bruto (PIB) em relação ao trimestre anterior (em termos anualizados, queda em torno de 1%). Não há dúvida de que a economia está em recessão. A perspectiva é de que o segundo trimestre será pior do que o primeiro: estimamos queda de 1% (o que seria uma queda de 4% anualizada). E será o fundo do poço?
Por enquanto, não há sinais de estabilização, a queda é livre. No atual ritmo, o crescimento do terceiro trimestre também será negativo. Mas a recessão prolongada torna a base de comparação mais baixa: basta parar de cair que a situação melhora.
Para avaliarmos a extensão da recessão é importante diagnosticá-la. A queda atual é consequência do passado. Resulta do esgotamento das políticas adotadas nos últimos anos. A tentativa de prolongar artificialmente o desempenho econômico do ciclo anterior, num contexto global muito diferente, não só fracassou, mas também introduziu incertezas macroeconômicas, que minaram a confiança da sociedade, derrubando o investimento e o crescimento. No final, a insistência levou até à falta de disciplina macroeconômica, o que exige atualmente ajustes duros para evitar a crise (ou seja, perda de grau de investimento, saída de capitais, crise cambial, depressão).
Há cinco ajustes em curso: fiscal (meta primário), parafiscal (recursos públicos além do primário), realismo tarifário, balanço de pagamentos (câmbio flutuante) e meta de inflação (volta ao centro da meta). Esses ajustes, se implementados, devem evitar a crise, o que é essencial. A possibilidade de crise é um grande obstáculo para a retomada da confiança.
A retomada da confiança é um dos poucos caminhos para o fim da recessão. A reversão da queda do investimento é essencial. Os outros componentes da demanda estão limitados. O consumo sofre pela queda do poder de compra devida à elevação da inflação, por causa da correção dos preços administrados e da fraqueza do mercado de trabalho, que deve continuar perdendo força, mesmo depois da recessão atual. Por sua vez, o governo está empenhado no ajuste, precisando gastar menos, e não mais. Finalmente, as exportações estão melhorando, mas não são grandes o suficiente para arrastar o transatlântico que é a economia brasileira.
A confiança na economia depende também do contexto político. Não há ainda clareza sobre o caminho que o governo quer seguir. A fragmentação das forças políticas fundamenta essa incerteza. A atual baixa popularidade mantém acesa a dúvida se o governo vai mudar novamente a direção das políticas.
Em suma, o primeiro passo é sair da recessão. A reversão da queda da confiança é essencial para isso. Os ajustes removem o grande obstáculo, mas não são suficientes, per se, para a retomada da confiança. O ambiente no País ainda é de incerteza. A volta do crescimento sustentável é o passo seguinte. Requer coesão política para direcionar o Brasil no caminho certo e foco no aumento da produtividade e eficiência. Esse segundo passo parece bem mais difícil, visto de hoje.
O verde que virou vermelho - JOSÉ ROBERTO R. AFONSO
O ESTADO DE S.PAULO - 02/06
Como um imposto verde acabou virando vermelho bem sintetiza os equívocos cometidos na economia no passado recente, o custo alto que se paga no presente e o enorme desafio de conseguir retomar o crescimento no futuro.
Política fiscal verde é uma moderna tendência mundial em resposta às mudanças climáticas. Ela usa a tributação como meio para punir o que mais polui e premiar a energia limpa. Ainda que o Brasil tenha aderido a tais compromissos, adotou neste século uma política tributária perfeita, mas na direção exatamente oposta a tais objetivos.
À custa das maiores renúncias tributárias conhecidas, da desoneração do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) à guerra fiscal do ICMS estadual, se reduziu a carga sobre a venda de automóveis, mas não sobre os transportes de massa - fora que neles os governos pouco investiram. Pior foi com os combustíveis fósseis, que muitos países passaram a tributar cada vez mais para fins ambientais, e o Brasil fez o contrário - mesmo tendo o que outros países não dispunham: o etanol como excelente alternativa energética.
Já foi confessado que o governo administrou os preços da gasolina e do diesel para tentar frear a inflação. Fez isso sem separar dotação no Orçamento para cobrir os correspondentes subsídios. Estes, na prática, foram transformados em redução de tributos sobre aqueles bens e, depois, em prejuízos bilionários e já mensurados para a Petrobrás, de modo que o governo perdeu receita e também patrimônio.
Esse caminho tortuoso jogou na crise importantes setores da economia, do agronegócio à construção pesada, e tornou inglório repetir o ajuste fiscal tanto já feito no passado, porque nunca foi tão deprimida a arrecadação proveniente desse setor estratégico.
A contribuição específica (Cide) representava 14% do preço na bomba da gasolina em 2002, ante os atuais 2,2%, mesmo depois do reajuste do início do ano - se fosse mantida aquela proporção, a alíquota deveria subir de R$ 0,10 para R$ 0,62 por litro. Já o PIS/Cofins, também cobrado como um valor fixo por litro de combustível vendido, ficou congelado (em R$ 0,2616) por quase dez anos. Somados esses três tributos, a Petrobrás deveu R$ 16,2 bilhões em 2014, ante R$ 29,8 bilhões em 2006. Essa perda de receita equivale, por exemplo, a um ano do gasto com atenção básica à saúde no Orçamento federal.
Outro valor, equivalente, deve ser perdido com royalties sobre petróleo, em que o efetivamente arrecadado tem caído muito mais fortemente que os preços internacionais e apesar da produção agora em alta. A carga tributária total da Petrobrás caiu para o piso de 1,71% do Produto Interno Bruto (PIB) neste primeiro trimestre, 0,6 ponto abaixo do mesmo há quatro anos. Nem é preciso dizer quanto faz falta tal receita para o ajuste fiscal.
Etanol. Há, ainda, o efeito colateral do menor uso de etanol. Já foram fechadas 70 usinas e 30 estão em recuperação judicial, com perda de 60 mil empregos diretos. A venda de máquinas para o setor caiu pela metade. Mesmo assim, estudos projetam que, depois do carro flex, se reduziu a emissão de gases de efeito estufa em 250 milhões/t de CO2 e se evitaram 9 mil internações por problemas respiratórios e cardíacos decorrentes da poluição.
Para atender às metas mundiais com o meio ambiente, recuperar a receita, consolidar o ajuste fiscal e estimular a agroindústria nacional, é preciso recuperar paulatinamente a antiga proporção de tributos sobre derivados de petróleo e, depois, passar a reajustar as suas alíquotas automaticamente com os preços de revenda.
Também royalties deveriam passar a ser cobrados ou fiscalizados pela Receita Federal (não é uma taxa para custeio de agência reguladora) e o cálculo da participação especial na extração de petróleo deveria ser corrigido para atender ao princípio legal.
Vermelho, atual cor da moda na economia brasileira, pode e deve ser trocado pelo verde, a começar no seu imposto e na política fiscal.
Neste campo dos combustíveis e do meio ambiente há uma boa oportunidade para avançar rumo ao passado, que conciliava disciplina e crescimento, mas que foi jogado fora em troca da inflação, da qual não se escapou, mas só se adiou para hoje.
Como um imposto verde acabou virando vermelho bem sintetiza os equívocos cometidos na economia no passado recente, o custo alto que se paga no presente e o enorme desafio de conseguir retomar o crescimento no futuro.
Política fiscal verde é uma moderna tendência mundial em resposta às mudanças climáticas. Ela usa a tributação como meio para punir o que mais polui e premiar a energia limpa. Ainda que o Brasil tenha aderido a tais compromissos, adotou neste século uma política tributária perfeita, mas na direção exatamente oposta a tais objetivos.
À custa das maiores renúncias tributárias conhecidas, da desoneração do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) à guerra fiscal do ICMS estadual, se reduziu a carga sobre a venda de automóveis, mas não sobre os transportes de massa - fora que neles os governos pouco investiram. Pior foi com os combustíveis fósseis, que muitos países passaram a tributar cada vez mais para fins ambientais, e o Brasil fez o contrário - mesmo tendo o que outros países não dispunham: o etanol como excelente alternativa energética.
Já foi confessado que o governo administrou os preços da gasolina e do diesel para tentar frear a inflação. Fez isso sem separar dotação no Orçamento para cobrir os correspondentes subsídios. Estes, na prática, foram transformados em redução de tributos sobre aqueles bens e, depois, em prejuízos bilionários e já mensurados para a Petrobrás, de modo que o governo perdeu receita e também patrimônio.
Esse caminho tortuoso jogou na crise importantes setores da economia, do agronegócio à construção pesada, e tornou inglório repetir o ajuste fiscal tanto já feito no passado, porque nunca foi tão deprimida a arrecadação proveniente desse setor estratégico.
A contribuição específica (Cide) representava 14% do preço na bomba da gasolina em 2002, ante os atuais 2,2%, mesmo depois do reajuste do início do ano - se fosse mantida aquela proporção, a alíquota deveria subir de R$ 0,10 para R$ 0,62 por litro. Já o PIS/Cofins, também cobrado como um valor fixo por litro de combustível vendido, ficou congelado (em R$ 0,2616) por quase dez anos. Somados esses três tributos, a Petrobrás deveu R$ 16,2 bilhões em 2014, ante R$ 29,8 bilhões em 2006. Essa perda de receita equivale, por exemplo, a um ano do gasto com atenção básica à saúde no Orçamento federal.
Outro valor, equivalente, deve ser perdido com royalties sobre petróleo, em que o efetivamente arrecadado tem caído muito mais fortemente que os preços internacionais e apesar da produção agora em alta. A carga tributária total da Petrobrás caiu para o piso de 1,71% do Produto Interno Bruto (PIB) neste primeiro trimestre, 0,6 ponto abaixo do mesmo há quatro anos. Nem é preciso dizer quanto faz falta tal receita para o ajuste fiscal.
Etanol. Há, ainda, o efeito colateral do menor uso de etanol. Já foram fechadas 70 usinas e 30 estão em recuperação judicial, com perda de 60 mil empregos diretos. A venda de máquinas para o setor caiu pela metade. Mesmo assim, estudos projetam que, depois do carro flex, se reduziu a emissão de gases de efeito estufa em 250 milhões/t de CO2 e se evitaram 9 mil internações por problemas respiratórios e cardíacos decorrentes da poluição.
Para atender às metas mundiais com o meio ambiente, recuperar a receita, consolidar o ajuste fiscal e estimular a agroindústria nacional, é preciso recuperar paulatinamente a antiga proporção de tributos sobre derivados de petróleo e, depois, passar a reajustar as suas alíquotas automaticamente com os preços de revenda.
Também royalties deveriam passar a ser cobrados ou fiscalizados pela Receita Federal (não é uma taxa para custeio de agência reguladora) e o cálculo da participação especial na extração de petróleo deveria ser corrigido para atender ao princípio legal.
Vermelho, atual cor da moda na economia brasileira, pode e deve ser trocado pelo verde, a começar no seu imposto e na política fiscal.
Neste campo dos combustíveis e do meio ambiente há uma boa oportunidade para avançar rumo ao passado, que conciliava disciplina e crescimento, mas que foi jogado fora em troca da inflação, da qual não se escapou, mas só se adiou para hoje.
O Senado se posiciona - MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 02/06
De todos os pontos da reforma política, apenas aqueles que são fundamentais para as eleições municipais, e por isso têm que entrar em vigor um ano antes, serão apreciados pelo Senado com pressa. O presidente do Senado, Renan Calheiros, que disputa o protagonismo no Congresso com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, tem idéias próprias sobre temas da reforma e promete tentar interferir para alterar o atual sistema político-partidário, que considerou "anacrônico e ultrapassado"."
Não creio que o fim da reeleição seja um desses pontos a serem revistos pelo Senado, pois o PSDB, partido que o implantou no país, está apoiando a medida, até por questões internas. Aumentando a possibilidade de rotação no poder, fica mais fácil um acordo interno para definir os candidatos do partido à Presidência da República.
O senador Aécio Neves e o governador Geraldo Alckmin, de São Paulo, em algum momento terão que definir de que forma a fila vai andar internamente, e um mandato de 5 ou 6 anos para o presidente facilita esse entendimento. Aliás, a definição da extensão dos mandatos é um dos temas mais polêmicos que devem entrar em discussão na próxima semana.
Tem razão o senador Renan Calheiros quando diz que as cláusulas de barreira precisam existir para impedir o surgimento de "nanopartidos" Até mesmo na Câmara, que aprovou em primeira votação uma mudança constitucional que coloca uma barreira facilmente transponível aos partidos - basta a eleição de um deputado ou senador para dar direito ao partido acesso ao Fundo Partidário e à propaganda partidária de rádio e televisão -, já existe um movimento para aumentar o rigor dessas barreiras.
Se utilizarem, como preconiza Eduardo Cunha, a legislação infraconstitucional, as alterações correm o risco de novamente serem barradas pelo Supremo Tribunal Federal, que decidiu anos atrás que apenas as emendas constitucionais podem impor tais regras ao funcionamento dos partidos.
Mas, diante das consequências prejudiciais ao funcionamento do sistema partidário brasileiro, o próprio Supremo parece ter-se convencido de que as cláusulas de barreira, ou de desempenho, são necessárias, e nessa nova composição parece disposto a não repetir o erro de vetá-las.
Diante disso, é provável que o Senado simplesmente rejeite a constitucionalização das cláusulas de barreira, passando a decisão para a legislação ordinária. A questão do financiamento de empresas privadas aos partidos políticos continua sendo a mais polêmica da até aqui praticamente inócua reforma política, com exceção do fim da reeleição.
Há uma interpretação no Congresso de que, com o texto aprovado, a transferência de recursos dos partidos políticos para os candidatos não poderá ser feita, pois partidos são pessoas jurídicas, que foram proibidas de financiar candidatos.
Acredito que será difícil encontrar apoio no Supremo para tal interpretação, pois os partidos estarão distribuindo, entre os seus, recursos recebidos com o fim de financiar candidaturas. Se for preciso, no limite, o partido assume alguns aspectos da campanha dos seus candidatos, mandando fazer folhetos ou pagando os programas de propaganda.
O senador Renan Calheiros parece disposto a interferir no texto da emenda constitucional para acabar com a "promiscuidade entre o público e privado" nas campanhas eleitorais, "dando absoluta transparência ao processo, fixando um teto de contribuições para que o candidato não tenha dono e o eleito não tenha patrão"
Se houver alguma dúvida sobre o texto aprovado na Câmara, portanto, ela deverá ser desfeita pelo Senado, que tanto pode mudar a emenda constitucional, remetendo-a novamente para a Câmara, como, ao vetar uma iniciativa já aprovada em duas votações pela Câmara, dar fim a esse tópico da reforma.
De todos os pontos da reforma política, apenas aqueles que são fundamentais para as eleições municipais, e por isso têm que entrar em vigor um ano antes, serão apreciados pelo Senado com pressa. O presidente do Senado, Renan Calheiros, que disputa o protagonismo no Congresso com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, tem idéias próprias sobre temas da reforma e promete tentar interferir para alterar o atual sistema político-partidário, que considerou "anacrônico e ultrapassado"."
Não creio que o fim da reeleição seja um desses pontos a serem revistos pelo Senado, pois o PSDB, partido que o implantou no país, está apoiando a medida, até por questões internas. Aumentando a possibilidade de rotação no poder, fica mais fácil um acordo interno para definir os candidatos do partido à Presidência da República.
O senador Aécio Neves e o governador Geraldo Alckmin, de São Paulo, em algum momento terão que definir de que forma a fila vai andar internamente, e um mandato de 5 ou 6 anos para o presidente facilita esse entendimento. Aliás, a definição da extensão dos mandatos é um dos temas mais polêmicos que devem entrar em discussão na próxima semana.
Tem razão o senador Renan Calheiros quando diz que as cláusulas de barreira precisam existir para impedir o surgimento de "nanopartidos" Até mesmo na Câmara, que aprovou em primeira votação uma mudança constitucional que coloca uma barreira facilmente transponível aos partidos - basta a eleição de um deputado ou senador para dar direito ao partido acesso ao Fundo Partidário e à propaganda partidária de rádio e televisão -, já existe um movimento para aumentar o rigor dessas barreiras.
Se utilizarem, como preconiza Eduardo Cunha, a legislação infraconstitucional, as alterações correm o risco de novamente serem barradas pelo Supremo Tribunal Federal, que decidiu anos atrás que apenas as emendas constitucionais podem impor tais regras ao funcionamento dos partidos.
Mas, diante das consequências prejudiciais ao funcionamento do sistema partidário brasileiro, o próprio Supremo parece ter-se convencido de que as cláusulas de barreira, ou de desempenho, são necessárias, e nessa nova composição parece disposto a não repetir o erro de vetá-las.
Diante disso, é provável que o Senado simplesmente rejeite a constitucionalização das cláusulas de barreira, passando a decisão para a legislação ordinária. A questão do financiamento de empresas privadas aos partidos políticos continua sendo a mais polêmica da até aqui praticamente inócua reforma política, com exceção do fim da reeleição.
Há uma interpretação no Congresso de que, com o texto aprovado, a transferência de recursos dos partidos políticos para os candidatos não poderá ser feita, pois partidos são pessoas jurídicas, que foram proibidas de financiar candidatos.
Acredito que será difícil encontrar apoio no Supremo para tal interpretação, pois os partidos estarão distribuindo, entre os seus, recursos recebidos com o fim de financiar candidaturas. Se for preciso, no limite, o partido assume alguns aspectos da campanha dos seus candidatos, mandando fazer folhetos ou pagando os programas de propaganda.
O senador Renan Calheiros parece disposto a interferir no texto da emenda constitucional para acabar com a "promiscuidade entre o público e privado" nas campanhas eleitorais, "dando absoluta transparência ao processo, fixando um teto de contribuições para que o candidato não tenha dono e o eleito não tenha patrão"
Se houver alguma dúvida sobre o texto aprovado na Câmara, portanto, ela deverá ser desfeita pelo Senado, que tanto pode mudar a emenda constitucional, remetendo-a novamente para a Câmara, como, ao vetar uma iniciativa já aprovada em duas votações pela Câmara, dar fim a esse tópico da reforma.
As tramas do lulopetismo - EDITORIAL O ESTADÃO
O ESTADO DE S. PAULO - 02/06
Documento interno da corrente do PT da qual Lula é o mandachuva, a ser apresentado no Congresso do partido que se reúne este mês em Salvador, proclama: “Não se pode fazer da necessidade de sanear a situação fiscal a ocasião para a apologia de uma política econômica conservadora, cujas consequências bem conhecemos”. A crise em que o projeto de poder de Lula mergulhou o País sugere, porém, que a forma mais adequada de colocar a questão é outra: não se pode fazer da necessidade de defender conquistas sociais a ocasião para a apologia de uma política econômica populista e irresponsável cujas consequências, que bem conhecemos, é o empobrecimento geral.
Não passam de pura encenação e de mero jogo de disputa de poder os arreganhos dos lulopetistas contra o projeto de ajuste fiscal coordenado, em nome da presidente da República, pelo ministro Joaquim Levy. Ninguém no PT ignora que o futuro do partido depende da capacidade do governo, pelo qual o partido é responsável, de corrigir os próprios erros para promover a recuperação da economia e a retomada do crescimento, condição essencial à garantia e ampliação de conquistas sociais. Ninguém, no PT de Lula, ignora que a gravidade da situação exige o remédio amargo do corte de despesas e aumento de taxas e tributos, agora, indispensáveis para o saneamento das contas públicas. Ninguém no PT de Lula – como, de resto, todos os brasileiros, à exceção talvez da militância acrítica e da massa sindical manipulada – ignora que o ajuste fiscal exige sacrifícios do conjunto da sociedade e não apenas dos mais pobres, embora seja sensato e justo cuidar para que o impacto sobre estes últimos seja o menor possível.
Mas o lulopetismo está comprometido, muito mais do que com a defesa de causas populares das quais se proclama patrono exclusivo, com sua própria ambição de permanecer no poder a qualquer custo. Por isso não se peja de, sendo o partido do governo, posar de opositor às medidas que o governo propõe para tirar o País do buraco no qual o lançou.
A estratégia lulopetista consiste em atacar Joaquim Levy, o “mão de tesoura”, o “neoliberal”, o “representante dos banqueiros”, na tentativa de vê-lo substituído pelo ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, antigo e competente membro do quadro petista, saudado como “desenvolvimentista”. Supondo que Dilma Rousseff se deixe pressionar a ponto de promover essa troca, o que ocorrerá? Nelson Barbosa vai rasgar o programa de ajuste fiscal que ajudou Levy a elaborar e está ajudando a implantar, independentemente de eventuais divergências pontuais com o parceiro? Dilma Rousseff, que claramente apoia o trabalho que seu ministro da Fazenda desenvolve em seu nome, vai pedir desculpas ao PT e abandonar a “política econômica conservadora”?
Se o comando da equipe econômica viesse a ser assumido por alguém indicado pelo PT – na hipótese aparentemente improvável de que, por qualquer razão, Joaquim Levy deixasse o cargo –, é difícil de acreditar que, no essencial, alguma coisa mudasse. O discurso oficial seria certamente “adaptado” às tradicionais bandeiras petistas, mas o programa de ajuste permaneceria basicamente o mesmo, por absoluta falta de alternativa. E, docemente constrangidos, os petistas assumiriam a mesma postura pragmática que adotaram no primeiro mandato de Lula, quando as bases para seu ambicioso programa social foram garantidas pela estrita observância dos fundamentos do Plano Real e Lula e o PT faturaram alto com os resultados obtidos.
De qualquer modo, um problema sério estaria criado. Quando nomeou Joaquim Levy, a presidente da República tinha em mente a intenção de conquistar a confiança e o apoio do mercado para o desafio de recolocar o País na trilha do crescimento. É certo que os agentes financeiros e econômicos, daqui e de fora, considerariam uma eventual reviravolta dessa natureza um retrocesso definitivamente comprometedor da credibilidade do governo Dilma.
Aos trancos e barrancos o governo tem conseguido aprovar no Congresso as propostas para o reajuste fiscal. Se tudo der certo, todos ganham, inclusive o PT. Mas Lula continua pescando em águas turvas para poder botar em Dilma a culpa de tudo o que der errado.
Documento interno da corrente do PT da qual Lula é o mandachuva, a ser apresentado no Congresso do partido que se reúne este mês em Salvador, proclama: “Não se pode fazer da necessidade de sanear a situação fiscal a ocasião para a apologia de uma política econômica conservadora, cujas consequências bem conhecemos”. A crise em que o projeto de poder de Lula mergulhou o País sugere, porém, que a forma mais adequada de colocar a questão é outra: não se pode fazer da necessidade de defender conquistas sociais a ocasião para a apologia de uma política econômica populista e irresponsável cujas consequências, que bem conhecemos, é o empobrecimento geral.
Não passam de pura encenação e de mero jogo de disputa de poder os arreganhos dos lulopetistas contra o projeto de ajuste fiscal coordenado, em nome da presidente da República, pelo ministro Joaquim Levy. Ninguém no PT ignora que o futuro do partido depende da capacidade do governo, pelo qual o partido é responsável, de corrigir os próprios erros para promover a recuperação da economia e a retomada do crescimento, condição essencial à garantia e ampliação de conquistas sociais. Ninguém, no PT de Lula, ignora que a gravidade da situação exige o remédio amargo do corte de despesas e aumento de taxas e tributos, agora, indispensáveis para o saneamento das contas públicas. Ninguém no PT de Lula – como, de resto, todos os brasileiros, à exceção talvez da militância acrítica e da massa sindical manipulada – ignora que o ajuste fiscal exige sacrifícios do conjunto da sociedade e não apenas dos mais pobres, embora seja sensato e justo cuidar para que o impacto sobre estes últimos seja o menor possível.
Mas o lulopetismo está comprometido, muito mais do que com a defesa de causas populares das quais se proclama patrono exclusivo, com sua própria ambição de permanecer no poder a qualquer custo. Por isso não se peja de, sendo o partido do governo, posar de opositor às medidas que o governo propõe para tirar o País do buraco no qual o lançou.
A estratégia lulopetista consiste em atacar Joaquim Levy, o “mão de tesoura”, o “neoliberal”, o “representante dos banqueiros”, na tentativa de vê-lo substituído pelo ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, antigo e competente membro do quadro petista, saudado como “desenvolvimentista”. Supondo que Dilma Rousseff se deixe pressionar a ponto de promover essa troca, o que ocorrerá? Nelson Barbosa vai rasgar o programa de ajuste fiscal que ajudou Levy a elaborar e está ajudando a implantar, independentemente de eventuais divergências pontuais com o parceiro? Dilma Rousseff, que claramente apoia o trabalho que seu ministro da Fazenda desenvolve em seu nome, vai pedir desculpas ao PT e abandonar a “política econômica conservadora”?
Se o comando da equipe econômica viesse a ser assumido por alguém indicado pelo PT – na hipótese aparentemente improvável de que, por qualquer razão, Joaquim Levy deixasse o cargo –, é difícil de acreditar que, no essencial, alguma coisa mudasse. O discurso oficial seria certamente “adaptado” às tradicionais bandeiras petistas, mas o programa de ajuste permaneceria basicamente o mesmo, por absoluta falta de alternativa. E, docemente constrangidos, os petistas assumiriam a mesma postura pragmática que adotaram no primeiro mandato de Lula, quando as bases para seu ambicioso programa social foram garantidas pela estrita observância dos fundamentos do Plano Real e Lula e o PT faturaram alto com os resultados obtidos.
De qualquer modo, um problema sério estaria criado. Quando nomeou Joaquim Levy, a presidente da República tinha em mente a intenção de conquistar a confiança e o apoio do mercado para o desafio de recolocar o País na trilha do crescimento. É certo que os agentes financeiros e econômicos, daqui e de fora, considerariam uma eventual reviravolta dessa natureza um retrocesso definitivamente comprometedor da credibilidade do governo Dilma.
Aos trancos e barrancos o governo tem conseguido aprovar no Congresso as propostas para o reajuste fiscal. Se tudo der certo, todos ganham, inclusive o PT. Mas Lula continua pescando em águas turvas para poder botar em Dilma a culpa de tudo o que der errado.
COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO
NO DF, 84% DA POPULAÇÃO REJEITAM GOVERNO DILMA
Pesquisa realizada no Distrito Federal mostra que a desaprovação do governo Dilma Rousseff soma 84%, enquanto apenas 12,2% o aprovam. O levantamento surpreende: ela tem a repulsa – mais de 80% – de todos segmentos, independentemente de sexo, idade, faixa etária, classe econômica e local de residência. O pior índice de Dilma está entre adultos de 35 a 44 anos: no DF, 87% do total a desaprovam.
DADOS TÉCNICOS
A pesquisa do instituto Paraná Pesquisas, conhecido pela elevada margem de acerto, entrevistou 1.280 eleitores entre 25 e 28 de maio.
MENOR É MELHOR
Adultos de 45 a 59 anos, residentes no Distrito Federal, pegam mais leve com Dilma: a repulsa por ela é de “apenas” 80,5%.
MULHERES CONTRA
Mais mulheres que homens desaprovam o governo Dilma: 85,1% contra 82,8% da população masculina do DF, respectivamente.
DECEPÇÃO É GERAL
O levantamento mostra que 77,7% dos entrevistados avaliam que Dilma está indo pior do que o esperado. Só 3% acham que melhorou.
PLANALTO AGIU PARA FREAR FUSÃO ENTRE DEM E PTB
Políticos do DEM atribuem a Michel Temer o fracasso da fusão entre PTB e DEM, suspensa sábado (30). Um dos aliados do vice-presidente na operação foi o ministro Armando Monteiro (Desenvolvimento) que se uniu aos correligionários Fernando Collor (AL) e Jovair Arantes (GO), líder do PTB na Câmara, contra essa fusão de desiguais, verdadeiro “casamento de jacaré com cobra d’água”, como se diz no Nordeste.
MOEDA
Temer garantiu ao PTB que, além do Ministério de Monteiro, o partido seguiria no comando da Conab e Susep, pretendidos pelo PMDB.
ESTELIONATO
O senador Ronaldo Caiado (DEM-GO) também era contra. Chamava a fusão com o PTB de “estelionato eleitoral”.
A ORIGEM
A fusão era negociada pelo prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), e a deputada Cristiane Brasil (PTB-RJ), filha de Roberto Jefferson.
DE OLHO NAS RUAS
Eduardo Cunha quis dar uma estocada no PT, ao anunciar a votação do projeto que reduz a maioridade penal, mas isso tem a ver com as pesquisas. Levantamento do Datafolha, de 15 de abril, mostrou que 87% dos brasileiros defendem a medida.
PELAS BEIRADAS
O deputado Eduardo Cunha já é citado para suceder Dilma. No DF, ele tem 3,4%, segundo o Instituto Paraná Pesquisas. Nada mal, para quem jamais se declarou candidato a presidente da República.
FATOR SURPRESA
A oposição se animou com fortes rumores sobre a delação premiada de João Vaccari Neto, ex-tesoureiro preso do PT. Se confirmado, é uma bomba. Vaccari é íntimo de Lula e – ainda – não traiu o ex-chefe.
PT QUER FATURAR AJUSTE
O arguto deputado Roberto Freire (PPS-SP) observou no Twitter que Joaquim Levy (Fazenda) sumiu desde o anúncio dos cortes. É que o PT pretende “faturar” o eventual êxito do ajuste, por isso agora só o petista Nelson Barbosa (Planejamento) aparece falando pelo governo.
CONTRA O ABORTO
Nesta terça-feira (02), haverá em Brasília a 8ª Marcha Nacional da Cidadania pela vida contra o aborto contra o projeto no Senado que legaliza o aborto até a 12ª Semana de Gestação.
GENRO DE VOLTA
Dirigentes graúdos do PT, selecionados por Lula para preparar seu retorno em 2018, tentam acalmar o ex-governador gaúcho Tarso Genro, que vem ameaçando deixar o partido.
NARCIO-SIO
Nem a psicologia explica o comportamento do deputado Caio Narcio (PSDB-MG). Em uma semana, ele postou mais de quatro vídeos dizendo que estava votando na Câmara.
SEM ENERGIA
O leilão de energia termelétrica realizado pela Empresa de Pesquisa Energética mostrou-se um fracasso. Marcado para o próximo dia 29, a licitação não provocou interesses de nenhuma empresa.
PENSANDO BEM...
...ao defender reeleição de Joseph Blatter em meio ao escândalo na Fifa, Pelé dá razão à velha frase de Romário: “Calado, ele é um poeta”.
Pesquisa realizada no Distrito Federal mostra que a desaprovação do governo Dilma Rousseff soma 84%, enquanto apenas 12,2% o aprovam. O levantamento surpreende: ela tem a repulsa – mais de 80% – de todos segmentos, independentemente de sexo, idade, faixa etária, classe econômica e local de residência. O pior índice de Dilma está entre adultos de 35 a 44 anos: no DF, 87% do total a desaprovam.
DADOS TÉCNICOS
A pesquisa do instituto Paraná Pesquisas, conhecido pela elevada margem de acerto, entrevistou 1.280 eleitores entre 25 e 28 de maio.
MENOR É MELHOR
Adultos de 45 a 59 anos, residentes no Distrito Federal, pegam mais leve com Dilma: a repulsa por ela é de “apenas” 80,5%.
MULHERES CONTRA
Mais mulheres que homens desaprovam o governo Dilma: 85,1% contra 82,8% da população masculina do DF, respectivamente.
DECEPÇÃO É GERAL
O levantamento mostra que 77,7% dos entrevistados avaliam que Dilma está indo pior do que o esperado. Só 3% acham que melhorou.
PLANALTO AGIU PARA FREAR FUSÃO ENTRE DEM E PTB
Políticos do DEM atribuem a Michel Temer o fracasso da fusão entre PTB e DEM, suspensa sábado (30). Um dos aliados do vice-presidente na operação foi o ministro Armando Monteiro (Desenvolvimento) que se uniu aos correligionários Fernando Collor (AL) e Jovair Arantes (GO), líder do PTB na Câmara, contra essa fusão de desiguais, verdadeiro “casamento de jacaré com cobra d’água”, como se diz no Nordeste.
MOEDA
Temer garantiu ao PTB que, além do Ministério de Monteiro, o partido seguiria no comando da Conab e Susep, pretendidos pelo PMDB.
ESTELIONATO
O senador Ronaldo Caiado (DEM-GO) também era contra. Chamava a fusão com o PTB de “estelionato eleitoral”.
A ORIGEM
A fusão era negociada pelo prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), e a deputada Cristiane Brasil (PTB-RJ), filha de Roberto Jefferson.
DE OLHO NAS RUAS
Eduardo Cunha quis dar uma estocada no PT, ao anunciar a votação do projeto que reduz a maioridade penal, mas isso tem a ver com as pesquisas. Levantamento do Datafolha, de 15 de abril, mostrou que 87% dos brasileiros defendem a medida.
PELAS BEIRADAS
O deputado Eduardo Cunha já é citado para suceder Dilma. No DF, ele tem 3,4%, segundo o Instituto Paraná Pesquisas. Nada mal, para quem jamais se declarou candidato a presidente da República.
FATOR SURPRESA
A oposição se animou com fortes rumores sobre a delação premiada de João Vaccari Neto, ex-tesoureiro preso do PT. Se confirmado, é uma bomba. Vaccari é íntimo de Lula e – ainda – não traiu o ex-chefe.
PT QUER FATURAR AJUSTE
O arguto deputado Roberto Freire (PPS-SP) observou no Twitter que Joaquim Levy (Fazenda) sumiu desde o anúncio dos cortes. É que o PT pretende “faturar” o eventual êxito do ajuste, por isso agora só o petista Nelson Barbosa (Planejamento) aparece falando pelo governo.
CONTRA O ABORTO
Nesta terça-feira (02), haverá em Brasília a 8ª Marcha Nacional da Cidadania pela vida contra o aborto contra o projeto no Senado que legaliza o aborto até a 12ª Semana de Gestação.
GENRO DE VOLTA
Dirigentes graúdos do PT, selecionados por Lula para preparar seu retorno em 2018, tentam acalmar o ex-governador gaúcho Tarso Genro, que vem ameaçando deixar o partido.
NARCIO-SIO
Nem a psicologia explica o comportamento do deputado Caio Narcio (PSDB-MG). Em uma semana, ele postou mais de quatro vídeos dizendo que estava votando na Câmara.
SEM ENERGIA
O leilão de energia termelétrica realizado pela Empresa de Pesquisa Energética mostrou-se um fracasso. Marcado para o próximo dia 29, a licitação não provocou interesses de nenhuma empresa.
PENSANDO BEM...
...ao defender reeleição de Joseph Blatter em meio ao escândalo na Fifa, Pelé dá razão à velha frase de Romário: “Calado, ele é um poeta”.
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